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TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA
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Em alguns casos de TEA um dificultador para o diagnóstico precoce é o
surgimento tardio da sintomatologia, como nos casos leves, aqueles conhecidos
anteriormente como Síndrome de Asperger.
Anteriormente listamos as características diagnósticas do TEA, segundo o
DSM-V (2014), relembrando: comprometimento na interação social e
comunicação com os outros; comportamentos, interesses e atividades em
padrões restritos e repetitivos. Parece que estas características não são
suficientes para identificar uma criança com TEA, não é?
O Manual apresenta uma série de outras descrições, são referências e
orientações para definir protocolos, desenvolver instrumentos e parâmetros tanto
para diagnóstico como para intervenção.
Mas se a padrão-ouro para tratamento do TEA é a precocidade na
intervenção, além dos familiares, cuidadores e educadores, os pediatras são
essenciais para detecção. Por essa razão temos no Brasil a Lei nº 13.438 de 2017,
exigindo que pediatras apliquem até os 18 meses de vida a avaliação de
neurodesenvolvimento nas crianças. Os estudos têm apontado que maior
discernimento entre o bebe com TEA e aqueles considerados neurotípicos
aparecem principalmente por volta dos 12 meses, o que justifica e exigência da
lei. Mas é possível identificar alguns sinais de alerta mesmo antes dos 12 meses
de idade:
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A tabela indica sinais de alerta, naturalmente os pediatras têm protocolos e
escalas psicométricas próprias para detectar o TEA. Para conhecimento, na
triagem inicial é recomendado o M-CHAT (variação M-CHAT R/F) – Modified
Checklist of Autism in Toddlers. São 20 perguntas aplicada em consulta clínica
aos familiares, agregado a observação e anamnese (SBP, 2019).
Os sinais investigados nos bebes com idade entre 12 e 30 meses, segundo
a Sociedade Brasileira de Psiquiatria (2019) são:
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• alterações sensoriais;
• doenças genéticas, como Síndrome do X Frágil, Esclerose Tuberosa,
Síndrome de Williams;
• transtornos gastrointestinais e alterações alimentares;
• distúrbios neurológicos como Epilepsia e distúrbios do sono;
• comprometimento motor como Dispraxia, alterações de marcha ou
alterações motoras finas.
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interações sociais e resposta acentuadamente no
mínima a aberturas sociais funcionamento em todas as
que partem de outros. Por esferas. Grande
exemplo, uma pessoa com sofrimento/dificuldade para
fala inteligível de poucas mudar o foco ou as ações.
palavras que raramente inicia
as interações e, quando o
faz, tem abordagens
incomuns apenas para
satisfazer a necessidades
reage somente a abordagens
sociais muito diretas.
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Os níveis de gravidade são uma referência que ajudam a definir, por
exemplo, se a criança necessita de um mediador na escola, ou que tipo de
intervenção poderia ser mais apropriada.
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7) Outras alternativas, como aparelhos de alta tecnologia e acompanhamento
psicoterapêutico
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no sentido de aproximar a criança com TEA destes marcos com atividades
intensivas, chegando a 40 horas semanais.
4) Ensino de fala: para aqueles que precisam desenvolver a linguagem, por
associação dos sons através de estímulos reforçadores; ou
compreendendo a fala como comportamento natural estimulado no meio.
5) Modelação: modela-se determinado comportamento, um a um, com
práticas específicas pautadas na imitação.
6) Estratégias de ensino naturalístico: geralmente aplicado a crianças bem
pequenas, brincando com ela para incluir habilidades a serem aprendidas.
7) Outras práticas mais pontuais, não necessariamente associadas ao
desenvolvimento global do sujeito.
8) Treinamento parental: treinar os familiares para agirem sobre habilidades
específicas. Não há como cobrar dos pais que, além das demais tarefas,
ainda assumam as terapias e treinamentos completos dos filhos.
9) Ensino por pares: ensinar irmãos e amigos para axilar do treino de
habilidades específicas.
10) Ensino de respostas pivotais: conjunto de estratégias naturalísticas, uma
forma de intervenção baseada em ABA
11) Rotinas visuais: quadros com especificação de tarefas que fazem parte da
rotina diária ou semanal, com referências visuais. O objetivo é diminuir a
ansiedade auxiliando na organização das rotinas. Associa-se sempre ao
estímulo, orientação verbal para eliminar os recursos visuais. Na escola
também é muito utilizada.
12) Roteiros (scripts): oferecer algum roteiro para determinada atividade,
listando as ações necessárias, a sequência para alcançar objetivo. O
sujeito consulta o roteiro a cada passo.
