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Sumário Páginas

Índice de Gráficos .......................................................................................................................................... i


Declaração..................................................................................................................................................... ii
Dedicatória ................................................................................................................................................... iii
Agradecimentos ........................................................................................................................................... iv
Siglas e Abreviaturas .................................................................................................................................... v
Resumo ........................................................................................................................................................ vi
Abstract ....................................................................................................................................................... vii
0. CAPÍTULO - INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 8
0.1. Problematização ............................................................................................................................ 9
0.2. Delimitação do tema ..................................................................................................................... 9
0.3. Justificativa ................................................................................................................................. 10
0.4. Objectivos ................................................................................................................................... 11
0.4.1. Geral.................................................................................................................................... 11
0.4.2. Específicos .......................................................................................................................... 11
0.5. Hipóteses ..................................................................................................................................... 11
0.6. Metodologia ................................................................................................................................ 11
0.6.1. Tipo de pesquisa.................................................................................................................. 11
0.6.2. Técnicas de pesquisa e Instrumentos de recolha de dados .................................................. 12
0.7. Método de abordagem................................................................................................................. 16
0.8. População e amostra ................................................................................................................... 17
1. CAPÍTULO - QUADROCONCEPTUAL .......................................................................................... 18
1.1. Conceitos Básicos ....................................................................................................................... 18
1.1.1. Economia ............................................................................................................................ 18
1.1.2. Poupança ............................................................................................................................. 18
1.1.3. Consumo ............................................................................................................................. 18
1.1.4. Crédito................................................................................................................................. 19
1.1.5. Taxa de Juros ...................................................................................................................... 19
1.1.6. Crescimento Económico ..................................................................................................... 19
1.1.7. Desenvolvimento económico .............................................................................................. 20
ii

1.1.8. Pobreza ................................................................................................................................ 21


2. CAPÍTULO - REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 22
2.1. Xitique......................................................................................................................................... 22
2.2. Processo de Formação de Grupo de Xitique e sua Composição ................................................. 23
2.2.1. O primeiro critério é da periodicidade e valor estipulado ................................................... 23
2.2.2. O segundo critério usado é das redes de amizade. .............................................................. 24
2.2.3. O terceiro critério é das relações de familiaridade. ............................................................. 24
2.3. Periodicidade do xitique e o seu funcionamento......................................................................... 26
2.3.1. Xitique diário ...................................................................................................................... 26
2.3.2. Xitique Semanal .................................................................................................................. 27
2.3.3. Xitique Mensal .................................................................................................................... 28
2.4. Motivos da prática de Xitique ..................................................................................................... 28
2.5. Impacto de Xitique nas Famílias ................................................................................................. 29
3. CAPÍTULO - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ........................................................... 32
3.1. Descrição do Local de Estudo ..................................................................................................... 32
3.2. Apresentação dos dados de pesquisa .......................................................................................... 32
4. CAPÍTULO - CONSTATAÇÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 40
4.1. Constatações ............................................................................................................................... 40
4.2. Recomendações........................................................................................................................... 41
5. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 42
6. APÊNDICES....................................................................................................................................... 44
i

Índice de Gráficos
Gráfico 1: Distribuição percentual por género de praticantes de xitique ………………32

Gráfico 2: Distribuição percentual da idade de praticantes de xitique …………………33

Gráfico 3:Distribuição percentual do nível de rendimento …………………………….33

Gráfico 4: Distribuição percentual da periodicidade de xitique ……………………….34

Gráfico 5: Distribuição Percentual do tempo a praticar xitique ……………………….35

Gráfico 6: Distribuição percentual do valor de xitique ………………………………..35

Gráfico 7: Distribuição percentual das finalidades/ objetivos da prática de Xitique ….36


ii

Declaração

Declaro por minha honra que este trabalho é da minha autoria e resulta da minha profunda
investigação sob instrução do meu supervisor. Esta é a primeira vez que é submetido para
obtenção de um grau académico numa instituição de ensino, autenticando assim a sua
originalidade.
Maputo, aos ________ de ______________ de ___________

___________________________________________

(Onésimo Alexandre Novele)


iii

Dedicatória
Com muito carinho e amor

Aos meus pais

Alexandre Zacarias Novele e Josefina Henrique Langa Novele;

Victorino Bamo, Jorge Lopes Langa, Gilda Henriques Langa (em memória), Rosa Chongo,
Gertrudes Henriques Langa;

Ao meu filho

Máron Onésimo Novele;

Minha namorada

Marcela Isac Massinga

A minha avó

Julieta Alexandre langa Novele (em memória) e

A todos meus familiares e amigos.


iv

Agradecimentos
A Deus todo-poderoso, pela vida, proteção, força e coragem quem me deu para enfrentar e
vencer todos constrangimentos até alcançar mais uma meta, pois, ele é o meu suporte e com ele
encaro tudo, não importa o tamanho de constrangimento existente.

Agradeço de uma forma especial aos meus pais Alexandre Zacarias Novele, Josefina Henriques
Langa, Jorge Lopes langa, Gilda Henriques Langa (em memória), Rosa Chongo e Gertrudes
Henrique Langa, pelo apoio moral e financeiro, pelos ensinamentos e aconselhamentos.
Agradeço de mesma forma a minha namorada Marcela Isac Massinga, minha prima Natércia
Bamo, que sempre conseguiram - me dar força, que me contagiavam pelos sorrisos quando
precisava, na rotina do dia-a-dia.

A todo corpo docente desta faculdade que conseguiu - me transmitir conhecimentos de uma
forma eficaz e eficiente, especialmente ao meu supervisor Mestre Elvis Miambo que esteve
sempre presente indicando me a direção certa, acompanhando me até conseguir fazer este
trabalho, o meu muito obrigado.

Vão os meus agradecimentos também a minha família, que conseguiu - me aturar nesta
caminhada embora com uma lista enorme mas com destaque para: Octávio Alexandre Novele,
Adimiro Alexandre Novele, Crimildo Alexandre Novele, Lurdes Alexandre Novele, Inocêncio
Victorino Bamo, Marcela Rabeca Langa e Zelda Zacarias Novele.

Sem excluir os meus grandes companheiros na batalha, Augusto Muchanga, Elton André,
Catarina Bernardo Cossa, dr. Herminio Luis, Carolina Tânia, Adelino Nhacutono, juntamente
com os meus amigos irmãos, dr. Miguel Fernando, dr. Emiliano Matavele, Elísio Muthemba,
Júlio Timabana, Júlio Zunguene, Mucharcuei Mouzinho, dr Isac Dinis Sitoe, Lídia Jossias,
Hercília Matavele, eng. Tércio Filipe Simbine, Edson Júlio, Nando Munguambe, que sempre
apoiaram - me nos bons e maus momentos, que me ensinaram a escolher e valorizar amizades e a
todos que directo ou indirectamente, serviram como alavancas para o alcance duma das metas na
minha vida.

O meu muito obrigado/Khanimanbo/Inkomo/Nimbonguile


v

Siglas e Abreviaturas
FARE - Fundo de Apoio à Reabilitação da Economia

FDD – Fundo de Desenvolvimento Distrital

INE – Instituto Nacional de Estatística

MPDD - Manual de Procedimentos do Fundo Distrital do Desenvolvimento

ONG – Organização Não Governamental

UEM – Universidade Eduardo Mondlane

UP – Universidade Pedagógica

PARPA – Plano de Apoio a Redução da Pobreza Absoluta

PERPU – Plano Económico para Redução da Pobreza Urbana

PIB – Produto Interno Bruto

PNB – Produto Nacional Bruto

SCN – Sistema de Contas Nacionais

SMS – Serviços de Mensagens Simples


vi

Resumo
O presente trabalho procura debruçar sobre um tema que tem um vasto público-alvo e que serve
como uma fonte na renda, poupança, etc. acima de tudo a melhoria das condições de vida para
diversas famílias Moçambicanas. Dentro das pesquisas feitas procurarei entender os motivos que
levam os cidadãos a praticarem xitique e suas finalidades, respostas essas encontradas através
dos diversos instrumentos de recolha de informação.

As famílias em Moçambique deparam-se com várias situações constrangedoras para poupar e


conseguir um crédito nas instituições que são criadas para esse fim, situações como: ter uma
conta bancária, altas taxas de juro, ter que apresentar uma garantia, muita burocracia, entre
outras. É por essas e mais razões que os cidadãos comuns optam por usar os créditos rotativos
mais conhecidos por xitique que são mais baratos e eficientes.

Alguns autores consideram que o termo xitique deriva do Tsonga, uma língua do Sul de
Moçambique que significa poupança. É uma prática de longa tradição em Moçambique, quer nas
zonas rurais, quer nas urbanas, e funciona como estratégia de sobrevivência e para lidar com
situações de crise, como um sistema de investimento, é uma das formas mais comuns de
poupança e crédito informal que a população usa para canalizar os seus rendimentos, é também
como uma estratégia de convivência e ou harmonização familiar e ajuda mútua.
Umas das formas mais frequentes de xitique envolvem dinheiro, visitas, loiça, mucumes1, etc.
mas todas essas formas são para a melhoria das condições da vida dos praticantes e seus
dependentes. Ultimamente esta prática abrange toda faixa etária, independentemente do seu
gênero, religião, etc..
Palavras - chave: Xitique, poupança, crédito e harmonização familiar.

1
Capulanas grandes com uma renda branca, geralmente composto por três capulanas.
vii

Abstract
The current work seeks a description of a huge and broad based theme to the majority of the
population that serves as a source of gain, saving etc. More to the point, the improving life state
of several Mozambican families.

In the process of the research, there was the need of better understanding either the reason why
citizens come to practice xitique or even its finalities or benefits. The answers were made
possible by the usage of several information’s recovery instruments.

Mozambican families face several uncomfortable situations to either save or finding a credit in
the institutions based on the process, situations such as: having a bank account, submission to
highly increasing taxes and too much bureaucracy and so on. Therefore, the common citizens
tend to require to rotary credits well known as Xitique, what comes to be either cheap or
efficient.

