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NEUROPSICOLOGIA DA ATENÇÃO: DA AVALIAÇÃO À ESTIMULAÇÃO


NEUROPSYCHOLOGY OF ATTENTION: FROM EVALUATION TO STIMULATION
NEUROPSICOLOGÍA DE LA ATENCIÓN: DE LA EVALUACIÓN A LA
ESTIMULACIÓN
Jéssica da Silva Barbosa95
Mariana Lannes Jardim96
Mariana Fernandes Ramos dos Santos 97

RESUMO: A atenção é uma função crucial que permite a interação eficaz do indivíduo
com o seu ambiente, além de subsidiar a organização dos processos mentais. Este
trabalho faz uma conceituação sobre atenção, os seus diferentes tipos,
desenvolvimentos e algumas de suas principais patologias de acordo com a
neuropsicologia. Com base em pesquisas bibliográficas realizadas foi feita a sugestão
de jogos para estimular a cognição e testes para avaliar a atenção.
Palavras- chave: Atenção. Neuropsicologia. Avaliação. Estimulação
ABSTRACT: Attention is a crucial function that allows the effective interaction of the
individual with his/her environment, besides subsidizing the organization of mental
processes. This work conceptualizes attention, its different types, developments and
some of its main pathologies according to neuropsychology. Based on bibliographic
researches carried out, games were suggested to stimulate cognition and tests to
evaluate attention.
Keywords: Attention. Neuropsychology. Evaluation. Stimulation.
RESUMEN: La atención es una función crucial que permite la interacción efectiva del
individuo con su entorno, además de subvencionar la organización de los procesos
mentales. Este trabajo conceptualiza la atención, sus diferentes tipos, desarrollos y
algunas de sus principales patologías según la neuropsicología. Sobre la base de las
investigaciones bibliográficas realizadas, se sugirieron juegos para estimular la
cognición y pruebas para evaluar la atención.
Palabras clave: Atención. Neuropsicología. Evaluación. Estimulación
INTRODUÇÃO
Todos nós já escutamos a frase, você está prestando atenção? Este elemento
faz parte do nosso dia a dia, sendo ela uma possibilidade de executarmos agilmente
algumas funções ou não. Está ligada também a inteligência e a capacidade de se
concentrar em algo, ou seja, ela favorece a organização de informações disponíveis
a nossa volta. Este conceito é estudado por diversas áreas, a compreensão destes
processos perceptivos nos favorece informações sobre a capacidade dos indivíduos
selecionar algumas informações. O ato de prestar atenção não é formulado sempre

