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COMPORTAMENTO VERBAL E LINGUAGEM

O presente material foi retirado do quarto módulo do curso


“aplicador terapêutico de ABA”, ministrado pelo Professor Cláudio Sarilho -
PUC/SP. O quarto módulo é intitulado “Linguagem e comunicação”.

1. COMPORTAMENTO VERBAL
a) INTRODUÇÃO
O que é comportamento verbal? Comportamento verbal é mais do
que a fala, pode ser um gesto, comunicação aumentativa alternativa,
leitura, escrita e etc. A fala apenas faz parte de uma das possibilidades de
comportamento verbal.
O que é comportamento verbal vocal? Trata-se da utilização da fala
para comunicação. Aí sim a criança utilizará da fala para se comunicar.
Portanto, quando perguntamos se uma criança é verbal, ainda que
ela não fale, pode ser que ela seja verbal, basta que ela se comunique
qualitativamente bem de outras formas que não seja a fala. Quando uma
criança utiliza a fala para se comunicar, dizemos que ela é verbal vocal.
O curso faz uma retomada histórica acerca dos estudos da Análise
do comportamento sobre o comportamento verbal. Inicialmente ocorreu o
processo de criação do livro “O comportamento verbal”, de Skinner. O livro
foi publicado pela primeira vez em 1957.
O livro de Skinner (comportamento verbal) levou um tempo para ser
reconhecido pelos analistas do comportamento da época, por não ter uma
pesquisa científica que o embasasse. Hoje, porém, comportamento verbal
é uma área de estudo e não mais apenas um livro de Skinner.

Comportamento humano
Antes das contribuições da Análise do comportamento (AC), as
definições de comportamento já eram discutidas por outras abordagens,
em sua maioria mentalistas. Para a AC, comportamento operante é
definido como a ação dos seres humanos no mundo, modificando-os, e
sendo modificados pelas consequências de suas ações. Ou seja,
comportamento não é apenas a ação, há também um contexto para que a
ação aconteça e uma consequência dessa ação.
O curso se propôs a dar enfoque na teoria dos operantes verbais. A
título de citação, é pertinente ressaltar que temos, além dos operantes
verbais, a teoria dos quadros relacionais e a teoria da nomeação, que são
formas de explicar os comportamentos verbais. Todas essas estão dentro
da AC, mas tem formas diferentes de explicação.
Nos casos de TEA, com alto déficit de comunicação - dificuldade de
se expressar, de falar, atraso de linguagem e etc - é imprescindível pensar
os operantes verbais. Nos casos de TEA, o déficit de comunicação pode ser
identificado em crianças que fazem uso repetitivo de palavras e ausência
de fala verbal vocal.
Existem crianças com TEA que se expressam bem e fazem uso da
palavra, mas falam apenas de temas específicos, temas que os interessam;

b) OPERANTES VERBAIS PRIMÁRIOS - DEFINIÇÕES


O que o comportamento verbal tem de especial? Por que tem um
livro do Skinner só sobre isso? Na página 3 do livro “O comportamento
verbal”, Skinner cita a seguinte frase:
Assim como uma resposta motora, o comportamento verbal é um
comportamento operante, que está sob controle da consequência da
resposta; respondemos, temos uma consequência e essa afeta meu
responder, aumentando ou diminuindo a probabilidade de voltar a ocorrer;
Por exemplo, uma criança emite uma ação verbal de pedir água; diante do
pedido (resposta), o adulto entrega um copo com água (consequência) e a
criança bebe a água. O fato do adulto dar um copo de água diante do
pedido verbal vocal da criança reforçou seu comportamento de fala,
aumentando a probabilidade da criança pedir novamente quando estiver
com sede.
É importante mencionar que o comportamento verbal é sempre
mediado por um ouvinte. Por exemplo, se estou com sede posso me
levantar, pegar água e beber. Esse comportamento não foi mediado por
alguém. Mas se estou com sede e peço água a alguém, meu pedido foi
direcionado a uma pessoa, logo esse alguém está mediando meu
comportamento vocal. No comportamento verbal, vamos emitir alguma
comunicação para que a outra pessoa desempenhe a tarefa pedida, como
pegar água;
O ouvinte é especialmente treinado pela comunidade verbal para
atuar de modo a ouvir um pedido, decodificá-lo e reforçar ou não esse
pedido. Ou seja, o ouvinte foi socializado a atuar como um ouvinte. Se uma
pessoa não fosse treinada, ela ficaria ouvindo sons aleatórios da outra
pessoa e nada faria. Por exemplo, se falarmos português na índia,
provavelmente ninguém vai responder, porque a comunidade Indiana não
foi treinada a atender o idioma em português, por isso nesse caso as
pessoas não vão responder ao comportamento verbal. Portanto, não basta
que sejam dois seres humanos, eles precisam estar socializados a
responder determinados comportamentos.

