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Análise do
Comportamento II -
Tríplice Contingência
e os conceitos de
Reforço, Punição,
Extinção e Análise
Funcional
Prof. Me. Ana Carolina Macalli
Prof. Me. Ana Carolina Macalli
Ao estudar Análise do Comportamento, o primeiro aspecto o termo comportamento refere-se à atividade dos organismos
(animais, incluindo o homem), que mantêm intercâmbio com o ambiente.
é compreender o que é comportamento e qual o Essa atividade inclui os movimentos dos músculos estriados e dos
músculos lisos, e a secreção das glândulas. Na linguagem cotidiana,
comportamento alvo a ser trabalhado nas intervenções frequentemente nos referimos aos comportamentos que envolvem a
musculatura estriada como comportamentos voluntários, enquanto
em ABA. O Behaviorismo de Skinner, Behaviorismo denominamos involuntários aqueles que envolvem a musculatura lisa e as
glândulas. Numa linguagem mais rigorosa, esses termos são evitados, e
Radical, considera que a raiz de todas as coisas é o falamos de comportamentos operantes e respondentes (ou reflexos).
movimentos e comportamentos motores, como mexer as contingências, e funciona por um esquema chamado S-R (estímulo - resposta), sendo
este uma relação de eliciação. Uma relação em que o estímulo produz a resposta.
mãos, a cabeça, os braços, as pernas, os dedos, entre
O estímulo é qualquer coisa que afeta diretamente o organismo: visual,
outros, que são comportamentos possíveis de serem
auditivo, gustativo, etc. Alguns estímulos produzem respostas automáticas porque
observados. Mas, não podemos esquecer dos
nossa biologia é programada. Por exemplo, a sucção é algo que não aprendemos e
comportamentos internos, que são orgânicos dos sujeitos, mesmo assim, na presença de um estímulo, acontece a resposta. Esse é o ponto
como pensar, amar, sentir, etc. central para entender o que é comportamento respondente: quando o estímulo
acontece, ele produz o comportamento de forma automática.
Comportamento Operante possui uma contingência de três termos: S-R-C (Estímulo – Resposta - Consequência).
Dirigir um carro, pregar um prego, falar, fazer contas, são exemplos de comportamentos operantes.
Comportamentos operantes constituem a maior parte das atitudes visíveis dos seres humanos, mas
até mesmo aquela atividade frequentemente invisível que nós denominamos pensamento envolve
comportamentos operantes, reduzidos em sua magnitude ao ponto de tornarem-se invisíveis para os
demais, como quando uma pessoa “fala para si própria” (ROSE, 2001, p. 1-2).
São comportamentos aprendidos, aqueles que têm seleção pelas consequências. É ela que altera a probabilidade da resposta, de
ocorrer num futuro, de voltar a ocorrer ou de não ocorrer. Ele realiza uma alteração no ambiente e essa alteração também o transforma,
tornando o organismo diferente, modificando-o na medida em que vai interagindo com o ambiente.
O comportamento operante é evocado (chamado) pelo antecedente/ambiente. Pode ou não ocorrer, pode ser emitido ou não
emitido, diferentemente do respondente. Esse diferencial é muito importante, pois o que controla o comportamento é a consequência, se
ela é ou não reforçadora.
A consequência tem um papel: em alguns casos de aumentar a probabilidade da emissão da mesma resposta, sendo assim uma
consequência reforçadora; mas se ela diminui a probabilidade de uma resposta a ser emitida, essa consequência ao invés de reforçar a
resposta, a repreendeu. Portanto, é a consequência que determina, pois apesar da consequência ocorrer após o comportamento, ela
altera a probabilidade da resposta acontecer no futuro e não no passado.
No comportamento operante uma resposta pode ou não ter maior probabilidade de ser emitida mediante uma consequência
reforçadora. Na Análise do Comportamento não se pode afirmar que todas as vezes o sujeito se comporta de determinada forma,
apenas inferir que se estiver em uma mesma situação, provavelmente, irá se comportar igual/ emitir a mesma resposta.
O comportamento de qualquer organismo é contínuo, um fluxo de atividade que nunca cessa. Nesse
“comportamento”, tomado em sentido genérico, distinguimos “comportamentos” específicos, isto é,
procuramos encontrar unidades que se repetem. Assim, falamos dos comportamentos de acender a
luz, contar uma piada, dirigir um carro, etc. Mas, como dissemos anteriormente, a atividade de um
indivíduo é contínua e somos nós que arbitrariamente a dividimos em unidades. Estamos supondo
que esses “comportamentos” específicos podem ocorrer repetidas vezes ao longo da vida de um
indivíduo. Mas, se fizermos uma observação rigorosa, veremos que não há nada na atividade de um
organismo que se repita de modo rigorosamente igual (ROSE, 2001, p. 2).
