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Mensurando o Comportamento

CAPÍTULO 4
MENSURANDO O COMPORTAMENTO*
Cooper, J. O., Heron, T. E., & Heward, W. L. (2007). Applied behavior analysis. Pearson Education
*Tradução livre

Lorde Kelvin, o matemático e físico britânico, supostamente disse, “Até que você consiga
explicar sobre o que você está falando em números e mensurar, o seu conhecimento é insatisfatório e
escasso”. A mensuração (aplicar rótulos quantitativos para descrever e diferenciar eventos naturais)
fornece a base para todas descobertas científicas e para o desenvolvimento e aplicação bem-sucedida
de tecnologias derivadas dessas descobertas. A mensuração direta e frequente fornece a fundação para
a análise do comportamento aplicada. Analistas do comportamento aplicado usam a mensuração para
detectar e comparar os efeitos de várias configurações ambientais na aquisição, manutenção e
generalização de comportamentos socialmente significantes.

Mas o que do comportamento os analistas do comportamento aplicado conseguem e devem


mensurar? Como essas medidas devem ser obtidas? E, o que devemos fazer com essas medidas depois
que nós tivermos obtido elas? Esse capítulo identifica as dimensões nas quais o comportamento
consegue ser mensurado e descreve os métodos que os analistas do comportamento geralmente usam
para mensurá-las. Mas primeiramente, nós examinamos a definição e funções da mensuração na
análise do comportamento aplicada.

Definição e Funções da Mensuração na Análise do Comportamento Aplicada


Mensuração é “o processo de designar números e unidades para características específicas de
objetos ou eventos...[ela] envolve juntar um número representando a extensão observada de uma
quantidade dimensional com uma unidade apropriada. O número e a unidade juntos constituem a
medida do objeto ou evento” (Johnston e Pennypacker, 1993ª, pp. 91, 95). Uma quantidade
dimensional é uma característica específica de um objeto ou evento que é mensurada. Por exemplo,
para uma única ocorrência de um fenômeno – digamos, a resposta de “g-a-t-o” para a questão, “Como
você soletra gato?” – seria designada o número 1 e a unidade com o rótulo correto. Observar outra
instância da mesma classe de respostas mudaria o rótulo para 2 corretos. Outros rótulos poderiam
também ser aplicados baseados na nomenclatura aceita. Por exemplo, se 8 de 10 respostas observadas
alcançam a definição padrão de “correto”, a precisão do responder pode ser descrita com o rótulo, 80%
correto. Se as 8 respostas corretas forem emitidas em um minuto, um rótulo de frequência ou taxa de
8 ou minuto seria aplicado.

Bloom, Fischer, e Orme (2003) – que descreveram a mensuração como o ato ou processo de
aplicar rótulos quantitativos ou qualitativos em eventos, fenômenos, ou propriedades observadas
usando um conjunto padrão de regras baseadas em um consenso o qual diz para aplicar rótulos nessas
ocorrências – mostraram que o conceito de mensuração também inclui as características do que está
sendo mensurado, a qualidade e adequação das ferramentas de mensuração, a habilidade técnica do
mensurador, e como as mensurações obtidas são usadas. No final, a mensuração dá aos pesquisadores,
praticantes e consumidores meios comuns para descrever e comparar comportamento com um
conjunto de rótulos que expressa um significado comum.

Pesquisadores Necessitam Mensuração


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Mensurando o Comportamento

Mensuração é como cientistas operacionalizam empiricismo. Uma mensuração objetiva permite


com que (na verdade, exige que) cientistas descrevam o fenômeno que eles observam de maneira
precisa, consistente e publicamente verificável. Sem a mensuração, todos os três níveis de
conhecimento científico – descrição, predição e controle – seriam relegados a um trabalho de
adivinhação sujeito aos “gostos, opiniões pessoais e preconceitos do cientista” (Zuriff, 1985, p.9). Nós
viveríamos em um mundo no qual as suposições de um alquimista sobre um elixir que prolonga a vida
iriam prevalecer sobre proposições de um químico derivadas de experimentação.

Analistas do comportamento aplicado mensuram comportamento para obter respostas de


questões sobre a existência e a natureza de relações funcionais entre comportamento socialmente
relevante e variáveis ambientais. A mensuração permite comparações de um comportamento de uma
pessoa dentro de e entre diferentes condições ambientais, portanto fornece a possibilidade de tirar
conclusões baseadas empiricamente sobre os efeitos dessas condições no comportamento. Por
exemplo, para aprender se permitir com que estudantes com desafios comportamentais e emocionais
escolham as tarefas acadêmicas que eles vão trabalhar iria influenciar seu engajamento com essas
tarefas e comportamento inadequado, Dunlap e colegas (1994) mensuraram o engajamento do
estudante na tarefa e comportamentos inadequados durante condições de escolha e não-escolha. A
mensuração revelou o nível de ambos comportamentos alvo durante cada condição, se e quando os
comportamentos mudaram quando a escolha foi introduzida ou retirada, e o quão instáveis ou estáveis
esses comportamentos foram durante cada condição.

A habilidade do pesquisador para alcançar uma compreensão científica do comportamento


depende da sua habilidade para mensurá-lo. A mensuração torna possível a detecção e verificação de
virtualmente tudo que tem sido descoberto sobre os efeitos seletivos do ambiente no comportamento.
Os bancos de dados empíricos das ramificações básicas e aplicadas da análise do comportamento
consistem em coleções organizadas de mensurações comportamentais. Virtualmente todo gráfico no
Jornal da Análise Experimental do Comportamento e no Jornal da Análise do Comportamento
Aplicada mostra um registro contínuo ou um sumário de mensuração comportamental. Brevemente, a
mensuração fornece a base para aprender e falar sobre comportamento de maneira cientificamente
significante¹

Praticantes Precisam de Mensuração

Praticantes comportamentais são dedicados a melhorar as vidas dos clientes que eles servem ao
mudar comportamentos socialmente significantes. Os praticantes mensuram o comportamento
inicialmente para determinar o nível atual de um comportamento alvo e se aquele nível alcança o
parâmetro para intervenção futura. Se a intervenção é garantida, o praticante mensura a extensão do
sucesso dos seus esforços. Praticantes mensuram o comportamento para descobrir se e quando ele
mudou; a extensão e duração das mudanças comportamentais; a variabilidade ou estabilidade do
comportamento antes, durante e após o tratamento; e se mudanças comportamentais importantes têm
ocorrido em outros ambientes e situações e se espalham para outros comportamentos.

Praticantes comparam mensurações do comportamento alvo antes e após o tratamento (as vezes
inclui mensurações pré e pós tratamento obtidas em situações e ambientes de não tratamento) para
avaliar os efeitos gerais dos programas de mudança de comportamento (avaliação sumativa).
Mensurações frequentes do comportamento durante o tratamento (avaliação formativa) permitem
decisões dinâmicas e baseadas em dados sobre a continuação, modificação ou término do tratamento.

1 A medição é necessária, mas não suficiente, para a obtenção de entendimento científico. Consulte o capítulo intitulado "Analisando
a mudança de comportamento: premissas e estratégias básicas".
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Mensurando o Comportamento

O praticante que não obtém e não presta atenção em medidas frequentes do comportamento
escolhido para intervenção fica vulnerável a cometer dois tipos de erros evitáveis: (a) continuar um
tratamento ineficaz quando nenhuma mudança real no comportamento tiver ocorrido, ou (b)
descontinuar um tratamento efetivo porque o julgamento subjetivo não detectou melhoras (e.g., sem a
mensuração, o professor provavelmente não saberia que a leitura oral de um estudante tem aumentado
de 70 palavras por minuto para 80 palavras por minuto). Portanto, mensuração frequente e direta
permite com que os praticantes detectem seus sucessos e, igualmente importante, os seus fracassos
para que possam fazer mudanças para trocar o fracasso pelo sucesso (Bushell e Baer, 1994; Greenwood
e Maheady, 1997).

Nossa tecnologia de mudança de comportamento também é uma tecnologia de


mensuração do comportamento e de design experimental; foi desenvolvida como esse
pacote, e enquanto permanecer nesse pacote, vai ser um empreendimento auto avaliativo.
Seus sucessos são sucessos de magnitude conhecida; seus fracassos são quase
imediatamente detectados como fracassos; e quaisquer que sejam seus resultados, eles
podem ser atribuídos a contribuições conhecidas e procedimentos em vez de a eventos
aleatórios ou coincidências. (D. N. Baer, comunicação pessoal, 21 de outubro, 1982)

Em adição a permitir monitoramento contínuo do programa e tomadas de decisão baseadas em


dados, a mensuração frequente fornece outros benefícios importantes para praticantes e os clientes que
eles servem:

 A mensuração ajuda praticantes a otimizar a sua efetividade. Para ser idealmente efetivo, um
praticante deve maximizar a eficiência da mudança de comportamento em termos de tempo e recursos.
Apenas ao manter contato próximo e contínuo com os dados relevantes produzidos o praticante
consegue alcançar a eficiência e efetividade ideal (Bushell e Baer, 1994). Comentando sobre o papel
fundamental da mensuração frequente e direta na otimização da efetividade na prática de sala de aula,
Sidman (2000) percebeu que os professores “devem permanecer sintonizados com as mensagens dos
pupilos e estarem pronto para testar e avaliar modificações nos métodos instrucionais. Ensinar,
portanto, não é uma questão de apenas mudar o comportamento dos pupilos; é um processo social
interativo” (p.23). A mensuração frequente e direta é o processo no qual os praticantes ouvem as
mensagens dos seus clientes.
 A mensuração permite com que praticantes verifiquem a legitimidade de tratamentos
divulgados como “baseados em evidências”. É cada vez mais esperado, e em alguns campos obrigado
por lei, que os praticantes usem intervenções baseadas em evidências. Uma prática baseada em
evidências é um método de intervenção ou tratamento que tem sido demonstrado como sendo efetivo
por meio de pesquisas científicas substanciais de alta qualidade. Por exemplo, o ato federal Nenhuma
Criança Deixada Para Trás de 2001 exige que todas as escolas públicas distritais garantam que todas
as crianças sejam ensinadas por professores “altamente qualificados” usando um currículo e métodos
instrucionais validados por pesquisa científica rigorosa. Ainda que linhas de base e indicadores de
qualidade relacionados ao tipo (e.g., testes clínicos randomizados, estudos de caso) e quantidade (e.g.,
número de estudos publicados em revistas revisadas por pares, número mínimo de participantes) da
pesquisa precisavam qualificar um método de treinamento como uma prática baseada em evidências
tem sido proposta, a probabilidade de um consenso completo é pequena (e.g., Horner, Carr, Halle,
McGee, Odom, e Wolery, 2005; U.S. Department of Education, 2003). Ao implementar qualquer
tratamento, independentemente do tipo ou quantidade de evidência científica para dar suporte, os
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praticantes podem e devem usar mensuração frequente e direta para verificar a sua efetividade com os
estudantes e os clientes com os quais eles trabalham.
 A mensuração ajuda os praticantes a identificar e encerrar o uso de tratamentos baseados em
pseudociência, moda, ideologia ou novidade. Muitos métodos educacionais e tratamentos tem sido
clamado por seus defensores como inovações. Vários tratamentos controversos e curas propostas para
pessoas com transtornos no desenvolvimento e autismo (e.g., comunicação facilitada, terapia de apego,
altas doses de vitaminas, dietas estranhas, roupas com peso, terapia auxiliada por golfinho) têm sido
promovidos na ausência de evidências científicas sólidas de efetividade. (Heflin e Simpson, 2002;
Jacobson, Foxx, e Mulick, 2005). O uso de algumas dessas terapias chamadas de inovação tem levado
a desapontamento e perda de tempo precioso para muitas pessoas e suas famílias, e em alguns casos,
consequências desastrosas (Maurice, 1993). Ainda que estudos bem controlados tenham mostrado que
muitos desses métodos são ineficientes, e que esses programas não se justificam porque eles não
possuem evidências científicas sólidas sobre os efeitos, riscos e benefícios, pais e praticantes ainda são
bombardeados por depoimentos sinceros e bem-intencionados. Na busca por achar e verificar
tratamentos efetivos e eliminar aqueles cujo suporte mais forte está na forma de depoimentos e
anúncios espertos na internet, a mensuração é a melhor aliada do praticante. Praticantes devem manter
um ceticismo saudável em relação a reivindicações por efetividade. Usando a “Alegoria da Caverna”
de Platão como uma metáfora para professores e praticantes que usam ideias não testadas e pseudo
instrucionais, Heron, Tincani, Peterson, e Miller (2002) argumentaram que os praticantes seriam
melhor servidos se eles adotassem uma abordagem científica e deixassem de lado teorias pseudo-
educacionais e filosofias. Praticantes que insistem na mensuração frequente e direta de toda a
intervenção e programas de tratamento vão ter suporte empírico para se defender de pressões sociais
ou políticas para adotar tratamentos não provados. No seu real sentido eles estarão armados com o que
Carl Sagan (1996) chamou de “kit de detector de disparates”.
 A mensuração permite com que praticantes prestem contas com os clientes, os empregados, os
consumidores e a sociedade. Mensurar os resultados dos seus esforços diretamente e frequentemente
ajuda os praticantes a responderem confiavelmente questões de pais e outros cuidadores sobre os
efeitos dos seus esforços.
 A mensuração ajuda os praticantes a alcançar padrões éticos. Códigos éticos de conduta para
praticantes da análise do comportamento exigem mensuração frequente e direta do comportamento do
cliente. Determinar se o direito do cliente a receber tratamento ou educação efetiva está sendo honrado
requer mensuração do comportamento (s) para o qual o tratamento foi planejado (Nakano, 2004; Van
Houten et al., 1988). Um praticante comportamental que não mensura a natureza ou extensão de
mudanças relevantes no comportamento dos seus clientes está nos limites da má prática. Escrevendo
no contexto de educadores, Kauffman (2005) ofereceu essa perspectiva sobre a relação entre a
mensuração e a prática ética:

O professor que não consegue ou não vai localizar e mensurar os


comportamentos relevantes dos estudantes provavelmente não vai ser muito efetivo... Não
definir precisamente e não mensurar esses excessos e deficiências comportamentais,
portanto, é um erro fundamental; é similar a má prática de uma enfermeira que decide não
medir sinais vitais (taxa de batimentos cardíacos, taxa de respiração, temperatura e pressão
arterial), talvez argumentando que ela ou ele esteja muito ocupado, que estimativas
subjetivas dos sinais vitais são bem adequadas, que sinais vitais são apenas estimativas
superficiais da saúde do paciente, ou que sinais vitais não significam a natureza subjacente
da patologia. A profissão de ensinar é dedicada a tarefa de mudar o comportamento –
mudar um comportamento demonstravelmente para melhor. O que alguém pode dizer,
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então, da prática educacional que não inclui definição precisa e mensuração confiável da
mudança comportamental induzida pela metodologia do professor? É indefensável. (p.439)

Dimensões Mensuráveis do Comportamento


Se um amigo pedir para você medir uma mesa, você provavelmente iria perguntar porque ele
quer as medidas daquela mesa. Em outras palavras, o que ele quer que a mensuração diga para ele
sobre a mesa? Ele precisa saber da sua altura, largura e profundidade? Ele quer saber o quanto a mesa
pesa? Talvez ele esteja interessado na cor da mesa? Cada uma dessas razões para medir a mesa exige
uma dimensão quantitativa diferente da mesa (e.g., massa, largura, e reflexo da luz).

