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Psicopatologia

A psicopatologia compreende os estudos do modo de funcionamento patológico


do psiquismo humano.

Esta disciplina é um ramo da Medicina e tem como principal tarefa oferecer aos
profissionais a classificação das doenças, dos sintomas, do curso, do tratamento
e o prognóstico.

Esta área de estudos oferece uma compreensão, descrição e entendimento de


como o ser humano busca formas alternativas de lidar com as dificuldades da
vida.

Aquilo que consideramos doença pode ser, e em geral é, uma tentativa de lidar
com aquilo que é insuportável para o ser humano. Freud já dizia que o delírio é
uma tentativa de remendar aquilo que o doente não suporta da realidade.

Na História da humanidade, desde a Grécia até os dias de hoje, os homens têm


procurado compreender o que faz com que alguns sujeitos apresentem quadros
psicóticos e esquizofrênicos.

Apesar de todas as buscas, procuras e estudos, ainda não têm certeza de como
a esquizofrenia atinge alguns sujeitos e não outros.

Sabemos que em certas famílias o aparecimento do transtorno se repete e que


alguns genes podem ter participação no surgimento do transtorno.

No entanto, não temos uma definição aceita e comprovada de como surge o


transtorno, apesar de já conhecermos bastante sobre como fazer o diagnóstico,
seu curso e possíveis prognósticos.
1. Histórico do conceito de esquizofrenia

Os transtornos mentais são conhecidos desde a Grécia antiga. Em cada tempo


histórico o louco teve um tipo de reconhecimento e tratamento.

Mas o termo esquizofrenia é mais recente e surge somente no século XIX.


Antes disso, um eminente médico chamado Emil Kraepelin fez uma publicação
em que descrevia os transtornos mentais divididos em três categorias:
hebefrenia, catatonia e paranoia.

Nessa época, ele acreditava que esses três tipos eram doenças independentes e
separadas. Algum tempo depois, ele percebeu que as três categorias eram em
verdade uma única doença, e lhe deu o nome de demência precoce.

Ele conta que deu esse nome porque a doença começava no início da vida e
levava a problemas de comportamento, afetivos e sociais por toda a vida.

Ele descreveu seus principais sintomas como sendo: alucinações, perturbações


da atenção, compreensão e fluxo de pensamento, esvaziamento afetivo e
sintomas catatônicos.

Porém, a ciência sempre avança e então surge outro psiquiatra chamado


Bleuler (1857-1939), que substituiu o termo demência precoce por
esquizofrenia, que significa: esquizo = divisão; phrenia = mente.

Ele acreditava que a doença tinha causa internas. Explica, então, a


esquizofrenia como uma ruptura entre pensamento , emoção e comportamento.

Para ele, a pessoa que sofre desse transtorno apresenta uma dissociação entre
essas três esferas: pensamento, emoção e comportamento.

Bleuler verificou que existiam duas formas típicas de sintomas:


- Sintomas primários - Associações frouxas de ideias, ambivalência, autismo
e alterações do afeto;

- Sintomas secundários - Alucinações e delírios.

O psiquiatra apresenta uma nova categoria, a esquizofrenia simples, que


estudaremos mais à frente.

O transtorno esquizofrênico pode ser identificado a partir dos sintomas


apresentados pelos pacientes.

O diagnóstico é sempre difícil de ser estabelecido e é baseado principalmente


no que o paciente conta de sua experiência, do relato de membros da família e
pela observação dos profissionais experientes.

Karl Jaspers, em 1987, descreve a esquizofrenia como “um severo transtorno


psíquico que pode acometer pessoas das mais variadas idades, culturas e
extratos sociais”.

Essa categorização é importante porque foi a partir daí que se compreendeu


que o transtorno mental é democrático, pois não escolhe classe social. Ricos e
pobres, de qualquer idade, correm o mesmo risco de desenvolverem o
transtorno.

O transtorno esquizofrênico pode ter os seguintes cursos: progressivo,


episódico, ou seja, aparecer eventualmente, ou comportar um ou vários surtos
seguidos de uma melhora completa ou parcial.
2. Classificação quanto ao curso do transtorno esquizofrênico

O processo de evolução do transtorno esquizofrênico pode ser gradual, lento,


insidioso.

Muitas vezes nem o paciente e nem sua família conseguem identificar de forma
clara o surgimento da doença, que pode surgir de forma abruta e rápida, e em
poucas semanas temos a doença claramente estabelecida.

3. Sinais e sintomas

Os sintomas da esquizofrenia podem variam de pessoa para pessoa e são


classificados como sintomas positivos ou negativos.

- Sintomas positivos: são mais claros e exuberantes; geralmente aparecem


na fase aguda da doença.