Nesse comportamento não existe um estímulo que produz a resposta, mas uma interação. Conforme estabelece relações de
reforçamento ou punição com os vários estímulos do ambiente, o organismo vai se transformando e tornando-se diferente toda vez que
interage com o ambiente.
Ao emitir um determinado comportamento, ele pode ser reforçado ou não. Ao receber reforçamento o comportamento continua a
existir, mas se não for reforçado passa a não existir mais, porque não tem função.
Por isso o comportamento operante tem que ser reforçado para aparecer e continuar em nosso repertório, pois não está em sua
biologia e sim uma interação/relação entre organismo e ambiente. O comportamento operante tem que ser aprendido.
TRÍPLICE CONTINGÊNCIA
Contingência é a unidade mínima de Análise do Comportamento. De acordo com Souza (2001, p. 1) “em sentido geral,
contingência pode significar qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos comportamentais e ambientais”.
Na Análise do Comportamento o sentido de contingência é de necessidade entre os três elementos, uma relação necessária entre um
ambiente, um contexto, uma resposta e uma consequência. Denomina-se contingência o conjunto pelo qual opera o comportamento
operante, sendo nesse caso uma contingência de três termos S-R-C.
Identificar as contingências é a base do trabalho de um analista de comportamento, pois é a partir dessa identificação que o
profissional planeja sua intervenção com o objetivo de rearranjar contingências para o sujeito modificar seu comportamento. De acordo
com Souza (2001, p. 4):
Um analista do comportamento tem como tarefas identificar contingências que estão
operando (ou inferir quais as que podem ou devem ter operado), quando se depara com
determinados comportamentos ou processos comportamentais em andamento, bem como
propor, criar ou estabelecer relações de contingência para o desenvolvimento de certos
processos comportamentais. É através da manipulação de contingências que se pode
estabelecer ou instalar comportamentos, alterar padrões (como taxa, ritmo, sequência,
espaçamento), assim como reduzir, enfraquecer ou eliminar comportamentos dos repertórios
dos organismos.
Mudar o comportamento é ensinar a mudança do mesmo. Nessa ciência, o conceito de ensino possui caráter diferenciado. É
preciso reorganizar e/ou modificar o ambiente, os antecedentes e as consequências até o sujeito aprender. Só se pode considerar como
ensino quando o profissional muda seu comportamento para o sujeito aprender, e ele aprende. Se não aprendeu, o profissional não
ensinou.
ANÁLISE FUNCIONAL
A Análise do Comportamento tem como foco identificar a função do comportamento e não sua topografia. É imprescindível
compreender a função e o reforçador de determinado comportamento, pois todo comportamento operante possui uma função e um
reforçador. Se não tiver reforçador, não existe. “Fazer uma análise funcional é identificar o valor de sobrevivência de determinado
comportamento” (MATOS, 1999, p. 11). Para identificar a função do comportamento utiliza-se um instrumento de investigação e de
avaliação denominado Análise Funcional. Esse procedimento pode ser realizado por meio de:
Avaliação Indireta: entrevistar pais, responsáveis, familiares, professores, amigos, ou deixar com eles as listas de verificação
(“checklists”), questionários ou escalas de classificação para identificar o que já possuem de conhecimento e auxiliar na elaboração de
hipóteses.
• Observação Direta: observar e registrar o comportamento identificado e como ele ocorre. Fica a critério do profissional decidir se
observa o dia todo e registra cada vez que o comportamento ocorrer ou um período para coletar dados sobre o comportamento alvo.
Os registros são feitos no esquema ABC. Nessas observações registra-se tudo o que ocorreu antes, o comportamento e o que
aconteceu depois, para tentar discriminar quais são essas variáveis.
• Análise Funcional Experimental: criar condições para testar o comportamento. É um procedimento mais complexo, que testa todas
as hipóteses, deixado para ser feito pelos psicólogos em um contexto clínico.