Comportamento, como mesas e todas as entidades no mundo físico, também tem características
que podem ser mensuradas (ainda que largura, peso, e cor não estejam entre elas). Pelo fato do
comportamento ocorrer dentro e através do tempo, ele tem três propriedades fundamentais, ou
quantidades dimensionais, que os analistas do comportamento conseguem mensurar. Johnston e
Pennypacker (1993a) descreveram essas propriedades como a seguir:

 Repetitividade: Instâncias de uma classe de respostas podem ocorrer repetidamente através o


tempo (i.e., o comportamento pode ser contado).
 Extensão Temporal: Cada instância do comportamento ocorre durante algum intervalo de
tempo (i.e., a duração do comportamento pode ser mensurada).
 Localização Temporal: Cada instância do comportamento ocorre em um certo ponto no tempo
com respeito a outros eventos (i.e., quando o comportamento ocorre pode ser mensurado).

A figura 1 mostra uma representação esquemática da repetitividade, extensão temporal e


localização temporal. Sozinhas e em combinação, essas dimensões quantitativas fornecem as medidas
básicas e derivadas usadas por analistas do comportamento aplicado. Nas páginas seguintes essas e
duas outras dimensões mensuráveis do comportamento – a sua forma e força – vão ser discutidas.

Figura 1:Representação esquemática das dimensões quantitativas da repetitividade, extensão temporal e localização
temporal. Repetitividade é mostrada pela contagem de quatro instâncias de uma classe de respostas dada (R1, R2, R3 e R4)
dentro de um período de observação. A extensão temporal (ex: duração) de cada resposta é dada pelas porções sombreadas
e elevadas da linha do tempo. Um aspecto da localização temporal (latência de resposta) de duas respostas é mostrado pelo
tempo percorrido (< L >) entre o começo de eventos de dois estímulos antecedentes (S1 e S2) e a iniciação de respostas
que a seguem (R2 e R4)

Mensurações Baseadas em Repetitividade

Contagem

Contagem é um registro do número de ocorrências de um comportamento – por exemplo, o


número de respostas corretas e incorretas escritas em uma folha de prática aritmética, o número de
palavras escritas corretamente durante um teste de soletrar, o número de vezes que um empregado
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partilha o carro na ida ao seu trabalho, o número de períodos de classe que um estudante chega
atrasado, o número de dispositivos produzidos.

Ainda que a frequência que o comportamento ocorre seja geralmente de interesse primário,
medidas de contagem sozinhas podem não fornecer informações suficientes para permitir com que os
praticantes tomem decisões úteis sobre o programa e análises. Por exemplo, dados mostrando que a
Katie escreveu respostas corretas para problemas de divisão de 5, 10, e 15 por três períodos de aula
consecutivos sugere uma melhora na performance. Entretanto, se as três medidas de contagem foram
obtidas em períodos de observação de 5, 20 e 60 minutos, respectivamente, uma interpretação muito
diferente da performance de Katie é sugerida. Portanto, o período de obervação, ou tempo de
contagem, deve sempre ser notado ao reportar medidas de contagem.

Taxa/Frequência

Combinar tempo de observação com a contagem rende uma das medidas mais usadas na análise
do comportamento aplicada, taxa (ou frequência) do responder, definida como o número de respostas
por unidade de tempo². Uma medida de taxa ou frequência é uma relação entre a dimensão quantitativa
da contagem (número de respostas) e tempo (período de observação no qual a contagem foi obtida).

Converter a contagem em taxa ou frequência torna a mensuração mais significativa. Por


exemplo, saber que a Yumi lê 95 palavras corretamente e 4 palavras incorretamente em um minuto,
que o Lee escreveu 250 palavras em 10 minutos, e que o comportamento auto lesivo da Joan ocorreu
17 vezes em uma hora fornece informação importante e contexto. Expressar as três medidas
previamente relatadas da performance de Katie na aula de matemática como uma taxa revela que ela
respondeu corretamente problemas longos de divisão em taxas de 1.0, 0.5 e 0.25 por minuto em três
períodos de classe consecutivos.

Pesquisadores e praticantes geralmente relatam dados de taxa como uma contagem por 10
segundos, contagem por minuto, por dia, por semana, por mês ou por ano. Enquanto a unidade de
tempo for padrão dentro ou através de experimentos, medidas de taxa podem ser comparadas. É
possível comparar taxas de responder a partir de contagens obtidas durante períodos de observação de
diferentes durações. Por exemplo, um estudante que, por quatro atividades diárias de classe de
durações diferentes, teve 12 conversas em 20 minutos, 8 conversas em 12 minutos, 9 conversas em 15
minutos, e 12 conversas em 18 minutos teve taxas de resposta de 0.60, 0.67, 0.60 e 0.67 por minuto.

As seis regras e linhas de base descritas abaixo vão ajudar pesquisadores e praticantes a obter,
descrever e interpretar contagem e dados sobre a taxa mais apropriadamente.

1. Sempre Referencie o Tempo de Contagem. Ao reportar dados da taxa de resposta,


pesquisadores e praticantes devem sempre incluir a duração do tempo de observação (ex.: o tempo de
contagem). Comparar medidas de taxa sem se referenciar ao tempo de contagem pode levar a
interpretações errôneas dos dados. Por exemplo, se dois estudantes lêem o mesmo texto em taxas iguais
de 100 palavras corretas por minuto com nenhuma resposta incorreta, pareceria que eles exibiram
performances iguais. Sem saber o tempo de contagem, entretanto, uma avaliação dessas duas
performances não pode ser conduzida. Considere, por exemplo, que Sally e Lillian correram cada uma
em um taxa de 7 minutos por 1,6 quilômetro. Nós não podemos comparar suas performances sem se
referenciar às distâncias que elas percorreram. Correr 1,6 quilômetro em uma taxa de 7 minutos por

2 Embora existam algumas distinções técnicas entre taxa e frequência, os dois termos são freqüentemente usados indistintamente
na literatura de análise do comportamento. Para uma discussão dos vários significados dos dois termos e exemplos de métodos
diferentes para calcular razões combinando contagem e tempo de observação, ver Johnston e Pennypacker (1993b, Leitura 4:
Descrever o comportamento com razões de contagem e tempo).
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1,6 quilômetro é uma classe de comportamento diferente de correr uma distância de maratona em uma
taxa de 7 minutos por 1,6 quilômetro.
O tempo de contagem usado para cada sessão precisa acompanhar cada medida de taxa quando
o tempo de contagem muda de sessão para sessão. Por exemplo, em vez de ter um tempo de contagem
estabelecido para responder fatos aritméticos (ex.: tempo de um minuto), o professor registra o tempo
total que o estudante demorou para completar um conjunto de problemas aritméticos durante cada
sessão na classe. Nessa situação, o professor poderia relatar as respostas corretas e incorretas do
estudante por minuto para cada sessão, e também relatar os tempos de contagem para cada sessão
porque eles mudam de sessão para sessão.
2. Calcule Taxas de Resposta Incorretas e Corretas Ao Avaliar o Desenvolvimento de uma
Habilidade. Quando um participante tem a oportunidade de emitir uma resposta correta ou incorreta,
uma taxa de resposta para cada comportamento deve ser relatada. Calcular taxa correta e incorreta é
essencial para avaliar o desenvolvimento da habilidade porque uma performance que está melhorando
não pode ser avaliada ao saber apenas a taxa correta. A taxa de respostas corretas sozinha poderia
mostrar uma performance que está melhorando, mas se o responder incorreto também está
aumentando, a melhoria pode ser uma ilusão. Medidas de taxas corretas e incorretas juntas fornecem
informações importantes para ajudar o professor a avaliar o quão bem o estudante está progredindo.
Idealmente, a taxa de respostas corretas acelera em direção ao objetivo ou critério da performance, e a
taxa de resposta incorreta desacelera para um nível baixo e estável. Também, relatar as taxas corretas
e incorretas fornece uma avaliação de precisão proporcional enquanto mantém as dimensões
quantitativas da mensuração (e.g., 20 respostas corretas e 5 incorretas por minuto = 80% de precisão,
ou um múltiplo de X4 de precisão proporcional).
Taxas de resposta corretas e incorretas fornecem dados essenciais para a avaliação de uma
performance fluente (ex.: proficiência) (Kubina, 2005). A avaliação de fluência exige a mensuração
do número de respostas corretas e incorretas por unidade de tempo (ex.: precisão proporcional).
Analistas não podem avaliar fluência usando apenas a taxa correta porque a performance fluente
também deve ser precisa.
3. Leve em Consideração a Complexidade Variada de Respostas. A taxa de responder é uma
medida apropriada e delicada da aquisição de habilidade e do desenvolvimento de performances
fluentes apenas quando o nível de dificuldade e complexidade de uma resposta para a próxima
permanece constante dentro e ao longo das observações. As medidas de taxa de resposta previamente
discutidas tem sido com unidades inteiras nas quais as exigências de resposta são essencialmente as
mesmas de uma resposta para a próxima. Porém, muitos comportamentos importantes são compostos
por dois ou mais componentes comportamentais, e diferentes situações pedem por sequências variadas
ou combinações de componentes comportamentais.
Um método para mensurar a taxa de responder que leva em consideração complexidade variada
para múltiplos componentes comportamentais é contar as operações necessárias para alcançar a
resposta correta. Por exemplo, ao mensurar a performance de um aluno em cálculo matemático, em
vez de registrar um problema de adição de um número de dois dígitos mais um de três dígitos como
correto ou incorreto, um pesquisador pode considerar o número de passos que foram completados na
sequência correta dentro de cada problema. Helwig (1973) usou o número de operações necessárias
para produzir as respostas de problemas matemáticos para calcular taxas de resposta. Em cada sessão
foi dado para o estudante 20 problemas de multiplicação e divisão selecionados randomicamente de
um conjunto de 120 problemas. O professor registrou a duração do tempo para cada sessão. Todos os
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problemas eram de dois tipos: A x B = C e A / B = C. Para cada problema foi pedido para o estudante
achar um dos fatores: o produto, o divisor, o dividendo e o quociente. Dependendo do problema, achar
o fator faltante exigia de uma a cinco operações. Por exemplo, escrever 275 em resposta ao problema
55 X 5 = ? deveria ser registrado como quatro respostas corretas porque achar o fator faltante exige
quatro operações:

1. Multiplicar: 5 X 5 = 25.
2. Registrar os 5 e segurar dezena 2.
3. Multiplicar as dezenas: 5 X 5(0) = 25(0)
4. Adicionar 2 e registrar a soma (27).
Quando mais de uma maneira para achar a resposta for possível, o número de operações
indicado foi pensado para esse problema. Por exemplo, a resposta do problema, 4 X ? = 164, pode ser
obtida a partir da multiplicação com duas operações e da divisão com quatro operações. O número de
operações indicado é três. Helwig contou o número de operações completadas corretamente e
incorretamente por conjunto de 20 problemas e relatou taxas de resposta corretas e incorretas.
4. Uso da Taxa de Responder para Mensurar Operantes Livres. A taxa de responder é uma
medida útil para todos os comportamentos caracterizados como operantes livres. O termo operante
livre se refere aos comportamentos que tem começo discreto e pontos de término, exigem
deslocamento mínimo do organismo pelo tempo e espaço, podem ser emitidos em quase qualquer
momento, não exigem muito tempo para serem completados, e podem ser emitidos dentro de uma
ampla gama de taxas de resposta (Baer e Fowler, 1984). Skinner (1966) usou a taxa de resposta de
operantes livres como a variável primária dependente ao desenvolver a análise experimental do
comportamento. A pressão na barra e a bicada na chave são respostas típicas de operantes livres usadas
em estudos de laboratório com animais e não humanos. Sujeitos humanos em um experimento básico
de laboratório podem apertar teclas de um teclado. Muitos comportamentos socialmente relevantes
encontram a definição de operantes livres: número de palavras lidas durante um período de contagem
de 1 minuto, número de tapas na cabeça por minuto, número de letras escritas em 3 minutos. Uma
pessoa pode emitir essas respostas em quase qualquer momento, cada resposta discreta não usa muito
tempo, e cada classe de respostas pode produzir um ampla variedade de taxas.
A taxa de responder é uma medida preferida para os operantes livres porque é sensível às
mudanças nos valores do comportamento (ex.: leitura oral pode ocorrer em taxas abrangendo de 0 a
250 ou mais palavras corretas por minuto), e porque ela oferece clareza e precisão ao definir a
contagem por unidade de tempo.
5. Não Use Taxa para Mensurar Comportamentos que Ocorrem dentro de Tentativas
Discretas.A taxa de responder não é útil para mensurar comportamentos que ocorrem apenas dentro
de situações limitadas ou restritas. Por exemplo, taxas de resposta de comportamentos que ocorrem
dentro de tentativas discretas são controlados pela oportunidade dada para emitir a resposta. Tentativas
discretas típicas usadas em estudos de laboratório com animais incluem mover uma peça de uma ponta
de um labirinto até a outra. Exemplos aplicados típicos incluem respostas a uma série de cartas
apresentadas pelo professor; responder com ajuda uma pergunta feita pelo professor; e, quando
apresentada uma cor como amostra, apontar para a cor em um arranjo de três cores que combina com
a cor amostra. Em cada um desses exemplos, a taxa de resposta é controlada pela apresentação do
estímulo antecedente. Pelo fato dos comportamentos que ocorrem dentro de tentativas discretas serem
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vinculados a oportunidade, medidas como a porcentagem de oportunidades de resposta na qual a


resposta foi emitida ou tentativas-para-critério devem ser empregadas, mas não medidas de taxa.
6. Não Use Taxa para Mensurar Comportamentos Contínuos que Ocorrem por Períodos
Extensos de Tempo. A taxa também é uma medida pobre para comportamentos contínuos que ocorrem
por longos períodos de tempo, como participar de jogos no parquinho ou trabalhar em um centro de
brincadeiras ou atividades. Esses comportamentos são melhor mensurados pelo fato de eles estarem
acontecendo ou não em qualquer tempo dado, produzindo dados sobre a duração ou estimativas da
duração obtida pelo registro intervalar.

Aceleração

Assim como um carro que acelera quando o motorista pisa no acelerador e desacelera quando o
motorista tira o seu pé do acelerador ou pisa no freio, as taxas de resposta aceleram e desaceleram. A
aceleração é uma medida de como taxas de resposta mudam com o passar do tempo. A taxa de resposta
acelera quando um participante responde mais rápido por períodos sucessivos de contagem e
desacelera quando o responder fica mais devagar ao longo de obervações sucessivas. A aceleração
incorpora três dimensões quantitativas: contagem por unidade de tempo/por unidade de tempo; ou
colocado de outra maneira, taxa/por unidade de tempo (Graf e Lindsley, 2002; Johnston e
Pennypacker, 1993ª). A aceleração fornece aos pesquisadores e praticantes uma medida direta dos
padrões dinâmicos da mudança de comportamento como transições de um estado inerte de responder
para outro e a aquisição de níveis fluentes de performance (Cooper, 2005).

O Quadro de Aceleração Padrão fornece um formato padronizado para demonstrar as medidas


de aceleração (Pennypacker, Gutierrez e Lindsley, 2003)³. Existem quatro Quadros de Aceleração
Padrão, mostrando taxa como contagem (a) por minuto, (b) por semana, (c) por mês e (d) por ano.
Esses quatro quadros fornecem diferentes níveis de ampliação para visualizar e interpretar a
aceleração. A taxa de resposta é demonstrada no eixo vertical, ou y, dos quadros, e o tempo de
calendário sucessivo em dias, semanas, meses ou anos é apresentado no eixo horizontal, ou x.
Professores e outros praticantes comportamentais usam a contagem por minuto – quadro de dias
sucessivos no calendário mais frequentemente.

A aceleração é demonstrada em todos os Quadros de Aceleração Padrão com uma linha de


evolução da aceleração. Uma linha de evolução, uma linha reta desenhada através de uma série de
pontos de dados no gráfico, representa visualmente a direção e o grau da evolução nos dados4. A linha
de evolução da aceleração mostra um fator no qual a taxa de resposta está multiplicando (acelerando)
ou dividindo (desacelerando) através o período de tempo da aceleração (e.g., taxa por semana, por
mês, por ano, por década). Um período de tempo da aceleração é 1/20 do eixo horizontal de todos
os Quadros de Aceleração Padrão. Por exemplo, o período de aceleração para o quadro de dias de
calendário sucessivos é por semana. O período de aceleração para o quadro de semanas de calendário
sucessivas é por mês.