95
Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário São José. Contato: Jessjs1.js@gmail.com.br.
96
Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário São José. Contato: lannesjardimm@gmail.com.
97
Mestra em Psicologia. Docente no Centro Universitário São José. Contato:
marineuropsi@hotmail.com.
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do mesmo jeito, pois não conseguimos nos atentar literalmente em todos os eventos
e objetos.
É possível perceber que a atenção tem vantagens e desvantagens, o
direcionamento da mesma para alguns aspectos ou ignorar outros é o que torna
possível um sujeito ler, dirigir sem bater o carro e jogar um jogo, sem esse filtro seria
muito difícil lidar com tantas informações em um ambiente em constante mudança,
como é a grande parte dos ambientes em contextos urbanos.
Na psicologia existe um termo chamado de cegueira atencional, ela é um
fenômeno psicológico que ocorre quando a atenção fica excessivamente focada em
algo que não percebe outras coisas no ambiente, por mais explicito que elas estejam.
É por conta de fenômenos como esses, que falar ao telefone e escrever mensagens
de texto enquanto alguém dirige é tão perigoso.
Ademais, é necessário deixar claro a importância de selecionar alguns
estímulos, pois a variedade de possibilidades presentes no ambiente ao redor do
homem, também os liga ao interesse em que cada estimulo se apresenta. Este
processo cognitivo, necessita de uma resposta, sendo ela uma habilidade muito
importante para a construção da atenção. Para melhor compreensão do tema,
lançamos mãos de correntes teóricas, entre elas, as neurociências.
A neurociência é um campo interdisciplinar, onde a neuropsicologia abriga
como conteúdo o estudo de processos cognitivos como: atenção, memória, linguagem
e percepção. O papel complexo da neuropsicologia é investigar e avaliar os processos
cognitivos ditos acima, unindo a avaliação cognitiva com a avaliação da personalidade
dos indivíduos bem como as funções em geral. Sendo assim, o presente artigo
objetiva, apresentar o conceito de atenção e a relação da mesma com a
neuropsicologia, apontar formas de avaliar e sugerir algumas atividades para que esta
função seja estimulada.
Para tal, baseou-se em banco de dados como: Scielo, Google Acadêmico e
Periódicos Capes. A pesquisa bibliográfica levantou dados sobre os conceitos de:
atenção, processo cognitivo e neuropsicologia, tratando-se de um estudo descritivo
para ampliação dos conhecimentos aprendidos em sala de aula. Apresentou-se
também alguns dos testes, escalas e questionários direcionados para atenção de
acordo com o Sistema de Avaliação Psicológica (SATEPSI).
ATENÇÃO
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O conceito de neuropsicologia foi utilizado pela primeira vez por Sir William
Osler, em 1913, em uma conferência nos Estados Unidos. Também surgiu no subtítulo
da obra de 1949 de Donald Hebb (The OrganizationofBehavior: A
NeuropsychologicalTheory). Contudo, essa ciência começa a conceber-se enquanto
uma disciplina científica a partir da chamada abordagem clínica clássica (final dos
anos de 1800), caracterizada pela observação e realização de estudos clínicos de
pacientes com lesões neurológicas e alterações cognitivas (KRISTENSE et. al. 2001).
Tais alterações foram concebidas como fontes de informação a respeito do
funcionamento do cérebro e da implicação em que o cérebro tem com o desempenho
do sujeito, entre as funções pesquisadas e observadas temos a Atenção.
A atenção é um dos processos cognitivos estudado pela neuropsicologia,
sendo conceituada como a capacidade do indivíduo responder majoritariamente os
estímulos que lhe são significativos em detrimento de outros. O sistema nervoso,
nesse processo, é capaz de manter um contato seletivo com as informações que
chegam através dos órgãos sensoriais, dirigindo-se para aqueles que são
comportamentalmente relevantes e garantindo uma interação eficaz como meio
(BRANDÃO, 1995). Ao definir atenção Luria (1991) afirma que a todo momento o
homem recebe inúmeros estímulos sensoriais, dentre os quais é preciso selecionar
os mais e ignorar os demais. Com a ausência dessa seleção de estímulos perceptivos,
a quantidade de informações recebida seria tão grande e desorganizada que
impossibilitaria a realização de qualquer atividade.
Para Samulski (2002) é o processo que direciona nossa vigília quando as
informações são captadas pelos nossos sentidos, ela também pode ser vista como
um mecanismo que consiste na estimulação da percepção seletiva e dirigida. Dentre
seus diversos tipos destaca-se a concentração que pode ser definida como a
focalização da atenção em um determinado objeto ou em uma ação.
Os sinais de alerta que o nosso corpo recebe para exercer atividades
musculares, refletir, sentir e responder a vários estímulos ao mesmo tempo também
compõem a nossa atenção. Mesulam (1999) separa em três estruturas que estão
relacionadas à atenção seletiva: o córtex parietal superior, relacionado com a
representação espacial exterior; o córtex pré-motor lateral, responsável pela
orientação e movimentos de exploração; e o giro do cíngulo anterior, associado com
a monitoração da resposta.
261

A atenção é um fenômeno complexo, não unitário, cujos limites se


interseccionam com a percepção, memória, motivação, afeto e nível de consciência
dentre outros. A realização desta função parece depender por um lado das redes
neurais do sistema reticular ativador ascendente e, por outro, de diferentes elementos
do neuroeixo, em especial aqueles neocorticais anteriores (MESULAM, 1985). Os
estudos realizados pela Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA) apontam
uma enorme prevalência de problemas de atenção associados a diferentes condições
clínicas, dentre elas se destacam: transtorno do déficit de atenção, diversos quadros
degenerativos, sequelas pós-TCE (traumatismos cranioencefálicos), esquizofrenia e
epilepsias (DUCHESNE; MATTOS, 1997). Destaca-se então a necessidade da
presença dos testes psicológicos, escalas e questionários na neuropsicologia para a
promoção de uma avaliação mais precisa.
De acordo com a classificação atual, há quatro tipos de atenção, conforme
descritas no quadro abaixo (LEZAK, 1995)
Tabela 1: Tipos de atenção
Seletiva Sustentada Dividida Alternada
Capacidade do Capacidade de Envolve a Refere-se a
sujeito de manter o foco da habilidade de mudanças no foco
selecionar um atenção ao longo responder a mais de modo repetitivo.
estímulo dentre do tempo. É de uma questão
vários outros comumente num dado
(incluindo a referida como momento, ou a
ausência de "concentração". múltiplos
sinais), sejam eles elementos ou
externos ou operações dentro
internos; de uma atividade,
como em uma
atividade mental
complexa.
Fonte: Produzida pelo autor com base nos dados de (LEZAK, 1995)
Segundo Miranda et. al. (2016) os diferentes tipos de atenção estão associados
às diferentes áreas do cérebro, porém as áreas frontais cerebrais estão implicadas
tanto nas formas superiores da atenção (atenção voluntária), quanto na preservação
do comportamento dirigido a metas e na inibição aos estímulos irrelevantes.
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Os processos cognitivos da atenção, são complexos, envolvem a intenção o


