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Módulo: Utilizar a psicopedagogia no desenvolvimento de

competências

Unidade de aprendizagem 5: Explicar as bases para o aconselhamento


profissional
RdA: Identificar os informes usados para o aconselhamento profissional

Texto I: Informes necessários para ao auto-conhecimento (do formando) no


contexto de aconselhamento profissional

Segundo Santos (1963) a recolha de informes para os fins de orientação e aconselhamento


profissional envolve o conhecimento de particularidades da personalidade do sujeito, desde a
sua estrutura geral até a dinâmica resultante das aptidões, interesses, motivações, valores,
entre outros aspectos que a constituem.
Seria difícil fazer a recolha dessas informações sem passar pela avaliação psicológica e por um
exercício de busca sistemática de dados quer socioeconómicos, quer escolares deste
formando que se pretende aconselhar. Esta avaliação psicológica, consiste na colecta e
interpretação de informações psicológicas resultantes de um conjunto de procedimentos
confiáveis que permitam ao psicólogo avaliar o comportamento. Esta avaliação psicológica é
hoje encarada no campo da orientação profissional como uma etapa de um processo
integrador da variedade dos determinantes situacionais e dos determinantes pessoais que
caracterizam, sustentam e definem a singularidade individual. Por esta razão a recolha de
informes nesta área de Orientação e Aconselhamento Profissional não pode se circunscrever
apenas aos informes psicológicas e vocacionais deve igualmente abranger a esfera sociocultural
e económica em que o orientando se encontra inserido.
Caro formando, o foco deste texto é apresentar de forma objectiva os principais informes
sobre o individuo a orientar e a aconselhar, com destaque para os informes: Médicos,
Escolares, Psicológicos, Sociais e socioeconómicos.

1. Informes médicos

Este tipo de informe diz respeito à informação ou dados de natureza médica do sujeito a
orientar. Para Santos (1963), são considerados neste tipo de informe, os seguintes dados:
antecedentes hereditários (pré-natais, perinatais e por fim os pós-natais) e a lista de indicações
e contra-indicações. Os informes médicos devem ser recolhidos por pessoas especializadas
em orientação, pois se assim não for, estaremos perante um simples exame médico comum.
A função dos exames de saúde em orientação profissional na esteira de Santos (Op. Cit) é:

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- Fornecer dados sobre a saúde geral do sujeito a orientar;
- Fornecer informação sobre as deficiências e desvios da normalidade deste sujeito
- Prever bases para a compensações de eventuais deficiências ou desvios incorrigíveis.
Para a recolha destes informes é mais prático usar um extracto de ficha médica, contendo as
principais observações que devem constar no processo individual para fins de
aconselhamento.

2. Informes escolares
Refere-se a todo o conjunto de informações académicas ou escolares, construído pelo
individuo durante o seu percurso académico ou escolar.
Segundo Santos (op Cit) os informes escolares podem ser divididos em 3 grupos
principais:
- Resultados específicos de exames, provas e tarefas que exprimem a
aprendizagem;
- Dados relativos às atitudes interesses, aptidões e outros traços de
personalidade que poem em evidência a dinâmica de factores actuantes no
individuo;
- Histórico escolar, como meio de análise retrospectiva dos interesses,
condições socioeconómicas, sucessos e fracassos.

Neste contexto que encontramos a importância do formador, por ser a figura que
estabelece um contacto directo e diário com os formandos, podendo observar o seu
desempenho, suas atitudes, comportamentos e reacções diante do currículo escolar,
ou mesmo dos seus colegas. Portanto ele lida com testes pedagógicos ou exames
académicos, assim como com outras notas oficiais que decidem sobre o
aproveitamento. O autor acima indicado, refere que os dados pedagógicos numéricos
são evidentemente falhos, pois podem não expressar, por vários factores a realidade
do formando em termos de capacidades e aptidões. Dai que sugerimos que sejam
valorizados os resultados escolares (dados) qualitativos, pois ajudam-nos a aferir o
nível de desempenho do nosso formando, assim como termos uma visão sobre o
comportamento deste.

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Fontes de recolha de informes escolares
a) Directamente dos formadores;
b) Dos registos escolares, sob forma de histórico do formando (processo do formando);
c) Da opinião do próprio formando (auto-avaliação) ou do grupo de formandos.

