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PPB e os Transtornos mentais:

esquizofrenia

Prof. Alcyr Oliveira

Disciplina: Processos Psicológicos Básicos II


Lembretes sobre esquizofrenia
Descrição clínica (breve)

◼ Múltiplos sistemas cerebrais afetados.

➢ Difícil localização unívoca e inequívoca.

◼ Sinais prodrômicos (sintomas que antecedem):

➢ “... ele sempre foi meio estranho, mesmo quando criança”.

➢ Isolamento social, difícil desempenho de papéis “normais”, comportamentos e ideias


estranhas, afeto “brusco”, higiene pessoal pobre

◼ Sintomas (+): Alucinações, desordem do pensamento

◼ Sintomas (-): Expressão emocional embotada, motivação reduzida


Descrição clínica (breve)

◼ Déficits cognitivos:

➢ atenção empobrecida, funções executivas, perturbação em alguns tipos de memória.

◼ Dificuldades motoras:

➢ postura e coordenação empobrecida, maneirismos e estereotipias, catatonia


Sintomas
◼ Sintomas positivos (patologicamente em excesso):
➢ São os sintomas de produção como delírios e alucinações (especialmente auditivas).

◼ Sintomas negativos (patologicamente em falta):


➢ Redução de respostas afetivas, verbais, de motivação, atenção ao ambiente e interação social.

◼ Alterações cognitivas:
➢ Diminuição da atenção, capacidade de raciocínio, da memória, da linguagem e da capacidade
em realizar atividades funcionais.

◼ Alterações na afetividade:
➢ Mudanças repentinas de humor, manifestações inapropriadas ou bizarras de afetividade ou
comportamento. Depressão é comum após períodos de exacerbação da psicose.
“Ele viu o mundo de uma maneira que
ninguém poderia ter imaginado.”

John Nash (1928 – 2015)


➢ Nascido em Melbourne, 1947, entre 1962-1970 teve
vários episódios esquizofrênicos.

➢ 1966-70 esteve no Royal College of Music, London.

David Helfgott toca Concerto #3 para Piano de


Rachmaninov, (Copenhagen Philharmonic,
1995). Como no filme “Shine”.

➢ 1970-1980 foi hospitalizado na Austrália.

➢ 1984 apresenta concerto no Octagon (Nova Zelândia).

➢ De acordo com a sua biografia, sua medicação atual


consiste de clorpromazina (bloqueador D2) e um
anticolinérgico para a discinesia tardia.
Genética
DNA partilhado
100% Gêmeos idênticos

Gêmeos bivitelinos 17% 48%


filhos
50%
irmãos

pais

meio irmãos

netos
25%
primos

tios

primos (2º grau)


12.5%
População geral 1% (independente de cultura)
0% 10% 20% 30% 40% 50%
Risco de desenvolver esquizofrenia

Gottesman, 1991. Schizophrenia Genesis: The Origin of Madness. New York: Freeman.
Experimentação clínica
◼ Todos os “avanços” conhecidos são testados em esquizofrenia:
➢ Na década de 40, Walter Freeman espalhou a lobotomia

◼ Só terminou por causa da clorpromazina que surgiu como a “lobotomia química” (1955)

➢ Nos anos 50, ocorreu a reação com a hipótese da mãe esquizofrênica

➢ 1955 hipótese dopaminérgica (clorpromazina)

➢ 1970 hipótese glutamatérgica

➢ 1995 teorias dos fatores de crescimento de neurônios, desenvolvimento neural, migração


celular

➢ 2000 genética e genômica

➢ Teoria da diversidade interneural

➢ 2005 ideias relacionando inflamação cerebral


Esquizofrenia e inteligência
◼ “Ele parece mais inteligente?”

◼ É possível avaliar o nível de inteligência?