O Comportamento operante e o comportamento verbal são


analisados da mesma maneira, através da tríplice contingência: SD - R - C.
Para o senso comum, comportamento se resume nas ações das
pessoas. Por exemplo, a ação de jogar uma bola pode ser considerada
como o próprio comportamento. Mas é importante ressaltar que o
comportamento não se resume na ação, mas é composto por um contexto
(antecedente) a própria ação (resposta) e a consequência da ação
(consequência), o que chamamos de tríplice contingência.
O antecedente, assim como o nome sugere, é o contexto que
antecede a ação. Esse contexto pode ser favorável para que a pessoa seja
reforçada, ou pode não ser favorável. Quando o contexto é favorável ao
reforço, chamados de Estímulo discriminativo (SD). Por exemplo, o
contexto de fome é favorável para que eu peça comida pelo ifood. Mas se o
contexto fosse “estar com dor de estômago”, provavelmente não seria
favorável para a ação de pedir comida pelo ifood. Portanto, o contexto de
sentir fome foi um estímulo discriminativo para minha ação de pedir
comida pelo aplicativo.
Outro exemplo de SD é o bebê chorar querendo mamar sempre que
vê a mãe: a presença da mãe é, portanto, um estímulo discriminativo para
o bebê agir pedindo mais através do choro. Outro exemplo pode ser dado
no contexto escolar: uma criança só emite comportamento de choro
quando chega na sala de aula, fora dela não o faz. Percebe-se que na
presença da sala a criança age chorando e as outras crianças da classe a
olha, dá carinho, atenção e etc, ou seja, a criança sabe que na presença dos
colegas de sala, se ela chorar, ganhará atenção.
A resposta (R) pode ser definida como toda e qualquer ação emitida
por uma pessoa diante de algum contexto. Por exemplo, se a criança está
diante da mãe e diz “quero ir ao banheiro”, a resposta da criança foi emitir
um pedido através da fala.
A consequência é a resposta do ambiente após a ação da criança.
No caso da criança que chora na sala de aula, a ação das outras crianças
olhando e dando atenção se torna uma consequência reforçadora para o
comportamento de choro. No comportamento verbal, a consequência
altera a fala, aumentando ou diminuindo a probabilidade da ação voltar a
acontecer.
A consequência se ramifica em reforço positivo/negativo ou punição.
A palavra “positivo” refere-se à adição de um estímulo que aumenta a
probabilidade da ação voltar a acontecer, e não um julgamento moral
sobre algo ser bom ou ruim. Por exemplo, se a criança pede “quero água”, a
ação de entregar o copo para a criança é uma consequência reforçadora
positiva, pois inseriu um objeto reforçador. A palavra reforço refere-se ao
aumento da probabilidade de uma ação acontecer novamente.
Já o reforço negativo refere-se ao aumento da probabilidade do
comportamento acontecer, pois se trata de um reforço, mas agora
retirando um estímulo aversivo da pessoa. Ou seja, a palavra negativo
refere-se à retirada de algo, e não a um julgamento moral. Se a criança
está com uma farpa no pé e pede para a mãe retirar, a retirada desse
estímulo aversivo vai reforçar a ação da criança de sempre sinalizar à mãe
quando está com incomodo. Outro exemplo de reforço negativo é a
retirada de um sapato quando este está machucando o pé e causando
desconforto à pessoa.
Assim como o comportamento operante, o comportamento verbal é
analisado a partir da tríplice contingência, mas com algumas
especificidades.
O comportamento verbal é composto por dois papéis: audiência e
ouvinte. A presença da audiência e do ouvinte é condição antecedente
para que a resposta verbal aconteça. Audiência é quando a pessoa apenas
está no contexto da resposta, sem receber alguma comunicação direta do
falante. O ouvinte é a pessoa que está no contexto e recebe alguma
comunicação verbal do falante. Falante, por sua vez, é quem vai emitir a
resposta verbal.
Para que seja caracterizado um episódio verbal, é preciso que a
criança se comunique com o ouvinte. Por exemplo, uma criança pegou
uma faca, a laranja, o espremedor de laranjas, um copo e colocou em cima
da mesa. Imediatamente a mãe disse que a criança pediu para ela fazer o
suco, mas a criança ficou parada e não emitiu nenhum comportamento
verbal, então não houve um episódio verbal vocal, porque não teve o papel
do falante. Nesse caso a mãe exerceu o papel de audiência e não de
ouvinte, porque não houve comportamento verbal vocal.

