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Análise Aplicada do

Comportamento
Profa. Dra. Juliana Cristina de Carvalho Giolo
A subárea Análise Aplicada do Comportamento
apresenta duas funções:
1. “manter o contato 2. “mostrar a relevância
com o mundo real e social de tais pesquisas e
alimentar os justificar sua manutenção e
pesquisadores na área ampliação da área como um
com problemas todo”.
comportamentais do
mundo natural”. (CARVALHO NETO, 2002, p. 17).
Comportamento é a interação entre um organismo e seu
ambiente imediato.
Todo comportamento, portanto, tem um estímulo.

Estímulo (S) é qualquer evento físico ou combinação de eventos


relacionados com a ocorrência de uma resposta comportamental
(R).

Resposta (R) é a unidade de comportamento que afeta e é


afetado por estímulo (S).
Ambiente:

• Ao ambiente externo, há áreas da Psicologia especializadas no


estudo de interações organismo-ambiente externo físico
(ergonomia, por exemplo), outras voltadas para uma interação
organismo-ambiente externo social.

• Ambiente interno, as interações organismo-ambiente sempre


estão presentes interações com o ambiente interno, seja
biológico, seja histórico, da mesma forma que estão presentes
em interações sociais.
Propriedades do Estímulo

Quando a intensidade de um estímulo é muito pequena para eliciar uma resposta, diz-se
que o estímulo está abaixo do limiar. O limiar não tem um valor fixo, é um resumo
estatístico extraído de nossas mensurações.

Propriedades da Resposta: força (ou magnitude), magnitude e taxa (número de


vezes, frequência ou quantidade)

Algum tempo sempre transcorre entre o estímulo e a resposta; esse período de tempo é
chamado de latência da resposta. Além disso, a resposta deve ocorrer com alguma
magnitude e ter alguma duração.

A força do reflexo seria fraca se o responder ocorresse com a latência longa, a


magnitude pequena e a duração curta, mas seria forte se o responder ocorresse com a
latência curta, grande magnitude e longa duração.
Desta forma, para a prática clínica, é essencial retomar alguns
termos e conceitos da abordagem:
Comportamento Respondem a estímulos específicos
respondente conhecidos também como
comportamentos involuntários ou
S–R reflexos.

Envolvem músculos lisos e glândulas


e são regulados pelo sistema nervoso
autônomo.
Exemplos: reflexos pupilares,
reflexos salivares, respostas
cardíacas etc... (RANGÉ, 1995).
Comportamento Comportamento que opera no
Operante ambiente produzindo
modificações no meio.
S–R–S O comportamento operante
pode sofrer alterações a partir
das consequências de sua
atuação sobre o meio.
(RANGÉ, 1995; BAHLS E
NAVOLAR, 2004).
Um operante parece ser voluntário
uma vez que identificar sua causa
Comportamento necessita de certa análise. Para
Operante compreender um operante é
S–R–S preciso especificar o estímulo
antecedente que se mostra
relacionado com ele. (RANGÉ,
1995).
Exemplos: escrever, andar, falar,
tocar um instrumento etc...
Para Rangé (1995, p. 16) os
“operantes apresentam uma
Repertórios característica distinta que é a de
Comportamentais
se repetir no tempo. Quanto mais
vezes uma ação se repete, mais
certamente é possível afirmar que
se trata de um comportamento
forte no repertório de uma
pessoa.”
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

Condicionamento: os comportamentos apresentados por uma pessoa


não são fixos, imutáveis e sim passíveis de alteração sob certas
condições, por isso fala-se em condicionamento. (RANGÉ, 1995).
Condicionamento respondente: este condicionamento “se
estabelece por uma relação de contingência entre estímulos, na medida
em que o estímulo incondicionado (EI – ex.: carne) somente aparece
depois de aparecer o estímulo condicionado (EC – ex.: som).”
(RANGÉ, 1995, p. 16).
Paradigmas, Princípios Condicionamento operante: a
ou Pressupostos da presença de reforçadores ou de
Análise do situações aversivas são fatores
Comportamento importantes neste tipo de
condicionamento.
A consequência reforçadora que aumenta a ocorrência de um
operante chama-se reforço positivo. Vale ressaltar que o
esquema de reforçamento pode ser contínuo (CRF) ou
intermitente em razão fixa (RF), razão variável (RV),
intervalo fixo (IF) e intervalo variável (IV). Por meio de
experimentações é possível verificar que a frequência do
comportamento é maior quando está submetido ao esquema
de reforço intermitente.(BAHLS E NAVOLAR, 2004).
O reflexo incondicionado também conhecido como comportamento
respondente é definido como uma resposta que é filogeneticamente instalada
no individuo, ou seja, é um comportamento natural transmitido de geração em
geração entre uma espécie através de seu DNA. Em regra geral, este reflexo
está ligado à sobrevivência.

Condicionamento operante
Skinner estabelece que todo comportamento é influenciado por suas
consequências e, a modificação desses comportamentos é chamada de
aprendizagem, condicionamento operante ou aprendizagem pelas
consequências.

A maior parte do nosso comportamento é do tipo operante. Estamos o tempo


todo agindo no mundo, e as consequências de nossas ações determinam se
continuamos ou não a agir de tal maneira.
Uma resposta não é um comportamento. Para compreendermos uma ação e alçá-la ao
status de comportamento, temos que relacioná-la com eventos antecedentes e eventos
consequentes a ela, funcionalmente interligados. Para o comportamento operante, a
unidade mínima para a compreensão de um comportamento chama-se tríplice
contingência S-R-C.

O Behaviorismo faz análises de contingências:


“Uma formulação das interações entre um organismo e o seu meio ambiente, para ser
adequada, deve sempre especificar três coisas: 1) a ocasião na qual ocorreu a resposta,
2) a própria resposta e 3) as consequências reforçadoras. As relações entre elas
constituem as ‘contingências de reforço.” (Skinner, 1975, p.182).

Relação funcional: efeito de uma contingência, onde a ocorrência de um evento afeta


a ocorrência do outro (relação se... então...).
Se uma professora pede a um aluno de seis anos que dê um grito parecido com
o do Tarzan (o pedido da professora é o evento antecedente), e Joãozinho
grita, procurando imitar o Homem-Macaco (é a resposta), e a professora o
elogia dizendo que ele tem pulmões de aço e a classe ri de forma aprovadora
(consequências).

Um evento antecedente (luz verde) estabelece a ocasião em que uma


determinada resposta (avançar com o carro) terá consequências que manterão
o comportamento de dirigir (chegar ao destino, por exemplo); por outro lado,
um outro evento antecedente (luz vermelha) estabelece a ocasião em que a
mesma resposta (avançar com o carro) terá uma consequência que
enfraquecerá o comportamento de ir em frente (uma multa ou um acidente,
por exemplo).
Reforço positivo
Processo operante em que apresentação de um estímulo
consequente (reforçador), aumenta a frequência de uma resposta.
Aqui estamos falando de inserir (+) uma recompensa.

Reforço negativo
Processo operante em que a retirada de um estímulo consequente
(aversivo), aumenta a frequência de uma resposta.
Aqui estamos falando da retirada (-) de algo aversivo.
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento
Rangé (1995), explica que as
consequências alteram a
probabilidade de comportamentos,
mas situações antecedentes também,
são os chamados estímulos
discriminativos (SD) (grifo nosso).
São estímulos que indicam quando
um comportamento deve ocorrer para
ser reforçado.
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do O processo de condicionamento
Comportamento também auxilia a generalização; o
organismo aprende a “estabelecer
semelhanças onde há diferenças”.
(RANGÉ, 1995, p 18). Para o autor é
por meio da generalização que o
organismo ganha estabilidade, pois
responde de forma semelhante a
estímulos semelhantes (mas não
idênticos), ou ao mesmo estímulo que
se apresenta de forma diferente.
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do Os conceitos surgem por meio dos
Comportamento mecanismos de discriminação e
generalização.
Para um conceito ser criado é necessário agrupar um conjunto de
objetos segundo uma característica semelhante comum, mas separá-lo
de outros conjuntos com características diferentes ... por um processo
de diferenciação progressivo o ambiente pode fazer um organismo
apresentar respostas novas, que não existiam em seu repertório, este
processo de criação de respostas novas por diferenciação gradual
chama-se modelagem (RANGÉ, 1995, p. 18).
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

