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COMO FUNCIONA

A MENTE DE UM

PSICOPATA
Introdução

Realmente é com muita gratidão que me dirijo a você, leitor. Se está


tendo contato com esse material agora, provavelmente participou da
nossa aula online.
Esse é um resumo teórico do assunto abordado na aula com
algumas considerações que julgo pertinentes aos, como eu, são
apaixonados pela psique humana.
De forma interessante, sabemos que o Universo é estrondosamente
grande, para se ter uma ideia, o número de estrelas já mensuradas pelos
instrumentos humanos de observação é maior que o número de grãos de
areia somados de TODAS as praias da Terra. Essa vastidão infindável está
toda aí para ser explorada.
Há, no entanto, outra vastidão ainda desconhecida. Um infinito não
externo, mas interno. Arrisco dizer que compreender as nuances da
mente humana seja um desafio da mesma magnitude que conjecturar os
limites imaginários do Universo conhecido.
Ouço muitas pessoas perguntarem, “qual o sentido da vida,
doutor?”, pergunta para a qual existem infinitas respostas, e ao mesmo
tempo nenhuma. Mas, aqui entre nós, se é uma pergunta, no mínimo
procuremos a resposta, façamos da curiosidade científica, filosófica e
humanística o sentido das nossas vidas.
É justamente essa a missão desse texto, das aulas, vídeos e das
minhas redes sociais, para partilhar com vocês um pouco do sentido da
minha vida. Seja muito bem vindo e boa leitura.

Murillo Nascente
1- Diagnóstico em psiquiatria.

Fazer um diagnóstico em psiquiatria apresenta diversas


dificuldades. O modelo biomédico atual exige, para que se defina uma
doença, conhecer com clareza a sua causa biológica, seu mecanismo
patológico e a provável evolução.
Assim, em uma consulta, o médico deve ouvir os sintomas relatados
pelo paciente, examinar os sinais físicos apresentados por ele, se
necessário solicitar exames. Com todos esses dados deverá procurar as
“causas de”, ou seja, quais os possíveis agentes causadores do quadro
relatado. Assim poderá compreender o que se passa e eventualmente
propor um tratamento.
Um exemplo seria alguém com febre, mal estar, dor ao engolir, no
exame pode-se ver pus na garganta, solicitado um hemograma vê-se
aumento dos glóbulos brancos (leucocitose). Nesse quadro qual seria a
causa mais provável? Qualquer mãe responderia, uma amigdalite
bacteriana. E o tratamento? Antibiótico, via oral, por 7 dias. Pronto,
resolvido. Simples né?
Em saúde mental as coisas não são tão elementares assim. Na
grande maioria dos chamados transtornos mentais, não é possível
estabelecer uma causa com exatidão para a doença, não se conhece
exatamente os mecanismos cerebrais envolvidos, e não raro, a evolução é
imprevisível.
Assim como podemos dizer que alguém sofre de uma doença
mental? Seria porque sofrem e provocam sofrimento a outros? Nessa
hipótese não estaríamos todos nós incluídos, visto que invariavelmente
sofremos e fazemos alguém sofrem em algum momento das nossas vidas?
Surge providencialmente o conceito de anormal, em uma clara
comparação com a média das pessoas com as quais se convive. Ser doente
mental, portanto, envolve ser diferente. Claro que alguns poderiam agora
perguntar, mas e os artistas, os gênios e mesmo os santos? Não seriam
eles diferentes e anormais? Bom, é aqui que percebemos que ser
psiquiatra nem sempre é fácil.
2- Diferença entre TRANSTORNO MENTAL E TRANSTORNO DE
PERSONALIDADE:

Depois que deixei uma pulguinha atrás da sua orelha, deixemos a


filosofia de lado e vamos nos aprofundar um pouco na prática diária de
um consultório psiquiátrico.
Provavelmente a maior preocupação de um psiquiatra seja
reconhecer o motivo pelo qual o seu paciente o procurou. Pode parecer
irônico, mas muitas pessoas procuram psiquiatras para obter laudos,
benefícios, para agradar aos pais, manter casamentos, empregos, ou
simplesmente para exercitar a sua prolixidade.
Há, no entanto, quem busque ajuda por estar em profundo
sofrimento, e quem é levado à consulta por gerar sofrimento a outros.
Um aspecto essencial na escuta é, além de identificar a queixa
principal, averiguar há quanto tempo o paciente vem sofrendo com as
alterações que o levaram ao consultório.
Existem pessoas que sempre tiveram uma vida normal, e que a
partir de determinada data ou período passaram a apresentar mudanças
em seu comportamento. Imaginemos um rapaz de 16 anos, levado ao
consultório porque há 1 mês está insone, falando sozinho e ouvindo
vozes. Perceba que até 30 dias atrás ele tinha comportamento adequado,
mudou de repente.
Alterações abruptas como esta chamam a atenção para um
provável TRANSTORNO MENTAL, atualmente explicado por um
desequilíbrio neuroquímico cerebral, uma alteração dos
neurotransmissores. Casos como esse geralmente permitem uma boa
abordagem terapêutica, muitas vezes com excelentes resultados.
Há, no entanto, quem busque o consultório se queixando
“irritabilidade”, porém quando é questionado sobre quando isso
começou, alguém responde, “ela sempre foi nervosa assim”, ou “ele
sempre maltratou os irmãos”. Ou seja, os sintomas tem início ainda na
infância e aquela pessoa carrega essa forma de ser durante toda a vida.
Esse último caso não se trata de uma doença mental. Trata-se de
um TRANSTORNO DE PERSONALIDADE. Não há alterações
neuroendócrinas, exames de imagem ou nenhuma causa orgânica que
explique aquele jeito de ser. As estruturas cerebrais estão intactas, mas
são usadas de forma diferente da média.

3- Os transtornos de personalidade

Em geral os transtornos de personalidade são definidos em pessoas


que apresentam um padrão persistente de comportamento que se desvia
acentuadamente do meio cultural do indivíduo.
O termo PSICOPATA foi abandonado por muito tempo devido a
apresentar um sentido inespecífico, PSICO (alma), PATOS (doença). Ao pé
da letra significaria “doença da alma”. Tenho minhas dúvidas de que seja
uma doença, e também de que seja da alma.
Existem diversas categorias de transtornos de personalidade,
dependendo de que alterações de comportamento apresentam seus
portadores. O termo PSICOPATA tem sido resgatado principalmente para
se referir a um tipo específico de transtorno de personalidade, o
antissocial.
Antes de entrar em detalhes devemos nos lembrar que todos nós,
em algum momento, apresentamos comportamentos desadaptativos. O
que diferencia alguém “normal”, de outro que seja portador de uma
psicopatia é o padrão de comportamento inflexível, duradouro e estável
ao longo do tempo, desde a infância até a velhice, praticando atos que
levam a sofrimento e prejuízos, tanto pessoais quanto familiares.
Os transtornos de personalidade são extremamente comuns, cerca
de 10 a 20% da população (felizmente apenas 1 a 3% são antissociais).
Entre pacientes psiquiátricos a parcela aumenta para impressionantes
50%. Dito isso, é provável que na descrição dos subtipos que virá adiante,
você poderá reconhecer pessoas próximas, amigos ou familiares.
4- Tipos de transtornos de personalidade:

A classificação internacional de doenças (CID), na sua décima


revisão, usada atualmente, reconhece os seguintes subtipos de
transtornos de personalidade.

a) Transtorno paranoide: esse é o desconfiado por excelência, muito


sensível a qualquer contrariedade, tem a sensação de sempre ser
prejudicado pelos outros, muitas vezes pode apresentar ideias deliróides
de ciúmes ou perseguição.

b) Transtorno esquizoide: esse é o desapegado, desinteressado do


mundo e do contato social, um ermitão. Muita tendência a introspecção,
retraimento afetivo e dificuldade de experimentar o prazer.

c) Transtorno esquizotípico: esse é um sujeito excêntrico, gosta de


pertencer a seitas e grupos secretos, acredita em teorias da conspiração,
tendência a acreditar em formas ocultas de poder, premonições, sonhos,
pode desandar para Terraplanismo e afins.

d) Transtorno emocionalmente instável (borderline): muito mais


frequente em mulheres é caracterizado por intensa instabilidade
emocional, crises de ira, raiva, choro, automutilações, agressões, seguidas
de remorso, culpa, pedidos de desculpas. Comum apresentar sensação de
vazio existencial crônico, tristeza constante, medo de ser abandonado,
ciúme patológico, mesmo de amigos e histórico de abuso na infância.

e) Transtorno histriônico: aqui prevalece egocentrismo, a baixa tolerância


a frustrações, a teatralidade e a superficialidade. Impera a necessidade de
fazer com que todos dirijam a atenção para eles próprios.

f) Transtorno anancástico: nesses indivíduos prevalece a preocupação


com detalhes, a rigidez e a teimosia. São os chamados “sistemáticos” e
“cabeça dura”. Cheios de rituais, sempre dormem na mesma cama,
avessos a qualquer mudança ou improviso. Existem pensamentos
repetitivos e intrusivos que não alcançam, no entanto, a gravidade de um
transtorno obsessivo-compulsivo.
g) Transtorno ansioso (ou esquivo): nessas pessoas prevalece a
sensibilidade excessiva a críticas; sentimentos persistentes de tensão,
medo e apreensão, com tendência a retraimento social por insegurança
de sua capacidade social e/ou profissional. Esses são os que estão
constantemente perdendo oportunidades porque tem “medo de se
lançar”.

h) Transtorno dependente: nesses prevalece a pouca energia, falta de


determinação e iniciativa, bem como instabilidade de propósitos. Muito
comum mudarem de opinião, de religião e até o time que torcem quando
mudam de grupo de amigos ou de namorado(a). É o “Maria vai com as
outras”.