São classificados como: delírios, alucinações, percepções irreais de audição,


visão, paladar, olfato ou tato, pensamento e discurso desorganizado,
elaboração de frases sem qualquer sentido ou invenção de palavras, alterações
visíveis do comportamento, ansiedade excessiva, impulsos ou agressividade.

- Sintomas negativos: são o resultado da perda ou diminuição das


capacidades mentais. Embotamento do afeto, lentificação.

Podemos identificar alguns sinais de um quadro prodrômico (que antecede uma


crise ou surto), ou seja, que surgem antes do aparecimento do transtorno.

Esses sinais podem ser: alteração do sono, isolamento social, perda de


interesse por atividades cotidianas, apatia, alteração da higiene pessoal, ideias
bizarras, comportamentos pouco habituais, perda do interesse pela escola ou
pelo trabalho.
Como você viu, os primeiros sinais e sintomas da esquizofrenia são insidiosos.
Muitas vezes os familiares não percebem a gravidade da situação. Vejamos um
caso a seguir.

Paulo, um jovem de 22 anos, deixa de ir à faculdade, passa as noites acordado


e começa a faltar muito ao trabalho. Sua família atribui esses comportamentos
a uma briga que o jovem teve com a namorada.

Esses comportamentos estendem-se por alguns meses. Nesse período, sua


família o leva à igreja e a rezadeira, mas não obtém nenhuma melhora. Ao final
de cinco meses, o surto eclode de forma violenta.

Podemos observar que é fundamental fazer o diagnóstico precoce e correto. Você,


como aluno do curso de saúde mental, precisa ter um instrumento capaz de facilitar o
seu trabalho de diagnosticar. Vamos conhecer agora esse instrumento: a anamnese e
a entrevista psiquiátrica.

Esse é o instrumento principal usado por psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais,


por oferecer um roteiro de estrutura lógica e que abrange todas as esferas do adoecer.

Permite, quando bem realizada, que toda a equipe de saúde mental tenha informações
fundamentais sobre o paciente.

A anamnese possui três objetivos básicos: estabelecer o diagnóstico, um possível


prognóstico e um plano terapêutico (quando for o caso).

4. A anamnese e a entrevista psiquiátrica

Em primeiro lugar, devemos dizer que não há uma uniformidade quanto ao modelo de
anamnese; cada profissional vai adaptando ao ritmo do seu trabalho.

Vamos apresentar aqui um modelo mais completo, que você, com sua experiência,
pode e deve modificar.
Um primeiro cuidado que o entrevistador deve ter é deixar o entrevistado muito à
vontade. A entrevista não pode virar um interrogatório; deve ser uma conversa.

Portanto, deixe o entrevistado se expressar livremente e só o interrompa quando


necessitar de alguma informação.

Os principais itens que compõem a anamnese são:

1. Identificação
Nome, data de nascimento, sexo, estado civil, naturalidade, nível de instrução,
profissão, etnia, religião, residência, procedência, filiação.

2. Queixa principal
Deve focar na doença e precisa ser escrita com as palavras do paciente. Deve-se
registrar exatamente aquilo que o paciente fala.

3. Motivo do atendimento
Geralmente esse item é fornecido por familiares ou por quem acompanha o paciente
na consulta.

4. História da doença atual


Um relato sobre o modo como a doença começou, como o paciente estava à época, se
aconteceu alguma situação difícil para o paciente, outros sintomas e as queixas atuais.

5. História patológica pregressa


É a história de doenças não psiquiátricas que o paciente já teve. Deve ser investigado
também o sono, alimentação, fobias, desmaios, uso de drogas lícitas ou ilícitas,
cirurgias, doenças infecciosas, entre outras.

6. História fisiológica
Aqui se deve investigar a gestação, nascimento, aleitamento, desenvolvimento motor,
atividade sexual, gestações, partos, abortos.
7. História pessoal
Aqui a investigação deve ser bem aprofundada. Deve-se investigar a infância, a
adolescência, a sexualidade, vida profissional, personalidade, amigos, as perdas. Tudo
deve ser esmiuçado em detalhes.

8. História familiar
Deve focar na dinâmica familiar, nas relações, nas patologias psiquiátricas e não
psiquiátricas, nas condições de moradia, na convivência, na situação econômica, na
situação de trabalho, na religiosidade, nos vínculos.

4.1 O exame psíquico

Essa parte é a mais fundamental da entrevista. O entrevistador deve estar focado e


atento ao que o paciente fala, no que ele não fala, em seus comportamentos e
atitudes. É nessa etapa que vamos obter a maioria das informações necessárias para
se estabelecer o diagnóstico.

Nesse exame, são descritas apenas as alterações presenciadas na entrevista. Ou seja,


aqui só vale aquilo que o entrevistador observa diretamente. Não contabilizamos
relatos de terceiros e nem o que o paciente diz. Somente o que observamos
diretamente.

