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UM GUIA BÁSICO SOBRE AS ABORDAGENS E A

PRÁTICA CLÍNICA
 
 
 

INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA
CLÍNICA
 
 
 

MARCIA BARROS
 
 
 
 

 
Copyright © 2022 de Marcia Andrea da Silva Barros
Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não
pode ser reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização
expressa, por escrito, do autor ou editor, exceto pelo uso de citações
breves em uma resenha do ebook.
Primeira edição, 2022

ISBN: 9798462429514
 
www.psicologamarciabarros.com.br
 
Dedico este livro primeiramente a Deus que me deu a
coragem necessária para enfrentar a vida, e ao meu incrível esposo,
que sempre me apoiou  e me incentivou a  escrever.
 
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas
ao tocar em uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
 
Carl Jung
 
Sumário
Psicologia: “Estudo da alma’’
Breve História da Psicologia
O que é a Psicologia Clínica?
Abordagens Clínicas e Escolas da Psicologia
Behaviorismo
Psicanálise
Gestalt – fundamentos iniciais
Gestalt Terapia
Fenomenológica Existencial
Terapia Cognitivo Comportamental
Psicoterapia Reichiana
Humanismo
Psicodrama
Logoterapia
Psicologia Analítica Junguiana
Neuropsicologia Clínica
O Futuro da Psicologia Clínica
Sobre a Autora
Bibliografia
Psicologia: “Estudo da alma’’
 
Foi na Grécia antiga que iniciaram-se os primeiros ensaios
sobre os questionamentos do mundo das ideias ou mundo psíquico.
O surgimento da filosofia corresponde portanto, à busca 
para as dúvidas e dimensões mais profundas, que fazem parte de
toda a humanidade, tais como:

●      O que é a verdade?


●      Quais os princípios da razão?
●      Com base em que critérios é possível justificar aquilo que
se diz?
É nesse sentido que podemos entender o contexto histórico
e político do surgimento do discurso filosófico, que encontra seu
apogeu nos séculos V-IV a.C.
Os filósofos gregos tiveram uma importante contribuição
para a história do pensamento humano, e em especial para a
preocupação com a alma e razão humana.
A filosofia começou a especular em torno do homem e sua
interioridade. O próprio termo psicologia vem do grego ‘’psyché’’,
que significa alma e de ‘’logos’’ que significa razão.
Nesse momento histórico a psicologia ainda não era
organizada como um saber científico, estava bem longe disso.
O pensamento grego, em especial de Sócrates, buscava
ardentemente estudar a natureza do homem, sua razão, sua moral e
seus pensamentos. Sócrates foi o criador de um conceito chamado
Maiêutica, que significa “parir as ideias”, seria um processo de
autorreflexão para se chegar a novas concepções  e conclusões.
Esse método foi primordial para influenciar futuras abordagens da
psicologia.

Sócrates tinha interesse em analisar as atividades da mente,


como funcionava o pensamento, porque ele acontecia, em como a
imaginação era capaz de criar sonhos, e como a memória era capaz
de carregar tantas informações. Mesmo que rudimentarmente sem
artifício científico para a época, os gregos começaram a entender
que a vida mental é função do cérebro.
É o pensamento de Sócrates que marca o nascimento da
filosofia clássica, desenvolvida por Platão e Aristóteles, que foram
seus herdeiros mais importantes. Sendo assim Aristóteles aprimorou
seus estudos em medicina e biologia, afirmando que a alma e o
corpo físico são inseparáveis, a alma é o sentido da vida.

As  ideias dos filósofos confrontavam o Estado e as práticas


políticas da época, em que a necessidade de independência do
pensamento é explicitada e discutida pela primeira vez em nossa
tradição.

Partindo no tempo para um contexto moderno, podemos


destacar o filósofo e físico francês René Descartes, que influenciou
as áreas humanas, principalmente a psicologia.
Em sua frase mais conhecida ‘’Penso, logo existo’’,
Descartes funda o racionalismo, onde ele afirma que o
conhecimento somente acontece por meio da razão, o  argumento
da dúvida é uma das suas principais teorias. 
Descartes fez vários estudos sobre o corpo humano, e
afirmava que existia uma ligação entre os órgãos dos sentidos e o
cérebro.
Ele defendia que a alma humana existia, porém era uma
entidade separada do corpo (dualismo entre a mente e corpo). Esse
período foi marcado pela transição entre o pensamento medieval e a
modernidade, o chamado ‘’Renascimento’’, e muitas transformações
e avanços nas áreas científicas (medicina, astronomia, matemática,
física, biologia) ocorreram na sociedade ocidental.
Esses foram alguns pensadores que influenciaram a
psicologia, e que trouxeram uma reflexão mais profunda sobre o
conceito da alma humana.

 
Breve História da Psicologia
 
A saúde mental sempre foi um assunto de difícil transição na
sociedade, mesmo com tantas descobertas científicas no mundo,
existe muito preconceito e dúvidas sobre os transtornos mentais,
essa situação era ainda mais tensa nos séculos passados.
A psiquiatria moderna foi marcada pelos avanços do médico
francês Philippe Pinel. Ele mudou o conceito sobre a loucura e
trouxe humanização aos tratamentos dos doentes.
Pinel criticava a falta de pesquisa e observação, por essa
razão pessoas com problemas mentais eram encarceradas e
excluídas socialmente.
Essas mudanças foram ocorrendo aos poucos, a passos
lentos a medicina trouxe uma nova forma de enxergar o sofrimento
de pessoas com transtornos mentais.
De modo geral, naquela época a população não aceitava
que os ‘’loucos’’ ficassem soltos nas ruas. A escuta clínica ainda era
uma embrião a ser concebido, a medicina não tinha condições de
definir a loucura, muito menos entendimento para dar voz e espaço
aos pacientes.
A partir do século XIX, os problemas e temas psicológicos
passaram a ser investigados também pela Fisiologia e pela
Neurofisiologia.
Os avanços que atingiram essas áreas levaram à formulação
de teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando que o
pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram
produto de um conjunto mais complexo.
A psicologia como ciência surgiu em meados de 1879,
quando Wilhelm Wundt instalou o laboratório de Psicologia
Experimental, em Leipzig, Alemanha.
Wundt começou como fisiologista, e se interessou pelo
fenômeno do nervo e do músculo e, em 1862, buscou estabelecer
os fundamentos de uma psicologia experimental. Seu objetivo era
definir a psicologia como ciência, onde fosse possível estudar a
consciência e o conceito de vontade, por esse motivo Wundt, é
considerado o precursor do ‘’Voluntarismo’’ .
Para Wundt, a psicologia era a parte da ciência e da vida,
onde os processos vitais podem ser vistos de fora. Seus
instrumentos laboratoriais permitiram pesquisar com precisão a
percepção externa e interna (sensações e sentimentos).
Sendo assim, a tarefa da Psicologia Experimental e da
introspecção experimental era analisar os processos psíquicos
elementares.

Diante desse cenário surgiu no final do século XIX a primeira


clínica de psicologia que oferecia tratamentos individualizados aos
pacientes.

A expressão ‘’Psicologia Clínica‘’ foi utilizada pelo psicólogo


norte americano Lightner Witmer, na Pensilvânia, EUA. Seu trabalho
consistia em prestar atendimento psicológico ao público, em
especial crianças com problemas comportamentais, e também
estudar os transtornos mentais com bases estatísticas. Witmer foi
aluno do médico e psicólogo Wilhelm Wundt, e seus aprendizados
foram importantes para seu trabalho clínico.
O crescimento da nova ordem econômica (capitalista) trouxe
o processo de industrialização, então houve um impulso muito
grande para o desenvolvimento da ciência. As cidades estavam em
expansão e com o aumento da população, crescia também a
manifestação de patologias e o interesse pelo estudo da mente
humana.

A prática médica de diagnóstico ainda caracterizava-se


basicamente pela observação clínica e análise dos sintomas
apresentados pelo paciente. O exame médico não era muito intuitivo
e não levava em consideração as queixas emocionais, que muitas
vezes estavam diretamente relacionadas com o quadro de doença.
Porém o saber da psicologia trouxe a descoberta de aspectos
subjetivos, que necessitam ser analisados pelos profissionais da
saúde. Dessa forma o psiquismo tornou-se uma área de exploração
para a medicina e principalmente para a psiquiatria e neurologia. 

A clínica médica foi sofrendo alterações ao longo do tempo,


e as relações de poder que antes estavam muito presentes na
hierarquia médico/paciente, foram aos poucos sendo atravessadas
pelos métodos da psicoterapia e análise.
O que é a Psicologia Clínica?
 
É uma linha da psicologia que atua nos tratamentos de
doenças mentais, emocionais, comportamentais e no diagnóstico e
prevenção desses transtornos.