Aspectos a colectar a partir da contribuição dos formadores

a) Tipos de actividades em que o formando revela melhores condições de ajustamento e


desempenho
b) Condições de saúde e de eficiência, deficiência reveladas em classes ou nos
trabalhos/actividades escolares como por exemplo: dificuldades visuais, auditivas,
cansaço, tremores e perturbações orgânicas em geral;
c) Reacções emocionais, tais como calma, tranquilidade, segurança, autoconfiança, ou
pelo contrário, ansiedade, medo, cólera e falta de autoconfiança.
d) Capacidade de aprendizagem, que pode ser lenta, rápida, superficial, profunda…
e) Atitudes, tais como reacções à ideais ou actividades que revelam preocupações
teóricas, económicas, estéticas, religiosas, políticas, etc.
f) Ajustamento social: trabalho isolado ou em equipa, relações com colegas ou
formadores, aceitação ou rejeição social, etc.
g) Aspectos caracterológicos que podem incluir: a honestidade, obediência aos padrões,
disciplina, etc.

Dados referentes aos antecedentes escolares

a) Cursos feitos, e se possível as razões;


b) Notas ou graus escolares obtidos;
c) Prémios, reprovações, sanções ou incidentes escolares que possam produzir
esclarecimentos sobre formas de reacção do formando.
d) Matérias e actividades predilectas, com possível esclarecimento das causas da
predilecção ou rejeição.

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Nota Bem:
Caros formandos! Como formadores nas IEP vocês devem ter um papel fundamental
na organização do processo de recolha, sistematização e documentação dos informes
escolares dos formandos, sendo que o processo do aluno/formando (documento)
deve ser visto como um instrumento essencial no desenho do histórico dos vossos
formandos.

3. Informes psicológicos

Este grupo de informes, é considerado um dos mais relevantes, porém difíceis de serem
colhidos, pois exigem profissionais (psicólogos). O alvo destes informes é conhecer a forma
pela qual a personalidade do formando reage, no que concerne ao respeito ás suas aptidões
gerais e especificas, seus interesses, suas atitudes, suas motivações, seu nível de aspirações,
suas reacções emocionais e seu padrão pessoal de comportamento. A finalidade básica destes
informes é estudar a personalidade integral nas suas componentes intelectuais, afectivas e
psicomotoras.
Entre os diversos atributos psicológicos que importam ao processo de orientação profissional
e aconselhamento, são de destacar os seguintes:

• As aptidões
• Os interesses
• E os valores individuais

a) Aptidões e capacidades

Aptidão é a “habilidade natural para determinado género de actividade e que depende de


muitos factores para transformar-se em capacidade real e efectiva” (Santos, 1963) . A aptidão
como habilidade natural, é um estado ou disposição que permite a execução de certas tarefas
com espontânea facilidade, frequentemente sem aprendizagem. Portanto, refere-se ao termo
aptidão para se considerar a dimensão de “performance‟da personalidade, portanto de
realização (Adelino et al., 1993). Isto significa que quando se faz referência a aptidões
intelectuais, motoras entre outras, estamos a significar os aspectos do rendimento da
personalidade (Ibidem).
No entanto, capacidade “é uma habilidade adquirida, fruto ou não, de uma aptidão. É o estado
mais ou menos instável, de certa forma indefinível, conseguido após a aprendizagem e
treinamento adequado” (Santos, 1963, p. 54). A aptidão é agradável no uso, duradoira,
constante e tende a desenvolver-se com o exercício, contudo, a capacidade necessita de
treinamento constante para manter-se; desenvolve-se de forma limitada e nem sempre traz
satisfação.

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Em muitas ocupações as aptidões só podem ser utilizadas com sucesso se também existirem
certas características temperamentais e comportamentais, por exemplo:

O matemático precisa de disciplina assim como de inteligência;


Um assistente social precisa de ter um pensamento lógico, mas a generosidade, a
consideração e a paciência são mais importantes;
O gestor poderá precisar de ter raciocínio numérico, mas também precisa de ser
afirmativo e enfático (Barret & Wiliams, 1995).