Esquema ABC´s do Behaviorismo: A (antecedente) aquilo que acontece
antes do comportamento; B (comportamento) resposta ao antecedente; OBSERVANDO E MEDINDO COMPORTAMENTOS
1. Acesso à atenção: emissão de um comportamento buscando ter atenção de uma outra pessoa. Após a emissão do
comportamento, tem acesso a interações com outras pessoas. Geralmente se engajam em comportamentos
inadequados para chamar a atenção dos outros.
2. Acesso a tangíveis: emissão de um comportamento para acessar itens e/ou atividades de preferência. Após a
emissão do comportamento, tem acesso a itens de preferência, como por exemplo um brinquedo, um chocolate, um
livro, etc.
A B C Possível Função O que pode ser feito: O que deve ser evitado:
3. Fuga/ esquiva de uma situação: fugir ou se esquivar de atividades de baixa preferência. Após a emissão do
comportamento, atividades não preferidas são retiradas ou finalizadas. Podem se engajar em comportamentos inadequados
para escapar de situações, tarefas ou pessoas.
REFORÇO
O conceito de reforço e comportamento são os mais importantes na Análise do Comportamento Aplicada. Como já
mencionado, o comportamento operante é pensado em três termos: antecedente, resposta e consequência. A
consequência precisa ser reforçadora para que a resposta seja mantida no repertório do sujeito, pois sem reforço não
há comportamento operante.
Em contingências operantes, respostas produzem consequências, eventos ambientais que podem ou não
afetar o comportamento de quem as emitiu. Se as respostas aumentam de frequência, as consequências
podem ser definidas como reforçadores (Skinner, 1953/2003). Na análise do comportamento individual, a
identificação de reforçadores contribui para a identificação do mecanismo causal pelo qual o ambiente
determina o comportamento (DONAHOE; PALMER, 1994; SKINNER, 1981). Reforçadores atuam
selecionando comportamento, fato importante para uma análise do comportamento teórica e aplicada
(BARROS; BENVENUTI, 2011, p. 177).
Reforço é a relação entre uma resposta e uma consequência. Essa consequência entregue logo após uma resposta
aumenta a probabilidade de ela ocorrer num futuro na mesma situação. Essa é a chave para compreender o conceito de reforço: só
é reforçador se aumentou a probabilidade da resposta ocorrer no futuro. Se a resposta não voltar a ser emitida outras vezes não
foi reforçadora, apenas uma recompensa. Portanto, o conceito de reforço é uma relação matemática, de aumento de uma determinada
resposta.
Importante destacar que o reforço é com base no comportamento e nunca da pessoa. O que existe é um comportamento que foi
reforçado por alguma consequência.
Existem dois tipos de reforçamento: reforço positivo e negativo. Quando o reforço é colocado logo após uma resposta, essa
resposta aumenta a probabilidade de acontecer no futuro. Não importa se é positivo ou negativo. Na ciência da Análise do
comportamento não se compreende os conceitos de positivo e negativo como sinônimo de atribuição de valores, da
determinação do valor, mas sim do ponto de vista matemático.
REFORÇO POSITIVO
O senso comum ao utilizar a palavra positivo, geralmente
atribui-se o sentido de coisas boas, favoráveis e agradáveis. Na
Análise do Comportamento, ao trabalhar com o aspecto
matemático da palavra positivo o conceito é refere-se a soma ou
adição.
Portanto, reforço positivo é quando uma consequência
segue uma resposta e essa resposta aumenta de probabilidade e
a consequência é o adicionamento de um estímulo no ambiente.
REFORÇO NEGATIVO Os eventos que se verificam reforçadores são de dois tipos. Alguns
reforçadores consistem na apresentação de estímulos, no
acréscimo de alguma coisa – por exemplo, alimento, água, ou
Retira um estímulo do ambiente e a resposta leva o organismo contato sexual – à situação. Estes são denominados reforços
a fugir de uma situação aversiva e a fuga dessa situação aversiva positivos. Outros consistem na remoção de alguma coisa – por
exemplo, de muito barulho, ou de um choque elétrico – da situação.
reforça seu comportamento. Estes são denominados reforços negativos (GONGORA; MAYER;
MOTA, 2009, p. 214).
Dessa forma, é reforço pois aumenta a probabilidade da
Dito de outro modo: são “dois procedimentos” de reforço distintos
resposta de fuga de uma situação aversiva ocorrer no futuro. E é (apresentação e remoção de estímulos), mas “um único processo”
negativo porque a resposta não adicionou nenhum estímulo no de reforço resultante, o aumento na probabilidade das respostas
consequenciadas, de uma ou de outra forma, com os estímulos
ambiente, e sim eliminou. reforçadores (GONGORA; MAYER; MOTA, 2009, p. 214).