Não necessariamente a clínica está restrita ao consultório


particular, ela vai muito além disso, pode estar atuante em ONGS,
consultórios de rua, associações comunitárias, Instituições do
Estado, entre outros.
Muitas modalidades da clínica começaram a existir devido ao
avanço da tecnologia, os atendimentos psicológicos online, se
enquadram nessa categoria.

É importante ressaltar que a psicologia clínica é um conjunto


abrangente de teorias, técnicas, métodos e diagnósticos. Uma vez
decidida em que abordagem o psicólogo irá trabalhar, o ideal é
aprofundar os conhecimentos e procurar supervisão clínica  na
perspectiva escolhida.
A clínica, como toda área da psicologia, traz muitos desafios,
porém a decisão em seguir a profissão poderá ser uma escolha
estimulada pelo mercado, uma aptidão ou qualquer outra razão.
Existem também alguns obstáculos pessoais que o terapeuta pode
atravessar e ações preventivas que otimizam o trabalho, tais como:
●      Investir em psicoterapia.
●      Investir em Supervisão Clínica.
●      Investir em conhecimento na psicologia e áreas
interdisciplinares.
●      Investir em estratégias de marketing e publicidade (se o
profissional for autônomo).
●      Entender o seu limite!

exemplo: estou com um problema de família semelhante a


demanda clínica do meu paciente, é necessário saber o
momento de encaminhar para outro profissional.
●      Se o atendimento for para o público infantil, e se sua
paciência com crianças é ‘’curta’’, seria melhor encaminhar
o paciente para outro profissional.

Utilizar a justificativa: ‘’Eu preciso de dinheiro e  quero


pagar minhas contas’’, talvez não seja a melhor saída,
porque irá envolver os pais das crianças com muitas
expectativas e problemas familiares.

É um atendimento que requer mais paciência e pode


esgotar emocionalmente o psicólogo que não está
preparado.

●      Se a terapia for para casal também é necessário cautela. O


ideal é procurar por cursos específicos na área, por ser um
atendimento com grande sobrecarga emocional.
O manejo clínico e as devolutivas são muito cobradas nas 
sessões, por ser duas pessoas no setting clínico, passando
por um momento delicado.

Mesmo quando o atendimento for separado (existe a


probabilidade de acontecer durante a terapia de casal), o
psicólogo precisa saber lidar com as angústias de ambas
as partes.

●      Saber cobrar pelo serviço (não ter vergonha disso).


●      Ter uma rede de apoio com colegas de profissão, para
trocar experiências.
●      Saber dizer NÃO a situações dentro do consultório que
causam desconforto.
exemplo:  percebeu que o paciente ficou interessado em
você e não no seu serviço ou um paciente que não paga
regularmente.
●      Na maioria das vezes as pessoas estão fragilizadas quando
procuram terapia, é preciso cuidado para não tirar
conclusões rápidas.

exemplo: ‘’Meu paciente é muito introvertido e apático,


quase não fala durante a sessão, acho que ele tem
depressão, vou encaminhá-lo a um psiquiatra’’.

Às vezes com o decorrer da terapia, a pessoa revela estar


vivendo uma decepção amorosa e naquele período
encontra-se triste e apático.
Pode ser apenas um momento ruim, onde necessite de um
suporte emocional, não necessariamente está em
depressão.

●      Aprender com os  erros!


Nem sempre o dia de atendimento vai ser o melhor dia para
escutar o público. O paciente pode estar estressado e você
também, problemas podem estar acontecendo naquele
momento.
 
●      Talvez seja “chover no molhado” dizer isso, porém é sempre
bom relembrar para não comentar sobre  experiências
pessoais durante o atendimento.
Infelizmente muitos profissionais cometem esse erro e
atrapalham o andamento da terapia.
●      Evite comparações!

As vezes profissionais com ótimo potencial desistem de


trabalhar, porque não se sentem “qualificados” o suficiente. 
Com o tempo acabam gastando dinheiro em algum curso
famoso ou pós graduação, pela pressão social.
exemplo: Fazer um mestrado em qualquer linha da
psicologia, porque muitos colegas fizeram, mesmo sem
vontade de ingressar no meio acadêmico.

Contudo, precisamos ter em mente, que o psicólogo tem um


forte poder de intervenção nas mãos, e essa influência é exercida
diretamente na vida dos pacientes ou clientes.
A responsabilidade de escutar os inúmeros relatos de vida,
das mais diferentes pessoas, de qualquer classe social, etnia,
gênero, religião, filosofia de vida, enfim, dos mais variados estilos,
nos coloca em uma posição de “poder’’ e desconforto. Na clínica é
depositada a esperança de dias melhores, faremos diferença como
terapeuta  à medida que realmente nos importarmos com o bem
estar do paciente.

O psicólogo não carrega a mágica de sumir com os


problemas de ninguém, até porque o paciente irá descobrir que ele
pode caminhar para a sua autonomia e autocontrole. Entretanto é
função do psicólogo auxiliar no processo terapêutico, que pode ter
muitas angústias e também mudanças positivas.
As estratégias são as mais diversas no momento de clinicar,
porém cada psicólogo achará com o tempo o seu próprio jeito de
atender. É uma viagem solitária, subjetiva e fascinante.
Aproveite a jornada! :)
Abordagens Clínicas e Escolas da
Psicologia
 
As abordagens são as bases onde fundamentam-se as
diversas escolas da psicologia. Cada escola do pensamento teve
uma importante contribuição para o avanço e o entendimento da
psique humana.
As abordagens em psicologia têm vários caminhos de
atuação, e cada uma descreve o ser humano de uma maneira
diferenciada.
Não existe uma abordagem ‘’certa ou errada’’, sempre a
escolha da abordagem (seja pelo profissional ou cliente), irá
depender da cosmovisão de cada ser humano. É comum entre os
alunos de psicologia, no decorrer do curso, angustiar-se na hora de
escolher uma linha de tratamento, porque realmente a quantidade
de teorias apresentadas conflitam umas com as outras.

O critério de avaliação poderá ser feito ao longo do curso, e


também em qualquer outro momento da vida profissional. As
mudanças são bem-vindas e nem sempre sabemos ao certo onde
nos encaixamos.
Independente do ponto de vista escolhido, é bom lembrar
que a aplicação da clínica vai muito além de um conjunto de teorias.
Assim, estas são as principais linhas teóricas:

●      Behaviorismo
●      Psicanálise
●      Gestalt
●      Gestalt Terapia
●      Fenomenológica Existencial
●      Terapia Cognitivo Comportamental
●      Psicoterapia Corporal Reichiana
●      Humanismo
●      Psicodrama
●      Logoterapia
●      Psicologia Analítica Junguiana
●      Neuropsicologia Clínica
Behaviorismo
 
O fisiologista russo Ivan Pavlov foi uma grande influência
para a psicologia, e seus estudos inspiraram o trabalho de John
Watson, que no futuro seria o ‘’pai’’ do Behaviorismo Metodológico.

Pavlov elaborou a teoria do condicionamento clássico, que


marcou a história dos estudos do comportamento.

O Behaviorismo foi apresentado ao mundo no início do


século XX, e nasceu da necessidade de reconhecer a psicologia
como um método científico. As ciências que já existiam na época,
encaravam o saber da psicologia como uma área ainda sem
critérios de comprovação e objetividade.

O estudo do comportamento foi inaugurado pelo norte


americano John B. Watson, em um artigo publicado em 1913
intitulado: “Psicologia, como os behavioristas a vê’’.
Watson inaugurou não somente um conceito, mas uma
prática científica através de dados objetivos, em medidas, em
definições claras, em demonstração e experimentação.

A proposta desse método trouxe validações que consistem


em estudar o comportamento por si mesmo. Em oposição ao
mentalismo, que era ignorar fenômenos como consciência,
sentimentos e estados mentais, faziam também parte do seu
trabalho.

Watson foi o precursor nos estudos do ‘’Comportamento


reflexo’’, que caracterizam-se por ações involuntárias do corpo
humano. O foco dessas experiências era investigar os fenômenos
fisiológicos que poderiam ser observados, sem a interferência das
emoções e do pensamento. As bases do comportamento e suas
funções eram o objeto de estudo mais importante.

O Behaviorismo aprofundou suas perspectivas e começou


também a estudar as interações entre o indivíduo e o ambiente.
Depois de Watson surgiu outro importante behaviorista chamado B.
F. Skinner, que ficou mais conhecido pela criação do Behaviorismo
Radical.
Essa base teórica fundamentava-se como uma filosofia da
ciência do comportamento. Essa corrente não busca explicações
realistas ou de causa-efeito, e sim relações funcionais ou leis que
expressem sequências regulares de eventos, e que eventualmente
poderão ser descritas por funções matemáticas.

  Skinner desenvolveu o termo “Comportamento operante”,


que descreve-se como uma classe de respostas, ou seja, quando
nosso comportamento gera consequências. As consequências
podem reproduzir o   reforço positivo ou negativo, dependendo se
haverá a probabilidade da resposta ocorrer no futuro.