Some of the authors regard that the term xitique comes from Tsonga, a southern Mozambique
spoken language with the mean of ‘saving’ in English. It has then been a long practiced activity
in Mozambique, either in the Country side as in the City and works as a surviving strategy by the
purpose of even dealing crisis situations or an investment system. It has become the most regular
saving system and informal credits that the majority of the population uses to canalize and also
as a strategy of acquaintanceship, family harmonization or even mutual help.

The most frequent manners of saving are some specific forms of xitique what come to be xitique
involving money, visits, goods like dishes or furniture, mucumes and others. All and each of the
above mentioned practices serve to the benefit of those who participate and their dependents as
well. It is important to notice that nowadays, these practices involve every age despite the gender
or religion and other circumstances.

Key – words: xitique, savings, credit and family harmonization


8

0. CAPÍTULO - INTRODUÇÃO
A pobreza absoluta em Moçambique é um dos desafios que preocupa as entidades
governamentais, pois é sabido que segundo o INE (2007), mais de 50% da população
moçambicana vive abaixo da linha da pobreza. Perante esta situação o governo moçambicano
tem vindo a adoptar política visando mitigar este problema que é de toda a sociedade
moçambicana.

É notório o esforço que o governo tem vindo a fazer como forma de combater a pobreza no país,
através da introdução de várias politicas visando reconstruir a estrutura financeira das famílias,
de modo a garantir o desenvolvimento social das mesmas, em 2005 o estado moçambicano
introduziu a politica do FDD e ou PERPU, fundo concedido pelo governo à sociedade
moçambicana como forma de financiar: Acções que visam estimular o empreendedorismo a
nível local, beneficiando pessoas pobres, mas economicamente activas e que não têm acesso ao
crédito bancário; (ii) Actividades de produção e comercialização de alimentos, criação de postos
de trabalho permanentes ou sazonais, assegurando a geração de rendimento e, (iii) Outras acções
que visem melhorar as condições de vida, relacionadas com as actividades económicas e
produtivas das comunidades. (MPFDD, 2011). Mas embora o governo implemente essas
políticas não chegam a responder como deve ser as necessidades das famílias, o que faz com
estas busquem outras alternativas.
De um tempo para cá, regista-se maior proliferação dos grupos de poupança ou simplesmente
crédito rotativo (Xitique), uma forma encontrada pelas famílias de estimular a poupança e o
crédito, aumentando a capacidade de investimentos nos seus pequenos negócios e para o futuro
consumo. É nesse contexto que a presente trabalho visa dissecar sobre o Contributo dos Grupos
de Poupançae Crédito Rotativos (Xitiques) no Desenvolvimento Socioeconómico das Famílias
na Cidade de Maputo, um estudo de caso que será feito no Distrito KaMaxakeni, pois a
poupança é a melhor maneira de assegurar o futuro consumo por mais que tenha rendimentos
abaixo dos normais.
No que cerne a organização, o trabalho compreenderá quatro capítulos, todos antecedidos pelos
elementos introdutórios, onde serão arrolados os objectivos do trabalho, problema de pesquisa, a
justificativa e as possíveis hipóteses, e de igual modo será descrita a metodologia usada para a
elaboração do trabalho. O primeiro capítulo irá abordar os conceitos básicos do trabalho, seguido
9

pelo segundo que consistirá na apresentação da revisão da literatura, em seguida o terceiro que
consistirá na apresentação e análise dos resultados da pesquisa, o quarto e último visa apresentar
as constatações da pesquisa e as possíveis recomendações.

0.1.Problematização
A redução e eliminação de pobreza têm sido consideradas como os objectivos principais das
políticas de desenvolvimento a médio e longo prazo (PSICO, José, 2010). O governo
moçambicano tem feito esforços visando reduzir estas proporções catastróficas da pobreza em
Moçambique, através de introdução de políticas de financiamento das famílias de modo a torna-
las financeiramente activas, contudo essas politicas parecem não estar a surtir um efeito notável,
pois, a pobreza continua a ser uma pura realidade na sociedade moçambicana, e tem se agravado
mais nas zonas suburbanas, porque por mais que queiram praticar a agricultura, as condições de
ordenamento territorial não favorecem e por mais que consigam criar um pequeno negócio
familiar, não encontram compradores com abundância porque o custo de vida nesses bairros é
elevado e trás o agravamento de preços, este facto tornou activa a participação das famílias no
processo da mitigação da pobreza e custo de vida, através de criação de vários grupos de
poupança doméstica vulgarmente designados Xitiques, tencionando aumentar a renda familiar,
tornando-as financeiramente activas.

Portanto questiona-se, o nível da satisfação desses grupos em relação a sustentabilidade


financeira das famílias. Podendo a partir desta reflexão chegar a seguinte pergunta de pesquisa:

 Ate que ponto os Grupos de Poupança e Crédito Rotativos (Xitique) Contribuem no


Desenvolvimento Socioeconómico das Famílias na Cidade de Maputo mais
concretamente no Distrito Municipal KaMaxakeni?

0.2.Delimitação do tema
A situação conjuntural de Moçambique demonstra que o sector informal continua a ser a
principal alternativa para a sobrevivência de muitas famílias. Se é verdade que a luta pela
independência nacional foi dura e longa, a luta mais difícil e mais prolongada começava com as
tarefas que se punham de imediato e com absoluta prioridade no âmbito do combate à miséria, à
fome, à nudez e ao analfabetismo. Este trabalho já em si muito difícil, foi agravado no período
pós independência com êxodo maciço associada com uma serie sistemática de calamidades
10

naturais que destruíram muitas das infraestruturas existentes (ARAÚJO, 1988) citado por
(MATLAVA, Geraldo, 2012).

O tema de pesquisa Contributo dos Grupos de Poupança e Crédito Rotativo (Xitique) no


Desenvolvimento Socioeconómico das Famílias, surge no âmbito das diversas formas que o
sector informal apresenta como alternativa para a sobrevivência de várias famílias, tanto para
aumento da renda e a melhorar das suas condições de vida.

Para a realização ou elaboração de um trabalho científico, é preciso pôr os limites ou seja, criar o
âmbito do tema. Para efeitos de realização deste trabalho, delimitou – se o tema selecionando o
Distrito Municipal KaMaxakeni na Cidade de Maputo.

0.3.Justificativa
É antes de mais necessário perceber qual é o desempenho ou contributo das famílias no processo
de mitigação da pobreza em Moçambique, de modo a permitir as entidades competentes no
processo de tomada de algumas decisões que podem de alguma forma ajudar na resolução de um
problema que tem vindo a ser recorrente e se possível a sua formalização pela entidade
competente.

A presente pesquisa é relevante na medida em que poderá trazer a sociedade uma dinâmica
diferente no que tange ao processo de melhoria das condições de vida das famílias, a partir do
momento em que os resultados provenientes desta pesquisa irão de alguma forma trazer uma
reforma no processo do crédito rotativo ou simplesmente xitique e vai estimular o espírito de
poupança de modo a salvaguardar os processos decisórios que futuramente poderão aparecer.

Tratando-se de uma pesquisa não terminada poderá servir para a sociedade académica de uma
fonte de consulta para os próximos pesquisadores, contribuindo desta forma na massificação da
pesquisa, que é também um dos objectivos da Universidade Pedagógica Moçambique em
particular a Escola Superior de Contabilidade e Gestão.

O autor de igual modo será um dos beneficiados desta pesquisa, pois ira aprofundar o
conhecimento sobre o funcionamento do sistema financeiro informal e do seu contributo na
mitigação da pobreza no país assim como aprofundar e ter mais conhecimentos na prática sobre
as diferentes formas de poupar, sobretudo dos grupos de poupança e crédito.
11

0.4.Objectivos

0.4.1. Geral
 Mensurar o nível do contributo dos grupos de poupança e crédito rotativo (Xitique), no
desenvolvimento socioeconómico das famílias.

0.4.2. Específicos
 Identificar os grupos de poupança e crédito rotativo (Xitique) actuantes no distrito
KaMaxakeni;
 Perceber as funcionalidades dos grupos de poupanças e crédito rotativo (Xitique) no
distrito KaMaxakeni;
 Descrever os benefícios da poupança e crédito rotativo (Xitique) nas famílias;
 Comparar o nível do desenvolvimento socioeconómico das famílias antes e depois de
fazer Xitique.

0.5.Hipóteses
 H1: Os grupos de poupança e crédito rotativo (Xitique) contribuem de uma forma
significativa no desenvolvimento socioeconómico das famílias;
 H2: Os grupos de poupança e crédito rotativo (Xitique) não contribuem de nenhuma
forma no desenvolvimento socioeconómico das famílias.

0.6.Metodologia

0.6.1. Tipo de pesquisa


De acordo com MARCONI e LAKATOS (2012) “Pesquisa pode ser considerada um
procedimento formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e
se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.
Significa muito mais do que apenas procurar a verdade: é encontrar respostas para questões
propostas, utilizando métodos científicos”.

0.6.1.1.Pesquisa Quantitativa
Pesquisa quantitativa, baseia – se na quantificação para colectar e, mais tarde tratar os dados
obtidos. Neste tipo de pesquisa, é fundamental usar técnicas estatísticas, tais como percentagens,
média, desvio padrão, entre outros. A confiabilidade e a capacidade de generalização também
12

são poucos importantes da pesquisa quantitativa. Acredita – se que estudos baseados em dados
quantitativos ofereçam uma base mais segura para que o pesquisador tire as suas conclusões.
(MARCARENHAS, Sidnei; 2012).

0.6.1.2.Pesquisa Qualitativa
(...). Utilizamos a pesquisa qualitativa, quando queremos descrever o nosso objecto de estudo
com mais profundidade. Caracterizando este tipo de pesquisa, nota – se que: os dados são
levantados e analisados ao mesmo tempo; os estudos são descritivos, voltados para a
compreensão do objeto; a influência do pesquisador sobre a pesquisa não é evitada; muito pelo
contrário é considerada fundamental.

A pesquisa qualitativa não é formada por etapas engessadas como as da quantitativa: aqui, o
pesquisador fica à vontade para desenhar o estudo da forma que julgar mais adequado no
entanto, é importante manter em mente que a pesquisa deve apresentar uma estrutura sólida e
coerente, capaz de receber a aprovação dos membros da comunidade científica.
(MARCARENHAS, Sidnei;2012).

