Você está na página 1de 42

A Clínica das

Emoções
M538 Mendes, Marco Aurélio.
A clínica das emoções : teoria e prática da terapia focada
nas emoções / Marco Aurélio Mendes e Leslie Greenberg. —
Novo Hamburgo : Sinopsys Editora, 2022.
303 p. : il. ; 23 cm.

ISBN 978-65-5571-087-8

1. Psicoterapia. 2. Terapia focada nas emoções. I. Greenberg,


Leslie. II. Título.

CDD 616.89147

Catalogação na publicação: Vanessa Levati Biff — CRB 10/2454


MARCO AURÉLIO MENDES
LESLIE GREENBERG

MARCO AURÉLIO MENDES


LESLIE GREENBERG

A Clínica das
Emoções
A Clínica das
Emoções
TEORIA E PRÁTICA
DA TERAPIA FOCADA
NAS EMOÇÕES

TEORIA E PRÁTICA
DA TERAPIA FOCADA
NAS EMOÇÕES

2022
© Sinopsys Editora e Sistemas Eireli, 2022.

Supervisão editorial: Paola Araújo de Oliveira


Assistente editorial: Vitória Duarte Martinez
Capa: Márcio Monticelli
Preparação de originais: Fernanda Anflor
Editoração: Juliano Gottlieb

Todos os direitos reservados à


Sinopsys Editora
(51) 3066-3690
atendimento@sinopsyseditora.com.br
www.sinopsyseditora.com.br
AUTORES
Marco Aurélio Mendes é psicólogo, mestre em Ciências pela Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trainer, supervisor certificado e
terapeuta certificado reconhecido pela International Society for Emotion
Focused Therapy (isEFT), sendo autorizado oficialmente a realizar trei-
namentos profissionais no Brasil válidos internacionalmente por meio do
Instituto Brasileiro de Terapia Focada nas Emoções e Psicoterapias Integra-
tivas (Instituto TFE Brasil), do qual também é diretor. Na última década,
juntamente com o Dr. Greenberg, vem realizando treinamentos constantes
com o objetivo de apresentar a TFE aos colegas brasileiros em seu formato
original, como abordagem experiencial e neo-humanista. Desenvolveu um
método específico, denominado processo experiencial integrativo, a fim
de oferecer treinamento em TFE aos colegas no país. Além de artigos e
capítulos de livros publicados, é autor da obra A clínica do apego, lançada
pela Sinopsys Editora.

Dr. Leslie Greenberg, Ph.D., é professor e pesquisador emérito de Psico-


logia da York University, Toronto, Canadá. Criador e desenvolvedor da te-
rapia focada nas emoções (TFE) para indivíduos e casais, foi agraciado pela
American Psychological Association com o prêmio de pesquisador ilus-
tre. Recebeu também diversas outras premiações pelo seu trabalho como
pesquisador e professor, como o prêmio Carl Rogers pela American As-
sociation for Humanistic Psychology e o prêmio de excelência em treina-
mento profissional pela Canadian Psychological Association. Membro fun-
dador da Society for the Exploration of Psychotherapy Integration (SEPI).
É autor de mais de 100 artigos científicos, 98 capítulos de livros e 19 livros,
além de diretor do Instituto TFE Brasil.
AGRADECIMENTOS
Mais uma vez, a tarefa dificílima de escrever agradecimentos vem à tona.
Sou imediatamente tomado pelo medo de esquecer de alguém e ser indeli-
cado e injusto com tantas pessoas que participaram de alguma forma de to-
dos os processos que me trouxeram até aqui. Sem que eu tivesse me progra-
mado, sou levado a deixar a escrita fluir um pouco mais, acessando diversos
acontecimentos significativos e me afastando um pouco dessa árdua tarefa
inicial. Começam a aparecer na minha mente imagens da minha história
com a terapia focada nas emoções (TFE), que irei contar brevemente.
Quando fui pela primeira vez ao Canadá, eu já era um psicólogo
clínico com alguma experiência na prática da psicoterapia cognitiva e da
terapia do esquema. Foi o amigo e psicólogo Raphael Fischer quem me
estimulou a ir aprender diretamente com o Les, em Toronto. Achei que
não teria muito problema em realizar o treinamento em TFE em função
do meu conhecimento em psicoterapia. A realidade, porém, era muito dis-
tante do que eu havia imaginado. Em vez de acessar cognições, classificar
modos ou esquemas, usar técnicas vivenciais marcadas pelo guiar absoluto
do terapeuta, me deparei com o modelo realmente processual da TFE.
Não havia nada mais importante do que a relação terapêutica, a soberania
do processo da pessoa e o terapeuta se deixar afetar pelo cliente, em uma
verdadeira ressonância afetiva. Mais do que empatia cognitiva, fui apresen-
tado à empatia corporificada e ao que considero hoje os componentes mais
importantes no trabalho com as emoções: as sensações, a abertura à expe-
riência, o contato com o corpo, a busca de simbolização dessa experiência
corporal e a mudança das emoções com as próprias emoções. Além disso, a
8 Agradecimentos

essência da terapia humanista de Carl Rogers estava muito presente: a con-


sideração positiva incondicional pela pessoa, a busca eterna por ser con-
gruente, não querer mudar o outro e aceitá-lo como ele verdadeiramente é.
Diante de tanta dificuldade, o desespero tomou conta. Pensei em
desistir e voltar. Então, o próprio Les veio conversar comigo e perguntar
o que estava acontecendo. Falou delicadamente para que eu ficasse e não
me cobrasse tanto. Foi a partir desse contato que me senti suficientemente
seguro para ficar. E voltei mais nove vezes ao Canadá para estudar com
Les, que se tornou mais do que um professor e mentor: ele é um amigo e
incentivador que apoiou o sonho de trazermos a TFE ao Brasil em seu for-
mato original, o de uma terapia experiencial e neo-humanista. Les também
foi um incentivador durante minha certificação e na criação do Instituto
Brasileiro de Terapia Focada nas Emoções e Psicoterapias Integrativas, o
TFE Brasil. Então, sem dúvida, o primeiro agradecimento é para você,
meu querido amigo Les Greenberg.
Nessa caminhada, outras pessoas se juntaram a mim, a ponto de
hoje poder afirmar que formamos uma comunidade e um grupo de amigos
vibrantes e apaixonados pela TFE. Vou optar por citar pessoas mais do que
queridas e profissionais certificados que nos ajudaram e ajudam em nos-
sos treinamentos pelo Brasil: Márcia Bruno, Aline Arias Wolff, Angélica
Regalla, Lídia Prata, Ana Teresa Mendes, Andréa Caroli, Cristiana Mar-
tins, Daniela Barcelos, Carla Bonazza, Fernanda Moreira, Thiago Pinheiro,
Mônica Gouveia e Wilson Lima. Aos demais colegas em processo de certi-
ficação, que participam dos módulos e grupos de aprofundamento do TFE
Brasil, deixo também o meu agradecimento profundo com o ensinamento
propiciado por vocês. É claro que não poderia esquecer do apoio da minha
amada Márcia Bruno e da minha filha Luísa Bruno. Vocês têm sido um
porto mais do que seguro nessa nossa trajetória.
Escrevendo este pequeno texto, entendo agora que, mais do que
aprender um novo modelo de psicoterapia, o que a TFE fez comigo foi
mudar a mim mesmo como pessoa. Espero poder retribuir pelo menos um
pouco do que eu recebi e que este livro auxilie os psicoterapeutas de língua
portuguesa a conhecerem mais sobre a TFE.
Marco Aurélio Mendes
A clínica das emoções 9

Estou muito contente em participar do primeiro livro de TFE publi-


cado no Brasil. Tenho realizado treinamentos no país desde 2018 por meio
do TFE Brasil, instituto oficial ligado à International Society for Emotion
Focused Therapy (isEFT). Fui testemunha de todo o esforço do Marco
para apresentar aos colegas brasileiros o caráter humanista e experiencial
da TFE, em um universo terapêutico ainda dominado por perspectivas
mais racionalistas. O crescimento da TFE no Brasil muito me alegra e este
livro é um legado de todo esse esforço conjunto dos últimos anos. A obra é
bastante abrangente, contendo as inovações teóricas mais recentes e poderá
auxiliar aqueles que querem conhecer a TFE mais profundamente.

Leslie Greenberg
SUMÁRIO
1 Emoções ................................................................................................ 13

2
Terapia focada nas emoções: uma visão construtivista-dialética
do self em mudança .............................................................................. 43

3 Transformando as emoções com a terapia focada nas emoções ........... 73

4 Intervenções empáticas e classificação das tarefas terapêuticas ......... 125

5 Tarefas de experienciação e reprocessamento .................................... 165

6 Tarefas de dramatização: cadeira vazia e autoapaziguamento ........... 193

7 Tarefas de dramatização: diálogo em duas cadeiras no


marcador do autocriticismo ............................................................... 233

8 Tarefas de dramatização: diálogo em duas cadeiras no


marcador da ansiedade ....................................................................... 259

9 Tarefas de dramatização: diálogo em duas cadeiras no


marcador da interrupção do self ........................................................ 281
1