Em muitos casos, no senso comum (pensamentos e hábitos


que são aceitos pela maioria das pessoas), propaga-se a ideia que
o reforço positivo e negativo estão associados a algo bom e ruim,
porém para ciência nem sempre é assim. Podemos ver esses dois
exemplos bem simples:
●      O reforço negativo acontece quando, por exemplo, uma
pessoa está com cólica no estômago e resolve tomar um
remédio para aliviar a dor, é natural sentir vontade de
procurar rapidamente o medicamento, assim o estímulo
aversivo irá ser retirado do ambiente.
●      O reforço positivo acontece quando, por exemplo, uma
menina ganha um vestido novo e recebe um elogio dos
pais, sendo assim o estímulo foi acrescentado, e existirá
uma grande probabilidade de usar o vestido novamente.

Em ambas as situações houve um reforço, ocorreu  uma


aprendizagem para algo específico.
Skinner também criou outros métodos para compreender o
comportamento, tais como:
●      punição
●      extinção
●      fuga
●      esquiva
●      reforços primários
●      secundários
●      generalização
Psicanálise
 
Muitos foram os avanços que aconteceram no século XX,
dentre eles podemos destacar a teoria da Psicanálise, criada pelo
neurologista Sigmund Freud.

A teoria psicanalítica deu início a uma nova proposta de


atendimento, inovando e expandindo o modelo médico, até então
convencional da medicina.
O principal colaborador nas ideias iniciais de Freud foi
Joseph Breuer, médico vienense, mais velho que Freud e que já
realizava na Áustria pesquisas de tratamento para a histeria e
hipnose.

Os fenômenos histéricos foram a porta de entrada para os


estudos do Freud, que  caracterizavam-se por perturbações que
eram aparentemente físicas, porém sua gênese era psíquica.
As mulheres eram mais acometidas desse mal, e seus
sintomas paralisaram a coordenação de algumas funções do corpo,
tais como: braços, pernas, olhos entre outros problemas físicos.
Breuer introduz Freud em suas descobertas e envia-lhe pacientes
para serem tratados por esse novo método.

 
O método ficou conhecido como Análise (Método catártico),
também definido como ‘’A cura pela fala’’, onde Breuer já realizava
tratamento da histeria com a hipnose.
Determinar o conceito de “Inconsciente”, marca o início da
elaboração da Psicanálise. O atendimento clínico de Anna O., uma
jovem de vinte e um anos e com dotes intelectuais elevados, e que
sofria de um quadro histérico clássico: paralisias, perturbações dos
movimentos oculares, tosse nervosa, repugnância a alimentos e
apresentava algumas alterações psíquicas, trouxe uma grande
oportunidade para a evolução da Psicanálise.
As experiências traumáticas eram “retomadas’’ durante o
processo de hipnose, e o paciente não tinha consciência desse
estado. Geralmente o analista fazia suas avaliações e colhia as
informações descritas no relato do paciente. Os “Estudos sobre a
histeria’’ foram publicados por Freud e Breuer, em 1895 e
constituem os primeiros trabalhos de impacto sobre a Psicanálise.
A descoberta do inconsciente foi algo revolucionário para a
época, já que os modelos de tratamento não consideravam a
existência desses processos. A caracterização do inconsciente,
consciente e pré-consciente, formulou a primeira teoria do aparelho
psíquico. No inconsciente estão os conteúdos reprimidos, no
consciente está a percepção e o raciocínio e o pré-consciente estão
os conteúdos acessíveis à consciência.

Freud continuou seu trabalho e criou a segunda teoria do


aparelho psíquico que tinha três conceitos: id, ego e superego. A
partir desse momento é aprimorado os estudos de psicanálise, em
meados de 1920, e trouxe maior complexidade para a estrutura
psíquica.

No id se encontram as chamadas pulsões de vida e de


morte, é o reservatório de energia do indivíduo. É também
constituído por impulsos instintivos inatos que motivam a relação do
sujeito com o mundo.

O ego é a base intermediária entre o indivíduo e a realidade.


Ele atua como um regulador, e suas funções básicas são:
●      percepção
●      memória
●      sentimentos
●      pensamentos

O superego é responsável pela estrutura dos valores morais,


é um elemento necessário para o desenvolvimento dos grupos
sociais.

A grande descoberta sobre a sexualidade infantil trouxe para


Freud notoriedade e também muitas críticas. Os seus estudos
apontaram que o centro da vida psíquica era a sexualidade, e essa
notícia chocou a sociedade puritana da época.
Freud concluiu que a sexualidade existe desde o princípio da
vida, e assim ela vai construindo-se até chegar à fase adulta.
Muitos outros psicanalistas tiveram a influência de Freud,
mas criaram seus próprios conceitos, tais como: Carl Jung, Donald
Winnicott, Karen Horney, Melanie Klein, Alfred Adler, Jacques Lacan
entre outros.
A clínica freudiana utiliza o método da associação livre que,
segundo Freud, seria a forma mais efetiva do inconsciente
manifestar-se.
Esse método consiste em deixar o paciente dizer o que vem
a sua mente de maneira solta, despreocupada. É utilizado o divã
para a pessoa deitar, sem precisar olhar diretamente para o analista
(ou não, depende de cada terapeuta) onde suas ideias, sentimentos,
sonhos e resistências serão elaboradas no processo de análise.
Gestalt – fundamentos iniciais
 
Primeiramente é necessário introduzir a psicologia da
Gestalt, que surgiu em oposição ao Behaviorismo, campo que
imperava como o conhecimento de maior popularidade na época.

Muitas são as influências de teóricos que construíram o


pensamento da Gestalt e podemos apontar o psicólogo e filósofo
Franz Brentano, como uma grande contribuição para esse avanço.
Brentano iniciou sua carreira como teólogo católico e, em
1867 publicou um esboço da história da filosofia no âmbito da igreja
medieval. Seu interesse, entretanto, se fixou na filosofia de
Aristóteles, chegando à Psicologia através de um estudo intensivo
chamado de “anima”, que foi um texto do próprio filósofo Aristóteles,
no qual seguiu como seu padrão de procedimento científico.

Em sua linha de pensamento a Psicologia é definida como a


ciência dos fenômenos psíquicos. Brentano discordava da
introspecção de Wundt e defendia uma observação mais direta da
experiência na forma como ela ocorre, e propôs a Psicologia como o
estudo do ato da experiência.
Uma outra  grande influência para os fundamentos teóricos
da Gestalt, foi o psicólogo checo Max Wertheimer, que também
refuta o pensamento de Wundt, no qual constata que toda
experiência consciente é passível de análise em elementos
sensoriais.
A ideia  da Gestalt pode ser entendida através do conceito
de figura/fundo, onde podemos ver uma figura e ao mesmo tempo
observar o fundo misturar-se a ela. Dessa forma, na imagem
podemos observar variadas formas e figuras, tudo irá depender de
quem está olhando.

O fundo, as figuras, as pinturas e os desenhos, podem


ampliar a percepção e provocar variadas ilusões de ótica. Essa
matriz de conhecimento aponta para uma compreensão do
fenômeno da percepção, e ao mesmo tempo para a atribuição de
sentido, o que é percebido pela consciência. 
Essa subjetividade que o desenho pode manifestar no ser
humano, aponta para as bases da teoria da Gestalt, que diz assim:
“O todo de uma experiência pessoal difere da soma de seus
elementos constituintes”.

Max entendia que a organização perceptiva era bem mais


complexa, por esse motivo os estudos sobre a personalidade,
sensação e percepção também foram ampliados na Gestalt.

Para a fundação dessa teoria também  participaram os


psicólogos Kurt Koffka e  Wolfgang Kohler.
Gestalt Terapia
 
A Gestalt Terapia carrega algumas influências e diferenças
para com a psicologia da Gestalt, que foi criada pelo médico e
psicanalista alemão Frederick S. Perls.

A Gestalt Terapia tem influências da Psicanálise e da


Fenomenologia, porém as suas diretrizes de pensamento estão
mais próximas da valorização da realidade e da tomada de
consciência.
Perls iniciou sua carreira como psicanalista, e em 1940
migrou para os Estados Unidos, lançando a primeira publicação em
Gestalt Terapia.

Uma das importantes contribuições dessa abordagem refere-


se a visão holística do homem, o qual é concebido como um ser
biopsicossocial (constituição biológica, psicológica e social), sempre
em interação com o seu meio, ou seja, leva-se em conta não
apenas  o que acontece com a pessoa, mas também o contexto no
qual as circunstâncias ocorrem.
A ênfase que geralmente era feita no passado, agora é
focada no presente, e em lugar da interpretação normalmente
realizada pelos psicanalistas, surge um conceito novo chamado
"awareness" (consciência).
Essa ideia inicia a capacidade de aperceber-se dentro e fora
de si, no momento presente em nível corporal, mental e emocional.
É o caminho que o indivíduo necessita para a solução de problemas
e a organização emocional. 

