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Importância da

Família na Avaliação
Orientação Familiar
Psicopegógica
Professora Angélica Chico
Professora Angélica Chico
Orientação Familiar

AS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES 5


1. Introdução 5
2. A Família, um breve histórico 5
3. A família contemporânea ou pós-moderna 6
4. A família e a escola como contextos de
desenvolvimento humano 7
SUMÁRIO 5. A Família e suas configurações 8
6. Vínculos familiares e redes de apoio: implicações para
o desenvolvimento 10
7. A escola como contexto de desenvolvimento humano 11
7.1 A escola e sua função social 11
8. Compreendendo as relações família-escola 12
8.1 Desafios e perspectivas 15
9. Identidade, família e relações sociais em adolescentes
de grupos populares 22
10. Como nasceu a Psicopedagogia... 23
Papel do Psicopedagogo 23
11. ORIENTAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA PARA OS PAIS
SOBRE O COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS 24
11.1 Comportamentos-alvo 27
11.2 Viver em conjunto: a importância dos limites 27
Textos de apoio 31
Vídeos: 31
Referências: 32
Orientação Familiar

AS NOVAS CONFIGURAÇÕES surgiu como uma forma de isolar a criança do


FAMILIARES mundo “sujo” dos adultos, a fim de preservar
a sua inocência, e também como uma forma
1. Introdução de “vigiar” o próprio filho, não abandoná-lo
Inicialmente, é necessário explicarmos e sim tê-lo mais perto. Com isso, foi possível
de que família estamos falando, quais são observar uma transformação nas realidades e
essas novas configurações e em que contexto nos sentimentos de família, que passou a ter
elas estão imersas, assim talvez consigamos um outro papel, definido também nos tratados
entender por que a atuação da escola tem de educação. Os pais deviam preocupar-se com
precisado se expandir para “além dos muros” a escolha da escola e do preceptor do filho, a
e possamos pensar em ações diversas “dentro supervisão dos estudos, o acompanhamento
dos muros da escola”, incluindo cada vez mais das tarefas etc.
as famílias. Juntamente com essas transformações, foi
Utilizaremos como aporte teórico alguns possível observar mais uma: a família, que
pensadores, como o sociólogo Zigmund era uma sociedade preocupada em evitar
Bauman, os psicanalistas Renato Mezan, os esfacelamento do patrimônio e assegurar
Elizabeth Roudinesco e Joel Birman, Philippe sua transmissão, também por intermédio da
Ariès, entre outros. primogenitura, passou a se preocupar com a
igualdade entre os filhos. Todos deviam ter os
mesmos direitos, não somente o primogênito
2. A Família, um breve ou o que mais agradava aos pais. O privilégio
da primogenitura passou a ser questionado,
histórico e, no final do século XVIII, o código civil não
No século XII, a família era mais uma mais beneficiava o filho por ela ou pela escolha
realidade social e moral do que sentimental. dos pais para a herança do patrimônio.
Não existia um sentimento profundo entre pais A família-casa, que era uma sociedade-
e filhos. Os casamentos eram arranjados pelos negócio, passou a outra condição: família-
pais, e não havia nenhuma preocupação com a sentimento. Passou a haver um clima de
vida afetiva e sexual dos que formariam o futuro maior afetividade, intimidade. Dentro desse
casal. A família tinha como função preservar o contexto, os pais puderam olhar para os filhos
patrimônio e assegurar sua transmissão. O pai de forma mais imparcial, e toda a realidade
era a figura da autoridade que se estabelecia familiar passou a se basear na afeição. Além
nessa época, era como “Deus”. de todas essas transformações internas, era
A criança, aos sete anos, saía de casa e necessária uma transformação externa. Como
era encaminhada a outra família para fazer o coloca Philippe Ariès (1981), “ainda estava-se
serviço doméstico. Era por meio desse contato muito longe da família moderna e de sua forte
que se dava a aprendizagem. O mestre vida interior; antiga sociabilidade, incompatível
transmitia à criança, que não era seu filho, com esse tipo de família, subsistia quase que
o conhecimento, os valores e a experiência integralmente”.
prática. A escola era uma exceção: a regra Havia necessidade de “a casa se fechar”, de
comum era essa aprendizagem direta no seio existir uma separação entre a vida profissional,
de uma família estranha. Assim, a educação privada, de divertimentos coletivos, pois
dava-se pela prática e pelo costume. tudo ocorria no mesmo espaço físico, o que
Entre os séculos XV e XVII, iniciou-se dificultava a construção da intimidade. “No
uma mudança lenta e profunda. A educação século XVIII, a família começou a manter
passou a ser fornecida cada vez mais pela a sociedade a distância, a confiná-la a um
escola, que deixou de ser uma exceção para espaço limitado, aquém de uma zona cada
transformar-se aos poucos na regra. A escola vez mais extensa da vida particular” (ARIÈS,

