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Análise funcional do comportamento

Aula 1.

Objeto de estudo do analista do comportamento é o comportamento. O


comportamento é sempre e invariavelmente um fenômeno relacional:
comportar-se é interagir com o ambiente. Estudam relações comportamentais.
O objetivo principal do analista do comportamento é descobrir porque
uma pessoa, ou grupo de pessoas, faz o que faz, da maneira como o faz.
Relações comportamentais são = relações causais. Ou seja, buscamos
identificar no ambiente de uma pessoa as causas para aquilo que ela faz.
Seleção por consequência tem o modelo causal, que busca explicar as
causas do comportamento considerando que o fenômeno tem múltiplas causas
e são sempre histórias e inter-relacionadas. É baseada em três níveis que dão
origem ao comportamento:
- Filogênese: Início da vida, reflexo incondicionado (vem com a carga
genética do sujeito). Aptidão (chance de reprodução) (biologia)
- Ontogênese: Lei do efeito: Comportamentos bem sucedidos produzem
boas consequências e comportamentos mal sucedidos produzem más
consequências. Reforço/Punição = modelo que serve para modelar o nosso
comportamento. Condicionado operante, algo que é aprendido. Ascenção
cultural. (psicologia)
- Cultural/social: antropologia. Traz benefícios para o grupo e poder ser
propagado para gerações. Contribui para a solução de problemas grupais.
A gente não se comporta porquê queremos, mas devido a questões
filogênese ou ontogênese.
Decidir não é liberdade, pois minha decisão está pautada em uma
consequência, porque o ambiente determina as minhas escolhas (não faço
porquê estou em insaciação ou faço porquê estou privado). Algo determina o
comportamento. Dentro do determinismo, nos temos uma falsa sensação de
liberdade, mas não conseguimos essa liberdade total, porque o ambiente e
suas variáveis interferem no nosso comportamento.
Quando entendemos o que determina a escolha do comportamento, eu
consigo estruturar uma mudança e ter o controle sobre as situações da
escolha.
Sensação de liberdade: reforçamento positivo favorece o relato de
certos sentimentos: amor, felicidade, segurança. O sentimento de liberdade
também pode ser relatado nesse contexto. Quando nosso comportamento é
positivamente reforçado, sentimos que fazemos o que queremos, gostamos ou
escolhemos. Não coerção, obrigatoriedade.
Liberdade como diminuição ou eliminação da coerção: quando as
pessoas são obrigadas a emitirem certos comportamentos ou proibidas, surge
a possibilidade de que se revoltem contra esse tipo coercitivo de controle.
Liberdade como autocontrole: ensinar o próprio cliente a analisar seu
próprio comportamento e variáveis que o controlam. Como a pessoa pode
modificar suas relações funcionais para que ela consiga ter um controle maior
da própria vida. Estamos dando a sensação de liberdade de autocontrole. Se
conhecer proporciona a sensação que a pessoa é livre para decidir sobre a sua
vida.
Comportamento operante: entender como respostas individuais variam
e como conjunto de respostas são selecionadas através do processo de
reforçamento.
Ambiente: parcela do universo que afeta a gente. Pode ter função
evocativa ou alteradora de comportamento.
 Evocativa instanciadora: situação que já vivemos e já aprendemos,
estão dentro do nosso contexto de aprendizagem. Ambiente
instancia esse aprendizado que a gente adquiriu no passado. Ex:
pandemia = lembrar do h1n1, peste negra, etc)
 Comportamento selecionadora: selecionar os nossos
comportamentos para que nós aprendêssemos novos
comportamentos, a partir das consequências que vamos vivendo.

Estímulos: ocorrem antes da resposta ou depois da resposta. Podem ser


reforçadores, punidores. Mudam o repertório do indivíduo, tornando-o diferente.
Evocam respostas que o individuo já aprendeu em sua história. (operações
motivadoras poderão exercer esses dos papéis, a depender da ocasião).
Relações respondentes: estímulos – resposta.
 - Incondicionado: estímulos ligados ao automático, próprio da espécie
humana. Necessidades básicas.
 - Condicionais: pareamento entre o estímulo neutro e o condicionado.
Ex: choro com o carinho da mãe.
Relações operantes: estímulos que a gente aprende depois que a gente
nasceu, que tem uma consequência. O ambiente mudou o nosso
comportamento e nosso comportamento tende a mudar o ambiente.
 Estímulo discriminativo: O SD é uma das possíveis funções dos
estímulos antecedentes. Em sua presença, a emissão de uma
resposta será reforçada. Mais do que isso, o SD tem o poder de
evocar respostas que foram instaladas na história de
contingências do organismo.
 Operações motivadoras: eventos antecedentes que alteram o
valor do estímulo reforçador, podendo aumentar ou diminuir.
 Operações motivadoras incondicionais: operações
motivadoras que ocorrem sem treino prévio, aqueles que o sujeito
já nasce sensível (privação de água).
 Operações motivadoras condicionais: processo de
aprendizagem ontogenética. Eventos ambientas que adquirem
função motivadora por condicionamento clássico (dinheiro).