planejamento e a tomada de decisões. Esses processos estão na base da ação
volitiva (dos atos de vontade), são denominadas funções executivas e dependem
intensamente de sistemas cerebrais pré-frontais, especialmente em circuitos
subcorticais. O controle executivo possibilita que se mude com eficácia de uma
resposta possível para outra conforme as demandas variantes do ambiente
(DALGALARRONDO, 2019).
As funções executivas, processadas nos lobos frontais (áreas pré-frontais), são
um conjunto de habilidades cognitivas relacionadas à capacidade do indivíduo de
planejar, executar e monitorar de forma flexível comportamentos objetivos (LEZAK et.
al. 2012). Referindo-se a atenção também resultada da interação complexa de
diversas áreas corticais e subcorticais do sistema nervoso, não sendo, portanto, um
processo unitário (COHEN et. al. 2006).
Tabela 2: Definição do córtex
Córtex parietal (sobretudo o posterior Atenção seletiva visual e atenção dirigida
direito). ao espaço extrapessoal.

Córtex frontal do cíngulo. Foco de atenção e motivação.

Córtex pré-frontal dorsolateral direito Age para manter o nível de atenção.


Fonte: Produzida pelo autor com base em (DALGALARRONDO, 2019)
Ainda a luz de Dalgalarrondo (2019), as principais estruturas subcorticais do
sistema nervoso relacionadas à atenção são: no tronco cerebral, o sistema reticular
ativador ascendente (SRAA) e o locus ceruleus noradrenérgico (LCN); no diencéfalo,
o tálamo; e, no telencéfalo, o corpo estriado; no nível cortical, o córtex parietal
posterior direito (não dominante), o córtex pré-frontal e o giro cingulado anterior
(também na região frontal), assim como estruturas do lobo temporal medial do sistema
límbico.
Como um sistema orgânico, a atenção contém anatomia funcional própria,
assim como foi dito acima, os estudos cerebrais procuram apresentar as áreas
cerebrais envolvidas nesse método. É importante saber sobre a localização de cada
atividade cerebral, pois dessa forma, pode-se encontrar a base dos problemas da
atenção.
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DA ATENÇÃO
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A neuropsicologia é uma área de fronteira com a medicina, sobretudo com a


neurologia, ela possui caráter eminentemente interdisciplinar, consiste em uma
ciência híbrida oriunda de diversas disciplinas básicas (neuroanatomia,
neurofisiologia, neuroquímica e neurofarmacologia) e aplicadas (psicometria,
psicologia clínica e experimental, psicopatologia e psicologia cognitiva). Tem como
base disciplinas que se preocupam com o estudo do funcionamento do cérebro e do
comportamento humano e o resultado dessa interação, objetivando compreender
como cérebro e mente tecem a complexa realidade humana (CAGNIN, 2010).
Segundo Harvey (2012), a avaliação neuropsicológica foi concebida para
avaliar indivíduos que sofreram danos cerebrais durante período de guerra. Bilder
(2011) diz que um dos seus objetivos era investigar os prejuízos funcionais associados
a lesões cerebrais. Até a década de 1950, ela estava centrada no diagnóstico
diferencial, na tentativa de distinguir déficits funcionais de problemas orgânicos e
constatar áreas cerebrais responsáveis por determinado perfil cognitivo prejudicado
(VAKIL, 2012).
Para Mader (1996) objetivos da avaliação neuropsicológica são basicamente
para auxiliar o diagnóstico diferencial, estabelecer a presença ou não de disfunção
cognitiva e o nível de funcionamento em relação ao nível ocupacional, localizar
alterações sutis, a fim de detectar as disfunções ainda em estágios iniciais. Ainda de
acordo com o autor,os objetivos da avaliação psicológica são basicamente auxiliar o
diagnostico diferencial, estabelecer a presença ou não de disfunção cognitiva e o nível
de funcionamento em relação ao nível ocupacional, localizar alterações sutis, a fim de
detectar as disfunções ainda em estágios iniciais.
Na avaliação neuropsicológica, a investigação da capacidade geral, assim
como dos processos primários, faz-se necessária. Por processos primários, entende-
se a atenção, concentração, esforço e controle mental, dentre outros (SISTO et.
al.2007).
Lezak et. al. (2004) apontam ainda a relevância da avaliação neuropsicológica
para os cuidados com o indivíduo. Diante disso, a avaliação neuropsicológica pode
fornecer aos membros de seu convívio familiar e social informações importantes
relativas às suas capacidades e limitações.
Os testes têm como objetivo principal examinar as aptidões cognitivas em uma
escala, que podem alternar desde os desempenhos decididamente superiores à
média, até os gravemente comprometidos (WALSH, 1982). Por isso é importante
264