EMOÇÕES

A BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO


Para perceber a importância das emoções ao longo da vida, basta parar um
minuto e pensar nos eventos significativos pelos quais já passamos. O nas-
cimento de um filho, a perda de alguém amado, a realização de um sonho,
uma viagem, uma decepção. Esses são alguns exemplos de momentos im-
portantes na vida de muitos de nós. Mesmo algo aparentemente simples,
como tomar café com um amigo, pode se tornar marcante, dependendo
de como nos sentimos e de como isso afeta a nossa vida. Essa qualidade
intrinsecamente ligada àquilo que é vivido, seja bom ou ruim, agradável ou
desagradável, e que faz o momento ser significativo corresponde a aspectos
cruciais daquilo que chamamos de emoções. A famosa citação de Maya
Angelou nos faz refletir sobre o papel das emoções em nossas vidas e rela-
ções: “Eu aprendi que as pessoas irão esquecer o que você falou, que irão
14 Emoções

esquecer o que você fez, mas nunca irão esquecer como você as fez sentir”.
As emoções, portanto, dão qualidade às experiências e, por isso, a discussão
sobre este assunto acompanha a história da humanidade.
Na Grécia Antiga, utilizava-se a palavra pathéna (paixão) para desig-
nar passividade ou situações sobre as quais não se tem controle, no mesmo
sentido que hoje é atribuído à comoção provocada pelas emoções (Frijda,
2008). Platão advertia que as emoções impediam as pessoas de agir racio-
nalmente. Portanto, os objetivos dessas deveriam ser o controle e a capaci-
dade de refletir, pensar e filosofar sobre o problema (Plato, 1943). Aristóte-
les, por sua vez, afirmava que, para ter uma vida saudável, os seres humanos
deveriam estar atentos à moderação no que diz respeito às paixões: nem
demais, nem de menos, sendo esse equilíbrio fruto da ponderação racional
(Aristotle, 1984). Assim, desde os tempos remotos e, de certa maneira, até
os dias de hoje, as emoções vêm sendo vistas como algo inferior, quando
comparadas à razão. Essa visão tradicional advoga que as emoções devem
ser controladas pela razão (Aristotle, 1984).
Nas últimas décadas, entretanto, inúmeros estudos conjugando áreas
diversas, como neurociências, psicologia, medicina, filosofia, antropologia,
entre outras, têm demonstrado a real importância das emoções em guiar e
direcionar nossas vidas, muito antes de qualquer processo lógico e racional
entrar em cena. Os pensamentos e crenças, por melhor articulados que
sejam, não são considerados suficientes para gerar ação e mudança (Da-
masio, 1999; Frijda, 2005). No campo da psicoterapia, especificamente,
alguns autores descrevem a época atual como a de uma mudança de para-
digma. Depois de presenciar, durante os últimos 20 anos, o predomínio
dos aspectos cognitivos e racionais, temos, agora, em curso, a mudança
para a ênfase nos aspectos emocionais da experiência (Goldman & Green-
berg, 2015; Johnston & Olson, 2015; Whelton, 2004).
Damasio (2018) compreende que as emoções existem não apenas a
partir das pressões evolucionárias para a sobrevivência, mas também devi-
do à estrutura complexa e de sofisticação cultural da espécie humana. Na
perspectiva do autor, como são os sentimentos que comunicam ao corpo,
sem qualquer palavra, se a direção da vida é boa ou ruim, eles podem ser
considerados os catalisadores de processos particularmente humanos, como
o questionamento e a busca de entendimento e de solução de problemas.
A clínica das emoções 15

O estudo das emoções tem sido considerado por muitos psicólogos


uma das áreas mais confusas da ciência (Plutchik, 2005). Apesar da exis-
tência de toda essa diversidade e discussões sobre o tema, existe, atualmen-
te, certo consenso sobre a definição do que são emoções (Mendes, 2015).
As emoções fazem parte do mais importante sistema de processamento
de informação dos organismos e tiveram origem na história evolutiva das
espécies, trazendo vantagens de sobrevivência na medida em que, diante de
determinadas situações, acionam respostas de rápido processamento e de
maneira automática. São processos determinados biologicamente, mas que
podem adquirir novos significados a partir da interação com o ambiente.
No caso do ser humano, as experiências pessoais e a cultura são impor-
tantes fatores para moldar as emoções (Damasio, 2010; Greenberg, 2002;
Mendes, 2015).
As emoções nos retiram de nossa linha de base habitual, chamando
a atenção para o que está acontecendo no momento, nos levando a agir/
reagir. O pano de fundo dessa mudança no organismo é um conjunto
complexo de reações químicas e neurais que formam padrões diferentes do
habitual. Isso é bem claro nas emoções que envolvem grande excitabilida-
de, com fortes respostas corporais, em uma espécie de valência ou qualida-
de (Damasio, 2010; Elliot & Greenberg, 2017). As emoções, portanto, são
corporificadas, ocorrendo no organismo como um todo e não apenas na
mente. O corpo é, na verdade, o grande palco da experiência emocional.
Ciência à parte, todos sabemos o que é uma emoção quando a sen-
timos, pois ela nos afeta e nos guia. Quando a emoção é ativada, podemos
mudar os comportamentos e pensamentos instantaneamente e ter reações
corporais também imediatas. As emoções estão sempre em relação a algo
ou a alguém, seja esse estímulo interno ou externo. Temos a tendência
natural de nos aproximar daquilo que possa promover nossa sobrevivência
e bem-estar e nos afastar daquilo que possa prejudicá-los. Essa busca para
sobreviver e prosperar é operada por meio do processamento emocional,
que funciona como uma espécie de sistema de regulação afetiva, fazendo
com que nos movamos na direção daquilo que nos afeta positivamente e
que é prazeroso e que nos afastemos daquilo que nos afeta negativamente
e é ruim. São as chamadas características motivacionais ou tendências para
a ação presentes nas emoções, como o impulso de fugir diante de algo que
16 Emoções

nos desperta medo (Greenberg, 2019; Mendes & Bruno, 2019). Essen-
cialmente, as emoções indicam que algo importante está acontecendo e
necessita ser observado e que mudanças no organismo ou na sua relação
com o ambiente podem ser necessárias para lidar melhor com a situação.
As emoções também se relacionam aos sistemas de significados cons-
truídos a partir das experiências. O medo está presente em todos nós quan-
do observamos algo ameaçador e nos sentimos desprotegidos. Podemos,
no entanto, experienciar fragilidade e medo em diversas situações que não
são necessariamente perigosas para todos. Falar em público, por exemplo,
apesar de não envolver ameaça direta à sobrevivência, pode adquirir signi-
ficado pessoal bastante aversivo, caso tenhamos passado por experiências
anteriores de vergonha, humilhação ou, ainda, de muita ansiedade, se a
situação é importante para a concretização de um objetivo.
Ainda, as emoções envolvem não apenas a relação com terceiros
(interpessoal), mas também conosco (intrapessoal), dependendo de nosso
grau de exigência e de expectativas, de nosso desejo de reconhecimento,
entre outros aspectos. Portanto, as emoções nos dão informações sobre a
qualidade das experiências, se elas são boas ou ruins para nós, se as coi-
sas estão caminhando como gostaríamos, nos guiando em direção ao que
necessitamos, bem como nos auxiliam a modificar, manter ou terminar
determinada relação com a situação ou com o objeto (Greenberg, 2019).
Além disso, muito mais do que buscar o prazer e evitar a dor, seres huma-
nos procuram dar sentido à sua existência, e as emoções fornecem qualida-
des que ajudam a construir esse mesmo sentido (Mendes & Pereira, 2018;
Mendes et al., 2021).
Somos sistemas dinâmicos e complexos. Como as experiências mol-
dam as emoções, cada um de nós é um verdadeiro labirinto de significa-
dos pessoais, no qual é muito fácil se perder. Para aproveitar o papel que
as emoções podem ocupar e para alcançar o conhecimento profundo e
corporificado do que sentimos, precisamos entrar em contato com nossas
experiências. As emoções informam o que realmente importa para as nos-
sas vidas.
Aumentando ainda mais essa complexidade, as emoções não são
entidades estáticas e facilmente distintas, com processos independentes.
A experiência emocional é o produto da síntese de inúmeros processos, que
A clínica das emoções 17

se iniciam a partir de estruturas biológicas e que, gradativamente, incor-


poram aspectos comportamentais, motivacionais e cognitivos (Greenberg,
2019).
Outro aspecto importante para estar atento é perceber se os rótulos
e estereótipos criados por nós mesmos e pela cultura na qual estamos in-
seridos realmente se encaixam em nossas experiências. Em outras palavras,
as emoções são universais, mas também têm rótulos e significados especí-
ficos relacionados ao contexto sociocultural. Em algumas sociedades, por
exemplo, sentir raiva pode ser sinal de profundo desrespeito à hierarquia
social, enquanto sentir tristeza pode ser sinal de fraqueza. Estereótipos de
gênero também se fazem presentes nesse sentido, como em sociedades que
condenam homens que se permitem chorar, por exemplo.
Para a terapia focada nas emoções (TFE), as emoções envolvem si-
tuações e avaliações que fazemos das nossas relações com os outros, co-
nosco e com o ambiente, têm significados incorporados, tendências para a
ação, acontecem em nosso corpo e são simbolizadas não apenas por meio
das sensações que sentimos ao experienciar a emoção (nó na garganta, ta-
quicardia, calor no peito), mas também por meio da linguagem, dos pro-
cessos reflexivos e das narrativas que criamos sobre aquilo que sentimos.

EMOÇÕES E COGNIÇÕES: QUEM VEM


PRIMEIRO?
Existem dois processos básicos por meio dos quais produzimos emoções:
os processos automáticos e os reflexivos. Em seu clássico trabalho, Cére-
bro emocional, LeDoux (1996) descreveu a existência de caminhos específi-
cos no cérebro para a produção das emoções, o que nos auxilia a entender
melhor o funcionamento e a interação desses processos. LeDoux (1996,
2012) descreve a existência de duas vias de processamento de informações.
A via secundária mais rápida e mais curta (low road/short loop), mediada
pela amígdala cerebral, e a via principal mais lenta e mais longa (high road/
long loop), mediada pelo córtex. Uma vez deflagrada a emoção pelo proces-
samento automático, que é o responsável pela primeira avaliação dos even-
tos, a informação chega mais rapidamente à amígdala cerebral do que ao
18 Emoções