Função alteradora de repertório:


- Seleção de repertório pela sua consequência. Consequência seleciona
o comportamento. E a operação motivadora irá dar um valor para essa
consequência/estímulo.
- O ambiente torna o organismo sensível a fatores ambientais que
antecedem o responder. Fico mais sensível com aquilo que me reforça.
A consequência dos meus comportamentos faz com que eu me conheça
melhor. Ter uma sensibilidade do que reforça, do que não reforça.

O que faz com que alguém se comporte de determinada maneira?


História de interação daquele individuo com o seu ambiente. Entender
essa interação.

OPERAÇÕES MOTIVADORAS

Ambiente: parcela do universo que afeta o organismo.


Eventos ambientas afetam o responder de um organismo, exercendo as
funções de:
1. Evocativas: Uma resposta já existente no repertório do
organismo terá sua probabilidade de ocorrer momentaneamente
alterada – tornando-a mais ou menos provável – de acordo com o
ambiente.
2. Alteradoras de repertório: A de selecionadora, que o ambiente
exerce sobre o repertório de um organismo e de tornar o
organismo sensível a aspectos do universo (sensível a fatores
ambientais que antecedem o responder)

Estímulo: Podem mudar o repertório do indivíduo, tornando-o diferente ou


evocarão respostas que o individuo já aprendeu em sua história.

Histórico das operações motivadoras:


 Skinner: Primeiro manuscrito para falar de motivação foi o de Skinner,
em que ele chama de Drives: grupo especifico de variáveis que atuam
no fortalecimento ou enfraquecimento do comportamento. Uma
operação ambiental, destacando privação e saciação. Depois, ele
abandona esse termo e defende uma visão semelhante à de Keller e
Schoenfeld.
 Keller e Schoenfeld: Utilizou do termo impulso para se referir as
modificações no responder e às suas operações ambientais
correspondentes. Impulso seria um produto da relação entre o
organismo e o ambiente.
 Millenson: Motivação como operações de impulsos, com função de
alterar o valor da consequência. Aumentando-a (privação) ou
diminuindo-a (saciação)
 Michael: Operações motivadoras.

Definição de operações motivadoras (vem junto com o contexto): Todo


e qualquer evento ambiental que afeta um comportamento de duas
maneiras:
1. Alteram a efetividade dos estímulos consequentes (reforçadores ou
punidores)
2. Modifica a frequência da classe de respostas que produzem essas
consequências
 Operação estabelecedora: eventos ambientas que tornam as
respostas de uma classe operante mais provável de serem emitidas
por aumentar a efetividade reforçadora ou diminuir a efetividade
reforçadora da consequência. (aumenta a frequência de resposta)
Exemplo: pedir colo para mãe. Se a mãe trabalha muito e fica longe da
criança, esse tempo tem o efeito de aumentar o valor reforçador da
presença da mãe e aumentará a frequência de toda uma classe de
respostas que produz aproximação com a mãe, como pedir colo.
 Operação abolidora: eventos que tornam repostas dessa classe
operante menos prováveis de ocorrerem, por diminuírem a
efetividade reforçadora ou aumentar a efetividade punidora. (diminui
a frequência de resposta).
Exemplo: jovem que vai mal na matéria de anatomia, após ler a matéria
antes da prova, teve como consequência uma nota dois. Ele reprovou, e
supõe-se que a reprovação teve função de operação abolidora, pois
tornou o evento de ir à faculdade mais aversivo e diminui a sua resposta
de frequenta-la.

Operações motivadoras:
 Incondicionais: operações motivadoras que ocorrem sem treino
prévio, aqueles que o sujeito já nasce sensível (privação de
água).
 Condicionados: processo de aprendizagem ontogenética.
(dinheiro). Sensibilidade adquirida a partir de aprendizagens que
relacionaram tais outros eventos a eventos aversivos ou
apetitivos de alguma forma.

Contingência de três termos


- Antecedentes: tudo o que está na volta do sujeito, ou dentro dele, e que
antecede a reposta. Chamado de “estimulo antecedente”
Sd: aquilo que eu já vivi.

- Comportamento: pode ser privado ou público.


- Consequência: aquilo que vem depois do comportamento e que altera o
padrão de sua apresentação.

