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recursos foram destinados pelas monarquias a esse fim, tirados dos impostos cobrados
da população, o que gerou muitos fundos e rendas abusivas para os leprosários.
Todavia, ao final da Idade Média (Século XV), a lepra já havia praticamente
desaparecido da Europa, espontaneamente (devido ao fim das Cruzadas e do contato
com os focos orientais da doença), o que gerou uma imensidão de leprosários vazios e
obsoletos. A questão econômica, então, passa mais uma vez a mover a história. Os
leprosários foram usados para tratar a nova onda de doenças surgidas nos Séculos XV
e XVI, as doenças venéreas. Todavia, essas não chegaram ao patamar da Lepra, pois
eram mais controláveis e tratadas como doenças, não como pestes. Apesar disso,
havia a discriminação, mas não a exclusão deliberada, como antes.
A Igreja encarava as doenças venéreas como um justo castigo de Deus pela
devassidão, impureza sexual e promiscuidade desses indivíduos; era uma punição
divina ao sexo ilícito. O “tratamento” para essas doenças passou a ocorrer nos mesmos
locais onde antes se “tratava” a Lepra, ou seja, nos leprosários. Tais internações
amenizaram momentaneamente a situação desses locais, que precisavam de pessoas
para continuar funcionando e justificar os altos investimentos feitos. Os recursos,
dessa maneira, foram realocados. Entretanto, as doenças venéreas não substituíram a
Lepra, isto é, não preencheram o excesso de vagas disponíveis (pois isso seria função
da loucura, anos mais tarde), mas deram uma finalidade aos leprosários, mesmo que
muitos deles ainda permanecessem vazios.
No Século XVII a Loucura entra em cena. A Lepra havia desaparecido, mas não
da mente das pessoas, pois os estigmas e os ideais de pureza ainda se faziam
presentes. O doente mental se torna a figura a ser excluída, apartada da sociedade.
Cabe aqui ressaltar que, antes disso, na Idade Média, a loucura era encarada
como mais uma manifestação de doença, como qualquer outra, apesar de já haver
internações. Ao insano era dedicado um tratamento mais digno, sem os estigmas do
mundo clássico. Muitos doentes mentais eram encarados apenas como pessoas
necessitadas, pobres, que precisavam de ajuda, seja pela população ou pela Igreja.
Outros eram tratados como possuidores de dons especiais, visionários, que
enxergavam algo além das pessoas comuns. Em suma, a loucura não era desprezada,
mas sim, acolhida. Porém, a insanidade passou a ser percebida e tornou-se o “bode
expiatório” dos ideais de pureza da burguesia e do Capitalismo em ascensão, os quais
consideravam o louco como improdutivo, impertinente e perturbador da ordem social.
Loucos e doentes venéreos, no Século XVII, passaram a ocupar o mesmo espaço
nos leprosários (agora, casas de internamento – os futuros Hospícios do Século XVIII).
A Igreja os confundia, tratando a insanidade como tão impura (pecado) quanto o sexo
ilícito da doença venérea. O castigo foi implementado aos doentes mentais, como
chicotadas, prisões e pancadas. De fato, tornaram-se sinônimos de perseguição e de
exclusão.
rios das cidades em franco crescimento. Uma medida que, hoje, chamaríamos de
Higienista.
O motivo da exclusão não se traduzia apenas em segurança para a população,
pois a grande maioria dessas pessoas com doenças mentais não era perigosa aos
cidadãos. O motivo era se ver livre da morte, não física, como no caso da Lepra, mas da
morte da razão, como no caso da loucura, tendo em vista que o Racionalismo
começava a surgir. A purificação do homem, que excluía tudo o que era diferente,
anunciava aquilo que séculos mais tarde chamaríamos de Eugenia.
Marinheiros e mercadores (homens que lançaram as bases do Capitalismo)
levavam os loucos para longe das cidades, por meio dos rios calmos que cortavam
algumas das grandes cidades europeias, as quais se livravam daquilo que agora
consideravam como impuro ou prejudicial.
A arte, que retratava a morte, no fim da Idade Média (século XV), não rompeu
com ela, mas lhe deu nova roupagem na Era Clássica (Renascença). O louco se tornou
essa espécie de morte. A literatura, a pintura e o teatro, que abordavam a seriedade
da morte, agora passaram a dar ênfase à ironia cômica da loucura. Isso, devido a uma
inquietude social, herança da Lepra e dos leprosários. Surgiram figuras caricatas, como
a do bobo da corte, dentre outras, satirizando o que a sociedade excluía – o louco.
A institucionalização da loucura atingiu seu auge nos Séculos XVIII, XIX e XX,
quando os manicômios foram criados sobre as bases dos leprosários, transformando-
se, posteriormente, em Hospitais Psiquiátricos. Essas instituições, legitimadas pela
Psiquiatria (surgida no Século XVIII) e pela Psicologia (no Século XIX), ganharam cada
vez mais força com o desenvolvimento capitalista e industrial, limitando ou anulando a
figura do louco (improdutivo, impertinente e despossuído de razão) na sociedade. O
poder absoluto (monárquico) que criou os leprosários cedeu espaço para os
manicômios, nas mesmas instalações, fazendo jus ao sonho burguês de virtude, pureza
e produção (negada ao insano).
Em Conclusão
Referências
BAUMGART, A. Lecciones introductorias de psicopatología. 2. ed. Buenos Aires:
Perspectiva, 2006.
FOUCAULT, M. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 1978.