Para este trabalho, utilizou – se as duas pesquisas. Na qualitativa, fez – se a coleta de


informações junto aos membros das famílias, membros das associações, os dirigentes (esses dois
últimos se for o caso), etc., para poder perceber como é que funcionam, qual é o contributo, etc.
Depois da coleta dessas informações, foi aplicada a pesquisa quantitativa para se expressar os
dados em formatos numéricos, de modo a proceder – se com a sua interpretação, analisar – se os
resultados, etc.

0.6.2. Técnicas de pesquisa e Instrumentos de recolha de dados


Técnica é um conjunto de preceitos ou processos de que se serve uma ciência ou arte; é a
habilidade para usar esses preceitos ou normas, a parte prática. Toda ciência utiliza inúmeras
técnicas na obtenção de seus propósitos, correspondem no entanto a parte prática de coleta de
dados” (LAKATOS e MARCONI, 2003). Existem diversas técnicas de pesquisa mas, neste
trabalho importaram, Pesquisas Bibliográficas, Pesquisa Documental, Pesquisa Descritiva,
Observação, Entrevistas direcionadas ao estudo de caso e aplicação de questionário.
13

0.6.2.1.Pesquisas Bibliográficas
Esta é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e
artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa
natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte
dos estudos exploratórios pode ser definida como pesquisas bibliográficas. A principal vantagem
da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de
fenómenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. A pesquisa
bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra
maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados bibliográficos. (GIL, António;
2002).

De acordo com GIL (2002), Pesquisa Documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica.
A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes/Enquanto a pesquisa bibliográfica
se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a
pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que
ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa.

O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica.


Apenas cabe considerar que, enquanto na pesquisa bibliográfica as fontes são constituídas
sobretudo por material impresso localizado nas bibliotecas, na pesquisa documental, as fontes
são muito mais diversificadas e dispersas. Há, de um lado, os documentos “de primeira mão”,
que não receberam nenhum tratamento analítico.

Nesta categoria estão os documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e instituições


privadas, tais como associações científicas, igrejas, sindicatos, partidos políticos etc. Incluem-se
aqui inúmeros outros documentos como cartas pessoais, diários, fotografias, gravações,
memorandos, regulamentos, ofícios, boletins etc. De outro lado, há os documentos de segunda
mão, que de alguma forma já foram analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de
empresas, tabelam estatísticas etc.

0.6.2.2.Pesquisas descritivas
Esta pesquisa tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada
população ou fenómeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os
14

estudos que podem ser classificados sob este título e uma de suas características mais
significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados (...). Também são
pesquisas descritivas aquelas que visam descobrir a existência de associações entre variáveis,
como, por exemplo, as pesquisas eleitorais que indicam a relação entre preferência político-
partidária e nível de rendimentos ou de escolaridade (GIL, António;2008).

0.6.2.3.Observação
A observação é de extrema importância, pois é dela que depende o valor de todos os outros
processos do estudo da realidade. Observar é executar a aplicação dos sentidos físicos a um
objeto, para dele adquirir um conhecimento claro e preciso. (CERVO; 2002).

A observação oferece uma série de vantagens, entre elas está a possibilidade de estudar uma
ampla variedade de fenómenos por meios diretos e satisfatórios, outra é exigir menos do
observador em relação a técnicas diferentes desta, a permissão de coleta de dados sobre atitudes
comportamentais e evidência de dados não constantes do roteiro de entrevistas são também
vantagens da observação. (LAKATOS e MARCONI; 2003).

Segundo LACATOS e MARCONI (2003), a observação é uma técnica de coleta de dados para
conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspetos da realidade.
Não consiste em apenas ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenómenos que se
desejam estudar.

A observação constitui elemento fundamental para a pesquisa. Desde a formulação do problema,


passando pela construção de hipóteses, coleta, análise e interpretação dos dados, a observação
desempenha papel imprescindível no processo de pesquisa. É, todavia, na fase de coleta de dados
que o seu papel se torna mais evidente. A observação é sempre utilizada nessa etapa, conjugada a
outras técnicas ou utilizada de forma exclusiva. Por ser utilizada, exclusivamente, para a
obtenção de dados em muitas pesquisas, e por estar presente também em outros momentos da
pesquisa, a observação chega mesmo a ser considerada como método de investigação. (GIL;
2008).

0.6.2.4.Entrevista
Se acordo com Gil (2008) pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se
apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados
15

que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais
especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados
e a outra se apresenta como fonte de informação. A entrevista é uma das técnicas de coleta de
dados, mais utilizada no âmbito das ciências sociais. Psicólogos, sociólogos, pedagogos,
assistentes sociais e praticamente todos os outros profissionais que tratam de problemas humanos
valem-se dessa técnica, não apenas para coleta de dados, mas também com objetivos voltados
para diagnóstico e orientação.

A entrevista, não é apenas um bate papo, é uma conversa que tem o objetivo de obter
dados para a pesquisa. Ela é muito utilizada em estudos ligados a ciências sociais e
humanas. A entrevista serva para levantar informações que não encontramos em fontes
bibliográficas, mas podemos obter conversando com pessoas. (MASCARENHAS;
2012).

0.6.2.5.Questionário
Segundo MASCARENHAS, Sidnei (2012) questionário é um instrumento ideal quando
queremos medir dados com maior precisão. Aqui, o papel do pesquisador é formular perguntas
que serão, depois, respondidas no papel pelo participante. Normalmente, o questionário pode ser
enviados ao participante pelo correio, internet, ou respondido presencialmente.

Pode-se definir questionário como a técnica de investigação composta por um conjunto de


questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre
conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores,
comportamento presente ou passado etc. Os questionários, na maioria das vezes, são propostos
por escrito aos respondentes. Costumam, nesse caso, ser designados como questionários
autoaplicados. Quando, porém, as questões são formuladas oralmente pelo pesquisador, podem
ser designados como questionários aplicados com entrevista ou formulários. Construir um
questionário consiste basicamente em traduzir objetivos da pesquisa em questões específicas. As
respostas a essas questões é que irão proporcionar os dados requeridos para descrever as
características da população pesquisada ou testar as hipóteses que foram construídas durante o
planeamento da pesquisa. Assim, a construção de um questionário precisa ser reconhecida como
um procedimento técnico cuja elaboração requer uma série de cuidados, tais como: constatação
de sua eficácia para verificação dos objetivos; determinação da forma e do conteúdo das
16

questões; quantidade e ordenação das questões; construção das alternativas; apresentação do


questionário e pré-teste do questionário. (GIL, António; 2008).

0.7.Método de abordagem
“Métodos de procedimentos constituem etapas mais concretas da investigação, com finalidade
mais restrita em termos de explicação geral dos fenómenos menos abstratos. Pressupõem uma
atitude correta em relação ao fenómeno e estão limitadas a um domínio particular”.
(MARCONI & LAKATOS; 2012).

Método não é um modelo, formula ou receita que, uma vez aplicada, colhe, sem margem de erro,
os resultados previstos ou desejados. É apenas um conjunto ordenado de procedimentos que se
mostrou eficiente, ao longo da história, na busca do saber. O método científico é, pois, um
instrumento de trabalho. O resultado depende de seu usuário. (MARCARENHAS, Sidnei; 2012).

Segundo GIL, António, (2008) método constitui o caminho para se chegar a determinado fim. E
método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se
atingir o conhecimento. Existem métodos que esclarecem acerca dos procedimentos lógicos que
deverão ser seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade.
São, pois, métodos desenvolvidos a partir de elevado grau de abstração, que possibilitam ao
pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos fatos e
da validade de suas generalizações. Podem ser incluídos neste grupo os métodos: dedutivo,
indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. O método dedutivo relaciona-se ao
racionalismo, o indutivo ao empirismo, o hipotético-dedutivo ao neopositivismo, o dialético ao
materialismo dialético e o fenomenológico, naturalmente, à fenomenologia.

Neste trabalho foi usado o método Indutivo porque parte do particular e coloca a generalização
como um produto posterior do trabalho de coleta de dados particulares. De acordo com o
raciocínio indutivo, a generalização não deve ser buscada aprioristicamente, mas constatada a
partir da observação de casos concretos suficientemente confirmadores dessa realidade (...).
Nesse método, parte-se da observação de fatos ou fenómenos cujas causas se deseja conhecer. A
seguir, procura-se compará-los com a finalidade de descobrir as relações existentes entre eles.
Por fim, procede-se à generalização, com base, na relação verificada entre os fatos ou fenómeno
(GIL, António 2008).
17

0.8.População e amostra
De modo geral, os levantamentos abrangem um universo de elementos tão grande que se torna
impossível considerá-los em sua totalidade. Por essa razão, o mais frequente é trabalhar com uma
amostra, ou seja, com uma pequena parte dos elementos que compõem o universo. Quando essa
amostra é rigorosamente selecionada, os resultados obtidos no levantamento tendem a
aproximar-se bastante dos que seriam obtidos caso fosse possível pesquisar todos os elementos
do universo. E, com o auxílio de procedimentos estatísticos, torna-se possível até mesmo calcular
a margem de segurança dos resultados obtidos (GIL, António; 2002).
GIL, António (2008), define população como um conjunto definido de elementos que possuem
determinadas características. Comummente fala-se de população como referência ao total de
habitantes de determinado lugar e amostra como subconjunto da população, por meio do qual se
estabelecem ou se estimam as características desse universo ou população.
População é o conjunto de seres animados e inanimados, que apresentam pelo menos uma
característica em comum. A delimitação da população, consiste em explicitar que pessoas ou
coisas, fenómenos etc., serão pesquisados, enumerando suas características comuns, como por
exemplo, sexo, faixa etária, organização a que pertencem, comunidade onde vivem, etc. Amostra
porção ou parcela, convenientemente selecionada da população; é subconjunto da população. A
amostra pode ser probabilística e não probabilística (LAKATOS, Eva & MARCONI, Maria;
1992).