neocórtex. A via secundária é basicamente subcortical, sendo, além de mais


rápida, mais grosseira; enquanto a via principal passa primeiro pelo córtex
para depois chegar à amígdala, sendo mais precisa e detalhista. A amígdala
cerebral também tem vias projetadas para o córtex que permitem que ele fo-
que sua atenção nos estímulos ameaçadores, resultando em hipervigilância.
No processamento automático, a avaliação rápida do estímulo leva
a diversos processos neurais que ativam outras áreas cerebrais e do sistema
nervoso autônomo, gerando uma cascata de respostas químicas e, conse-
quentemente, diversas reações fisiológicas. O cérebro emocional e o cor-
po reagem antes do cérebro racional e do pensamento entrarem em cena
(Greenberg, 2002; LeDoux & Phelps, 2008).
Devido à sua importância para a sobrevivência, a maior parte das
emoções é gerada por processos automáticos e não conscientes, de maneira
rápida e involuntária. No processamento automático, todos os mecanis-
mos necessários para deflagrar as emoções podem ser acionados imediata-
mente, sem reflexão consciente. Também podemos ter reações emocionais,
mesmo sem ter conhecimento do indutor da emoção, como, por exemplo,
um estado de angústia ou felicidade. Mesmo que não percebamos a causa
desse estado, que pode ser tanto uma alteração química do corpo causada
por fatores diversos, como dieta, clima, alterações do sono, como uma
imagem que tinha potencial para ser consciente mas não o foi, o corpo sen-
te e experiencia emoções. Portanto, quando a emoção é ativada e reagimos
às situações, a cascata de reações que acontece em seguida é geralmente
impenetrável e não pode ser interrompida por meio da razão e da lógica.
Além de reagirmos às situações sem que a razão consiga interromper esse
processo, as emoções podem parecer imotivadas pelo fato de terem sido in-
duzidas de maneira inconsciente (Damasio, 1994, 2010; Greenberg, 2019;
Mendes, 2021).
Assim como são geradas por processos automáticos, as emoções tam-
bém são impactadas pelos processos reflexivos, pela capacidade de avaliação
cognitiva e de pensar sobre situações e manipulá-las mentalmente. Uma
vez sentida a emoção com nível moderado de ativação, os processos refle-
xivos mais detalhados podem auxiliar a dar contorno na regulação afetiva,
guiando-nos, também, na construção de sentido a partir das experiências.
Na perspectiva da intervenção clínica com a TFE, as emoções produzidas
A clínica das emoções 19

pelos processos reflexivos não têm a mesma importância das emoções pro-
duzidas pelos processos automáticos, e estas últimas são a razão central pela
qual as pessoas procuram terapia.
Sem querer, de modo algum, glorificar os processos automáticos e
diminuir a importância dos reflexivos, o que a TFE procura deixar claro
com essa afirmação é que, quando o nível de ativação emocional é alto, as
cognições não são tão úteis porque as emoções se tornam impenetráveis à
razão e à lógica. Os processos reflexivos, porém, são parte importante de
quem somos, pois eles nos ajudam a criar sentido às nossas vidas. Para que
nos beneficiemos adequadamente desses processos, as emoções precisam
ser sentidas em nível moderado, que permita a reflexão e a avaliação.
Os termos afetos, emoções e sentimentos, apesar de usados de forma
indiferenciada, não são exatamente a mesma coisa. Afeto é algo muito mais
simples do que uma emoção e se relaciona com a noção de valência ou
qualidade (positivo ou negativo, agradável ou desagradável) e de ativação
ou intensidade (muito ou pouco) (Barrett, 2018). As emoções incluem os
afetos, além das tendências para ação, atenção seletiva e cognições, bem
como as reações neuroquímicas que estão subjacentes a todos esses fenô-
menos (Greenberg, 2019). Por sua vez, os sentimentos são decorrentes da
percepção daquilo que acontece conosco enquanto experienciamos afetos
ou emoções. Quando alguém diz “me sinto triste”, quer dizer que se perce-
be experienciando/sentindo uma qualidade afetiva em seu corpo, que, de
acordo com o contexto e a cultura, é chamada de tristeza (Barrett, 2018;
Damasio, 2003). Além disso, é comum observarmos o uso do termo senti-
mento em relação a experiências mais complexas. A emoção raiva pode ser
diferenciada em sentimentos de irritação, mágoa, desprezo, etc.
Assim, as alterações do corpo são adicionadas às representações
(imagens) na memória, fazendo a experiência subjetiva se tornar, também,
uma experiência afetiva, podendo ser simbolizada com aspectos explíci-
tos (descritivos) e implícitos (qualitativos) (LeDoux & Phelps, 2008). Em
função da dificuldade de separação entre esses aspectos, e também para
deixar a leitura mais fluida, optamos por usar os termos afeto, sentimentos
e emoções de forma intercambiável.
Apesar dos avanços da ciência terem permitido aos pesquisadores a
identificação de áreas específicas do cérebro no que diz respeito às emo-
20 Emoções

ções, assim como dos processos neuroquímicos subjacentes, ainda não há


consenso na comunidade científica sobre o assunto. Barrett (2018), por
exemplo, argumenta a favor da teoria das emoções construídas (theory of
constructed emotions). Nessa perspectiva, as emoções não são vistas como
reações ao ambiente ou a algo inato, mas como conceitos que criamos a
partir das experiências passadas, dos contextos em que nos encontramos,
da cultura na qual somos criados e dos afetos ou sensações sentidas em
relação àquilo que acontece no momento.
Diversas metáforas usadas pelas pessoas para explicar seus senti-
mentos envolvem a simbolização de sensações corporais, como na tristeza
(“uma dor apertada em meu peito”) e na raiva (“meu sangue está ferven-
do”). As marcas afetivas que construímos a partir das situações vivenciadas
nos auxiliam a erguer ideias sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre as
outras pessoas (Larsen et al., 2008).
Na teoria construtivista dialética proposta pela TFE, que será vista
em detalhe no Capítulo 2, as emoções são consideradas combinações de
aspectos biológicos relacionados aos fenômenos cerebrais, que, por sua vez,
estão em constante interação com os sentidos que criamos a partir dos es-
tados corporais que se apresentam em nossas experiências. Assim, as emo-
ções não são puramente bioevolucionárias, completamente cognitivas ou
socioconstruídas, mas envolvem a criação de significado gerada a partir de
componentes corporais baseados em elementos emocionais que ocorrem
em contextos específicos.
Existem programas psicoafetivo-motores básicos com a presença
de tendências para ação, como afastar-se, aproximar-se, evitar e abordar.
Esses programas são rotulados em nossa cultura como emoções. Uma vez
formadas, as experiências emocionais se tornam parte essencial de quem
somos, das nossas reações e avaliações. Experiências, portanto, formam
estruturas afetivas e corporificadas com modos/estados de prontidão para
agir e reagir, sendo trazidas à consciência quando refletimos cognitiva-
mente sobre elas, buscando compreendê-las. Essa busca de sentido in-
fluencia quem somos, mas não nos determina, pois a complexidade e a
dinâmica são constantes.
O sistema emocional avalia de forma rápida se as coisas são boas
ou ruins para nós, e o sistema reflexivo julga o valor disso. Estar atento ao
A clínica das emoções 21

que se sente, observar-se enquanto sente as emoções, adicionar qualidades


às experiências e poder refletir sobre isso a partir dos processos reflexivos
permitidos pela consciência é o que caracteriza a complexidade humana,
fazendo não sermos simples máquinas programadas para agir despertadas
pelas emoções. Podemos agir até mesmo de maneira contrária ao que as
emoções nos indicam, dependendo do significado da experiência.
Assim, as emoções que experienciamos como resultado das situações
e das interações no mundo nos ajudam a criar memórias e sensações que
ficam marcadas em nosso corpo, criando registros corporificados de nós
mesmos, do ambiente e de terceiros, em diferentes contextos. Por exemplo,
pessoas negras e de outras minorias sociais são geralmente atormentadas
por sensações de medo, terror, vergonha e criticismo, em função do impac-
to de viver em uma sociedade racista, sendo alvejadas por micro e macro
agressões no dia a dia (Mendes, 2021).

EMOÇÕES, NECESSIDADES, COMPOR-


TAMENTO, COGNIÇÕES E MEMÓRIA:
UMA RELAÇÃO ENTRELAÇADA
Tendo sido desenvolvidas ao longo da evolução, as emoções são o produto
de uma síntese complexa de muitos processos, como reações químicas,
neurais, fisiológicas, cognitivas, motivacionais e tendências para ação. Es-
ses elementos estão interligados por sistemas de feedback cujo objetivo final
é processar e transmitir informações, aumentando as chances de sobrevi-
vência dos indivíduos (Damasio, 2010; Plutchik, 2005).
Estímulos externos ou internos podem iniciar reações no organis-
mo, levando a sensações e a estados de ativação. Estas reações tendem a
se apresentar como respostas corporais, como mudanças na coloração e
na expressão da face, tensão muscular, aperto da mandíbula, expressão e
comportamentos como chorar, sorrir, fugir e lutar. Os comportamentos,
bem como as cognições, tendem a influenciar e a modificar o ambiente e
o estímulo e, consequentemente, a atuar sobre a continuidade ou a inter-
rupção dos inúmeros processos que resultam naquilo que chamamos de
emoção (Greenberg, 2002).
22 Emoções

O que é realmente mais essencial nas emoções são os estados/mo-


dos de prontidão decorrentes de circuitos cerebrais relacionados à sobrevi-
vência, os quais coordenam respostas comportamentais que têm objetivos
como modificar, estabelecer, manter ou terminar uma determinada relação
entre o self e o objeto. Esses estados de prontidão e as tendências para ação a
fim de modificar a nossa relação com o ambiente são a pedra angular daqui-
lo que evoluiu para se tornar uma emoção (Frijda, 2008; Greenberg, 2015,
2019). Mesmo uma ameba tem a tendência para ação de se afastar quando
é tocada por uma agulha microscópica (Frijda, 2008). Greenberg (2019)
considera as tendências para ação o elemento mais importante das emo-
ções, já que são elas que nos organizam para agir e nos guiar no ambiente.
As emoções nos alertam rapidamente se algo é prazeroso ou des-
prazeroso, inofensivo ou perigoso, bom ou ruim, adicionando qualidades
às experiências, trazendo tendências para a ação e promovendo a sobrevi-
vência. O medo tem como função alertar sobre o perigo e nos guiar para
sair da situação ou fugir. A raiva ajuda na proteção, no estabelecimento de
fronteiras e na remoção de obstáculos, nos mobilizando para o enfrenta-
mento. A tristeza nos auxilia a simbolizar perdas, a comunicar necessidades
e a buscar auxílio. A alegria indica que existe algo que é prazeroso, recom-
pensador, levando-nos, então, à aproximação/manutenção com a situação,
pessoa ou objeto. Cada emoção define formas de relacionamento do or-
ganismo com o ambiente, com outro organismo e com ele próprio. Além
de corporificadas, as emoções também são relacionais (Elliott et al., 2004;
Friedrickson, 2001; Greenberg, 2002; Mendes, 2015, 2021).
A teoria de funcionamento da TFE considera a existência de três
grandes forças motivacionais humanas: (1) uma força inata para sobrevi-
ver e prosperar, (2) a regulação afetiva e (3) a criação de significado. Em
vez de pensarmos em diversos sistemas motivacionais e necessidades inatas
preconizadas por diversos modelos de psicoterapia para explicar o compor-
tamento humano, como autoestima, poder, apego, maestria, entre outros,
a TFE entende que faz mais sentido pensarmos em afetos básicos relacio-
nados à sobrevivência e ao equilíbrio e na emergência das necessidades e
motivações a partir desses afetos.
Tomemos como exemplo a questão do apego. O bebê humano vem
programado pelo sistema afetivo para dar preferência a cheiros familiares, a
A clínica das emoções 23

