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Instituto Superior Politécnico de Gaza Contabilidade Financeira IV

CAPÍTULO I: APRESENTAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E


DIVULGAÇÕES PRIVATIVAS

1. Conjunto completo de demonstrações financeiras

Sabe-se por lei (Código Comercial) que as empresas devem elaborar e apresentar no final de
cada período económico, as demonstrações financeiras e passá-las para os respectivos livros
estabelecidos para o efeito, dentro dos prazos estabelecidos pelo próprio Código Comercial.
Também o normativo contabilístico em Moçambique, mais precisamente por via do quadro
conceptual e do parágrafo 4 da NCRF 1 Apresentação de demonstrações financeiras, obriga as
empresas a apresentarem, em cada data de relato, um conjunto completo de demonstrações
financeiras que inclui, de acordo com o parágrafo 7 da mesma norma, um balanço, uma
demonstração dos resultados, uma demonstração das variações no capital próprio, uma
demonstração dos fluxos de caixa e notas explicativas ao conteúdo das demonstrações
financeiras e que inclui, de entre outras, uma descrição minuciosa das políticas contabilísticas e
demais procedimentos adoptados para a preparação e respetivo relato.

Nota: O parágrafo 8 esclarece, contudo, que os relatórios de gestão e outros bem como outras
informações sobre o decurso dos negócios não contidas nas demonstrações financeiras
supracitadas não fazem parte do conjunto das demonstrações financeiras reguladas e abrangidas
pelo âmbito da NCRF 1 Apresentação de demonstrações financeiras, pelo que a sua elaboração
não visa necessariamente responder às exigências de relato aqui tratadas.

1.1 Balanço

Segundo Rodrigues, et al. (2010) o Balanço é o documento que mostra a posição financeira de
uma entidade num determinado momento. Na sua elaboração é fundamental tomar em atenção e
como base a distinção corrente/não corrente, que se encontra entre os parágrafos 37 e 44 da
NCRF 1, com base na qual o agrupamento dos activos é feito em ordem crescente de liquidez,
isto é, do menos líquido (investimentos de capital) ao mais líquido (meios líquidos de
pagamento) e o dos passivos em ordem crescente de exigibilidade, ou seja, começar pelo menos
exigível (dívidas a longo prazo) até ao mais exigível (dívidas com pagamento a prazo curto).

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1.2 Demonstração dos resultados

O Mapa de Demonstração de Resultados (MDR) é o documento que mostra o desempenho


financeiro de uma entidade durante um determinado período (Rodrigues, et al., 2010). Na sua
elaboração, que pode ser por duas maneiras (MDR por naturezas ou por funções) exige o
agrupamento dos gastos e perdas atendendo a sua natureza idêntica (tratando-se de MDR por
naturezas) ou à sua função, tendo em conta as secções de actividades existentes na entidade
(tratando-se de MDR por funções – este modelo é o grandemente praticado em Contabilidade de
Custos ou Contabilidade Analítica).

1.3 Demonstração dos fluxos de caixa

A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é o documento que mostra a variação de caixa e
seus equivalentes durante um período (Rodrigues, et al., 2010). Nela importa realçar o conceito
dos equivalentes de caixa, regulados nos parágrafos 8 e 9 da NCRF 2 Demonstração dos fluxos
de caixa, que são os títulos e os investimentos de curto prazo de grande liquidez que são
prontamente convertíveis em caixa e que estão sujeitos a um risco insignificante de alterações de
valor (e.g., Acções detidas para venda em período inferior a 12 meses; dívidas tituladas de
clientes; Obrigações adquiridas e detidas com vencimento em período inferior a 12 meses). Em
sua elaboração este demonstrativo obedece três agrupamentos: as ACTIVIDADES
OPERACIONAIS, que são compostas pelas transacções que geram entradas e saídas
provenientes muito directamente ligados à exploração do objecto da actividade; as
ACTIVIDADES DE INVESTIMENTO, compostas pelas transacções que geram entradas e
saídas ligadas aos investimentos de capital; e as ACTIVIDADES DE FINANCIAMENTO,
compostas pelas transacções ligadas à obtenção, reembolso e remuneração dos capitais da
empresa.

1.4 Demonstração das alterações no capital próprio

De acordo com Borges, et al. (2009) a Demonstração das Alterações no Capital Próprio
(DACP) é um documento demonstrativo, em formato matricial, que explica as variações
ocorridas no capital próprio durante determinado período. Rodrigues, et al. (2010), por sua vez,
afirma que este demonstrativo visa mostrar as variações ocorridas na composição e quantia do
capital próprio de uma entidade, durante um período, com evidenciação no resultado integral.

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Para tal, considera as alterações (aumentos/diminuições) ocorridas em todos os elementos do


capital próprio, incluindo o resultado líquido do período.

1.5 Notas explicativas ou notas às demonstrações financeiras

As Notas explicativas (ou notas às demonstrações financeiras), de um modo geral,


apresentam informações sobre as bases de preparação das demonstrações financeiras e as
políticas contabilísticas específicas adoptadas; divulgam informações exigidas pelas normas que
não estejam contidas nas outras demonstrações financeiras; bem como apresentam informações
complementares relevantes para a compreensão dos elementos constantes de outras
demonstrações financeiras (Borges, et al. 2009; Rodrigues, et al. 2010; em concordância com a
regulamentação contabilística – PGC-NIRF). Como se pode perceber, este demonstrativo é de
carácter qualitativo, ou seja, é um documento constituído por informações descritivas ou
qualitativas e, na opinião de Borges, et al. (2010), é o mais importante documento integrante do
conjunto completo das demonstrações financeiras exigido. De referir, também, que de acordo
com o modelo de sua elaboração é obrigatório que se mantenha a ordem de conteúdo das notas
enumeradas de 1 a 4, sendo que a partir da nota 5 o conteúdo poderá ser em função da
preferência da entidade que relata, conforme a enumeração feita nas respectivas demonstrações
financeiras e que a estas deve ser necessariamente cruzada.

A tabela que se segue apresenta o conteúdo exigido pelo normativo (para as primeiras cinco
notas) a fazer parte deste demonstrativo, sendo que outros aspectos relevantes podem ser
acrescidos e outros considerados não relevantes eliminados pela entidade que relata:

Nota Conteúdo

O nome da entidade e a localização da sua sede; actividade;


Identificação empresa-mãe e sua sede (se for o caso); a data e o órgão
responsável por autorizar as DF.

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Referir a base de preparação das DF no geral (e.g., Base de


acréscimos e continuidade das operações); afirmar a
conformidade com o PGC-NIRF; a moeda de relato e a forma
1. Bases de Preparação
como foram convertidas as operações e saldos em moeda
estrangeira; as unidades de arredondamento; bem como indicar e
comentar itens de DF não comparáveis.

2. Principais políticas Indicar as principais políticas adoptadas (e.g., critérios e modelos


contabilísticas de mensuração).

3. Principais julgamentos, Identificar e justificar os principais julgamentos e estimativas


estimativas e pressupostos (e.g., amortizações, provisões e imparidades) e pressupostos
contabilísticos assumidos na preparação das DF e sua influência nas mesmas.

Se durante o exercício algum dos dois pontos anteriores sofreu


4. Alterações de políticas
alteração ou se pretende corrigir erros de exercícios anteriores
contabilísticas, de estimativas e
indicar e justificar, bem como revelar o seu efeito nas DF actuais,
erros
de forma qualitativa e quantitativa.

5. Efeito da primeira aplicação Revelar o efeito qualitativo e quantitativo de se estar a aplicar


do PGC-NIRF pela primeira vez o PGC-NIRF.

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Exemplo: A empresa “Este é o fim, S.A” iniciou a sua actividade em 2006 com 1.000 meticais
de capital. Em 31/12/2010 a empresa possuía a seguinte situação patrimonial e de resultados
(valores em meticais):

Código da Nome da conta Saldos


conta Devedor Credor
1.1 Caixa 195 -
1.2.1 Bancos - Depósitos a Ordem 500 -
2.1.1 Compras de mercadorias 4 050 -
2.2 Mercadorias 1 150 -
3.1.2 Investimentos em Associadas (XIS, S.A.) 400 -
3.2.1 Construções 1 500 -
3.2.3 Mobiliário e Equipamento Administrativo Social 3 430 -
3.2.4 Equipamento de transporte 3 500 -
4.1.1 Clientes c/c 950 -
4.2.1 Fornecedores c/c - 3 150
4.3.1.2 Empréstimos bancários de médio e longo prazo - 2 400
4.4.3.7 IVA a pagar - 133
4.4.9 Contribuições para o INSS - 132
4.4.2.2 Remunerações a pagar aos trabalhadores - 100
5.1 Capital social - 1 000
5.5.1 Reservas legais - 225
5.9 Resultados transitados - 2 025
6.2 Gastos com o pessoal 1 100 -
6.3.2.1.1 Água 50 -
6.3.2.1.2 Electricidade 70 -
6.3.2.1.8 Artigos de oferta 100 -
6.3.2.2.2 Transportes de carga 200 -
6.3.2.2.3 Transportes de pessoal 150 -
6.3.2.2.4 Comunicações 50 -
6.3.2.3.2 Rendas e alugueres 900 -
6.3.2.3.3 Seguros 1 200 -
6.3.2.3.6 Vigilância e segurança 50 -
6.8.9.6 Multas e penalidades 20 -
6.9.1.1 Juros suportados de empréstimos bancários 150 -
7.1 Vendas - 10 200
7.5.2 Aluguer de equipamentos - 50
7.8.5 Descontos de pronto pagamento obtidos - 300
Total 19 715 19 715

Dados adicionais:
1. A existência final de mercadorias em armazém foi avaliada em 1.200 meticais.
2. A empresa está sujeita a tributação das pessoas colectivas à taxa normal.
3. Ao longo do ano 2010 a empresa reforçou a sua participação no capital da XIS, S.A.
4. Houve realização durante o ano 2010, da dívida relativa à subscrição do capital social.

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5. Durante o ano de 2010 a empresa reembolsou a totalidade do empréstimo de curto prazo


obtido e incrementou em 800 meticais o de longo prazo.
6. No mês de Abril de 2010 a empresa entregou à direcção da área fiscal 450 meticais,
como pagamento do IRPC do exercício económico de 2009.
7. Do relatório de Gestão da “Este é o fim, S.A” consta que em Abril de 2010 foram
distribuídos 250 meticais aos sócios a título de dividendos, como aplicação do resultado
do período económico de 2009.
8. Os activos tangíveis da empresa e a sua variação de 2009 para 2010 é composta pelos
seguintes elementos (valores brutos em meticais):
Diminuicoes Aumentos
2009 2010
(Vendas) (Aquisicoes)
Edificios 1,700.00 0 0 1,700.00
Equipamento de transporte 4,000.00 0 1,845.00 5,845.00
Equipamento administrativo 3,500.00 425.00 0 3,925.00

9. O balanço da empresa “Este é o fim, S.A” em 31/12/2009 era o seguinte:

RUBRICAS NOTAS 2009


ACTIVOS
Activo não corrente 7,310.00
Activos tangíveis 7,010.00
Investimentos financeiros 300.00
Activo corrente 2,955.00
Mercadorias 1,150.00
Clientes 1,200.00
Devedores (Subscritores de capital) 200.00
Caixa e depósitos bancários 405.00
Total do activo 10,265.00
CAPITAL PRÓPRIO E PASSIVOS
Capital próprio 3,500.00
Capital social 1,000.00
Reservas 225.00
Resultado líquido do período 2,275.00
Passivos 6,765.00
Passivo não corrente 1,600.00
Empréstimos obtidos 1,600.00
Passivo corrente 5,165.00
Fornecedores 3,350.00
Empréstimos obtidos 1,100.00
Estado e outros entes públicos 715.00
Total do capital próprio e dos passivos 10,265.00

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