Para a realização do presente trabalho, foi selecionada uma amostra representativa de 180
famílias onde em cada família foi entrevistado um representante. Ainda neste contexto foi usada
amostra probabilística, que de acordo com LAKATOS, Eva & MARCONI, Maria (1992), baseia
– se na escolha aleatória dos pesquisados, significando o aleatório que a seleção se faz de forma
que cada membro da população tinha a mesma probabilidade de ser escolhido. Esta maneira
permite a utilização de tratamento estatístico, que possibilita compensar erros amostrais e outros
aspetos relevantes para a representatividade e significância da amostra.
18

1. CAPÍTULO - QUADROCONCEPTUAL

1.1.Conceitos Básicos
Para a perceção do leitor, é sempre necessário trazer antes de mais nada o rol de todos conceitos
concernentes ao tema em análise. Um leitor bem servido é aquele que logo no princípio consegue
ter ideias do conteúdo a ser tratado num determinado tema do mesmo jeito que um trabalho bem
feito deve ser claro, simples e objetivo para não engendrar quaisquer dúvidas no que concerne ao
conteúdo a ser tratado. Portanto, começou – se o presente trabalho por trazer os conceitos abaixo.

1.1.1. Economia
Segundo SALVATORE, Diminiket al (1981), economia é uma ciência social que estuda o
indivíduo e as organizações empenhados na produção, troca e consumo de bens e serviços. A
economia busca desenvolver princípios, teorias ou modelos que isolam algumas das
determinantes ou causas de maior importância dos eventos económicos.

De acordo com PARKIN (2009) economia é a ciência social que estuda as escolhas que as
pessoas, as empresas, os governos e sociedades inteiras fazem à medida que se defrontam com
escassez e com os incentivos que influenciam e conciliam essas escolhas.

1.1.2. Poupança
SALVATORE, Diminiket al (1981), define poupança como o montante do rendimento
disponível corrente que não é consumido, isto é, o montante da renda disponível que é
sacrificado para o consumo futuro.

Segundo o SCN de 1993, citado pela publicação do XXXVIII Conselho Consultivo do Banco de
Moçambique (2014), poupança é a parte do rendimento disponível que não é gasta em consumo
final de bens e serviços, ou seja, a diferença entre o rendimento disponível bruto e o consumo
final.

1.1.3. Consumo
Montante que as famílias despendem em bens ou serviços recentemente produzidos, isto é, o
montante do rendimento disponível que é usado na compra de bens e serviços. (SALVATORE,
Diminiket al; 1981).
19

1.1.4. Crédito
De acordo com CABIDO, Jacinto (1999) crédito é um contrato bilateral: uma parte que empresta
outra que pede emprestado e promete pagar em certo tempo acordado - aqui nasce a operação de
crédito.

De acordo com DOS SANTOS, José (2003) crédito, em finanças, é definido como a modalidade
de financiamento destinada a possibilitar a realização de transações comerciais entre empresas e
seus clientes. Inclui duas noções fundamentais: confiança e tempo.

1.1.5. Taxa de Juros


É o preço pago pelo uso da moeda ou fundo para empréstimo, expresso como percentagem da
quantia tomada por empréstimo, isto é, o preço do dinheiro no tempo. (SALVATORE, Diminiket
al; 1981).

Taxa de Juros é o rendimento proveniente da poupança investida por um prazo de tempo.


(CADILHE, Miguel et al, 1973).

De acordo com GITMAN, Lawrence (2010), Taxa de Juro é a remuneração paga pelo tomador
ao emprestador de fundos, do ponto de vista do tomador, representa o custo dos fundos captados,
o custo de dinheiro.

1.1.6. Crescimento Económico


Os economistas buscam uma teoria universal de crescimento económico, eles desejam
compreender o crescimento de países pobres e ricos – por que e como países pobres ficam ricos e
países ricos continuam a enriquecer. No entanto o crescimento económico é uma expansão
sustentada das possibilidades de produção medidas com o aumento do PIB real ao longo de
determinado período de tempo.
De acordo com SALVATORE, Diminiket al (1981), crescimento económico é o aumento do
nível do produto em uma economia no decorrer do tempo. Geralmente é medido pelo
aumento absoluto ou relativo do PNB per capita (Produto dividido pelo número total da
população) no decorrer do tempo. Outrossim, pode se dizer que o crescimento económico
enfoca a expressão da capacidade produtiva no decorrer do tempo.
20

O crescimento económico é tradicionalmente definido como taxa de crescimento do rendimento


real per capta e é resultado de três processos. O primeiro, os recursos disponíveis são utilizados
com mais intensidade. O segundo, os recursos existentes são realocados de modo a aumentar a
sua produtividade. O terceiro, existe um aumento da oferta de fatores produtivos. Todos esses
processos ocorrem simultaneamente. (ROLIM, Cássio et al; 2002).

O crescimento económico gera benefícios e custos. Os benefícios incluem a maior capacidade de


uma sociedade para produzir bens e serviços, expandir a escolha de consumidor, melhorar
amenidades fiscais, maior segurança alimentar, oportunidades educacionais alargadas, melhor
saúde e nutrição, a mobilidade física e social melhorada. Existem também custos associados ao
crescimento económico, incluindo a degradação ambiental, diminuição dos recursos não
renováveis, desequilíbrio regional que promovem uma rápida migração rural – urbana,
especialmente em países de baixo rendimento, a proliferação de bairros pobres carecendo de
comodidades sociais básicas e infra – estruturas físicas, etc.. (ROLIM, Cássio et al; 2002).

1.1.7. Desenvolvimento económico


De acordo com DE SOUZA, Nali de Jesus, (1993), citado por AMARCY, não existe uma
definição universalmente aceite de desenvolvimento, pois destacam – se duas correntes que
tentam discutir esse conceito. A primeira corrente considera crescimento como sinónimo de
desenvolvimento. Nesta primeira corrente enquadram – se os modelos de crescimento de
tradição neoclássica, como os de Mead, ou pós – keynesiano, como de Harrod, Domar e Kaldor.
Para economistas desta corrente, um país é subdesenvolvido porque cresce menos do que os
desenvolvidos, apesar de possuir recursos ociosos como terra e mão – de – obra. Ele não utiliza
integralmente os fatores de produção de que dispões e, portanto, a economia expande – se abaixo
das suas possibilidades.

A segunda corrente, é voltada a realidade empírica, entende que o crescimento é indispensável


para o desenvolvimento mas não é condição suficiente. Encara o crescimento económico como
uma simples variação quantitativa do produto, enquanto do desenvolvimento envolve mudanças
qualitativas no modo de vida das pessoas, das instituições e das estruturas produtivas. Pelo que o
desenvolvimento caracteriza – se pela transformação de uma economia arcaica, ineficiente, em
uma economia moderna, eficiente, juntamente com a melhoria do nível de vida da população
(DE SOUZA, Nali de Jesus; 1993).
21

Ainda o DE SOUZA, Nali de Jesus, (1993), diz que neste contexto o desenvolvimento
económico pode ser definido como existência de crescimento económico contínuo, em ritmo
superior ao crescimento demográfico, envolvendo mudanças de estruturas e melhoria de
indicadores económicos, sociais e ambientais. O desenvolvimento económico é um fenómeno de
longo prazo, implicando o fortalecimento da economia nacional, ampliação de economia de
mercado, elevação geral da produtividade e do nível de bem – estar da população, com a
preservação do meio ambiente.

1.1.8. Pobreza
A pobreza é um conceito multidimensional que não só envolve a privação material, mas também
a privação em termos de capacidades, vulnerabilidade, e influências das instituições que afetam a
vida do indivíduo. (ROLIM, Cássio et al; 2002).

Segundo PARPA 2000 – 2004, citado por ROLIM, Cássio et al, (2002), o Governo adotou uma
definição mais específica da pobreza como “ a incapacidade de indivíduo de assegurar para si
próprio, e seus dependentes, os requisitos mínimos de subsistência.
22

2. CAPÍTULO - REVISÃO DA LITERATURA

2.1.Xitique
O Xitique é a forma mais simples desta abordagem, pela qual um grupo de pessoas, social e
economicamente próximas, se juntam para realizar em conjunto operações de poupança e de
crédito, que não conseguiriam fazer de maneira isolada. A partir desta base tradicional, a
metodologia de poupança e crédito rotativo foi formalizada e difundida pela ONG CARE, nos
anos 90, na África Ocidental (Níger) e Oriental (Quénia, Uganda). (FARE; 2011).

O Xitique ou Associação de Poupança e Crédito Rotativo é uma forma de poupança obrigatória


dentro de um grupo normalmente constituído por 5 a 30 pessoas amigas ou familiares,
geralmente mulheres. É poupada uma certa importância em dinheiro com determinada
periodicidade (diária, semanal ou mensal). O montante acumulado no final de cada período é
pago de forma rotativa a cada um dos membros do grupo. (VALGY, Ineida).

O Xitique Geral é principalmente utilizado pelos vendedores de mercado em Maputo com


objetivo de facilitar o acesso aos serviços de poupança. Estas poupanças são feitas com base em
contractos mensais que estabelecem os valores diários a serem depositados. Os vendedores
utilizam a quantia fixa mensal para o pagamento das suas despesas mensais.

De acordo com LOFORTE (1996) citado por NHANE, Agostinho (2013) o xitique é usado como
instrumento de proteção social. Dai que a participação do indivíduo nas cerimónias da sua
comunidade é percebida como uma forma de xitique.

Para Filipui (2000) citado por NHANE, Agostinho (2013) o xitique seria resultado da
incapacidade dos sistemas bancários dos países em via de desenvolvimento em conceder
empréstimos. Contudo, esta posição é limitada, dado que não é só a procura de dinheiro que
move as práticas de xitique posto que nestas práticas os aspetos culturais, simbólicos e políticos
entram igualmente em jogo. Pese embora Dava (1998) partilhe da mesma ideia com Filipui, ao
considerar que o xitique surge pela necessidade de existência de um sistema de obtenção de
microcrédito que não integra o sistema de juro.

Outros autores citados por NHANE, Agostinho (2013) afirmam que xitique e um credito rotativo
que consiste num grupo de pessoas, constituído por amigos/as, colegas de trabalho ou familiares,
23

que estipulam um montante de contribuição assim como a periodicidade dos encontros para
prestação de contas, distribuição rotativa do poupado por cada uma das pessoas envolvidas no
grupo e confraternização.