sorrisos e ao conforto, entre outras coisas. A interação com o ambiente e o


contato com esses estímulos produzem afetos agradáveis que, por sua vez,
trazem bem-estar à criança, regulando-a afetivamente. Se algo é agradável
para o organismo e o conforta, cria-se a necessidade de ter mais dessa fonte
de regulação. Por sua vez, se algo nos ameaça e nos desregula, buscamos
nos afastar desse estímulo ou nos aproximar de algo ou alguém que possa
nos proteger e voltar a um estado de equilíbrio. Assim, nossas necessidades
de proteção, conexão e reconhecimento, por exemplo, derivam desses afe-
tos básicos e dessas emoções: sem o medo e o prazer, não existiria motivo
para aproximação e conexão. São as emoções, portanto, que organizam as
necessidades centrais e guiam as ações para alcançá-las. Em vez de pensar
em diferentes motivações/necessidades inatas, a TFE considera que estas
são um processo de construção resultante da interação entre a busca por
sobrevivência e a experiência vivida, entre afetos/emoções que nos ajudam
a sobreviver e nos regular e os sentidos que vamos criando sobre essas ex-
periências. Os afetos básicos e, posteriormente, as emoções mais complexas
desenvolvidas no seio da cultura, nos guiam e nos direcionam no mundo,
podendo ser vistos como um estado motivacional por si só. Sem afetos e
emoções não haveria apego, poder nem busca por autonomia e identidade
(Greenberg, 2019; Mendes, 2021).
A regulação afetiva, portanto, pode ser entendida como o equilíbrio
ou o esforço que fazemos para estabilizarmos o nosso organismo e siste-
ma nervoso. Ela se manifesta funcionalmente como a busca por sentirmos
aquilo que nos faz bem e promoveu a nossa sobrevivência e o afastamento
daquilo que não gostamos e que pode nos fazer mal.
As experiências de regulação afetiva, portanto, criam expectativas
daquilo que é bom ou ruim e que vão sendo consolidadas no organis-
mo. Como mencionado anteriormente, aquilo que geralmente é enten-
dido como motivação (por exemplo, autonomia, apego, poder, maestria)
é derivado desse processo. Nós acabamos por desejar aquilo que nos afeta
de forma prazerosa e que faz sentido dentro da cultura na qual vivemos
(Greenberg, 2021).
Por terem funções específicas, as emoções incluem necessidades psi-
cológicas que, uma vez satisfeitas, levam à adaptabilidade, cumprindo, as-
sim, o seu papel. O medo elicia a necessidade de proteção e segurança; a
24 Emoções

raiva, de respeito aos limites e de autonomia; a vergonha, de validação e su-


porte; a tristeza, de conexão, afeto e aceitação. As emoções nos informam
rapidamente sobre situações importantes para o nosso bem-estar e nos
guiam para agir de maneira a satisfazer essas necessidades. Frijda (1986)
definiu brilhantemente essa relação ao descrever as emoções como cone-
xões corporificadas para alcançar necessidades essenciais. Elas fornecem
informações que nos orientam sobre essas necessidades à medida que nos
motivam a interagir com o ambiente para satisfazê-las. Assim, o organismo
vai desenvolvendo necessidades a partir das experiências que ajudam na
sobrevivência e na regulação afetiva.
A criação de significado, por sua vez, pode ser compreendida como
a pressão interna para construir sentidos que nos ajudam a entender quem
somos e como o mundo é. Como seres humanos, vivemos em um constan-
te processo de construção de significados a partir dos sentimentos sentidos
no corpo, por meio de descrições e narrativas.
A relação entre emoções e cognições é algo bastante intrincado e
muitas vezes indissociável. A experiência das pessoas é comumente viven-
ciada de maneira global e complexa, como um todo, e não em pequenas
partes a serem analisadas. Estados corporais relacionados às emoções in-
fluenciam pensamentos e são por eles influenciados. Alguém que passa por
uma experiência traumática como uma situação de violência provavelmen-
te irá reagir fortemente diante de estímulo semelhante. A reação emocional
ocorre de forma automática e o processamento reflexivo/cognitivo acom-
panha essas reações. Uma vez ativada a emoção do medo, cognições rela-
cionadas à esta emoção acompanham o sujeito. As intervenções cognitivas,
nesse caso, só podem acontecer depois que a emoção já se fizer presente.
O conceito de crenças como estruturas cognitivas centrais, com pro-
posições rígidas e absolutas sobre os fatos, demonstra a inter-relação entre
emoções e cognições. Uma vez estabelecidas, as crenças são, muitas vezes,
difíceis de serem modificadas pela via racional, pelo processamento reflexi-
vo, mesmo com todas as evidências contrárias à sua manutenção (Damasio,
2010). Isso se dá pelo fato de a base das crenças ser justamente a experiência
afetiva. Alguém que passa por situações de vergonha, humilhação e abuso
com terceiros é bastante propenso a criar crenças de desconfiança a partir
dos sentimentos que ficaram atrelados a essas situações. As emoções im-
A clínica das emoções 25

plicam avaliações baseadas em interesses e em questões importantes para o


organismo: quanto maior a importância, mais intensa a reação. A relação
com terceiros, em função do que foi vivenciado, pode gerar fortes emoções,
passando a ser uma questão-chave e relacionada ao processamento automá-
tico, difícil de ser controlada apenas por novas cognições (Frijda, 2008).
Quando a emoção do medo é ativada, o organismo identifica que
algo pode ser ameaçador para ele. Essa percepção do perigo é automática,
pré-simbólica e tão rápida, que não passa pelos processos reflexivos, sen-
do difícil de ser colocada em palavras. A tendência para ação presente no
corpo nos afasta de algo que nos ameaça ou nos aproxima de algo que nos
proteja. O nosso estado físico e a nossa expressão podem ser transmitidos
para terceiros também. Isso acontece sem passar pelos processos reflexivos.
Apenas quando um primeiro estágio de avaliação automática já foi pos-
sível, é que podemos refletir sobre a experiência por meio das cognições.
Em resumo, as experiências afetivas são as estruturas a partir das quais
erguem-se as cognições. Ao mesmo tempo, as explicações que construímos
sobre o que estamos sentindo podem também influenciar os nossos pró-
prios sentimentos. As emoções, portanto, fornecem a base corpórea para
os sistemas de significados que vamos construindo ao longo da vida e estão
intrinsecamente relacionadas aos nossos processos reflexivos também.
As emoções guiam nossa atenção e memória. O medo faz detectar-
mos mais facilmente estímulos relacionados a esse tema como estados de
hipervigilância ao perigo, gerando um círculo vicioso. A vergonha e a tris-
teza, por sua vez, podem levar a sentimentos de desesperança e desamparo,
que acabam por realçar as mesmas emoções. As memórias tendem a ser
congruentes com as emoções. Ao sentirmos tristeza, tendemos mais facil-
mente a nos lembrar daquilo que perdemos, fazendo com que fiquemos
ainda mais tristes e com que emoções e memórias se alimentem umas às
outras. De maneira resumida, podemos afirmar que as emoções se relacio-
nam diretamente com o humor, o estado atual e a memória.
Ainda em relação à memória, os avanços neurocientíficos das últi-
mas décadas permitiram melhor entendimento sobre os funcionamentos
emocional e cerebral, sobre as redes neurais e sobre a memória. Ideias con-
sideradas difíceis de serem estudadas cientificamente até então, como os
processos inconscientes, passaram a ser analisadas e revistas, dando desta-
26 Emoções

que à importância dos sistemas de memória implícita para a compreensão


do comportamento humano (Mendes & Falcone, 2015).
Crianças pequenas, de até 2 anos, codificam as experiências de for-
ma sensorial em uma espécie de nuvem ou amálgama, contendo tons de
voz, sensações de bem-estar, dor ou desconforto. Dos 2 aos 3 anos, as
informações são codificadas e simbolizadas de forma predominantemente
sensorial e visual, para, somente depois da aquisição da linguagem, serem
codificadas e simbolizadas de forma linguístico-verbal (Hackmann et al.,
2011; Mendes & Falcone, 2014). Apesar de não estarem necessariamente
associadas à recordação consciente do objeto ou da situação, estruturas de
memória podem relacionar elementos nas situações atuais a significados
construídos anteriormente, levando a respostas emocionais ou a sensações
que envolvem partes do cérebro que não utilizam processamento cons-
ciente (Siegel, 2012). Diferentemente da memória explícita, que pode ser
declarada por palavras e imagens, a partir da consciência, a chamada me-
mória implícita refere-se ao impacto das experiências prévias no comporta-
mento, sem que necessariamente tenhamos consciência disso. Experiências
recorrentes permitem, mesmo aos bebês, realizar processos comparativos,
detectando semelhanças e diferenças, formando a base das primeiras es-
truturas de memória, que já funcionam como auxiliares na avaliação de
situações presentes e futuras. Episódios importantes, por sua vez, marcam,
por meio das emoções, determinadas situações como cruciais e importan-
tes para a sobrevivência do organismo, levando-nos a aprender a evitar ou
a reagir diante de situações supostamente semelhantes (Siegel, 2012).

