Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desde muito tempo sabemos que é impelido às mulheres o estado da loucura, seja devido aos
seus conhecimentos milenares de botânica, atrelados ao papael de resguardar as tradições
culturais de sua casa, seja pela adoração de deuses pagãos (em razão da sua submissão à vida
privada, em que lhe era negado o acesso à religião), somado a própria natureza da mulher, por
possuir um útero, sempre se convergiam para serem suscetíveis a loucura.
Ainda hoje vivemos um momento crítico, tanto no âmbito político, cultural e social, com o
crescimento (ou apenas aparecimento) da misoginia, da desvalorização da mulher, do
fortalecimento de valores ideológicos conservadores de extrema direita, que tomam cada dia
mais espaço e corpo na sociedade.
Pretende-se traçar um paralelo entre a loucura atribuída às mulheres, ao longo dos séculos,
reflexo de uma estrutura de poder social, com a História de Loucura de Foucault, analisando
num viés do círculo antropológico descrito por Foucault.
Foucault na sua obra história da loucura, fala dos quatro momentos de forma
que a loucura foi concebida; o conceito da loucura muda ao andar dos tempos,
isto é, toda historia do inicio da psiquiatria moderna se revela falseada por uma
ilusão retroactiva segundo o qual a loucura já estava dada, ainda que maneira
imperceptível na natureza humana.
1° Momento da idade média: nesta época, o louco era visto como um visionário,
profeta, sábio… o louco era visto como o homem mais inteligente.
2° Momento: Renascimento
O louco é visto como alguém que tem outra razão. Ora o indivíduo é louco
porque a sociedade o é.
Toda loucura tem sua razão que a julga e controla, e toda razão tem sua
loucura na qual ela encontra sua verdade irrisória
3° Momento: idade clássica (xvi, xvii) nesta época a loucura era sacralizada.
Para foucault a partir de Descartes a loucura passou a ser considerada como
uma desrazão, não razão ao homem racional e ao louco. O louco é aquele que
não possuí a verdade.
A loucura foi colocada fora do domínio no qual o sujeito detém seus direitos a
verdade.
Foucault busca denunciar a rigidez dos métodos tidos como “mais humanos”
de lidar com os internos dos manicômios,
É a partir da metade do século XVII que a ligação entre a loucura e o
internamento ocorrerá. O internamento é importante para Foucault por duas
razões: primeiramente, por ele ser a estrutura mais visível da experiência
clássica da loucura e, em segundo lugar, porque será exatamente ele que
provocará o escândalo quando essa experiência desaparecer, no século XIX,
da cultura européia, a ponto de, por exemplo, com Pinel ou Tuke, aparecer a
idéia de uma libertação dos loucos do internamento produzido pelo século
XVII. Mas, ao contrário de fazer a história dessa suposta “libertação”,
Foucault prestará atenção à racionalidade própria desse internamento,
tentando entender os seus mecanismos e as suas práticas específicas. [3]
"O poder está em toda parte; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os
lugares …. O poder não é uma instituição e nem uma estrutura, não é uma certa potência
de que alguns sejam dotados: é o nome dado a uma situação estratégica complexa numa
sociedade determinada." (Michel Foucault, em 'História da sexualidade, vol.I - A vontade
de saber')
Fonte:
https://www.ex-isto.com/2019/02/foucault-microfisica-do-poder.html
O modo como o poder é expresso no século XX produz uma ordem normativa, que
não pretende apenas reprimir, mas convencer os indivíduos que essas normas
sejam aceitas, se apresentando como a melhor alternativa racionalmente possível,
ao invés de ser imposta como uma lei. As formas de poder não estão localizadas
num local específico, mas operam em redes de dispositivos e mecanismos, que são
assumidos e transmitidos de uma pessoa a outra, nas diversas relações que
estabelecemos com os outros, muitas vezes de maneiras bem sutis. "O poder deve
ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em
cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é
apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas
suas malhas os indivíduos não só circulam, mas estão sempre em posição de
exercer esse poder e de sofrer sua ação, nunca são o alvo inerte ou consentido do
poder, são sempre centros de transmissão." (Michel Foucault, em 'Microfísica do
poder') Foucault constata que o poder atravessa o corpo dos indivíduos, seus
sentimentos e comportamentos. Para ele, a psiquiatria é um exemplo de instituição
que legitima cientificamente um modelo de "normalidade", e os indivíduos que
aderem tal modelo se tornam agentes de normalização, passando a exigir a si
mesmos e aos outros uma adequação a essas normas. Este regime disciplinar
fabrica corpos "dóceis", submissos e adestrados, aumentando a força da economia
e da utilidade, porém diminuindo as forças políticas e de escolha, incentivando uma
postura de obediência constante. Os indivíduos são constantemente vigiados para
verificar se o que fizeram está conforme as regras, por uma série de olhares alheios, e não
apenas um. Ao uso de olhares vigilantes e o controle de corpos, ele chama de
'procedimentos disciplinares', que são praticados em instituições como hospitais,
escolas, fábricas e prisões, garantindo uma vigilância e normatização autorizada e
legitimada pelo saber. "Trata-se dos procedimentos disciplinares que são praticados em
instituições como hospitais, escolas, fábricas e prisões, garantindo uma vigilância e
normatização da sociedade autorizada e legitimada pelo saber. Não são estabelecidos por
meio de leis, mas pela concordância dos sujeitos para com os discursos de "verdade"."