A clínica da Gestalt busca compreender o fenômeno vivido


de um modo abrangente, porque geralmente a crise motivadora da
busca pela terapia, está atrapalhando as dimensões da existência
do indivíduo.
É sempre um olhar para o todo e não apenas para o
sintoma, e também a relação terapêutica é um vínculo importante a
ser trabalhado.
A empatia e o acolhimento são indispensáveis para a
formação de um bom relacionamento entre o psicólogo e o cliente.
Assim como existe um espaço aberto para a pessoa criticar as
observações feitas pelo terapeuta.

A Gestalt é uma abordagem que utiliza uma variada gama


de técnicas para os tratamentos, tanto individuais como de grupo.
Dessa forma, o trabalho corporal é muito necessário para a melhoria
dos sintomas e o equilíbrio psíquico.

A Gestalt tem um olhar diferenciado para compreender a


doença mental, e a noção de saúde é um conjunto bem mais amplo,
por ter influências da cultura oriental (Taoísmo e Zen Budismo).
Estamos em contato com o mundo o tempo todo, e somos
atravessados por ele, a forma como reagimos a qualquer situação
fará diferença, principalmente quando adoecemos. Desse modo, a
psicoterapia não é apenas uma trajetória reta de sintomas, doenças
e supressão de sintomas.
É importante entender o caminho que foi percorrido,
estabelecer uma conexão mais profunda consigo mesmo. Por esse
motivo existe na Gestalt o conceito de autorregulação, que é a
forma como o organismo relaciona-se com o mundo, é a capacidade
de  atualizar as experiências vividas.

Com essa percepção será possível acolher as 


necessidades, visando a recuperação da autoestima, da
assertividade e da resiliência.
Fenomenológica Existencial
 
A abordagem Fenomenológica Existencial tem suas ideias
iniciais na filosofia, que é a área de conhecimento muito ligada à
psicologia. O pensamento filosófico reflete as inquietações humanas
e o conhecimento da verdade / realidade em que vivemos.
A palavra “fenomenologia’’ vem do grego e significa o estudo
dos fenômenos da consciência, refere-se ao estudo  das
percepções mentais de cada ser humano. Os pressupostos da
filosofia construíram ao longo do tempo o que caracterizaria a
passagem do pensamento mítico para o filosófico – científico.
  A chegada do século XIX aprofundou as dúvidas sobre a
natureza humana e a vida psíquica, preparando o terreno para o
surgimento da fenomenologia moderna. As ciências, em especial a
Psicologia, trouxe contribuições importantes para a compreensão de
fatos e elementos sobre a natureza dos processos mentais.
O Existencialismo introduziu uma nova forma de  conhecer e
trabalhar o ser humano, e muitos teóricos constituíram essa base de
conhecimento.
Podemos mencionar alguns autores que foram importantes
para a Fenomenologia:

●      Soren Kierkegaard

Soren Kierkegaard é considerado o pai do Existencialismo,


foi um filósofo cristão nascido na Dinamarca. Sua obra foi marcada
pelos temas da fé, religião e angústia existencial. Sua filosofia
aponta para a  singularidade do indivíduo, para o subjetivismo e os
conflitos existenciais. Sua vida pessoal foi conturbada e as
experiências pessoais influenciaram sua escrita, que descrevem os
sentimentos humanos e analisam o sentido da vida.

Kierkegaard expressava abertamente a fé cristã em seus


textos, e reconhecia que a morte atormentava a consciência do
homem, esse sentimento de finitude gerava angústia. A inquietação
pessoal e a ironia também são características da sua escrita,
Kierkegaard escreveu textos com vários pseudônimos.
Seu trabalho é dividido em três momentos: estético, ético e
religioso, cada fase representa um período diferente da vida do ser
humano. Na fase estética o homem busca os prazeres
momentâneos, na fase ética o homem já busca uma vida ética com
o trabalho e família, e na fase religiosa o homem toma consciência
das suas escolhas e entra em confronto com o pecado. 

●      Edmund Husserl

Assim  também podemos destacar o importante filósofo e


matemático alemão Edmund Husserl, que  iniciou a Fenomenologia
Moderna. Husserl apresentou as suas primeiras obras no início do
século XX e suas teorias tiveram grande influência do filósofo Franz
Brentano.

A proposta de Husserl é o retorno ao ponto de partida que


seja verdadeiramente o primeiro, ele assim cria o conceito “voltar às
coisas mesmas”. A “coisa mesma” é entendida por ele não como
realidade existindo em si, mas como fenômeno, e o considera como
a única coisa a qual temos acesso imediato.
A consciência é sempre intencional, está constantemente
voltada para um objeto, enquanto este é sempre objeto para uma
consciência. Há entre ambos uma correlação essencial, que só se
dá na intuição originária.
Husserl cria um método para poder ter acesso ao fenômeno,
batizado por ele de ‘’Redução fenomenológica’’, onde é necessário
suspender todos os preconceitos, valores e crenças para ir de
encontro ao fenômeno da verdade.
A redução é o recurso da fenomenologia para se chegar ao
fenômeno como tal, como a sua própria essência. Pode ser
sintetizado em dois princípios: um negativo e outro positivo. O
negativo rejeita tudo aquilo que não é verificado e o positivo vai até
a intuição originária do fenômeno.

Sendo assim, a partir dessa compreensão, Husserl descreve


outro conceito chamado “Epoché”, que tem origem grega e significa
“suspensão”, é onde acontece a transcendência do pensamento.  
             

●      Martin Heidegger

  Martin Heidegger foi um filósofo alemão que, igualmente como


Husserl, contribui para as ciências da teoria existencialista do século
XX.
Heidegger tinha como seus objetivos de estudo os filósofos
Platão e Aristóteles e aos poucos foi se distanciando dessas bases
de pensamento, à medida em que acreditava que para refletir
acerca do ser, deve-se preservar a diferença entre ser e ente.
Assim, ele cria um conceito chamado : “Dasein”, que é
traduzido no português como a expressão: “Ser-aí”. Essa expressão
significa que o homem está lançado no mundo, cheio de
possibilidades.

A partir dessa análise, Heidegger começa a pensar na


ambiguidade da existência afirmando que o “ser-aí”, ao mesmo
tempo que possui escolhas, como por exemplo: se vai casar, se vai
ter filhos, se quer seguir essa ou aquela profissão, também não
escolhe a condição onde nasceu, quem foram os pais, se é pobre
ou rico.
Esse contexto foi importante para a criação de outra teoria
fenomenológica orientada para prática clínica chamada
“Daseinanalise”, desenvolvida pelo psiquiatra Medard Boss.
Boss era psicanalista e com o tempo foi sendo influenciado
pelas teorias de Heidegger, onde acreditava que o ser humano
busca o sentido para suas experiências, busca entender seu papel
no mundo.
●      Jean Paul Sartre

  Esse contexto daria insumo para as ideias  de Jean Paul


Sartre que, em meados do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial),
surge com o conceito que marcou a história do existencialismo: “A
existência precede a essência”.
Sartre afirmava que  o homem primeiro existe, ele não está
refém de uma natureza prévia, suas atitudes no mundo irão
construir seu caminho.  
O Existencialismo começou a ser mais difundido no fim da
Segunda Guerra Mundial. Nesse período a Europa estava
atravessando um período de escassez, fome, angústias e
desesperança.

O Existencialismo foi um conjunto de teorias que surgiu da


necessidade de expressar sentimentos, limpar as feridas e
encontrar algum sentido para o sofrimento. Foi por esse motivo que
ele cresceu de forma rápida e sua influência não ficou limitada
apenas em discussões acadêmicas. Além de ser um princípio
filosófico, o existencialismo passou a ser um estilo de vida.
A clínica Fenomenológica Existencial compreende o ser
humano com grande leque de possibilidades, onde ele define sua
própria existência, caminhando para sua busca de sentido. No
processo terapêutico pode ser trabalhado a tomada de consciência
e a autonomia para ressignificar as suas experiências, buscando o
entendimento de seus conflitos existenciais.

Outros autores tiveram participaram na construção da 


fenomenológica existencial, dentre eles podemos citar Rollo May e
Abraham Maslow.
Faz parte da fenomenologia o Movimento Humanista e o
Movimento Existencialista, e ambos têm suas raízes na filosofia.
Terapia Cognitivo Comportamental
 
A abordagem Cognitivo Comportamental teve seu início com
os estudos do psiquiatra Aaron Beck, em meados da década de
1960.

O nome Terapia Cognitivo teve sua origem através dos


processos e ferramentas que eram incorporados nas estruturas das
sessões com os pacientes.
Beck era um renomado psicanalista e acreditava que os
fundamentos do seu trabalho necessitavam de uma validação
científica para serem apresentados à comunidade médica.
Foi através desses estudos, em especial com pacientes
depressivos, que o levou a desenvolver um tratamento de curta
duração, mais objetivo e que apresentasse uma melhor eficácia.
Beck modificou a estrutura e o modelo da psicoterapia,
sendo agora direcionada para o presente e para a solução de
problemas.
O modelo cognitivo era focado na modificação de
pensamentos e comportamentos disfuncionais (pensamentos
negativos, destrutivos). Essas adaptações alteraram o foco, as
técnicas e a duração do tratamento, fazendo o processo de
psicoterapia ter maior sucesso.