Uma linha de evolução desenhada no canto inferior esquerdo até o canto superior direito em
todos os Quadros de Aceleração Padrão tem uma inclinação de 34°, e tem um valor de aceleração de
X2 (leia como “multiplicado por 2”; acelerações são expressas como múltiplos ou divisores). É esse
ângulo de 34° de aceleração, uma medida linear da mudança de comportamento através do tempo, que
torna um quadro padrão. Por exemplo, se a taxa de resposta estava em 20 por minuto na segunda feira,
40 por minuto na proxima segunda feira, e 80 por minuto na terceira segunda feira, a linha de
3 Aceleração, a palavra raiz de aceleração e desaceleração, é um termo genérico sem referência específica a taxas de resposta de
aceleração ou desaceleração. Praticantes e pesquisadores devem usar aceleração ou desaceleração ao descrever taxas crescentes ou
decrescentes de resposta.
4 Métodos para calcular e desenhar linhas de tendência são descritos no capítulo intitulado “Construindo e Interpretando Exibições
Gráficas de Dados Comportamentais”.
10
Mensurando o Comportamento

aceleração (ex., linha de evolução) no quadro de dias de calendário sucessivos iria mostrar uma
aceleração de X2, dobrando a taxa por semana. Uma aceleração de X2 no quadro de semanas de
calendário sucessivas mostra que a taxa dobra toda semana (ex.: 20 na semana 1, 40 na semana 2, e 80
na semana 3). Na maioria dos casos, os valores de aceleração não devem ser calculados com menos de
sete pontos de dados.

Medidas Baseadas em Extensão Temporal

Duração

A Duração, a quantidade de tempo no qual o comportamento ocorre, é a medida básica para a


extensão temporal. Pesquisadores e praticantes mensuram a duração em unidades de tempo padrão
(ex.: Enrico trabalhou cooperativamente com o seu par tutor por 12 minutos e 24 segundos hoje).

A duração é importante ao mensurar a quantidade de tempo que a pessoa fica engajada em um


comportamento alvo. Analistas do comportamento aplicado mensuram a duração do comportamento
alvo que uma pessoa estiver engajanda por muito ou pouco tempo durante um intervalo de tempo,
como uma criança com transtorno no desenvolvimento que faz birra por mais de uma hora uma vez,
ou um estudante que não se concentra em uma tarefa acadêmica por mais de 30 segundos por vez.

A duração também é uma medida apropriada para comportamentos que ocorrem em taxas muito
altas (ex.: sacudidas rápidas com as pernas, mãos e cabeça; balançar-se) ou comportamentos contínuos
orientados para a tarefa que ocorrem por um tempo extendido (e.g., brincadeira cooperativa,
comportamento de tarefa, comportamento fora da tarefa).

Pesquisadores e praticantes comportamentais comumente mensuram um ou os dois tipos de


medidas de duração: duração total por sessão ou período de observação e duração por ocorrência.

Duração Total por Sessão. A duração total é a medida da quantidade de tempo acumulada na
qual a pessoa engaja no comportamento alvo. Analistas do comportamento aplicado usam dois
procedimentos para mensurar e relatar a duração total. Um método envolve registrar a quantidade de
tempo acumulada em que um comportamento ocorre dentro de um período específico de observação.
Por exemplo, um professor preocupado que uma criança do jardim de infância está passando muito
tempo brincando sozinha poderia registrar o tempo total que a criança é observada engajada em
brincadeira solitária durante períodos diários de 30 minutos de brincadeira livre. Processualmente,
quando a criança engaja em brincadeira solitária, o professor ativa o timer. Quando a brincadeira
solitária parar, o professor para o timer mas não o reseta. Quando a criança for para a brincadeira
solitária de novo, o professor ativa o timer mais uma vez. Durante um período de 30 minutos de
brincadeira livre, a criança pode ter engajado em um total de 18 minutos de brincadeira solitária. Se a
duração dos períodos de brincadeira livre variou de um dia para o outro, o professor vai registrar a
duração total do comportamento solitário como uma porcentagem do tempo total observado (ex.;
duração total do comportmento solitário ÷ duração do período de brincadeira livre X 100 = % de
comportamento solitário em um período de brincadeira livre). Nesse caso, 18 minutos de brincadeira
solitária acumulada dentro de uma sessão de 30 minutos produz 60%.

Zhou, Iwata, Goff, e Shore (2001) usaram a medida de duração total para avaliar a preferência
por itens de lazer de pessoas com transtornos profundos no desenvolvimento. Eles usaram um timer
para registrar engajamento físico com um item (ex.: contato tanto com a mão quanto com o item)
11
Mensurando o Comportamento

durante tentativas de dois minutos. Eles registraram contato total em segundos ao resumir os valores
de duração através de três tentativas de 2 minutos para cada avaliação. McCord, Iwata, Galensky,
Ellingson, e Thomson (2001) começaram e pararam o timer para mensurar a duração total em segundos
que dois adultos com transtornos mentais severos ou profundos engajavam em comportamentos
problema.

A outra medida de registro de duração total é a quantidade de tempo que uma pessoa passa
engajada em uma atividade, ou o tempo que uma pessoa precisa para completar uma tarefa específica,
sem especificar um máximo ou mínimo para o período de observação. Por exemplo, um líder
comunitário preocupado com a quantidade de tempo que cidadãos mais velhos passavam em um novo
centro de recreação poderia registrar o número total de minutos por dia que cada idoso gasta no centro.

Duração por Ocorrência

A duração por ocorrência é uma medida da duração do tempo que cada instância do
comportamento alvo ocorre. Por exemplo, imagine que um estudante sai do seu assento
frequentemente e por quantidades variáveis de tempo. Toda vez que o estudante deixa o seu assento,
a duração do seu comportamento fora do assento pode ser registrada com um timer. Quando ele deixa
o seu assento, o timer começa. Quando ele retorna, o timer para, o tempo total é registrado, e o timer
é zerado. Quando o estudante deixar o seu assento novamente, o processo é repetido. As medidas
resultantes produzem dados sobre a duração das ocorrências para cada comportamento fora do assento
durante o período de observação.

Em um estudo avaliando uma intervenção para diminuir interrupções barulhentas por crianças
em um ônibus escolar, Greene, Bailey, e Barber (1981) usaram um aparelho gravador de sons que
registrou automaticamente tanto o número de vezes que surtos de som excederam propriedades
específicas quanto a duração em segundos que cada surto permaneceu acima dessa propriedade. Os
pesquisadores usaram a duração indicada por ocorrência de interrupções barulhentas como uma
medida para avaliar os efeitos da intervenção.

Selecionando e Combinando Medidas de Contagem e Duração

Medidas de contagem, duração total e duração por ocorrência fornecem visões diferentes do
comportamento. Contagem e duração mensuram dimensões diferentes do comportamento, e essas
diferenças fornecem o básico para selecionar qual dimensão a mensurar. Registro de evento mede a
repetitividade, enquanto o registro de duração mensura a extensão temporal. Por exemplo, um
professor preocupado com um estudante que fica muito fora do seu assento poderia marcar toda vez
que o estudante deixar o seu assento. O comportamento é discreto e pouco provável de ocorrer em uma
taxa tão alta que seria díficil contar o número de ocorrências. Pelo fato de qualquer instância do
comportamento fora do assento ter o potencial de ocorrer por um tempo extendido e a quantidade do
tempo que o estudante permanece fora do seu assento ser um aspecto socialmente relevante do
comportamento, o professor poderia usar também o registro da duração total.

Usar a contagem para mensurar o comportamento fora do assento fornece o número de vezes
que o estudante deixou o seu assento. Uma medida da duração total vai indicar a quantidade e a
proporção de tempo que o estudante ficou fora do seu assento durante o período de observação. Por
causa da relevância da extensão temporal nesse caso, a duração iria fornecer uma mensuração melhor
do que a contagem iria. O professor pode observar que o estudante deixou o seu assento uma vez em
12
Mensurando o Comportamento

um período de observação de 30 minutos. Uma ocorrência do comportamento em 30 minutos pode


não ser vista como um problema. Entretanto, se o estudante permaneceu fora do seu assento por 29
minutos de um período de observação de 30 minutos, uma visão muito diferente sobre o
comportamento é obtida.

Nessa situação, a duração por ocorrência iria produzir uma seleção de mensuração ainda melhor
que a contagem e o registro de duração total iriam. Isso acontece porque a duração por ocorrência
mede a repetitividade e a extensão temporal do comportamento. Uma medida de duração por
ocorrência iria dar ao professor informação sobre o número de vezes que o estudante estava fora do
seu assento e a duração de cada ocorrência. A duração por ocorrência é geralmente preferida em
relação a duração total porque é sensível ao número de instâncias do comportamento alvo. Além disso,
se uma medida de duração total é necessária para outros propósitos, as durações individuais de cada
uma das ocorrências contadas e cronometradas deveriam ser resumidas. Entretanto, se a durabilidade
do comportamento (ex.: responder acadêmico, movimentos motores) for o alvo de maior atenção,
então o registro de duração total pode ser o suficiente (ex.: leitura oral por 3 minutos, escrita livre por
10 minutos, correr por 10 quilômetros).

Medidas Baseadas na Localização Temporal

Como afirmado previamente, a localização temporal se refere a quando uma instância do


comportamento ocorre com respeito a outros eventos de interesse. Os dois tipos de eventos mais usados
por pesquisadores como pontos de referência para mensurar localização temporal são o ínicio de
eventos de estímulo antecedente e a interrupção da resposta anterior. Esses dois pontos de referência
fornecem o contexto para mensurar a latência da resposta e o tempo entre respostas, as duas medidas
de localização temporal mais frequentemente relatadas na literatura da análise do comportamento.

Latência da Resposta

Latência da resposta (ou, mais comumente, latência) é uma medida do tempo transcorrido entre
o começo de um estímulo e a iniciação de uma resposta subsequente5. Latência é uma medida
apropriada quando o pesquisador ou praticante está interessado em quanto tempo ocorre entre uma
oportunidade para emitir um comportamento e quando o comportamento é iniciado. Por exemplo, um
estudante pode exibir atrasos excessivos ao seguir as direções do professor. A latência da resposta seria
o tempo transcorrido entre o fim da instrução do professor e o estudante começar a seguir a instrução.
O interesse também pode ser em latências que são muito curtas. Uma estudante pode dar respostas
incorretas porque ela não espera o professor completar as perguntas. Um adolescente que, na menor
provocação de um par, imediatamente retalia não tem tempo para considerar comportamentos
alternativos que poderiam neutralizar a situação e levar a melhores interações.

Pesquisadores geralmente relatam os dados da latência da resposta pela mediana, média e alcance
das medidas de latências individuais por período de observação. Por exemplo, Lerman, Kelley,
Vorndran, Kuhn, e LaRue (2002) usaram uma medida de latência para avaliar os efeitos de diferentes
magnitudes de reforçamento (ex.: 20 segundos, 60 segundos ou 300 segundos de acesso ao reforçador)
na pausa pós reforçamento. Os pesquisadores mensuraram o número de segundos do final de cada
intervalo de acesso ao reforçador até a primeira instância do comportamento alvo (uma resposta de
comunicação). Então eles calcularam e colocaram em gráficos a média, mediana e alcance das latências
de resposta mensuradas durante cada sessão (veja Lerman et al., 2002, p.41).

5Latência é mais frequentemente usada para descrever o tempo entre o início de uma mudança de estímulo antecedente e o início
de uma resposta. No entanto, o termo pode ser usado para se referir a qualquer medida do locus temporal de uma resposta com
respeito a qualquer tipo de evento antecedente. Veja Johnston e Pennypacker (1993b).
13
Mensurando o Comportamento

Tempo Entre Respostas

O tempo entre respostas (IRT) é a quantidade de tempo transcorrido entre duas instâncias
consecutivas de uma classe de respostas. Como a latência de resposta, IRT é uma medida da
localização temporal porque identifica quando uma instância específica do comportamento ocorre com
respeito a outro evento (ex.: a resposta anterior). A figura 2 mostra uma representação esquemática do
tempo entre respostas.
Figura 2 Representação esquemática de três
tempos entre respostas (IRT). IRT, o tempo
decorrido entre o término de uma resposta e
o início da próxima resposta, é uma medida
comumente usada de locus temporal

Ainda que seja uma medida direta da localização temporal, o IRT está funcionalmente
relacionado a taxa de resposta. IRTs mais curtos coexistem com taxas mais altas de resposta, e IRTs
mais longos são encontrados dentro de taxas de resposta mais baixas. Analistas do comportamento
aplicado mensuram o IRT quando o tempo entre instâncias de uma classe de respostas é importante.
IRT fornece uma medida básica para implementar e avaliar intervenções usando reforçamento
diferencial de taxas baixas (DRL), um procedimento que usa o reforçamento para reduzir a taxa de
responder. Como os dados sobre latência, medidas de IRT são geralmente registradas e demonstradas
graficamente pela média (ou mediana) e alcance por período de observação.

Medidas Derivativas

Porcentagem e tentativas-para-critério, duas formas de dados derivadas de medidas diretas de


quantidades dimensionais do comportamento, são frequentemente usadas na análise do
comportamento aplicada.

Porcentagem

A Porcentagem é uma razão (ex.: uma proporção) formada ao combinar as mesmas


quantidades dimensionais, como a contagem (ex.: número/número) ou tempo (i.e., duração/duração;
latência/latência). Uma porcentagem expressa a quantidade proporcional de algum evento em termos
do número de vezes que o evento ocorreu em 100 oportunidades que o evento poderia ter ocorrido.
Por exemplo, se um estudante respondeu corretamente 39 de 50 itens de uma prova, uma porcentagem
de precisão pode ser calculada ao dividir o número de respostas corretas pelo número total de itens da
prova e multiplicar esse resultado por 100 (39/50 = .78 X 100 = 78%).

A porcentagem é frequentemente usada na análise do comportamento aplicada para relatar a


proporção do total de respostas corretas. Por exemplo, Ward e Carnes (2002) usaram uma medida da
porcentagem de performances corretas em seu estudo avaliando os efeitos do estabelecimento de
objetivo e lançamento público de execução de habilidade de três habilidades defensivas de jogadores
de um time de futebol americano universitário. Os pesquisadores registraram contagens de leituras
corretas e incorretas, quedas e tackles de cada jogador e calcularam as porcentagens de precisão
baseados no número de oportunidades para cada tipo de jogada.

A porcentagem também é usada frequentemente na análise do comportamento aplicada para


relatar a proporção de intervalos de observação nos quais o comportamento alvo ocorreu. Essas
medidas são tipicamente relatadas como uma proporção de intervalos dentro de uma sessão. A
14
Mensurando o Comportamento

porcentagem também pode ser calculada para uma sessão de observação inteira. Em um estudo
analisando os efeitos diferenciais de taxa de reforçador, qualidade, prontidão e custo da resposta sobre
o comportamento impulsivo de estudantes com transtorno de hiperatividade/déficit de atenção, Neef,
Bicard, e Endo (2001) relataram a porcentagem de tempo que cada estudante destinou para dois
conjuntos de problemas matemáticos disponíveis simultaneamente (e.g., tempo destinado a problemas
matemáticos produzindo reforçadores atrasados de alta qualidade / tempo total possível 100 = %).

Porcentagens são amplamente usadas na educação, psicologia e mídia popular, e a maioria das
pessoas entende as relações proporcionais expressadas como porcentagens. Entretanto, porcentagens
muitas vezes são usadas de maneira indevida e frequentemente são mal interpretadas. Portanto, nós
oferecemos várias notas sobre o cuidado no uso e interpretação de porcentagens.