ESQUEMAS EMOCIONAIS
As emoções são o principal motivo da procura das pessoas por psicotera-
pia. Os indivíduos buscam solução para o desconforto provocado pelas
emoções, a fim de aliviarem-se da dor e do sofrimento presentes em sua
vida. Alguns, referem-se à sua vida como vazia, sem sentido, e buscam
desesperadamente experienciarem emoções como alegria e amor. Apesar
das diferenças individuais, os clientes se identificam com determinados
conceitos emocionais presentes na cultura e descrevem esses estados usan-
A clínica das emoções 27

do palavras mais globais, como angústia, dor, mal-estar, e mais específicas e


popularmente reconhecidas, como medo, tristeza, raiva, vergonha e culpa,
descrevendo também a ausência de prazer, amor e alegria. Terapeutas, por-
tanto, precisam auxiliar os clientes a lidarem melhor com esses aspectos.
Sentir, criar sentido, falar, detalhar e elaborar as emoções devem ser parte
essencial do dia a dia dos clínicos.
Por terem como objetivo global a sobrevivência, conclui-se que as
emoções são essencialmente adaptativas, ou seja, nos orientam em direção
às nossas necessidades e a lidar com os desafios presentes. Porém, nave-
gar no universo emocional não é um mar de rosas. Ao observarmos as
tempestades emocionais na vida das pessoas, imediatamente uma série de
questionamentos vem à tona. Se as funções das emoções estão relaciona-
das à adaptação e à sobrevivência, por que sofremos tanto ao experienciá-
-las? Por que, mesmo tendo permanecido em nosso organismo ao longo
da evolução devido aos seus benefícios, as emoções podem nos atrapalhar e
se tornar desadaptativas ou disfuncionais? A resposta para essas perguntas
depende de vários fatores. O histórico emocional do sujeito, o contexto em
que a reação emocional é ativada, o manejo da emoção experienciada, as
expectativas futuras do indivíduo, as emoções sobre as próprias emoções e
a cultura são alguns deles. Entre outros diversos fatores para explicar tama-
nha complexidade, está o conceito de esquemas emocionais.
Existem duas linhas importantes a considerar quando pensamos em
como a emoção é gerada. Em uma perspectiva inata e sensorial, existe a
ativação automática de respostas que acompanham avaliações simples do
ambiente. Em contrapartida, à medida que as experiências se desenvolvem
ao longo da vida, essas respostas automáticas vão sendo integradas com
sensações, percepções, cognições e informações na memória, formando es-
truturas internas ou esquemas emocionais. Esquemas emocionais, portan-
to, são estruturas de memória que sintetizam afetos, emoções, cognições
e tendências para ação de forma automática e que estão relacionados aos
mecanismos implícitos, inconscientes e idiossincráticos construídos pelas
pessoas ao longo da vida (Mendes, 2021). Durante o desenvolvimento,
eles rapidamente se tornam os alicerces centrais de avaliação e resposta do
sistema emocional, sendo ativados a partir de processos automáticos.
28 Emoções

Como nossas expectativas e previsões são baseadas nos significados


que criamos a partir das experiências prévias, os esquemas emocionais são
peças importantes para compreendermos o conhecimento implícito que
é processado fora da consciência, gerando respostas automáticas. Eles se
desenvolvem a partir da representação interna das experiências vividas so-
madas às situações ativadoras, formando, assim, as memórias esquemáticas
(Greenberg, 2019). Quando temos experiências importantes, componen-
tes somáticos ou viscerais se tornam uma marca para aquela experiência e
ficam gravados na memória. Assim, quando o organismo detecta pistas ou
alguma similaridade entre situações ou relações atuais e passadas, a organi-
zação emocional esquemática será ativada, trazendo sensações e reações que
têm significados implícitos associados a situações ou relações anteriores.
Os esquemas emocionais também são as estruturas centrais do self
nos fornecendo a sensação daquilo que sentimos que somos a cada mo-
mento, as chamadas organizações do self (ver Capítulo 2). Uma vez for-
mados, dão sentido às experiências e impõem significados às situações,
expressando-se como uma emoção inata (Greenberg, 2019; Timulak &
McElvaney, 2015).
Passamos a reagir com medo não apenas frente a um animal feroz,
mas também diante de algum tipo de situação na qual nos defrontemos
com figuras de autoridade, por exemplo. Experiências anteriores de ver-
gonha, desqualificação e humilhação, como a presença de um pai auto-
ritário, podem fazer o organismo identificar significado semelhante entre
a situação atual e a passada, disparando cascatas de respostas emocionais.
O processamento automático, portanto, entra em cena, já que o cérebro
busca semelhança entre as situações, com uma verdadeira “mania” de fazer
interpretações, atuando na base do “é melhor reagir do que não fazer nada”.
Assim, a rapidez da resposta emocional, mantida ao longo da evolução em
virtude do benefício à sobrevivência da espécie, pode também gerar dor e
sofrimento, como observado em pessoas que tiveram vínculos inseguros no
passado e que sofrem no presente por se sentirem eternamente ameaçadas
de abandono, mesmo quando, racionalmente, isso não faz o menor sentido.
Os esquemas emocionais em geral são acompanhados por forte ati-
vação emocional, seguida por pensamentos catastróficos, desqualificantes
e comportamentos evitativos. A presença constante dos esquemas emo-
A clínica das emoções 29

cionais no dia a dia dos indivíduos é um dos principais motivos de busca


por auxílio terapêutico (Greenberg, 2019, 2002). A ativação dos esquemas
emocionais é semelhante a de uma memória traumática. Ela tem alta va-
lência afetiva, geralmente provocando disfunções executivas, ou seja, cur-
tos-circuitos nas áreas ligadas à lógica e ao planejamento, resultando em
confusão e dificuldades de racionalização e reação. É como se estivéssemos
operando a partir da memória implícita do que ocorreu no passado e não
necessariamente do “aqui e agora” (Mendes & Pereira, 2018).
Como os esquemas emocionais são considerados a base da organi-
zação do self, experiências adversas podem levar à constituição de um self
fragilizado, amedrontado, e, consequentemente, produzir ansiedade e ex-
pectativas catastróficas sobre o futuro e até mesmo o medo de sentir emo-
ções, levando à hipervigilância e ao aumento da tensão. Entre os exemplos
mais comuns de emoções que se tornam desadaptativas está o medo, que,
no presente, incapacita o sujeito para qualquer ação, e a raiva, que, de tão
destrutiva, pode gerar desproteção para a própria pessoa.
A presença dos esquemas emocionais revela as dores centrais e a his-
tória das pessoas, trazendo, lado a lado, as emoções e as necessidades não
atendidas, especialmente no que se refere às relações de apego, como afeto,
carinho, proteção e segurança, bem como experiências referentes à valida-
ção, ao reconhecimento e à identidade.

AS EMOÇÕES NO CONTEXTO CLÍNICO


A literatura sobre o tema costuma se referir às emoções com classifica-
ções em termos de emoções positivas, como alegria, e emoções negativas,
como tristeza, vergonha e raiva. Isso pode se tornar confuso para o leitor,
pois indica que as emoções negativas são ruins e as positivas são boas. No
entanto, os termos negativo e positivo se referem apenas à qualidade do
afeto envolvido, e não à função. Emoções com afeto negativo nos trazem
distresse e desprazer, e emoções com afeto positivo nos energizam e nos
deixam momentaneamente em estado de graça. Isso não quer dizer que
emoções positivas só nos trazem benefícios — tudo depende do contexto
em que elas ocorrem.
30 Emoções

Diante de uma atitude destemperada, com consequências no bem-


-estar direto de outras pessoas, a culpa, apesar de dolorosa, auxilia na cor-
reção de rumo e na reparação. Por mais desagradável que seja sentir culpa,
dependendo do contexto em que ela estiver inserida, nada há de negativo
em experienciá-la. Mesmo as demais emoções com afeto negativo só se
tornam problemáticas quando estão fora de contexto, quando estão des-
reguladas e quando perdem a sua função, levando a comportamentos que
não auxiliam na solução do que está acontecendo.
A cultura vigente também pode ser um fator complicador quando
pensamos em como as emoções, apesar de serem eminentemente adaptati-
vas, podem se tornar desadaptativas. Em ambientes como os da sociedade
ocidental contemporânea, em que todos precisam ficar bem e felizes, onde
a propagação de imagens positivas pode levar a comparações com o que
acontece em nossa vida, muitas pessoas acabam se sentindo envergonhadas
por não se sentirem felizes e evitam ativamente o contato com qualquer
emoção dolorosa. Isso pode levar à alienação e à falta de contato com o que
é realmente importante. Mesmo sendo dolorosas, as emoções com afeto
negativo nos auxiliam a entender e dar sentido aos reveses da vida e são tão
ou mais importantes que as emoções com afetos positivos.
A despeito da complexidade envolvida, podemos afirmar serem as
emoções o motivo central da busca por auxílio em psicoterapia. Mesmo
quando as pessoas acreditam que têm comportamentos ou pensamentos
disfuncionais, é a dor que se faz presente o maior fator motivador para
a procura de ajuda. A transformação e o alívio das dores emocionais das
pessoas deveriam ser os objetivos comuns a todos os tipos de psicoterapia.
Mesmo sendo bastante óbvia a ênfase na importância do trabalho com
as emoções em psicoterapia, ainda existe muita confusão ao auxiliar os
clientes a alcançar esse objetivo. Um dos propósitos centrais deste livro é
justamente oferecer um panorama de como a TFE atua nesses casos, o que
será realçado nos capítulos posteriores.
A seguir, serão destacadas algumas das emoções mais presentes nos
consultórios de psicoterapia. Na verdade, existem sentimentos mais com-
plexos que podem seguir a partir de cada uma delas. Podemos dizer que a
pessoa está sentindo raiva ou então variações dessa emoção, como se sentir
furiosa, ultrajada, irritada ou ressentida. Também podemos ter sequências
A clínica das emoções 31

emocionais como quando a raiva é seguida pela tristeza ou então pela ver-
gonha e pelo medo.
Ao se debruçar sobre cada uma das emoções, o terapeuta precisa
estar atento para o contexto social, econômico e cultural do cliente. Não
podemos esquecer que parte do que é considerado “aceitável” ou “normal”
provém do conhecimento da cultura branca, de classe média e ocidental.
Saberes advindos de outros modelos de experiência subjetiva, como a de
pessoas negras, indígenas, orientais ou de minorias religiosas e de gênero
são ainda, infelizmente, sistematicamente esmagadas no dia a dia dos con-
sultórios quando os clínicos não são sensíveis a esses aspectos.
Além disso, é importante diferenciar expressão da experiência sentida.
Existem culturas como as latinas, nas quais as pessoas são mais expressivas,
e como as orientais, nas quais os indivíduos são mais contidos nessa mesma
expressão. Isso não quer dizer que, internamente, indivíduos que se expres-
sam de maneiras diferentes não estejam se sentindo raivosos ou em fúria.

Raiva
A raiva relaciona-se à violação, aos maus tratos, à defesa, à invasão do nosso
espaço e à proteção não só de nós mesmos como a de terceiros. Sentimos
raiva também como forma de transpor e eliminar barreiras e dificuldades que
aparecem frente aos nossos objetivos ou, ainda, quando nossas necessidades
emocionais não estão sendo atendidas. Além disso, a raiva envolve a correção
de situações a fim de que algo não aconteça novamente. Ideias relacionadas à
injustiça contra si mesmo e terceiros também eliciam raiva e revolta.
A raiva também pode estar dirigida contra nós mesmos, como uma
crítica invasiva e constante. Quando desadaptativa, essa cobrança constan-
te pode nos levar a outras emoções, como à tristeza e à vergonha, sendo
considerada uma variável transdiagnóstica e componente central de dife-
rentes psicopatologias (Gilbert, 2014; Paivio & Pascual-Leone, 2010).
A raiva é, muitas vezes, utilizada para mascarar outras emoções, como
uma espécie de disfarce, além de ser comumente usada como forma de ma-
nipulação de terceiros. Ademais, a raiva desregulada pode levar à agressão
desproporcional a terceiros e ao próprio indivíduo, bem como pode se tor-
32 Emoções

nar problemática à medida que é estimulada em outras pessoas, levando a


um ciclo perigoso de feedback na interação social (Greenberg, 2002).
A expressão da raiva também está relacionada a regras sociais, reli-
giosas, modelos e aprendizagem sobre como, quando e com quem é pos-
sível senti-la. Algumas culturas consideram inadequado sentir raiva contra
pessoas hierarquicamente superiores e mais velhas, como pais e idosos.
O contexto no qual a raiva acontece também influencia na expressão. Ape-
sar de poder ser adequado sentir raiva do chefe agressivo e poderoso, pode
não ser adequado expressá-la de forma mais contundente.
Reconhecer quando a raiva está presente e entender a sua função
dentro de determinado contexto ajuda a regulá-la, pois ela pode nos ener-
gizar e empoderar. O controle excessivo, por sua vez, pode levar os indi-
víduos a não mais percebê-la e a se sentirem extremamente vulneráveis e
desmotivados.
Questões antigas, como assédio, abuso e violação, situações nas quais
a raiva não pode ser utilizada beneficamente, podem afetar as pessoas de
formas específicas, levando-as, por exemplo, a experienciarem um tipo de
raiva crônica, hipersensibilidade a situações de ameaça, com consequentes
comportamentos impulsivos e disruptivos ou, ainda, a perderem a capa-
cidade de sentir raiva em situações em que ela se faz necessária. Quando a
raiva antiga e persistente não é processada adequadamente, ela pode inva-
dir as situações e as relações do presente. A vulnerabilidade, a desproteção
e a dificuldade em criar sentido a partir da experiência dolorosa do passado
pode fazer os indivíduos se sentirem e se comportarem como se essas amea-
ças estivessem ocorrendo no presente.

Medo
A função do medo é nos manter a salvo, envolvendo a percepção de que
estamos em risco, avaliações de que a situação é perigosa e que precisamos
nos afastar dela rapidamente ou arrumar alguma maneira de nos prote-
germos, a fim de reduzir o perigo. Ignorar o medo pode ter consequências
perigosas, o que leva essa emoção a ter forte valência afetiva e respostas cor-
porais intensas como tremor, aumento da pressão arterial, dos batimentos
cardíacos e hipervigilância. Buscar proteção e apoio em terceiros faz parte
das tendências para ação eliciadas pelo medo.
A clínica das emoções 33

Medo e ansiedade estão geralmente sobrepostos, sendo bem-aceita


a ideia de que o medo está relacionado a um estímulo ou a uma situação
concreta e presente, enquanto a ansiedade está mais ligada aos processos
avaliativos cognitivos, com uma apreensão antecipatória e de desfechos ca-
tastróficos futuros. A evitação, seja por meio de fuga ou esquiva (situações
presentes ou futuras), acaba se tornando um dos principais mecanismos
de continuidade das emoções, já que mantém a ideia de que determinada
ocorrência é perigosa, fazendo o sujeito perder a oportunidade de entrar
em contato com os estímulos supostamente ameaçadores. Nos próximos
capítulos, verificaremos que preferimos falar em busca de proteção do que
em evitação dentro da literatura da TFE.
Quando desadaptativos, medo e ansiedade podem gerar consequên-
cias devastadoras e estão na raiz de diversos quadros psiquiátricos, como
transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de ansiedade gene-
ralizada, fobias e transtorno de pânico. Episódios atuais com significados
semelhantes a experiências passadas, especialmente àquelas nas quais o su-
jeito não tinha recursos emocionais suficientes ou suporte social, podem se
transformar em gatilhos deflagradores do medo, resultando em desregula-
ção emocional e sofrimento. O estudo dos processos de mudança na TFE
revelou a presença de dois tipos de medo mais presentes nas pessoas que se
encontram em sofrimento emocional: (1) medo do perigo e (2) medo rela-
cionado a temas de separação, abandono e negligência (Greenberg, 2021).
A presença constante do medo e a ausência de proteção, especialmente na
primeira infância, podem levar à formação de um senso inseguro do self e,
consequentemente, a limiares baixos de ativação para que a resposta emo-
cional seja disparada, fazendo situações aparentemente inofensivas levarem
a pessoa a se sentir amedrontada (Bowlby, 1969).

Nojo
O nojo é uma emoção bastante poderosa e está relacionada com a aversão
de que podemos encontrar perigo potencial em substâncias que ingerimos
ou que podemos nos contaminar, decorrendo daí a tendência a repelir, a
expulsar e a se afastar daquilo que tem o potencial de causar danos. Evolu-
cionistas acreditam que sentir nojo preveniu nossos ancestrais de contrair
34 Emoções

doenças e de se envenenarem com substâncias tóxicas, sendo, portanto,


um importante mecanismo de sobrevivência, selecionado naturalmente.
Algumas formas de TOC relacionadas ao medo de contaminação e sujeira
podem ser compreendidas como desordens do processamento emocional
do nojo (Curtis, 2011). Como seres ultrassociais que somos, o nojo evolui
também para uma espécie de emoção social, relacionando-se com o senso
de justiça e moralidade (Schnall et al., 2008). A repulsa a comportamentos
tidos como inadequados e danosos ao grupo, como, por exemplo, a pedo-
filia, também se enquadram nessa categoria, tendo o nojo como estrutura
(Curtis, 2011). Estudos de imagem cerebral descreveram que tanto o nojo
biológico quanto o decorrente de violações culturais estimularam áreas ce-
rebrais similares, reforçando a associação entre essa emoção e o julgamento
moral (Borg et al., 2008).

Tristeza
Sentimos tristeza quando vivemos perdas significativas, seja de alguém ou
de algo que valorizamos. A tristeza leva as pessoas a se voltarem para si
mesmas, a reconhecerem suas vulnerabilidades, a refletirem e a verificarem
o que está acontecendo em sua vida, auxiliando também no detalhamento
das situações. Ela também acompanha a sensação de solidão e abandono e
sua expressão pública (choro, retraimento), comunicando a terceiros que
precisamos de companhia e auxílio.
A tristeza nos alerta sobre o que é realmente importante e pode nos
motivar a mudar as circunstâncias para que situações semelhantes não
ocorram novamente (Forgas, 2017). Uma das maiores surpresas para os
terapeutas iniciantes que procuram se utilizar de todas as técnicas e arti-
fícios para tirar o cliente do contato com a dor que acompanha a tristeza
é perceber, com os anos de prática, o quanto é importante para o cliente
reconhecer, falar e sofrer por aquilo que ele perdeu, explorando profun-
damente suas dores e criando significado a partir dessa experiência — só
assim é possível seguir em frente.
Acessar a tristeza de forma integral, com todos os seus componen-
tes, como as sensações corporais, lágrimas, crenças, e com a presença e o
A clínica das emoções 35

suporte do terapeuta, também pode ser fundamental para a pessoa dizer


“basta” e sair da paralisia (Mendes, 2021). Em vez de evitar o contato com
a tristeza, é importante reconhecer, aceitar e procurar formas de satisfazer
as necessidades emocionais no momento presente (Greenberg, 2002).
Experiências de exclusão e abandono, especialmente em momentos
nos quais a presença de outra pessoa para apoio e suporte foi crucial, estão
diretamente relacionados com a tristeza. Muitas vezes, os clientes chegam
ao consultório apresentando desesperança em função dessas experiências
prévias, como se nada pudesse mudar, como se nunca tivessem direito a te-
rem suas necessidades emocionais preenchidas. Nesse sentido, raiva e tris-
teza andam juntas, pois o cliente precisa primeiro reconhecer o seu direito,
como ser humano, de receber suporte, afeto, carinho e proteção (Timulak,
2015). Bowlby (1969) foi pioneiro ao perceber que a tristeza decorrente
do luto frequentemente apresentava uma camada mais superficial de raiva,
em uma espécie de protesto contra perda e separação.
Tristeza e raiva, portanto, são como emoções siamesas. É comum o
cliente apresentar raiva e camadas mais profundas de tristeza, bem como
o contrário. Aquilo que ocorre momento a momento na terapia auxilia a
perceber a necessidade emocional mais significativa naquele instante. Se
o cliente relata experiências de abandono que trazem a necessidade de se
aproximar de outro para suporte e proteção, a tristeza é mais central. Se,
por outro lado, a experiência é de violação, a raiva é mais central (Mendes,
2021).