A Psicanálise, que geralmente era o formato  comum entre


as terapias com pacientes em depressão, era um processo de
extensa duração e, segundo Beck não, estava levando a resultados
satisfatórios.

O método clínico da Terapia Cognitiva consiste em elaborar


junto ao paciente o trabalho de identificar, examinar e corrigir as
distorções do pensamento que causam angústia para o paciente.
As bases teóricas da TCC apontam que nossas emoções e
comportamentos são diretamente influenciados por nossos
pensamentos. Os eventos que vivenciamos (situações), promovem
a ativação do pensamento, gerando uma consequência, uma
resposta emocional e em decorrência afeta o comportamento.

A depressão foi o primeiro teste para a aplicação da Terapia


Cognitiva, porém ela se integra para todos os outros transtornos,
tais como: Dependência Química, Transtorno de Ansiedade,
Transtornos de Personalidade, Transtorno Bipolar, Transtornos
Alimentares, Ideações Suicidas, entre outros.

As distorções cognitivas ou distorções do pensamento fazem


o indivíduo chegar a conclusões equivocadas sobre si mesmo e
sobre o mundo a sua volta. Quando uma pessoa consegue tornar
seu pensamento mais realista e saudável, existe uma melhora
significativa em seu estado emocional e em consequência seu
comportamento é afetado.

Beck, em sua observação clínica com seus pacientes, criou


esse modelo teórico e prático para entender a mente deprimida.
A forma como a pessoa interpreta a sua realidade é bem pior
do que os fatos em si, ou seja, seu julgamento tem uma grande
probabilidade de estar influenciado pelas suas emoções.
Os pensamentos automáticos foram outra descoberta de
Beck, onde ele observava que as pessoas tinham a tendência a
acreditar em suas primeiras conclusões e não questionar isso. Um
exemplo bem simples de pensamentos automáticos, para podermos
entender:

Uma mulher entrou em uma loja e pediu para provar um


vestido, a vendedora demorou a responder… logo o pensamento
automático poderá entrar em ação: “Essa vendedora é arrogante!’’
Essa situação é bem comum, o primeiro pensamento da
mulher é quase sempre negativo, tem uma tendência em
menosprezar a si mesmo ou aos outros, fazendo avaliações
baseadas em suas próprias crenças.

Na realidade a vendedora poderia:

●      Estar doente ou acabado de voltar do médico


●      Estar de mal humor
●      Poderia estar preocupada com o filho na escola
●      Estar sendo mal tratada no ambiente de trabalho
●      Estar infeliz com a profissão
●      Estar sem óculos naquele dia
●      Poderia ser seu primeiro dia de trabalho
●      Poderia ter brigado ou discutido com alguém, momentos
antes do cliente entrar
São milhares de suposições que poderiam estar
acontecendo naquele exato momento, porém o pensamento
escolhido é o mais distorcido, negativo.
Quando não avaliamos racionalmente a situação, podemos
cometer esses erros e sofrer desnecessariamente, ruminando esses
pensamentos.
A TCC tem em sua perspectiva a visão positiva do ser
humano, considera a capacidade de analisar o pensamento através
da racionalidade, e a capacidade para trabalhar no presente.
A psicoterapia em TCC é um trabalho colaborativo, sendo
assim o paciente é atuante nas sessões, fazendo os exercícios
propostos pelo psicólogo e dando feedbacks ao terapeuta em como
está se sentindo.
Continuamente a TCC emprega estratégias cognitivas e
comportamentais para o paciente focar suas energias nos aspectos
saudáveis da sua vida e em suas metas pessoais, priorizando seu
bem estar.
Psicoterapia Reichiana
 
Wilhelm Reich foi um psicanalista austríaco que iniciou suas
bases de estudo primeiramente com psicanálise, e com o tempo
começou a criar sua própria teoria, chamada Análise do Caráter.

Reich cresceu em um contexto familiar  conturbado, onde


sofreu com os trágicos eventos familiares, com o falecimento de sua
mãe acometida pela terceira tentativa de suicídio, e em seguida com
o falecimento do seu pai que morre de tuberculose. As condições
financeiras de sua família ficaram insustentáveis e com apenas 17
anos, Reich assumiu o controle da fazenda de sua família.
Com o passar do tempo, depois de passar por muitas
privações financeiras e dependendo da ajuda de parentes para
sobreviver, Reich consegue se mudar para Viena onde se matricula
na faculdade de direito. Em alguns meses, seu interesse pelo curso
foi diminuindo, até se encontrar realmente na área da medicina,
onde concluiu seus estudos.

A Psicanálise estava em um momento de grande eclosão na


sociedade e as teorias freudianas receberam a atenção especial de
Reich.
O interesse pela Psicanálise foi acabando, à medida que
suas formulações sobre a sexualidade ficaram diferentes das do
Freud e com os fracassos dos casos analíticos.

Reich desenvolveu três principais teorias:


●      Análise do Caráter
●      Vegetoterapia Caractero-Analítica
●      Orgonoterapia

As condições  do desenvolvimento da civilização humana é o


alvo das críticas de Reich, a forma neurótica como o homem se
relaciona com o próprio corpo, indica as circunstâncias patológicas
em que a sociedade se organiza.
A sexualidade foi um assunto bem presente em sua obra, o
posicionamento político de Reich  também causou bastante
polêmica e muitos problemas para sua vida profissional e pessoal.
Em sua teoria a Análise do Caráter, é introduzido o trabalho
corporal pela avaliação das “couraças musculares”, onde seria
depositada a energia dos conteúdos inconscientes, em
determinados pontos da musculatura humana. As tensões geradas
pelo corpo  tornaram-se processos neuróticos que ficam registrados,
em anéis de tensão. Através da manipulação do corpo de seus
pacientes, Reich encontrava uma forma de identificar as couraças
pois, segundo ele, os conteúdos inconscientes poderiam ser
liberados.

Em suas pesquisas a energia sexual era um elemento


importante a ser investigado, no qual foi chamado de ‘’orgone’’
(energia vital). Essa energia, segundo Reich, estava contida em
toda a natureza.

A pesquisa sobre a energia sexual se intensificou, e, em


meados dos anos 1940, já vivendo nos Estados Unidos, Reich
desenvolveu um aparelho para capturar a energia do “orgone” e
aplicá-la em seus pacientes. Esse experimento causou polêmica, e
foi proibido de ser realizado pelo governo norte americano.
Reich foi preso e faleceu de ataque cardíaco dentro da
prisão, em 1957.

Até hoje os métodos utilizados por Reich causam


convergências e divergências no meio científico, existem teorias que
apontam como eficaz os tratamentos com o “orgone”, porém
também existem efeitos colaterais envolvidos.
Independente disso, a clínica reichiana tem muitos efeitos
terapêuticos e ainda hoje estudantes de psicologia aderem a seu
modelo de psicoterapia.
Humanismo
 
A Corrente Humanista tem suas raízes nas experiências
clínicas do psicólogo norte americano Carl Rogers.
Rogers em 1951 publicou o livro “Terapia Centrada do
Cliente”, no qual continha sua primeira teoria formal sobre a terapia,
sua teoria da personalidade e algumas pesquisas que reforçam
suas conclusões. A premissa essencial das descobertas de Rogers
é que as pessoas usam suas experiências para se definir. Há um
campo de experiência único para cada indivíduo, este campo de
experiência ou campo fenomenal contém tudo que se passa no
organismo em qualquer momento, e que está potencialmente
disponível à consciência.
A teoria humanista aproxima a relação cliente e terapeuta, e
torna o processo de psicoterapia mais humanizado, partindo do
principio da aceitação incondicional.
O compromisso é com uma visão de homem que orienta e
estabelece a saúde psíquica, e assim promove o melhor
desenvolvimentos de suas potencialidades.
O foco da terapia não está orientado no terapeuta e sim no
cliente, essa inversão de valores trouxe admiração e ao mesmo
tempo críticas ao seu trabalho.
A própria palavra “cliente” foi outra mudança de paradigma,
já que Rogers defendia que o olhar em relação à clínica deveria ser
menos estigmatizado. A palavra “paciente”, para ele, remetia uma
pessoa doente, que necessita de cuidados e não poderia responder
por si. Rogers começou a utilizar o termo “cliente” para se referir às
pessoas que faziam terapia com ele, dessa forma acreditava-se que
o tratamento era mais próximo e respeitoso.