As porcentagens refletem mais precisamente o nível das e as mudanças no comportamento


quando calculadas com um divisor (ou denominador) de 100 ou mais. Porém, a maioria das
porcentagens usadas por praticantes e pesquisadores comportamentais são calculadas com divisores
muito menores que 100. Medidas de porcentagem baseadas em divisores pequenos são excessivamente
afetadas por pequenas mudanças no comportamento. Por exemplo, uma mudança na contagem de
apenas 1 resposta por 10 oportunidades muda a porcentagem em 10%. Guilford (1965) alertou é
imprudente computar porcentagens com divisores menores que 20. Para propósitos de pesquisa, nós
recomendamos que toda vez que for possível, analistas do comportamento aplicado construam
sistemas de mensuração nos quais as porcentagens resultantes sejam baseadas em não menos do que
30 oportunidades de resposta ou intervalos de observação.

Ás vezes mudanças na porcentagem podem erroneamente sugerir uma melhora na


performance. Por exemplo, uma porcentagem de precisão poderia aumentar ainda que a frequência de
respostas incorretas permaneça a mesma ou piore. Considere um estudante cuja precisão ao responder
problemas matemáticos na segunda feira seja 50% (5 de 10 problemas respondidos corretamente) e
que na terça feira seja 60% (12 de 20 problemas respondidos corretamente). Mesmo com a melhora da
precisão proporcional, o número de erros aumentou (de 5 na segunda feira para 8 na terça feira).

Ainda que nenhuma outra medida comunique relações proporcionais melhor do que a
porcentagem, seu uso como uma quantidade comportamental é limitado porque uma porcentagem não
possui quantidades dimensionais6. Por exemplo, a porcentagem não pode ser usada para avaliar o
desenvolvimento de comportamento fluente ou proficiente porque uma avaliação da proficiência não
pode ocorrer sem se referenciar ao tempo e a contagem, mas pode mostrar a precisão proporcional do
comportamento alvo durante o desenvolvimento de proficiência.

Outra limitação da porcentagem como uma medida de mudança de comportamento é que limites
mais baixos e mais altos são impostos nos dados. Por exemplo, usar um percentual de corretos para
avaliar a habilidade de leitura de um estudante impõe um teto artificial na mensuração da performance.
Um estudante que lê corretamente 100% das palavras que são apresentadas a ele não consegue melhora
nos termos da medida usada.

Porcentagens diferentes podem ser relatadas do mesmo conjunto de dados, com cada
porcentagem suferindo insterpretações significantemente diferentes. Por exemplo, considere um
estudante que acerta 4 (20%) em um pré-teste de 20 itens e acerta 16 (80%) quando os mesmos 20
itens são dados como pós-teste. A descrição mais direta da melhora do estudante do pré-teste para o
pós-teste (60%) compara as duas medidas usando a base original ou divisor (20 itens). Pelo fato do
6 Como as porcentagens são relações baseadas na mesma quantidade dimensional, a quantidade dimensional é cancelada e não
existe mais na porcentagem. Por exemplo, uma porcentagem de precisão criada pela divisão do número de respostas corretas pelo
número de oportunidades de resposta remove a contagem real. No entanto, as relações criadas a partir de diferentes quantidades
dimensionais retêm as quantidades dimensionais de cada componente. Por exemplo, a taxa retém uma contagem por unidade de
tempo. Veja Johnston e Pennypacker (1993a) para maiores explicações.
15
Mensurando o Comportamento

estudante ter respondido corretamente a 12 itens a mais no pós-teste do que no pré-teste, a sua
performance no pós-teste poderia ser relatada como uma melhora de 60% na sua performance no pré-
teste. E dado que o resultado do estudante no pós-teste representou uma melhora de quatro vezes mais
respostas corretas, alguns podem relatar o resultado do pós-teste como uma melhora de 300% em
relação ao pré-teste – uma interpretação completamente diferente de uma melhora de 40%.

Ainda que porcentagens maiores do que 100% sejam ás vezes relatadas, rigorosamente falando,
fazer isso é incorreto. Ainda que uma mudança de comportamento maior do que 100% seja
impressionante, é um impossibilidade matemática. Uma porcentagem é uma medida proporcional de
um conjunto total, onde x (a proporção) de y (o total) é expressado como 1 parte de 100. A proporção
de algo não pode ser excedida pelo total desse algo ou ser menor que zero (ex.: não existe algo como
porcentagem negativa). Todo atleta favorito do treinador que “sempre entrega 110%” simplesmente
não existe.7

Tentativas-para-Critério

Tentativas-para-critério é uma medida do número de oportunidades de resposta necessárias


para alcançar níveis pré-determinados de performance. O que constitui uma tentativa depende da
natureza do comportamento alvo e do nível de performance desejado. Para uma habilidade como
amarrar os cadarços, cada oportunidade para amarrar os cadarços deve ser considerada como uma
tentativa, e dados de tentativas-para-critério são relatados como o número de tentativas necessárias
para que o estudante amarre os cadarços corretamente sem ajudas ou assistência. Para comportamentos
envolvendo resolução de problemas ou discriminações que devem ser aplicadas através de um grande
número de exemplos para serem úteis, uma tentativa pode consistir em um bloco, ou série de
oportunidades de resposta, na qual cada oportunidade de resposta envolve a apresentação de um
exemplar diferente do problema ou discriminação. Por exemplo, uma tentativa pra discriminar entre
os sons de vogais curtos e longos da letra o poderia ser um bloco de 10 oportunidades consecutivas
para responder, na qual cada oportunidade de resposta é a apresentação de uma palavra contendo a
letra o, com palavras de sons curtos e longos da letra o (e.g., barco, olho) apresentadas em ordem
randômica. Dados de tentativa-para-critério poderiam ser relatados como o número de blocos de 10
tentativas exigidos para que o estudante pronuncie corretamente o som o em todas as 10 palavras. A
contagem seria a medida básica da qual os dados de tentativas-para-critério iriam ser derivados.

Dados de tentativas-para-critério são geralmente calculados e relatados como uma medida após
o fato de um aspecto importante do “custo” do tratamento ou método instrucional. Por exemplo, Trask-
Tyler, Grossi, e Heward (1994) relataram o número de tentativas instrucionais necessárias para cada
um de três estudantes com transtornos no desenvolvimento e deficiências visuais preparar três itens
comestíveis de receitas sem assistência por duas vezes consecutivas ao longo de duas sessões. Cada
receita implica de 10 a 21 passos para a tarefa analisada.

Dados de tentativas-para-critério são frequentemente usados para comparar a eficiência relativa


de dois ou mais tratamentos ou métodos instrucionais. Por exemplo, ao comparar o número de
tentativas de treino necessárias para um estudante dominar semanalmente conjuntos de palavras de
soletrar praticadas de duas maneiras diferentes, um professor poderia determinar se o estudante
aprende a soletrar palavras mais eficientemente com um método em vez de outro. Ás vezes os dados
de tentativas-para-critério são complementados pela informação do número de minutos de instrução

7 Quando uma pessoa relata uma porcentagem superior a 100% (por exemplo, "Nosso fundo mútuo cresceu 120% durante o recente
mercado de baixa"), ela provavelmente está usando a porcentagem incorreta em comparação com a unidade de base anterior, não
como uma proporção de isto. Neste exemplo, o aumento de 20% do fundo mútuo torna seu valor 1,2 vezes maior do que seu valor
quando o mercado baixista começou.
16
Mensurando o Comportamento

necessários para alcançar um critério de performance pré-determinado (e.g., Holcombe, Wolery,


Werts, e Hrenkevich 1993; Repp, Karsh, Johnson, e VanLaarhoven, 1994).

Medidas de tentativas-para-critério também podem ser coletadas e analisadas como uma variável
dependente ao longo de um estudo. Por exemplo, R. Baer (1987) registrou e colocou em gráficos
tentativas-para-critério em uma tarefa de memória associada a pares como uma variável dependente
em um estudo avaliando os efeitos da cafeína no comportamento de crianças pré-escolares.

Dados de tentativas-para-critério também podem ser úteis para avaliar uma melhora na
competência do aluno em adquirir uma classe relacionada de conceitos. Por exemplo, ensinar um
conceito como a cor vermelha para uma criança poderia consistir na apresentação de itens “vermelhos”
e “não vermelhos” para a criança e no reforçamento diferencial para respostas corretas. Dados de
tentativas-para-critério poderiam ser coletados em relação ao número de exemplares “vermelhos” e
“não vermelhos” exigidos antes que a criança alcance um nível específico de performance com a
discriminação. Os mesmos procedimentos instrucionais e de coleta de dados podem então ser usados
para ensinar outras cores para a criança. Dados mostrando que a criança alcançou o domínio de cada
cor nova introduzida em menos tentativas instrucionais do que foi preciso para ensinar as cores
anteriores pode ser evidência de um aumento na agilidade da criança em aprender conceitos de cor.

Medidas de Definição

Em adição as dimensões básicas e derivadas já discutidas, o comportamento também pode ser


definido e mensurado pela sua forma e intensidade. Nem a forma (ex.: topografia) e nem a intensidade
(ex.: magnitude) do responder são uma quantidade dimensional fundamental do comportamento, mas
cada uma é um parâmetro quantitativo importante para definir e verificar a ocorrência de muitas classes
de resposta. Quando pesquisadores comportamentais e praticantes mensuram a topografia ou
magnitude da resposta, eles também fazem isso para determinar se a resposta representa uma
ocorrência do comportamento alvo. Ocorrências do comportamento alvo que são verificadas na base
da topografia ou magnitude são então mensuradas por um ou mais aspectos da contagem, extensão e
localização temporal. Em outras palavras, mensurar a topografia ou magnitude é ás vezes necessário
para determinar se instâncias da classe de respostas alvo tem ocorrido, mas a quantificação subsequente
dessas respostas é registrada, relatada e analisada em termos de medidas fundamentais e derivativas
como contagem, taxa, duração, latência, IRT, porcentagem e tentativas-para-critério.

Topografia

A topografia, a qual se refere a forma física ou formato do comportamento, é uma dimensão


mensurável e maleável do comportamento. A topografia é uma quantidade mensurável do
comportamento porque respostas de forma variada podem ser detectadas. Essa topografia é um aspecto
maleável do comportamento que é evidenciado pelo fato de que respostas de formas variadas são
modeladas e selecionadas por suas consequências.

Um grupo de respostas com topografias amplamente variadas pode ter a mesma função (ex.:
forma uma classe de respostas). Por exemplo, cada uma das diferentes maneiras de escrever a palavra
topography, mostrada na figura 3, iria produzir o mesmo efeito na maioria dos leitores. Ser membro
de alguma classe de respostas, entretanto, é limitado as respostas dentro de uma gama estreita de
topografias. Ainda que cada uma das topografias de resposta na figura 3 alcance as exigências
17
Mensurando o Comportamento

funcionais da maioria das comunicações escritas, nenhuma delas alcançaria o padrão esperado de um
estudante avançado de caligrafia.

Figura 3 Topografia, a forma física ou


forma do comportamento, é uma
dimensão mensurável do
comportamento.

A topografia é de importância óbvia e primária em áreas de performance nas quais a forma,


estilo, ou arte do comportamento é valorizado em seu próprio direito (e.g., pintar, esculpir, dançar,
ginástica). Mensurar e fornecer diferentes consequências para respostas de topografias variadas
também é importante quando os resultados funcionais do comportamento se correlacionam altamente
com topografia específicas. Um estudante que senta com uma boa postura e olha para o professor tem
mais chances de receber atenção positiva e oportunidades para participar academicamente do que um
estudante que repousa a sua cabeça sobre a mesa (Schwarz e Hawkins, 1970). Jogadores de Basquete
que executam tiros livres de uma certa forma tem uma porcentagem maior de arremessos certos do
que quando ele arremessam idiossincraticamente.

Trap, Milner-Davis, Joseph, e Cooper (1978) mensuraram a topografia de escrita cursiva a mão
de estudantes da primeira série. Revestimentos plásticos transparentes foram usados para detectar
desvios das letras modelos nas letras maiúsculas e minúsculas escritas pelas crianças (veja figura 4).
Os pesquisadores contaram o número de traços corretos das letras – aqueles que alcançaram todos os
critérios da topografia especificada (e.g., todos os traços das letras estavam dentro do paramêtro de
2mm para o comprimento sobreposto, conectado, completo e suficiente) – e usaram a porcentagem de
todos os traços corretos escritos por cada estudante para avaliar os efeitos de feedback visual e verbal
e se certificar do sucesso da criança em adquirir habilidades de escrita manual cursiva.

Magnitude

A Magnitude se refere a força ou intensidade com a qual a resposta é emitida. Os resultados


desejados de alguns comportamentos são contingentes ao responder acima (ou abaixo) de um certo
nível de intensidade ou força. Uma chave de fenda deve ser girada com força o suficiente para inserir
ou remover parafusos; um lápis deve ser aplicado no papel com força o bastante para deixar marcas
legíveis. Por outro lado, apertar demais um parafuso ou trinco mal alinhado provavelmente vai
desmantelar as linhas, e apertar muito um lápis no papel vai quebrar a sua ponta.
18
Mensurando o Comportamento

Figura 4 Exemplos de contornos em


uma sobreposição transparente usada
para medir os limites internos e externos
das letras do manuscrito e uma ilustração
do uso da sobreposição transparente para
medir a letra m. Como o traço vertical da
letra m se estendia além dos limites do
contorno, ele não atendia aos critérios
topográficos para uma resposta correta.

De "The Measurement of Manuscript Letter


Strokes" por J. J. Helwig, J. C. Johns, J. E.
Norman, J. O. Cooper, 1976. Journal of
Applied Behavior Analysis, 9, p. 231.
Copyright 1976 da Sociedade para a Análise
Experimental do Comportamento, Inc.
Usado com permissão.

A magnitude da fala ou outras vocalizações que foram consideradas muito altas ou muito baixas
tem sido mensurada em vários estudos. Schwarz e Hawkins (1970) mensuraram o volume da voz de
Karen, uma menina na sexta-série que falava tão delicadamente em sala de aula que a sua voz era
geralmente inaudível para outros. A voz de Karen foi registrada em vídeo durante dois períodos de
aula em cada dia. (O vídeo também foi usado para obter dados sobre outros dois comportamentos:
tocar na face e a quantidade de tempo que Karen ficava sentada em uma posição desleixada). Os
pesquisadores então reproduziram o vídeo em um gravador de voz com um indicador de volume e
contaram o número de vezes que a agulha ficava acima de um nível específico no medidor de volume.
Schwarz e Hawkins usaram o número (proporção) de inflexões da agulha por 100 palavras faladas por
Karen como uma medida primária para avaliar os efeitos de uma intervenção no aumento do volume
da sua voz durante a aula.

Greene e colegas (1981) usaram um aparelho automatizado de gravação de voz para mensurar a
magnitude de interrupções barulhentas por estudantes de escola secundária em um ônibus escolar. O
aparelho de gravação poderia ser ajustado de forma que apenas níveis de som acima de um limiar pré-
determinado iriam ativá-lo. O aparelho automaticamente gravou tanto o número de vezes que
explosões sonoras excederam um limiar específico (93 dB) quanto a duração total em segundos na
qual o som permaneceu acima desse limiar. Quando o nível de barulho excedia o limiar específico,
uma luz acendia em um painel que todos os estudantes poderiam ver que foi ativado automaticamente.
Quando a luz estava apagada, estudantes ouviam música durante o trajeto no ônibus; quando o número
de perturbações barulhentas ficava abaixo de um critério, eles participavam de um sorteio de prêmios.
Essa intervenção reduziu drasticamente as explosões e outros problemas de comportamento também.
Greene e colegas relataram tanto o número quanto a duração média por ocorrência de interrupções
barulhentas como medidas para avaliar os efeitos da intervenção.8

A tabela 1 resume as dimenções mensuráveis do comportamento e considerações para seu uso.

8 Os pesquisadores às vezes manipulam e controlam a topografia e a magnitude da resposta para avaliar seus possíveis efeitos como
variáveis independentes. Piazza, Roane, Kenney, Boney e Abt (2002) analisaram os efeitos de diferentes topografias de resposta
sobre a frequência de alotriofagia (por exemplo, ingestão de matéria não nutritiva que pode ameaçar a vida de alguém) por três
mulheres. Os itens não comestíveis estavam localizados em vários locais, o que exigia que os sujeitos respondessem de maneiras
diferentes (por exemplo, alcançar, se curvar, deitar no chão, abrir um recipiente) para obtê-los. Pica diminuiu quando topografias de
resposta mais elaboradas foram necessárias para obter itens não comestíveis. Van Houten (1993) relatou que quando um menino
com uma longa história de tapas faciais intensos e de alta frequência usava pesos de pulso de 1,5 libra, os tapas no rosto
imediatamente caíam para zero. Estudos como esses sugerem que comportamentos problemáticos podem ser reduzidos quando o
envolvimento em tais comportamentos requer respostas mais difíceis em termos de topografia ou magnitude.
19
Mensurando o Comportamento
Tabela 1 Dimensões fundamentais, derivadas e definição pelas quais o comportamento pode ser medido e descrito
Medidas fundamentais Como calcular Considerações
Contagem: o número de respostas Contagem simples do número de respostas observadas. • O tempo de observação em que a contagem foi registrada deve
emitidas durante um período de ser referenciado.
observação. Judah contribuiu com 5 comentários durante a discussão da • Mais útil para comparação quando o tempo de observação
classe de 10 minutos. (tempo de contagem) é constante nas observações.
• Usado no cálculo de taxa / frequência, aceleração, porcentagens
e medidas de tentativa-para-critério.
Taxa / frequência: uma proporção de Relate o número de respostas registradas por tempo em que • Se o tempo de observação variar entre as medições, calcule com
contagem por tempo de observação; as observações foram realizadas. unidades de tempo padrão.
frequentemente expressa como • Minimize interpretações incorretas relatando o tempo de
contagem por unidade padrão de tempo Se os comentários de Judá fossem contados durante uma contagem.
(por exemplo, por minuto, por hora, por discussão em classe de 10 minutos, sua taxa de resposta • Avaliar o desenvolvimento de habilidades e fluência requer a
dia). seria de 5 comentários a cada 10 minutos. medição das taxas de respostas corretas e incorretas.
• Considere a complexidade e dificuldade variadas ao calcular as
Frequentemente calculado dividindo o número de respostas taxas de resposta.
registradas pelo número de unidades padrão de tempo em • Taxa é a medida mais sensível de mudanças na repetibilidade.
que as observações foram conduzidas. • Medida preferida para operantes livres.
• Má avaliação para comportamentos que ocorrem em tentativas
Judá fez comentários a uma taxa de 0,5 por minuto. discretas ou para comportamentos que ocorrem por períodos
prolongados.
• Medida mais sensível de repetibilidade do comportamento.
Medidas derivadas Como calcular Considerações
Celeração:A mudança (aceleração ou Com base na contagem por unidade de tempo (taxa); • Revela padrões dinâmicos de mudança de comportamento,
desaceleração) na taxa de resposta ao expresso como o fator pelo qual a resposta está acelerando como transições de um estado estacionário para outro e aquisição
longo do tempo. / desacelerando (multiplicando ou dividindo). de fluência.
• Exibido com uma linha de tendência em um gráfico de
Uma linha de tendência conectando as taxas médias de aceleração padrão.
comentários de Judá ao longo de 4 semanas de 0,1, 0,2, 0,4 • Mínimo de sete medidas de taxa recomendadas para cálculo.
e 0,8 comentários por minuto, respectivamente, mostraria
uma aceleração de por um fator de 2 vezes por semana.
Medidas fundamentais Como calcular Considerações
Duração: a quantidade de tempo que Duração total: Dois métodos: (a) Some as quantidades • Medida importante quando o comportamento alvo é
um comportamento ocorre. individuais de tempo para cada resposta durante um problemático porque ocorre por períodos muito longos ou muito
período de observação; ou (b) registrar o tempo total que o curtos.
indivíduo está engajado em uma atividade, ou precisa • Medida útil para comportamentos que ocorrem em taxas muito
completar uma tarefa, sem um período mínimo ou máximo altas e para os quais a identificação precisa do evento é difícil (por
de observação. exemplo, sacudir o dedo).
20
Mensurando o Comportamento
• Medida útil para comportamentos que não têm começos
Judah passou 1,5 minuto comentando na aula hoje. discretos e para os quais a identificação de eventos é difícil (por
exemplo, zumbido).
Duração por ocorrência: Registre a duração de tempo para • Medida útil para comportamentos orientados para a tarefa ou
cada instância do comportamento; frequentemente relatado contínuos (por exemplo, jogo cooperativo).
por média ou mediana e intervalo de durações por sessão. • A duração por ocorrência geralmente é preferida em relação à
duração total, porque inclui dados de contagem e duração total.
Os 6 comentários de Judá hoje tiveram uma duração média • Use a duração total quando o objetivo for aumentar a resistência
de 11 segundos, com um intervalo de 3 a 24 segundos. do comportamento.
• Medir a duração por ocorrência envolve a contagem de
respostas, que pode ser usada para calcular a taxa de resposta.
Latência de resposta: o ponto no tempo Registre o tempo decorrido desde o início do evento de • Medida importante quando o comportamento alvo é um
em que ocorre uma resposta em relação estímulo antecedente e o início da resposta; frequentemente problema porque é emitido com latências muito longas ou muito
à ocorrência de um estímulo relatado por média ou mediana e intervalo de latências por curtas.
antecedente. sessão. • Latências decrescentes podem revelar o domínio crescente da
pessoa em algumas habilidades.
Os comentários de Judah hoje tiveram uma latência média
de 30 segundos após o comentário de um colega (intervalo
de 5 a 90 segundos).
Tempo entre respostas (IRT): O Registre o tempo decorrido desde o final da resposta • Medida importante quando o tempo entre as respostas ou ritmo
momento em que ocorre uma resposta anterior e o início da próxima resposta; frequentemente do comportamento é o foco.
em relação à ocorrência da resposta relatado por média ou mediana e intervalo de IRTs por • Embora seja uma medida do locus temporal, a IRT está
anterior. sessão. correlacionada com a taxa de resposta.
• Uma medida importante na implementação e avaliação do DRL.
Os comentários de Judah hoje tiveram um IRT médio de 2
minutos e um intervalo de 10 segundos a 5 minutos.
Medidas derivadas Como calcular Considerações
Porcentagem: uma proporção, expressa Divida o número de respostas que atendem aos critérios • As porcentagens baseadas em divisores menores que 20 são
como um número de partes por 100; especificados (por exemplo, respostas corretas, respostas
indevidamente influenciadas por pequenas mudanças no
normalmente expressa como uma com IRT mínimo, respostas de topografia específica) pelocomportamento. Mínimo de 30 intervalos de observação ou
proporção do número de respostas de número total de respostas emitidas (ou oportunidades de oportunidades de resposta recomendados para pesquisa.
um determinado tipo por número total resposta) e multiplique por 100. • A mudança na porcentagem pode sugerir erroneamente um
de respostas (ou oportunidades ou melhor desempenho.
intervalos em que tal resposta poderia Setenta por cento dos comentários de Judá hoje foram • Sempre relate o divisor no qual as medidas de porcentagem são
ter ocorrido). relevantes para o tópico de discussão. baseadas.
• Não pode ser usado para avaliar proficiência ou fluência
• Impõe limites superiores e inferiores de desempenho (ou seja,
não pode exceder 100%)
21
Mensurando o Comportamento
• Porcentagens amplamente diferentes podem ser relatadas a partir
do mesmo conjunto de dados.
• Para calcular uma porcentagem geral de percentagens com base
em denominadores diferentes (por exemplo, 90% [9/10], 87,5%
[7/8], 33% [1/3], 100% [1/1], divida o total numeradores das
porcentagens dos componentes (por exemplo, 18) pelos
denominadores totais (por exemplo, 18/22 = 81,8%). A média das
próprias porcentagens produz um resultado diferente (por
exemplo, 90% + 87,5% + 33% + 100% / 4 = 77,6%).
Tentativas-para-critério: Número de Adicione o número de respostas ou tentativas de ensino • Fornece uma descrição exposta do “custo” de um tratamento ou
respostas, testes de instrução ou necessárias para que o aluno atinja o critério especificado. método de instrução.
oportunidades de prática necessárias • Útil para comparar a eficiência relativa de diferentes métodos de
Durante as sessões de treinamento de discussão em classe
para atingir um critério de desempenho instrução ou treinamento.
predeterminado. conduzidas na sala de recursos, foram necessários 14 • Útil para avaliar mudanças na taxa em que um aluno domina
blocos de 10 oportunidades de comentário para que Judah novas habilidades (agilidade).
atingisse o critério de 8 comentários sobre o tópico a cada
10 oportunidades.
Medidas de definição Como calcular Considerações
Topografia: a forma ou formato do Usado para determinar se as respostas atendem aos critérios • Medida importante quando os resultados desejados de
comportamento. topográficos; as respostas que atendem a esses critérios são comportamento dependem de respostas que atendem a certas
medidas e relatadas por uma ou mais medidas fundamentais topografias.
ou derivadas (por exemplo, porcentagem de respostas que • Medida importante para áreas de desempenho nas quais a forma,
atendem aos critérios topográficos). o estilo ou a arte são valorizados.
Magnitude: intensidade ou força do Usado para determinar se as respostas atendem aos critérios • Medida importante quando os resultados de comportamento
comportamento. de magnitude; as respostas que atendem a esses critérios desejados dependem de respostas dentro de certa faixa de
são medidas e relatadas por uma ou mais medidas magnitudes.
fundamentais ou derivadas (por exemplo, contagem de
respostas que atendem aos critérios de magnitude).

O banco de Jill pressionou uma barra de 60 libras 20 vezes.


22
Mensurando o Comportamento

Procedimentos para Mensurar Comportamento

Procedimentos para mensurar comportamento mais comumente usados por analistas do


comportamento aplicado envolvem um ou uma combinação dos seguintes: registro do evento, tempo,
e vários métodos de amostragem de tempo.

Registro de Evento

O Registro de evento engloba uma ampla variedade de procedimentos para detectar e registrar
o número de vezes que um comportamento de interesse ocorre. Por exemplo, Cuvo, Lerch, Leurquin,
Gaffaney, e Poppen (1998) usaram o registro de evento enquanto analisavam os efeitos de exigências
do trabalho e esquemas de reforçamento no comportamento de escolha de adultos com retardo mental
e crianças pré-escolares enquanto eles estavam engajados em tarefas apropriadas para a idade (ex.:
adultos classificando talheres, crianças jogando puffs ou pulando obstáculos). Os pesquisadores
registraram cada talher que foi classificado, cada puff jogado e cada obstáculo pulado.

Aparelhos para Registrar Eventos

Ainda que lápis e papel sejam o suficiente para realizar registros de eventos, os aparelhos e
procedimentos a seguir podem facilitar o processo de contagem.

- Contadores de pulso: Contadores de pulso são úteis para marcar comportamentos do estudante.
Jogadores de golfe usam esses contadores para marcar golpes na bola. A maioria dos contadores de
pulso registram respostas de 0 a 99. Esses contadores podem ser comprados em lojas de materiais
esportivos ou em grandes lojas de departamento.

- Contadores digitais de marcação manual: Esses contadores digitais são similares aos
contadores de pulso. Contadores de marcação manual são frequentemente usados em filiais de
mercearias, lanchonetes, salões militares bagunçados e postos de pedágio para marcar o número de
pessoas servidas. Esses contadores mecânicos estão disponíveis em um ou múltiplos canais e se
encaixam confortavelmente na palma da mão. Com prática, praticantes conseguem operar os
contadores de múltiplos canais rapidamente e confiavelmente com apenas uma mão. Esses contadores
digitais podem ser obtidos em lojas de suprimentos para escritório.

- Contadores com ábaco no pulso e cadarços: Landry e McGreevy (1984) descreveram dois
tipos de contadores de ábaco para mensurar comportamento. O contador de ábaco no pulso é feito de
limpadores de cano e contas fixadas em uma pulseira de couro para formar um ábaco com filas
designadas como unidades e dezenas. Um observador consegue marcar de 1 a 99 ocorrências do
comportamento ao deslizar as contas no ábaco. As respostas são marcadas da mesma maneira em um
contador de ábaco com cadarços exceto que as contas deslizam em cadarços fixados em um anel chave,
que é colocado no cinto do observador, ou em qualquer outra peça de roupa como uma botoeira.

- Fita adesiva: Professores podem marcar em uma fita adesiva fixada no seu pulso ou na mesa.

- Moedas, botões, clipes de papel: Um item pode ser movido de um bolso para o outro toda vez
que o comportamento alvo ocorrer.

- Calculadores de bolso: Calculadores de bolso podem ser usadas para registrar eventos.
23
Mensurando o Comportamento

O registro de eventos também se aplica a mensuração de comportamentos de tentativa discreta,


nos quais a contagem para cada tentativa ou oportunidade para responder seja 1 ou 0, representando a
ocorrência ou não ocorrência do comportamento. A figura 5 mostra uma forma usada para registrar a
ocorrência de respostas de imitação emitidas por um pré-escolar com transtornos e seu par de
desenvolvimento típico dentro de uma série de tentativas instrucionais integradas em atividades em
andamento na sala de aula (Valk, 2003). Para cada tentativa, o observador registrou a ocorrência da
resposta correta, a não ocorrência, uma aproximação, ou uma resposta inapropriada pela criança alvo
e o seu par ao circular ou fazer um traço em cima das letras que estavam representando cada
comportamento. A forma também permitiu que o observador registrasse se o professor ajudou ou
elogiou o comportamento imitativo da criança alvo.

Figura 5 Formulário de coleta de dados


para registrar o comportamento de duas
crianças e de um professor durante uma
série de tentativas discretas.

Adaptado de The Effects of Embedded


Instruction dentro do contexto de um
pequeno grupo sobre a aquisição de
habilidades de imitação de crianças
com deficiência por J. E. Valk (2003), p.
167. Tese de doutorado não publicada,
The Ohio State University. Usado com
permissão.

Considerações sobre o Registro de Eventos

Registrar eventos é algo fácil de fazer. A maioria das pessoas consegue marcar comportamentos
discretos com precisão, geralmente na sua primeira tentativa. Se a taxa de resposta não for muito alta,
o registro de eventos não interfere nas outras atividades. Um professor consegue continuar com a
instrução enquanto marca ocorrências do comportamento alvo.

O registro de eventos fornece uma medida útil da maioria dos comportamentos. Entretanto, cada
instância do comportamento alvo deve ter pontos discretos de começo e término. Registro de eventos
é aplicável para comportamentos alvo como respostas orais do estudante para questões, respostas
escritas para problemas matemáticos, e um pai elogiando o seu filho ou filha. Comportamentos como
24
Mensurando o Comportamento

murmurar são díficeis de mensurar com registro de eventos porque um observador teria dificuldade
em determinar quando um murmúrio acaba e outro começa. O registro de eventos é díficil para
comportamento definidos sem ação específica discreta ou relações de objetos, como o engajamento
com materiais durante uma atividade de brincar livre. Pelo fato do engajamento com materias não
apresentar uma ação discreta específica ou relação de objetos, um observador pode ter dificuldade em
julgar quando um engajamento começa e termina, e depois outro engajamento começa.

Outra consideração a respeito do registro de eventos é que os comportamentos alvo não devem
ocorrer em taxas tão altas que o observador teria dificuldade em contar cada ocorrência discreta com
precisão. Comportamentos de alta frequência que podem ser díficeis de mensurar com registro de
eventos incluem falar rápido e bater em objetos.