2.2.Processo de Formação de Grupo de Xitique e sua Composição


CUNHA, Teresa (2011), citado por NHANE, Agostinho (2013) afirma que o xitique é realizado
geralmente dentro de grupos organizados de modo a facilitar o funcionamento e a elaboração dos
critérios a serem respeitados pelos membros do grupo. O xitique tem como objetivo base a
aquisição de bens, produtos e serviços que de outra maneira não seriam acessíveis a determinado
grupo de pessoas mediante a escassez de moeda com que vivem.

Alguns autores afirmam que a forma de pagamento não tem que ser necessariamente monetária,
sendo, no entanto, a mais comum na cidade de Maputo. Os fundos circulam entre os membros do
grupo e a sua coleta e distribuição funciona, por regra geral, tendo como base a confiança e o
compromisso, dentro da periodicidade e rotatividade previamente definida: diária, semanal,
quinzenal, mensal, trimestral, ou outra, para o pagamento da sua contribuição. Apesar de ser
previamente estabelecida, a repartição da poupança entre as pessoas pode ser alterada,
principalmente em casos especiais como doença, morte, casamento, etc., desde que haja acordo
entre os membros do grupo. Assim sendo, são usados os seguintes critérios de formação e
composição dos grupos de poupança e crédito rotativos (Xitique):

2.2.1. O primeiro critério é da periodicidade e valor estipulado


Portanto, o valor estipulado depende do voto da maioria. Neste caso, a iniciativa de formar o
grupo é tomada por alguns moradores e informam outros interessados que querem fazer parte. E
em consenso é estipulado o valor que pode ser diário, semanal ou mensal. Na componente da
periodicidade, é notório que o facto de o xitique ser diário, semanal ou mensal, também
influencia no processo de formação de diversos grupos de acordo com a preferência de cada um
e mediante o seu interesse.

De acordo com o Senhor A, o período e o valor, foram fatores importante para formarem
o seu grupo de xitique. Houve discussão entre eles porque outros defendiam um xitique
diário e valor de 100.00mts cada membro. Depois dessa discussão, entraram em acordo
e fixaram o valor de 300.00mts mas com um período alargado (mensal). Eles gostam
24

porque têm tempo de preparar esse valor, olhando para o tempo que é suficiente. É
assim que funcionam até hoje.

2.2.2. O segundo critério usado é das redes de amizade.


Este facto fez com que NUNES (1995) citado por NHANE, Agostinho (2013), afirma que o
xitique orienta a construção de redes de entre - ajuda. Daí que alguns grupos são formados entre
amigos e funcionam para poupança e obtenção de crédito bem como para visitas e organização
de eventos.

Nós criamos um pequeno grupo de xitique entre amigos a 5 anos, com objetivo de
ajudarmos – nos financeiramente. Fizemos boa ideia porque ter amigo é muito bom e
amizade verdadeira é duradoura e queremos continuar assim até um tempo
indeterminado. Eu por exemplo com este xitique consegui comprar terreno, estou na fase
de construção da minha casa. Aqui tudo é com base do compromisso, quem não
consegue tirar para os outros, é penhorado bens correspondentes ao valor devido
(Senhor B).

2.2.3. O terceiro critério é das relações de familiaridade.


E de acordo com informantes, existe diferentes categorias de família. A primeira categoria é de
família na base da filiação e aliança, em que os participantes são os pais, filhos, noras e netos,
pessoas tidas como da mesma família. Outros grupos são formados dentro da relação padrinhos e
afilhados, criando desta forma uma família de primos. Esta relação resulta de questões religiosas,
casamento e de outros eventos tais como festas de aniversário, de apresentação do noivo na
família da noiva ou pelo nascimento de uma criança em que chegado o momento da sua
apresentação na comunidade é acompanhado pelos seus padrinhos.

Também em alguns grupos existe a relação madrinha2 e afilhada3. Cada membro do grupo
escolhe dentro do grupo a sua madrinha, no dia em que a pessoa recebe o xitique, a sua madrinha
para além de ser uma conselheira no uso de dinheiro, ela prepara um presente para a sua afilhada
fora do valor do xitique. Outros grupos são formados na base de uma relação de amizade, em que
para alguns elementos constroem uma relação de familiaridade que ultrapassa a relação de
2
Pessoa escolhida, para o acompanhamento de alguém. Acompanhamento esse, que pode ser
acadêmico, religioso, etc…
3
Pessoa que tem acompanhamento da madrinha
25

amizade e procurando por meio da prática do xitique melhorar o nível de relacionamento entre
eles.

O nosso grupo é de primos. Foi difícil decidirmos mas, olhando para o nosso objetivo
acabamos formando o grupo. Isso foi da minha iniciativa e minha prima. Ela disse me
que sentia falta dos seus primos daí que poderíamos formar um grupo de xitique para
passarmos a conviver, visitar-mo e mantermos os laços de familiaridade. Olha, que
quando os nosso pais ouviram isso, gostaram e apoiaram – nos e até hoje somos
apoiados e continuamos unidos, graças a xitique. Nós aqui não fixamos valores exatos
porque a nossa ideia é continuarmos unidos, qualquer valor que o membro tem, é
importante para nós (Senhora A).

Desta forma é de concordar com CHICHAVA (1998) citado por NHANE, Agostinho (2013)
afirma que, ao considerar que a prática do xitique está assente nas relações de parentesco. Não
obstante verificar-se que as pessoas constroem suas famílias de acordo com o contexto em que
vivem. A relação de familiaridade construída dentro de um grupo de xitique que não seja
especificamente de parentesco é importante porque assegura o funcionamento desta prática, que
usa como base a confiança mútua. E a familiaridade é construída tendo em conta a relação
política, cultural e económico.

O nosso grupo é chamado Makwero4, desde que criamos em 2012,é composto só por uma
família. Graças a Deus conseguimos fazer muita coisa boa para nós e nossos familiares. É
um grupo com objetivos de aumentar e manter os laços de familiaridade e de ajudar os
membros que necessitem de valores com urgência, é uma espécie de banco. Cada membro
contribui um valor de 1,000.00mts mensais e só fazemos distribuição 50% do valor existente
no final do ano e os restantes 50% usamos para visitas que fazemos em todos finais dos anos
a duas famílias nos dias 25 e 31 de dezembro respetivamente. Já realizamos 3 casamentos
dos membros do grupo através desses fundos, e infelizmente já custeamos despesas de
funerais dos nossos familiares. Se não me falha a memória já acumulamos cerca de pouco

4
Expressão usada nas línguas bantus que significa irmão.
26

mais de 360,000.00mts. Estamos a pensar em até criarmos uma associação de crédito


(Senhor C).

2.3.Periodicidade do xitique e o seu funcionamento

2.3.1. Xitique diário


De acordo com ARGEMIR (1998) citado por NHANE, Agostinho (2013) afirma que todas
sociedades desenvolvem atividades socioeconómicas diferentes e importantes em cada contexto
socio - cultural. No entanto, observou-se que o xitique é também uma dessas atividades apesar de
estar assegurado por um sistema de funcionamento considerado informal na poupança e obtenção
de bens materiais.

Cada grupo obedece às regras do funcionamento que vão ao encontro da respetiva modalidade de
xitique. Para efetivação de xitique diário, é formado o grupo que obedece determinadas
dinâmicas. A composição dos grupos varia entre 5 e 30 elementos. Para o funcionamento de
xitique diário, os elementos do grupo, primeiro estipulam o valor que cada elemento deve tirar
por dia, podendo ser 25, 50, 100, 500 meticais etc…, dependendo da capacidade financeira dos
membros do grupo. O valor vária de grupo para grupo e de acordo com o tempo porque e é
reajustado de acordo com as necessidades. Este xitique é praticado normalmente por vendedores
dos mercados, com finalidade de alavancar os seus negócios.

Uma vez formados os grupos, escolhe-se um coordenador que tem o papel de organizar os
membros para receber e depois indica-se o momento e o local de entrega do valor ao
coordenador que deve ser dentro do mercado, e este por sua vez faz chegar na pessoa que é a vez
dela de receber. O último a receber, na ronda seguinte é o primeiro. Para o funcionamento dos
grupos de xitique, existe um regulamento elaborado e partilhado pelos membros do grupo, mas
que tal regulamento não se encontra em forma de documento escrito.

A circulação de informação é feita através do contacto e conversa entre os membros do grupo.


No que diz respeito a sequência feita a nível do grupo para atribuição do dinheiro por vezes não é
observada por causa de pedidos feitos por alguns membros que têm assuntos de emergência para
resolver.
27

Em alguns grupos o membro do grupo vai ao encontro do seu coordenador para entregar o valor
da contribuição do dia, mas em outros grupos é diferente porque é o coordenador que anda de
banca em banca para recolher o valor e depois encaminhar para a pessoa que é o seu dia de
receber. Para este caso, os membros do grupo combinaram que a pessoa que recebe o xitique
deve tirar 50 meticais e dar o coordenador.

No princípio criamos o xitique para questões muito correntes. Somos 7 membros,


contribuímos 100.00mts por dia e entregamos um membro por dia. Escolhemos este
período porque não vamos demorar receber, em uma semana todos membros recebem. E
também é uma forma de guardar dinheiro para o dia seguinte. Para nós que somos
negociantes, todos dias trabalhamos com dinheiro e estar todos dias estocar poucos
produtos não nos ajuda. O nosso coordenador, recolhe os valores nos finais dos dias e
entrega ao membro com direito nesse dia. Esse todo processo é registado num caderno
de notas para evitarmos atrapalhações (Senhora B)

No xitique diário pode-se considerar também o xitique cartão cujo valor de poupança é diário não
obstante o facto de o rendimento da poupança ser visto no final de cada mês, onde o responsável
pela coleta do valor diário beneficiar-se-á do montante de um dia do valor cobrado.

2.3.2. Xitique Semanal


DA COSTA (2007) citado por NHANE, Agostinho (2013), afirma que o xitique orienta o
processo de construção de laços de familiaridade entre indivíduos. No entanto, existem grupos
que praticam o xitique semanal. Para tal são formados os grupos obedecendo critérios
mencionados nas páginas anteriores. Neste tipo, estipula – se um valor dependendo das
condições financeira dos elementos, valor esse que é entregue ao coordenador nas sextas-feiras.
O processo de escolha do membro a receber, baseia – se na rotatividade. O membro que já
recebeu espera que chegue a sua vez, depois de concluir a entrega a todos membros. Salientar
que este sistema é usado para todos tipos de xitiques.