PUNIÇÃO
Alguns comportamentos podem gerar consequências que são aversivas. Se a consequência diminui a probabilidade de
uma resposta ocorrer, foi uma consequência punitiva. Punição é um processo básico que acontece nas espécies, e também um
procedimento do ponto de vista comportamental. Nessa perspectiva, o comportamento é punido e nunca a pessoa.
Embora Skinner (1953/2003) comumente se refira “à punição” no singular, ele afirma tratar-se de
dois procedimentos popularmente utilizados para reduzir ou enfraquecer comportamentos:
“Resolvendo o problema da punição simplesmente inquirimos: Qual é o efeito da retirada de um
reforçador positivo ou da apresentação de um negativo? ” (p. 202). Pode-se verificar, então, que
Skinner (1953/2003) define punição como uma técnica de controle comportamental, popularmente
utilizada para eliminar comportamentos, por meio de dois procedimentos distintos (GONGORA;
MAYER; MOTA, 2009, p. 214).
Após alguns estudos, Skinner deixou explícita sua crítica em relação ao uso de procedimentos de punição. A utilização
dessa técnica de controle comportamental produziu vários efeitos colaterais, por isso na Análise do Comportamento se deve
evitar o uso desse procedimento no ensino de mudança de comportamento.
Gongora, Mayer e Mota (2009, p. 215) apontam que Skinner descreve que punição “não é efetiva nem na supressão, nem
na redução da probabilidade de ocorrência das respostas punidas, uma vez que seus efeitos enfraquecedores tendem a ser
temporários”.
Os efeitos colaterais dos procedimentos de punição são:
• Produção de comportamento agressivo: o “não” para uma pessoa pode ser punitivo e o sujeito passa a agir agressivamente.
E o comportamento de agressividade é considerado um dos mais inadequados.
• Produção de comportamento de fuga e esquiva: quando um evento aversivo ocorre e o sujeito se retira, temos o conceito de
fuga. Quando há alguma sinalização que um evento aversivo irá acontecer, antes de qualquer coisa acontecer o sujeito vai para
outro lugar ou faz outra coisa para que ele não ocorra, a isso dá-se o nome de esquiva.
A punição funciona e quando o comportamento de punir é reforçado, consequentemente o mesmo irá aumentar a
probabilidade, utilizando-se ainda de mais punição.
Punição é inadequada: torna punidora a própria presença do agente punidor, mesmo que não esteja mais punindo pela
transferência de estímulo.
Portanto, a punição é uma consequência, independente de sua forma. É uma consequência que diminui a probabilidade de
uma resposta ser emitida.
A punição positiva adiciona algo no ambiente, e na Punição Negativa algo reforçador é retirado em consequência de um
comportamento.
Catania passou a usar também tais adjetivos para distinguir os dois tipos de
punição. Com isso, a “punição positiva” foi assim qualificada por definir-se pela
introdução de estímulos (estímulos punidores, na terminologia de Catania)
contingentes à emissão da resposta; enquanto a “punição negativa” recebeu esse
adjetivo por ser definida como o procedimento de consequenciar a emissão da
resposta com a remoção de estímulos disponíveis (neste caso, reforçadores
positivos) (GONGORA; MAYER; MOTA, 2009, p. 214-215).
EXTINÇÃO
A extinção, assim como a punição, também é um processo natural que ocorre com as pessoas, quando
determinadas respostas não dão mais acesso aos reforçadores. Nesse conceito é possível fazer a quebra da
contingência (S-R-C), pois quando a consequência reforçadora não está mais disponível a resposta diminui a
probabilidade de ser emitida.
Na análise do comportamento aplicada é possível planejar essa quebra da contingência, mas é preciso ter
clareza e cuidado ao estabelecer um procedimento de extinção, pois antes do comportamento alvo ser extinto, ele
aumenta em frequência, variabilidade e intensidade.
Ou seja, ao exibir um determinado comportamento, se emite respostas para alcançar certas consequências. No
processo de extinção, ao retirar essa consequência, para que ela não esteja mais disponível, antes do comportamento
simplesmente acabar, provavelmente ele vai aumentar de intensidade, de frequência e de variabilidade, denominado
de explosão da extinção. O comportamento vai subir e depois vai diminuir até zero.