13) Ensino de autorregulação: problemas sensoriais e emocionais associados
ao TEA provocam crises, a técnica auxilia a desenvolver estratégias para
evitar as crises, com base na autorregulação do comportamento.
14) Ensino de Habilidades Sociais (Treino de Habilidades Sociais): como o
nome diz, acontece o treino de habilidades sociais, aplicada em casos de
autismo mais leve (nível 1).
15) Histórias Sociais: acompanha uma história relativa a comportamento social
adequado (ou inapropriado), que tem relação com dia a dia do sujeito com
TEA, para assimilar e implementar cotidianamente.
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Há um 15º procedimento, considerado pela Nacional Autism Center e
catalogado após publicação oficial do documento da Fase 2, opção desenvolvida
para tratar indivíduos que apresentam disfunção na integração sensorial. A
integração sensorial é a “capacidade de processar, integrar e organizar os inputs
sensoriais provenientes do corpo e do ambiente, a fim de que seja possível uma
resposta adaptativa do indivíduo, frente às demandas funcionais” (Andrade, 2020)
Essa capacidade pode se encontrar alterada em pessoas com TEA e a aplicação
da Abordagem de Integração Sensorial de Ayres® tem demonstrado bons
resultados, se trata de um instrumento do escopo do Terapeuta Ocupacional.
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Historicamente, a ABA foi descrita por Baer et al. em artigo publicado em
1968. Os autores apresenta sete dimensões que definem a ciência ABA, sendo
elas: ser aplicada, comportamental e analítica (três princípios fundamentais),
altamente recomendado também ser tecnológica (elementos identificáveis e
descritivos), conceitualmente sistemática (além de descrever procedimentos, há
princípios e conceitos teóricos bem definidos), efetivas (provocar mudanças
significativas) e demonstrarem generalidades (persistir ao longo do tempo e
aplicáveis a outros perfis) (Sella; Ribeiro, 2018).
A base do behaviorismo de Skinner é o condicionamento operante, no qual
um estímulo discriminativo provoca um comportamento (reação) que pode ser
reforçado para se manter. O comportamento não reforçado ou que recebe punição
pode ser extinto. Há possibilidade de se controlar os estímulos, estabelecer
esquemas de reforçamento para obter a modelagem do comportamento. Uma
imensa quantidade de comportamentos humanos pode ser modelada desta
maneira.
Um exemplo dos estudos de Skinner corriqueiramente empregado em ABA
é o Comportamento Verbal (VB), que servirá também de exemplo para explicar
melhor o reforçamento. Skinner investigou profundamente o comportamento
verbal e publicou um livro como o mesmo nome em 1958. Percebeu que a
aquisição da linguagem acontecia mediante reforçamento e associações. Assim,
a mãe que se alegra ao escutar “mama” balbuciado casualmente por seu filho
reforça a repetição deste som e leva com o tempo a associá-lo a presença da
mãe.
A Análise de Comportamento Aplicada pode ser utilizada em diversas
condições, mas foi o psicólogo norueguês Ole Ivar Lovaas (1927-2010) o primeiro
a demonstrar experimentalmente a eficácia de princípios da ABA para ensinar
crianças como TEA (Lear, 2004). Aplicou em seus estudos uma das metodologias
de ABA conhecida como DTT (Discrete Trial Teaching).
De acordo dom Lear (2004) o DTT:
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Quem trabalha com ABA se utiliza de termos como estímulo discriminativo
(que vem antes do comportamento); tentativa; resposta; estímulo reforçador;
ajuda (dicas); domínio; dados; aula (sessão); dados; método. "A ciência do
comportamento visa trocar as condições sob as quais o comportamento ocorre,
ou trocar as conseqüências de um comportamento para conseguir efetuar
mudança no comportamento" (Lear, 2004, p. 2-7).
Entende-se que o comportamento é sempre observável e mensurável. As
medidas são de duração, de frequência e de intensidade e fornecem dados para
a análise do comportamento.
No ABA utiliza-se o reforço para aumentar a frequência de um
comportamento desejável. O reforço pode ser positivo se adiciona algo que
fortalece o comportamento (um elogio, um doce, um jogo, um passeio). Há o
reforço negativo quando há retirada de algo que atrapalha o comportamento para
que sua frequência aumente. Por exemplo, a criança não costuma realizar as
tarefas escolares porque o pai irritado é sempre seu acompanhante, retirando o
pai ou substituindo por alguém que a apoia, a resolução das tarefas acontecerá
com mais frequência. ABA trabalha apenas com reforço, nunca com punição, que
é a inclusão de algo aversivo para diminuir a frequência de um comportamento
(Lear, 2004).
