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Pós-Graduação Lato Sensu (Nível Especialização) em ABA: ANÁLISE DO


COMPORTAMENTO APLICADA AO AUTISMO, ATRASO DE
DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL E LINGUAGEM

MÓDULO 1: PRINCÍPIOS BÁSICOS EM ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

CONCEITOS BÁSICOS EM ANÁLISE DO COMPORTAMENTO


Gabriela Esteves Lopes
Mariliz Vasconcellos
Pedro Bordini Faleiros
Vera Lúcia Varanda Lombard-Platet

1. A Análise do Comportamento e os comportamentos

A Análise do Comportamento estabelece a relação funcional entre os


comportamentos e o meio ambiente.
De acordo com Lombard-Platet, Watanabe & Cassetari (2015, p.28),
“não é simples dar uma definição de comportamento. As discussões
em torno do assunto são inúmeras. No entanto, temos que partir de
algum referencial comum, para podermos nos entender de maneira
objetiva. O comportamento é toda ação observável e mensurável,
executada por um organismo vivo”.

Os comportamentos (chamados de respostas abreviadas por R) se referem a


ações executadas por qualquer organismo vivo, na relação com o meio ambiente.
Segundo Catania (1999, p. 27),
“Os comportamentos são descritos com verbos: as pessoas andam,
falam, pensam, fazem coisas. Mas também fazemos distinção entre
ações ativas e passivas. Embora possamos dizer que alguém respira,
não diríamos que alguém “bate o coração”. As pessoas sangram
quando se cortam, mas não falamos de seu sangramento como
comportamento. ”
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Deve-se descrever exatamente o que o sujeito está fazendo, ou seja, a ação


executada pelo organismo. Além disso, torna-se necessário observar e/ou analisar os
comportamentos relacionando-os com os estímulos ambientais.
Quando nos referimos ao termo passível de observação (ou observável), estamos
falando de fatos visíveis, audíveis, palpáveis, degustáveis, cheiráveis, enfim,
perceptíveis pelos órgãos dos sentidos. De modo geral, há predomínio do que é
percebido pela visão e audição, visto que são os sentidos mais usados por nós. Quanto
se diz que o comportamento deve ser passível de medida precisa (ou mensurável), isso
significa que ele pode ser quantificado. Para isso, são usadas as técnicas de observação e
registro de comportamentos, usando medidas precisas. Podem ser citados como
exemplos de medidas a frequência da resposta (número de vezes que o comportamento
ocorre) ou a duração da resposta (tempo que dura o comportamento), entre outras.
Martin & Pear (2009, p.5) também discute o conceito de comportamento:
“a que nos referimos com a palavra comportamento? Alguns
sinônimos comumente usados incluem atividade, ação, desempenho,
resposta e reação. Essencialmente, comportamento é qualquer coisa
que uma pessoa diz ou faz. Tecnicamente, comportamento é qualquer
atividade de um organismo, seja muscular, glandular ou elétrica. A
cor dos olhos de uma pessoa é comportamento? Piscar é
comportamento? As roupas que a pessoa está usando são
comportamento? Vestir - se é comportamento? Se você respondeu
não à primeira e à terceira perguntas e sim à segunda e à quarta,
estamos de acordo”.

Devemos atentar que alguns comportamentos na verdade configuram classes de


respostas, um conjunto de comportamentos agrupados por possuírem topografias
(formas) semelhantes ou funções semelhantes no ambiente. Por exemplo, fazer um
exercício é um conjunto de comportamentos que deve terminar com um exercício feito.
Podem fazer parte dessa classe de respostas comportamentos como pegar uma caneta,
pegar o exercício, pegar folhas de papel, escrever no papel, entre outros. As topografias
das respostas (a sua forma) podem ser diferentes. No entanto, elas produzem a mesma
consequência – exercício feito.
Atribuir “rótulos” a um conjunto de respostas – como no exemplo fazer um
exercício - é válido porque classifica muitos comportamentos diferentes em uma única
categoria, que pode ser empregada na comunicação entre estudiosos que seguem essa
mesma convenção. Sem definir claramente esses termos (ou rótulos), a comunicação
pode ficar prejudicada e envolver interpretações pessoais e subjetivas. Definir esses
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termos significa especificar as situações antecedentes em que os comportamentos