◼ Estaria ele em maior contato com a verdadeira realidade do que o


resto de nós?
Esquizofrenia e inteligência

◼ Inteligência pode ser medida em esquizofrênicos

◼ Os escores são em geral bem abaixo da média da população geral

➢ Badcock et al. (2005) comparou o QI de esquizofrênicos pré-mórbidos e


diagnosticados com controles normais

◼ Ambos os escores foram mais baixos do que os controles

◼ Mesmo aqueles com os mais funcionais apresentaram escores abaixo da média.


Empobrecimento cognitivo

◼ Problemas de processamento da informação

◼ Empobrecimento na
➢ Memória

➢ Habilidades espaciais

➢ Capacidade motora

➢ De linguagem

➢ Funções executivas

➢ Dificuldades atencionais
E daí? E a inteligência?
◼ Esquizofrênicos tendem a ser:

➢ Menos inteligentes que a média

➢ Menos criativos do que a média

◼ Indivíduos esquizotípicos tendem a ser mais criativos do que a média.

❑ Existe ligação com sistema dopaminérgico e


serotoninérgico.

❑ Após o primeiro surto agudo há acentuada


deterioração neuro-cognitiva.

❑ Relação entre consumo de cannabis na


adolescência e esquizo na fase adulta.

Lancet, 1987.
Alterações neuroanatômicas

• Aumento dos ventrículos


cerebrais

• Diminuição do volume cerebral

• Alargamento ventricular em
gêmeos monozigóticos é
observado apenas naquele
que apresenta a doença.

Gêmeo não-esquizo Gêmeo esquizo

Este alargamento dos ventrículos parece estabilizar quando os


pacientes recebem acompanhamento medicamentoso.
Anormalidade neuronal
◼ Decréscimo no número de neurônios encontrados no hipocampo e no córtex
prefrontal dorsolateral (CPD).
Não-Esquizofrênico
◼ Em estudos com gêmeos
monozigóticos discordantes
para esquizofrenia, existe uma
redução na ativação do CPD
observado em SPECT e
Esquizofrênico 1
PETscan.

◼ A nível sub-celular, há uma


redução nos espinhos dendríti- Esquizofrênico 2

cos no córtex pré-frontal.


Alucinações estão associadas
com atividade neuronal

Circuitos neuronais específicos envolvendo


tálamo, caudato-putamen, cingulado
anterior, córtex límbico,

córtex auditório,

hipocampo e giro parahipocampal estão


ativados em esquizofrênicos durante
alucinações auditivas.
Explorando causas variadas
◼ Danos pré ou peri-natais
➢ Agentes infecciosos, genéticos, isquêmicos, etc. podem estar associados

◼ Envolvimento do córtex pré-frontal (CPF)


➢ Associado com atenção, memória de trabalho, expressão emocional e interação social

➢ Lesões

◼ MODELOS ANIMAIS (ver schizo models, tabela no link a seguir)

◼ AUSÊNCIA DE MODELOS EXPERIMENTAIS


➢ O que podemos esperar? Lobotomias (ver sobre lobotomia em):
E como fazemos um modelo
de esquizofrenia?
◼ Procuramos entender o funcionamento das diferentes instâncias
comprometidas na doença;

◼ Fazemos analogias entre o comportamento normal e anormal (doente e normal


x afetado e tratado)

◼ Busca-se similaridades anatômicas entre o sistema neural afetado no doente e


o modelo;

◼ Em resumo:

➢ temos que conhecer muito a respeito da patologia humana para podermos entender
o que deve ser observado nos modelos.
O que são modelos experimentais?

◼ Modelos experimentais são:


➢ Preparações que propiciam o estudo de aspectos de patologias...

➢ ...ou para testar possíveis tratamentos de uma doença...

➢ ... ou, para obter conhecimento sobre funções específicas em condições normais.

◼ A expressão “Modelos experimentais” sugere pesquisa experimental

➢ Variáveis independentes (tratamento, o que afeta a VD)

➢ Variáveis dependentes (efeitos resultantes do tratamento, da VI)

◼ Modelos de doenças mentais podem ser desenvolvidos em


homens, animais, cultura celular e simulações computacionais.
Como criar modelos?
◼ Modelos de doenças mentais correspondem indiretamente aos efeitos
observados em sujeitos humanos

◼ Duas razões para isso:

1) Procura-se simular a psicopatologia e os fenômenos associados, o que pode


envolver expressão de sintomas ou não

❖ P.ex.: a introspecção em determinado distúrbio cognitivo pode ou não resultar em construção

mental aberrante, o que denominamos de delírio

2) O encéfalo procura contornar prejuízos mentais ou cognitivos fazendo


compensações funcionais.

❖ O fenômeno da compensação é sofisticado e de difícil compreensão sobre os efeitos no encéfalo.


Como criar modelos?

◼ Além disso, algumas desordens têm sinais e sintomas muito variados


que quando observados juntos, claramente identificam um distúrbio.
➢ Ex.: desordem do espectro autístico.

◼ Em outros casos, um mesmo sintoma pode aparecer em desordens


diferentes.
➢ Ex.: empobrecimento cognitivo (TCL e alcoolismo ou mania e TDAH)

◼ Ou ainda, representar um aumento de uma dimensão observada em


pessoas saudáveis.
➢ Ex.: humor deprimido
Como isso funciona?
◼ Modelos buscam analogias, simila-
ridades entre funções e tratamentos.
Isso nem sempre acontece.
➢ Entender melhor as desordens humanas
Alvo/
Doença leva ao desenvolvimento de melhores
modelos.
➢ O desenvolvimento de melhores modelos
Informação leva ao refino do entendimento do funcio-
tecnologias namento e novos tratamentos.
para integração
◼ Modelos animais, cultura celular ou
simulações matemáticas possibilitam a
manipulação de variáveis deletérias.
Plataforma:
Métodos e instrumentos ➢ Não há evidência de animais mentalmen-
Expressão em Expressão em te doentes na natureza.
animais humanos
Fingerprint Fingerprint
➢ Casos de loucura por viroses, intoxica-
ção, estresse, entre outras causa.
Inibição Latente (IL)
◼ Processo onde a exposição a um estímulo com pouca ou nenhuma
conseqüência previne associações condicionadas a este estímulo.

➢ A IL é o principal modelo para esquizofrenia usado nos dias de hoje;

➢ Ocorre em todas as espécies

◼ Exemplo: apresentação de um estímulo seguido de nada.

➢ Isto gera um estado de antecipação de que, na apresentação deste estímulo


nada vai ocorrer. Assim, uma aprendizagem usando associação com o
mesmo estímulo será inibida.

◼ Resumindo, é a capacidade de ignorar (inibir) estímulos que


considerados irrelevantes a partir de condicionamentos anteriores.
Inibição de pré-pulso e inibição latente
◼ PPI= prepulse inhibition: fenômeno natural onde um estímulo mais fraco (prepulse) inibe a
reação do sujeito a um estímulo subseqüente mais forte (em geral que cause susto).
➢ É o processo onde a exposição a um estímulo com pouca ou nenhuma conseqüência previne
associações condicionadas com um estímulo que normalmente recebe conseqüências.

◼ Ex.: palmas (startle)

➢ Déficit de PPI (DPPI) manifesta-se pela inabilidade em filtrar as informações desnecessárias.


◼ DPPI tem sido associada a anormalidades sensoriomotoras e são observadas em esquizofrenia,
Alzheimer, uso de drogas. Esta condição é amenizada com uso de antipsicóticos.

➢ A apresentação de um estímulo sem conseqüência gera uma antecipação em que a nova apresentação
de tal estímulo impede a associação com outro estímulo condicionado. Aprendizagens usando
associações com o mesmo estímulo serão inibidas.
◼ Pacientes esquizofrênicos apresentam baixa inibição latente e DPPI.

◼ Inibição latente, PPI, esquizofrenia e criatividade estão intrinsecamente ligados. Não se tem
conhecimento preciso do reflexo desta relação no cérebro e nem de como se estabelecem.

◼ Existem poucas evidências que ligam baixa inibição latente com grande criatividade.

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