Além disso, o registro de eventos não produz medidas precisas de comportamentos alvo que
ocorrem por períodos extensos de tempo, como permanecer em uma tarefa, escutar, brincar sozinho
em silêncio, ficar fora do assento de outra pessoa, ou chupar o dedo. Comportamentos contínuos ou
orientados para tarefa (e.g., ficar “na tarefa”) são exemplos de comportamentos alvo que o registro de
eventos não seria indicado. Classes de comportamentos contínuos ocorrendo através do tempo
geralmente não são a principal preocupação dos analistas do comportamento aplicado. Por exemplo,
leitura por segundos é de menor preocupação do que o número de palavras lidas corretamente ou
incorretamente, ou o número de questões de compreensão de leitura respondidas corretamente ou
incorretamente. Similarmente, comportamentos que demonstram entendimento são mais importantes
de mensurar do que ‘comportamento de escuta’, e o número de respostas acadêmicas que um estudante
emite durante um período de trabalho sentado independente é mais importante do que estar na tarefa.

Tempo

Pesquisadores e praticantes usam uma variedade de aparelhos de tempo e procedimentos para


mensurar duração, latência da resposta, e tempo entre as respostas.

Cronometrando a Duração do Comportamento

Pesquisadores aplicados geralmente usam sistemas semi-automáticos guiados por computador


para registrar durações. Praticantes, entretanto, vão provavelmente usar instrumentos não
automatizados para registrar a duração. O instrumento não automático mais preciso é um cronômetro
digital. Praticantes podem usar relógios de parede ou de pulso para mensurar a duração, mas as medidas
obtidas vão ser menos precisas do que aquelas obtidas com um cronômetro.

O procedimento para registrar a duração total de um comportamento alvo por sessão com um
cronômetro é (a) ativar o cronômetro quando o comportamento iniciar e (b) pausar no final do episódio.
Então, sem resetar o cronômetro, o observador inicia o cronômetro de novo no começo da segunda
ocorrência do comportamento e pausa no final do segundo episódio. O observador continua a acumular
as durações de tempo dessa maneira até o final do período de obervação, e depois transfere a duração
total do tempo mostrada no cronômetro para a folha de registro.

Gast e colegas (2000) usaram o seguinte procedimento para mensurar a duração com um
gravador e um interruptor no pé que permitia com que o praticante usasse ambas as mão para apresentar
os materiais de estímulo ou interagir com o participante de outras maneiras durante a sessão:
25
Mensurando o Comportamento

A duração de um comportamento alvo do estudante foi registrada usando um gravador com uma
fita em branco que era ativado pelo instrutor usando o seu pé para ativar um interruptor conectado ao
gravador. Quando o estudante engajava no comportamento alvo, o professor ativava o interruptor que
começava a rodar o gravador. Quando o estudante parava de engajar no comportamento, o professor
parava o gravador ativando o interruptor mais uma vez. No final da sessão o professor falou “fim”,
parou o gravador e rebobinou a fita. [Depois da sessão o professor] reproduziu a fita do começo ao fim
e registrou a duração com um cronômetro. (p. 398)

McEntee e Saunders (1997) registraram duração por ocorrência usando um sistema de coleta de
dados com código de barras para mensurar (a) engajamento funcional ou esteriotipado com materiais
e (b) esteriotipia sem interação com materiais e outros comportamentos atípicos. Eles criaram e
organizaram códigos de barra em uma folha de registro para registrar os comportamentos de quatro
adolescentes com retardo mental severo ou profundo. Um computador com um software e uma fonte
de código de barra leu o código e registrou o ano, mês, dia e tempo de eventos específicos. O sistema
de coleta de dados com códigos de barra forneceu medidas de tempo real da duração de engajamentos
com materiais e comportamentos atípicos.

Latência do Tempo de Resposta e Tempo Entre Respostas

Procedimentos para mensurar latência e tempo entre respostas (IRT) são similares aos
procedimentos usados para mensurar a duração. Mensurar a latência exige uma detecção precisa e
registro do tempo que passa entre o ínicio de cada ocorrência do evento do estímulo antecedente de
interesse e o começo do comportamento alvo. Mensurar IRTs exige registrar o tempo preciso que passa
entre o término de cada ocorrência do comportamento alvo e o ínicio do próximo. Wehby e Hollahan
(2000) mediram a latência do cumprimento de um estudante do ensino fundamental com transtornos
no desenvolvimento para instruções para começar atividades matemáticas. Usando um computador
com um software criado para detectar latência (veja Tapp, Wehby, e Ellis, 1995, para o sistema de
obervação MOOSES), eles mensuraram a latência entre o pedido e o começo do cumprimento.

Amostragem de Tempo

A amostragem do tempo se refere a uma variedade de métodos para observar e registrar


comportamento durante intervalos ou momentos específicos de tempo. O procedimento básico envolve
dividir o período de observação em intervalos de tempo e depois registrar a presença ou ausência do
comportamento dentro de ou no final de cada intervalo.

A amostragem do tempo foi desenvolvida originalmente por etólogos estudando o


comportamento de animais no campo (Charlesworth e Spiker, 1975). Pelo fato de não ser possível ou
viável observar os animais continuamente, esses cientistas organizaram cronogramas sistemáticos de
intervalos de observação relativamente breves, mas frequentes. As medidas obtidas a partir dessas
“amostras” são consideradas representativas do comportamento durante todo o período de tempo no
qual foram coletadas. Por exemplo, muito do nosso conhecimento sobre o comportamento de gorilas
é baseado nos dados coletados por pesquisadores como Jane Goodall que usou métodos de observação
de amostragem de tempo.

Três formas de amostragem de tempo geralmente usadas por analistas do comportamento


aplicado são: registro de intervalo total, registro parcial do intervalo, e amostragem de tempo
momentânea.9

9 Uma variedade de termos são usados na literatura de análise de comportamento aplicada para descrever procedimentos de medição
que envolvem a observação e registro de comportamento dentro ou no final de intervalos programados. Alguns autores usam o termo
amostragem de tempo para se referir apenas à amostragem de tempo momentânea. Incluímos o registro de intervalo total e de
intervalo parcial sob a rubrica de amostragem de tempo, porque muitas vezes é conduzido como um método de medição descontínuo
para fornecer uma "amostra" representativa do comportamento de uma pessoa durante o intervalo do período de observação.
26
Mensurando o Comportamento

Registro do Intervalo Total

O registro do intervalo total é geralmente usado para mensurar comportamentos contínuos (e.g.,
brincar cooperativo) ou comportamentos que ocorrem em taxas tão altas que os observadores têm
dificuldade em distinguir uma resposta da outra (e.g., balançar-se, murmurar) mas conseguem detectar
se o comportamento está ocorrendo a qualquer momento. Com o registro do intervalo total, o período
de observação é dividido em uma série de intervalos curtos de tempo (geralmente de 5 a 10 segundos).
Ao final de cada intervalo, o observador registra se o comportamento alvo ocorreu durante o intervalo.
Se o comportamento de engajamento na tarefa do estudante estiver sendo mensurado por um registro
de intervalo total de 10 segundos, o estudante precisaria alcançar o critério de estar engajado na tarefa
durante um intervalo inteiro para que o comportamento fosse registrado como tendo ocorrido nesse
intervalo. O estudante que estava engajado na tarefa por 9 de um intervalo de 10 segundos não
pontuaria como se estivesse engajado nesse intervalo. Logo, os dados obtidos com o registro de todo
o intervalo comumente subestimam a porcentagem geral do período de observação no qual o
comportamento de fato ocorreu. Quanto mais longos os intervalos de observação, maior o grau com o
qual o registro de todo o intervalo vai subestimar a real ocorrência do comportamento.

Os dados obtidos com o registro de intervalo total são relatados como a porcentagem de
intervalos totais nos quais o comportamento alvo foi registrado como tendo ocorrido. Pelo fato deles
representarem a proporção do período de observação inteiro que a pessoa estava engajada no
comportamento alvo, o registro de intervalo total produz uma estimativa da duração total. Por exemplo,
considere um período de observação de intervalo total que consiste em seis intervalos de 10 segundos
(recorte de tempo de um minuto). Se o comportamento alvo foi registrado como tendo ocorrido em
quatro desses intervalos inteiros e ausente nos dois intervalos restantes, iria produzir uma estimativa
de duração total de 40 segundos.

A figura 6 mostra um exemplo de um formulário de registro de todo o intervalo usado para


mensurar o comportamento na tarefa de quatro estudantes durante tempo acadêmico de trabalho
sentado (Ludwig, 2004). Cada minuto foi dividido em quatro intervalos de observação de 10 segundos;
cada intervalo de observação foi seguido por 5 segundos nos quais o observador registrou a ocorrência
ou não ocorrência do comportamento alvo durante os 10 segundos precedentes. O observador primeiro
acompanhou o Estudante 1 continuamente por 10 segundos, e depois ele olhou para baixo durante os
próximos 5 segundos e registrou se o Estudante 1 tinha ficado na tarefa durante os 10 segundos
anteriores circulando SIM ou NÃO no formulário de registro. Depois do intervalo de 5 segundos para
registrar o comportamento do Estudante 1, o observador olhou para cima e observou continuamente o
Estudante 2 por 10 segundos, depois ele registrou o comportamento do Estudante 2 no formulário. O
mesmo procedimento para observar e registrar foi usado para os Estudantes 3 e 4. Dessa maneira, o
comportamento na tarefa de cada estudante foi observado e registrado por um intervalo de 10 segundos
por minuto.

Continuar a sequência de observação e intervalos para registrar durante um período de


observação de 30 minutos forneceu trinta medidas de 10 segundos (ex.: amostras) de cada
comportamento na tarefa do estudante. Os dados na Figura 6 mostram que os quatro estudantes foram
julgados pelo observador como estando na tarefa durante a sessão 17 por 87%, 93%, 60% e 73% dos
intervalos, respectivamente. Ainda que os dados tenham a intenção de representar o nível de
comportamento de cada estudante durante o período de observação, é importante lembrar que cada
estudante foi observado por um total de apenas 5 minutos de um período de observação de 30 minutos.
27
Mensurando o Comportamento

Figura 6 Formulário de
observação usado para registro de
intervalo total de quatro alunos em
atividade durante o tempo de
trabalho independente no assento.
Adaptado de Smiley faces e spinners:
Efeitos do automonitoramento da
produtividade com uma contingência
indiscriminável de reforço no
comportamento na tarefa e na
produtividade acadêmica por alunos
do jardim de infância durante
trabalho independente no banco por
R. L. Ludwig, 2004, p. 101. Tese de
mestrado não publicada, The Ohio
State University. Usado com
permissão

Observadores usando qualquer forma de amostragem de tempo devem sempre registrar uma
resposta de algum tipo em todos os intervalos. Por exemplo, um observador usando um formulário
como da figura 6 iria registrar a ocorrência ou não ocorrência do comportamento alvo em cada
intervalo circulando SIM ou NÃO. Deixar intervalos não marcados aumenta a probabilidade de perder
o espaço de alguém na folha de registro e marcar o resultado de uma observação no espaço de intervalo
errado.

Todos os métodos de amostragem de tempo exigem um dispositivo de tempo para sinalizar o


começo e o final de cada observação e intervalo de registro. Observadores usando lápis, papel,
prancheta e timers para a mensuração do intervalo vão geralmente fixar um cronômetro na sua
prancheta. Entretanto, observar e registrar comportamento enquanto tem que olhar simultaneamente
para um cronômetro provavelmente vai ter um impacto negativo na precisão da mensuração. Uma
solução efetiva para esse problema é o observador escutar em um fone de ouvido dicas sonoras pré-
gravadas sinalizando a observação e os intervalos de registro. Por exemplo, observadores usando um
procedimento de registro de intervalo total como o que acabou de ser descrito poderiam ouvir uma
gravação de áudio com uma sequência de afirmações pré-gravadas como as seguintes: “Observe o
28
Mensurando o Comportamento

Estudante 1”, 10 segundos depois, “Registro do Estudante 1”, 5 segundos depois, “Observe o
Estudante 2”, 10 segundos depois, “Registro do Estudante 2”, e assim por diante.

Aparelhos táteis também podem ser usados para sinalizar intervalos de observação. Por exemplo,
o Gentle Reminder (dan@gentlereminder.com) e o MotivAider (www.habitchange.com) são
instrumentos pequenos de tempo que vibram em intervalos de tempo programados pelo usuário.

Registro de Intervalo Parcial

Ao usar o registro de intervalo parcial, o observador registra se o comportamento ocorreu em


qualquer momento durante o intervalo. A amostragem de tempo de intervalo parcial não está
preocupada com quantas vezes o comportamento ocorreu durante o intervalo ou com quanto tempo o
comportamento estava presente, apenas se ele ocorreu em algum momento durante o intervalo. Se o
comportamento alvo ocorre múltiplas vezes durante o intervalo, ainda é pontuado como tendo ocorrido
apenas uma vez. Um observador usando o registro parcial do intervalo para mensurar o comportamento
inadequado de um estudante iria marcar um intervalo se o comportamento inadequado de qualquer
forma que alcançasse a definição do comportamento alvo ocorresse por qualquer duração de tempo
durante o intervalo. Isso é, um intervalo seria pontuado como um comportamento inadequado mesmo
se o estudante fosse inadequado em apenas 1 segundo de um intervalo de 6 segundos. Por causa disso,
dados obtidos através do registro de intervalo parcial geralmente superestimam a porcentagem geral
do período de observação (ex., duração total) que o comportamento de fato ocorreu.

Dados de intervalo parcial, como os dados do intervalo total, são mais comumente reportados
como uma porcentagem de intervalos totais nos quais o comportamento alvo foi pontuado. Dados de
intervalo parcial são usados para representar a proporção do período inteiro de observação no qual o
comportamento alvo ocorreu, mas diferentemente do registro de intervalo parcial, os resultados do
intervalo parcial não fornecem qualquer informação sobre a duração por ocorrência. Isso acontece
porque qualquer instância do comportamento alvo, independentemente de quão breve for a sua duração
vai causar a pontuação de um intervalo.

Se o registro de intervalo parcial com intervalos breves de observação é usado para mensurar
respostas discretas de curta duração por ocorrência, os dados obtidos fornecem uma estimativa crua da
taxa mínima de responder. Por exemplo, dados mostrando que um comportamento mensurado por um
registro de intervalo parcial consistindo de intervalos contínuos de 6 segundos (ex.: intervalos
sucessivos não são separados pelo tempo no qual o comportamento não é observado) ocorreu em 50%
dos intervalos totais indica uma taxa de resposta mínima de cinco respostas por minuto (na média, pelo
menos uma resposta ocorreu em 5 dos 10 intervalos por minuto). Ainda que o registro de intervalo
parcial geralmente superestime a duração total, é provável que subestime a taxa de um comportamento
de alta frequência. Isso acontece porque um intervalo no qual uma pessoa fez oito sons não verbais
seria pontuado como o mesmo que um intervalo no qual a pessoa fez apenas um som. Quando a
avaliação e o entendimento de um comportamento alvo requerem uma medida precisa e atenta da taxa
de resposta, registro de eventos deve ser utilizado.