ocorrem e os comportamentos propriamente ditos que farão parte dessa classe de
respostas.
É importante definir essas categorias comportamentais principalmente quando o
“rótulo” envolve termos subjetivos, como “ser agressivo”. Enquanto não se identificar
as condições em que ocorrem os comportamentos e os comportamentos que fazem parte
dessa categoria, o uso desse tipo de rótulo não será útil, levando a interpretações
subjetivas e sem esclarecer claramente e de fato os comportamentos envolvidos.
Cabe ressaltar que a observação de comportamentos envolve a objetividade. Por
vezes, pode haver uma tendência a analisar um NÃO comportamento. Por exemplo,
ficar triste, ser agressivo, estar indisposto não exprimem as ações executadas pelo
organismo. Esses termos envolvem a subjetividade na medida em que cada um pode
“interpretar” ficar triste, por ex., de uma forma diferente. No entanto, esses termos
podem ser usados como rótulos DESDE QUE seja feita uma definição envolvendo a
situação e os comportamentos que compõem a categoria. Essas definições podem variar
entre estudos, de sujeito para sujeito. Por exemplo, pode-se definir “ser agressiva” para
a Maria: diante de um pedido de sua mãe para realizar qualquer tarefa escolar, Maria
grita com a mãe, joga os cadernos no chão, chora. Para João, “ser agressivo” pode ser
que ao ver sua filha com o namorado, ele fala palavrões, grita ofensas ao namorado, dá
um tapa no namorado da filha.
Quantos comportamentos podem ser incluídos em uma classe de respostas?
Depende dos objetivos do estudo, do indivíduo que está sendo analisado, entre outros
fatores, ou seja, não há um número determinado de comportamentos que devam fazer
parte de uma dada classe de respostas.
Lombard-Platet, Watanabe & Cassetari (2015, p. 32) dão um exemplo de
“participar da aula”:
“Estando em situação de aula expositiva, em presença do professor, o aluno deverá
apresentar os seguintes comportamentos:

– olhar em direção ao professor enquanto este fala e/ou se movimenta;


– fazer anotações no caderno sobre o conteúdo explanado pelo professor;
– responder às perguntas feitas pelo professor, durante a explanação;
– fazer perguntas relacionadas ao assunto explanado;
– dar exemplos relacionados ao assunto explanado;
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– executar prontamente uma solicitação do professor quando este propõe uma


atividade, tal como ler um texto, responder questões por escrito”.
Mais uma vez, temos respostas bem diferentes incluídas na mesma classe de
respostas.
Catania (1999, p.137) cita o exemplo da classe de comportamento autolesivo em
crianças com atraso de desenvolvimento, incluindo “bater a cabeça com força, morder a
própria pele até sair sangue, colocar o dedo no espaço entre o globo ocular e a cavidade
ocular e muitas outras topografias”. O interessante é que o autor compara três crianças
diferentes, com topografias (formas) semelhantes, mas que, ao emitir essas respostas,
obtêm estímulos consequentes diferentes em seu meio ambiente, o que mostra funções
diferentes dos comportamentos.
A topografia refere-se à forma do comportamento, movimentos envolvidos,
enquanto a função é a relação entre comportamentos e estímulos consequentes.
Topografias iguais ou semelhantes podem produzir estímulos consequentes diferentes.
Catania (1999, p. 137) nos esclarece da seguinte forma:
“Para a primeira criança o comportamento de autolesão chama a
atenção; para a segunda, ele evita ter que obedecer a exigências; e
para a terceira, o comportamento não parece depender de qualquer
contingência do meio. Tais análises recomendam programas de
tratamento muito diferentes para cada menino”.

Em resumo, quando se trabalha com classes de respostas é importante verificar,


além das topografias (que podem ser semelhantes ou não), as funções desses
comportamentos, no sentido de quais são os estímulos consequentes produzidos. Essa
análise pode sugerir diferentes planejamentos de intervenção.

2. A Análise do Comportamento e o meio ambiente

O meio ambiente pode ser decomposto em muitos estímulos (abreviados por S).
Os estímulos podem ser definidos como qualquer alteração detectável no meio
ambiente. Cabe aos analistas do comportamento selecionar os estímulos relevantes a um
dado comportamento, os quais, de fato, têm relação com ele.
Pode-se ter como exemplos de estímulos os eventos (como chuva, alguém
chamando, uma cadeira que cai no pé da pessoa, uma instrução dada por alguém);
horários, lugares, objetos, pessoas, estímulos internos como uma dor de barriga. Enfim,
há uma imensa variedade de estímulos, mas devem ser selecionados os que de fato têm
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relação de dependência com um dado comportamento, ou seja, estabelecem algum


controle sobre esse comportamento.

3. Comportamentos respondentes

Alguns comportamentos estão estreitamente relacionados às contingências de


seleção natural: o ambiente seleciona os indivíduos que, como membros de uma
determinada espécie, exibem certos padrões comportamentais que aumentaram as
chances de sobrevivência e de reprodução, no passado, dos membros dessa espécie
(Benvenuti, Gioia, Micheletto, Andery & Serio, 2007).
Segundo Skinner (1931), um reflexo não é o estímulo e nem a resposta, é a
relação entre eles. Todos os reflexos possuem em comum a característica de que um
estímulo específico produz confiavelmente/seguramente uma resposta específica em um
organismo fisicamente sadio. Na relação reflexa ou respondente, as respostas são
determinadas apenas por eventos ambientais antecedentes (Benvenuti et al. 2007).
Na relação operante, o organismo opera no seu meio, emitindo uma resposta e
produzindo consequências que determinam a probabilidade futura da classe de resposta.
Na relação reflexa ou respondente, o organismo apenas responde a estímulos do seu
meio. Por essa razão usamos o termo eliciar quando nos referimos a relação
ambiente/sujeito presente no comportamento respondente: dizemos que o estímulo
elicia, no sentido de forçar, e a resposta é eliciada, no sentido de ser forçada (Benvenuti
et al., 2007).
Para Catania (1999), chamamos de relação respondente aquela em que a resposta
tem probabilidade próxima a 100% na presença do estímulo, enquanto a probabilidade
da resposta na ausência do estímulo é próxima a 0.
Pode-se então discutir as propriedades (ou leis) dos reflexos: limiar, latência e
magnitude.
Dentre as propriedades de um estímulo, podemos começar pelo limiar, que se
refere a intensidade mínima necessária de um estímulo para eliciar uma resposta.
Segundo Catania (1999), a intensidade do estímulo eliciador pode afetar também o
tempo de surgimento da resposta eliciada. Utilizamos então o termo latência para nos
referir ao tempo decorrido entre a apresentação do estímulo e a ocorrência da resposta.
Quanto mais intenso um estímulo, mais rapidamente o organismo responde.
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No que se refere a magnitude e duração, estas variam diretamente em relação a


intensidade do estímulo, ou seja, quanto mais forte o estímulo, mais longa e mais
intensa é a resposta eliciada. A variação conjunta dessas propriedades caracteriza a
força do reflexo, isto é, um reflexo será forte quando o responder tem latência curta, a
magnitude da resposta é grande e a duração longa. Ao contrário, um reflexo é fraco se,
diante de um estímulo de grande intensidade, a latência da resposta é longa, a magnitude
pequena e a duração curta (Benvenuti et al., 2007).
A partir dos estudos sobre os reflexos, chegou-se aos princípios do
Condicionamento Respondente.
Podemos definir comportamentos respondentes como comportamentos
eliciados por estímulos prévios e que não são afetados pelas suas consequências.
Comportamentos respondentes são influenciados pelo condicionamento
respondente, o qual se baseia em reflexos incondicionados. Reflexo incondicionado é
uma relação estímulo-resposta em que um estímulo automaticamente elicia uma
resposta sem qualquer aprendizagem prévia. Em outras palavras, os reflexos
incondicionados são “automáticos” ou inatos.
Esse estímulo é chamado de estímulo incondicionado (US, do inglês
unconditional stimulus). Uma resposta eliciada por um US é chamada resposta
incondicionada (UR, do inglês unconditional response).
Um reflexo condicionado é uma relação estímulo-resposta em que o primeiro
elicia o segundo por causa de um condicionamento respondente prévio. O estímulo em
um reflexo condicionado é chamado estímulo condicionado, pois elicia uma resposta
por ser um estímulo que foi pareado a outro que elicia a resposta. Em um reflexo
condicionado, a resposta é referida como resposta condicionada (RC), sendo definida
como uma resposta eliciada por um CS.
Usamos como sinônimos os termos condicionamento respondente,
condicionamento clássico e condicionamento pavloviano.
Existem diversas variáveis que influenciam o desenvolvimento de um reflexo
condicionado:
 Quanto maior o número de pareamentos de um estímulo condicionado
com um incondicionado, maior é a habilidade do primeiro de eliciar a
resposta condicionada (CR);
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 O condicionamento mais forte ocorre quando o estímulo condicionado


(CS) precede o estímulo incondicionado (US) em cerca de meio segundo,
uma vez de por um tempo maior ou se ocorrer após o US;
 Um estímulo condicionado (CS) adquire maior habilidade de eliciar uma
resposta condicionada (CR) se ele sempre, e não ocasionalmente, for
pareado com um estímulo incondicionado (US);
 Quando vários estímulos neutros precedem um estímulo incondicionado
(US), aquele que estiver mais consistentemente associado ao estímulo
incondicionado (US) é o que mais provavelmente se tornara um estímulo
condicionado (CS) forte;
 O condicionamento respondente irá se desenvolver de maneira mais
rápida e intensa do que o estímulo condicionado (CS) ou o estímulo
incondicionado (US), ou ambos serão intensos, em vez de fracos.

- Respostas condicionadas comuns

Por meio da evolução, os seres humanos passaram a nascer com numerosos


reflexos incondicionados.
Vale lembrar que o fato de as respostas reflexas poderem ser condicionadas a
estímulos previamente neutros é um fator biologicamente adaptativo, havendo algumas
respostas condicionadas comuns, como nos exemplos a seguir:
- Sistema digestivo: a salivação é apenas um dos reflexos digestivos suscetíveis
ao condicionamento pavloviano.

 Aversão de paladar condicionada: devido a uma experiência prévia negativa,


o sabor que antes era incondicionado passa a ser condicionado, causando
repulsa. O fenômeno da aversão de paladar condicionada é uma exceção à
regra de que o condicionamento respondente é ineficaz se houver um longo
intervalo de tempo entre o estímulo condicionado (CS) e o incondicionado
(US).

- Sistema circulatório: frequência cardíaca elevada e fluxo sanguíneo estão


envolvidos em muitos reflexos condicionados (situações inesperadas de susto ou
constrangimento em público).
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- Sistema respiratório: o condicionamento pavloviano também está relacionado


a tosse, espirros e crises asmáticas – reflexos do sistema respiratório (crises de espirros
podem ser eliciadas mediante a visão de cigarro ou animais que soltam pelos).

4. Os comportamentos encobertos

Há uma categoria de comportamentos que só pode ser observada e percebida


pelo próprio sujeito – os comportamentos encobertos (ou eventos privados).
Tais comportamentos encobertos só podem ser indiretamente observados,
através de outros comportamentos observáveis – por exemplo, o relato verbal, incluindo
o oral, gestual e escrito, segundo Skinner (1978). Os comportamentos encobertos, por
não serem diretamente observáveis, são mais difíceis de serem pesquisados
cientificamente, mas são muito importantes. Como lidar com o cliente em terapia sem
ter que recorrer a seus comportamentos encobertos? Como lidar com qualquer aprendiz
sem ter que lidar com seus comportamentos encobertos? Ler, escutar, ver, ouvir, pensar,
raciocinar, sentir, todos fazem parte dessa categoria.
De Rose (1997, p.80) afirma que:
“a capacidade para comportamentos encobertos é resultado de
aprendizagem: um músico aprende a ler uma partitura, tocando as
notas em um instrumento ou cantando. Com a prática, ele torna-se
capaz de cantar as notas de modo inaudível para os demais, mas
audível para ele mesmo. O mesmo ocorre quando uma criança
aprende a ler em silêncio. Estes comportamentos invisíveis são
denominados de comportamentos encobertos”.

5. Comportamentos operantes

Os comportamentos operantes são aprendidos, adquiridos no decorrer da vida


do indivíduo, sendo, portanto, diferentes para cada membro da espécie, e se diz que são
emitidos por serem voluntários.
O caráter relacional apresentado pelo comportamento operante considerado
através das relações entre respostas dos organismos e estímulos ambientais partem da
concepção da Teoria da seleção natural do teórico Charles Darwin, cujos principais
conceitos foram publicados originalmente em seu livro “ A origem das espécies” (1859)
e partem da concepção de que há por parte dos organismos, na perspectiva do tempo
evolutivo ao longo de milhões ou milhares de anos, mecanismos de variação, que são
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alterações de caráter anatômico ou comportamental, e por parte do ambiente,


mecanismos de seleção das alterações, que são mais adaptadas ao contexto.
Segundo Darwin há variações nos organismos, que são modificações que
ocorrem no interior de uma espécie no que se refere à estrutura, fisiologia e hábitos ou
comportamentos e quanto mais diversificados forem os membros de uma espécie, mais
capacitados estarão para viver em lugares diversificados. Dessa maneira, perante as
alterações ambientais, indivíduos que apresentam variações mais adaptativas às novas
condições, sobrevivem e se reproduzem, transmitindo assim suas características aos
seus descendentes. Dessa forma a teoria da evolução por seleção natural fornece
fundamentos para uma concepção da espécie humana como produto da natureza, de
modo que o homem é visto como um agente susceptível às mesmas leis que as demais
espécies (Serio, Micheletto, Andery, 2009).
Sob o olhar da teoria Skinneriana, que traz a ideia darwinista para o tempo de
vida ontogenético, ou seja, o tempo de vida do indivíduo, é possível compreender o
comportamento operante sob a mesma ótica, de forma que o organismo apresenta
variações comportamentais ou também denominadas como respostas, considerando que
um indivíduo vivo está sempre se comportando e variando seu comportamento, e a
relação com o ambiente circundante, que se encarrega de selecionar quais variações
devem sobreviver ou serem extintas. Nesse aspecto é possível dizer que nosso
comportamento é selecionado pelas consequências que ele produz.
São exemplos de variações comportamentais, as primeiras emissões vocais da
criança, que emite diversas formas de respostas sonoras, tais como, mã, madã, dentre
outras e as pessoas que fazem parte do ambiente da criança irão selecionar quais formas
sonoras são mais apropriadas aquele ambiente, ou seja, quais respostas irão sobreviver
naquele ambiente, como usualmente na nossa cultura, como “mamãe”, por exemplo.
O comportamento operante produz estímulos consequentes, os quais serão
responsáveis pela manutenção ou não dos comportamentos no repertório
comportamental do organismo em questão. Os exemplos são inúmeros, entre eles, falar,
andar, escrever, tocar piano, trabalhar com computadores, fazer resumos escolares,
dirigir automóveis, etc.

6. Os comportamentos operantes e a tríplice contingência


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Os comportamentos operantes são adquiridos no decorrer da vida. Ao contrário


dos comportamentos respondentes, eles não são eliciados ou provocados por estímulos
ambientais que os antecedem, os chamados estímulos antecedentes.
Os estímulos antecedentes têm uma outra relação funcional, ou sejam têm uma
outra função em relação aos comportamentos operantes: eles se referem à situação na
qual esses comportamentos podem ou não ocorrer (os comportamentos operantes são
voluntários). Esses estímulos antecedentes são importantes para que o sujeito em
questão “saiba” se deve ou não se comportar em uma dada situação. Eles sinalizam, de
certa forma, qual poderá ser o estímulo consequente que se seguirá ao comportamento.
Assim, podemos pedir dinheiro ao pai (R) se ele está de cara boa (S
antecedente), pois ele possivelmente dará o dinheiro (S consequente). De cara amarrada
(S antecedente), provavelmente, se pedirmos o dinheiro (R), o estímulo consequente
poderá ser a não apresentação do desejado dinheirinho.
Os estímulos consequentes, por sua vez, determinam a probabilidade futura de
emissão de um dado comportamento ou resposta, ou seja, em função dos estímulos
consequentes a R pode voltar a ocorrer (diz-se que ela aumenta de frequência), pode
ocorrer menos vezes ou até parar de ocorrer (diz-se que ela diminui de frequência ou
atinge a frequência zero).
Para se analisar um comportamento operante lança-se mão da Tríplice
Contingência em que há uma “relação de dependência entre eventos ambientais ou entre
eventos comportamentais e ambientais” (De Souza, 1997, p. 83). A tríplice contingência
envolve a relação entre três termos: os estímulos antecedentes, a resposta e os estímulos
consequentes. Segundo Catania (1999, p.28), ela “é importante porque o
comportamento de um organismo depende tanto dos antecedentes quanto das
consequências”.
A tríplice contingência pode ser colocada sob a forma do seguinte paradigma
(método esquemático de se representar um procedimento ou, segundo Catania (1999,
p.413), representação simbólica de relações):

S antecedente ------------------- R ---------------------- S consequente

A tríplice contingência fornece dados do que poderia ser feito, manipulando-se


as contingências, para que houvesse a instalação ou alteração de comportamentos,
quando necessário.
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De Souza (1997, p.85) enfatiza a necessidade de identificar as contingências:


“Um analista do comportamento tem como tarefas identificar
contingências que estão operando (ou interferir quais as que podem
ou devem ter operado), quando se depara com determinados
comportamentos ou processos comportamentais em andamento, bem
como propor, criar ou estabelecer relações de contingência para o
desenvolvimento de certos processos comportamentais. É através da
manipulação de contingências que se pode estabelecer ou instalar
comportamentos, alterar padrões (como taxa, ritmo, sequencia,
espaçamento), assim como reduzir, enfraquecer ou eliminar
comportamentos dos repertórios dos organismos”.

Há ainda que se ressaltar a diferença entre os termos contingência e


contiguidade. A contingência envolve uma relação de dependência entre os
comportamentos e os eventos ambientais, num enunciado do tipo “se......., então....”. Os
eventos às vezes têm uma relação temporal mas não de contingência – o comportamento
não é controlado por esse estímulo. Isso significa que há apenas uma relação de
contiguidade. Segundo Catania (1999, p. 81), “contiguidade simplesmente implica a
justaposição de eventos no espaço ou no tempo, sem levar em conta a causação”.
A relação de contingência pode envolver contiguidade, especialmente
contiguidade temporal, no sentido de que quanto mais imediatamente ocorrer o estímulo
consequente, maior a probabilidade desse estímulo alterar a resposta, por exemplo em
termos de sua frequencia. Se a relação de contingência envolver a contiguidade, ou seja,
se o estímulo consequente ocorrer o mais imediatamente possível após a resposta, ele
será mais efetivo.
Segundo De Souza (1997, p.86),
“Os resultados de pesquisas evidenciam com muita clareza e
regularidade que relações de contingência que envolvem
contiguidade – estreita relação temporal entre eventos ambientais e
comportamentais – são mais efetivas no estabelecimento de
processos comportamentais do que as que envolvem atrasos entre os
eventos interdependentes”.

Veja o exemplo: quando aperto o botão do elevador com a mão direita, o


elevador chega mais rápido. Note que há uma relação temporal, mas não funcional – a
consequência não tem controle sobre o comportamento, o estímulo elevador chegar
mais rápido não tem uma relação de dependência, de contingência com a resposta de
apertar o botão do elevador com a mão direita.
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O papel dos estímulos consequentes é muito importante na análise do


comportamento. A partir das relações funcionais entre estímulos e respostas são
estabelecidos os vários procedimentos envolvidos no Condicionamento Operante, a
serem estudados, como por exemplo, o Reforçamento Positivo, a Extinção de respostas,
a Punição Positiva, a Punição Negativa, o Reforçamento Negativo, entre outros.
A análise da tríplice contingência é fundamental para o entendimento do que
está ocorrendo e de quais poderiam ser as futuras alterações necessárias e como colocá-
las em prática.

7. Conclusão

O objetivo da Análise do Comportamento é esclarecer as relações funcionais


existentes entre os comportamentos e o meio em que o indivíduo está inserido,
possibilitando fazer alterações comportamentais, de forma que o indivíduo se sinta
melhor e mais bem adaptado ao seu ambiente.
Após a realização de inúmeras pesquisas sobre o assunto, houve a possibilidade da
aplicação prática nas atividades profissionais de estudiosos do comportamento - Análise
do Comportamento Aplicada (ABA em inglês Applied Behavior Analysis).
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem produzido conhecimento útil e
extremamente eficaz para desenvolver inúmeras formas de prestação de serviços que
visam resolver problemas socialmente relevantes, como por exemplo, programas de
ajuda a pessoas com atraso de desenvolvimento, técnicas de terapia comportamental,
aplicação à educação, treinamento e seleção de profissionais, planejamento de ensino,
uso em hospitais psiquiátricos, etc.
A aplicação adequada e ética de princípios de análise do comportamento vem se
tornando uma ferramenta cada vez mais importante em nossa sociedade nas mais
diversas atividades e necessidades dos seres humanos.

8. Referências bibliográficas

Benvenuti, M., Gioia, P. S., Micheletto, N., Andery, M. A., & Sério, T. M. (2007).
Comportamento respondente condicional e incondicional. Comportamento e
causalidade, 49.
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Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto


Alegre: Artmed.

De Rose, J.C.C. (1997). O que é comportamento. Em: R.A. Banaco, (Org.). Sobre
comportamento e cognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em
análise do comportamento e terapia cognitivista. (Volume 1). São Paulo: Arbytes, p.
79-81.

De Souza, D.G. (1997). O que é contingência. Em: R.A. Banaco, (Org.). Sobre e
cognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do
comportamento e terapia cognitivista. (Volume 1). São Paulo: Arbytes, comportamento
p. 82-87.

Lombard-Platet, V.L.V., Watanabe, O.M., Cassetari, L. (2015) Psicologia


experimental: manual teórico e prático de análise do comportamento. 5 ed. São Paulo:
EDICON.

Martin, G., & Pear, J. (2009). Modificação de Comportamento: o que é e como


fazer. São Paulo: Rocca.

Sério, T.M., Micheletto, N., Andery, M.A. Definição de comportamento.


Comportamento e Causalidade, 1.

Skinner, B.F. (1978) Comportamento verbal. São Paulo: Cultrix/EDUSP.

Skinner, B. F. (1989). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.

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