E finalmente:

i) Transtorno antissocial: esses indivíduos são os conhecidos atualmente


como PSICOPATAS, neles prevalece a indiferença pelos sentimentos
alheios, podem adotar comportamento cruel; desprezo por normas e
obrigações; baixa tolerância a frustração e baixo limiar para atos violentos.
São integralmente voltados para a obtenção do PRAZER, PODER E
PRESTÍGIO e não veem dificuldades em subverter, manipular, mentir ou
trapacear para conseguirem. Não tem escrúpulos. São os perversos,
violentos e em casos graves, Serial Killers.

5- Causas dos transtornos de personalidade:

Como já foi dito, não se sabe ao certo as causas das alterações de


comportamento atribuídas aos portadores de transtornos de
personalidade. Vários esforços são feitos em diferentes áreas de pesquisa
com a intenção de compreender os seus mecanismos.

Há importantes dados reforçando a relação entre transtornos


esquizotípicos e familiares portadores de esquizofrenia, sugerindo uma
causa genética comum. Entre os borderlines é frequente que parentes de
primeiro grau sejam portadores de depressão. No caso dos antissociais,
um estudo norte americano avaliou 15 mil gêmeos univitelinos e além de
notar grande concordância na presença do transtorno em ambos os
indivíduos, há ligação com casos de alcoolismo na família.

Uma outra linha de pesquisa busca fatores biológicos. Alterações


hormonais como aumento de testosterona parecem estar ligadas a
comportamentos agressivos, flutuações no nível de neurotransmissores,
especialmente serotonina parecem fazer parte do quadro borderline e há
achados multicêntricos demonstrando alterações de eletroencefalograma
mostrando padrões de ondas lentas em pacientes antissociais agressivos.

Pesquisadores com Freud, Schneider e Reich desenvolveram teorias


sobre possível alteração no desenvolvimento gerando problemas de
comportamento. Desde traumas e fixação em determinadas fases
(FREUD), até bloqueios emocionais gerando alterações físicas e de caráter
(REICH), até tendências inatas a sofrer e/ou fazer sofrer (SCHNEIDER).

6- A mente dos PSICOPATAS:

Feitas as devidas considerações iniciais, julgo que estamos prontos


para mergulharmos na mente daqueles que tanto nos amedrontam
quanto fascinam.

Há na humanidade um conteúdo perverso? Existem pessoas más


por natureza? Que não se importam em matar, roubar, enganar e
trapacear para obter o que desejam? A resposta é sim.

Pessoas portadoras de transtorno de personalidade antissocial são


exatamente tudo isso que falei acima, e talvez um pouco mais. Para
começarmos a compreender o funcionamento de seus cérebros
precisamos saber o papel extremamente importante que as emoções
exercem nas nossas vidas.
Emoções são fortes reações psicológicas e físicas que nos preparam
para uma ação. Elas são anteriores ao raciocínio, por terem sua fonte em
áreas mais profundas e antigas (do ponto de vista evolutivo) do nosso
cérebro. As emoções humanas são a raiva, o medo, a tristeza, a alegria e o
nojo. O local cerebral responsável pelas emoções é conhecido como
sistema límbico, e é uma mais ou menos centralizada no interior do
crânio.

Nos emocionamos com eventos diários, com conversas, discussões,


abraços, filmes e até com uma brisa no rosto. As emoções tem uma
função protetiva, pois o medo nos faz fugir, a raiva nos faz lutar, a tristeza
nos faz refletir, a alegria nos faz exultar e o nojo nos faz evitar.

Pessoas consideradas normais tem a capacidade de se emocionar e


também de perceber as emoções dos outros com quem convive.
Justamente aqui surge um importante sentimento humano. A EMPATIA.
Se percebemos alguém triste, tendemos a ter compaixão, ou seja, ficamos
tristes também, e com isso tendemos a ajudar.

Porém, adivinhe! Exatamente isso que você pode estar pensando.


Os PSICOPATAS não tem essa mesma característica. Inúmeros estudos de
imagem com tomografias por emissão de pósitrons capazes de reconhecer
as áreas do cérebro que estão ativas, mostram que psicopatas não se
emocionam ao verem fotos de acidentes, tragédias, pessoas sofrendo ou
mortas.