Pelo fato de um observador usando o registro parcial de intervalo precisar registrar apenas que
um comportamento tem ocorrido em qualquer momento durante cada intervalo (comparado a ter que
observar o comportamento durante o intervalo inteiro no registro de todo o intervalo), é possível
mensurar múltiplos comportamentos ao mesmo tempo. A Figura 7 mostra uma porção de um
formulário para mensurar quatro classes de resposta de três estudantes usando registro parcial de
29
Mensurando o Comportamento

intervalo com intervalos de 20 segundos. O observador observa o Estudante 1 durante o primeiro


intervalo de 20 segundos, o Estudante 2 pelos próximos 20 segundos, e o Estudante 3 pelos próximos
20 segundos. Cada estudante é observado por 20 segundos de cada minuto do período de observação.
Se um estudante engaja em qualquer um dos comportamentos que estão sendo mensurados em
qualquer momento durante um intervalo de observação, o observador marca a(s) letra(s)
correspondentes a esses comportamentos. Se o estudante não engajar em nenhum desses
comportamentos que estão sendo mensurados durante um intervalo, o observador marca N para indicar
que não houve ocorrências dos comportamentos alvo. Por exemplo, durante o primeiro intervalo no
qual o Estudante 1 foi observado, ele disse, “Oceano Pacífico” (uma resposta acadêmica). Durante o
primeiro intervalo no qual o Estudante 2 foi observado, ela deixou o seu assento e jogou um lápis (um
comportamento dentro da classe de respostas “outros comportamentos inadequados”). O Estudante 3
emitiu nenhum dos quatro comportamentos alvo durante o primeiro intervalo que ele foi observado.

Figura 7 Parte de um formulário


usado para registro de intervalo
parcial de quatro resposta em
aula por três alunos.

Amostragem de Tempo Momentânea

Um observador usando amostra de tempo momentânea registra se o comportamento alvo está


ocorrendo no momento que cada intervalo de tempo termina. Caso conduzisse uma amostra de tempo
momentânea com intervalos de 1 minuto, um observador iria olhar para a pessoa na marca de 1 minuto
do período de observação, determinar imediatamente se o comportamento alvo estava ocorrendo, e
indicar essa decisão na folha de registro. Um minuto depois (ex.: 2 minutos no período de observação),
o observador iria olhar de novo para a pessoa e depois pontuar a presença ou ausência do
comportamento alvo. Esse procedimento iria continuar até o final do período de observação.

Assim como métodos de registro de intervalo, dados da amostragem de tempo momentânea são
tipicamente relatados como porcentagens dos intervalos totais nos quais o comportamento ocorreu e
são usados para estimar a proporção do período total de observação que o comportamento ocorreu.

A maior vantagem da amostragem de tempo momentânea é que o observador não tem que prestar
atenção continuamente na mensuração, enquanto métodos de registro de intervalo demandam a atenção
focada do observador.

Pelo fato da pessoa ser observada por apenas um momento breve, muito comportamento vai ser
perdido com a amostragem de tempo momentânea. A amostragem de tempo momentânea é usada
principalmente para mensurar comportamentos contínuos de atividade como o engajamento em uma
tarefa ou atividade, porque tais comportamentos são facilmente identificáveis. A amostragem de tempo
momentânea não é recomendada para mensurar comportamentos de curta duração e baixa frequência
(Saudargas e Zanolli, 1990).
30
Mensurando o Comportamento

Um número de estudos tem comparado medidas obtidas pela amostragem de tempo momentânea
usando intervalos de duração variável com medidas do mesmo comportamento obtidas por registro de
duração contínua (e.g., Gunter, Venn, Patrick, Miller e Kelly, 2003; Powell, Martindale, Kulp,
Martindale e Bauman, 1977; Powell, Martindale e Kulp, 1975; Simpson e Simpson, 1977; Saudargas
e Zanolli, 1990; Test e Heward, 1984). No geral, essa pesquisa tem achado que a amostragem de tempo
momentânea superestima e subestima a medida de duração contínua quando intervalos de tempo são
maiores que 2 minutos. Com intervalos menores que 2 minutos, os dados obtidos usando amostragem
de tempo momentânea chegaram mais perto dos obtidos usando a medida de duração contínua.

Resultados de um estudo de Gunter e seus colegas (2003) são representativos para essa pesquisa.
Esses pesquisadores compararam medidas de comportamento na tarefa de três estudantes do ensino
fundamental com transtornos comportamentais/emocionais ao longo de sete sessões obtidas por uma
amostragem de tempo momentânea conduzida em intervalos de 2, 4 e 6 minutos com medidas do
mesmo comportamento obtidas por registro de duração contínua. As medidas obtidas usando o método
de amostragem de tempo de 4 e de 6 minutos produziu dados que eram altamente discrepantes com os
dados obtidos por mensuração contínua, mas os dados obtidos usando o intervalo de 2 minutos tinham
um alto grau de correspondência com as medidas obtidas usando o método de duração contínua. A
Figura 8 mostra os resultados de um dos estudantes.

Figura 8 Comparação das medidas do comportamento na tarefa de um aluno do ensino


fundamental obtidas por 2 minutos, amostragem de tempo momentâneo de 4 e 6 minutos com
medidas do mesmo comportamento obtidas por registro de duração contínua.
De "Eficácia do uso de amostras de tempo momentâneas para determinar o comportamento na tarefa
dos alunos com transtornos emocionais / comportamentais ”por P. L. Gunter, M. L. Venn, J. Patrick, K.
A. Miller e L. Kelly, 2003, Education and Treatment of Children, 26, p. 406. Usado com permissão.

Verificação de Atividade Planejada

Uma variação da amostra de tempo momentânea, a verificação de atividade planejada


(PLACHECK) usa a contagem de indivíduos para mensurar “comportamento em grupo”. Um
professor usando o PLACHECK observa um grupo de estudantes no final de cada intervalo de tempo,
conta o número de estudantes engajados na atividade alvo, e registra a conta com o número total de
31
Mensurando o Comportamento

estudantes no grupo. Por exemplo, Doke e Risley (1972) usaram dados obtidos pela mensuração
PLACHECK para comparar a participação do grupo em atividades obrigatórias e opcionais antes da
escola. Os observadores contaram o número de estudantes nas áreas de atividade opcional ou
obrigatória no final de intervalos de 3 minutos, e depois o número de crianças participando de fato na
atividade de qualquer área. Eles reportaram esses dados como porcentagens separadas de crianças
participando de atividades obrigatórias ou opcionais.

Dyer, Schwartz, e Luce (1984) usaram uma variação do PLACHECK para mensurar a
porcentagem de estudantes com transtornos morando em uma instalação residencial engajados em
atividades funcionais e apropriadas para a idade. Conforme os estudantes entravam na área de
observação, eles eram observados individualmente pelo tempo necessário para determinar a atividade
na qual eles estavam engajados. Os estudantes foram observados em uma ordem pré-determinada não
excedendo 10 segundos por estudante.

Outras variações da mensuração PLACHECK podem ser encontradas na literatura, ainda que
eles geralmente chamem de amostragem de tempo ou amostragem de tempo momentânea. Por
exemplo, em um estudo examinando os efeitos de cartas de resposta no comportamento inadequado
de crianças da terceira série durante atividades matemáticas diárias, Armendariz e Umbreit (1999)
registraram em intervalos de 1 minuto se cada estudante na sala estava sendo inadequado. Ao combinar
os dados PLACHECK obtidos através de todas as sessões de cartões sem resposta (linha de base), e
colocar em gráfico esses resultados como uma porcentagem de estudantes que estavam sendo
inadequados em cada marcação de 1 minuto, e fazer o mesmo com os dados PLACHECK obtidos por
meio de todas as sessões de cartões com resposta. Armendariz e Umbreit criaram uma figura clara e
poderosa da diferença no “comportamento de grupo” do começo ao final de uma lição típica na qual
cartões de resposta foram usados ou não usados.

Reconhecendo Variabilidade Artefatual em Medidas de Amostragem de Tempo

Como afirmado anteriormente, todos os métodos de amostragem de tempo fornecem apenas uma
estimativa da ocorrência de fato do comportamento. Diferentes procedimentos amostragem de
mensuração produzem diferentes resultados, o que pode influenciar em decisões e interpretações. A
figura 9 ilustra apenas o quão diferentes os resultados obtidos ao mensurar o mesmo comportamento
com métodos diferentes de amostragem de tempo podem ser. As barras com sombra indicam quando
o comportamento estava ocorrendo dentro de um período de observação dividido em 10 intervalos
contínuos. As barras com sombra revelam todas as três quantidades dimensionais do comportamento;
repetibilidade (sete instâncias do comportamento), extensão temporal (a duração de cada resposta) e a
localização temporal (tempo entre respostas é representado pelo espaço entre as barras com sombra).

Pelo fato dos métodos de amostragem de tempo usados na análise do comportamento aplicada
serem na maioria das vezes vistos e interpretados como medidas da proporção do período total de
observação no qual o comportamento ocorreu, é importante comparar os resultados dos métodos de
amostragem de tempo com aqueles obtidos pela mensuração contínua da duração. A mensuração
contínua revela que o comportamento descrito na figura 9 ocorreu em 55% do tempo durante o período
de observação. Quando o mesmo comportamento durante o mesmo período de observação foi
registrado usando registros de intervalo total, a medida obtida subestimou grosseiramente a ocorrência
de fato do comportamento (i.e., 30% versus 50%), o registro de intervalo parcial superestimou
32
Mensurando o Comportamento

grosseiramente a ocorrência real (i.e.,70% versus 55%), e a amostragem de tempo momentânea


produziu uma estimativa próxima da ocorrência real do comportamento (50% versus 55%).

Figura 9 Comparando
medidas do mesmo
comportamento obtidas
por três métodos
diferentes de amostragem
de tempo com medidas
obtidas por registro de
duração contínua.

O fato da amostragem de tempo momentânea ter resultado em uma medida que mais se
aproximou do comportamento de fato não quer dizer que vai ser sempre o método preferido. Diferentes
distribuições do comportamento (i.e., localização temporal) durante o período de observação, até
mesmo na mesma frequência geral e duração como a sessão mostrada na figura 9, iriam resultar em
resultados amplamente diferentes de cada um dos três métodos de amostragem de tempo.

Discrepâncias entre as medidas obtidas por métodos diferentes de mensuração são comumente
descritas em termos da precisão ou imprecisão de cada método. Entretanto, a precisão não é a questão
aqui. Se as barras sombreadas na figura 9 representam o valor real do comportamento, então cada um
dos métodos de amostragem de tempo foi conduzido com precisão completa e os dados resultantes são
o que deve ser obtido ao aplicar cada método. Um exemplo do uso impreciso de um dos métodos de
mensuração seria se o observador usando um registro de todo o intervalo tivesse marcado o
comportamento como tendo ocorrido no Intervalo 2, quando o comportamento não ocorreu de acordo
com as regras do registro de todo o intervalo.

Mas se o comportamento de fato ocorreu em 55% do período de observação, do que podemos


chamar as medidas erradas e falaciosas de 30% e 70% senão de imprecisas? Nesse caso, os dados
falaciosos são artefatos dos procedimentos de mensuração usados para obtê-los. Um artefato é algo
que parece existir por causa da maneira que foi examinado ou mensurado. A medida de 30% obtida
por um registro de intervalo total e a medida de 70% obtida pelo registro de intervalo parcial são
artefatos da maneira com a qual essas medidas foram conduzidas. O fato de que os dados obtidos por
registros parcial e total do intervalo consistentemente subestimam e superestimam, respectivamente, a
ocorrência de fato do comportamento como medida pelo registro de duração contínua é um exemplo
de artefatos bem conhecidos.
33
Mensurando o Comportamento

Está claro que a mensuração de intervalo e a amostragem de tempo momentânea resultam em


alguma variabilidade artefatual nos dados, o que deve ser considerado cuidadosamente ao interpretar
os resultados obtidos com esses métodos de mensuração.

Mensurando Comportamento por Produtos Permanentes

O Comportamento pode ser mensurado em tempo real ao observar as ações da pessoa e registrar
as respostas de interesse enquanto elas ocorrem. Por exemplo, um professor consegue manter uma
marcação do número de vezes que um estudante levanta a sua mão durante a discussão em sala. Alguns
comportamentos conseguem ser mensurados em tempo real ao registrar seus efeitos no ambiente assim
que esses efeitos são produzidos. Por exemplo, um instrutor de tênis marca em um contador portátil
toda vez que o jogador passa a bola para o outro lado da quadra com a sua raquete.

Alguns comportamentos podem ser mensurados após eles terem ocorrido. Um comportamento
que produz efeitos consistentes no ambiente pode ser mensurado depois que ele tiver ocorrido se os
efeitos, ou produtos deixados para trás pelo comportamento, permanecerem inalterados até que a
mensuração seja conduzida. Por exemplo, se o voo das bolas de tênis não tiver sido impedido e elas
foram deixadas no chão, o instrutor poderia coletar dados sobre a performance do tenista ao contar
após a rodada quantas bolas foram encontradas no chão do outro lado da quadra.

Mensurar o comportamento após ele ter ocorrido ao mensurar os efeitos que esse comportamento
produziu no ambiente é conhecido como uma mensuração por produto permanente. Mensurar
produtos permanentes é um método ex post facto de coleta de dados porque a mensuração se dá após
o comportamento ter ocorrido. Um produto permanente é uma mudança no ambiente produzida por
um comportamento que dura o suficiente para que a mensuração seja realizada.

Ainda que seja comumente descrita de maneira errada como um método para mensurar
comportamento, a mensuração por produto permanente não se refere a nenhum método ou
procedimento especifico de mensuração. Em vez disso, a mensuração por produto permanente se refere
ao tempo de mensuração (i.e., depois que o comportamento tiver ocorrido) e o meio (i.e., o efeito do
comportamento, não o próprio comportamento) com o qual o mensurador entra em contato com (i.e.,
observa) o comportamento. Todos os métodos para mensurar comportamento descritos nesse capítulo
– registro de eventos, intervalo, e amostragem de tempo – podem ser aplicados na mensuração de
produtos permanentes.

Produtos permanentes podem ser resultados naturais ou artificiais do comportamento. Produtos


permanentes são resultados importantes e naturais de uma ampla gama de comportamentos
socialmente relevantes no ambiente educacional, vocacional, doméstico e comunitário. Exemplos na
educação incluem redações escritas (Dorow e Boyle, 1998), computação de problemas escritos de
matemática (Skinner, Fletcher, Wildmon, e Belfiore, 1996), soletrar palavras escritas (McGuffin,
Martz, e Heron, 1997), folhas de atividade terminadas (Alber, Heward, e Hippler, 1999), deveres de
casa entregues (Alber, Nelson, e Brennan, 2002), e questões de texto respondidas (e.g., Gardner,
Heward, e Grossi, 1994). Comportamentos como limpar o chão e lavar a louça (Grossi e Heward,
1998), incontinência (Adkins e Matthews, 1997), fazer pichações no banheiro (Mueller, Moore,
Doggett, e Tingstrom, 2000), reciclar (Brothers, Krantz, e McClannahan, 1994), e pegar o lixo
(Powers, Osborne, e Anderson, 1973) também podem ser mensurados pelas mudanças naturais e
importantes que eles causam no ambiente.
34
Mensurando o Comportamento

Muitos comportamentos socialmente relevantes não têm efeitos diretos no ambiente físico. Ler
oralmente, sentar com boa postura, e flapping repetitivo das mãos não deixam produtos naturais em
ambientes comuns. Contudo, a mensuração ex post facto de tais comportamentos pode geralmente ser
alcançada por produtos permanentes artificiais. Por exemplo, ao registrar o áudio de estudantes
enquanto eles liam em voz alta (Eckert, Ardoin, Daly, e Martens, 2002), gravar uma menina sentando
na sala (Schwarz e Hawkins, 1970), e gravar um menino fazendo flapping com as mãos (Ahearn, Clark,
Gardenier, Chung, e Dube, 2003) os pesquisadores obtiveram produtos permanentes artificiais para
mensurar esses comportamentos.

Os produtos permanentes artificiais são ás vezes úteis para mensurar comportamentos que tem
produtos permanentes naturais que são apenas temporários. Por exemplo, Goetz e Baer (1973)
mensuraram variações na forma que crianças montavam blocos a partir de fotografias tiradas das
construções feitas pelas crianças, e Twohig e Woods (2001) mensuraram o comprimento de unhas dos
dedos a partir de fotografias das mãos de roedores de unha.

