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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

PSICOLOGIA

ANA JULIA MARCHIORO TOPOROSKI


ANDRÉIA MARIA CHULIK
CECÍLIA F L O ROGUSKI
GLAUCE KOSSATZ DE CARVALHO
JEANINE LIANA DE OLIVEIRA SPESSATTO
LETICIA SAMARA DE OLIVEIRA DA ROSA
LUCAS VENCELOSKI
MARIA FERNANDA PATUSSI
MARCIA NIKKEL
MARLON FRANCO MACIEL
NICOLE SOMMER DE CASSIAS
PATRICIA SCHWARZ OMODEI

BORDERLINE E NEUROPSICOLOGIA

CURITIBA

2022
BORDERLINE E NEUROPSICOLOGIA

O convívio com pessoas diagnosticadas com transtornos mentais é um desafio


diário que requer conhecimento, compreensão e paciência. Essas pessoas podem
apresentar brigas frequentes, oscilações de humor e impulsividades. Esta situação pode
se agravar nos casos de Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).

O termo borderline teve origem em 1938, pelo psicanalista norte-americano


Adolf Stern. Na época esta condição se dava a pacientes que estavam no limiar entre a
psicose e a neurose, por isso a aplicação da palavra borderline (que significa limite em
inglês). Sendo o borderline também conhecido como Transtorno de Personalidade
Limítrofe.

A fragilidade emocional é um padrão desse transtorno, seja na autoimagem ou


nas relações interpessoais. Quem afirma é a psiquiatra, do Hospital Santa Mônica,
Luana Harada. “O transtorno de personalidade traz sofrimento para a pessoa e para
quem é próximo, com prejuízos nas diversas esferas da vida”, completa.

O DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), define o


Transtorno de Personalidade Borderline como sendo um padrão difuso de instabilidade
nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos, acompanhado de impulsividade
acentuada presente em vários contextos; e elenca nove sintomas comuns ao distúrbio,
segundo a Associação Norte-Americana de Psiquiatria: esforços desesperados para
evitar o abandono real ou imaginado; padrão de relacionamentos interpessoais instáveis
e intensos com alternância entre extremos de idealização e desvalorização; perturbação
da identidade, instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de
si mesmo; impulsividade elevada em pelo menos duas áreas potencialmente
autodestrutivas; recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de
comportamento auto-mutilante; instabilidade afetiva devido a uma acentuada
reatividade de humor; sentimento crônico de vazio; raiva intensa e inapropriada ou
dificuldade de controlá-la; e ideação paranoide transitória associada a estresse ou
sintomas dissociativos intensos.
Neste ponto adentramos à área da neuropsicologia e posteriormente a
neurofisiologia com o objetivo de demonstrar as características orgânicas do transtorno
de personalidade borderline.

Para uma visão geral dos pacientes importante destacar a diversidade de


sensações, por vezes conflitantes, que sentem. Muitas vezes manifestando tensão
aversiva, incluindo raiva, tristeza vergonha, pânico, terror e sentimentos crônicos de
vazio e solidão; apresentam também uma exagerada reatividade no humor:
frequentemente mudam com grande rapidez de um estado ao outro, passando por
períodos eufóricos e eutímicos ao longo de um dia. Além disso, a cognição também se
apresenta alterada. A sintomatologia varia, há ideias superestimadas de estar mal,
experiências de dissociação - despersonalização e perda da percepção da realidade -
outros sintomas são semelhantes aos psicóticos, com episódios transitórios e
circunscritos de ilusões e alucinações baseadas na realidade. Acredita-se que o distúrbio
de identidade pertença ao domínio cognitivo porque se baseia em uma série de falsas
crenças, por exemplo a de que uma pessoa é boa num minuto e má no instante seguinte. 

Várias causas são apontadas para a origem do transtorno: além do forte


componente genético, experiências traumáticas na infância, como abuso sexual e
abandono, causariam a desregulação emocional e a impulsividade, levando aos
comportamentos não-funcionais, déficits e conflitos psicossociais. Estes, por sua vez,
agravariam a desregulação. Estudos de neuroimagem revelaram uma rede mal
funcionante em várias regiões cerebrais relacionadas a importantes aspectos da
sintomatologia.

Em estudos de PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons), o córtex cingulado


anterior, região mediadora do controle afetivo, bem como outras áreas do córtex pré-
frontal, apresentaram um metabolismo basal alterado. Estudos estruturais mostraram
redução no volume da amígdala e do hipocampo nos pacientes com personalidade
borderline. Foi registrada ainda, com a técnica de RMf (Ressonância Magnética
funcional) uma ativação aumentada da amígdala em resposta a expressões faciais e
emoções negativas, provavelmente relacionada ao enfraquecimento do controle pré-
frontal inibitório. Se estas alterações neurobiológicas são pré-existentes ao transtorno ou
se são apenas suas manifestações, ainda permanece a dúvida.
Um maior esclarecimento sobre o transtorno na classe médica e mesmo entre a
população é fundamental para enfrentar o problema. Como o transtorno afeta as
relações interpessoais, muitos preconceitos e muita incompreensão acompanham os
indivíduos com personalidade borderline. Muitas vezes, tais pessoas são rotuladas de
"irresponsáveis", “egoístas”, “desequilibradas”, “problemáticas”, o que só agrava sua
instabilidade e faz com que elas se aproximem cada vez mais da loucura, já que
dificilmente conseguirão contornar sua dificuldade sozinhas. Para conviver com a
personalidade borderline, o primeiro passo é caracterizá-la como um transtorno
psiquiátrico tratável e procurar ajuda com profissionais de saúde especializados. Tanto a
atitude pessoal de aderir à terapia, quanto a educação da família são essenciais, na
medida em que o único tratamento efetivo é o de equipe, contando com a colaboração
de médicos, psicólogos, a família e o paciente. 

Especialistas de diversas áreas buscam descobrir o que de fato acontece com um


cérebro quando se tem uma personalidade Borderline. Com auxílio de exames de
ressonância magnética revelaram grandes diferenças entre cérebros saudáveis e cérebros
de indivíduos com personalidade borderline. A figura abaixo demonstra isso, na
esquerda um cérebro de paciente com transtorno borderline e na direita um cérebro
saudável. As ativações de calor mostram a base neurológica de uma condição de saúde
mental grave.

- Amígdala
É a parte primitiva do cérebro, que regula o medo e a agressão. Na população em
geral, é uma ferramenta vital para a sobrevivência; mesmo nas cidades confortáveis,
seguras e mecânicas da modernidade, as emoções podem salvar vidas. Contudo, as
varreduras do cérebro mostraram que as pessoas com Transtorno de Personalidade
Borderline têm amígdalas visivelmente menores que a população em geral e podem até
sofrer atrofia. Quanto menor a amígdala, mais hiperativa.
Isso significa que quando as pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline
experimentam uma emoção, elas o fazem com mais intensidade do que a população em
geral, e o período de “esfriamento” leva muito mais tempo.
Foram identificadas também alterações a nível cognitivo, mais especificamente,
na região límbica reconheceram-se alterações com maior ênfase na região da amigdala,
do hipocampo e hipotálamo.

- Hipocampo
O hipocampo é um par de tubos em forma de cavalo-marinho localizados nos
hemisférios esquerdo e direito do cérebro. Associado à memória de longo e curto prazo,
orientação espacial e reações emocionais mais importantes, é o processador de dados do
corpo. Isso significa que, quando um evento ambiental é retransmitido através do córtex
visual, o hipocampo decide a resposta emocional correta. Abordagem ou evitação.
Para pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline, o hipocampo está em um
estado de hiper-excitação contínua. Descoordenado e disfuncional, ele sempre interpreta
mal as ameaças e transmite mensagens defeituosas de volta à amígdala. Isso significa
que as pessoas com esse transtorno têm mais probabilidade de encontrar outras pessoas,
e o mundo ao seu redor, como ameaçador, quando isso pode não ser a realidade.
Apresentam redução da massa cinzenta no hipocampo esquerdo, assim como no
giro frontal inferior direito pars opercularis e giro temporal médio direito. Além disso, o
baixo volume da massa cinzenta do hipocampo apresenta-se associado a prejuízos na
função da memória autobiográfica, agressão reativa e até mesmo nos sintomas
dissociativos.
Assim, pode-se afirmar que o Transtorno de Personalidade Borderline pode
proporcionar um menor funcionamento adaptativo, ou seja, os indivíduos
diagnosticados com TPB podem apresentar prejuízos significativos nas habilidades
sociais, práticas e conceituais que agem na manutenção da adaptação ao ambiente. Os
processos cognitivos da atenção e memória se apresentam significativamente afetados.
Os problemas de atenção eventualmente podem estar associados a uma redução da
consciência no momento presente. Maior distração acontece na exposição a informações
emocionais e, por consequência, afetaria o domínio da memória.

- Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
Um nome complexo para três glândulas interconectadas: o hipotálamo, a
hipófise e a glândula adrenal interagem entre si, especialmente no gerenciamento das
pressões da vida cotidiana e na manutenção da homeostase. O ‘eixo adrenal
hipotalâmico-hipófise’ é o principal responsável pela produção de cortisol no corpo. O
cortisol é um produto químico natural liberado durante períodos de estresse. Estudos
mostraram que pessoas com TPB apresentam níveis anormais de cortisol na corrente
sanguínea. Muita produção de cortisol significa que os níveis de estresse na vida diária
são sempre esmagadores. Psicologicamente, a resiliência e as habilidades de
enfrentamento são prejudicados; quimicamente, o corpo está sobrecarregado.

- Córtex pré-frontal
O córtex pré-frontal é o pináculo da evolução humana, não apenas porque é
responsável pela razão, racionalidade e tomada de decisão, mas porque também inibe
nossa natureza primordial. Pessoas com esse transtorno têm córtex pré-frontal inativo e
ineficiente. Quando solicitados a afastar imagens negativas de seu pensamento,
apresentam atividade reduzida no córtex pré-frontal ventrolateral. Prejuízos associados
ao controle cognitivo de estímulos negativos são resultados da baixa atividade do córtex
pré-frontal dorsolateral. Apresentam maior ativação no córtex préfrontal medial; logo,
sugere-se que tal ativação possui correspondência com a sensibilidade a rejeição e, em
especial, o medo de abandono. Além disso, alterações na região pré-frontal medial
apresentam uma relação direta na desregulação emocional, bem como nas condições de
inibição comportamental, dado que os processos associados às áreas do córtex pré-
frontal medial têm sua relação com o controle e modulação da ativação emocional
relacionadas com estratégias de respostas. Déficit nas funções executivas superiores –
habilidades cognitivas essenciais para o controle dos pensamentos, emoções e ações –
refletem alterações negativas consideráveis no córtex pré-frontal orbitofrontal e
dorsolateral. Esta é uma das razões para alguns dos sintomas característicos do
transtorno Borderline, incluindo a impulsividade. Como Francisco Goya disse, o ‘sono
da razão gera monstros’ e, com um córtex pré-frontal adormecido, indivíduos com
Transtorno de Personalidade Borderline se vêem assaltados por emoções, que nos fazem
sentir fora de controle.

Outras alterações menos específicas podem ser citadas, como: alteração na


frequência cardíaca – tanto para o aumento quanto para sua diminuição, embora seja
mais frequente o aumento – e pode aparecer especialmente em situações de estresse
elevado ou na exposição a contextos emocionais carregados. Baixa ocitocina sérica;
maior crescimento endotelial vascular; níveis elevados de ácidos graxos, no qual podem
estar associados aos níveis de estresse, sensibilidade a dor, humor e cognição no TPB;
fatores genéticos para o acúmulo de N-acetil Aspartato e, principalmente, fatores
hereditários para o desenvolvimento do TPB.
E entre as principais alterações cognitivas encontradas estão: menor
funcionamento adaptativo, alterações na memória, na atenção, nas tomadas de decisão,
nos processos autor referenciais, nas respostas ao estresse e no processamento
emocional.

- Diagnóstico
O diagnóstico correto para uma pessoa com transtorno borderline continua sendo
um desafio para médicos, neuropsicólogos e demais especialistas envolvidos no
processo, pois pode ser confundido com esquizofrenia, bipolaridade e depressão por
terem os sintomas muito parecidos. O diagnóstico deve ser realizado através de uma
análise do padrão de comportamento ao longo do tempo, levando sempre em
consideração o contexto geral em que os sintomas se apresentam.

- Tratamento
Mostra-se importante que o paciente tenha autoconhecimento acerca do
diagnóstico recebido, assim a possibilidade de evolução é mais favorável. As formas de
tratamento são diversas e o mesmo deve ser feito de forma plural com a associação de
várias formas, como psicoterapia, medicação e hábito de vida saudável.
A psicoterapia é o ponto central do tratamento, pois é a partir dela que o paciente
irá encontrar instrumentos no seu dia a dia para mudar os temperamentos que lhe
causem angústias. As modalidades que mais tem resultados são a Terapia Psicodinâmica
e a Terapia Comportamental Dialética. Os familiares e amigos devem participar neste
processo, pois se torna essencial para o tratamento.
E os medicamentos também devem fazer parte do tratamento, essencialmente
para lidar com a impulsividade e agressividade.

Referências Bibliográficas
https://hospitalsantamonica.com.br/como-lidar-com-o-transtorno-de-personalidade-
borderline/

Carneiro, L. L. F. (2011). BORDERLINE - NO LIMITE ENTRE A LOUCURA E A


RAZÃO. Ciências & Cognição, 3, págs. 63 - 65. Recuperado de
http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/cec/article/view/469

https://vtmneurodiagnostico.com.br/2020/07/22/transtorno-da-personalidade-borderline-
e-o-cerebro-tratamentos-inovadores/

Nascimento, R. B., Cerqueira, G. de L., & Araujo Filho, E. S. (2021).


CARACTERÍSTICAS E ALTERAÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS NO
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE: UMA REVISÃO DA
LITERATURA. Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências E Educação, 7(4),
322–347. https://doi.org/10.51891/rease.v7i4.968

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