Aí está o grande segredo. Eles são frios, sem compaixão, sem


empatia, porque essa área do seu cérebro, embora existente, muitas
vezes é menor que o normal e menos ativa que o das pessoas sem o
transtorno.

Porém, o restante dos seus cérebros é PERFEITAMENTE NORMAL,


logo podem ser inteligentes, charmosos, com aquela indiferença calculada
que tanto seduz o coração da maioria.

Exatamente por isso, os psicopatas são capazes de se aproximar de


suas vítimas e até encanta-las por algum tempo, para depois mostrar sua
verdadeira face devastadora.
Elegerei situações cotidianas para analisarmos o comportamento
desses seres diferentes e assim facilitar que você os reconheça. Vamos
tentar imaginar o comportamento de um psicopata dentro de uma
família, em um casamento, em uma empresa e, claro, em Brasília. (No
meio político)

A primeira coisa que temos que saber é que os psicopatas não se


preocupam com os outros, apenas com eles mesmos. Mas que
preocupação tem com eles? Ora, como vimos que são incapazes de se
emocionar como a maioria, vivem relativamente entediados e necessitam
de estímulos intensos para transformar suas vidas em aventuras
empolgantes. Logo são direcionados a PPP. (PRAZER, PODER E PRESTÍGIO)

Buscam o prazer a todo o momento, em comportamentos de risco


de todas as espécies, rompendo regras e buscando aventura. Fazem
qualquer negócio para terem poder, se sentindo poderosos terão mais
possibilidades de prazeres imediatos. E, não menos importante, são
profundamente narcísicos e vaidosos, precisam e buscam estar em
evidência em qualquer situação, aí entra o prestígio.

Nas famílias podem ser reconhecidos por estarem sempre


manipulando os demais para manterem seu estilo de vida aventureiro e
irresponsável, vivendo como quer, seguindo as próprias regras. Pedem
dinheiro emprestado, nunca pagam, sempre contam uma historinha com
a intenção de emocionar a próxima vítima, sempre se põem na condição
de injustiçados. Quando não conseguem o que querem podem se tornar
agressivos. Em casos muito graves podem perpetrar crimes, como
articular a morte dos pais, irmãos ou outros familiares.

Nos relacionamentos afetivos são verdadeiros vampiros, predadores


emocionais. Sugam tudo que podem das esposas, maridos, namorados e
devolvem com desprezo, traições, maus tratos, indiferença e
possivelmente violência. Infelizmente os psicopatas são muito hábeis em
reconhecer suas vítimas, e como vimos acima, existem transtornos de
personalidade em que a pessoa confia pouco em si, não é capaz de sair de
relacionamentos abusivos, entende? Está feita a dupla “perfeita”.

De forma interessante muitos psicopatas obtêm sucesso no mundo


corporativo. Pelo menos por algum tempo. Seu estilo é o seguinte.
Chegam à empresa, se fazem de bonzinhos, conquistam a todos, viram os
queridinhos, descobrem os pontos fracos dos colegas (são especialistas
nisso), e logo que se sentem seguros começam o jogo. Passam a jogar uns
contra os outros, até que o ambiente se torne um caos. Justamente o caos
psicológico é terreno fértil para eles. Rapidamente viram chefes,
provocam demissões de seus desafetos e geram uma revolução. Algumas
vezes são desmascarados, porém os mais inteligentes acabam criando
raízes mais fortes, sabendo a quem agradar, podem até se casar com uma
das filhas do chefe!

A política talvez seja o ambiente mais favorável para florescer


psicopatas. A habilidade em mentir, dissuadir, convencer, encantar e não
se preocupar com o mal que causam aos outros é a especialidade da casa.
Em muitas situações vemos pessoas de boa índole desistindo do mundo
político por não conseguirem conviver com a “patifaria”.

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Bom, agora que sabemos o que são, como funcionam e como


reconhecer psicopatas, muitas dúvidas devem surgir. Tem cura? A
educação dos pais pode evitar? Como conviver? Como se proteger?

Se os psicopatas são tão maus, porque ainda existem? Porque não


foram dizimados pela seleção natural? Será que causam alguma atração
sobre nós? Porque assistimos tantos filmes e livros contando histórias de
Serial Killers?

Mais importante ainda, os psicopatas são úteis? Como seria uma


comunidade sem nenhum psicopata? Há algo que possamos aprender
com os eles? Existe uma certa sabedoria secreta dos antissociais?
Espero discutir todos esses aspectos e mais as dúvidas que surgirem
no nosso encontro de logo mais. Que esse conhecimento seja útil, válido e
de certa forma agradável a todos vocês. Um grande abraço.

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