A modelagem é um procedimento que de maneira progressiva,


faz com que o repertório comportamental de um sujeito seja
modificado. A modificação ocorre porque o organismo é
reforçado sistematicamente por apresentar comportamentos
semelhantes ao comportamento final que se quer atingir
(BAHLS E NAVOLAR, 2004).
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

Determinado comportamento também pode aumentar de


frequência quando a consequência elimina, suspende ou adia
a ocorrência de certos estímulos. Denomina-se reforçamento
negativo a este aumento na força de respostas pela eliminação
de estímulos aversivos. “Os estímulos que quando eliminados
aumentam a força da resposta são chamados estímulos
reforçadores negativos.” (RANGÉ, 1995, p. 17).
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

A punição consiste em estímulos aversivos e pode estar


vinculada a um esquema de reforçamento negativo (mas não
é reforçamento negativo).
Punição: caracterizada pela retirada de um estímulo
reforçador ou pela apresentação de um estímulo aversivo. É
preciso lembrar que a punição por si mesma não é capaz de
remover comportamentos, mas pode gerar outro como a
agressividade.
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

Fuga: consiste em um comportamento que afasta um estímulo


aversivo presente. A fuga ocorre quando o organismo evita um
estímulo na presença dele.
Esquiva: os comportamentos de esquiva podem ocorrer quando
um estímulo discriminativo (SD) indicar a possibilidade de
ocorrência do estímulo aversivo. O comportamento de esquiva
ocorre depois do aparecimento do SD e antes do aparecimento do
estímulo aversivo.
Formas e Efeitos da Consequência

REFORÇO PUNIÇÃO
Aumento de frequência de um Diminuição de frequência de
comportamento um comportamento

POSITIVO NEGATIVO POSITIVO NEGATIVO


Aumento da Aumento da Diminuição da Diminuição Aumento
frequência de um frequência de um frequência de da frequência de um
comportamento comportamento pela um comportamento pela
pelo acrescimento retirada ou evitação comportamento ausência/retirada de
de um estímulo de um estímulo pelo acréscimo um estímulo (reforço
(reforço positivo) (aversivo) de um estímulo positivo)
(aversivo)
Existem outras situações aversivas como a
Paradigmas, Princípios ansiedade e a frustração.
ou Pressupostos da Rangé (1995, p. 20), define ansiedade
Análise do como “operação respondente,
Comportamento diferentemente da fuga, da evitação e da
punição que são processos operantes.”.
Caso um estímulo neutro seja
acompanhado por várias vezes por um
estímulo aversivo, ele tornar-se-á um
estímulo aversivo condicionado.

Quando este estímulo que então era neutro aparecer, indicará o


aparecimento do estímulo aversivo primário.
As consequências comportamentais de sua apresentação são
chamadas de ansiedade.
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

Rangé (1995, p. 20), define a frustração “por uma operação


em que o estímulo reforçador fica inacessível ao organismo.”.
Lundim (1974, citado por Rangé, 1995), indica que há três
tipos de situações em que o acesso a estímulos reforçadores
pode ficar bloqueado:
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

a. frustração por impedimento: ocorre quando não há acesso


ao reforço. É observável em situações de extinção.
Ex.: a morte de uma pessoa amada da família que priva os
familiares de sua presença e tudo que está ligado à ela.
 

