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MANEJOS E DESAFIOS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Riéger Ribeiro da Silva,


Psicólogo – CRP 07/33232,
Especialista em Neuropsicologia,
MBA em Gestão Pública em Saúde.
 Como surgem nossos comportamentos? O que faz nos
comportarmos como nos comportamos?
 Teorias comportamentais contemporâneas acreditam
que todo comportamento é aprendido sem desconsiderar
aspectos genéticos (temperamento), inclusive os
comportamentos inadequados.

 Entende-se o homem como um ser biopsicossocial.

 Porém, no início do séc. passado (XX), ocorreram


experimentos que desconsideravam aspectos biológicos,
outros que levaram em conta somente questões
ambientais. Esses experimentos apesar de serem até
mesmo “antiéticos” hoje, contribuíram para o avanço dos
tratamentos/manejos que hoje devem/levam em
consideração a humanização, olhar o sujeito como um
todo, e não somente a doenças ou transtornos.
Vídeo 1

Vídeo 2
 O Psicólogo Watson desconsiderava pensamentos
e emoções, entendendo o comportamento como
puramente reflexo. Desconsiderou pensamentos e
emoções, pois acreditava que os mesmos não
eram capazes de serem observados.

 Posteriormente o Psicólogo Frederick Skinner


surgiu com a teoria do comportamento operante
que diferentemente de Watson considera
pensamentos e emoções, mas os entende também
como sendo comportamentos.

 Qual a diferença do comportamento reflexo e


operante?
Vídeo 3
 Levando em consideração outro experimento
antecessor de Watson, entende-se comportamento
reflexo como um comportamento inato, como o
salivar de um cão na presença de comida.

 O comportamento Operante de Skinner baseia-se


no sistema de recompensas, ou seja,
motivadores/reforçadores. Vejamos todos nós que
trabalhamos, que temos que acordar cedo, e ir
para um determinado local, o dinheiro no final do
mês que proverá algo é um dos motivadores para
continuarmos trabalhando em um determinado
local e quanto mais motivadores/reforçadores
forem utilizados mais engajados ficaremos, assim
é com as crianças/alunos.
Vídeo 4
 Mas o que é reforço e punição?

 Pensamos no reforço como o aumento na


frequência de um determinado comportamento.
Esse reforço pode ser positivo (+) ou negativo (-).

 O positivo trata-se de adicionar um estímulo


agradável, e o negativo retirar um estímulo
aversivo do ambiente.

 As punições igualmente podem ser positivas ou


negativas, a primeira seria adicionar um
“castigo”, e a negativa seria retirar um estímulo
agradável do ambiente.
 Imagem retirada do Google
 Skinner acreditava que sobressaia em sala de
aula eram as punições, ao invés do reforço
positivo, como elogios, motivadores por cada
passo que os alunos progridem. As crianças não
aprendem simplesmente porque alguma coisa é
mostrada, mas sim pelas consequências
reforçadoras.