destacar que os passos no desenvolvimento de um instrumento de avaliação


neuropsicológica devem seguir os critérios para desenvolvimento de instrumentos de
avaliação psicológica em geral (ALCHIERI et. al. 2003).
Assim, a avaliação psicológica, em especial aquela parte que se dedica ao
desenvolvimento de instrumentos, é uma área nuclear da psicologia e de sua
edificação enquanto ciência pois envolve a objetivação dos conceitos teóricos em
elementos observáveis. Além de requerer uma aplicação cientifica, ela envolve o uso
da modelagem matemática na representação dos processos psicológicos
(RODGERS, 2010).
Os testes criados para avaliação da atenção, seguem determinações para uma
avaliação mais precisa, conforme o quadro abaixo, pode se observar as
características de avaliação seguidas por cada um de acordo com o SATEPSI e Vetor
Editora.
TABELA 2: Testes que Avaliam a Atenção
Função Testes e Escalar O que avalia? Idade Escolaridade
Atenção Bateria de Funções Atenção Concentrada A partir de 18 Não informado
Mentais para anos
Motorista
– Teste de Atenção
Concentrada (BFM-
4)
Atenção Bateria de Funções Atenção De 18 a 59 Nível superior
Mentais para Concentrada, difusa e anos incompleto ou
Motorista- discriminativa completo
Teste de Atenção –
2ª.edição (BFM-1)
Atenção Bateria Geral de Atenção Concentrada De 15 a 59 Não informado
Funções Mentais – anos
Teste de Atenção
Concentrada (BGFM-
2)
Atenção Bateria Geral de Atenção Difusa De 15 a 59 Não informado
Funções Mentais- anos
Teste de Atenção
Difusa
(BGFM-1)
265

Atenção Bateria Psicológica Atenção Geral- De 6 até 82 Não informado


para Avaliação de Atenção anos
Atenção (BPA) Concentrada,
Atenção
Dividida e
Atenção
Alternada
Atenção Bateria Rotas de Processos De 18 a 65 Não informado
Atenção (Rotas) Perceptivos/cognitivos, anos
Atenção
Geral – Atenção
Concentrada,
Atenção dividida e
Atenção
Alternada

Atenção Escala de Atenção Atenção De 18 a 70 Não informado


Visual Seletiva Seletiva Visual
Visual
(EASV)
Atenção Teste Atenção A partir de 18 Não informado
Computadorizado de anos
Atenção – versão
visual (TCA Visual)
Atenção Teste de Atenção Atenção Concentrada De 18 a 61 Não informado
Concentrada anos
(TEACO-FF)
Atenção Teste de Atenção Atenção Concentrada De 16 a 60 Não informado
Concentrada AC 15 anos
(AC15)
Atenção Teste de Atenção Atenção De 18 a 72 Não informado
Dividida (TEADI) e Dividida e anos
Teste de Atenção Atenção
Alternada (TEALT) Alternada
Atenção Teste de Atenção Atenção Seletiva De 15 a 60 Não informado
Seletiva (TAS) anos
Atenção Teste de Atenção Processos Crianças de Não informado
Visual – TAVIS4 Neurológicos, 6 a 11 anos
(TAVIS4) Processos e
Perceptivos/Cognitivos adolescentes
de 12 a
18 anos
Atenção Testes de Atenção Atenção De 18 a 72 Não informado
Dividida e Sustentada anos
Atenção Coleção AD & AS – Atenção Dividida e Adolescentes Não informado
Atenção Dividida e Atenção Sustentada e adultos,
Sustentada com idade
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entre 18 e 73
anos.
Atenção Teste de Atenção Atenção Seletiva De 15 e 60 Não informado
Seletiva – TAS anos
Atenção Escala de atenção Atenção Seletiva De 18 a 70 Entre ensino
seletiva visual – Visual anos fundamental
EASV incompleto e
pós-graduação.
Fonte: Produzida pelo autor com base nos dados de SATEPSI e Vetor Editora (2020).
Para Wundt (1896), a psicologia é uma ciência empírica cujo objeto de estudo
é a experiência interna ou imediata. A produção dos testes que avaliam atenção,
coloca de forma quantitativa, aquilo que por muitas vezes não consegue se avaliar
somente de forma qualitativa.
O SATEPSI por exemplo, tem como meta a elevar a qualidade dos instrumentos
de avaliação psicológica, uma vez que já havia sido notado que inúmeros testes,
utilizados na prática profissional, não eram baseados em nenhum estudo que
comprovasse seus fundamentos científicos (NORONHA et. al. 2004).
A utilização da tecnologia agrega a um estudo mais amplo, disponibilizar em
uma plataforma os testes de avaliação que podem ser desfrutados pelo psicólogo, faz
com que tenhamos uma organização melhor destes procedimentos. Os processos
cognitivos, possuem uma necessidade de instrumentos que o verifiquem, executando-
se assim a veracidade da avaliação neuropsicológica.
ATIVIDADES ESTIMULADORAS DA ATENÇÃO
O jogo é uma estratégia para o desenvolvimento da criança, pois estimula
novos conhecimentos e desenvolve as habilidades motoras e cognitivas do indivíduo.
Para Lev Vygotsky, a criança precisa ser estimulada para que ela possa aprender e
exercitar o seu pensamento, de acordo com sua teoria o autor irá dizer que:
“Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o
pensamento, devemos fazer com que as atividades sejam
emocionalmente estimuladas. A experiência e a pesquisa têm
mostrado que um fato impregnado de emoção é recordado mais sólido,
firme e prolongado que um feito indiferente. Cada vez que
comunicarem algo ao aluno tente afetar seu sentimento. A emoção não
é uma ferramenta menos importante que o pensamento” (VYGOTSKY,
1994, p. 117-119).
Quando falamos de sala de aula, o desprendimento da atenção é maior ainda,
com um ensino pedagógico na maioria das vezes tradicional, jogos como xadrez deve
ser utilizado para o compartilhamento de conhecimento entre os alunos, pois além de
exigir atenção e concentração fornecem equilíbrio emocional. Segundo Fassbender
(2006), os jogos computacionais também têm sido usados como instrumento
267

psicoterapêutico para usuários de diferentes idades, localidades e condições. Em


casos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade por exemplo, o
questionamento dos pais, é o “Porquê de os filhos conseguirem se manter
concentrados em vídeo games e outras funções não?”. Breda et. al. (2014), irá explicar
que, jovens com depressão, ansiedade social e TDAH podem se torna mais
vulneráveis a desenvolver dependência de jogos eletrônicos por serem mais
impulsivos, terem menor habilidade social e de empatia além de diminuição no
controle emocional.
Existem diversos reforçadores para estimular a atenção para diferentes meios,
pois ela é uma importante capacidade cerebral que o ser humano utiliza
cotidianamente. O uso de jogos e a atividades para estimular para a atenção de
diferentes indivíduos e em diferentes faixas etárias pode melhorar a qualidade e as
relações sociais destes sujeitos. De acordo com Pires (2012) é necessário
“desenvolver a agilidade mental e a percepção espacial, explorar processos criativos,
otimizar os processos de atenção, concentração e memória, desenvolver e/ou
recuperar funções cognitivas”.
Para trabalharmos a estimulação de funções específicas, entre elas a atenção
se faz necessário que lancemos mão de uma atuação que diz respeito a
neuropsicologia que se nomeia como estimulação cognitiva. Esta função estaria ligada
a capacidade de neuroplasticidade, que se pode definir como a capacidade do cérebro
reorganizar os circuitos neuronais quando se encontra com experiências novas. Ela
abrange a habilidade de modificação do sistema nervoso se reorganizar conforme a
sequência de vários acontecimentos, inclusive a maturação e desenvolvimento normal
do organismo, a aquisição de novas capacidade e reorganização cognitiva após lesão
do sistema nervoso central ou em resultado de privação sensorial (BAVELIER &
NEVILLE, 2002).
A estimulação cognitiva seria uma proposta terapêutica capaz de promover a
saúde cerebral, contribuindo para o aumento da densidade sináptica e da plasticidade
cerebral, pois requer novas aprendizagens e o desenvolvimento de novas estratégias
cognitivas contribuindo para o desenvolvimento da neuroplasticidade (GIL, 2009).
Em crianças, a estimulação cognitiva irá interagir com os órgãos dos sentidos
e com a carga genética da criança, produzindo um efeito decisivo no desenvolvimento
cerebral desta, trazendo impactos de longa duração na fase adulta (BARTOSZECK,
2012). A utilização dos jogos, a música e outras atividades estruturadas permitem à
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criança concretizar o conhecimento de forma relevante, o que possibilitará o