4.2 Súmula psicopatológica

A súmula é um roteiro que deve ser observado na entrevista. Os itens a serem


considerados são:
a) Aparência;
b) Atitude;
c) Consciência;
d) Atenção;
e) Sensopercepção;
f) Memória;
g) Fala;
h) Pensamento;
i) Inteligência;
j) Vontade;
l) Psicomotricidade;
m) Pragmatismo;
n) Afetividade;
o) Orientação;
p) Consciência do eu;
q) consciência da morbidade.

Quando não se tem certeza da presença de determinada alteração, pode-se interrogar.


Por exemplo: presença de delírios.

4.3 Exame psicopatológico

Nesse item, temos que ter em conta duas questões, consideradas fundamentais:

1. Quando fazemos um diagnóstico psiquiátrico, precisamos saber que as doenças são


conceitos, abstrações, generalizações. Temos que levar em consideração que não
existe o esquizofrênico. O que temos na verdade é a pessoa que sofre desse
transtorno.

Isso significa que aquele indivíduo, em particular, terá uma forma própria e única de
adoecer;

2. Precisamos entender que o diagnóstico é como se fosse uma foto instantânea,


daquele momento do paciente, portanto transitório. O que descrevemos na anamnese
é o momento que o paciente apresenta.

O que devemos observar?

1. Atitude geral
Como o paciente se apresenta: estado de higiene corporal, tipo de roupa (não a
qualidade da roupa, mas se ela está adequada ao horário, dia e local), postura, se o
paciente colabora ou não com a entrevista; se tem simulação de doenças, se apresenta
delírios ou alucinações ou se tem risco de promover violência hetero ou autoinfligida.
Observar como o paciente fala, o que fala e com que ritmo. Se o paciente conversa
espontaneamente ou se só fala quando solicitado, se fala pouco ou muito, se a
expressão facial corresponde ao que está sendo dito. Observar as intensidades do
afeto e do humor.

2. Pensamentos
Verificar se apresenta alterações do conteúdo, do curso. Se o paciente tem capacidade
de simbolizar e abstrair.

3. Consciência
Verificar se o paciente está localizado no tempo e no espaço (saber onde está, que dia
é hoje).

4. Atenção
Verificar a capacidade do paciente de manter a atenção fixa na entrevista ou se ele fica
distraído ou ausente.

5. Orientação
Verificar se o paciente tem consciência do seu próprio nome, idade, local e data.

6. Memória
Observar as dificuldades de o paciente citar, localizar e responder as perguntas da
anamnese.

7. Sensopercepção
Verificar se existem alterações da sensopercepção e se o paciente fala deles
espontaneamente.

8. Inteligência
Verificar se há alguma alteração, descrever o grau de instrução e o ambiente cultural
em que o paciente vive.

9. Afetividade e humor
A afetividade pode ser observada pelas atitudes do paciente com relação a sua higiene
e sua participação na entrevista e também na relação com os parentes e amigos.
Quanto ao humor, podemos observar se o paciente chora, se está eufórico, alegre,
triste, ameaçador, indiferente, ansioso, irritado, agressivo durante a entrevista.

10. Vontade
Conversar com o paciente sobre os seus planos, sonhos e de sua capacidade de
colocá-los em prática.

11. Psicomotricidade
Observar se há aumento ou diminuição dos movimentos. Se existe agitação ou
lentificação, se apresenta tremores, tiques, paralisações ou outras alterações.

12. Consciência sobre sua doença


Verificar se o paciente tem consciência do seu estado de saúde.

Diagnóstico sindrômico

O psiquiatra Cheniaux define o que constitui uma síndrome da seguinte forma:

A síndrome constitui uma associação de sinais e sintomas que evoluem em conjunto,


provocadas por mecanismos diversos e dependentes de causas variadas.

Em psicopatologia, não se trata doenças, e sim de síndromes. As principais delas, na


definição de Nunes (1996), são:

• Ansiosa (fóbica, obsessiva, hipocondríaca);


• Depressiva;
• Delirante-alucinatória;
• Paranoide;
• Desagregada;
• Aumento/ retardo psicomotor;
• Maníaca;
• Psicorgânica aguda (delirium);
• Psicôrganica crônica (síndrome demencial);
• Catatônica, apato-abúlica;
• Desvio da norma quantitativa (retardo mental, por exemplo);
• Desvio da norma qualitativa (transtorno de personalidade, por exemplo).

Vamos agora conhecer mais sobre um dos principais transtornos psicopatológicos: a


esquizofrenia.

5. A esquizofrenia

Como já vimos, o transtorno esquizofrênico é um transtorno psicopatológico que se


caracteriza por apresentar alterações do pensamento, da linguagem, da
psicomotricidade, da percepção, do afeto.

Esse transtorno afeta significativamente a vida pessoal e social das pessoas que são
acometidas por esse transtorno.

Em geral, a pessoa que sofre de esquizofrenia não apresenta alterações da


consciência; ela permanece lúcida. A inteligência também não costuma sofrer
alterações. No entanto, alguns déficits cognitivos podem aparecer durante o curso da
doença.

O transtorno pode ser caracterizado por fazer com que o indivíduo sinta que seus
pensamentos, sentimento e atos mais íntimos são públicos ou partilhados por outras
pessoas.

Durante os atendimentos, alguns pacientes se surpreendem quando descobrem que o


técnico que o atende não sabe o que o paciente sente.

Outros pacientes reclamam que seus pensamentos são capturados por antenas de TV
e colocados na televisão. Outros ainda acreditam que seus pensamentos são
publicados nas manchetes de jornais.

Uma paciente chegou ao consultório em desespero dizendo que a sua lista de compras
da festa que estava organizando para sua filha apareceu em um programa matinal de
TV. Muito abalada, ela dizia que a apresentadora conseguiu entrar no seu “cérebro” e
roubar a lista para colocá-la no ar.
Outro paciente alegava que tudo o que ele pensava era publicado no alto-falante da
Central do Brasil.

A princípio, podemos achar engraçadas essas afirmações, mas devemos levar em


conta que o paciente sofre bastante com a publicação do seu pensamento.

O problema é que o portador do transtorno esquizofrênico tem uma certeza subjetiva e


inabalável, uma convicção que realidade alguma consegue reverter.

Ele sabe que é assim. Podemos tentar convencê-lo mostrar a verdade, que nada o fará
mudar de opinião.

Muitas vezes, forças sobrenaturais ou religiosas podem ser chamadas a explicar


algumas alterações que o paciente percebe.

Uma paciente, por exemplo, afirmava que era capaz de usar os raios, em dias de
chuva, para fazer com que seus pensamentos chegassem até os seus parentes, alguns
deles já falecidos.

Quanto à aparência do paciente que sofre de transtorno esquizofrênico, podemos dizer


que durante o surto o paciente tende a não ter muito cuidado com sua aparência.
Pode apresentar roupas sujas ou até adereços bizarros, como papel velho, jornais
embrulhando o corpo, entre outros.

A atenção normal nos permite estudar, aprender e trabalhar. Ou seja, fixar a atenção
em algo importante.

Em diversas circunstâncias, precisamos perseveramos na atenção, quando, por


exemplo, ficamos atentos a uma notícia na TV ou quando assistimos a uma aula.

Os pacientes com transtornos esquizofrênicos podem apresentar alterações na


atenção. Em geral eles apresentam dificuldade para manter a concentração, pois são
facilmente distraídos por outros estímulos.
Os esquizofrênicos pode ter a atenção diminuída de forma mais permanente por causa
de alguns quadros de apatia e desinteresse, principalmente nos quadros de estupor.
Quando ele apresenta alucinações, ocorrem mudanças na atenção.

Uma paciente tinha muita dificuldade para manter a atenção durante o atendimento e
nos contava a mesma história diversas vezes, parando no mesmo ponto e retornando
em seguinda. Ela não conseguia prestar atenção no que nos contava.

Alguns pacientes podem apresentar alterações da sensopercepção. Como você sabe, a


sensopercepção é a primeira etapa da nossa cognição. É através dela que
apreendemos os objetos do mundo externos, e assim podemos conhecer a realidade
que nos cerca. Para isso, usamos nossa sensação e percepção.

Os nossos órgãos sensoriais são: audição, olfato, paladar, tato e visão. As captações
das sensações são feitas de forma passiva pelo nosso organismo. Ou seja, não
pensamos se queremos ou não sentir determinado cheiro, ou ver certa cena.

Sentimos o cheiro e assistimos à cena, e somente em seguida é que tentamos evitar os


cheiros, cenas ou sons que nos incomodam.

Quanto à percepção, é ativa e subjetiva. Precisamos estar conscientes e lúcidos para


interpretar os dados que a sensação capta para discriminar os objetos e dar significado
às sensações.

Uma das alterações mais frequentes da sensopercepção são as alucinações. Estas


podem ser: auditivas, visuais, olfativas, do paladar e do tato.

Podemos caracterizar as alucinações como percepção sem objeto. Ou seja, o paciente


vê, ouve, sente algo que efetivamente não está lá.

Uma alucinação verdadeira apresenta todas as características de uma percepção real.


Tem corporeidade e localização no espaço externo.

Alguns pacientes estranham as suas alucinações por serem bizarras. Mesmo assim, as
alucinações têm tanta força de convicção que mesmo assim o paciente acredita nelas.
Veja esses exemplos de alucinação visual que, embora raras, acontecem:

1. Paulo, um paciente de 24 anos, chega ao hospital trazido pelos bombeiros. Ele está
muito agitado e durante o atendimento relata que há um homem atrás dele com uma
faca para lhe tirar o coração. Esse homem tem chifres, veste-se de vermelho e todo o
tempo diz que vai matar Paulo.

Perguntado se esse homem tem nome, ele responde que é o diabo. Pede para ficar
internado, para que esse homem não o ataque.

2. Mônica, uma jovem de 25 anos, casada, professora, é trazida à emergência


psiquiátrica por não querer mais comer ou tomar banho e ficar olhando para o vazio.

Seu marido conta que ela começou a ficar estranha no trabalho; ficava ausente,
olhando para o vazio. Não conseguia dar aula, negligenciava os filhos e dizia coisas
incompreensíveis.

Certo dia, ela chamou seu marido para conversar. Sentou na cama e disse que atrás
de seu marido estava a amante dele — uma mulher loura, alta, velha, feia, mas muito
jovem e bonita. Ela falava com a paciente por cima do ombro do marido e contava
com detalhes cenas de atos sexuais que ocorriam entre os dois.

O marido diz que nunca teve amante alguma. Fica muito assustado e, num primeiro
momento, resolve levá-la a uma organização religiosa. Como ela continuava a ter
visões e a ouvir conversas entre o marido e a amante, ele a trouxe para o atendimento
psiquiátrico.

3. Um paciente de 27 anos afirma que Jesus apareceu na sua frente e disse que a
partir desse momento eles manteriam contato permanente. Jesus lhe deu o encargo
de salvar os filisteus perdidos desde a última enchente ocorrida em Teresópolis.

O paciente, após receber esse encargo, falava constantemente com Jesus, que se
tornou seu companheiro permanente.
Já na alucinação auditiva, o paciente ouve vozes que, em geral, lhe dão ordens
impositivas: mate, morra, ande. São vozes autoritárias e imperativas que não dão
margem a discussões. Os pacientes tende a obedecer sem resistência.

Exemplos de alucinação auditiva:

1. Seu José, paciente esquizofrênico de 55 anos, entra em surto ficando agressivo e


violento.

Na investigação, descobre-se que seu José não estava tomando seus remédios. Ao ser
indagado do motivo de não tomar os remédios, alegou que ouviu no rádio, num
programa jornalístico que citava seu nome, uma ordem para que parasse
imediatamente de tomar sua medicação.

2. Maria José, paciente esquizofrênica residual, ouve constantemente vozes que lhe
dizem o que deve fazer: coma, vá à igreja, não durma, compre, visite sua filha que
está morrendo. Maria José diz já estar acostumada com as vozes e que não quer tomar
medicação porque sentiria falta das vozes.

As alucinações gustativas são alterações no paladar.

Exemplos:

Leontina, paciente esquizofrênica de 60 anos, afirma que sua filha coloca vinagre na
sua comida. Diz que sua filha quer matá-la e por isso coloca vinagre para que não
coma.

Outro tipo de alteração que pode ocorrer na esquizofrenia — aliás, é um dos mais
comuns — são as alterações do pensamento. Pensar, segundo o dicionário, é
examinar, pesar, ponderar. Podemos ter alterações no curso, no conteúdo e na forma.

Nas alterações do curso, podemos ter: aceleração (pensamento muito rápido),


lentificação (pensamento muito lento) e interrupção do pensamento (o paciente
reclama que não consegue pensar).
Quanto à forma, podemos ter:
• Fuga de ideias - os pacientes não conseguem manter o fluxo do pensamento;
• Desagregação - os pensamentos são desagregados, ou seja, partidos,
inconclusos;
• Prolixidade - o paciente entra em detalhes insignificantes e se estende demais
ao explicar alguma coisa;
• Perseveração - o paciente fica em um só assunto, não muda; mantém somente
um tema na conversa.

Quanto ao conteúdo: concretismo (sem a capacidade de abstração), ideias obsessivas


(ideias recorrentes e invasivas), ideias delirantes (pensamentos invasivos).

Na esquizofrenia, o delírio é uma das alterações mais frequentes. Karl Jaspers define
delírio como um juízo patologicamente falso, um conteúdo impossível, acompanhado
de uma de uma forte convicção.

Os delírios, em geral, têm temas específicos: perseguição, reivindicação, influência,


grandeza, de ciúmes, erotomaníaco, ruína, somático, negação, místico.

Vamos ver agora cada tipo de delírio separadamente:

1. Delírio de perseguição: o paciente acredita estar sendo perseguido, em geral pela


polícia.

Ex.: um paciente alegava ter perdido parte da orelha porque a KGB (polícia política da
antiga União Soviética) havia cortado para ele delatar um preso político. Ele sentia-se
permanentemente perseguido. Escondia-se embaixo da cama para fugir da KGB.
Depois descobriu-se que ele perdera a orelha numa queda de cavalo.

2. Delírio de revindicação: o paciente se julga vítima de injustiças ou


discriminações.

Ex.: Saulo milita numa associação de pacientes, que existe no hospital, e


constantemente entra em atrito com a direção do hospital por achar que eles boicotam
a associação, que não oferecem recursos para a associação.
Ele acredita que a falta de recursos é uma forma de boicote a ele. Exige que sua
família passe o imóvel em que reside para o seu nome. Aos gritos, exige passar a
frente dos outros usuários na fila do almoço. Tem certeza de vários direitos, mesmo
que não os tenha, e os exige sempre de forma agressiva.

3. Delírio de influência: o paciente acredita que alguém ou alguma força externa


controla sua mente e seu corpo.

Ex.: Anita, paciente de 25 anos, acredita que sua doença é causada por uma vizinha
que controla sua mente por força de magia negra.

4. Delírio de grandeza: o paciente acredita ser muito rico ou talentoso.

Ex.: Maria José afirma que seu médico é o diretor do hospital, que sua filha é uma
grande advogada, que o leito dela na enfermaria é o melhor, que sua refeição é a
melhor que a dos outros pacientes. Tudo dela é sempre o melhor.

5. Delírio de ciúme: o paciente tem certeza que seu marido, namorado ou amante a
está traindo.

Ex.: Jorge alega que sua esposa estava tendo um caso com o vizinho, e por isso ele a
agrediu.

6. Delírio erotomaníaco: o paciente acredita que a moça do tempo, na televisão,


fala com ele e que ela está interessada amorosamente nele.

7. Delírio de ruína: para o paciente sua vida esta prestes a cair em ruína absoluta.
Tudo de ruim acontecerá com ele.

Ex.: Antonio, paciente de 60 anos, vivia em absoluta miséria. Comia num restaurante
popular em que a comida custava um real e vivia com roupas velhas e rasgadas.

Quando faleceu, descobriu-se que ele era muito rico. Ele vivia na pobreza porque tinha
muito medo da ruína. Acreditava que iria falir e por isso economizava cada centavo.
8. Delírio somático: o paciente acredita estar sofrendo de uma doença grave e
incurável, como câncer ou outras.

9. Delírio de negação: o paciente acredita que já morreu e que seus órgãos internos
pararam de funcionar.

Ex.: Guiomar, paciente de 35 anos, deu entrada na emergência psiquiátrica porque


tentara retirar os rins acreditando que eles estavam podres.

10. Delírio místico: envolve temas religiosos ou espirituais.

Ex.: Cláudia, paciente de 27 anos, conta que é a Virgem Maria, que é responsável pelo
bem-estar de todos os seres do mundo e que se ela não permanecer em regime
alimentar o mundo poderá acabar.

Bem, avançamos bastante no conhecimento de algumas alterações da esquizofrenia.


Falta ainda vermos as alterações da vontade, do pragmatismo, da psicomotricidade e
da afetividade. Vamos conhecer agora as alterações da vontade.

Alterações da vontade

A vontade é uma função orientada para a ação. Para a ausência de vontade damos o
nome de abulia. A hipobulia é a diminuição da vontade. Ao contrário, temos a
hiperbulia, que é o aumento do sentimento de força, de energia, de disposição.

Nos pacientes esquizofrênicos, observamos o aparecimento de quadros de hipobulia


(diminuição da vontade), os pacientes perdem a iniciativa com relação às decisões
cotidianas.

Veremos agora o que chamamos de pragmatismo, que é a capacidade de realizarmos


algo de forma eficaz. Não basta ter a vontade; é necessário ter organização para
levarmos a cabo aquilo que temos vontade.
Na esquizofrenia, comprovamos certa quantidade de hipopragmatismos. Ou seja, no
caminho para a realização de determinada tarefa os pacientes se perdem e não
realizam aquilo para o qual se propuseram.

Alterações da psicomotricidade

As ações psicomotoras são uma expressão do psiquismo. A forma como andamos,


gesticulamos, nos movemos, enfim, é uma expressão ou um espelho de como somos.
Quando nos movemos, construímos uma marca única, pessoal.

Apraxia - É uma impossibilidade, não orgânica, de realizar atos motores.

Ex.: uma paciente pede atendimento em sua residência porque não consegue levantar
de sua cama por estar completamente paralisada.

Realizados exames neurológicos e clínicos, constata-se que a paciente não tem


alterações orgânicas que justifiquem sua paralisia. Assim, classificamos esse quadro
como psicopatológico.

Hipocinesia - É a diminuição dos movimentos.

Ex.: uma paciente de 29 anos se movimenta de forma lentificada, ou seja, demora


vários minutos para ir de um canto a outro. Fala lentamente e seus gestos são lentos e
demorados. Precisamos de algum tempo para realizar o seu atendimento.

Hipercinesia - É o aumento patológico dos movimentos.

Ex.: Sonia, paciente atendida no ambulatório, chega em crise, com agitação


psicomotora. Fala muito e alto, corre de um lado ao outro, arruma o consultório,
desarruma, fala, anda e corre num espaço mínimo.

Ecopraxia – É a repetição automática de movimentos feitos por outra pessoa.


Ex.: na emergência psiquiátrica, chega para atendimento Jorge, paciente de 24 anos.
Ele está sentado na cadeira e, quando o psicólogo entra na sala, repete seu
movimento de sentar. Quando a psicóloga pega a caneta, ele repete o movimento.

Estereotipias – São movimentos sem finalidade ou sentido.

Ex.: Jorge, paciente de 24 anos, mexe com as mãos fazendo um movimento de oito e
leva um lenço com a qual limpa constantemente uma sujeira invisível.

Flexibilidade cerácea - Rigidez muscular. O paciente mantém a mesma postura por


um tempo indeterminado, mesmo que a posição seja extremamente desconfortável.

Ex.: um paciente internado num hospital psiquiátrico adota a posição de árvore e


permanece nela até que seja feita a medicação. Ele fica nessa posição por mais de
cinco horas, até que um técnico vê o que acontecia e o socorre.

Perseveração motora - Repetição de um movimento anteriormente correta.

Ex.: no atendimento na emergência psiquiátrica, o paciente é solicitado a mostrar suas


receitas anteriores. Após a verificação das receitas, ele continua a retirá-las e a
mostrá-las indefinidamente.

Na esquizofrenia, todas essas alterações podem estar presentes em maior ou menor


grau. Agora vamos ver a última alteração: afetividade.

Alterações da afetividade

A afetividade é uma gama de estados psíquicos subjetivos, que podem ser bons ou
ruins. Na afetividade, podemos incluir emoções, sentimentos e humor.

Hipertimia - Aumento da intensidade ou duração dos afetos.

Ex.: alguns pacientes têm demonstrações extremas de afeto. Abraçam, beijam, têm
constantes demonstrações de carinho, geralmente quando estão em crise.
Hipotimia - Diminuição da intensidade, atimia (apatia).
O paciente fica apático, não reage às solicitações do meio ambiente. Fica
ensimesmado, "para baixo", sem reação.

Labilidade afetiva - Instabilidade afetiva (dificuldade em controlar os afetos),


mudança de humor frequente. Os pacientes não conseguem manter o estado de
humor permanente.

Ex.: na entrevista, o paciente ri, chora, muda de humor em pouco tempo.

Agora vamos ver alguns tipos de esquizofrenias. Usaremos a classificação de


transtornos mentais e de comportamento, o Código Internacional de Doenças 10 (CID
10).

Esse código é usado internacionalmente para descrever e classificar as doenças ou


transtornos mentais. No Brasil, usamos bastante o CID10, que ajuda a unificar e
homogeneizar os diagnósticos psiquiátricos.

O código apresenta alguns tipos de esquizofrenias, que aparecem com a sigla F20. São
elas: esquizofrenia paranoide, hebefrênica, catatônica, residual e simples. Vamos a
elas?

1. Esquizofrenia paranoide

Caracteriza-se por apresentar delírios de perseguição, alucinações, principalmente


auditivas, alterações da percepção, do afeto, da vontade e do discurso.

Para você conhecer melhor esse transtorno, apresentaremos o caso de João Alves, que
tem 34 anos e, como diz sua mãe, sempre foi “esquisito”.

João casou-se com 24 anos e nessa época estava desempregado. O casamento durou
pouco. Sua esposa reclamava de sua falta de iniciativa para a vida.
Após a separação, João fez um concurso para a prefeitura e foi aprovado. Começou a
trabalhar e logo teve de trocar de setor, pois alegava que seu chefe imediato o
perseguia.

No novo setor, o problema se repetia. Após um ano, foi chamado pelo secretário para
tomar e assinar uma advertência. Saiu da reunião muito abalado. Chegou a casa
dizendo que estava sendo perseguido, que ninguém gostava dele.

Passou a noite em claro, não comeu, não tomou banho. Ficou sem dormir e comer
durante vários dias. Passou a trancar as portas e janelas, a não atender ao telefone.

Certo dia, foi para frente da prefeitura e tentou agredir um colega de trabalho. Ele foi
levado pela polícia, onde foi feito um boletim de ocorrência. Na delegacia, fica muito
agitado e começa a quebrar tudo. Os bombeiros são chamados e ele é internado numa
clínica psiquiátrica.

Nesse caso, podemos observar alguns sintomas fundamentais: desde o casamento sua
esposa já apontava para a falta de vontade e pragmatismo. Desde sua entrada na
prefeitura já apareciam delírios de perseguição.

O quadro abre após a reunião com seu chefe. Ele perde o sono, a fome e as ideias
delirantes crescem, até que ele tenta agredir o colega. Na delegacia, ele perde o
controlo psicomotor e abre um quadro franco de esquizofrenia paranoide.

2. Esquizofrenia hebefrênica

Essa forma de esquizofrenia é a que aparece mais cedo, entre os 15 e os 25 anos, e o


prognóstico é o mais pobre.

O paciente apresenta afeto superficial, com risadinhas fora de hora e lugar, faz
caretas, maneirismos, brincadeirinhas. O pensamento é desorganizado e o discurso
incoerente e pobre. Tem pouco pragmatismo, poucos objetivos na vida e se perde com
facilidade.
Para esclarecer possíveis dúvidas, vamos ver o caso de Wellington. Desde pequeno era
considerado esquisito. Nunca teve amigos, vivia sempre pelos cantos e falava muito
pouco. Repetiu várias vezes a quarta séria primária, até que abandou a escola.

Aos quinze anos passava as noites acordado, falava sozinho e ficava sentado num
canto, olhando para o vazio. Aos dezoito anos, entrou para a igreja. Seu
comportamento chamou a atenção de alguns membros da igreja, por ser muito pueril.

Ele foi encaminhado para atendimento e diagnosticado com esquizofrenia hebefrênica.

3. Esquizofrenia catatônica

A catatonia se caracteriza por importantes alterações psicomotoras. O paciente pode


ficar em posturas incômodas e desconfortáveis por longos períodos de tempo. Podem
aparecer também outros comportamentos.

Um desses comportamentos é a obediência automática, em que o paciente reage


automaticamente a qualquer comando. P. ex.: se falamos "Você pode se sentar", o
paciente se senta imediatamente.

Outro é o negativismo. Se pedimos para o paciente sentar, ele levanta; se pedimos


para sair, ele entra.

O paciente pode ficar violentamente agitado. Para exemplificar, vamos ver um caso.

Numa tarde de outubro, o hospital psiquiátrico recebe o chamado de uma senhora que
dizia que seu filho João, paciente esquizofrênico de 27 anos, estava deitado em sua
cama há vários dias em posição de cadáver, dizendo-se morto. Não comia, não ia ao
banheiro, não fazia absolutamente nada.

A equipe de socorro o remove para o hospital. Internado, ele passa a tomar medicação
e lentamente vai saindo do quadro em que estava.

Foi possível conversar com o paciente, fazer uma anamnese e incluí-lo num projeto
terapêutico, em que ele participava de oficinas, reuniões e assembleias.
Certa manhã, durante uma assembleia, João começa a ficar agitado, falando alto,
passa a jogar cadeira para o alto, quebra janelas, portas, mesas. Com muita
dificuldade, o paciente é contido e medicado.

4. Esquizofrenia residual

Esse tipo de esquizofrenia é considerado crônico, de longa duração.

Ex.: Seu Carlos é considerado "esquisito". Fala sozinho, não faz amizades, está sempre
triste, cabisbaixo, fala pouco.

5. Esquizofrenia simples

O aparecimento desse transtorno é insidioso, progressivo. O paciente apresenta


comportamentos estranhos, pouco comuns. Em geral não aparecem delírios ou
alucinações, mas sim formas bizarras de lidar com as exigências da sociedade.

São apáticas, têm um empobrecimento das relações sociais, ficam inativos e sem
objetivos na vida.

Caso clínico

Maria Antonia, de 35 anos, é casada, tem duas filhas e cuida delas com certa
dificuldade.

Eventualmente esquece-se de levá-las para serem vacinadas, de trocar fraldas, de dar


os alimentos. Em outras oportunidades, vaga pela casa com a filha menor no colo
durante horas.

É muito “distraída”, perde-se na realização de suas tarefas. Não conseguiu estudar e


diz que não tem nenhuma habilidade ou talento.
Conclusão:

Chegamos ao fim da nossa exposição. Você deve ter percebido que esse tema é longo
e complexo.

Você precisa se dedicar muito ao estudo das síndromes e transtornos para se sentir
seguro e oferecer um atendimento de qualidade para todos aqueles que necessitarem
de sua ajuda.

É certo que este texto não esgota o tema esquizofrenia; ao contrário: aqui apenas
iniciamos a apresentação dessa complexa patologia. Muito mais há para se pesquisar e
aprender.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHENIAUX JR., Elie. Manual de Psicopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


2005.

NUNES FILHO, Eustachio Portela. Psiquiatria e saúde mental: conceitos clínicos e


terapêuticos fundamentais. São Paulo: Atheneu, 1996.

OMS. Classificação de transtornos mentais e de comportamentos da CID10:


descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre, 1993.

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