- Por exemplo, fico falando comigo mesmo que não posso


comprar a roupa que estou vendo no shopping, porque não
posso gastar.

2) OPERANTES VERBAIS PRIMÁRIOS


a) MANDO
O mando é um operante verbal com função de emissão de pedidos,
e especifica uma consequência. Por exemplo, pedir água, banana, pedir
para ligar o ar condicionado ou uma comida pelo ifood. Em outras palavras,
mando é um “operante verbal na qual a resposta é reforçada por uma
consequência característica, e está, portanto, sob controle funcional de
condições relevantes de privação ou estímulo aversivo” (Skinner);
Explicação: se estamos em situação de privação de alguma coisa,
certamente precisaremos de algo para saciar a privação. Mas para
conseguir, precisamos emitir um pedido. O mando é justamente um
pedido diante de uma situação de necessidade. Por exemplo, estou com
fome e peço uma comida pelo ifood. O meu comportamento de entrar no
ifood foi uma emissão de mando; outro exemplo é quando eu estou com
muito frio e o ar está ligado a 17º, deixando o ambiente ainda mais frio, e
peço para alguém desligar o ar condicionado. O pedido para desligar o ar
diante de uma situação aversiva é uma emissão de mando.
O mando sempre vai especificar a consequência: se peço água, não
quero banana ou suco, pois no pedido já foi especificado o desejo: água.
De um modo geral, o mando é um termo técnico da AC utilizado
para a emissão de pedidos, sejam eles vocais ou não. Posso pedir para ir ao
banheiro vocalizando a palavra xixi (verbal vocal) ou apontando para um
estímulo de banheiro (verbal)
Relação de privação e saciação para emissão de mandos: se quero
fazer com que a criança peça pelo celular, por exemplo, posso deixá-la um
tempo sem acesso, privada deste reforçador, para que ela queira o objeto e
então emita pedidos (mando). Mas se temos livre acesso ao celular o dia
todo, e no fim do dia queremos que a criança peça pelo celular, a chance
do mando não acontecer nesse caso é muito maior. Por isso é importante
limitar o acesso de reforçadores, para que a criança não se sacie e continue
emitindo mandos para conquistá-la.
Estímulos aversivos e mandos - geralmente a forma como as
crianças encontram de afastar os estímulos aversivos é a partir de
comportamentos inapropriados. Ex: a AT começa cantar uma música e a
criança não gosta, mas não pede para que ela pare através de pedidos
verbais. Geralmente, nesses casos, a criança irá emitir pedido de “parar”
através do choro, grito ou outros comportamentos inadequados. Por isso é
importante que a criança aprenda a emitir pedidos para eliminar estímulos
aversivos. Esses comportamentos inapropriados tem função de pedido,
mas não é o que nós enquanto sociedade entendemos como correto.
Parte do papel da terapia é ensinar respostas alternativas que sejam
socialmente apropriadas e que tenham a mesma função dos
comportamentos inapropriados, que tem a função de pedido.
Conjunto de problemas de comportamento - a maioria das
crianças chegará a nós na clínica sem saber emitir pedidos de forma
adequada, o que pode desencadear comportamentos disruptivos.
Manejo de comportamento inadequado tem a ver com
comunicação. Por exemplo, o comportamento de bater a cabeça na
parede tem uma função específica, é uma forma da criança se comunicar
ou de se regular sensorialmente. Desta forma, temos que descobrir a
função do comportamento de bater a cabeça e oferecer um
comportamento alternativo àquele, para que haja a extinção do
inadequado e a apropriação do adequado. A ideia é manter a função desse
comportamento e mudar sua topografia. Por exemplo, se bater a cabeça
tem uma função de mando, podemos nos concentrar em fazer ela pedir,
gesticulando ou falando, ao invés de pedir batendo a cabeça.
SE O COMPORTAMENTO OCORRE, A CONSEQUÊNCIA QUE O
MANTÉM É RELEVANTE PARA O INDIVÍDUO.

CONTINGÊNCIA DE MANDO
- OM: Operação motivadora (estabelecedora ou abolidora)
- SD: Estímulo discriminativo
- R: Resposta (vocal, gestual, língua de sinais e figuras).
- C: Consequência.

Ex: Está um dia quente, 30º. Você está em uma sala de aula com ar, e você
pede para alguém ligá-lo, causando. Nesse caso, a operação motivadora é
estabelecedora, porque o calor para aquela pessoa era aversivo e a
probabilidade de aumentar o ar condicionado acaba sendo maior nessa
circunstância. SD e OM foi o calor; a resposta foi a vocalização; e a
consequência foi reforçadora, porque a pessoa ligou.

Ex2: estou caminhando na rua e vejo uma padaria, no momento em que


estava com muita fome, e paro para comer um lanche. OM - fome;
privação de comida aumenta minha OM para comida. SD - visão da
padaria. R - entrar na padaria e pedir um lanche; C - receber e comer o
lanche.
Dentro da categoria de mando temos uma variação, que é o mando
disfarçado, que tem uma topografia de tato. Só parece que eu estou te
contando alguma coisa, mas eu estou te pedindo algo.
- EX: estou passeando com minha namorada e vejo um relógio e falo
“nossa amor, olha que relógio lindo”. Essa verbalização serviu como
um mando disfarçado, mas foi um mando e não um tato. De um
modo geral o mando disfarçado tem uma baixa probabilidade de ser
reforçado, porque o ouvinte pode não perceber que esse é um
mando. Mas o mando disfarçado também pode servir para aumentar
a qualidade das relações.
- Ex2 - em um dia ruim o chefe pede muitas tarefas. Nesse caso eu
poderia utilizar o mando de forma direta e dizer: estou cansado,
irritado e não vou fazer nada hoje. Esse foi um mando claro, mas a
chance dele ser demitido é grande. O mando disfarçado seria assim:
“nossa chefe, hoje eu não estou muito bem, será que podemos achar
outro prazo?” - é uma forma mais sutil de pedir.
- Ex 3 - em começo de relacionamento, sempre usamos o mando
indireto quando, por exemplo, precisamos recusar alguma coisa,
algum encontro ou algum compromisso, pois evitamos dizer de
forma direta que não queremos ir a algum lugar. É preciso dizer que
não pode, não está bem e etc. Adultos com TEA é importante
entender o mando disfarçado.
É importante para a pessoa com TEA ter um repertório de mando
disfarçado.
O mando pode acontecer através de linguagem de sinais,
comunicação alternativa, movimentos corporais, vocalização e etc.
Tem crianças que pegam nossa mão e leva ela até o objeto, ou
apontam, por exemplo, para um armário com muitos brinquedos e embora
essa seja uma resposta comunicativa, um mando, ela é pouco eficaz.
Precisamos de topografias apropriadas com função comunicativa, algo
mais refinado para que o ouvinte entenda o que a criança quer de fato.
Mesmo que uma criança seja verbal/vocal, é preciso ensinar uma
outra topografia com função de pedido que é o'apontar para o objeto.
Por exemplo, diante de dois brinquedos em que a terapeuta pediu
para a criança escolher, ela não quis nenhuma balançando a cabeça e
vocalizou “boneca”. Imediatamente a AT pegou a boneca, mas modelou o
apontar da criança, fazendo ela apontar e tocar na boneca como uma
função de pedir apontando, porque além da vocalização a AT estava
trabalhando o apontar como função de pedido.
Não é porque ela nomeia que não vamos ensinar o apontar como
forma de pedido. Nem sempre falamos o nome do objeto, se estivermos
com a boca cheia de comida por exemplo, podemos pedir apontando.
Como se dá o processo de contingência de ensino de mando?
Operação motivadora - tempo sem ter acesso ao brinquedo; SD - ver o
brinquedo; resposta - apontar o dedo para a boneca para obtê-la;
consequência - obter a boneca. Esse é o processo utilizado para aumentar
o repertório de mandos verbais.

b) TATO
De uma maneira não técnica, o tato é o operante verbal que pode ser
chamado de nomeação. Vemos um carrinho e falamos “carrinho”; vemos o
copo e falamos “olha, o copo”.
De maneira técnica, “um tato pode ser definido como um operante
verbal, no qual uma resposta é evocada (ou pelo menos reforçada) por um
objeto particular ou acontecimento ou propriedade de objeto ou
acontecimento” (SKINNER, 1957, p.79).
O tato pode ser um objeto, um acontecimento específico ou uma
propriedade do objeto (característica do objeto) ou propriedade do
acontecimento (característica do acontecimento).
Vamos aos exemplos: duas crianças estão de frente para a outra na
escola conversando. Temos um acontecimento nesse exemplo, cuja
propriedade (característica) é a conversa entre os alunos. Nesse
acontecimento (alunos de frente um para o outro) poderia ter outras
propriedades: apenas se olhando; discutindo; soprando um ao outros;
dentre outras.
Existem os mais diversos tipos de tato: tato de eventos, de emoções,
de expressões faciais, de objetos e etc.
Tato de eventos: nomeação da chuva, nomeação sobre a
temperatura (frio, calor)...
Tato de emoções: a criança está triste, feliz, preocupada, ansiosa…
Tato de expressões faciais: identificar emoções nas figuras, nas
pessoas, dar exemplos de emoções erefletir emoções em seus rostos.
Para crianças não verbais, podemos utilizar da comunicação
alternativa para mostrar o que está sentindo. Esse exemplo não seria um
tato, mas seria uma forma de expressar o que sente;
Observação - Para a AC, as emoções não causam nenhum
comportamento, ou seja, não são o princípio explicativo dos
comportamentos humanos, mas não é por isso que deixam de ser
importantes.

Processo de CONTINGÊNCIA DO TATO: SD do tato é um estímulo


não verbal, ou seja, é a própria característica do objeto e não a pergunta. Se
o mando especifica uma consequência, no tato o reforço pode ser
arbitrário, generalizado, ou seja, não sugere nenhum reforço.
Mais exemplos de tato: estímulo discriminativo não verbal: tristeza;
resposta verbal: falar que está triste; Consequência - receber um abraço
do pai.
Uma das funções dos terapeutas na clínica é identificar qual é a
função da fala da criança, das diversas palavrinhas que ela emite.
Precisamos saber se a palavra tem a função de tato, de mando e etc.
Por exemplo, a criança pode falar “tem café” apenas como uma
forma de nomeação, ou pode falar a mesma coisa como uma forma de
pedido (mando).
Precisamos saber as similaridades e diferenças entre o mando e o
tato na clínica:
- O tato não tem a função de obter acesso a um objeto, apenas
nomeá-lo.
- O mando e tato são variáveis diferentes que podem ter uma
topografia parecida. Por exemplo, a topografia de uma fala pode ser
“notebook”. A variável dessa fala pode ter função de mando, em que
a criança está pedindo o notebook, ou pode ter função de tato, em