Classificação das aptidões


As aptidões podem ser classificadas, em:
1. Aptidão burocrática – que diz respeito a capacidade para perceber pormenores
pertinentes em material impresso, capacidade para observar diferenças em textos, para
conferir palavras e para encontrar erros;
2. Aptidão verbal – que é a capacidade para compreender o sentido das palavras e para as
utilizar com eficácia, capacidade para compreender a linguagem e para compreender as
relações entre as palavras;
3. Aptidão numérica – esta se subdivide em duas, nomeadamente cálculo -capacidade para
realizar operações numéricas com rapidez e exactidão e raciocínio – que é a capacidade para
resolver problemas de aritmética, expressos verbalmente;
4. Aptidão espacial – correspondente à capacidade para visualizar formas geométricas e
compreender a representação bidimensional de objectos tridimensionais, capacidade para
compreender as relações de movimento dos objectos no espaço;
5. Aptidão motora – respeitante à destreza, à coordenação de movimentos, ao tempo de
reacção, à precisão nos movimentos, à velocidade, etc.

b) Interesses:

Para Lowman (1991, p. 11) citado por Giacaglia (2003, p. 147) os interesses são “indicadores
dos tipos de actividades (trabalho ou não) que as pessoas gostam de realizar”. Este autor
considera ainda que no âmbito da orientação vocacional, os interesses simetrizam-se aos tipos
de ocupação que possivelmente podem despertar motivação e consequentemente
desencadearem sentimentos de satisfação no indivíduo.

Um outro estudioso no contexto de orientação vocacional, Holland (1997), ao definir os


interesses profissionais, refere que essa é uma das formas de expressão da personalidade. E
por conseguinte, eles representariam, basicamente, a personalidade do indivíduo expressa no
trabalho (Holland, Fritzsche & Powell, 1994).

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Principais dimensões ou Tipologia de interesses profissionais:

Os interesses, enquanto constructo teórico, como as escolhas humanas expressas em


comportamentos e respostas dos indivíduos, gostos e preferências por objectos, actividades
e eventos, podem ser classificados ou tipificados de diversas formas. Para o caso vertente,
apresentamos destacamos a tipologia proposta por Holland que considerou a existência de
seis grandes dimensões dos interesses, a partir dos quais definiu seis tipos psicológicos e seis
modelos ambientais apresentados num acrónimo RIASEC formado pelas iniciais de cada tipo
conforme o quadro abaixo:
Dimensão de interesse Caracterização
profissional
1 - Pensamento prático, conservador,
- Preferência por actividades que envolvem o uso de força
Tipo Realista (R)
física - Avesso às actividades sociais

2 Tipo Investigador (I) - Pensamento analítico, investigativo e introvertido,


- Persistente na resolução de problemas
- Avesso às relações sociais
3 Tipo Artístico (A) - Destaca-se pela expressão criativa de ideias, emoções e sentimentos,
- Mostra-se inovador e aberto às novas experiências
- Avesso às actividades rotineiras, lógicas e pré-estabelecidas
4 Tipo Social (S) - Distingue-se pelo senso social, humano e responsável, demonstrando
interesse pelas relações sociais e interpessoais de ajuda ao outro -
Avessos às actividades que requeiram habilidades mecânicas;
5 Tipo Empreendedor (E) - Conhecido pela energia com a qual se envolve em uma tarefa,
- Mostra-se aventureiro, impulsivo, extrovertido, com habilidade de
persuasão e liderança,
- Avesso às actividades científicas e intelectuais;
6 Tipo Convencional (C) - Caracteriza-se pela organização e prudência em suas tarefas
quotidianas
- Valorizam o poder em suas relações sociais, ou seja, bens
materiais e posição social.
- Mostra-se rígido, conhecidos por manter regras e rotinas
ordenadas.

A avaliação dos interesses pode ser feita com a observação directa dos interesses expressos e
dos manifestos (actividades exercidas, ocupações preferidas, reacções de agrado e desagrado,
de sucesso ou de fracasso, actividades de lazer, etc). Pode ainda ser feita através de Testes,
Inventários e questionários. Outro recurso são as Autobiografias, registos episódicos, relatórios de
formadores e dos pais