Faço parte de 2 grupos de xitique, 1 das vizinhas e 2 no mercado onde vendo. Mas, dou
importância ao grupo do mercado porque é o meu suporte do dia-a-dia. É lá onde sai a
maior parte do meu suporte familiar. O xitique mais usado lá é semanal. Nós estipulamos
um valor de 200.00mts semanais, que entregamos a nossa coordenadora nas sextas-
28

feiras, é nos sábados a coordenadora, faz questão de nos reunir para testemunharmos a
entrega e elegermos o membro seguinte, dependendo das aflições de cada um. Se não
existir um membro com aflição, elegemos normalmente com o regime de rotatividade.
Esse valor nos ajuda muito na reposição dos nossos produtos e mantemos as condições
básica em casa (Senhora C).

2.3.3. Xitique Mensal


Segundo NHANE, Agostinho (2013), afirma que no xitique mensal existem várias modalidades e
alguns grupos foram formados aleatoriamente e que de forma rotativa fazem visitas uma vez por
mês na residência de um dos membros do grupo. Nestes grupos, participam na festa apenas os
vendedores e em outros grupos participa o casal, isto é, duas pessoas por família. Em ambos
casos existe um valor contribuído para a refeição, chamado dinheiro da panela. Para além do
dinheiro da panela, existe outro chamado dinheiro de xitique que varia de grupo para grupo. Uns
entregam em dinheiro conforme o combinado e para outros grupos entregam em coisas tais
como: panelas, pratos, copos, chávenas, material de construção e outros artigos. Alguns grupos
são formados a nível da família. Este tipo de xitique é o mais usado pois, os membros acham
melhor porque coincide com o final do mês, onde todos membros terão recebidos.

Estou num grupo de xitique mensal, composto por 6 membros. No nosso xitique não funciona
essa coisa de visita e cozinhar, é só dinheiro. Nós todos dias 5 entregamos o valor ao nosso
coordenador e ele vai entregar ao membro com direito a receber e o membro confirma a
receção do mesmo via sms, chamada e ou mesmo no nosso grupo do whatsapp. Há casos em
que o membro com direito precisa de um bem, ele comunica – nos e levamos esse valor
compramos o tal bem necessário. Felizmente nunca tivemos reclamações nos bens
comprados. Aqui não há perdão para quem não consegue tirar. Se o membro não conseguir
tirar é feito o mesmo pelo membro que não lhe contribuiu e é posto como último (Senhor D).

2.4.Motivos da prática de Xitique


De acordo com alguns membros, tem que se analisar os motivos de acordo com o tipo de xitique
que se pratica. Quando ao xitique entre as famílias, alegam que o motivo principal são os
conflitos que os membros de mesma família normalmente têm. Salienta – se que os tempos são
outros e há uma tendência de isolamento entre as famílias devido em outros casos, a faltas de
interesse de se juntar com os familiares, a tendência de se abandonar a cultura que os nossos
29

antepassados tinhas de visitarem – se, ensinarem – se as maneiras de viver, o respeito para com
outro, etc… entretanto, o xitique entre famílias, vem tentar resgatar essa cultura de convivência
familiar.

Outros motivos da prática de xitique é a poupança. Como é sabido que para se ter uma conta
bancária de poupança, torna se muito complicado devido às exigências das instituições bancárias,
então é mais fácil poupar fazendo xitique. Nota - se mais um motivo de prática de xitique que
são os projetos que as pessoas têm ou seja, as necessidades que têm, torna muito complicado ter
um valor que necessita para alcançar o seu objetivo de uma única vez, recorre - se a xitique para
tentar, ter um valor acumulado e aproximado ao necessário, isso em um espaço de tempo curto,
sem recorrer aos empréstimos bancário e estar sujeito a juros que as vezes são elevados.

2.5.Impacto de Xitique nas Famílias


Diz LAFORTE, (2000) citado por NHANE, Agostinho (2013) que xitique funciona como um
instrumento de proteção social. Na perceção dos informantes o xitique não se limita à questão de
dinheiro inclui práticas de reciprocidade. No campo económico as práticas de xitique devem ser
vistas como relevantes, uma vez que contribuem para poupança e para ganhos monetários,
materiais de construção, diversos objetos de uso doméstico, pagamento de despesas para a
educação dos filhos e familiares, compra de alimentos e apoio financeiro na organização de
eventos tais como: casamento, baptismo e aniversário. Para vendedores o xitique contribui para
alavancar os seus negócios e melhorar os seus negócios e consequentemente as condições de
vida para suas famílias.

Segundo o Senhor E, do grupo Xitique da família, o xitique lhe ajuda muito de ponto de
vista económico porque consegue comprar alguns bens que se esperasse o salário não
poderia comprar a curto prazo. O mesmo membro, disse que já consegue dormir numa
casa própria, já bebe água gelada em casa, já conseguiu vedar o seu quintal, etc..
aliando se a esse aspeto económico, conseguiu abrir uma conta à prazo para o seu único
filho e está a terminar o pagamento do seu futuro carro. Ele gostaria de fazer uma outra
casa para arrendamento, etc..

Meu filho está a terminar a licenciatura em ensino de biologia na UP, graças a xitique.
Comecei a fazer com objetivo de formar os meus filhos, felizmente um já está a sair.
30

Agora quero lutar para formar a irmã dele embora o curso que ela quer fazer no
próximo ano é um pouco carro (Medicina na UEM), mas vou lutar para conseguir
(Senhora D).

Sou uma mãe viúva, tenho 3 filhos por cuidar. Faço parte se um grupo de xitique
composto por 8 membros, todos vizinhos. Estipulamos um valor de 2.500,00mts mensais.
Sempre cumprimos com as nossas obrigações. Nós optamos em pagar mensalmente 2
membros. No mês que recebo consigo pagar adiantado a faculdade do meu primeiro
filho. Além de pagamento da faculdade, antes de ele admitir, eu remodelei a casa que o
pai deles nos deixou, comprei mobília, etc…Este xitique me ajuda muito, muda muita
coisa na minha vida e da minha família, vou continuar a praticar (Senhora E).

No campo cultural existem aspetos tais como a busca de mecanismos de manutenção dos
valores de uma determinada sociedade, por exemplo, xitique é também a obrigação que cada
elemento da comunidade tem de participar em cerimónias seja ela de casamento, aniversário até
no caso da morte, é necessário acompanhar a família até ao cemitério porque dizem que no caso
de não ir nesses eventos, no dia que acontece em sua família as pessoas combinam para não
participarem também. Desta forma o xitique pode ser considerado uma instituição social cujo
objetivo principal é manter as pessoas ligadas, promover um espaço de socialização e troca de
experiência. Sendo desta forma percebido como um mecanismo para combater o individualismo
em contextos urbano e uma forma de receber a bênção em suas casas, uma vez que a visita da
família principalmente dos mais velhos é como receber os antepassados que se encarnam neles e
trazem para suas casas o bem-estar e sorte. E pelo facto de o xitique ser usado por vários grupos
de diferentes idades como espaço de convivência, aproximação, construção de irmandade e para
a superação de dificuldades através de apoio de um pelo outro.

Com xitique conseguimos reatar os nossos laços de familiaridade evitando inimizades


entre família. Por exemplo, eu não falava com minha prima a 8 anos mas, como o nosso
xitique todos queriam manter as nossas famílias, convivemos duro durante os primeiros
6 meses, até eu não contribuía quando chegava a parte dela. Um dia, todos fizeram de
tudo para nos encontrar, a partir daí conseguimos resolver as nossas imparidades e
31

estamos bem felizes até agora, embora não foi uma tarefa fácil. Ajudou – me muito,
conheci quase todos meus primos, meus bisavós, vou lá visita – los eles também, fazemos
monte de coisas que dantes não fazíamos, nos ligamos todos dias, em fim foi muito bom
ter aceitado ser membro desse grupo, agora vivo feliz sem raiva nem rancor de ninguém
(Senhora F)

De acordo com o Senhor F do grupo xitique do quarteirão, era difícil falar entre
vizinhos, podiam – se encontrar na rua e não se cumprimentarem, tinham medo mesmo
de se verem até quando entrava ladrão no vizinho, os outros não saíam para ajuda – lo
mas, quando o chefe de quarteirão decidiu criar um grupo para patrulhas noturna, todos
começaram a ter aproximações, amizades, trocas de ideias, etc. conseguiam se ajudar. E
a partir daí esse grupo de patrulha começou a marcar dia para se conviver e pouco a
pouco o número de participantes subiu, conviviam, contavam histórias de vida de cada
um, cada membro (cada representante da casa) trazia o prato preferido dele, cada qual
cozinhava o que sabia, mostrava a gastronomia da sua província, as preferências, etc. no
caso de falecimentos nesse quarteirão, contribuem 10.00mts cada membro
(representantes de cada família) para ajudarem a família ilutada, e até hoje vivem assim,
unidos, chamando- se de vizinho cá, vizinho lá, sinal de união no quarteirão. E
aconselha a todos bairros e quarteirões que fizessem o mesmo porque traz união,
harmonia, socialização, acima de tudo a paz no bairro ou quarteirão.
32

3. CAPÍTULO - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS


3.1.Descrição do Local de Estudo

De acordo com o Informe da Administração do Distrito, no âmbito da visita de Sua Excelência


Presidente da República de Moçambique (2012), Distrito Municipal KaMaxakeni, faz parte do
Conselho Municipal de Maputo (Cidade de Maputo). Localiza – se numa zona de confluência
dos Distritos Municipais KaMpfumo, Nhlamankuku e KaMavota e ocupa uma área de 19,9 km².
Fazem parte deste distrito os bairros de Mafalala, Urbanização, Maxaquene A, Maxaquene B,
Maxaquene C, Maxaquene D, Polana Caniço A e Polana Caniço B. Tem cerca de 430 quarteirões
nomeadamente: Mafalala com 57, Urbanização com 27, Maxaquene A com 60, Maxaquene B
com 75, Maxaquene C com 42, Maxaquene D com 37, Polana Caniço A com 77 e Polana Caniço
B com 57 quarteirões.

