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Há pessoas que não identificam suas emoções e reagem com sintomas físicos,
como dores e taquicardia. Na infância, não aprenderam a expressar alegria, raiva ou
tristeza.
Quando o engenheiro civil Pedro S., de 29 anos busca descrever, durante uma sessão de
terapia, como se sentiu ao discutir de forma violenta com seu pai, é difícil encontrar as
palavras "Parece que tenho uma pedra no estômago. No momento da briga, sentia um nó
na garganta e a cabeça doía", tenta explicar. "Você acha que ele queria machucá-"o de
propósito? Está com raiva dele?", perguntou-lhe a terapeuta. O paciente enrugou a testa:
"Não sei. O que você quer dizer exatamente com raiva?".
De acordo com estimativas americanas recentes, a cada sete pessoas pelo menos uma
preenche os critérios de um transtorno chamado "alexitimia". O termo vem do grego: a =
não, lexis = a leitura, thymos = ânimo ou disposição. Os homens são os que mais
manifestam o distúrbio. Muitos são tidos como racionais, fechados ou espertos. Mas seus
amigos mais próximos sabem que atrás dessa carapaça se esconde um coração mole.
Não raro, esses indivíduos temem por sua saúde de um modo quase doentio. Se seu
coração de repente dispara de forma violenta e o estômago dói, perguntam-se,
transtornados, o que há de errado com eles. Não é se espantar que não consigam lidar
bem com as reações físicas e se sintam tão ameaçados por elas - afinal, é o sentimento
que as provoca.
Pacientes com alexitimia costumam descrever as casas onde moravam na infância como
um local onde os sentimentos desempenharam papel pouco importante. Pesquisas
revelaram que eles, mais do que outros indivíduos, costumam ter um "vínculo inseguro"
com suas mães. Esse termo surge da teoria do vínculo, proposta pelo psicanalista
londrino John Bowlby (1907- 1990) . Já em crianças de 1 ano é possível descobrir
diferenças na relação com a mãe: em um relacionamento seguro, o pequeno reage com
tristeza quando sua mãe sai da sala, mas logo se acalma, como se soubesse que ela
voltará logo. Já a criança com vínculo frágil quase não mostra sinais de dor na hora da
separação. Quando a mãe retoma, cumprimenta-a de passagem, como se a evitasse.
Outra resposta comum é o sentimento de abandono e o protesto veemente. Ao retomo
da mãe, comporta-se de fonna contraditória: busca contato e, em seguida, afasta-se de
novo.
Nos últimos anos, nosso grupo de trabalho analisou, com base em exame de ressonância
magnética funcional, as particularidades do processamento das emoções no cérebro de
pessoas com alexitimia. Para examinar um número suficiente de indivíduos com esse
distúrbio, apresentamos a mais de 400 estudantes universitários homens, questionários
especiais (escala de alexitimia de Toronto) que deveriam ser respondidos por eles. Com
base nos resultados, escolhemos 16 voluntários - oito pessoas de controle e outros oito
participantes que preenchiam os critérios de uma alexitimia. Durante o exame de
ressonância foram apresentadas, a cada paciente, diferentes fotos em seqüência:
imagens neutras, belas paisagens, cenas eróticas, bebês sorridentes e também crianças
chorando, acidentes ou animais perigosos, como cobras.
A atividade cerebral dos participantes evidenciou uma clara diferença entre os dois
grupos: ao contemplar imagens com mensagens positivas, uma região específica do
cérebro de indivíduos com alexitimia - o giro do cíngulo annterior, que faz parte do
sistema límbico - trabalhava mais intensamente do que a mesma área em indivíduos
saudáveis. Diante das imagens negativas, essa região do cérebro de indivíduos com
alexitimia permaneceu calma.
Emoção compartimentada
O giro do cíngulo anterior está ligado tanto ao sistema límbico (ao qual pertence) quanto
a cada área do córtex frontal que analisa as emoções. Em geral, quanto mais ativo o giro
do cíngulo anteerior estiver, mais intensamente sentimos emoções positivas ou
negativas. Nos pacientes com alexitimia, porém, parece que essa atividade se regula de
forma diferente: eles reagem a estímulos emocionais de fonna muito fraca ou excessiva.
Mas como se chegou a esse mau funncionamento? Em crianças pequenas ainda existe
no cérebro um excesso de sinapses (contatos que possibilitam a troca de informações
entre as células nervosas). Quando aprendemos nos primeiros anos devida a criar
"gavetas", ou seja, a associar sensações físicas a conceitos específicos, as respectivas
sinapses do giro do cíngulo se fortalecem. Já as conexões não utilizadas serão pouco a
pouco eliminadas. Ao fim do processo, restam apenas aquelas que são constantemente
ativadas na associação de uma emoção com sua descrição verbal- por exemplo, "estou
furioso".
Todas as pesquisas até hoje indicam que o giro de cíngulo funciona como uma ponte
entre o sistema límbico e o córtex frontal para a conscientização de emoções. Se sua
atividade não for modulada de forma correta, haverá conseqüências - e não apenas para
o convívio social. Psiquiatras supõem que algumas queixas psicossomáticas também são
provocaadas pela incapacidade de aprender a identificar as próprias emoções e lidar
mentalmente com elas.