que ela apenas está narrando o que vê.
Dicas de identificação da função da vocalização
- Interação com o objeto verbalizado: precisamos prestar atenção na
forma como a criança está interagindo com oo objeto, o que ela
quer, se ela vai se direcionar ao objeto querendo pegá-lo ou se está
apenas comentando sobre ele.
- Por exemplo, a criança vê uma caneta e diz “caneta”, mas não
sabemos se ela emitiu um mando (pedido) ou se ela apenas nomeou
(tato) a caneta. Nesse caso podemos entregar a caneta a ela e se for
mando, provável que ela irá interagir com a caneta, rabiscar, tirar a
tampa e etc; se for tato provavelmente ela não fará nada com a
caneta.
Antecedente oferecido no processo de ensino do tato
- Perguntar “o que é isso” para uma criança não é um antecedente
errado, porque estamos contextualizando que o que esperamos da
criança é a resposta do que é o objeto, mas o ponto de atenção que o
terapeuta precisa ter é que a criança não pode ficar sob o controle de
um antecedente verbal no tato (o que é isso), mas ficar sob o
controle do próprio objeto. Ou seja, a criança precisa ver o objeto e
saber nomeá-lo, sem ficar sob o controle da pergunta “o que é isso?”.
NEM NO TATO E NEM NO MANDO A PESSOA FICA SOB CONTROLE
DO ESTÍMULO VERBAL, MAS FICA SOB O CONTROLE DO PRÓPRIO
OBJETO. NO TATO, A CRIANÇA SE DEPARA COM O OBJETO/SITUAÇÃO E
NOMEIA-OS, OU SEJA, ELE NÃO EMITE O COMPORTAMENTO VERBAL A
PARTIR DE UMA PERGUNTA DE OUTRA PESSOA. A CRIANÇA NÃO PODE
NOMEAR OS OBJETOS À VOLTA DELA APENAS NA PRESENÇA DA
PERGUNTA E SIM NA PRESENÇA DO OBJETO;
O objetivo do tato é que a criança espontaneamente nomeie
objetos, situações e emoções que estão ao redor dela. Para que essa
espontaneidade seja possível, o controle precisa ser do antecedente não
verbal e não da pergunta. Portanto, para dar uma demanda de tato,
podemos apenas mostrar o objeto para a criança e esperar que ela emita
uma resposta. Se ela não falar nada, então damos ajuda, sinalizando o que
deve ser dito.
Exemplo de contingência de tato - a terapeuta apresenta
sucessivamente estímulos de objetos (TV, bola, copo…) e sem a terapeuta
dizer nada, a criança nomeia os estímulos, ou seja, a criança está sob o
controle dos objetos e não da verbalização da terapeuta “o que é isso”.
Tato distorcido - tatos que descrevem outras variáveis diferentes das
que de fato aconteceram. Podemos chamar o tato distorcido de mentira
ou de contar vantagem. A pergunta é: o tato distorcido por si só é um
problema???
Por exemplo: “João, quem quebrou o vaso?” João responde que foi o
cachorro, mas foi ele próprio; Exemplo2 - uma senhora, mesmo idosa e
com perdas de habilidades, quis fazer um pudim, mas o pudim ficou ruim.
A senhora então perguntou:"está bom o pudim?” Em um tato puro, a
pessoa poderia dizer que está horrível, mas em um tato mascarado a
pessoa pode dizer que ficou bom para não magoá-la.
c) INTRAVERBAL