O reforçamento é contínuo quando se está modelando um novo
comportamento e pode passar para esquema intermitente quando já adquirido e
no processo de manutenção deste.
Seria muito difícil desenvolver qualquer atividade se não houvesse a
possibilidade de generalização do aprendizado, isto é, num programa ABA
espera-se que a criança assimile conceito ou linguagem e aplique em outros
eventos similares – generalize o que aprendeu, e adquira outros comportamentos
sem introdução de um procedimento comportamental (Lear, 2004).
Pela descrição até o momento, é possível perceber que a proposta de ABA
exige muito tempo de intervenção, há casos de trabalhos durando 20, 30 ou 40
horas semanais. Por isso, geralmente há aqueles que analisam e criam o
programa (analistas do comportamento propriamente dito) e a aplicação envolve
também familiares e professores, o que ajuda a diminuir o custo do tratamento,
que geralmente exige a relação um a um, isso é, uma pessoa dedicada
exclusivamente a criança TEA.
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Após analisar os comportamentos que precisam de intervenção, verificar
os reforços eficientes para a criança, o especialista em ABA criará um currículo
de implementação baseado em programas.
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A seguir, apresentamos exemplos de conteúdos da pizza curricular citados
por Lear (2004, p. 7-4 e 7-5):
1) Autocuidado
• Usa independentemente xícara, colher e garfo.
• Veste e tira a roupa independentemente.
• Habilidades de toalete.
• Habilidades de higiene – pentear cabelos, escovar os dentes,
lavar o rosto e as mãos, tomar banho.
2) Motora (Fina e Ampla)
• Desenhar, colorir.
• Copiar, escrever.
• Cortar, amarrar.
• Usar o teclado, usar o mouse.
• Correr, andar, pular, balançar.
• Usar equipamentos (bolas, raquetes etc.).
3) Social
• Responde a saudações.
• Responde perguntas sociais (ex. “Como vai você?”, “Qual é o
seu nome?”).
• Imita colegas.
• Responde às propostas dos amigos.
• Inicia brincadeiras com colegas.
• Interage verbalmente com colegas (comenta, pergunta, oferece
ajuda).
4) Linguagem / Comunicação
• Receptiva – identifica objetos, partes do corpo e figuras; segue
instruções de 1, 2 e 3 passos....
• Expressiva – faz pedidos, nomeia figuras, objetos, pessoas e
verbos; pede itens desejados; diz “sim” e “não”; repete frases; permuta
informações; responde a perguntas do tipo “por quê”21.
• Abstrata – conversa sobre coisas ausentes, responde questões
do tipo “por quê?”, antecipa conseqüências, explica ações, relata
estórias, inventa estórias.
5) Brincar
• Brincar sozinho de modo apropriado com brinquedos.
• Brincar em paralelo – brincar ao lado de outras crianças, sem
interação.
• Brincar com foco compartilhado – brincar com os mesmos
itens, tal como as outras crianças, sem interação.
• Brincar com ação compartilhada – brincar que demanda
alguma colaboração com outras crianças (ex.: construir torre, empurrar
balança).
• Brincar de faz-de-conta – capaz de assumir uma outra
identidade.
• Brincar com colegas de faz-de-conta e de representar papéis.
6) Acadêmica (e Pré-acadêmica)
• Habilidades de imitação.
• Identificação de números e letras.
• Leitura – palavra inteira e fônica.
• Soletração.
• Habilidades de matemática e números.
• Habilidades de uso do computador.
• Habilidades escolares – participa de um grupo, espera a vez,
recita em uníssono.
5.1 Registros
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Após estabelecer as habilidades a serem abordadas, cada sujeito terá sua
pasta curricular descrevendo em detalhes o que for realizado, registros e
resultados. Os pesquisadores da área afirmam que não há ABA sem registros,
única maneira de mensurar e confirmar se o comportamento está estabelecido.
Assim, existem diversos modelos de folhas de registro para cada habilidade e
momento de intervenção. Apenas para exemplificar, traremos algumas a seguir.
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Fonte: Lear, 2004, p. 4-7.
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Fonte: Lear, 2004, p. 7-13; 7-14.
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REFERÊNCIAS
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2015. Disponível em
<https://www.autismdiagnostics.com/assets/Resources/NSP2.pdf>.
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