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1981). Essa não é mais a família medieval que ● A


● entrada da mulher no mercado de
não considerava a criança, que a afastava do trabalho causou várias mudanças den-
convívio familiar, nem tampouco a família que tro da organização familiar. Esse fato
passou a entender a importância de manter é fruto de questões sociais e políti-
seus filhos por perto e que, embora buscasse cas em que não vamos nos deter. A
certa intimidade, não conseguia, em função questão, para este trabalho, é que a
da “invasão” do mundo externo. Essa é a mulher passou a ter outros interesses,
família moderna, que se impõe entre o final não se dedica mais exclusivamente a
do século XVIII e meados do século XX, que sua prole e ao seu marido, começou a
tem características diferentes que foram se se abrir para outro mundo. Há até uma
construindo ao longo do tempo. ideia que a mulher está se masculini-
Essa família tem como preocupação a zando e que o homem está se tornan-
igualdade entre os filhos, a educação e a do cada vez mais sensível. A questão
saúde. Há, como já vimos, uma preocupação colocada é como os filhos de um casal
com os laços afetivos. A família não é mais com essa característica poderiam ter
uma sociedade-negócio, por isso também os uma identidade estável.
pais não mais escolhem os maridos/esposas ● O
● divórcio é outra mudança impor-
para os filhos. O casamento é baseado no tante: o casamento não é mais uma
amor e na afeição entre os futuros cônjuges; união indissolúvel.
o cuidado com os filhos e a divisão do trabalho ● A
● procriação medicamente assistida
também são valorizados. A autoridade está trouxe uma outra possibilidade para a
dividida entre os pais e o Estado (que mantém constituição das famílias.
as escolas), de um lado, e entre os pais e as ●
● O desejo dos homossexuais con-
mães, de outro, que se preocupam com o stituírem uma família com filhos ado-
bem-estar do filho. tivos ou não.

Além do que foi levantado, estamos diante de


uma sociedade menos rígida que a anterior e,
3. A família contemporânea ao mesmo tempo, bastante fragmentada, com
um ritmo acelerado de mudança; menos clara na
ou pós-moderna identificação e na comunicação de quais são os
A partir de 1960, surgiu a família pós- valores importantes; com uma maior tolerância
moderna ou contemporânea. Uma das quanto aos aspectos sexuais etc. Também
características dela é a união de duas pessoas estamos diante de uma sociedade voltada
em busca de relações íntimas ou relações para o consumo, extremamente individualista,
que avançou muito em diversos aspectos
sexuais.
tecnológicos, sociais, sexuais, mas está pouco
Certos acontecimentos externos à família
clara em outros valores, como no papel da
nuclear (pai, mãe e filhos) promoveram
autoridade etc.
mudanças importantes e acabaram tendo
Não se trata de um sentimento saudosista,
consequências na organização familiar.
pois as transformações são necessárias e
Lembremos alguns deles: não há como retroceder. Trata-se de constatar
minimamente a sociedade da qual hoje fazemos

● O advento da contracepção: a mulher parte e discutir como a escola pode apoiar
passou a ter poder sobre a concepção, essa família contemporânea na educação das
a definir quando e com quem deseja crianças, como contribuir para que os pais
ter filhos, escolher a satisfação sexual consigam se posicionar diante dos filhos em
independentemente da procriação. questões muitas vezes corriqueiras e óbvias,
como definir a hora em que a criança de oito

