Você está na página 1de 28

Ciclo Vital da Família

O sistema familiar é como um ser vivo que, assim como


a pessoa individualmente, passa por um processo de
crescimento para atingir níveis de maturidade.

Para atingir esta maturidade, esta evolução, a família


enfrenta diferentes estágios e, em cada um deles, existe uma
complexidade de papéis que cada membro da família terá que
desempenhar, uns em relação aos outros.

O sistema familiar, ao longo de seu ciclo vital, enfrenta


estressores verticais e horizontais (Carter & McGoldrick, 2001).
Profa.Mariana Boeckel 1
Ciclo Vital da Família Brasileira
Cerveny & Berthoud (1997)

1. Fase da Aquisição

2. Fase Adolescente

3. Fase Madura

4. Fase Última

Profa.Mariana Boeckel 2
Fase da Aquisição

 Conquista da identidade familiar

 Da união do casal até filhos adolescentes

 Aquisição dos objetivos comuns

 Conjugalidade e parentalidade

 Fase das aquisições

Profa.Mariana Boeckel 3
Fase Adolescente

 Junto com a adolescência dos filhos, a


“família adolesce”

 Revisão da hierarquia, das normas, das


regras.

 Processos comunicacionais

Profa.Mariana Boeckel 4
Fase Madura
 A fase mais duradoura

 Saída dos filhos de casa

 Entrada dos netos

 Ninho vazio e, muitas vezes, novo movimento do


resgate de laços com os netos.

 Perdas e envelhecimento.

Profa.Mariana Boeckel 5
Fase Última
 O casal volta a ficar só ou sob cuidado dos
filhos.

 Resgate do companheirismo.

 Condições socioeconômicas e de saúde mais


favorecidas facilitam essa etapa.

 Viuvez é comum
Profa.Mariana Boeckel 6
 O eixo vertical: padrões de relacionamento e
funcionamento que são transmitidos
transgeracionalmente (ex: atitudes, experiências,
tabus, rótulos, questões opressivas familiares, etc).

 O eixo horizontal: questões desenvolvimentais, tanto


aos eventos predizíveis (casamento, nascimento dos
filhos, entrada dos filhos na escola...), como os
impredizíveis (morte prematura, nascimento de
criança deficiente, guerra, acidentes em geral....).

Profa.Mariana Boeckel 7
ESTRESSORES VERTICAIS

NÍVEIS DO SISTEMA Padrões, mitos, segredos e legados


1. Social, cultural, político

2. Comunidade, colegas de trabalho

3. Família ampliada

4. Família nuclear

5. Indivíduo

ESTRESSORES HORIZONTAIS

1. Desenvolvimentais

2. Imprevizíveis
Profa.Mariana Boeckel 8
Estágios do ciclo vital da família
(Carter e McGoldrick, 2001)

1. Saindo de casa: jovens solteiros


2. A união de famílias no casamento: o novo casal
3. Famílias com filhos pequenos
4. Famílias com adolescentes
5. Lançando os filhos e seguindo em frente
6. Famílias no estágio tardio da vida.

Profa.Mariana Boeckel 9
1.Saindo de casa: jovens solteiros
 Objetivos: separação / independência;

 Fatores individuais: resolução das tarefas do estágio


adolescente;

 Fatores do sistema familiar: capacidade de tolerar a


ambigüidade na identidade profissional dos filhos
adultos e aceitar a variação das ligações emocionais e
dos estilos de vida fora da família imediata;

 Tarefas: permitir ao jovem separar-se da família e não


chamá-lo de volta cada vez que há crise.
Profa.Mariana Boeckel 10
 Individuação: processo pelo qual se busca autonomia
e identidade, que inicia-se na infância e estende-se até
a vida adulta.

 Ambivalência: pais tratam o jovem como um adulto


responsável e independente, porém, eles normalmente
seguem vigiando a maneira como essa autonomia se
realiza.

Profa.Mariana Boeckel 11
2. A união de famílias no
casamento: o novo casal
A ESCOLHA DO CÔNJUGE:
 A escolha do cônjuge que é aparentemente livre e espontânea, passa
a ter sentido posteriormente, pela forma como vai se inserir na
história familiar já existente.
 Verifica-se uma forte tendência à repetição de padrões de
relacionamentos afetivos experimentados na infância.
 Esta repetição costuma ocorrer porque os indivíduos desenvolvem,
nas famílias de origem, vícios emocionais, em forma de
expectativas e reatividade a certas pessoas e relacionamentos que,
se não são renegociados na idade adulta, acabam deslocados para o
casamento. Profa.Mariana Boeckel 12
Bowen (1979) - sem se dar conta, o indivíduo se casa com a
recriação perfeita da própria família de origem. Cada cônjuge tentar
coagir o outro, inconscientemente, de modo a fazê-lo responsável
pelas injustiças sofridas e pelos méritos acumulados na sua própria
família de origem.
Isto acontece porque qualquer dificuldade experimentada na relação
pais-filho, fará com que o sujeito tente encontrar, nas sucessivas
relações, uma solução para o problema apresentado.
Com isso, muitas pessoas, seguidamente, repetem padrões
destrutivos aprendidos nas suas famílias de origem.

Profa.Mariana Boeckel 13
Barbach e Geisinger (1998) – repetição de padrões
autodestrutivos não decorrente de necessidades
masoquistas, mas sim por um desejo inconsciente de dar
ao drama uma conclusão diferente e mais gratificante.
Nesse sentido, a escolha do cônjuge estaria sendo feita
com o propósito de busca de homeostase no
relacionamento com a família de origem.

Profa.Mariana Boeckel 14
CASAMENTO
 Matrimônio processo evolutivo CRISE

modelo adulto de intimidade


 Amor romântico Amor da realidade
 Cada fase crise típica
 Luta para superar crise mantém vivo casamento
 Evitar crise manter o nível da idealização
 Conflito = tesouro/ alavanca para a mudança se houver
comprometimento com a relação.
 Mudança de uma fase p/ outra é necessário flexibilização e
adaptação
Profa.Mariana Boeckel 15
Costa (2000) - itens básicos para uma relação
conjugal mais satisfatória/funcional:

 Clara e definida separação da família de origem;


 Compatibilização entre vida em comum e autonomia;
 Vida sexual satisfatória para ambos;
 Reconhecimento, desde o princípio, de que o casamento não
é um “mar de rosas” e que os conflitos são inevitáveis;
 Manutenção da idealização inicial do relacionamento;
 Predomínio da comunicação verbal clara e objetiva como
forma de expressão de expectativas e insatisfações;
 Cumplicidade conjugal;
 Interação com o meio social;
 Ampliação da relação para inclusão dos filhos;
 Condições para tornar o casamento uma relação alegre e
divertida.
Profa.Mariana Boeckel 16
CONTRATO CONJUGAL
Para oficializar a transição ao status de casal, os relacionamentos
são definidos através de um contrato civil, religioso ou de um
acordo entre as partes, no qual são compartilhados prazeres e
obrigações, direitos e deveres.
Os casais fazem uma espécie de contrato metafórico, implícito.
Jackson (1997) – “quid pro quo conjugal” – literalmente uma
coisa por outra – cada cônjuge recebe alguma coisa em troca de
algo que dá.
O contrato de interação tem características únicas para cada casal,
porque se desenvolve a partir dos desejos e dos esforços mais
básicos de cada cônjuge.
Profa.Mariana Boeckel 17
PERIGO

Quando a essência da relação é um contrato não


negociado pelos integrantes do casal. Cada cônjuge atua
como se o seu próprio programa matrimonial fosse um
pacto combinado e firmado por ambos. Esses não são
verdadeiros acordos, mas dois conjuntos diferentes de
expectativas, desejos e obrigações que existem na mente
de cada cônjuge. Tais não-contratos representam o
exemplo mais comum, clássico e devastador da falta de
comunicação eficaz.

Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 18


• É importante que contrato individual seja coerente internamente
e congruente ou complementar em relação ao do cônjuge.
• Quando os contratos se aproximam e formam um contrato único,
com cláusulas aceitas por ambos esposos, é provável que haja
um intercâmbio mais saudável e satisfatório entre os cônjuges.
• Contrato único, do casal, deve ser dinâmico.
• O casal deve ser capaz de colocar seu casamento em primeiro
lugar, sem ter de romper com suas famílias de origem.
• Faz-se necessário olhar criticamente para sua própria família e
suas próprias origens para decidir que valores devem ser
mantidos e quais devem ser descartados no seu relacionamento
atual. A incapacidade de formalizar no casamento um
relacionamento efetivamente de casal indica que elas ainda estão
muito emaranhadas com suas próprias famílias.

Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 19


INFLUÊNCIAS CULTURAIS

Homens e mulheres herdam, da mídia, da


literatura e da história popular, diferentes mitos a
respeito do casamento.
Cinderela, Bela Adormecida, ... (o
príncipe salva a mocinha e a leva à
MULHERES
porta de seu castelo onde viverão
felizes para sempre)
“Senhor do Castelo” ou
HOMENS
prisioneiro dele.

Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 20


FUNÇÕES DO SUBSISTEMA
CONJUGAL

O casal desempenha funções específicas que são vitais para


o funcionamento da relação. Eles devem conseguir que
cada um apóie o outro, ou seja, devem desenvolver
padrões de complementaridade. Entretanto, é importante
que cada esposo se entregue ao relacionamento sem ter a
sensação de renuncia a sua individualidade ou as suas
questões familiares (Minuchin, 1982).

Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 21


PODER E IGUALDADE

ADAPTABILIDADE

COESÃO

EU + TU = NÓS
Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 22
PROCESSOS COMUNICATIVOS

EXPRESSÃO DAS EMOÇÕES

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 23


TÊNIS E FRESCOBOL (Rubem Alves)

Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os


casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e há os
casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte
de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo
frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a


qual concordo inteiramente. Dizia ele: ‘Ao pensar sobre a possibilidade
do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ‘Você crê
que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua
velhice?\' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que
desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.’

Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 24


TÊNIS E FRESCOBOL (Rubem Alves) – cont.

Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da


cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os
prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme O
império dos sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, e o amor
não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra:
começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma
noites. O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A
música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o
amor que ressuscita sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o
corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que
pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar
repetindo o tempo todo: ‘Eu te amo, eu te amo...’ Barthes advertia: ‘Passada a
primeira confissão, ‘eu te amo\' não quer dizer mais nada.’ É na conversa que o
nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez
poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: ‘Erótica é a alma.’
Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 25
TÊNIS E FRESCOBOL (Rubem Alves) – cont.

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua


derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis
para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto
fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada -
palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar,
interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no
momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado
fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 26


TÊNIS E FRESCOBOL (Rubem Alves) – cont.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas


raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum
dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de
propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no
lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque
não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém
ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é
que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação
precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o
gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede
desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem
importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém
marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma
de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 27


TÊNIS E FRESCOBOL (Rubem Alves) – cont.

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à
espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos
fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos
Primeiros cadernos, é sobre este jogo de tênis:
‘Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de brilhar. A segunda
guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói todos os propósitos do caro
esposo. Desta forma marca constantemente a sua superioridade. O outro domina-se, mas
sofre uma humilhação e é assim que nasce o ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se
faça mais estúpido do que é, meu amigo\'. A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele
cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida\'. A
situação está salva e o ódio vai aumentando.’
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como
bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui,
quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser
preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é
aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola
vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja
então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
Profa.Mariana Boeckel e Denise Falcke 28

Você também pode gostar