 Usar punições em demasia poderá acarretar em


um efeito colateral chamado contracontrole.
 Mas como o cérebro aprende?
 Devemos levar em consideração a fase que criança se
encontra.
 Segundo teorias de desenvolvimento humano, a
primeira infância, corresponde do nascimento aos 3
anos, e nela se espera o desenvolvimento da
linguagem, e o uso de símbolos. A capacidade de
resolver problemas começa a se desenvolver por volta
do segundo ano de vida. Vínculos afetivos são
formados com pais e outras pessoas. E aumenta
interesse por outras crianças.
 Na segunda infância que corresponde dos 3 aos 6
anos, o apetite pode diminuir, sendo comum
distúrbios do sono. Surge a preferência por uma das
mãos, aprimoram-se as habilidades motoras finas e
gerais e aumenta a força física. O pensamento é um
tanto egocêntrico, e a imaturidade cognitiva resulta
em algumas idéias ilógicas sobre o mundo, aprimora-
se a memória e a linguagem, altruísmo, agressão e
temor são comuns. A família ainda é o foco da vida
social, espelho.
 É a partir da terceira infância dos 6 aos 11 anos
que ocorre a diminuição do egocentrismo, as
crianças começam a pensar com lógica, porém
ainda concretamente, e os ganhos cognitivos
permitem a criança beneficiar-se de instruções
formais na escola, embora algumas crianças
demonstrem ainda necessidades educacionais e
talentos especiais. Nessa fase o autoconceito
torna-se mais complexo, afetando a autoestima, e
sendo próximo a adolescência, acomete-se um
deslocamento gradual no controle dos pais, para a
criança os colegas assumem importância
fundamental.
 Tendo em vista que a infância é fase
caracterizada pela exploração do ambiente e
descoberta dos princípios que regem o mundo, ao
invés da punição, é sempre importante oferecer
escolhas. O brincar é entendido como um ensaio
para vida adulta e através do lúdico, através de
figuras de interesse do aluno/paciente, que pode
ser facilitado o amadurecimento de significados
fazendo associações, aproveitando-se que a
imaginação ainda está em alta.
 Estudos acerca da neuroplasticidade indicam que
o cérebro se modifica diariamente de acordo com
cada memória armazenada, efetuando uma
remodelação dos dendritos, na formação de novas
sinapses e a proliferação de axônios. Dentre estes
estudos, encontram-se pesquisas acerca da
neurogenese, que é o processo de formação de
novos neurônios. Destaca-se duas estruturas
cerebrais que atuam na interpretação de fatos
vivenciais e na determinação das respostas
adequadas, o hipocampo que tem a função de
converter a memória de curto prazo a longo
prazo, base da memória de eventos e contextos,
que faz uma interação com a amígdala,
fundamental no registro e leitura dos padrões
perceptuais da memória emocional.
Vídeo 5
 Associações favorecem para criação de teias neurais. Sendo
assim, o melhor caminho para modelagem de
comportamento, para aprendizagem é o uso de reforçadores
e associações que favoreçam a flexibilidade cognitiva.
 Uma das características do TEA é a rigidez cognitiva, e
uma das formas de lidar com ela é através de aproximações
graduais, dessensibilização sistemática. Cada tentativa do
autista de tentar permanecer na sua “zona de conforto” é
para ter menos estresse, por isso, tendem a manter aquilo
que já estão acostumados, formas de brincar, lugares e
etc...por isso, através da aproximação gradual é que se pode
ir introduzindo novas interações. No momento do estresse
existe diminuição do fluxo sanguineo para pele e vísceras,
aumentando para músculos e cérebro, desta forma, ocorre o
preparo para a luta ou fuga do organismo, como no TEA as
coisas tendem a serem mais intensas, a pessoa com TEA
fará de tudo para chegar novamente a um estado de
homeostase, ou seja, voltar a situações que o deixam
confortável, tentativas por meio de imposição apenas
gerarão mais estresse levando o corpo a uma fase de
exaustão.
 Ambientes mais salutíferos, facilitam para que
organismos possam lidar melhor com estresse, o afeto
como visto no experimento de Harlow se mostra
fundamental para que se atinja com maior facilidade
o estado de homeostase corporal, o acolhimento
promove encorajamento, segurança para enfrentar
temores. Ainda no TEA mesmo nas formas em que a
pessoa é mais autônoma existe prejuízos na esfera
social, ou seja, percepção de pensamentos,
sentimentos e experiências dos outros; habilidades de
comunicação interpessoal; habilidades de amizade;
julgamento social; entre outros. Por isso, é importante
fomentar um ambiente de respeito entre os alunos,
tendo em vista que no TEA a pessoa é mais concreta e
alguma brincadeira ele poderá interpretar como
ofensiva, mesmo que para maioria das pessoas seja
claro que aquilo não foi ofensivo.
 Em todas as atividades, vale ressaltar uma
diferença básica entre TEA e TDAH, enquanto o
primeiro tende a fixar-se em detalhes, são
evidenciadas alterações na coerência central ou
no processamento gestaltico das informações,
privilegiando por partes, em detrimento do
processamento global, ou seja, o todo.
 No TDAH a hiperatividade corrobora para que os
detalhes passem despercebidos.
 Contudo, em ambos, favorece-se o trabalho passo-
à-passo usando de reforçadores como um elogio a
cada etapa, evitando o excesso de estímulos, as
atividades devem favorecer a previsibilidade.
 E os comportamentos opositores como
lidar?
 Igualmente evitar excesso de estímulos, falar em
um tom firme e calmo, formar e manter
combinados. Evitar discursos longos, tente ser o
mais objetivo e claro. Atentar-se para localização
em que o aluno senta-se na sala, tente colocá-lo
perto de colegas mais calmos para evitar conflitos
constantes. Busque sempre lembrar dos
antecedentes, os comportamentos e as
consequências que podem estar reforçando
comportamentos inadequados. Ignore como puder
os comportamentos inadequados, e reforce todos
os comportamentos que se espera, assim o aluno
com o tempo perceberá que terá melhores
benefícios cumprindo combinados.
 Por fim, a literatura científica aponta benefícios
em jogos com regras de atenção compartilhada
para manter e desenvolver habilidades sociais,
tolerância a frustração. Busque por jogos que
favoreçam a relação EU-TU, que favoreçam uma
rodada para cada. Dominar as regras de um jogo
significa dominar o próprio comportamento.
 Referências:

 AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et


al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico
de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
 MOREIRA, Márcio Borges; DE MEDEIROS,
Carlos Augusto. Princípios básicos de análise
do comportamento. Artmed, 2008.
 PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin.
Desenvolvimento Humano (12ª edição). São
Paulo: Artmed, 2013.
 De acordo com a Lei Federal nº 9.394, art. 58 (Brasil,
1996), a escola deve oferecer serviço especializado
conforme a demanda da criança ou adolescente. O
atendimento pode ser um tutor com formação
adequada e/ou Atendimento Educacional
Especializado (AEE). A Resolução da Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de Educação
nº 4 (Brasil, 2009) diz que o AEE é garantido às
pessoas com déficit intelectual e não deve ser
compreendido como reforço escolar, mas como uma
atividade complementar ou suplementar à formação
do aluno, visando eliminar barreiras no seu processo
de aprendizagem. Para requerer os direitos, a família
precisa ir até a Secretaria de Educação do município
com o relatório em mãos. Além disso, existem as leis
federais, estaduais e municipais que garantem
transporte público gratuito a essas pessoas, descontos
em atividades culturais, entre outros benefícios.
Referência: MALLOY-DINIZ, Leandro F. et al. Neuropsicologia:
aplicações clínicas. Artmed Editora, 2015.

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