Umas das críticas feitas pelo Movimento Humanista, em


especial à Psicanálise e ao Behaviorismo, era a forma como o
cliente era visto. O modelo terapêutico humanista partia do princípio
que a empatia deveria ser a base principal para o sucesso e o bem-
estar da relação terapeuta/cliente. A empatia é a capacidade de
entender as emoções e compartilhar a experiência de outra pessoa,
compreendendo-o de forma presente e sensível.
Existe no momento um conjunto de habilidades no qual a
empatia faz parte, que estão sendo alvo de estudo por cientistas
dentro da psicologia e da psiquiatria, é chamada de “Inteligência
Emocional”. É de reconhecimento mundial que essas competências 
emocionais, quando praticadas, conseguem melhorar
potencialmente a qualidade de vida de um indivíduo, ou  qualquer
esfera de relacionamento. A saúde mental está diretamente ligada
aos aspectos da empatia, pessoas mais empáticas têm mais
facilidades de resolverem conflitos, de serem mais positivas e
gratas.

Rogers também afirma que “ouvir” é um contato importante,


é preciso realmente estar atento ao outro para poder escutá-lo, e
isso é  um enriquecimento de vida. Podemos então dizer que se o
terapeuta não esta disposto a escutar, não houve enriquecimento,
assim não houve contato, e se não houve contato, não ouviu. Ouvir
é uma qualidade muito rara, dificilmente estamos abertos a fazer
essa tarefa. Por esse motivo Rogers enfatiza tanto esse recurso, por
que a disposição de ouvir e se colocar no lugar do cliente fará toda a
diferença no processo terapêutico.
O “self” é uma nomenclatura criada por Rogers para
designar um campo de experiência interna. Essa entidade se
configura como uma Gestalt, cuja significação vivida é suscetível de
mudar sensivelmente. O “self” é uma Gestalt organizada e
consistente, num processo eterno de formar-se à medida que as
situações mudam. 
O “self ideal” é o indicador de desconforto e dificuldades
neuróticas assim descritas por Rogers: “É o conjunto de
características que o indivíduo mais gostaria de poder reclamar,
como descritivas de si mesmo”. Dessa forma quando aceitamos
exatamente como somos na realidade, e não como queremos ser, é
um indicador de saúde mental. O “self ideal” pode se tornar um
obstáculo para o indivíduo, fazendo ele fugir da realidade.

Rogers identifica a incongruência como uma diferença entre


a tomada de consciência, a experiência e a comunicação desta. A
falha na comunicação dos sentimentos verdadeiros é o sinal da
incongruência.
Muitas pessoas têm dificuldades em dizer realmente o que
sentem, e transmitem a ideia de que está “tudo bem”, mesmo não
sendo a realidade. Alguns comportamentos podem demonstrar que
o grau de incongruência em uma pessoa está acentuado, como a
ansiedade, irritação e tensão, medo, angústia ou sarcasmo.

A congruência se configura como um elevado grau de


exatidão entre a experiência da comunicação e a tomada de
consciência. É no estado de congruência que podemos conectar a
experiência com o que queremos realmente transmitir. Quando
essas esferas estão em sintonia, segundo Rogers, é onde podemos
expressar nossos sentimentos e emoções de forma mais coerente e
sincera.

Portanto a clínica Rogeriana foi inovadora na sua forma de


enxergar o ser humano em direção a um crescimento saudável,
apostando em seu desenvolvimento pessoal.
Psicodrama
 
O Psicodrama foi um método de psicoterapia coletiva criado
pelo médico austríaco Jacob Levi Moreno, aproximadamente no ano
de 1921. A palavra “psicodrama” significa a dramatização de uma
psicoterapia em grupo e a observação dos fenômenos psicológicos
envolvidos, aliada a aos experimentos e técnicas do teatro.

Moreno iniciou sua carreira em medicina e logo depois


começou seu interesse pelo teatro e as improvisações que
aconteciam no palco. Assim encontrou a possibilidade de unir a
terapia de grupo com as artes dramáticas e criou um novo formato
de psicoterapia, na qual ficou conhecido como “teatro terapêutico”.
O psicodrama carrega em sua essência a inversão dos
papéis sociais, sendo assim é a partir do olhar do outro que
podemos enxergar a realidade dos fatos.
A vida em sociedade molda a forma como vivemos e constrói
condutas que nem sempre são espontâneas. Somos ‘’forçados’’ a
representar papéis sociais que não condizem com nossos
verdadeiros sentimentos. Logo, é  necessário na situação
terapêutica, o indivíduo ou o grupo, estarem livres para representar
papéis que gostariam de viver ou situações que gostaria de tratar,
utilizando o palco como instrumento psicodramático.
No Psicodrama os papéis sociais são representados de
maneira cômica ou trágica. Ele possui o conceito de
espontaneidade, criatividade, em virtude do jogo dos papéis
realizados nas sessões de psicoterapia.

Moreno cria uma nomenclatura chamada “tele’’, que significa


a capacidade de se perceber de forma objetiva, e perceber o mundo
ao seu redor. A “tele” se define como um “insight” sobre algo, ou
uma “avaliação a respeito” de sentir as características de outra
pessoa. A “tele”, para Moreno, torna-se a base de toda terapia
adequada e toda relação humana saudável.
Moreno aponta que o diretor é o elemento fundamental no
teatro do Psicodrama. Ele tem a função de instigar o indivíduo a se
resgatar, exorcizar sofrimentos e encontrar seu caminho. Diante
disso existe o conceito de  “catarse” inspirado pelo filósofo
Aristóteles, que foi uma grande influência na criação do teatro
psicodramático, assim como a socionomia (estudo das relações
humanas) e o teatro grego.

As fases do psicodrama são:

●      A fase inicial é chamada de aquecimento, onde se prepara


o clima do grupo, e é decidido um tema e um protagonista.
●      O segundo momento é propriamente a cena dramática,
onde os egos-auxiliares são  encarregados de encarnar os
personagens que o paciente não pode fazer, por exemplo:
os personagens reais, fantasiosos, aspectos do paciente
entre outros.
●      A terceira fase é o momento de compartilhar a experiência
de análise, onde o grupo devolve as práticas e sentimentos
que ocorreram durante a cena.
As técnicas psicodramáticas se constituem em:
cenário, protagonista, diretor, egos-auxiliares e público.

Moreno também aponta para a importância do


“amor terapêutico” no processo de psicoterapia, que seriam
as descobertas entre o paciente e terapeuta, e é onde
acontecem os insights do presente, passado e futuro.
Esses são os verdadeiros focos de atenção de uma terapia
bem-sucedida.
Nessa abordagem  o sujeito interage com o seu terapeuta e
com o ego auxiliar, interpretando sua própria vida, vivenciando seus
papéis e os papéis das pessoas com quem mantém vínculo do seu
cotidiano.

Uma técnica bastante utilizada pelo Psicodrama, pela


Gestalt Terapia e a TCC (Terapia Cognitivo Comportamental) é o
“role playing”, que consiste em uma troca de papéis entre o
psicólogo e o paciente, imitando alguma situação real ou alguma
pessoa.
Logoterapia
 
A Logoterapia foi fundada pelo psiquiatra austríaco Viktor
Frankl e em sua teoria a angústia existencial é o centro das
frustrações e neuroses humanas.

Frankl formulou o que seria a Logoterapia quando foi


sequestrado e refém em um campo de concentração nazista na
Segunda Guerra Mundial. Sua história de vida foi marcada por uma
tragédia familiar e existencial, em que vários membros da sua
família foram levados a prisões nazistas, incluindo sua esposa, que
veio a falecer em decorrência do holocausto. 
Sua caminhada profissional começou com a Psicanálise,
onde Frankl se correspondia com o próprio Freud e o conheceu
pessoalmente. Com o tempo foi criando e aprimorando suas
próprias teorias, muito inspiradas nas suas vivências profissionais
com pacientes suicidas.
A busca do sentido da vida é a energia mais profunda que
constitui o ser humano, é nessa ênfase que se baseia a
Logoterapia.
O vazio existencial é um fenômeno mundial difundido no
século XX, esse vazio se manifesta geralmente em um estado de
tédio, falta de propósito e angústia.
Pessoas das mais diferentes faixas etárias podem manifestar
esses sintomas. Esses problemas estão  tornando-se crônicos, uma
vez que a vida moderna está cada vez mais mecânica. Na
atualidade podemos associar problemas sociais que causam
impactos negativos, tais como: assassinatos, feminicidios, pedofilia,
violência no transito, desemprego, fome, fake news entre e outros -
e também aos transtornos mentais que alteram as emoçoes e o
comportamento, como por exemplo:  depressão, ansiedade, fobias,
transtornos alimentares, bullying, ciberbullying, nomofobia
(dependência tecnologica), dependência química, ideais suicidas,
transtornos de personalidade, entre outros.