Vergonha
No século XIX, o filósofo alemão Schopenhauer (1932) já descrevia a im-
portância das relações sociais para os seres humanos. É apenas em socieda-
de que conseguimos realizar todo o nosso potencial. Para ele, apresentamos
uma característica primitiva e inata de querermos ser valorizados e, por
isso, temos imenso receio da opinião negativa de terceiros, nos esforçando
constantemente para causar a melhor impressão possível.
A perspectiva evolucionista apresenta visão semelhante. A vergonha
tem como função a evitação da rejeição e a exposição excessiva, atuando
36 Emoções

como apaziguadora das tensões nos grupos sociais, reafirmando a submis-


são de alguns e a dominância em maior grau na hierarquia de outros indi-
víduos, minimizando os conflitos (Gilbert, 2014). Tornar-se menos valori-
zado socialmente tem custos importantes para o bem-estar dos indivíduos,
já que, em função do caráter gregário e social da espécie, estar em grupo
permitiu o aumento da ajuda mútua e da sobrevivência.
Assim, a crítica ou a humilhação de terceiros pode causar vergonha.
Sentimos vergonha também quando queremos esconder dos outros deter-
minados aspectos de nós mesmos que acreditamos que seriam criticados.
Por sua vez, o indivíduo que não apresenta nenhuma vergonha é aquele
sujeito egoísta, esnobe, metido e que pode ser também cobrado pelo grupo
daquilo do que se gaba. Sentir vergonha e se retrair pode diminuir a pos-
sibilidade de rejeição e agressão, evocando simpatia, perdão e até mesmo
certa sedução em terceiros, algo conhecido e utilizado instintivamente até
por crianças pequenas.
Apesar de naturalmente pensarmos na vergonha como algo relacio-
nado à avaliação negativa e à humilhação por outras pessoas, ela pode ser
também um evento notadamente privado, como quando nos julgamos,
atacamos e cobramos, levando a uma sensação de inferioridade e incapaci-
dade. Sentimos vergonha quando não conseguimos performar de acordo
com o ideal que pretendíamos e esperávamos, bem como quando nos com-
paramos a outros, julgados como mais bem-sucedidos do que nós (Sznycer
et al., 2016).
Teóricos do desenvolvimento como Lewis (2008) compreendem a
vergonha como uma emoção que se desenvolve mais tardiamente, pois pre-
cisamos ter alguma noção do self, isto é, de representação de quem somos,
para termos esse sentimento. Esta, por sua vez, só surge por volta dos 2 anos.
O indivíduo precisa aprender a reconhecer-se para desenvolvê-la, sendo, as-
sim, necessária uma espécie de meta-representação: “este sou eu”. Paralela-
mente à noção de si, há também internalização de regras e padrões sociais
que levam a criança a avaliar o seu comportamento perante esses padrões,
gerando uma autoavaliação. A criança já pode, então, decidir se determi-
nado evento aconteceu em função de sua ação (atribuição interna) ou não
(externa) e se esse sucesso ou fracasso é global ou específico (Lewis, 2008).
A vergonha, especificamente, envolve a avaliação global do self como falho,
A clínica das emoções 37

ruim, ou menor em comparação com as regras, padrões morais e valores do


grupo social ou dos objetivos que desenhamos para nós mesmos.
A vergonha é uma das emoções mais presentes em consultório e,
muitas vezes, é negligenciada pelos terapeutas ou confundida com outras
emoções, como o medo ou a tristeza. A vergonha nos motiva a agir de for-
ma submissa, com uma sensação de pequenez, falha, sendo intensamente
dolorosa e paralisante. A experiência fenomenológica é a de se esconder,
fugir, desaparecer, além de ser comum o rubor facial, tremor, postura ca-
bisbaixa e derrotada. A vergonha excessiva é, muitas vezes, responsável pela
paralisia, apatia e isolamento social, além de evocar outras emoções. De tão
dolorosa, sentimos medo de sentir vergonha. De tão paralisante, muitas
vezes, não conseguimos ultrapassá-la e, assim, sentimos raiva de nós mes-
mos, achando-nos covardes e submissos.
A vergonha está frequentemente associada a experiências de desqua-
lificação, crítica, abuso, xingamentos e humilhações. É comum a introje-
ção de vozes críticas de figuras significativas ou, ainda, a produção de vozes
críticas internas, como forma de regular o comportamento dos indivíduos
e evitar situações nas quais fiquem expostos. Assim, é comum a associação
do autocriticismo com a vergonha. Crianças verbalmente abusadas pelos
pais, como aquelas que são xingadas (“você é burra, estúpida”), estão mais
vulneráveis a desenvolverem autocriticismo, internalizando crenças de si
mesmas como inferiores, fazendo a vergonha ser parte importante da sua
noção de self (Sachs-Ericsson et al., 2006).

Culpa
Enquanto a vergonha é relacionada à avaliação global do sujeito como uma
falha (“eu sou ruim”), a culpa se refere a aspectos específicos do self ou das
ações do indivíduo (“eu errei”) manifestados por meio de afetos desagradá-
veis associados a atitudes passadas ou mesmo de pensamentos sobre possí-
veis ações futuras. A função social da culpa seria prevenir a fragmentação
do grupo, mantendo a cooperação entre seus membros, sendo, portanto,
uma espécie de autopunição pela transgressão das normas sociais. O des-
conforto da culpa leva à busca de reparação dos erros e, ao mesmo tempo,
à evitação futura de situação semelhante (Deem & Ramsey, 2016).
38 Emoções

Alegria
A alegria é uma das emoções que nos afetam positivamente. Sua função é
nos motivar e energizar para realizações, bem como estreitar vínculos so-
ciais e afetivos, tendo como tendência para ação a aproximação. A alegria
atua como reforçador natural, pois, se algo nos deixa alegre, com sensação
de bem-estar, é natural que queiramos ficar próximos desse estímulo. Nesse
sentido, ficamos alegres quando conquistamos nossos objetivos ou ainda
quando alguma situação que causa mal-estar é extinta. Apesar de poder ser
gerada por avaliações rápidas e espontâneas, a alegria também se relaciona
a benefícios de longo prazo, que, por sua vez, reforçam a resiliência e capa-
cidade para manejar as adversidades (Friedrickson, 2001).

Amor
Apesar de não ser considerada por muitos teóricos como uma emoção,
conforme Ekman (1982) e Izard (1977), e sim um fenômeno complexo re-
sultante da combinação de afetos e outras emoções, o amor é fundamental
para os humanos (Plutchik, 2005; Shaver et al., 1996). Não há definição
única sobre o amor, pois é possível falar em vários tipos de amor, como
amor romântico, fraterno, amor pelos pais, filhos, irmãos, etc. (Greenberg
& Goldman, 2008).
Somos mais imaturos e dependentes de cuidados ao nascer do que
animais de outras espécies, e, portanto, precisamos do outro para sobrevi-
ver. Ao mesmo tempo, é essa mesma fragilidade que é a origem da nossa
inteligência, nossa complexidade e nossa sina: conectarmo-nos uns com
os outros. Piantadosi e Kidd (2016) sugerem que, durante a evolução, o
maior tamanho do cérebro humano fez com que houvesse uma adaptação
para que os bebês nascessem mais prematuramente e, consequentemente,
menos preparados para lidar com o ambiente. Assim, apesar de nascerem
com pouquíssimas conexões neurais, os bebês formariam a maior parte de-
las a partir de estímulos de outros seres humanos e do ambiente. Ao mes-
mo tempo, cuidar de bebês tão dependentes promoveu o maior tamanho
do cérebro dos pais. Os autores sugerem a existência de pressões evolucio-
A clínica das emoções 39

nárias para a existência de cérebros maiores e o nascimento prematuro, em


uma espécie de ciclo autorreforçador evolutivo.
Estamos, portanto, sempre em relação a algo ou a alguém. Desde o
nascimento, somos seres essencialmente relacionais, sendo essa a grande
marca da natureza humana, que nos acompanha desde o primeiro ins-
tante. Fomos programados pela evolução para nos conectar afetivamente.
O amor nos conecta a terceiros e deriva do prazer e da alegria presente nes-
sa interação. Ao mesmo tempo, é algo que vai para além da simples alegria
e prazer, pois envolve o regozijar-se com o outro e a sensação de plenitude
e preenchimento. Ter as necessidades emocionais preenchidas e preencher
as do outro nos leva a ter uma sensação de expansão de nós mesmos, de
sermos importante para alguém que é importante para nós, fornecendo
significado para a vida.
Apesar de poder incluir impulsos biológicos e imediatos como o de-
sejo sexual, o amor geralmente envolve sentimentos mais duradouros e
objetivos de longo prazo, como crescer e envelhecer junto com o parceiro,
construir objetivos em comum, cuidar e ser cuidado. Amar nos faz huma-
nos e a conexão afetiva dá sentido à vida. Não há sensação mais prazerosa
que o encantamento pelas parcerias afetivas que conseguimos construir ao
longo da vida, de podermos nos sentir sendo sentidos pelo outro.
A importância do amor é comparável ao tamanho da alegria e da dor
que ele nos causa. A ausência da experiência amorosa ou da reciprocidade
nas relações afetivas pode levar a sensações extremamente dolorosas, como
tristeza, solidão e desamparo, bem como raiva e ansiedade. A presença do
amor nos energiza, dá sentido à vida e faz o risco de se mostrar vulnerável
valer à pena.
Em resumo, as emoções são sistemas complexos de respostas que
ativam tendências para a ação (aproximar/fugir, expor/retrair) e modos de
processamento, que, por sua vez, são acompanhados por sensações expe-
rienciadas no corpo e que sinalizam sobre necessidades específicas. Alguns
estímulos/situações podem ser bastante universais, impactando de forma
semelhante diferentes indivíduos, enquanto outros pode ser altamente pes-
soais, em função das experiências anteriores. O medo, por exemplo, nos pre-
para para escapar, coloca em curso o modo de processamento da emoção
40 Emoções

do medo, organizando o indivíduo para procurar por mais sinais de perigo


e selecionar sua atenção para esses aspectos, fornecendo também sensações
corporais, como frio na barriga, aperto no peito ou taquicardia. Ao mesmo
tempo, o medo traz a necessidade de nos sentirmos seguros e protegidos e
de buscarmos formas de alcançar esses objetivos. Uma vez experienciadas,
as emoções interagem com a consciência e o processamento reflexivo, sendo
organizadas e refletidas em nossas narrativas, passando a ser histórias vivas de
quem somos, de como estamos e de quem queremos ser ou estar.

REFERÊNCIAS
Aristotle. (1984). Complete works of Aris- Damasio, A. R. (2018). A estranha ordem
totle, volume 1: The revised Oxford transla- das coisas: A origem biológica dos sentimentos
tion. Princeton University Press. e da cultura. Companhia das Letras.
Barrett, L. F. (2018). How emotions are Deem, M. J., & Ramsey, G. (2016). Guilt
made? Mariner Books. by association? Philosophical Psychology,
Borg, J. S., Lieberman, D., & Kiehl, K. A. 29(4), 570-585.
(2008). Infection, incest, and iniquity: In- Ekman, P. (Ed.) (1982). Emotion in the hu-
vestigating the neural correlates of disgust man face (2nd ed.). Cambridge University
and morality. Journal of Cognitive Neuros- Press.
cience, 20(9), 1529-1546. Elliott, R., & Greenberg, L. S. (2017).
Bowlby, J. (1969). Attachment: Vol. 1. At- Humanistic experiential psychotherapy in
tachment and loss (2nd ed.). Basic Books. practice: Emotion-focused therapy. In A. J.
Curtis, V. (2011). Why disgust matters? Consoli, L. E. Beutler, & B. Bongar, Com-
Philosophical Transactions of Royal Society prehensive textbook of psychotherapy: Theory
B, (366), 3478-3490. and practice. (2nd ed., pp. 106-120). Ox-
ford University Press.
Damasio, A. R. (1994). Descartes’ error:
Emotion, reason, and the human brain. Put- Elliott, R., Watson, J., Goldman, R. N.,
nam. & Greenberg, L. S. (2004). Learning emo-
tion-focused therapy: The process-experiential
Damasio, A. R. (1999). The feeling of what
approach to change. American Psychologi-
happens: Body and emotion in the making of
cal Association Press.
consciousness. Harcourt Brace.
Forgas, J. P. (2017). Can sadness be good
Damasio, A. R. (2003). Looking for Spino-
for you? On the cognitive, motivational,
za: Joy, sorrow, and the feeling brain. Har-
and interpersonal benefits of mild negative
court.
affect. Australian Psychologist, 52(1), 3-13.
Damasio, A. R. (2010). Self comes to mind:
Friedrickson, B. L. (2001). The role of po-
Constructing the conscious brain. Pantheon
sitive emotions in positive psychology: The
Books.
broden-and-build theory of positive emo-
A clínica das emoções 41

tions. American Psychologist Journal, 56(3), Hackmann, A., Bennett-Levy, J., & Hol-
218-226. mes, E. A. (2011). Oxford guide to imagery
Frijda, N. H. (1986). The emotions. Cam- in cognitive therapy. Oxford University
Press.
bridge University Press.
Izard, C. E. (1977). Human emotions.
Frijda, N. H. (2005). Emotion experience.
Plenum Press.
Cognition and Emotion, 19(4), 473-497.
Johnston, E., & Olson, L. (2015). The
Frijda, N. H. (2008). The psychologists feeling brain: The biology and psychology of
point of view. In M. Lewis, J. M. Haviland- emotions. W.W. Norton & Company.
-Jones & L. F. Barret (Eds.), Handbook of
Larsen, J. T., Berntson, G. G., Poehl-
emotions (3rd ed., pp. 68-87). The Guil- man, K. M., Ito, T. A., & Cacioppo, J. T.
ford Press. (2008). The psychophysiology of emotion.
Gilbert, P. (2014). Mindful compassion: In M. Lewis, J. M. Haviland-Jones & L. F.
How the science of compassion can help you Barret (Eds.), Handbook of emotions (3rd
understand your emotions, live in the present ed., pp. 180-195). The Guilford Press.
and connect deeply with others. New Har- LeDoux, J. E. (1996). The emotional brain:
binger Publications. The mysterious underpinnings of emotional
Goldman, R. N., & Greenberg, L. S. life. Simon & Schuster.
(2015). Case formulation in emotion-focused LeDoux, J. E. (2012). Rethinking the
therapy: Co-creating clinical maps for change. emotional brain. Neuron Perspective, 73(4),
American Psychological Association. 653-676.
Greenberg, L. S. (2002). Emotion-focused LeDoux, J. E., & Phelps, E. A. (2008).
therapy: Coaching clients to work through Emotional networks in the Brain. In M.
Lewis, J. M. Haviland-Jones & L. F. Barret
their feelings. American Psychological As-
(Eds.), Handbook of emotions (3rd ed., pp.
sociation.
159-179). The Guilford Press.
Greenberg, L. S. (2015). Emotion-focused Lewis, M. (2008). The emergence of hu-
therapy: Coaching clients to work through man emotions. In M. Lewis, J. M. Havi-
their feelings (2nd ed.). American Psycho- land-Jones & L. F. Barret (Eds.), Hand­
logical Association. book of emotions (3rd ed., pp. 304-319).
Greenberg, L. S. (2019). Theory of func- The Guilford Press.
tioning in emotion-focused therapy. In L. Mendes, M. A. (2015). Terapia focada
S. Greenberg & R. N. Goldman (Eds.), nas emoções e processos de mudança em
Clinical handbook of emotion-focused the- psicoterapia. Revista Brasileira de Terapias
rapy (pp. 37-59). American Psychological Cognitivas, 11(2), 96-104.
Association. Mendes, M. A. (2021). A clínica do apego:
Greenberg, L. S. (2021). Changing emotion Fundamentos para uma psicoterapia afetiva,
with emotion: a practitioner´s guide. Ameri- relacional e experiencial. Sinopsys.
can Psychological Association. Mendes, M. A., & Bruno, M. (2019). Te-
Greenberg, L. S., & Goldman, R. N. rapia focada nas emoções. In W. V. Melo
(2008). Emotion-focused couples therapy: (Org.), A prática das intervenções psicote-
The dynamics of emotion, love, and power. rápicas: Como tratar pacientes na vida real
American Psychological Association. (pp. 277-302). Sinopsys.
42 Emoções

Mendes, M. A., & Falcone, E. M O. Sachs-Ericsson, N., Verona, E., Joiner, T.,
(2014). Estratégias experienciais. In W. V. & Preacher, K. J. (2006). Parental verbal
Melo (Org.), Estratégias psicoterápicas e a abuse and the meadiating role of self-criti-
terceira onda em terapia cognitiva (pp. 186- cism in adult internalizing disorders. Jour-
208). Sinopsys. nal of Affective Disorders, 93(1-3), 71-78.
Mendes, M. A., & Falcone, E. M. O. Schnall, S., Haidt, J., Clore, G. L., &
(2015). Técnicas experienciais em terapias Jordan, A. H. (2008). Disgust as embo-
cognitivas. In C. B. Neufeld, E. M. O. died moral judgment. Personality & Social
Falcone & B. Rangé (Orgs.), Procognitiva: Psychology Bulletin, 34(8), 1096-1109.
Programa de Atualização em Terapia Cogni- Schopenhauer,  A. (1932). Essays  of  Ar-
tivo-Comportamental: Ciclo 2 (pp. 57-89). thur Schopenhauer. W. J. Black.
Artmed Panamericana.
Shaver, P. R., Morgan, H. J., & Wu, S.
Mendes, M. A., & Pereira, A. L. S. (2018). (1996). Is love a “basic” emotion? Personal
Estratégias de regulação emocional em Relationships, 3, 81-96.
psicoterapia. In C. B. Neufeld, E. M. O.
Siegel, D. J. (2012). The developing mind:
Falcone & B. Rangé (Orgs.), Procognitiva:
How relationships and the brain interact to
Programa de Atualização em Terapia Cog-
shape who we are (2nd ed.). The Guilford
nitivo-Comportamental: Ciclo 5 (pp. 9-53).
Press
Artmed Panamericana.
Sznycer, D., Tooby, J., Cosmides, L., Porat,
Mendes, M. A., Wolff, A. A., & Regalla,
R., Shalvi, S., & Halperin, E. (2016). Sha-
M. A. R. (2021). Introdução aos conceitos
me closely tracks the threat of devaluation
e aplicações da abordagem. In C. B. Neu-
by others, even across cultures. Proceedings
feld, E. M. O. Falcone & B. Rangé (Orgs.),
of the National Academy of Sciences of the
Procognitiva: Programa de Atualização em
United States of America, 113(10),  2625-
Terapia Cognitivo-Comportamental: Ciclo 7
2630.
(pp. 85-122). Artmed Panamericana.
Timulak, L. (2015). Transforming emotion
Paivio, S. C., & Pascual-Leone, A. (2010).
pain in psychotherapy: An emotion-focused
Emotion-focused therapy for complex trau-
approach. Routledge.
ma: An integrative approach. American
Psychological Association. Timulak, L., & McElvaney, J. (2015).
Emotion-focused therapy for generalized
Piantadosi, S. T., & Kidd, C. (2016). Ex-
anxiety disorder: An overview of the mo-
traordinary intelligence and the care of in-
del. Journal of Contemporary Psychotherapy,
fants. Proceedings of the National Academy
46(1), 41-52.
of Sciences of the United States of America,
113(25), 6874-6879. Whelton, W. J. (2004). Emotional proces-
ses in psychotherapy: Evidence across the-
Plato. (1943). The republic. Books Inc.
rapeutic modalities. Clinical Psychology &
Plutchik, R. (2005). Emotions in the practi- Psychotherapy, 11(1), 58-71.
ce of psychotherapy: Clinical implications of
affect theories (2nd ed.). American Psycho-
logical Association.

Você também pode gostar