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anos deve ir para a cama e conseguir que ela


desse envolvimento para o desenvolvimento
atenda a essa orientação.
social e cognitivo e o sucesso escolar do aluno.
Com a revolução feminista, houve uma
No artigo de Dessen e Polonia (2007), os
transformação da ordem familiar, com o
ambientes familiar e escolar são descritos
crescimento, por exemplo, de famílias
como contextos de desenvolvimento humano,
monoparentais, com presença só de pai ou só
da mãe, da união da prole do marido com a da ressaltando a importância do estabelecimento
nova esposa, entre outras configurações. Com de relações apropriadas entre ambos. A
isso, houve uma diluição da autoridade, e, na primeira seção trata da família e de seu espaço
maioria dos casos, esta foi deslocada para a como agente socializador, enfatizando aspectos
escola. Atualmente, observamos, como coloca relacionados às configurações familiares, à rede
Joel Birmane (apud DESSEN; POLONIA, 2007), social de apoio e aos vínculos familiares e suas
uma diluição e um deslocamento da autoridade. implicações para o desenvolvimento humano.
Na segunda seção, a escola é destacada como
um contexto de desenvolvimento, priorizando
4. A família e a escola uma reflexão sobre sua função social, suas
tarefas e papéis na sociedade contemporânea,
como contextos de especificamente no que diz respeito ao
cenário político-pedagógico. A terceira seção
desenvolvimento humano apresenta argumentos na direção de estimular
A escola e a família compartilham funções o envolvimento entre a família e a escola.
sociais, políticas e educacionais, na medida Enfatiza-se a necessidade de envidar esforços
em que contribuem para e influenciam para melhor compreender as relações família-
a formação do cidadão (REGO, 2003). escola, de modo a assegurar que ambos os
Ambas são responsáveis pela transmissão e contextos sejam espaços efetivos para a
construção do conhecimento culturalmente aprendizagem e o desenvolvimento humano.
organizado, modificando as formas de A família, presente em todas as sociedades,
funcionamento psicológico de acordo com é um dos primeiros ambientes de socialização
as expectativas de cada ambiente. Portanto, do indivíduo, atuando como mediadora
a família e a escola emergem como duas principal dos padrões, modelos e influências
instituições fundamentais para desencadear culturais (AMAZONAS et al., 2003; KREPPNER,
os processos evolutivos das pessoas, atuando 1992; 2000). É também considerada a primeira
como propulsoras ou inibidoras do seu instituição social que, em conjunto com outras,
crescimento físico, intelectual, emocional e busca assegurar a continuidade e o bem-estar
social. Na escola, os conteúdos curriculares dos seus membros e da coletividade, incluindo
asseguram a instrução e a apreensão de a proteção da criança. A família é vista como um
conhecimentos, havendo uma preocupação sistema social responsável pela transmissão de
central com o processo ensino-aprendizagem. valores, crenças, ideias e significados que estão
Já na família, objetivos, conteúdos e métodos presentes nas sociedades (KREPPNER, 2000).
diferenciam-se, fomentando o processo de Ela tem, portanto, um impacto significativo e
socialização, a proteção, as condições básicas uma forte influência no comportamento dos
de sobrevivência e o desenvolvimento de seus indivíduos, especialmente das crianças, que
membros nos planos social, cognitivo e afetivo. aprendem as diferentes formas de existir, de
A integração entre escola e família tem ver o mundo e de construir as suas relações
despertado, recentemente, o interesse dos sociais.
pesquisadores (DAVIES; MARQUES; SILVA, É por meio das interações familiares
1997; MARQUES, 2002; OLIVEIRA et al., 2002), que se concretizam as transformações nas
principalmente no que se refere às implicações sociedades, que, por sua vez, influenciarão as
relações familiares futuras. Isso se caracteriza

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como um processo de influências bidirecionais antigos e o estabelecimento de novas relações,