Muitos desses elementos na sociedade,  potencializam o


medo e a instabilidade emocional, levando a humanidade a um
amargo questionamento: ‘’Estou vivendo por que? E para que?”.
Portanto, essa falta de propósito pode afetar em cheio as
emoções de qualquer ser humano e adoecer a mente e o corpo. A
vida traz problemas difíceis de enfrentar. Para muitas pessoas, a
angústia é uma experiência cotidiana. Algo que sinaliza o tempo
todo o senso de inadequação com o mundo. Uma frustração com a
profissão, com a família, com a maternidade, o ódio do próprio
corpo, o medo de sair de casa, um relacionamento abusivo, um
assédio sexual, maus tratos na infância, entre outros. São milhares
de formas onde o vazio e angústia tem a capacidade de criar raízes
e não podemos subestimar o seu alcance.

Existem ainda diversas máscaras e disfarces sob os quais


transparece o vazio existencial. Pessoas em uma busca frenética
por poder, por dinheiro ou pela eterna juventude, às vezes estão 
apenas tamponando suas carências afetivas. A procura pela
identidade e pela aceitação pode levar o ser humano a mendigar
seus propósitos existenciais  e esgotar o prazer de viver. Dessa
forma podemos observar que o sentido da vida, pode se perder ao
longo do caminho, levando muitas pessoas a viver de forma infeliz e
apática.
A missão de descobrir o sentido da vida é um desafio porque
ele é individual, e também o sentido de realização pessoal pode
mudar ao longo da vida. O senso de responsabilidade é um princípio
categórico na Logoterapia, assim, o paciente é quem decide e deve
interpretar a tarefa de sua vida, como sendo responsável perante a
sociedade e sua própria consciência.
O sentido, segundo Frankl, jamais deixa de existir, faz parte
da natureza humana. A Logoterapia se apoia em três princípios:

●      Liberdade de vontade


●      Vontade de sentido
●      Sentido de vida

Frankl acreditava que através do trabalho o ser humano


poderia não somente tirar o sustento, mas também buscar
realizações. Na Logoterapia a atividade laboral assume um papel
importante, unindo prazer, completude e sentimento de utilidade.

O sentido do amor se caracteriza como a única maneira de


capturar outro ser humano no íntimo de sua personalidade, essa
experiência pode ampliar as potencialidades de cada pessoa. Na
Logoterapia o amor não é entendido como mero efeito colateral do
sexo, mas o sexo é um meio de manifestar a experiencia da união
chamada amor.
Outro ponto ressaltado em sua teoria é a busca do sentido
em relação às situações de sofrimento. A vida pessoal de Frankl
reflete na prática essa afirmação. A dor em muitos casos é o mais
difícil de ser respondido e de ser superado. No entanto, podemos
encontrar o sentido na vida quando nos confrontamos com uma
fatalidade que não pode ser modificada.

Frankl, que em meio a sua condição de morte iminente,


resolveu ressignificar a sua experiência. A atitude frente ao
sofrimento não necessariamente nos coloca como reféns, a
Logoterapia aponta sempre para o livre arbítrio.
Mesmo se a situação for desfavorável, sempre teremos
como decidir, e a dor dessa forma poderá ter um sentido. Assim, diz
o próprio Frankl: “Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma
coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância
da vida”.
No campo de concentração ele começou a escrever esboços
sobre a Logoterapia, e assim manteve a fé que um dia sairia
daquele lugar e contaria ao mundo o que aconteceu. Seus escritos
se perderam, mas suas ideias não!
A clínica na Logoterapia tem influências da Fenomenologia
Existencial. As ideias de Frankl são muito utilizadas em casos de
depressão, suicídio, luto e outros transtornos mentais. Portanto
torna-se um ótimo recurso terapêutico para ajudar os pacientes a
encontrar motivação para viver.
Psicologia Analítica Junguiana
 
Carl Jung iniciou sua carreira ao lado de Freud seguindo os
pilares da Psicanálise e, com o tempo, elaborou suas próprias
teorias a respeito da psique humana.
Freud acreditava que Jung iria seguir seus passos,
continuando na sociedade de Psicanálise, porém ambos já tinham
suas discordâncias que foram crescendo com o tempo. Freud fixava
suas bases na sexualidade humana, enquanto Jung discordava de
suas ideias, afirmando que o inconsciente era algo bem mais
complexo, assim como a personalidade.
A personalidade de acordo com a Psicologia Analítica é o
sinônimo da dimensão psíquica, em sua totalidade. Desta forma,
Jung trouxe características importantes para que pudéssemos
entender a dinâmica da personalidade. Dentre essas estruturas
podemos destacar: o self, o inconsciente, o inconsciente coletivo,
inconsciente pessoal, sombra, anima, animus, arquétipos, ego e
persona.
 
Para Jung, o “Self” ou si mesmo, é o ordenador dos
processos psíquicos, integra e equilibra todos os aspectos do
inconsciente, é uma imagem arquetípica do potencial mais pleno do
homem, seria a sua completude.

O simbolismo das mandalas, muito utilizado por Jung,


demonstra essa transformação psíquica, é o processo para o
crescimento, para a centralização e individualização. Dessa forma o
ser humano caminha para encontrar a sua própria essência.

As influências de várias outras ciências, tais como


antropologia, biologia, sociologia, arqueologia, história e artes,
dialogam com a teoria junguiana trazendo um entendimento mais
diverso da existência humana.
A arteterapia foi uma descoberta importante para o
tratamento de transtornos mentais criado por Jung, onde ele
acreditava que o inconsciente manifesta-se através das pinturas e
desenhos, em especial as mandalas.

Uma das teorias mais famosas de Jung é o inconsciente


coletivo, ele é apontado como uma herança em comum com toda a
humanidade, está conectado em uma grande rede psicológica de
sentimentos em alguma parte inconsciente da mente.

A criação dos arquétipos feita por Jung são imagens e


símbolos com a função de compreender a alma humana. Tem
conexões com mitos, religiões e tradições antigas que explicariam o
sentimento de cada povo. Por exemplo, para os cristãos o símbolo
da cruz representa Jesus Cristo e sua Divindade, é um arquétipo da
fé.

No Brasil a psiquiatra Nise da Silveira começou a utilizar as


técnicas de arteterapia para o tratamento de pacientes psiquiátricos
institucionalizados. Nise viu tanta relevância terapêutica no
tratamento que se correspondeu por cartas com Jung e, a convite
dele,  participou do II Congresso de Psiquiatria de Zurique na
inauguração da exposição do Museu do Inconsciente.
A psicologia e psiquiatria brasileira seriam para sempre
marcadas pela teoria junguiana, que acreditava em um tratamento
mais humanizado aos pacientes, principalmente aqueles acometidos
com esquizofrenia. Nise foi precursora da luta antimanicomial e
lutou por toda a vida contra a estigmatização da loucura e a
desumanização que acontecia dentro dos manicômios.

A clínica junguiana trabalha aspectos importantes como o


autoconhecimento, visando o resgate da autonomia e mudanças de
paradigma. Reconhecer as fraquezas é um processo difícil, assim
como também é necessário reconhecer as qualidades. Esse
equilíbrio é o caminho para a chamada ''transmutação mental’’, onde
o indivíduo busca um mergulho mais profundo nas suas questões
existenciais e também espirituais. Nessa psicoterapia podem ser
trabalhados aspectos inconscientes do ser humano de forma mais
ampla.
Podem ser utilizadas análise de sonhos, análise da
personalidade, desenhos, pinturas e variadas formas de arte para
ajudar o paciente diante do sofrimento psíquico.
Como diria Jung : “A vida acontece num equilíbrio entre
alegria e a dor.”
 

 
 
Neuropsicologia Clínica
 
A Psicologia percorreu um longo caminho para desenvolver
tratamentos que pudessem ajudar o maior número de patologias e,
com o surgimento da Neuropsicologia, foi possível atender um
público com demandas específicas.

A Neuropsicologia nasceu da necessidade em aprofundar os


estudos entre a cognição, o sistema nervoso central e o
comportamento humano. Os conhecimentos nessa área foram uma
construção que teve o apoio de vários cientistas, na maioria
médicos e psicólogos. Podemos destacar como grandes
influências:  o médico Paul Broca, o psiquiatra Carl Wernicke e os 
psicólogos Leon Vygotsky e Alexander Luria. Broca e Wernicke
foram pioneiros com os estudos de pacientes com afasia, que
caracterizava-se por distúrbios  na linguagem.
As lesões nas áreas corticais de associação responsáveis
pela linguagem formam as afasias motoras (afasias de Broca), onde
a pessoa é capaz de entender a linguagem falada, mas tem
dificuldade de se expressar , tanto falando, quanto escrevendo. Nas
afasias de Wernicke existe uma dificuldade na compreensão e na
expressão  da linguagem, são também chamadas de afasias
sensitivas. As descobertas com esses pacientes marcou o período
localizacionista, onde buscava-se uma correlação entre regiões
específicas do cérebro e os sintomas clínicos.
O psicólogo Leon Vygotsky é considerado o fundador da
Psicologia Sócio-Histórica, ele aprofundou os estudos sobre a
linguagem e trouxe uma maior compreensão sobre o sentido das
palavras e seu impacto psicológico na consciência.