(Michel Foucault, em 'A microfísica do poder') As diversas formas de expressões de
poder exercem controles sobre o corpo, sobre os gestos, as atitudes, os
comportamentos, hábitos e discursos. Inclusive norteando os enunciados de
"verdades", mantendo e partilhando os modos adequados, corretos e os padrões
que devem ser adotados nas relações. Eles não são estabelecidos por meio de leis,
mas pela concordância dos sujeitos para com os discursos de "verdade". Por meio
dos saberes instituídos, o que temos por verdadeiro, correto, normal, justo e
adequado, é justamente o que as pessoas aceitam e legitimam por meio dos
poderes estabelecidos, de modo que se tornam também reprodutoras, vigiando e
punindo as outras que, de algum modo, fogem do convencional estabelecido, de
acordo com uma conveniência de grupo, instituição ou cultura. Deste modo, o poder
não ocorre mais de um ponto exterior ao indivíduo, mas opera dentro do corpo de
cada pessoa, conduzindo seus comportamentos e ações, fabricando um tipo de ser
humano específico e adequado ao funcionamento e manutenção de um tipo
específico de sociedade, produzindo a individualidade, sendo o indivíduo um
produto do poder e do saber. Por Bruno Carrasco. Referências: FOUCAULT, Michel.
Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS, Maria
Helena. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2009.
Fonte:
https://www.ex-isto.com/2019/02/foucault-microfisica-do-poder.html
A questão importante que aparece na imbricação da relação Deus, homem e mundo está
relacionada ao fato de que o homem se define como habitante do mundo [Weltbewohner] e,
assim, toda a reflexão sobre o homem será também remetida a uma questão sobre o mundo.
Todavia, Foucault adverte que não se trata de uma perspectiva naturalista, que levaria a um
conhecimento sobre a natureza. Trata-se, antes, do “desenvolvimento da consciência de si e
do Eu sou: o sujeito afetando-se no movimento pelo qual ele torna-se objeto para si mesmo
[...] Eu sou enquanto homem um objeto sensível externo para mim mesmo, uma parte do
mundo.” (FOUCAULT, TC, p.69-70). O homem seria assim um fenômeno de si mesmo e para
si mesmo.
Kant diz que a Antropologia, na obra sobre o assunto, é o conhecimento do homem enquanto
cidadão do mundo, mas não parece ser exatamente este o objeto da Antropologia, salienta
Foucault: “A maioria das análises, e quase todas as da primeira parte, desenvolvem-se não
na dimensão cosmopolita da Welt (mundo), mas naquela, no interior do Gemüt67.”
(FOUCAULT, TC, p. 48).
Assim se completaria o estudo de Foucault sobre a Antropologia kantiana, mas essa análise
preparava sua Crítica às antropologias posteriores à Kant. Pois a antropologia, dirá Foucault,
diferentemente da operação operada por Kant, será não somente a ciência do homem, e
ciência e horizonte de todas as ciências do homem, mas ciência daquilo que funda e limita
para o homem seu conhecimento. É aí que se oculta a ambiguidade deste Menschen-
Kenntniss [conhecimento do homem].” (FOUCAULT, TC, p.104). Esta ambiguidade da qual fala
Foucault é o fato de que a Antropologia é um conhecimento que objetiva o homem em seu
ser natural, mas também é um conhecimento do “conhecimento do homem” “em um
movimento que interroga o 109 sujeito sobre si mesmo, sobre seus limites e sobre aquilo
que ele autoriza no saber que dele se tem” (Foucault, TC, p. 104). E é neste movimento que
reside a grande confusão da qual Foucault não cessa de nos alertar. Pois a Antropologia deve
ser um conhecimento do conhecimento do homem, ou seja, o conhecimento do homem
enquanto fundamento de todo o conhecimento possível, sem perder a dimensão Crítica.
As técnicas de disciplina corporal são assujeitadoras porque criam não apenas corpos
padronizados, mas também subjetividades controladas. Nas palavras de Francisco Ortega,
“Trata-se da formação de um sujeito que se autocontrola, autovigia e autogoverna. Uma
característica fundamental dessa atividade é a autoperitagem. O eu que se pericia tem no
corpo e no ato de se periciar a fonte básica de sua identidade”.2 César 1 A atribuição da
responsabilidade ao indivíduo por sua adequação corporal e identitária às demandas sociais é
visível no processo que Guita Grin Debert denomina de “reprivatização da velhice”, ou seja,