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Atenção

Atenção: Introdução e conceitos

A atenção é a capacidade de focalizar determinado aspecto dos


sinais de entrada sensoriais, ou, ainda, é a capacidade de interagir
efetivamente com o meio que o cerca, processando e selecionando a
informação que chega, respondendo a cada estímulo e sustentando
respostas específicas e eficientes por minutos ou horas. É devido a
ele que podemos nos concentrar em um objeto entre muitos outros
do campo visual, e, o processamento, se dará preferencialmente às
informações que estamos concentrados. Portanto, a atenção é uma
habilidade cognitiva importante e uma função crucial que permite ao
indivíduo selecionar qual estímulo será analisado a fim de guiar o
comportamento.

Para a ocorrência da atenção são necessários dois aspectos


principais: (1) a criação de um estado geral de sensibilização – o
alerta, e (2) a focalização desse estado de sensibilização sobre os
processos mentais. Outra questão importante diz respeito ao
funcionamento da atenção. Inicialmente se baseia em mecanismos
neurológicos inatos e involuntários. E, gradualmente ao longo da
evolução, vai sendo submetida a processos de controle voluntário.
Outrossim, os fatores fisiológicos e motivacionais são importantes
para a ocorrência da atenção. O primeiro por entender que o
indivíduo necessita de condições neurológicas e situação contextual,
e, o segundo, pois o interesse ao estímulo é necessário para um foco
atencional.
 

Classificação da Atenção

Adquirir conhecimento, ouvir um colega ou maratonar uma série


requer a utilização dos mecanismos da atenção. Contudo, há de se
ressaltar que uma pessoa atenta não é aquela que permanece
focada em uma única atividade. Podemos assistir a uma novela e ter
atenção ao choro do bebê que está no quarto ao lado. Com isso, é
possível dizer que existem várias classificações e tipos de atenção.  

Assim, sugere-se que a atenção seja direcionada de duas maneiras.


A atenção exógena ou atenção de baixo para cima, quando o
estímulo atrai nossa atenção sem qualquer consideração cognitiva.
Um processo como esse possivelmente seja usado por muitos
animais para detectar e fugir rapidamente de predadores, garantindo
sua sobrevivência. Já no caso da atenção endógena, também
chamada atenção de cima para baixo, a atenção é direcionada pelo
encéfalo de modo deliberado para algum objeto ou lugar, o que
funciona como um objetivo comportamental.

Outra forma de enxergar a atenção é de maneira explícita ou


implícita. Na primeira situação, ela tende a ser automática e o foco da
atenção coincide com o campo visual, ou seja, aos movimentos
oculares. Desta maneira, sabemos exatamente o que está
requisitando a atenção, e a seleção dos objetos ou pessoas focadas
dependerá do seu posicionamento no centro da fóvea. Para a
atenção implícita, busca-se algo que sabe o que é, mas não está
com o objeto de desejo focado. Por isso tem-se que o foco pode não
coincidir com o olhar. Assim, os objetos percebidos não serão
selecionados apenas pelo local onde tendem a aparecer, mas
também por outros parâmetros, como características inerentes a
este. Por tal fato, a atenção implícita tende a ser uma operação
mental voluntária.

Ainda, segundo a Psicologia, existe uma divisão operacional: a


atenção seletiva, alternada, sustentada e concentrada. Estas são as
mais utilizadas nos estudos científicos contemporâneos, e trataremos
com mais detalhes nas seções a seguir.

Atenção Seletiva e Atenção Alternada

A atenção seletiva é caracterizada como a capacidade do indivíduo


responder predominantemente os estímulos que lhe são significativos
em detrimento de outros não tão eficientes. É o que popularmente
chamamos de atenção propriamente dita. Como exemplo, tem-se o
caso de estarmos conversando com um colega na rua. Existe o
barulho dos carros e das pessoas, e, mesmo assim, você atenua as
distrações ao redor para que o cérebro fique concentrado na
conversa.

Por sua vez, a atenção alternada é a capacidade em alterar o foco


atencional, ou seja, desengajar o foco de um estímulo e engajar em
outro a fim de manter um comportamento fluido. Ainda em
confluência com este último tipo de atenção, podemos observar a
atenção dividida, onde o indivíduo tem a propriedade de engajar em
mais de uma tarefa ao mesmo tempo, deslocando recursos de
atenção para distribuí-los prudentemente, conforme necessário. É o
caso de conversar enquanto executa outra tarefa.

Atenção Sustentada e Atenção Concentrada

A atenção sustentada é a capacidade do indivíduo de manter o foco


atencional em determinado estímulo ou sequência de estímulos
durante um período de tempo para o desempenho de uma tarefa,
com o mesmo padrão de consistência. Ou seja, é utilizado durante
uma atividade contínua e repetitiva.