3.2.Apresentação dos dados de pesquisa

Gráfico 1: Distribuição percentual por género de praticantes de xitique

[VALUE]
Femenino
[VALUE] Masculino

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados obtidos no campo

O gráfico acima, mostra - nos, a distribuição percentual por género, de entrevistados que
praticam Xitique. Numa amostra de 180 famílias, destaca – se o género feminino com maior
peso a uma percentagem de 65%, que corresponde a 117 entrevistados e 35% do género
masculino, correspondente a 63 entrevistados. Concluindo – se que as mulheres é que praticam
mais o xitique neste distrito.
33

Gráfico 2: Distribuição percentual da idade dos praticantes de xitique

45,00%

40,00%

35,00%

30,00%

25,00%

20,00%

15,00%

10,00%

5,00%

0,00%
Abaixo de 20 De 20 a 30 anos De 30 a 40 anos De 40 a 50 anos Acima de 50
anos anos

Homens Mulheres

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados obtidos no campo

O xitique é muito conhecido pelos residentes do distrito de KaMaxakene e é feito na sua maioria
por mulheres com idade compreendida entre 30 a 40 anos, correspondente a 28.2% do total dos
das mulheres de amostra selecionada (117). A maioria dos homens também têm idade
compreendida entre 30 a 40 anos com uma percentagem de 38.10% correspondente a 24 homens
do total de homens de amostra selecionada (64).

Gráfico 3: Distribuição percentual do nível de rendimento dos praticantes de xitique

60,0%

50,0%

40,0%

30,0%

20,0%

10,0%

0,0%
abaixo de 4,063.00mts de 4,063.00mts a 10.000,00mts
de 10.000,00mts a 15,000.00mts acima de 15,000.00mts
34

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados obtidos no campo

O gráfico acima ilustra o nível de rendimento de entrevistados. Constatou – se que 8.3% de


amostra, aufere um rendimento baixo do básico em Moçambique, correspondente a 15
entrevistados, 17.8% aufere um salário entre 4,063.00mts a 10,000.00mts, correspondente a 32
entrevistados, 51.1% aufere um salário entre 10,000.00mts a 15,000.00mts, que corresponde a 92
entrevistados e 22.8% aufere salário acima de 15,000.00mts, correspondente a 41 entrevistados.

Gráfico 4: Distribuição Percentual do tempo a praticar xitique

45,0%
40,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%

Menos de 1 ano de 1 ano a 3 anos de 3 anos a 6 anos Mais de 6 anos

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados obtidos no campo

O gráfico acima mostra o período que os entrevistados têm a praticar xitique. Nos dados
recolhidos, 12 entrevistados praticam xitique a menos de um ano, o que corresponde a 6.7 % de
amostra selecionada, 39 correspondente a 21.7%, praticam xitique no intervalo de um a três anos.
58, praticam xitique num intervalo de três a seis anos, o que corresponde a 32.2% de amostra
estudada e por fim o destaque vai para os que praticam xitique a mais de seis anos, com cerca de
39.4% correspondente a 71 entrevistado de amostra estudada.
35

Gráfico 5: Distribuição percentual da periodicidade de xitique

[VALUE]

[VALUE] Diario
[VALUE]
Semanal
Mensal

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados obtidos no campo

O gráfico acima ilustra a distribuição percentual das diferentes modalidades de xitique praticado.
Constatou –se que 11.7% dos xitiques são feitos diariamente, sendo 21 entrevistados preferem
xitique diário, 28.9% são semanais correspondente a, preferência de 52 praticantes e o destaque
é para o xitique mensal com 59.4%. Este último tem a maior percentagem pelo facto de ser
realizado no final de cada mês, período em que as pessoas recebem as suas remunerações e
corresponde a preferência dos restantes 107 entrevistados.

Gráfico 6: Distribuição percentual do valor do xitique

50,0%
45,0%
40,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%
abaixo de 500.00mts de 500.00mts a 1,500.00mts
de 1,500.00mts a 2,500.00mts acima de 2,500.00mts

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados obtidos no campo
36

O gráfico acima ilustra o nível dos valores contribuídos no xitique. Com destaque o intervalo de
1,500.00mts a 2,500.00mts, com uma percentagem de 45.0%, seguido pelo intervalo de
500.00mts a 1,500.00mts, com 26.7%, acima de 2,500.00mts, com 21.1% e por último abaixo de
500.00mts, com uma percentagem de 7.2%, que correspondem a 81, 48, 38 e 13 entrevistados,
respetivamente.

Gráfico 7: Distribuição percentual das finalidades/ objetivos da prática de Xitique

40,0%
35,0%
30,0%
25,0%
20,0%
15,0%
10,0%
5,0%
0,0%

Negocio Despesas Basicas Material de construcao Bens domesticos Outros

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados obtidos no campo

Acima a ilustração das percentagens das finalidades de xitique. A maioria dos praticantes, tem
como objetivo ou finalidade adquirir materiais de construção, com cerca de 34.4%,
correspondente a 62 entrevistados. Em seguida 25.0%, 17.8%, 12.8% e 10% para aquisição de
bens domésticos, outros (convívio e ou fortificação dos laços, poupar, adquirir outros bens, pagar
dívidas), alavancar o negócio e para despesas básicas (compra de alimentação, despesas da
escola, etc…), que corresponde a 45, 32, 23 e 18 entrevistados, respetivamente.

A periodicidade é muitas vezes mensal e condicionada pela sua renda:

 Quanto maior for a renda, maior será o período e o valor de contribuição individual;
 Quanto menor for a renda, menor será o período e o valor de contribuição individual.

Os rendimentos nem sempre são suficiente para suprir as necessidades individuais e familiares,
no entanto, eles optam pelos créditos rotativos (xitiques) para satisfação da suas necessidades a
37

curto e médio, longo prazos. Neste processo, os membros têm enfrentado diversas dificuldades
no que diz respeito as deslocações, porque na maioria o xitique é praticado nos domingos. No
xitique com objetivos de aumentar e ou manter a familiaridade, têm se deslocados para visitas a
um ou mais familiares que não praticam e que se encontra noutros distritos e até noutras
províncias.

A maioria dos grupos tem uma confiança mútua no que diz respeito as contribuições. Essa
maioria, também cumpri com os prazos determinados. Normalmente eles fazem esse convívio no
primeiro sábado do mês. As visitas são organizadas pelos coordenadores, de acordo com o
próximo membro a receber. Há grupos que optam em dar duas pessoas por cada vez, grupos
esses que têm mais de 10 membros.

O xitique com objetivo de socialização ou unificar as famílias, são na sua maioria da iniciativa
dos pais ou mesmo avos e são por eles coordenados, não existe limite dos membros no xitique
com este objetivo, porque eles defende que todos devem estar unidos. A maioria, defende que
não podem excluir um membro familiar por falta de valor para contribuir, se chegar a sua vez de
ser visitado, todos devem ir, ele não deve se sentir isolado, afinal de contas família unida vence
quase todos constrangimentos na vida. Tem sido comum quase para todos grupos de xitique com
objetivos de harmonização familiar, existir contribuições de valores estipulados, e mais um valor
chamado valor de prato ou comida.

Segundo o Senhor E, do grupo de xitique da família X, seus filhos devem conhecer o


maior número possível dos seus familiares, para evitar problemas de casamentos entre
eles, brigas nas ruas que até culminam em mortes. Isso também ajudará – lhes a saberem
resolver problemas familiares com base em ajuda, no caso da morte dos mais
progenitores, não haverá segredo nessa família, vai se conhecer quase todos problemas
da família desde a base (o mais velhos possíveis) e tentarem resolver em conjunto.

Nós temos um grupo de xitique constituído só por mulheres e é denominado KuLaya5.


Contribuímos um valor mas, esse mesmo valor é para ser consumido, não há que dar o
membro visitado. KuLaya significa, aconselhar, ensinar, educar, etc. e esses são os
objetivos da criação desse grupo. Aconselhamos as mais novas, ensinamos – as a saber

5
Expressão em línguas bantus, que significa aconselhar.
38

tratar os seus maridos, como acarinhar os seus maridos, como manter os seus lares. E
estamos bem satisfeitas porque percebemos os efeitos desses ensinamentos e por exemplo
agora, eu já faço parte de massungukates6 e aqui há uma mútua confiança. (Senhora G)

Há xitiques também que só envolvem dinheiro. Aqui os membros só contribuem dinheiro, não há
que ter outro valor para prato. Todos devem ter compromisso e responsabilidade. Quando se
deparam com a situação de um membro com incapacidade financeira, o mesmo é colocados
como último e ou expulso (na maioria dos casos), ao contrário de xitique com objetivo de
harmonização familiar. É em poucos casos, que os membros incapacitados são mantidos e
mantidos como últimos.

Se existir membro que tenha recebido a contribuição e não consiga fazer o mesmo gesto para
com o outro que já tenha contribuído é penalizado na rodada seguinte. Se existir desistência de
um membro enquanto o mesmo já recebeu, o mesmo deve arranjar maneiras de desembolsar o
valor recebido, caso não, os membros deslocam – se atá a residência do dele, arrancam bens
correspondentes ao valor contribuído (em poucos casos).

Aqui não temos esse espirito de ponderar tudo, quem não contribui é posto como último e
nós os lesados não contribuímos para ele também. Se demonstrar sinais de desistência, o
membro é avisado para fazer o desembolso e se não cumprir, levamos seus bens como
forma de recuperarmos os nossos valores (Senhor F).

A maioria dos praticantes de xitique, apontam uma vantagem principal deste ato, o facto de não
pagar juros e outros como, o facto de poder ter o valor acumulado a curto prazo, o facto de ter
um convívio com os outros. Em detrimento disso, há desvantagens como roubos, falta de
segurança, não tem garantias. Mas, apesar dessas desvantagens recomendam aos outros a prática
de xitique porque ajuda muito tanto na poupança, aquisição de bens, material de construção,
tanto na socialização.