Obs.: os impedimentos aos reforçadores podem ser de origem


física, social, legal e psicológica (ver Rangé, 1995, p. 20).
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

b. frustração por atraso: organismo tem que esperar para


entrar em contato com o reforço.
Para Rangé (1995) é uma situação envolvida em um processo
de socialização, uma vez que se adaptar ao meio implica em
submissão do tempo particular, individual ao tempo social.
Ex.: aprendemos a esperar pelo horário de entrar e sair do
trabalho, da aula etc...
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

b. frustração por atraso: o organismo tem que esperar para entrar


em contato com o reforço. Para Rangé (1995) é uma situação
envolvida em um processo de socialização, uma vez que se adaptar
ao meio implica em submissão do tempo particular, individual ao
tempo social.
Ex.: aprendemos a esperar pelo horário de entrar e sair do trabalho,
da aula etc...
c. frustração por conflito: existem três
Paradigmas, Princípios tipos de frustração por conflito:
ou Pressupostos da c.1) aproximação-aproximação: a
Análise do aproximação de um estímulo reforçador
Comportamento positivo implica o afastamento de
outro. Ex.: comprar uma casa e não ter
condições de viajar.

c.2) aproximação-evitação: quando um estímulo reforçador apresenta


simultaneamente propriedades positivas e negativas. Ex.: comer um
doce e aumentar de peso.
c.3) evitação-evitação: para Rangé (1995), é o tipo que apresenta
maior frustração. Quando um organismo sofre duas ameaças
simultâneas. A evitação de uma faz cair em outra. Ex.: tomar um
remédio amargo ou continuar doente.
Paradigmas, Princípios
ou Pressupostos da
Análise do
Comportamento

O comportamento mais comum que resulta da frustração e a


agressão.
REFERÊNCIAS
BAHLS, S.C.; NAVOLAR, A.B.B. Terapia cognitivo-comportamentais: conceitos e pressupostos
teóricos. Psico UTP online, n.04. p. 1-11, jul. 2004. Disponível e:
www.utp.br/psico.utp.online/site4/terapiacog.pdf. Acesso em 11.07.2011.

CABRAL, A.; NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. 13 ed. São Paulo: Cultrix, 2007. p.
248.

CARVALHO NETO, M.B. de Análise do comportamento: behaviorismo radical, análise


experimental do comportamento e análise aplicada do comportamento. Interação em Psicologia.
UFPR. Departamento de Psicologia. V.6, n.1, p.13-18, 2002. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/view/3188/2551. Acesso em 23.05.2018.

HAYDU, V. B. Análise aplicada do comportamento: o que é, como fazer e o que tem sido
pesquisado. In: HAYDU, V.B.; SOUZA, S.R. de (orgs.) Psicologia comportamental aplicada:
avaliação e intervenção nas áreas da saúde, da clínica, da educação e do esporte. v. 2. Londrina:
Eduel, 2012. p. 13-50.
REFERÊNCIAS
MATOS, M. A. Behaviorismo Metodológico e Behaviorismo Radical. Palestra apresentada no II
Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, Campinas, out/93. Versão
revisada encontra-se publicada em: Bernard Rangé (org) Psicoterapia comportamental e cognitiva:
pesquisa, prática, aplicações e problemas. Campinas, Editorial Psy, 1995. Disponível on-line em:
https://itcrcampinas.com.br/pdf/outros/behaviorismo_metodologico_behaviorismo_radical.PDF,
acesso realizado em jan/2021.

RANGÉ, B. Bases filosóficas, históricas e teóricas da psicoterapia comportamental e cognitiva. In:


RANGÉ, B. (org.). Psicoterapia comportamental e cognitiva: de transtorno psiquiátricos.
Campinas: E. Psy, 1995. p. 13-25.

TOURINHO, E. Z. (1999). Estudos conceituais na análise do comportamento. Temas em


Psicologia da SBP. 7(3), 213-222.

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