A atenção concentrada é caracterizada pela concentração do


encéfalo em uma atividade, excluindo os estímulos ao redor. Essa
atenção é usada quando focamos a atenção em um único objeto de
trabalho. Um exemplo pode ser observado quando você assiste a
uma aula e se foca totalmente no professor para entender a matéria.

Relação entre Atenção e Memória

A atenção é uma função cognitiva complexa e diversos


comportamentos resultam de um nível adequado desta para serem
bem sucedidos. A atenção também é fundamental para os processos
mnemônicos, uma vez que atua como um de seus moduladores.
Assim, a atenção direciona qual informação é mais relevante dentre
as diversas entradas sensoriais que ocorrem ao mesmo tempo do
estímulo. 

   Nesse contexto, a informação mais relevante será armazenada nos


sistemas de memória. E, poderá ser acionada em outro momento de
necessidade, orientando e otimizando a tomada de decisão
inteligente, mantendo apenas as informações consideradas valiosas,
ou seja, aquelas adquiridas durante um momento de atenção.

Tarefas de atenção associadas à aprendizagem podem ser


realizadas para verificar a relação entre a atenção e memória. Assim,
a utilização das técnicas de Eletroencefalograma (EEG),
Espectroscopia funcional (NIRS), ou Eletrofisiologia, podem ser
utilizadas para a medir atividade cerebral dos córtices pré-frontal,
parietal, temporal ou hipocampo, áreas relacionadas com a atenção e
consolidação da memória.

Problemas de Atenção

Diversos fatores contribuem em problemas relacionados à atenção,


tais como (1) distúrbios funcionais ou orgânicos (lesões de áreas
cerebrais da atenção, da formação reticular às áreas cerebrais
terciárias de processamento); (2) ansiedade, pois a baixa distração
leva a uma diminuição da atenção; (3) depressão, a qual leva ao
desinteresse, baixa de atenção e vigilância; (4) cansaço; (5)
sonolência; (6) uso de substâncias psicoativas; e o (7) álcool.
Ademais, a exposição excessiva à informação impede a manutenção
da atenção, devido à velocidade e à multiplicidade com que as
informações invadem as atividades desenvolvidas durante o dia.

Na escola, registra-se crescentemente o diagnóstico de problemas


de atenção, o que leva a problemas de aprendizagem e de
desempenho escolar. O Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH) é um dos principais vilões e que acomete de 3
a 6 % das crianças em idade escolar, apresentando sintomas de
hiperatividade, impulsividade e desatenção. De uma maneira geral,
as dificuldades nos mecanismos de atenção interferem na aquisição
ou aprendizado das informações, na compreensão de textos,
resolução de problemas, na interação entre colegas e entre aluno e
professor. Tudo isso atinge a autoconfiança e a autoestima do jovem,
levando a prejuízos na vida pessoal, na escola e, futuramente, no
trabalho, se não for tratado.

Quando relacionamos os problemas à atenção seletiva, é possível


verificar dificuldades em acompanhar uma conversa longa, não
conseguir finalizar atividades, cansaço mental com pouco tempo de
atividade e dificuldade em acompanhar um programa de TV. Quando
o problema relaciona-se à atenção alternada, as pessoas
apresentam inabilidade para realizar tarefas, dispersam-se com
estímulos ambientais e tem dificuldades em preparar uma refeição
com pessoas conversando ao lado. No caso da atenção dividida, o
indivíduo tem dificuldade em mudar de tarefa ou precisa de apoio
extra para iniciar ou realizar uma nova tarefa, além de ter dificuldade
em dirigir escutando rádio.
Portanto, para minimizar os problemas que a falta de atenção nos
causa, é importante ter em mente alguns hábitos: o primeiro deles é
uma boa noite de sono, visto que a privação pode levar a falhas em
seus mecanismos. Além disso, uma vida saudável – prática de
exercícios e alimentação – alivia o estresse, melhora o humor, e por
conseguinte favorece a atenção. Estratégias comportamentais e
técnicas de concentração e relaxamento são igualmente importantes
para permitir o foco atencional desejado.

Atividade Extra

Você possui alguém na família ou colegas que tenham algum


transtorno relacionado à atenção? Se a resposta for sim, procure
saber as seguintes questões:

 Se é criança, adolescente ou adulto;

 Se durante a idade escolar sofreu ou sofre algum prejuízo em


aprender conteúdos;

 Como a atenção se apresenta em atividades no cotidiano;


 Se além da falta de atenção, existem outros comportamentos
associados que prejudicam o seu dia a dia.

Referência Bibliográfica

KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M.; SIEGELBAUM,


S. A.; HUDSPETH, A. J. Princípios de Neurociências. 5. Ed. Porto
Alegre: AMGH, 2014.

LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios: conceitos fundamentais de


neurociência. 2. Ed., São Paulo: Atheneu, 2010.

BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M.A. Neurociências:


desvendando o sistema nervoso. 4. Ed., Porto Alegre: Artmed, 2017.

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