entre os membros familiares e os diferentes e se adaptado a elas (CHAVES et al., 2002 apud
ambientes que compõem os sistemas sociais, DESSEN; POLONIA, 2007). Como parte de um
dentre eles a escola, que constituem fator sistema social, englobando vários subsistemas,
preponderante para o desenvolvimento da os papéis dos seus membros são estabelecidos
pessoa. em função dos estágios de desenvolvimento do
Portanto, as transformações tecnológicas, indivíduo e da família, vista na condição grupo
sociais e econômicas favorecem as mudanças (DESSEN, 1997; KREPPNER, 1992; 2000).
na estrutura, na organização e nos padrões Por exemplo, ser adolescente crescendo em
familiares e, também, nas expectativas e uma família “nuclear tradicional”, com irmãos
nos papéis de seus membros. A constituição biológicos, é diferente de sê-lo em uma família
e a estrutura familiar, por sua vez, afetam recasada, coabitando com padrasto e irmãos
diretamente a elaboração do conhecimento não biológicos.
e as formas de interação no cotidiano das Sendo composta por uma complexa e
famílias (AMAZONAS et al., 2003; CAMPOS; dinâmica rede de interações que envolve
FRANCISCHINI, 2003). Portanto, ela é a aspectos cognitivos, sociais, afetivos e
principal responsável por incorporar as culturais, a família não pode ser definida
transformações sociais e intergeracionais apenas pelos laços de consanguinidade, mas
ocorridas ao longo do tempo, com os pais sim por um conjunto de variáveis, incluindo o
exercendo um papel preponderante na significado das interações e relações entre as
construção da pessoa, de sua personalidade e pessoas (PETZOLD, 1996). A própria concepção
de sua inserção no mundo social e do trabalho científica dela evidencia o entrelaçamento
(TÁVORA, 2003; VOLLING; ELINS, 1998). das variáveis biológicas, sociais, culturais e
No ambiente familiar, a criança aprende a históricas que exercem grande influência nas
administrar e resolver os conflitos, a controlar relações familiares, constituindo a base para
as emoções, a expressar os diferentes as formas contemporâneas dela. Os laços de
sentimentos que constituem as relações consanguinidade, as formas legais de união,
interpessoais, a lidar com as diversidades o grau de intimidade nas relações, as formas
e adversidades da vida (WAGNER et al., de moradia, o compartilhamento de renda são
1999). Essas habilidades sociais e sua forma algumas dessas variáveis, que, combinadas,
de expressão, inicialmente desenvolvidas permitem a identificação de 196 tipos de
no âmbito familiar, têm repercussões em famílias, produto de cinco subsistemas
outros ambientes com os quais a criança, o resultantes da concepção ecológica de micro,
adolescente ou mesmo o adulto interagem, meso, exo, macro e cronossistema (PETZOLD,
acionando aspectos salutares ou provocando 1996).
problemas e alterando a saúde mental e física De acordo com a concepção proposta por
dos indivíduos (DEL PRETTE; DEL PRETTE, Petzold (1996), a combinação derivada do
2001). microssistema tem como base as relações
diádicas, isto é, como os genitores interagem,
com destaque para o grau de intimidade: se
o estilo de vida é compartilhado ou separado,
5. A Família e suas se essa relação é considerada heterossexual
ou homossexual, se há alteridade no poder ou
configurações não. Já aquelas influências provenientes do
Os membros de famílias contemporâneas mesossistema compreendem as relações com
têm se deparado com as novas formas de os filhos, ou seja, a sua presença ou ausência,
coexistência oriundas das mudanças nas se eles são biológicos ou adotivos e se moram
sociedades, isto é, do conflito entre os valores com os pais ou não.

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O exossistema do grupo familiar engloba os A família também é a responsável pela