CONCEITOS

 Ambiente: tudo o que cerca o organismo; conjunto de estímulos.


 Estímulo: alteração detectável no meio em que o organismo está
inserido (aquilo que afeta o organismo dentro do ambiente).
 Estímulos antecedentes: ocasiões ou situações, nas quais um
comportamento ocorre.
 Resposta: qualquer ação (verbo), observável ou não do organismo.
 Estimulo consequente: ocorre imediatamente após o comportamento.

Para fazer uma análise funcional:


Entender os seus comportamentos, isto é: quando, como, onde o
comportamento ocorre. Podem ser: aprendidos, mantidos ou extintos. Para
analisar um comportamento, é necessário observar e identificar quais os
estímulos (acontecimentos, situações): antecedentes, consequentes e o próprio
comportamento.

1. Identificar eventos comportamentais (comportamento alvo)


2. Identificar eventos ambientais (antecedentes e consequentes)
3. Identificar contingências tríplices
4. Identificar a natureza das contingências e tríplices envolvidos. Quais
estímulos são reforçadores e o que é aversivo, para poder trabalhar a
mudança.

Definição de avaliação funcional: identificar as situações antecedentes, as


consequentes, o que evoca o comportamento. Vou olhar tudo o que acontece,
sem intervir. Processo de coleta de informações.
Se não fizer essa avaliação, não tenho como planejar, prever, controlar
nenhum comportamento.
Funções de problemas do comportamento (observando as consequências)
 Reforço social positivo: estimulo reforçador positivo que vem de outra
pessoa. Ex: elogiar, ganhar algo de alguém (vem do outro).
 Reforço social negativo: o estímulo aversivo é retirado da pessoa por
um terceiro. Ex: técnico tirar o aluno do treino, para ele se livrar da
situação (é reforçador)
 Reforço automático positivo: não vem do outro, vem da própria
consequência do meu comportamento. Ex: ganhei 10, pois estudei.
 Reforço automático negativo: eu retiro o estimulo aversivo está ligado
a própria ação do meu comportamento.

Métodos de avaliação funcional:

1. Métodos indiretos: entrevistas e questionários. Sofre interferência da


memoria e da parcialidade.
2. Método de observação direta: registros dos antecedentes,
comportamentos e consequência pelo observador (observação ABC). As
informações podem ser mais precisas e requerem mais tempo e mais
esforço.
- Gráfico de dispersão
- Método descritivo
- Método de lista de verificação
- Método de registro de intervalo
3. Métodos experimentais (analise funcional): antecedentes e
consequências são manipulados para observar o seu efeito sobre o problema
de comportamento.
- Análise funcional exploratória
- Análise funcional por teste de hipótese

Conduzindo uma avaliação funcional:

 Entrevista comportamental
 Desenvolvo hipóteses sobre ABCs
 Realizo uma avaliação por observação direta
 Confirmo a hipótese inicial dos ABCs
 Realização avaliação adicionais
 Realização análise funcional.

Realizar uma análise funcional:

1. Definir precisamente o comportamento de interesse


2. Identificar e descrever o efeito comportamental
3. Identificar relações ordenadas entre variáveis ambientais e o
comportamento de interesse. Identificar relações entre o comportamento
de interesse e outros comportamentos existentes.
4. Formular predições sobre os efeitos de manipulações dessas variáveis e
desses outros comportamentos sobre o comportamento de interesse.
(hipotetizar)
5. Testar essas predições.

1ª Onda:
A primeira onda, ocorrida nos anos 50, caracteriza-se como a terapia
comportamental clássica e a modificação do comportamento. A psicoterapia
comportamental nessa época, seguia as bases do modelo pavloviano, com
técnicas de exposição à estímulos e dessensibilização sistemática (controle
respondente, basicamente), por exemplo.
A modificação do comportamento já era feita com base em uma análise
de contingências nas quais o sujeito estava envolvido e das quais seus
comportamentos eram função, ou seja, já era operada por um sistema de
"recompensas" (controle operante, basicamente).
A primeira onda recebeu críticas. As principais são as de que a terapia
comportamental era ofensiva à liberdade pessoal do homem, que era uma
psicoterapia superficial e que só atenderia problemas simples, ou seja,
desqualificava o ser humano e a problemática que ele apresentava, além de
não contemplar a complexidade das ditas "funções mentais" superiores e da
linguagem.