O operante verbal intraverbal ocorre quando um SD verbal evoca


uma resposta verbal que não apresenta correspondência ponto a ponto
como o estímulo verbal (SKINNER). Em outras palavras, o antecedente será
um estímulo verbal , como uma pergunta, e a resposta (ação verbal) será
diferente do que foi perguntado.
Por exemplo, início a música “palma, palma, palma,” e dou uma
pausa. A minha fala da música sugeriu que a criança continuasse a cantar,
dizendo “pé pé pé”, logo a resposta da criança foi diferente do estímulo
verbal do AT.
Há um operante verbal chamado ecóico (será apresentado à frente)
que também tem um antecedente, mas a diferença é que a resposta é
igual ao antecedente verbal. Nesse caso existe uma correspondência ponto
a ponto. No intraverbal não.
No intraverbal, o estímulo vocal evoca uma resposta vocal diferente
do estímulo. Em resumo, intraverbal é responder perguntas.

CONTINGÊNCIA DO INTRAVERBAL - SD verbal vocal; evoca uma resposta


verbal vocal diferente do antecedente vocal; Consequência - estímulo
reforçador condicionado generalizado.
Por exemplo: SD - “onde você trabalha?”; R - “farmácia”; C - “que legal,
gosto muito desse trabalho”.
Intraverbal e música - há estratégias de ensino intraverbais através
das músicas. Através das músicas as crianças vão compreendendo o
controle do antecedente sob sua resposta.
Por exemplo: SD - “seu lobato tinha um sítio”; R - “iaiaô”. A primeira
parte da música foi um antecedente verbal vocal que evoucou uma
resposta verbal vocal na criança. Exemplo 2: SD - “a roda do ônibus”; R -
“gira gira, gira gira”. Exemplo 3: SD - “um, dois, três e”; R - “jáááá”.
A diferença entre TATO e INTRAVERBAL é que eles são diferentes no
antecedente. O tato é a nomeação de algo ou de suas características, e
está sob o controle do objeto ou da própria ação. O Intraverbal é a resposta
verbal vocal a um estímulo verbal vocal, na qual a resposta é diferente do
antecedente. O intraverbal está sob controle do SD vocal, ou seja, de uma
pergunta.
Se apenas mostro uma figura de um rato para criança e espero que
ela responda algo, trata-se de um tato. Mas se mostro para a criança e
pergunto como é o nome do animal, será um intraverbal, pois o
antecedente foi uma pergunta que sugere uma resposta.
CONTROLE DE RESPOSTAS:
- Tato - estímulo não verbal. (na presença da faca, a criança diz “faca”).
- Mando - operação motivadora e reforçador específico (resposta que
especifica o reforçador). EX: Estando com fome, me deparo com a
comida, peço a comida.
- Intraverbal - antecedente verbal vocal. (na presença de um estímulo
discriminativo vocal (qual seu nome?) A criança irá emitir uma
resposta verbal vocal diferente do antecedente.
As crianças com TEA têm uma super seletividade do estímulo, ou
seja, elas têm dificuldade de generalização, porque ficam sob controle bem
específico dentro daquele estímulo e não no estímulo todo. Por exemplo:
às vezes a criança até nomeia caneta, mas ela fica sob o controle da palavra
BIC escrita na caneta, ou seja, outras canetas ela não consegue enxergar
como tal. Exemplo 2: a criança sabe responder o nome diante da pergunta
“qual o seu nome” mas não sabe responder como você se chama, que são
frases de mesma função. São controles de estímulos diferentes, ou seja, as
perguntas se diferenciam. Exemplo 3: “quantos anos você tem?” “Qual a
sua idade?” são perguntas diferentes da mesma função, que talvez a
criança saiba responder uma e não sabe responder outra.
É importante pensar que os terapeutas precisam randomizar as
perguntas. Após a criança aprender a responder a partir de um
determinado estímulo, randomizamos sem trocar a função para que a
criança aprenda a generalizar. Então se a criança aprendeu a responder a
pergunta “qual a cor do sapato?”, podemos trocar a pergunta por “esse
sapato tem qual cor?”. Da mesma forma, podemos trocar o estímulos
quando a criança aprender a nomear, podemos apresentar vários ratos
(brancos, marrons, grandes, pequenos…) para que ela saiba responder em
todos eles “rato”.
Resumindo: no mando, a variável que controla é a operação
motivadora e o reforçador específico; No tato, o antecedente é não verbal;
e no intraverbal, o antecedente é verbal.
d) ECOICO

"Operante verbal em que a resposta vocal, está sob controle antecedente


de um estímulo auditivo e tem correspondência formal e ponto a ponto
com o mesmo”. Em outras palavras, no ecóico o antecedente é verbal, a
resposta é verbal e ambos têm a mesma topografia. Saindo da linguagem
técnica da AC, o ecóico pode ser visto como a habilidade de imitar sons.
Por exemplo, mostro para a criança a foto do papai, e ela não fala nada.
Diante do silêncio da criança, posso dar o modelo de fala “papai” e esperar
que ela repita o que falei: “papai”.
Contingência do ecoico: SD - verbal vocal; R - verbal vocal idêntica ao
antecedente; C - reforçadora generalizada. Por exemplo: SD: “casa”; R -
“casa”; C - “bom trabalho”.

e) TEXTUAL
É a habilidade de identificar o que uma palavra diz (Skinner), ou seja,
leitura. Mas não necessariamente com o entendimento do que foi lido, não
há garantia da compreensão do que foi lido.
- Pedagogia e psicopedagogia tem uma vasta literatura sobre
codificação e decodificação da habilidade de leitura.
Contingência do Textual: SD - palavra impressa; R - verbal vocal; C -
estímulo reforçador condicionado generalizado.
Muitas crianças que têm hiperfoco em letras e números sabem ler a
palavra, mas nem sempre sabem ligar a palavra lida ao seu significado ou
ao objeto que a palavra representa. A criança não consegue discriminar
qual é o objeto “sapo” mas lê a palavra “sapo''.

f) TRANSCRIÇÃO - CÓPIA E DITADO


Consiste no ato de soletrar ou transcrever palavras faladas. Cópia e
ditado. Na cópia temos o operante: SD - estímulo visual; R - motora
(escrita); C - estímulo reforçador condicionado generalizado. No ditado, SD
- estímulo verbal vocal; R - motora (escrita); C - estímulo reforçador
condicionado generalizado.

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