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Esta disciplina é um ramo da Medicina e tem como principal tarefa oferecer aos
profissionais a classificação das doenças, dos sintomas, do curso, do tratamento
e o prognóstico.
Aquilo que consideramos doença pode ser, e em geral é, uma tentativa de lidar
com aquilo que é insuportável para o ser humano. Freud já dizia que o delírio é
uma tentativa de remendar aquilo que o doente não suporta da realidade.
Apesar de todas as buscas, procuras e estudos, ainda não têm certeza de como
a esquizofrenia atinge alguns sujeitos e não outros.
Nessa época, ele acreditava que esses três tipos eram doenças independentes e
separadas. Algum tempo depois, ele percebeu que as três categorias eram em
verdade uma única doença, e lhe deu o nome de demência precoce.
Ele conta que deu esse nome porque a doença começava no início da vida e
levava a problemas de comportamento, afetivos e sociais por toda a vida.
Para ele, a pessoa que sofre desse transtorno apresenta uma dissociação entre
essas três esferas: pensamento, emoção e comportamento.
Muitas vezes nem o paciente e nem sua família conseguem identificar de forma
clara o surgimento da doença, que pode surgir de forma abruta e rápida, e em
poucas semanas temos a doença claramente estabelecida.
3. Sinais e sintomas
Permite, quando bem realizada, que toda a equipe de saúde mental tenha informações
fundamentais sobre o paciente.
Em primeiro lugar, devemos dizer que não há uma uniformidade quanto ao modelo de
anamnese; cada profissional vai adaptando ao ritmo do seu trabalho.
Vamos apresentar aqui um modelo mais completo, que você, com sua experiência,
pode e deve modificar.
Um primeiro cuidado que o entrevistador deve ter é deixar o entrevistado muito à
vontade. A entrevista não pode virar um interrogatório; deve ser uma conversa.
1. Identificação
Nome, data de nascimento, sexo, estado civil, naturalidade, nível de instrução,
profissão, etnia, religião, residência, procedência, filiação.
2. Queixa principal
Deve focar na doença e precisa ser escrita com as palavras do paciente. Deve-se
registrar exatamente aquilo que o paciente fala.
3. Motivo do atendimento
Geralmente esse item é fornecido por familiares ou por quem acompanha o paciente
na consulta.
6. História fisiológica
Aqui se deve investigar a gestação, nascimento, aleitamento, desenvolvimento motor,
atividade sexual, gestações, partos, abortos.
7. História pessoal
Aqui a investigação deve ser bem aprofundada. Deve-se investigar a infância, a
adolescência, a sexualidade, vida profissional, personalidade, amigos, as perdas. Tudo
deve ser esmiuçado em detalhes.
8. História familiar
Deve focar na dinâmica familiar, nas relações, nas patologias psiquiátricas e não
psiquiátricas, nas condições de moradia, na convivência, na situação econômica, na
situação de trabalho, na religiosidade, nos vínculos.
Nesse item, temos que ter em conta duas questões, consideradas fundamentais:
Isso significa que aquele indivíduo, em particular, terá uma forma própria e única de
adoecer;
1. Atitude geral
Como o paciente se apresenta: estado de higiene corporal, tipo de roupa (não a
qualidade da roupa, mas se ela está adequada ao horário, dia e local), postura, se o
paciente colabora ou não com a entrevista; se tem simulação de doenças, se apresenta
delírios ou alucinações ou se tem risco de promover violência hetero ou autoinfligida.
Observar como o paciente fala, o que fala e com que ritmo. Se o paciente conversa
espontaneamente ou se só fala quando solicitado, se fala pouco ou muito, se a
expressão facial corresponde ao que está sendo dito. Observar as intensidades do
afeto e do humor.
2. Pensamentos
Verificar se apresenta alterações do conteúdo, do curso. Se o paciente tem capacidade
de simbolizar e abstrair.
3. Consciência
Verificar se o paciente está localizado no tempo e no espaço (saber onde está, que dia
é hoje).
4. Atenção
Verificar a capacidade do paciente de manter a atenção fixa na entrevista ou se ele fica
distraído ou ausente.
5. Orientação
Verificar se o paciente tem consciência do seu próprio nome, idade, local e data.
6. Memória
Observar as dificuldades de o paciente citar, localizar e responder as perguntas da
anamnese.
7. Sensopercepção
Verificar se existem alterações da sensopercepção e se o paciente fala deles
espontaneamente.
8. Inteligência
Verificar se há alguma alteração, descrever o grau de instrução e o ambiente cultural
em que o paciente vive.
9. Afetividade e humor
A afetividade pode ser observada pelas atitudes do paciente com relação a sua higiene
e sua participação na entrevista e também na relação com os parentes e amigos.
Quanto ao humor, podemos observar se o paciente chora, se está eufórico, alegre,
triste, ameaçador, indiferente, ansioso, irritado, agressivo durante a entrevista.
10. Vontade
Conversar com o paciente sobre os seus planos, sonhos e de sua capacidade de
colocá-los em prática.
11. Psicomotricidade
Observar se há aumento ou diminuição dos movimentos. Se existe agitação ou
lentificação, se apresenta tremores, tiques, paralisações ou outras alterações.
Diagnóstico sindrômico
5. A esquizofrenia
Esse transtorno afeta significativamente a vida pessoal e social das pessoas que são
acometidas por esse transtorno.
O transtorno pode ser caracterizado por fazer com que o indivíduo sinta que seus
pensamentos, sentimento e atos mais íntimos são públicos ou partilhados por outras
pessoas.
Outros pacientes reclamam que seus pensamentos são capturados por antenas de TV
e colocados na televisão. Outros ainda acreditam que seus pensamentos são
publicados nas manchetes de jornais.
Uma paciente chegou ao consultório em desespero dizendo que a sua lista de compras
da festa que estava organizando para sua filha apareceu em um programa matinal de
TV. Muito abalada, ela dizia que a apresentadora conseguiu entrar no seu “cérebro” e
roubar a lista para colocá-la no ar.
Outro paciente alegava que tudo o que ele pensava era publicado no alto-falante da
Central do Brasil.
Ele sabe que é assim. Podemos tentar convencê-lo mostrar a verdade, que nada o fará
mudar de opinião.
Uma paciente, por exemplo, afirmava que era capaz de usar os raios, em dias de
chuva, para fazer com que seus pensamentos chegassem até os seus parentes, alguns
deles já falecidos.
A atenção normal nos permite estudar, aprender e trabalhar. Ou seja, fixar a atenção
em algo importante.
Uma paciente tinha muita dificuldade para manter a atenção durante o atendimento e
nos contava a mesma história diversas vezes, parando no mesmo ponto e retornando
em seguinda. Ela não conseguia prestar atenção no que nos contava.
Os nossos órgãos sensoriais são: audição, olfato, paladar, tato e visão. As captações
das sensações são feitas de forma passiva pelo nosso organismo. Ou seja, não
pensamos se queremos ou não sentir determinado cheiro, ou ver certa cena.
Alguns pacientes estranham as suas alucinações por serem bizarras. Mesmo assim, as
alucinações têm tanta força de convicção que mesmo assim o paciente acredita nelas.
Veja esses exemplos de alucinação visual que, embora raras, acontecem:
1. Paulo, um paciente de 24 anos, chega ao hospital trazido pelos bombeiros. Ele está
muito agitado e durante o atendimento relata que há um homem atrás dele com uma
faca para lhe tirar o coração. Esse homem tem chifres, veste-se de vermelho e todo o
tempo diz que vai matar Paulo.
Perguntado se esse homem tem nome, ele responde que é o diabo. Pede para ficar
internado, para que esse homem não o ataque.
Seu marido conta que ela começou a ficar estranha no trabalho; ficava ausente,
olhando para o vazio. Não conseguia dar aula, negligenciava os filhos e dizia coisas
incompreensíveis.
Certo dia, ela chamou seu marido para conversar. Sentou na cama e disse que atrás
de seu marido estava a amante dele — uma mulher loura, alta, velha, feia, mas muito
jovem e bonita. Ela falava com a paciente por cima do ombro do marido e contava
com detalhes cenas de atos sexuais que ocorriam entre os dois.
O marido diz que nunca teve amante alguma. Fica muito assustado e, num primeiro
momento, resolve levá-la a uma organização religiosa. Como ela continuava a ter
visões e a ouvir conversas entre o marido e a amante, ele a trouxe para o atendimento
psiquiátrico.
3. Um paciente de 27 anos afirma que Jesus apareceu na sua frente e disse que a
partir desse momento eles manteriam contato permanente. Jesus lhe deu o encargo
de salvar os filisteus perdidos desde a última enchente ocorrida em Teresópolis.
O paciente, após receber esse encargo, falava constantemente com Jesus, que se
tornou seu companheiro permanente.
Já na alucinação auditiva, o paciente ouve vozes que, em geral, lhe dão ordens
impositivas: mate, morra, ande. São vozes autoritárias e imperativas que não dão
margem a discussões. Os pacientes tende a obedecer sem resistência.
Na investigação, descobre-se que seu José não estava tomando seus remédios. Ao ser
indagado do motivo de não tomar os remédios, alegou que ouviu no rádio, num
programa jornalístico que citava seu nome, uma ordem para que parasse
imediatamente de tomar sua medicação.
2. Maria José, paciente esquizofrênica residual, ouve constantemente vozes que lhe
dizem o que deve fazer: coma, vá à igreja, não durma, compre, visite sua filha que
está morrendo. Maria José diz já estar acostumada com as vozes e que não quer tomar
medicação porque sentiria falta das vozes.
Exemplos:
Leontina, paciente esquizofrênica de 60 anos, afirma que sua filha coloca vinagre na
sua comida. Diz que sua filha quer matá-la e por isso coloca vinagre para que não
coma.
Outro tipo de alteração que pode ocorrer na esquizofrenia — aliás, é um dos mais
comuns — são as alterações do pensamento. Pensar, segundo o dicionário, é
examinar, pesar, ponderar. Podemos ter alterações no curso, no conteúdo e na forma.
Na esquizofrenia, o delírio é uma das alterações mais frequentes. Karl Jaspers define
delírio como um juízo patologicamente falso, um conteúdo impossível, acompanhado
de uma de uma forte convicção.
Ex.: um paciente alegava ter perdido parte da orelha porque a KGB (polícia política da
antiga União Soviética) havia cortado para ele delatar um preso político. Ele sentia-se
permanentemente perseguido. Escondia-se embaixo da cama para fugir da KGB.
Depois descobriu-se que ele perdera a orelha numa queda de cavalo.
Ex.: Anita, paciente de 25 anos, acredita que sua doença é causada por uma vizinha
que controla sua mente por força de magia negra.
Ex.: Maria José afirma que seu médico é o diretor do hospital, que sua filha é uma
grande advogada, que o leito dela na enfermaria é o melhor, que sua refeição é a
melhor que a dos outros pacientes. Tudo dela é sempre o melhor.
5. Delírio de ciúme: o paciente tem certeza que seu marido, namorado ou amante a
está traindo.
Ex.: Jorge alega que sua esposa estava tendo um caso com o vizinho, e por isso ele a
agrediu.
7. Delírio de ruína: para o paciente sua vida esta prestes a cair em ruína absoluta.
Tudo de ruim acontecerá com ele.
Ex.: Antonio, paciente de 60 anos, vivia em absoluta miséria. Comia num restaurante
popular em que a comida custava um real e vivia com roupas velhas e rasgadas.
Quando faleceu, descobriu-se que ele era muito rico. Ele vivia na pobreza porque tinha
muito medo da ruína. Acreditava que iria falir e por isso economizava cada centavo.
8. Delírio somático: o paciente acredita estar sofrendo de uma doença grave e
incurável, como câncer ou outras.
9. Delírio de negação: o paciente acredita que já morreu e que seus órgãos internos
pararam de funcionar.
Ex.: Cláudia, paciente de 27 anos, conta que é a Virgem Maria, que é responsável pelo
bem-estar de todos os seres do mundo e que se ela não permanecer em regime
alimentar o mundo poderá acabar.
Alterações da vontade
A vontade é uma função orientada para a ação. Para a ausência de vontade damos o
nome de abulia. A hipobulia é a diminuição da vontade. Ao contrário, temos a
hiperbulia, que é o aumento do sentimento de força, de energia, de disposição.
Alterações da psicomotricidade
Ex.: uma paciente pede atendimento em sua residência porque não consegue levantar
de sua cama por estar completamente paralisada.
Ex.: Jorge, paciente de 24 anos, mexe com as mãos fazendo um movimento de oito e
leva um lenço com a qual limpa constantemente uma sujeira invisível.
Alterações da afetividade
A afetividade é uma gama de estados psíquicos subjetivos, que podem ser bons ou
ruins. Na afetividade, podemos incluir emoções, sentimentos e humor.
Ex.: alguns pacientes têm demonstrações extremas de afeto. Abraçam, beijam, têm
constantes demonstrações de carinho, geralmente quando estão em crise.
Hipotimia - Diminuição da intensidade, atimia (apatia).
O paciente fica apático, não reage às solicitações do meio ambiente. Fica
ensimesmado, "para baixo", sem reação.
O código apresenta alguns tipos de esquizofrenias, que aparecem com a sigla F20. São
elas: esquizofrenia paranoide, hebefrênica, catatônica, residual e simples. Vamos a
elas?
1. Esquizofrenia paranoide
Para você conhecer melhor esse transtorno, apresentaremos o caso de João Alves, que
tem 34 anos e, como diz sua mãe, sempre foi “esquisito”.
João casou-se com 24 anos e nessa época estava desempregado. O casamento durou
pouco. Sua esposa reclamava de sua falta de iniciativa para a vida.
Após a separação, João fez um concurso para a prefeitura e foi aprovado. Começou a
trabalhar e logo teve de trocar de setor, pois alegava que seu chefe imediato o
perseguia.
No novo setor, o problema se repetia. Após um ano, foi chamado pelo secretário para
tomar e assinar uma advertência. Saiu da reunião muito abalado. Chegou a casa
dizendo que estava sendo perseguido, que ninguém gostava dele.
Passou a noite em claro, não comeu, não tomou banho. Ficou sem dormir e comer
durante vários dias. Passou a trancar as portas e janelas, a não atender ao telefone.
Certo dia, foi para frente da prefeitura e tentou agredir um colega de trabalho. Ele foi
levado pela polícia, onde foi feito um boletim de ocorrência. Na delegacia, fica muito
agitado e começa a quebrar tudo. Os bombeiros são chamados e ele é internado numa
clínica psiquiátrica.
Nesse caso, podemos observar alguns sintomas fundamentais: desde o casamento sua
esposa já apontava para a falta de vontade e pragmatismo. Desde sua entrada na
prefeitura já apareciam delírios de perseguição.
O quadro abre após a reunião com seu chefe. Ele perde o sono, a fome e as ideias
delirantes crescem, até que ele tenta agredir o colega. Na delegacia, ele perde o
controlo psicomotor e abre um quadro franco de esquizofrenia paranoide.
2. Esquizofrenia hebefrênica
O paciente apresenta afeto superficial, com risadinhas fora de hora e lugar, faz
caretas, maneirismos, brincadeirinhas. O pensamento é desorganizado e o discurso
incoerente e pobre. Tem pouco pragmatismo, poucos objetivos na vida e se perde com
facilidade.
Para esclarecer possíveis dúvidas, vamos ver o caso de Wellington. Desde pequeno era
considerado esquisito. Nunca teve amigos, vivia sempre pelos cantos e falava muito
pouco. Repetiu várias vezes a quarta séria primária, até que abandou a escola.
Aos quinze anos passava as noites acordado, falava sozinho e ficava sentado num
canto, olhando para o vazio. Aos dezoito anos, entrou para a igreja. Seu
comportamento chamou a atenção de alguns membros da igreja, por ser muito pueril.
3. Esquizofrenia catatônica
O paciente pode ficar violentamente agitado. Para exemplificar, vamos ver um caso.
Numa tarde de outubro, o hospital psiquiátrico recebe o chamado de uma senhora que
dizia que seu filho João, paciente esquizofrênico de 27 anos, estava deitado em sua
cama há vários dias em posição de cadáver, dizendo-se morto. Não comia, não ia ao
banheiro, não fazia absolutamente nada.
A equipe de socorro o remove para o hospital. Internado, ele passa a tomar medicação
e lentamente vai saindo do quadro em que estava.
Foi possível conversar com o paciente, fazer uma anamnese e incluí-lo num projeto
terapêutico, em que ele participava de oficinas, reuniões e assembleias.
Certa manhã, durante uma assembleia, João começa a ficar agitado, falando alto,
passa a jogar cadeira para o alto, quebra janelas, portas, mesas. Com muita
dificuldade, o paciente é contido e medicado.
4. Esquizofrenia residual
Ex.: Seu Carlos é considerado "esquisito". Fala sozinho, não faz amizades, está sempre
triste, cabisbaixo, fala pouco.
5. Esquizofrenia simples
São apáticas, têm um empobrecimento das relações sociais, ficam inativos e sem
objetivos na vida.
Caso clínico
Maria Antonia, de 35 anos, é casada, tem duas filhas e cuida delas com certa
dificuldade.
Chegamos ao fim da nossa exposição. Você deve ter percebido que esse tema é longo
e complexo.
Você precisa se dedicar muito ao estudo das síndromes e transtornos para se sentir
seguro e oferecer um atendimento de qualidade para todos aqueles que necessitarem
de sua ajuda.
É certo que este texto não esgota o tema esquizofrenia; ao contrário: aqui apenas
iniciamos a apresentação dessa complexa patologia. Muito mais há para se pesquisar e
aprender.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS