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        A aprendizagem e o Sistema Límbico

No âmbito da psicologia, um dos primeiros estudiosos a considerar a


emoção como parte do processo de aprendizagem foi Henri Wallon. Wallon
(1994) considerou as emoções e a afetividade como parte fundamental do
desenvolvimento humano. Outros estudiosos como Vygotsky, Paulo Freire
também destacaram em suas obras a importância das emoções e afetividade
para a aprendizagem. A neurociência também tem constatado que
neurologicamente há uma relação entre emoção e a forma como aprendemos.
E esse dado nos fornecesse muitas informações importantes e muitas
possibilidades de pensar nossos atuais métodos de ensino escolar. Em uma de
suas pesquisas Damásio nos pontua.
A emoção integra os processos de raciocínio e decisão, seja isso bom
ou mau. A princípio, isso pode parecer contrário à intuição, mas há indícios em
favor dessa tese. As descobertas provêm do estudo de vários indivíduos que
eram inteiramente racionais no modo como conduziam suas vidas até o
momento em que, em consequência de uma lesão neurológica em locais
específicos do cérebro, perderam determinada classe de emoções e, em um
desdobramento paralelo importantíssimo, perderam a capacidade para tomar
decisões racionais. (DAMÁSIO, 2000)
Pesquisas como essa podem colaborar de maneira muito clara, com a
forma como entendemos a aprendizagem. Nosso organismo funciona de
maneira integrada, e por isso ainda há necessidade de aprofundar os estudos,
pois muitas áreas e suas relações ainda não foram descobertas. Mas a cada
nova descoberta, podemos entender que, o ser humano é um ser complexo e
que nenhuma dimensão ou condição humana deve ser ignorada, pois pode
contribuir no entendimento do que somos e porque somos.
A neurociência fala do cérebro afetivo-emocional, onde as emoções são
organizadas, em regiões interconectadas, dando equilíbrio ao comportamento
humano. Elas ajudam ao aprendente na concentração, no fluxo de atenção, no
registro, na lembrança e, fundamentalmente, no prazer de aprender. (CUNHA,
2010).
Nós seres humanos precisamos de motivação para que possamos nos
empenhar em algo que queremos fazer. Não é à toa que as palestras e livros
motivacionais ganharam o mundo. Isso porque, precisamos nos sentir
entusiasmados e felizes com aquilo que nos propomos a fazer, porque caso
contrário, não o faremos bem ou até não o faremos. E assim, também ocorre
com a aprendizagem. Aprendemos mais facilmente aquilo que nos gera
motivação, interesse e curiosidade. E tudo isso, está relacionado com o estado
emocional de quem aprende.  Biologicamente isso pode ser explicado, e
podemos entender esse envolvimento das emoções, não só como um evento
psicológico, mas também neurobiológico.
A memorização é facilitada quando há envolvimentos emocionais, pois,
ativará o sistema límbico (estrutura cerebral que atua nos estados emocionais)
que fará com que haja a liberação de neurotransmissores, fazendo com que os
circuitos cerebrais fiquem mais rápidos, facilitando a armazenagem de
informações e o resgate das que estão guardadas. Quando o sistema límbico
(emocional) fica excitado ou muito mais estimulado em relação a um fato ou
evento, isso induz uma maior produção de catecolamina, um neurotransmissor
excitador. O mesmo acontece com o neurotransmissor noradrenalina que
fortalecerá as memórias no cérebro. (SOARES, 2012). As emoções
influenciam tanto a fixação de novas informações como também a evocação,
pois quando revivemos algo que nos mobiliza emocionalmente, nosso cérebro
é capaz de relacionar, de forma quase que automática, outros eventos ou
situações que nos trouxeram as mesmas emoções.  “Somos tão incapazes de
impedir uma emoção quanto de impedir um espirro. ” (DAMÁSIO, 2000).
Sabe-se atualmente, que pessoas que
apresentam um transtorno de humor, como por exemplo, a depressão, tem um
rebaixamento das funções cerebrais. “Quimicamente, a depressão é causada
por um defeito nos neurotransmissores responsáveis pela produção de
hormônios como a serotonina e endorfina, que dão a sensação de conforto,
prazer e bem-estar. ” (ANDRADE et al, 2003).
Claro que aqui estamos falando de um transtorno,
mas também de emoções. Quando ficamos tristes as nossas sinapses e os
neurotransmissores agem de maneira diferentes de quando estamos alegres,
por exemplo. E no caso de uma pessoa com depressão, sua capacidade de
aprender também diminui, assim como sua motivação, sua vontade, seu
interesse sobre as coisas. Diante disso, como não considerar a emoção parte
influenciadora nesse processo de aprendizagem?
Muitas crianças quando estão com problemas
em casa, um conflito, casos de violência, separação, etc. Geralmente,
manifestam dificuldades de aprendizagem, já que ela emocionalmente não está
diante de uma situação de bem-estar, mas de conflito. Seu cérebro acaba por
rebaixar seu funcionamento, interferindo em funções como atenção,
concentração, memória e planejamento. Outro exemplo, de como as
emoções interferem sobre nossa capacidade cognitiva e de aprendizagem é:
Imagine uma pessoa que tenha muito medo de altura, e ela em um impulso de
coragem aceita fazer um passeio de teleférico, e ao entrar no teleférico o nível
de noradrenalina aumenta, a pressão sanguínea também, e a pessoa começa
a ficar em alerta com medo que o teleférico caia. Nesse momento,
encontra-se no teleférico um monitor, responsável por passar informações
sobre o lugar, a construção, os objetivos e vários outros dados, para
conhecimento das pessoas que ali se encontram. Possivelmente, devido à
emoção de medo, essa pessoa ao terminar o passeio, não se lembrará de
muita coisa que foi dita pelo monitor. Possivelmente, porque suas funções
executivas sofreram interferência de seu estado emocional.
Sua atenção e todas as outras funções de seu corpo estavam voltadas
para a sua preservação e proteção, já que seu organismo identificou o
teleférico como uma ameaça a sua vida.
Não somos capazes de nos concentrar em situações de
medo intenso. O cérebro não consegue processar todas as informações
sensoriais que chegam do ambiente simultaneamente. A atividade cerebral
será modulada quando a atenção é dirigida para um estímulo específico, nesse
caso, o sistema nervoso acaba por optar entre lutar ou fugir de uma ameaça ou
perigo, ou prestar atenção a algumas informações. “O foco que concentramos
nas nossas emoções, positivas ou negativas, interfere no cognitivo. O
desequilíbrio emocional influencia o gerenciamento dos pensamentos”.
(CUNHA, 2010) Para Damásio (2000) embora as reações
emocionais sejam moldadas em cada indivíduo de forma distinta pelo meio. Há
indícios que, as maiorias das reações emocionais passaram por minuciosos
ajustes evolutivos. E como forma de sobrevivência durante a evolução humana
as emoções funcionam como mecanismos biorreguladores com os quais
nascemos. Para aprender nosso cérebro utiliza-se de
várias funções executivas como atenção, memória, consciência, planejamento.
O hipocampo é uma estrutura particularmente, envolvida com os fenômenos de
memória, função importantíssima para a aprendizagem.  A amígdala é uma
estrutura situada dentro da região do lobo temporal que se interconecta com o
hipocampo os núcleos septais, a área pré-frontal e o tálamo. Sabe-se que a
amígdala é a estrutura responsável pela sensação de perigo, medo e
ansiedade. A memória sofre fortes interferências emocionais, e como não
podemos falar de aprendizagem sem falar em memória, uma função
diretamente ligada, já que aprender envolve também armazenar informações e
experiências, assim como evocar e recordar. 
Sarmiento et al(2007)  explica  que  fatores  emocionais  estão 
intimamente relacionados memória  de  longo  prazo  e  consequentemente, 
com  a  aprendizagem. 
O atrelamento das emoções com a fixação das memórias é tido
porque as áreas cerebrais envolvidas na memória também fazem parte do
sistema límbico, que está diretamente relacionado com nossas emoções.
Muitos autores relatam que as memórias relacionadas a fatos
marcantes tem relação com a ativação da amígdala. A amígdala faz parte do
sistema límbico e é importante para a integração dos processos das emoções
no cérebro. E ela interage com o hipocampo influenciando a consolidação das
memórias. Todos lembramos o que estávamos fazendo no dia 11 de
setembro de 2001, mas não lembramos o que estávamos fazendo no dia 10 ou
12 de setembro do referido ano. A emoção do fato ocorrido foi tão grande que,
ativou o sistema límbico, aumento na intensidade das sinapses, facilitando a
memorização.
Embora a amígdala não estabeleça conexão direta com o córtex lateral
pré-frontal, ela se comunica com o córtex cingulado anterior e o córtex orbital,
os quais estão envolvidos nos circuitos da memória, tornando possível a
justificativa de alguns autores de que a amígdala participa na modulação da
memória e na integração de informações emocionais e cognitivas,
possivelmente atribuindo-lhes carga emocional, possibilitando a transformação
de experiências subjetivas em experiências emocionais (ESPERIDIÃO-
ANTONIO et al., 2008). Segundo Esperidião-Antônio et al., o Sistema das
emoções seria composto pelo:
- Giro do Cíngulo: Relacionado a depressão, ansiedade e
agressividade, auxiliam na determinação dos conteúdos da memória. 
- Giro para-hipocampal: Armazenamento da memória.
-Hipotálamo: Estrutura relacionando áreas límbicas e encefálicas.
Importante papel sobre o comportamento e emoções.
-Tálamo: As funções mais conhecidas relacionam-se com sensibilidade,
motricidade, comportamento emocional e ativação do córtex cerebral.
- Hipocampo: Importantes funções relacionadas ao comportamento e à
memória.
- Amígdala: É ativada em situações com marcante significado emocional,
também relacionada aos aprendizados emocionais e ao armazenamento de
memórias afetivas, associação entre estímulos e recompensas.
-Septo: O septo relaciona-se à raiva, ao prazer e ao controle
neurovegetativo.
-Área pré-frontal: Estrutura relacionada a tomada de decisões,
estratégias comportamentais, controle do comportamento emocional.
-Cerebelo: Poderoso coordenador, capaz de contribuir tanto para
as habilidades motoras, quanto sensoriais e cognitivas.
Essas áreas citadas estão relacionadas ao sistema de emoções. No
entanto, sabemos que muitas áreas dessas, estão relacionadas com outras
funções cerebrais. E é nesse aspecto que é importante ressaltar, que
neurologicamente as nossas funções cerebrais estão interligadas e assim
como a memória, a emoção e aprendizagem. 

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