Vantagens da Mensuração por Produto Permanente

A mensuração por produto permanente oferece várias vantagens para os praticantes e


pesquisadores.

O Praticante Fica Livre para Fazer Outras Tarefas

Não ter que observar e registrar o comportamento assim que ele ocorre permite com que o
praticante faça outra coisa durante o período de observação. Por exemplo, um professor que usa um
gravador de áudio para registrar as questões, comentários e conversas durante a discussão em sala
consegue se concentrar no que os seus estudantes estão dizendo, fornece ajuda individual, e por aí vai.

Torna Possível a Mensuração de Alguns Comportamentos que Ocorrem em Momentos e


Lugares Inconvenientes ou Inacessíveis

Muitos comportamentos socialmente relevantes ocorrem em momentos e lugares que são


inconvenientes ou inacessíveis para o pesquisador ou praticante. Mensurar produtos permanentes é
indicado quando observar o comportamento alvo enquanto ele ocorre seria difícil porque o
comportamento ocorre raramente, em vários ambientes, ou por períodos extensos de tempo. Por
exemplo, um professor de música pode fazer com que o seu estudante de guitarra grave áudios de
partes dos seus treinos diários em casa.

A Mensuração Pode Ser Mais Precisa, Completa e Contínua

Ainda que mensurar o comportamento enquanto ele ocorre forneça o acesso mais imediato aos
dados, não necessariamente produz os dados mais precisos, completos e representativos. Um
observador mensurando comportamento por produtos permanentes pode levar o seu tempo,
reprogramar a folha de atividades, ou escutar e ver a gravação mais uma vez. A gravação permite com
que o observador diminua a velocidade, pause, e repita partes da sessão – para literalmente “segurar”
o comportamento para que ele seja examinado e mensurado de novo e de novo se necessário. O
observador pode ver ou ouvir nuances e aspectos adicionais do comportamento, ou outros
comportamentos que ele não tinha visto ou perdeu durante as performances ao vivo.
35
Mensurando o Comportamento

A mensuração por produto permanente permite a coleta de dados de mais participantes. Um


observador consegue olhar uma vez a gravação e mensurar o comportamento de um participante,
depois ele dá replay e mensura o comportamento do segundo participante.

Filmar ou gravar o áudio do comportamento fornece dados sobre a ocorrência de todas as


instâncias de um comportamento alvo (Miltenberger, Rapp, e Long, 1999; Tapp e Walden, 2000). Ter
esse produto permanente de todas as instâncias do comportamento permite que a marcação seja feita
mais tarde usando um timer digital calibrado, esse timer deve ser resetado para zero segundos no
começo da sessão e ele vai ser usado para anotar o começo e o fim do comportamento. Após isso,
programas de software facilitam o agrupamento de dados e a análise dos tempos exatos. PROCORDER
é um sistema de software criado para facilitar a coleta e a análise de comportamento gravado em vídeo.
De acordo com Miltenberger e colegas, “Com o registro da hora exata do começo e fim do
comportamento alvo na sessão de observação, nós fomos capazes de registrar a frequência (ou taxa)
ou a duração do comportamento” (119).

Facilitar a Coleta de Dados para a Integridade do Tratamento e o Acordo entre Observadores

Vídeos – ou gravações de áudio – ajudam com tarefas da coleta de dados como obter consenso
entre os observadores e avaliar a integridade do tratamento. Produtos permanentes dos
comportamentos tornam possível a mensuração repetida dos comportamentos, eliminando a
necessidade de trazer múltiplos observadores para o ambiente de pesquisa ou tratamento.

Permite a Mensuração de Comportamentos Complexos e Múltiplas Classes de Resposta

Produtos permanentes, especialmente vídeos do comportamento, dão a oportunidade de


mensurar comportamentos complexos e múltiplas classes de resposta em ambientes sociais ocupados.
Schwarz e Hawkins (1970) obtiveram medidas da postura, volume da voz e do tocar no rosto de uma
estudante de ensino médio a partir de vídeos gravados durante dois períodos de aula. Os três
comportamentos foram focados como um resultado da operacionalização da “baixa autoestima” da
garota. Os pesquisadores foram capazes de ver os vídeos repetidamente e marcar os diferentes
comportamentos. Nesse estudo, a garota também assistiu e avaliou o seu comportamento nos vídeos
como parte da intervenção.

A figura 10 mostra um exemplo de uma forma de registro usada por Silvestri (2004) para
mensurar três tipos de afirmações pelos professores – positiva genérica, positiva específica e negativa
– a partir de gravações de áudio das lições na sala de aula. (Veja a figura 3.7 para definições desses
comportamentos). O movimento, múltiplas vozes e a comoção geral que caracterizam qualquer sala
de aula iriam se combinar para tornar muito difícil, se não impossível, para um observador ao vivo
detectar consistentemente e registrar com precisão esses comportamentos. Cada professor participante
do estudo vestiu um pequeno microfone sem fio que transmitiu o sinal para um receptor que estava
conectado ao gravador de áudio.

Determinando Se a Mensuração por Produto Permanente é Apropriada

As vantagens da mensuração por produto permanente são consideráveis, e pode parecer que a
mensuração por produto permanente é sempre preferida em comparação a mensuração em tempo real.
Responder as quatro seguintes questões vai ajudar os praticantes e pesquisadores a determinar se a
mensuração por produto permanente é apropriada: A mensuração por tempo real é necessária? O
36
Mensurando o Comportamento

comportamento pode ser mensurado por produto permanente? Obter um produto permanente artificial
vai afetar indevidamente o comportamento? e Quanto vai custar?

Figura 10 Formulário de coleta de dados para registro de contagem e locus temporal de três classes
de falas do professor a partir de sessões gravadas em vídeo
De Os efeitos da auto-pontuação nas declarações positivas dos professores durante a instrução em sala de aula por S. M.
Silvestri (2004), p. 124. Tese de doutorado não publicada, The Ohio State University. Usado com permissão.

A Mensuração por Tempo Real é Necessária?

A tomada de decisões baseada em dados em relação aos procedimentos de tratamento e


condições experimentais é uma característica definidora da análise do comportamento aplicada e uma
de suas maiores forças. A tomada de decisões baseada em dados exige mais do que uma mensuração
direta e frequente do comportamento; também exige acesso contínuo e oportuno aos dados que essas
medidas fornecem. Mensurar o comportamento enquanto ele ocorre fornece o acesso mais imediato
aos dados. Ainda que a mensuração em tempo real por produto permanente possa ser conduzida em
algumas situações (e.g., contar quantas bolas entram no gol enquanto o jogador treina o seu chute), a
37
Mensurando o Comportamento

mensuração por produto permanente vai geralmente ser conduzida depois que a sessão experimental
ou instrucional tiver terminado.

Medidas tomadas a partir de vídeos e gravações de áudio não podem ser obtidas até que as fitas
sejam vistas depois que a sessão tiver terminado. Se as decisões de tratamento estiverem sendo feitas
em uma base sessão-por-sessão, esse atraso do comportamento até a mensuração não representa um
problema enquanto os dados puderem ser obtidos a partir das fitas antes da próxima sessão. Entretanto,
quando decisões de tratamento momento-para-momento devem ser tomadas de acordo com o
comportamento do participante durante a sessão, a mensuração em tempo real é necessária. Considere
um analista do comportamento tentando reduzir a taxa de comportamento auto lesivo (CAL) de uma
pessoa ao fornecer acesso a um estímulo preferido contingente ao aumento das durações de tempo sem
CAL. A implementação precisa do protocolo de tratamento iria exigir a mensuração em tempo real
dos tempos entre respostas.

O comportamento Pode ser Mensurado por Produto Permanente?

Nem todos os comportamentos são adequados a mensuração por produto permanente. Alguns
comportamentos afetam bastante mudanças permanentes no ambiente que não são confiáveis para os
propósitos da mensuração. Por exemplo, o comportamento auto lesivo (CAL) geralmente produz
efeitos a longo prazo (hematomas, vergões e até mesmo a pele sangrando) que poderiam ser
mensurados após a ocorrência do comportamento. Mas medidas precisas do CAL não poderiam ser
obtidas ao examinar regularmente o corpo do cliente. A presença de pele sem cor, abrasões e outras
marcas dessas iriam indicar que a pessoa tem se machucado, mas muitas questões importantes iriam
ser deixadas sem resposta. Quantas vezes o CAL ocorreu? Tiveram atos de CAL que não deixaram
marcas observáveis na pele? Cada instância de dano ao tecido foi resultado do CAL? Essas são
questões importantes para avaliar os efeitos de qualquer tratamento. Ainda, elas não poderiam ser
respondidas com certeza porque esses produtos permanentes não são precisos o suficiente para a
mensuração do CAL. Comportamentos adequados para a mensuração via produto permanente
precisam se adequar a duas regras.

Regra 1: Cada ocorrência do comportamento alvo deve produzir o mesmo produto permanente.
O produto permanente deve ser um resultado de cada instancia da classe de respostas mensurada. Todas
as variantes topográficas do comportamento alvo e todos as respostas de magnitude variável que
alcançam a definição do comportamento alvo devem produzir o mesmo produto permanente. Mensurar
a produtividade no trabalho de um empregado ao contar o número de dispositivos montados
corretamente no seu compartimento de “trabalho completo” está em conformidade com essa regra.
Uma ocorrência do comportamento alvo nesse caso é definida funcionalmente como um dispositivo
montado corretamente. Mensurar CAL pelas marcas na pele não respeita a Regra 1 porque algumas
respostas de CAL não deixam marcas visíveis.

Regra 2: O produto permanente só pode ser produzido pelo comportamento alvo. Essa regra
exige que o produto permanente não possa ser resultado de (a) quaisquer comportamentos do
participante que não sejam o comportamento alvo ou (b) do comportamento de qualquer pessoa além
do participante. Usar o número de dispositivos corretamente montados no compartimento de “trabalho
completo” do empregado para mensurar a sua produtividade está em conformidade com a Regra 2 se
o observador tiver a garantia de que (a) o empregado não põe dispositivos que ele não montou em seu
compartimento e que (b) nenhum dos dispositivos montados no compartimento do empregado seja
38
Mensurando o Comportamento

colocado lá por outra pessoa que não o empregado. Usar as marcas na pele como produto permanente
para mensurar comportamentos auto lesivos também falha em alcançar a Regra 2. Marcas na pele
poderiam ser produzidas por outros comportamentos da pessoa (e.g., correr muito rápido, o que fez
com que ela tropeçasse e batesse a cabeça, pisar em hera venenosa) ou pelo comportamento de outras
pessoas (e.g., atacada por outra pessoa).

Obter um Produto Permanente Artificial Vai Afetar Indevidamente o Comportamento?

Praticantes e pesquisadores devem sempre considerar a reatividade – os efeitos do procedimento


de mensuração no comportamento que está sendo mensurado. A reatividade é mais provável quando a
observação e os procedimentos de mensuração são intrusivos. A mensuração intrusiva altera o
ambiente, o que pode afetar o comportamento sendo mensurado. Produtos permanentes obtidos usando
equipamento de gravação, com o qual a presença pode fazer com que a pessoa se comporte diferente,
são chamados de produtos permanentes artificiais. Por exemplo, usar um aparelho para registrar
conversas pode encorajar o participante a falar mais ou menos. Mas deve ser reconhecido que a
reatividade para a presença de observadores humanos é um fenômeno comum, e os efeitos reativos são
geralmente temporários (e.g., Haynes e Horn, 1982; Kazdin, 1982, 2001). Ainda assim, é apropriado
antecipar a influência que o equipamento pode ter no comportamento alvo.

Quanto Vai Custar para Obter e Mensurar o Produto Permanente?

As questões finais para abordar ao determinar a adequação da mensuração de um comportamento


alvo por produto permanente são disponibilidade, custo e esforço. Se um equipamento de gravação é
exigido para obter um produto artificial do comportamento, ele está disponível atualmente? Se não,
quanto vai custar para comprar ou alugar o equipamento? Quanto tempo vai demorar para aprender a
usar o equipamento inicialmente? O quão difícil e quanto tempo vai ser consumido para organizar,
guardar e usar o equipamento pela duração do estudo ou programa de mudança de comportamento?

Mensuração do Comportamento Auxiliada pelo Computador

Hardwares de computadores e sistemas de software para mensuração comportamental e análise


de dados tem se tornado muito sofisticados e úteis, especialmente para pesquisadores aplicados.
Desenvolvedores tem produzido coleta de dados e softwares de análise para a mensuração
observacional usando laptops (Kahng e Iwata, 2000; Repp e Karsh, 1994), computadores de mão
(Saudargas e Bunn, 1989), ou assistentes digitais pessoais (Emerson, Reever e Felce, 2000). Alguns
sistemas usam scanners de códigos de barra para a coleção de dados (e.g., McEntee e Saunder, 1997;
Saunders, Saunders e Saunders, 1994; Tapp e Wehby, 2000). A maioria dos sistemas de software para
computador exigem um sistema operacional Windows ou DOS. Alguns sistemas de software têm sido
desenvolvidos para o Mac OS. Independente do sistema operacional do computador, Kahng e Iwata
(2000) afirmaram:

Esses sistemas tem o potencial para facilitar a tarefa da observação ao


melhorar a confiabilidade e a precisão do registro relativa a métodos
tradicionais mas complexos baseados em lápis e papel e aumentar a eficiência
do cálculo dos dados e dos gráficos. (p.35).

Desenvolvimentos na tecnologia de microchip tem avançado as capacidades de mensuração e


análise de dados desses sistemas, e tem tornado o software mais fácil de aprender e aplicar. Muitos
39
Mensurando o Comportamento

desses sistemas semi-automáticos conseguem registrar um número de eventos, incluindo tentativas


discretas, o número de respostas por unidade de tempo, duração, latência, tempo entre respostas (IRT),
e intervalos fixos e variáveis para a mensuração de amostragem de tempo. Esses sistemas podem
apresentar os dados já calculados como taxa, duração, latência, IRT, porcentagem de intervalos,
porcentagem de tentativas e probabilidades condicionais.

Uma vantagem distinta da observação baseada em computadores e sistemas de mensuração é


que ao agregar as taxas, análises do tempo, probabilidades condicionais, dependências sequenciais,
interrelações e combinações de eventos, esses dados podem ser agrupados e analisados. Pelo fato
desses sistemas permitirem o registro simultâneo de múltiplos comportamentos ao longo de múltiplas
dimensões, resultados podem ser examinados e analisados a partir de diferentes perspectivas que
seriam difíceis e consumiriam muito tempo com métodos lápis-e-papel.

Em adição ao registro do comportamento e cálculo dos dados, esses sistemas fornecem análises
do acordo entre observadores (e.g., menor/maior, geral, ocorrência, não ocorrência) e mensuração a
partir de documentos de áudio e vídeo. Os sistemas semi-automáticos dirigidos por computadores, ao
serem comparados aos comumente usados métodos de análise e registro de dados usando lápis e papel,
tem o potencial de melhorar acordos entre observadores, a confiabilidade de mensurações
observacionais, e a eficiência do cálculo dos dados (Kahng e Iwata, 1998).11

O valor prático derivado da maior eficiência e facilidade do uso de sistemas de mensuração


auxiliados por computador vai provavelmente aumentar o seu uso por pesquisadores aplicados e
praticantes que atualmente usam contadores mecânicos, timers, e lápis e papel para registro
observacional.

11As descrições das características e capacidades de uma variedade de sistemas de medição comportamental assistidos por
computador podem ser encontradas nas seguintes fontes: Emerson, Reever, & Felce (2000); Farrell (1991); Kahng e Iwata (1998,
2000); Repp, Harman, Felce, Vanacker, & Karsh (1989); Saunders, Saunders, & Saunders (1994); Tapp e Walden (2000); e Tapp e
Wehby (2000).

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