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c) Os valores

Os valores, embora igualmente importante para a intervenção vocacional, são muitas vezes
ignorados e até confundidos com os interesses (Giacaglia, 2003). Eles dizem respeito ao
conjunto de ideais supremos de uma cultura ou de uma pessoa. De uma forma resumida
podemos dizer que valores são aquilo que nós prezamos (valorizamos) isto é, atribuímos mais
importância ou valor.
De referir que as pessoas se diferem em relação àquilo que atribuem maior ou menor valor,
e subjacente àquilo que são os modos preferenciais de actuação dos vários profissionais,
encontramos os valores. Embora em muitas profissões haja espaço para actuação de acordo
com valores pessoais, existem profissões em que predominam certos valores como é o caso,
da medicina em que deve predominar o valor assistencial; da economia, o valor financeiro; do
sacerdócio o valor religioso; das artes o valor estético. Por exemplo, se um indivíduo não
valoriza a ajuda ao próximo, profissões como a de fonoaudiólogo (terapeuta da fala), médico,
psicoterapeuta, etc. também deveriam ser excluídas de suas possibilidades.
Podemos identificar valores políticos, éticos, religiosos, económicos, sociais, familiares,
estéticos. No dia-a-dia até podemos nem pensar neles, mas sempre que há decisões
importantes a tomar, a nossa escala de valores é activada (Giacaglia, 2003). Por exemplo,
quando há eleições, são os valores políticos que influenciam o nosso voto, da mesma forma,
quando escolhemos um curso ou uma profissão podem estar em confronto valores sociais e
valores económicos ou outros. Para algumas pessoas, os valores económicos (dinheiro,
propriedades, negócios) estarão em primeiro lugar; mas para outras, poderão ser os valores
sociais (ajudar os outros, trabalhar em causas sociais) ou os valores familiares (constituir uma
família, acompanhar os filhos) ou os valores científicos (estudar, investigar, etc.)

A avaliação de valores é geralmente feita por meio de inventários, questionários e entrevistas.

4. Informes familiar e sociais em geral

Em ralação a estes informes, Santo (1963) vê no agrupamento sistematizado dos informes


sociais um meio através do qual é possível interpretar muitos outros informes obtidos em
outras fontes. Por exemplo, o baixo aproveitamento escolar, indisciplina, desinteresse,
tendências anti-sociais, ou mesmo baixas notas em certos testes, podem ser melhor
compreendidos, quando se toma consciência da organização da família do sujeito a orientar,
o grupo de estudos onde estes faz ou fez parte, o grupo de pares e de outros grupos que
exercem influência sobre o individuo.

Itens de relevância a serem colhidos

a) Organização da família: idade dos pais, regime matrimonial, constelação familiar;


b) Residência e vizinhança: tipo de habitação, grau de conforto e de utilidade,
características do bairro (educacionais, profissionais, recreativas, etc)

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c) Regime de vida familiar: relações psicológicas e sociais entre pai e mãe, entre estes e
os filhos, entre os irmãos, entre estes e outras pessoas (parentes, amigos, conhecidos);
regime de disciplina e de comportamento no lar (dependência, ascendência,
cooperação, atitudes de aceitação e rejeição, lazeres, recreação, etc); atitudes da
família no círculo restrito do lar e o comportamento exterior com relação e problemas
profissionais, estudos, alvos educacionais e outros; personalidade do pai, da mãe e dos
“astros” dominantes da constelação familiar; sociometria familiar (relações
interpessoais); regime de reuniões e conversações familiares.
d) Status: socioeconómico, profissional e cultural; profissão dos pais, irmãos e outros
agentes familiares; atitudes no plano económico, social, político e religioso.
e) Facilitações e barreiras: oportunidades de estudo e de trabalho; de aprendizagem e de
treinamento; limitações físicas (doenças, handcaps ou psicológicos).
f) Vida extra-familiar: clubes, associações, centros e organizações frequentadas pelos
membros da família e pelo orientando, em particular, ou de outra, actuem no
comportamento social (Santos, op cit).

Estes informes sociais são facilmente recolhidos por questionários, tais como profissão
de pais, composição da família entre outros, e a família é a fonte mais indicada.

5. Informes económicos

Dizem respeito ao conjunto de informações sobre a situação financeira da família, onde


busca-se por um lado, conhecer os recursos disponíveis e a política familiar de
aproveito desses recursos, por outro, os planos de estudo ou de trabalho que
estiverem a ser considerados na orientação do individuo, sendo igualmente a família
um elemento fundamental para a recolha dos mesmos.

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