Já Alexander Luria é o ‘’pai’’ da Neuropsicologia moderna.


Luria fez sua teoria embasada em três pilares centrais das funções
corticais:
●      Plasticidade
●      Sistemas funcionais dinâmicos
●      Perspectiva a partir da mente humana

Suas pesquisas influenciaram os campos da avaliação e


reabilitação neuropsicológica e a neuropsicologia cognitiva.
Mais conhecida por ser uma interface da Psicologia e a
neurociências, a Neuropsicologia, com a chegada do século XXI,
expandiu sua atuação em diagnóstico e instrumentos de avaliação.
Na atualidade existe uma vasta quantidade de baterias de testes
que ajudam o neuropsicólogo a avaliar patologias, traçar planos de
reabilitação e promover qualidade de vida aos seus pacientes.

A  busca por esse profissional acontece diante da


necessidade de uma investigação das funções cognitivas do
cérebro. Dessa forma é avaliado as alterações que estão ocorrendo
no comportamento, nas emoções e no humor, respeitando o nível
cultural e social do paciente.
As funções mais investigadas, geralmente são:

●      Memória
●      Atenção
●      Linguagem
●      Percepção
●      Concentração
●      Personalidade
●      Inteligência

São levadas ao consultório do neuropsicólogo queixas que


estão ligadas ao quadro de doenças, como por exemplo: Alzheimer,
doença de Parkinson, outros tipos de demências, esquizofrenia,
TDAH, transtorno bipolar, transtornos de personalidade, autismo,
transtorno de ansiedade, depressão e também lesões que possam
ocorrer devido a acidentes (traumatismo craniano, por exemplo) que
tenha afetado alguma área ou mais áreas do cérebro.
Na avaliação são feitas entrevistas, anamneses, testes e
análises psicométricas para medir o curso da doença.

A reabilitação neuropsicológica é um tratamento que


complementa o trabalho da avaliação. Assim, será possível
promover a saúde do paciente e controlar a progressão da doença.

São utilizadas estratégias de reabilitação cognitiva para


restaurar a função comprometida ou contornar os danos que a
doença provocou. Também pode ser aplicado o treino cognitivo, que
são atividades com jogos e exercícios que estimulam a memória, a
atenção e a linguagem.
A psicoeducação é outra importante ferramenta, que
consiste em um trabalho conjunto com a família e o paciente, dando
informações e traçando metas para minimizar o impacto dos
sintomas. É necessário explicar  as limitações do paciente. É função
da reabilitação  acolher as dúvidas e sentimentos de
inconformidade, raiva e tristeza que podem acontecer durante esse
período. Buscar a colaboração de todos os envolvidos será um
grande benefício, para a família que tem um parente com uma
patologia ou lesão neurológica.
O Futuro da Psicologia Clínica
 
As psicoterapias estão em evolução o tempo todo, muitas
abordagens mantém suas raízes e a ciência está a cada dia
trazendo novas descobertas.

A sociedade está mudando rápido, e com isso mudaram


também as necessidades do público.

A tecnologia tem influenciado o formato da clínica e trouxe


modificações para o campo de trabalho. A psicoterapia online tem
sido um modelo bastante utilizado nos últimos anos, principalmente
durante a pandemia de 2020. O isolamento social afetou
consideravelmente a vida da população, que repentinamente foi
obrigada a experienciar uma quarentena e se adaptar a uma nova
forma de vida.

A psicoterapia online está configurando-se uma maneira


prática e inovadora de atendimento, pela qual o público pode ter
acesso a um terapeuta no conforto de sua casa ou em qualquer
outro local. Os estados de  ansiedade e depressão foram as queixas
mais frequentes dentro desse cenário de pandemia, porém muitos
outros problemas foram evidenciados. Com o crescimento dos
casos do coronavírus (COVID-19), houve aumento de:  divórcios,
violência doméstica, fobias, TAG (Transtorno de Ansiedade
Generalizada), TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), TEPT
(Transtorno do Estresse Pós-Traumático), Transtornos no Impulso
(dependência tecnológica, dependência por comida, compras
compulsivas, automutilação) e o avanço também das condições de
risco para ideações suicidas, principalmente entre adolescentes e
idosos.

Um psicólogo americano chamado Adam Grant criou um


termo intitulado “Languishing”, que significa uma apatia, um
definhamento, que são as sensações de mal estar provocadas pela
pandemia. Segundo Grant não é a mesma condição da depressão,
porém são notadas emoções negativas que interferem na saúde
mental.
Sendo assim  o psicólogo foi um profissional importante em
tempos de coronavírus, para: auxiliar pais e crianças, elaborar o
luto, saber lidar com o confinamento, diminuir conflitos familiares,
tratar transtornos mentais, dar suporte emocional, diminuir sintomas
de angústia e ansiedade e muitas outras atribuições.
Os desafios do psicólogo clínico encontram-se em um
mundo cada vez mais desumanizado e cheio de desesperança. A
era líquida chegou, como disse o sociólogo Zygmunt Bauman, as
relações humanas estão intermediadas pelo computador e suas
facilidades. A era digital mudou para sempre os relacionamentos,
assim Bauman descreve: “Seria imprudente negar ou subestimar a
profunda mudança que o advento da modernidade fluida produziu
na condição humana”.
  De forma nenhuma podemos negar os benefícios que a
modernidade gerou, porém, a sociedade como um todo, está
lidando mal com os efeitos colaterais desse progresso.
A vida moderna está condicionando as pessoas a ficarem
presas dentro de seus apartamentos, sedentárias, com uma
alimentação deficitária ou viciada, com poucas habilidades sociais,
procurando informações rápidas (que é diferente de conhecimento),
com uma overdose de notícias acumuladas, sendo a internet um
dos poucos veículos de comunicação com o mundo.
Esquecemos que existem parques, bibliotecas, teatros,
museus, instrumentos de música, saraus de poesia, esportes,
encontros com amigos, com a família, que podemos usar o telefone
para  fazer uma chamada, porque até as mensagens de texto
facilitaram a nossa apatia, aumentaram a distância. Precisamos
estar mais próximos e praticar a vida real, precisamos exercitar a
empatia para enxergar o valor do que realmente importa. 
Esse cenário está afetando todas as gerações, estamos
todos expostos e precisamos a cada dia saber filtrar as informações
que são consumidas. Infelizmente uma parte do público acaba
utilizando a internet de forma inadequada, como por exemplo:
Ofender pessoas, propagar fake news, propagar preconceitos,
praticar bullying, aumentar o consumo de produtos desnecessários
estimulado pela ansiedade, ficar horas na frente do celular e vários
outros problemas que diminuem a saúde mental.
É claro que não podemos generalizar, existem muitas
pessoas conscientes e que usam as redes sociais de forma
saudável, porém a sociedade moderna está cada vez mais ansiosa
e perdida em seus conflitos emocionais.

O desafio do psicólogo está em dar conta dessas gerações


futuras e da população que já está em crescente envelhecimento,
principalmente no Brasil. Entender suas queixas, suas fragilidades,
suas necessidades e seus medos frente a um mundo moderno, que
carrega uma “alma” antiga.
Independente da época em que vivemos, somos todos
humanos, precisamos entender nossas questões, encontrar
acolhimento para superar os desafios e alcançar a paz.
 
 
 
 

 
 
 
 
 

 
 
 
Sobre a Autora

Marcia Andrea da Silva Barros é psicóloga clínica,  terapeuta


cognitivo comportamental e neuropsicóloga, apaixonada pela mente
humana e pelo conhecimento.
Trabalhou em projetos sociais, com dependência química e
clínicas populares de psicologia.
No momento continua na clínica, com atendimento online,
consultório particular e clínica social.
Está atuante nas redes sociais, tem seu podcast de
Psicologia, chamado Cognitiva Mente, onde são abordados vários
temas da psicologia.
Também atua na orientação profissional com estudantes de
Psicologia e supervisão de psicólogos clínicos.
Bibliografia
 
MIOTTO, Eliane Correa; DE LUCIA, Mara Cristina Souza; SCAFF,
Miberto. Neuropsicologia Clínica. Rio de Janeiro: Editora Roca,
2017.
MACHADO, Angelo B. M. Neuroanatomia Funcional. São Paulo:
Editora Ateneu, 2006.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Editora
Zahar, 2001.
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de
Lourdes Trassi. Psicologias Uma introdução ao estudo de
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FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Psicologia Fenomenológica
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1993.
AMATUZZI, Mauro Martins. Que é ouvir. Estudos de Psicologia,
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FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo. A Escuta e a Fala em


Psicoterapia, Uma Proposta Fenomenológico Existencial. Rio de
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ZILLES, Urbano. Fenomenologia e teoria do conhecimento em
Husserl. Revista da abordagem gestáltica – XIII(2): 216-221, jul-
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MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Rio de
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FRANKL, Viktor. Logoterapia e Análise Existencial. São Paulo:


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