desenvolvimento de elevados padrões de desempenho cognitivo, respeitando a sua
natureza lúdica (GANZ, et al. 2015).
Em indivíduos com TDAH, as principais técnicas utilizadas para treino e
estimulação cognitiva, de acordo com Cantiere (2014) são: os jogos (Jenga, Jogo
da memória, Hora do rush, Onde está o Wally?, Sudoku, Quebra-cabeça, Lince,
entreoutros) brincadeiras estruturadas, criação de histórias, leitura de histórias e
gibis, jogos eletrônicos, pintura, desenhos, construção com massinha, entre
outros. Sendo assim essas atividades, podem contribuir não somente para o
tratamento do indivíduo com algum tipo de transtorno como também para a
maturação do cérebro das pessoas em geral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A atenção é a capacidade do cérebro de selecionar alguns elementos do
ambiente em detrimento de todas as informações disponíveis. A atividade cerebral do
ser humano funciona em termos de investimentos cognitivos, é possível afirmar que a
atenção seria o direcionamento desses recursos para atividades ou objetos
específicos. A atenção funciona como um filtro do cérebro enquanto o mesmo absorve
informações do ambiente.
É importante ressaltar que a atenção é essencial para o funcionamento
cognitivo, pois durante o estado de vigília, o individuo recebe diversos sinais sensoriais
conveniente do exterior e do interior do organismo. A quantidade de informações
aferentes excede a capacidade do ser humano de armazená-la de forma paralela,
com isso a função da atenção precisa ser manejada ao mesmo que estimulada. De
modo que, se faz necessário um mecanismo neural que regule e focalize o organismo,
selecionando e organizando. Esse mecanismo neural descrito é a atenção.
Para a neuropsicologia, é essencial compreender como as estruturas
atencionais se compõe. Pois os mesmos representam o apoio de outros processos
cognitivos. O individuo sofre influencia da atenção de forma que, ela codifica as
entradas sensoriais e armazena essas informações na memória. A atenção assim
como os outros processos cognitivos está interligado.
Para podermos detectar alterações importantes no que diz respeito a atenção,
se faz de suma importância uma avaliação neuropsicológica minuciosa no que diz
respeito a esta função, onde os subtipos de atenção são avaliados, possibilitando que
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possa ser mapeada a função e oportunizando formas de maximizar e estimular esta


função, quando comprometida.
A chave para melhorar a atenção constante é realizar um treinamento
adequado e consistente. A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos
comportamentos resultam de um nível adequado de atenção para serem bem
sucedidos, por exemplo: assistir um filme e compreendê-lo; manter o foco de
conversação em um ambiente ruidoso. Ela também é um pré-requisito fundamental
para o processo de memorização, por isso se faz necessária que possamos defini-la
de forma minuciosa para que possamos intervir com maior credibilidade.
Contudo, sabe ressaltar que há possibilidades de se avaliar e de estimular a
função de atenção que não se restrinja somente as intervenções medicamentosas,
com a neuropsicologia e a capacidade que esta ciência junto as demais neurociências
têm de compreender as causas comportamentais a partir do cérebro, oportuniza-se
que possamos junto ao sujeito encontrar formas de se autorregular e de auto
estimular, onde o próprio funcionamento deste sujeito possa ser alterado através da
estimulação constante desta função dentro da proposta da neuroplasticidade.

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