Os praticantes, dizem que xitique não pode ser eliminado e o governo ou entidade competente
devia criar uma espécie de lei que legitima xitique (poucos casos), as estruturas dos bairros
deviam também organizar os grupos de modo a criar uma comissão para garantir a segurança e

6
Mulheres idóneas, com experiência, que pode aconselhar, resolver problemas familiares.
39

continuidade deste ato. Mas, existem opiniões divergentes (maioria dos casos), defendendo o não
apoio pelo governo deste atos principalmente como forma de poupar, porque incentivam o
branqueamento de dinheiro, impedindo a circulação legal no mercado. Como uma ilegalidade, o
Banco Central não terá capacidades de determinar a massa monetária, as notas e moedas em
circulação, mas dizem que se for para apoiar, só pode se apoiar o xitique com objetivo de
harmonização familiar uma vez que reduz o índice de conflitos familiares.

Assim sendo, abre – se o espaço para validação da primeira hipótese da pesquisa, nesse caso a
hipótese positiva: Os grupos de poupança e crédito rotativo (Xitique) contribuem de uma forma
significativa no desenvolvimento socioeconómico das famílias.
40

4. CAPÍTULO - CONSTATAÇÕES E RECOMENDAÇÕES


4.1.Constatações

Durante esta pesquisa, constatou - se que a maioria dos praticantes de xitique tem como sua
motivo a falta de recursos para satisfação das necessidades a curto prazo, facto de a banca não
ser abrangente no sentido de conceder créditos a pessoas mesmo com uma baixa renda e sem
garantias valiosas. Os praticantes, usam xitique como forma de poupar, aproximação e boas
convivências entre famílias.

Os grupos são formados usando critérios do valor estipulado e periodicidade, as redes de


amizades e por fim a familiaridade. Os objetivos são diversos mas, o destaque vai para a compra
de materiais de construção. Verificou – se também que a camada jovem, opta mais no xitique
monetário, onde só têm a responsabilidade e compromisso de contribuir o valor estipulado.

Cada grupo tem as suas formas de gestão, embora seja informal. Estipula se o valor de acordo
com as capacidades financeiras dos membros, e aliando a esse facto, não há espaço de
complexos de superioridades porque todos decidem de uma forma unânime.

Verificou se também que o xitique de convívio familiar, vem unificar a família. Este serve como
uma casa de aconselhamentos, um espaço de adoração aos antepassados, um espaço para manter
a cultura, educar – se, acima de tudo estimular o saber ser e estar e harmonização das famílias,
diminuindo o nível de conflitos entre as famílias. Em muito dos casos, os membros têm uma
confiança mútua, o que reduz o risco de incumprimento.

Constatou – se que o xitique é um elemento que promove debates nos campos culturais,
económicos e até políticos. Debates esses que até têm influenciados muitos nas decisões
individuais assim como coletivas. Por fim o xitique contribui de uma forma significativa no
desenvolvimento socioeconómico das famílias porque conseguem melhorar as suas condições de
vida nas vertentes culturais, financeiras e até políticos através de ajuda mútua e levando as
pessoas a ultrapassarem os constrangimentos da vida em geral.
41

4.2.Recomendações
Como forma de reduzir o índice de assaltos dos valores, todos grupos deveriam criar um sistema
de pagamento via banco. O membro que for a contribuir vai levar consigo um comprovativo de
pagamento no dia marcado para o encontro para evitar que o membro com direito a receber tenha
que ficar com somas de dinheiro na sua posse, correndo o risco de ser visitado por malfeitores.

Sendo um ato ilícito, os grupos ou os membros poderiam receber o valor e deixa – los numa
conta bancária para evitar o entesouramento ou mesmo fazer xitique na conta bancária como
forma de poupar.

Os praticantes de xitique, deveriam tem a cultura de fazer poupança nos bancos criando contas
bancárias dos depósitos à prazo, que poderá - lhes render juros. Deixando o valor no banco,
contribui para facilitar o controlo da base monetária pelo Banco Central de modo a tomar
medidas macroeconómicas.
42

5. BIBLIOGRAFIA
 ADMINISTRAÇÃO DO DISTRITO MUNICIPAL KAMAXAKENI: Informe da
Administração do Distrito no âmbito da visita de Sua Excelência Presidente da
República de Moçambique, 2012.
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Financeira: Desafios para Moçambique. Instituto de Estudos Económicos e Sociais,
2014.
 Banco de Moçambique: XXXVIII Conselho Consultivo 2014
 BRANCO, Castel et al. Desafios para Moçambique, 2017.
 CABIDO, Jacinto. Gestão do Credito Bancário. Ulmeiro editor, 1999.
 CADILHE, Miguel et al. Lições de Matemática Financeira, 1973.
 CARRILHO, João & TEYSSIER, Sophie. Relatório Final: Grupos de Poupança e
Crédito em Moçambique, 10 Anos Depois: Realizações, Desafios e Perspetivas. Fundo
de Apoio à Reabilitação da Economia - Projeto de Apoio às Finanças Rurais. 2011.
 CASIMIRO, Maria et al. Empoderamento Económico da Mulher, 2010.
 CERVO,J&BERVIAN, Joseph. Métodos de Investigação.4ᵃ edição. Bulterworth
Heinemani Editora,2006.
 CERVO, Amado Luiz &BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. 5ᵃ ed. São Paulo:
PearsnPrintice Hall, 2002.
 CUNHA, Teresa. A arte de xiticar num mundo de circunstâncias não ideais. Feminismo e
descolonização das teorias económicas e contemporâneas. In: Cunha, Teresa et al (org.)
Ensaios pela democracia. Justiça dignidade e bem-viver. Porto: Afrontamento. (no
prelo), 2011.
 SALVATORE, Diminiket al. Introdução à Economia – Tradução. São Paulo: McGraw –
Hill do Brasil; 1981.
 GIL, António. Como Elaborar Projetos de Pesquisa.4ᵃ ed. São Paulo: Atlas, 2002.
 GIL, António. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social.6ᵃ ed. São Paulo: Atlas, 2008.
 GITMAN, Lawrence. Princípios de Administração Financeira. 12ᵃed. São Paulo: Person.
2010.
 LAKATOS, Eva Maria &MARCONI, Mariana de Andrade. Metodologia do Trabalho
Científico. 4ᵃed. São Paulo: Atlas, 1992.
43

 LAKATOS, Eva Maria &MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia


Científica. 5ᵃed. São Paulo: Atlas, 2003.
 LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Mariana de Andrade. Metodologia do Trabalho
Científico. 7ᵃed. São Paulo: Atlas, 2012.
 MASCARENHAS, Sidnei. Metodologia Científica. SE. São Paulo: Person, 2012.
 MATLAVA, Geraldo Armando. Redes de Entreajuda e Relações de Reciprocidade: Um
Estudo Sobre Xitique Familiar Praticado Por Famílias Residentes na Cidade de Maputo.
Tese de Licenciatura. Universidade Eduardo Mondlane. Maputo, 2012.
 MOSCA, João. Economia de Moçambique,2010.
 NHATSAVE, Noémia André. Mecanismos Informais de Proteção Social em
Moçambique Caso do Xitique. Tese de Licenciatura. Universidade Eduardo Mondlane.
Maputo, 2011.
 NHANE, Agostinho João. Dinâmicas do Xitique entre Vendedores do Mercado 25 de
Setembro no Bairro Patrice Lumumba na província de Maputo. Tese de Licenciatura.
Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, 2013.
 PARKIN, Michael. Economia.8ᵃ ed. São Paulo: Person, 2009.
 PSICO, José. Micro – Finanças: Soluções para o Combate à Pobreza.
 ROLIM, Cássio et al. A Economia Moçambicana Contemporânea: Ensaios. SE. Gabinete
dos Estudos, Ministério de Plano e Finanças, 2002.
 DOS SANTOS, José Odálio. Análise de Créditos. Editora Atlas, 2003.
 VALGY, Ineida. Microfinanças em Moçambique: Estudo do Perfil do Utilizador na
Cidade de Maputo.
44

6. APÊNDICES
Escola Superior de Contabilidade e Gestão

Departamento de Contabilidade e Finanças

Curso: Licenciatura em Gestão de Comércio com Habilitações em Contabilidade e Finanças

Questionário para as famílias que praticam Xitique

O presente guião de entrevista destina-se a recolha de dados relativos a uma pesquisa que visa
analisar o desempenho dos grupos de poupanças e crédito (Xitique) no desenvolvimento
socioeconómico das famílias cuja finalidade é a elaboração da Monografia Científica para a
obtenção do grau de licenciatura na Escola acima citada.

Idade_______ Sexo_______ Nível de formação: Elementar ______; Básico_______; Médio


_____; Superior_____________

1. Pratica o Xitique? Se sim, responda as questões abaixo.


2. Qual é o seu rendimento?
a) Abaixo de 4,063.00mts_____
b) De 4,063.00mts à 10,000.00mts_____
c) De 10,000.00mts à 15,000.00mts
d) Acima de 15,000.00mts____
3. Há quanto tempo pratica Xitique?
a) Menos de 1 ano_____
b) De 1 ano a 3 anos____
c) De 3 anos a 6 anos____
d) Acima de 6 anos_____
4. O que lhe levou (causa) a praticar Xitique?
a) Baixa renda______
b) Influências dos parentes_____
c) Outros____
5. Faz Xitique com que finalidades/objectivos?
45

a) Alavancar o negócio___
b) Suprir as despesas básicas____
c) Adquirir material de construção___
d) Adquirir bens domésticos___
e) Outros___
6. Em relação às contribuições, olhando para o prazo das mesmas, existe cumprimento e
uma confiança entre os membros?
a) Sim_____
b) Não_____. Qual será a causa de incumprimento e falta de confiança?
7. Olhando para os apectos financeiros, qual é o nível de risco de desembolso dos valores ou
bens, por parte dos membros?
a) Baixo___
b) Médio___
c) Alto___
8. Quais as medidas tomadas em caso dos membros que não conseguem contribuir a tempo
o valor ou bens determinados?
9. Olhando para os aspectos socioeconómicos, como analisa a sua vida antes e depois de
fazer Xitique
a) Verificou melhorias____. Quais?
b) Não verificou melhorias____
10. Recomendaria alguém a fazer Xitique?
a) Sim____. Porquê?
b) Não___. Porquê?

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