Além disso, a alexitimia provavelmente também faz com que esses pacientes sejam
propensos ao uso de drogas. Em termos percentuais, entre os dependentes há mais
indivíduos com o transtorno do que na população em geral. Algumas drogas, como a
cocaína, produzem sentimentos intensos e, talvez, fortaleçam a comunicação entre o
sistema límbico e o córtex frontal de forma tão extrema que até mesmo pessoas com o
distúrbio experimentam emoções mais intensas.
Psicoterapia clássica, utilizada de forma isolada, não costuma ter sucesso, pois seu
objetivo é a troca verbal sobre pensamentos e sentimentos. Como o paciente não
entende seu próprio estado afetivo, falta à relação terapêutica, em geral, profundidade
emocional. Por isso, durante muito tempo a alexitimia foi considerada transtorno
incurável. Hoje, diferentes formas de terapia em grupo têm se mostrado eficazes. O
paciente pode praticar, por exemplo, a representaação teatral de uma emoção com
gestos.
Também válida é a formação de grupos mistos, nos quais pessoas saudáveis descrevem
seus sentimentos em situações típicas. Com eles, os indivíduos com alexitimia
aprendem o que se esconde por trás de combinações de sensações corporais específicas.
A conexão de sensações com cores ou paisagens também ajuda a pessoa a expressar
seus sentimentos.
De forma análoga, isso ocorre na criança quando ela aprende a reconhecer seus
múltiplos estados emocionais. É justamente esse processo de aprendizagem que o
paciente alexitímico deve recuperar na terapia. Aos poucos, o espectro das
possibilidades de expressão se amplia, em especial entre aqueles com quem se pode
compartilhar sensações - e, assim, desabrocha a riqueza pessoal de sentimentos vividos
de forma consciente.
Juliana P. Meneguette
Alexithymia é uma palavra com raízes gregas: a partícula a tem um sentido de negação, de
“falta ou ausência”; lex, significa “palavra”; e thymos é “emoção ou sentimento”. Literalmente,
alexitimia pode ser traduzida como sem palavras para sentimento.
Na década de 60, os psiquiatras John Nemiah e Peter Sifneos perceberam que alguns
pacientes psicossomáticos mostravam grande dificuldade para falar sobre suas emoções e
sentimentos, dando a impressão de não compreenderem o significado dessas palavras. Sifneos
(1972) criou então a palavra alexitimia para explicar esse comportamento
Esta é uma perturbação que afeta o processamento emocional, da qual resulta a incapacidade
de exprimir as emoções, sob a forma de sentimentos, por intermédio da linguagem.
(d) estilo cognitivo utilitário, baseado no concreto e orientado para o exterior, também
conhecido como pensamento operacional.
Estas duas ultimas características são consideradas elementos básicos que evidenciam a
pobreza ou a ausência de fantasias e a preocupação com detalhes pontuais de acontecimentos
externos.
Embora a alexitimia seja um construto clínico já testado, ela não constitui uma doença
diagnosticada, mas sim um aspecto clínico associado a algum outro problema médico, tal
como Desordem de Stress Pós Traumático, Anorexia Nervosa ou outra desordem psiquiátrico.
Estudos realizados com indivíduos portadores de anorexia nervosa têm encontrado uma
elevada prevalência de alexitimia nos trabalhos publicados, com resultados superiores a 50%
dessa comorbidade. Tais valores são considerados elevados quando consideramos a
prevalência da alexitimia na população geral varia de 10 a 20%, ou menos. Alguns estudos
atuais mostram evidências que possibilitam considerar a alexitimia como uma condição
independente pelo seu caráter de disfunção afetivo-cognitiva, duplamente associada a alguma
condição física-patológica e por danos à vida relacional do indivíduo.
Ainda não há consenso sobre a etiologia da alexitimia. Existem teorias que a associam a algum
trauma cerebral, a defeitos na formação neurológica, a influências socioculturais e outras que
acreditam numa origem psicológica, como por exemplo, traumas na formação infanto-juvenil,
ou mesmo mais tarde.
Contudo, as teorias e pesquisas mais atuais sobre alexitimia, lançam uma proposta segundo a
qual nos alexítimicos existiria um rompimento na comunicação entre os dois hemisférios
cerebrais: ou seja, uma “comissurotomia funcional”, refletindo uma limitada capacidade de
coordenar e integrar atividades inter-hemisféricas.
Mesmo que alguma causa orgânica possa contribuir para a alexitimia, a perspectiva da maioria
dos autores dessa área é a de que esse transtorno seja desenvolvido; isto é, ele surge a partir e
durante as interações da pessoa com o ambiente, principalmente no seu período de formação.
Segundo essa proposta, o alexitímico não tem um problema anatômico ou de arquitetura
cerebral, mas sim uma disfunção cerebral aprendida, como acontece, por exemplo, com outras
desordens afetivas. Ao nascimento nosso cérebro não está desenvolvido por igual, sendo
necessários muitos anos de desenvolvimento pós-natal até que o indivíduo se forme
psiquicamente. Esses anos exigem a participação de outras pessoas para a formação do futuro
adulto, as quais ajudam a criança a aprender a identificar e regular suas emoções. Isso é
primariamente executado pela mãe ou por quem que desempenhe esse papel, sendo
necessário estar “sintonizado” com as necessidades da criança. Percebe-se, então, que a
maturação cerebral e a formação individual relacionam-se a processos orgânicos e
biopsicossociais podendo ser alteradas caso haja desarranjos em algum deles.
Juliana P. Meneguette
Para referir: