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ou se ele é pouco valorizado na escola ou em casa. O aluno aprende melhor
quando o conteúdo se encaixa na experiência, em seu cotidiano, enquanto
expansão de seu conhecimento natural, que foge apenas da memorização, para
ter significado em algo que ele consiga utilizar em sua experiência de vida.
Outro tema que será visto no campo das neurociências das emoções é o
entendimento do que é emoção e o que é sentimento, termos muitas vezes
confundidos. A emoção é um estado interior, em que o indivíduo experimenta a
emoção. Já o sentimento é voltado para o exterior, é o efeito da emoção interna
que se exterioriza.
As emoções são expressas das mais variadas formas, bem como possuem
uma classificação específica, que são as emoções primárias, secundárias e
mistas, as quais serão descritas detalhadamente nas aulas a seguir.
CONTEXTUALIZANDO
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Exercer essa missão é algo recheado de desafios, numa sociedade que
cada vez mais valoriza o egocentrismo, na qual as relações sociais são cada vez
mais substituídas pela tecnologia, em que pais e professores vivem num mundo
altamente estressante e desafiador, e a falta de tempo é prerrogativa comum a
quase todas as pessoas, que estão sempre alertas e aceleradas. Refletir sobre os
questionamentos acima e propor alternativas para um aprendizado efetivo
envolvendo as emoções tornam-se essenciais.
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A aprendizagem é um ato que envolve a plasticidade cerebral, definida
como a capacidade do cérebro de modificar ou modular seu funcionamento de
acordo com as experiências com o meio ambiente. Ou seja, o cérebro não é uma
estrutura rígida, mas sim moldável pelas experiências de aprendizado. Quanto
mais novo o indivíduo, em termos de idade cronológica, maior a plasticidade
cerebral; quanto mais idoso, maior a rigidez, daí a importância das experiências
de aprendizado na infância e do investimento em aprendizagem nessa fase.
Dentro dessa conceituação, pode-se dizer que dificuldades para a
aprendizagem resultam de alguma falha intrínseca ou extrínseca desse processo.
A palavra emoção vem do latim emovere, que significa mover para fora ou
migrar/transferir de um lugar para outro, assim como do latim emotus, que é o ato
de deslocar. É um modo de comunicar os mais importantes estados e
necessidades internas.
“Afeto vem do substantivo latino affectus,us, denotando um estado psíquico
ou moral (bom ou mau), afeição, disposição de alma, estado físico, sentimento,
vontade” (Houaiss, 2001).
Na antiguidade, acreditava-se que as emoções estavam voltadas aos
órgãos dos sentidos, em especial o olfato. Esse sentido era essencial para a
sobrevivência das espécies. Filósofos como Platão e Descartes propunham uma
separação entre razão e emoção, atribuindo maior importância à razão. Conforme
essa proposição, durante anos várias ciências, como a psicologia e a pedagogia,
estudaram os processos cognitivos e afetivos de forma separada.
Entre meados do século XIX e início do século XX, as relações entre corpo
e mente, razão e emoção, começaram a ser estudadas em biologia, psicologia e
psicanálise. O interesse era entre os processos cognitivos, incluindo as atividades
mentais ligadas à aquisição de conhecimento e relacionadas ao raciocínio e à
memória. Aqui, a emoção era vista como algo segmentado, um evento à parte e
independente das demais atividades neurais.
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memória), sai pelo fórnix e chega aos corpos mamilares, dirigindo-se ao núcleo
anterior do tálamo, ao giro cingulado e retorna ao hipocampo, completando o
circuito. A teoria de Papez propunha que a experiência da emoção era inicialmente
determinada pelo giro cingulado e depois por outras áreas corticais.
Paul MacLean criou a denominação de sistema límbico a partir da teoria de
Papez, aceitando a essência da teoria deste, e adicionou novas estruturas ao
sistema, que são: os córtices médio-frontal (área pré-frontal) e órbito-frontal, o giro
parahipocampal, a amígdala, o núcleo mediano do tálamo, a área septal, os
núcleos basais do prosencéfalo e formações do tronco cerebral (Duran, 2004).
Criou a teoria do cérebro trino, ou seja, o cérebro humano é dividido em três
partes: sistema límbico (responsável pelos comportamentos emocionais ou
afetivos), neocórtex (funções mentais superiores aprendidas socialmente) e
reptiliano (funções neurovegetativas, que garantem a sobrevivência do indivíduo
e da espécie). Por exemplo, de acordo com a teoria de MacLean, no amor o
neocórtex seria o amor platônico; no sistema límbico, a paixão; e, no reptiliano, o
sexo. Já o apetite, no neocórtex seria o "comer com os olhos"; no sistema límbico,
"desejo de comer certas coisas"; e, no reptiliano, a fome. O trabalho, no neocórtex,
seria o trabalho produtivo, que faz progresso, que muda a humanidade; no sistema
límbico; o trabalho seria fazer de forma lúdica; e, no reptiliano, o indivíduo não
trabalha, apenas sobrevive no sentido de espécie.
O estudo acerca do sistema límbico vem se ampliando, em especial após
a descoberta dos exames de neuroimagens. Com eles, pode-se constatar uma
maior e mais profunda interação entre a cognição, a emoção e o equilíbrio
homeostático do indivíduo. Isso ocorre graças às diversas conexões formadas
entre os circuitos nervosos através dos neurotransmissores. Estes promovem
respostas autônomas ou viscerais, bem como de ordem somática e voluntária.
De acordo com Andrade (2004):
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A partir do texto acima, é possível constatar o quanto as neurociências
puderam avançar ao entender que diversas disciplinas são complementares entre
si, bem como apresentam interligação direta ou indireta. Esse entrelaçamento
permite um conhecimento mais profundo acerca das neurociências, unindo várias
áreas de conhecimento científico.
Impulso Ação
Emoção
neural
EMOÇÃO SENTIMENTO
Orientada para o interior. Orientado para o exterior.
Indivíduo experimenta a emoção. Efeito interno da emoção vai se exteriorizar.
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enquanto a amígdala direciona a memória emocional inconsciente. Conforme o
autor, os pensamentos e sentimentos são originados por processos inconscientes,
e ambos são parecidos no nível consciente. Para ele, a emoção sofre maior
influência sobre a razão.
Conforme LeDoux (2011),
Greenberg, citado por Fuentes (2008), traz que a emoção funciona como
um sinalizador sobre o que nos afeta, bem como estabelece a meta para alcançá-
la. A cognição é o que dá sentido a nossa experiência. O papel da razão é auxiliar
a imaginar a melhor maneira de alcançar a meta.
Outro estudioso na área, Howard Gardner, refere que, através de diferentes
funções intelectuais, o ser humano desenvolve inteligências múltiplas. Conforme
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Gardner, a inteligência não é apenas aquela que é ligada à área acadêmica, mas
sim é expressa de variadas formas e competências.
As emoções não são expressas de uma única maneira. Elas podem ser
classificadas em: emoções primárias, emoções secundárias e emoções mistas.
As emoções primárias servem principalmente para adaptar o indivíduo ao
meio, no sentido evolutivo e cultural. Estão ligadas a estados fisiológicos
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específicos, relacionados com disposições inatas (ligados a estímulos e
respostas). Quem realiza o controle destas alterações é o sistema límbico.
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FINALIZANDO
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ainda tem muito a ser explorado, e num futuro breve provavelmente serão
descobertas ainda mais conexões, relações, tornando essa ciência cada vez mais
rica, intensa e fascinante. Ou seja, as descobertas e a construção de novos
conceitos são um processo que não para nunca, pois o ser humano também está
em movimento, em um processo inacabável de
construção/desconstrução/reconstrução, seja de conceitos a respeito do mundo
ou de conceitos acerca de si mesmo.
No contexto de ensino e aprendizagem, entender este modelo é primordial
para o aprendizado efetivo. Estudar e compreender as emoções não são mais
apenas foco de categorias profissionais específicas, como a psicologia, psiquiatria
ou neurologia, mas também de todos que trabalham com o ser humano, como
profissionais que lidam com a educação, com a transmissão do conhecimento,
visto que as competências emocionais trabalham em conjunto com as
competências cognitivas. O desafio do educador é conhecer tais competências,
acessá-las e, assim, promover o aprendizado, num processo constante e que não
termina nunca.
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REFERÊNCIAS
CYPEL, S. O estudo das funções corticais na criança. In: DIAMENT, A.; CYPEL,
S. Neurologia infantile. São Paulo: Atheneu, 1996.
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DANIELS, H. (org.). Vygotsky em foco: pressupostos e desdobramentos.
Campinas: Papirus, 1995.
TOMAZ, C.; GIUGLIANO, L. G. A razão das emoções: um ensaio sobre "O erro
de Descartes". Estudos de Psicologia, Natal, v. 2, n. 2, p. 407-411, 1997.
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