2ª Onda
A segunda onda se caracteriza pela revolução cognitivista que marcou
os anos 60. Há uma abordagem mais racionalista, onde se elucida a
reestruturação cognitiva (crenças) e a terapia cognitivo-comportamental se
torna forte, sobre um paradigma mediacional. A terapia racionalista foi proposta
por Beck e Ellis. O paradigma dessa terapia é o seguinte:
A -> B -> C, sendo
A = Ambiente
B = Crenças
C = Comportamentos, sentimentos, etc.
Segundo eles, o modo como o ser humano pensa é que determina como
ele se comporta. E, entretanto, a terapia cognitivo-comportamental, assim
como a terapia comportamental pura, procura ser uma teoria científica.
A segunda onda, no Brasil, não teve a mesma repercussão vista em
outros lugares do mundo. A terapia cognitiva-comportamental teve vários
motivos para se instalar com tanta força e uma delas é a crítica à análise do
comportamento verbal proposta por Skinner. Devido a essa falta de força dela
aqui no Brasil, comparado ao resto do mundo, os analistas do comportamento
avançaram em relação aos estudos na área do Comportamento Verbal (que
ainda é uma área negligenciada, se me permitem a opinião pessoal) e também
da equivalência de estímulos. Esta última, implica uma capacidade do homem
de conseguir associar "qualquer coisa a qualquer coisa", ou em um exemplo
simples, conseguir ler ouvir/falar "cachorro", ler CACHORRO e ver o animal em
si e responder da mesma maneira frente aos três estímulos, diferentes em
propriedade.

3ª Onda
A terceira onda são as chamadas terapias contextualistas. Isso implica
que a terapia depende de contextos. Entre elas destacam-se a ACT, a FAP e a
DBT:

 ACT: Terapia de Aceitação e Compromisso (proposta por Hayes -


Teoria dos Quadros Relacionais). Ela tem como objetivo criar
flexibilidade psicológica, ou seja, aceitar eventos privados que são
desagradáveis para manter ações que são importantes e valorizadas
pelo indivíduo para que ele tenha uma vida mais significativa. Por outro
lado, é a comunidade verbal em que esse indivíduo está inserido que
ensina que o certo é estar bem e que a tristeza é um problema que deve
ser resolvido a qualquer custo. O foco de intervenção da ACT é a
Aceitação desses eventos que são ruins para o sujeito de modo que ele
não resista a eles e os sinta, para evitar um futuro sofrimento adicional.
Também se foca na Escolha, que deve ser baseada na
experiência/história do indivíduo sem repetir erros. E também se foca na
Ação, que deve ser direcionada para o futuro e comportamentos
abertos, que podem ser mudados. Para intervenção, é corriqueiro que o
terapeuta use metáforas e técnicas (que não serão explanadas nessa
postagem).

 FAP: Psicoterapia Analítica Funcional (proposta por Kohlenberg e Tsai)


que tem como "base" consciência, coragem, amor e Behaviorismo. O
foco principal da FAP é a relação terapêutica, onde são valorizadas as
contingências da sessão, onde ocorre a modelagem de comportamentos
em sessão e o reforçamento natural de comportamentos assertivos
apresentados pelo cliente. É muito importante dizer que, os
comportamentos que podem ser apresentados pelo cliente são
"divididos" em 3 categorias, digamos assim. São os CRBs/CCRs
(comportamentos clinicamente relevantes) 1, 2 e 3, onde
CRBs1: é geralmente a queixa apresentada pelo cliente, os
comportamentos desadaptativos e disfuncionais que ele apresenta;
CRBs2: é basicamente a melhora dos CRBs1. Comportamentos que se
tornam mais assertivos e produtivos comparados aos comportamentos
descritos na queixa; e os
CRBs3: aqui é o comportamento de auto-análise feito pelo cliente. Onde
ele aprende a discriminar as variáveis das quais seus comportamentos são
função, podendo assim, agir mais assertivamente no ambiente em que está
inserido.
O processo terapêutico técnico da FAP é permeado por 5 regras: 1)
prestar atenção nos CRBs do cliente; 2) Evocar CRBs do cliente; 3) Reforçar
CRBs2; 4) Observar os efeitos da intervenção; 5) modelar CRBs3 no cliente.

 DBT (Terapia Comportamental Dialética, proposta por Marsha Linehan).


Essa é uma terapia desenvolvida para o tratamento do transtorno
Borderline, que é considerado como uma vulnerabilidade em relação ao
ambiente invalidante (punitivo/estressor) que o sujeito está inserido. O
tratamento se dá através da orientação e compromisso por parte dos
envolvidos e muitas estratégias de tratamento podem ser paradoxos,
metáforas, a confrontação para conseguir a extinção de padrões rígidos
de comportamento, buscando a validação, a análise comportamental, a
solução de problemas. Há também a comunicação recíproca e
irreverente entre psicoterapeuta e cliente, obviamente que em "doses
ideais", afinal, a terapia não pode se tornar um palco de stand-up
comedy.

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