contextos e as redes sociais que asseguram o transmissão de valores culturais de uma
sentimento de pertencer a um grupo especial, geração para outra. Essa transmissão de
social ou cultural, tais como as relações mantidas conhecimentos e significados possibilita o
por laços de consanguinidade ou casamento, compartilhar de regras, valores, sonhos,
vínculos de dependência ou autonomia perspectivas e padrões de relacionamentos,
financeira ou emocional. O macrossistema bem como a valorização do potencial dos seus
reflete os valores e as crenças compartilhadas membros e de suas habilidades em acumular,
por um conjunto de pessoas, por exemplo, ampliar e diversificar as experiências. De
relacionadas ao fato de a união ser civil ou não, acordo com Kreppner (2000), a família e suas
de a relação ser estável ou temporária, de os redes de interações asseguram a continuidade
cônjuges habitarem ou não o mesmo espaço biológica, as tradições, os modelos de vida,
físico. E, por fim, o cronossistema diz respeito além dos significados culturais, que são
às transformações da família na sociedade, atualizados e resgatados cronologicamente.
incluindo as suas diferentes configurações Ao desempenhar suas funções, dentre
ao longo do tempo, dentre as quais a família as quais a socialização da criança, a família
extensa e a monoparental. estabelece uma estrutura mínima de
O próprio conceito de família e a configuração atividades e relações, em que os papéis de
dela têm evoluído para retratar as relações mãe, pai, filho, irmão, esposa, marido e
que se estabelecem na sociedade atual. Não outros são evidenciados. Todavia, a formação
existe uma configuração familiar ideal, porque dos vínculos afetivos não é imutável, pelo
são inúmeras as combinações e formas de contrário, vai se diferenciando e progredindo
interação entre os indivíduos que constituem mediante as modificações do próprio
os diferentes tipos de famílias contemporâneas desenvolvimento da pessoa, as demandas
(STRATTON, 2003): nucleares tradicionais, sociais e as transformações sofridas pelo
recasadas, monoparentais, homossexuais, grupo sociocultural (KREPPNER, 2000). De
dentre outras. Os padrões familiares vão se acordo com esse autor, além de se adaptar
transformando e absorvendo as mudanças às mudanças decorrentes do crescimento dos
psicológicas, sociais, políticas, econômicas seus membros, a família ainda tem a tarefa
e culturais, o que requer adaptações e de manter o bem-estar psicológico de cada
acomodações às realidades enfrentadas um, buscando sempre nova estabilidade nas
(WAGNER; HALPERN; BORNHOLDT, 1999). Os relações familiares.
arranjos familiares distintos que vão surgindo, Nesse processo contínuo de busca por
por sua vez, provocam transformações nas estabilidade, as famílias contam ou não
relações familiares, nos papéis desempenhados com o suporte de uma rede social de apoio,
pelos seus membros, nos valores, nas funções que permite a elas superarem (ou não) as
intergeracionais, nas expectativas e nos dificuldades decorrentes de transições do
processos de desenvolvimento do indivíduo. desenvolvimento (DESSEN; BRAZ, 2000).
Portanto, a família, hoje, não é mais vista Independentemente do que ocorre no âmbito
como um sistema privado de relações; ao familiar, elas são produtoras de mudanças que
contrário, as atividades individuais e coletivas podem funcionar como aspectos propulsores ou
estão intimamente ligadas e influenciam- inibidores do desenvolvimento, influenciando,
se mutuamente. O que ocorre na família direta ou indiretamente, os modos de criação
e na sociedade é sintetizado, elaborado dos filhos. No entanto, a principal rede de apoio
e modificado, provocando a evolução e a da família é oriunda das próprias interações
atualização dessa instituição e de sua história entre seus membros. Contatos negativos,
(KREPPNER, 1992). conflitos, rompimentos e insatisfações podem
gerar problemas futuros, particularmente nas

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Orientação Familiar

crianças. Por outro lado, relações satisfatórias e transferida, posteriormente, para outras
felizes entre marido e esposa constituem fonte relações interpessoais, na escola e no grupo
de apoio para ambos os cônjuges, sobretudo de amigos. Paralelamente, identificaram
para a mulher (DESSEN; BRAZ, 2005). que a qualidade da relação com os pares e
amigos pode compensar a baixa qualidade de
interação materna.
6. Vínculos familiares e Os laços afetivos asseguram o apoio
psicológico e social entre os membros
redes de apoio: implicações familiares, ajudando no enfrentamento
do estresse provocado por dificuldades do
para o desenvolvimento cotidiano (OLIVEIRA; BASTOS, 2000). E os
Os laços afetivos formados dentro da padrões de relações familiares relacionam-se
família, particularmente entre pais e filhos, intrinsecamente a uma rede de apoio que pode
podem ser aspectos desencadeadores de ser ativada em momentos críticos, fomentando
um desenvolvimento saudável e de padrões o sentimento de pertença, a busca de soluções
de interação positivos que possibilitam o e atividades compartilhadas.
ajustamento do indivíduo aos diferentes No entanto, nem sempre as famílias
ambientes de que participa. Por exemplo, o constituem uma rede de apoio funcional e
apoio parental, em nível cognitivo, emocional satisfatória, ou mesmo melhor que outras.
e social, permite à criança desenvolver Dell’Aglio e Hutz (2002) compararam
repertórios saudáveis para enfrentar as estratégias de enfrentamento entre crianças
situações cotidianas (EISENBERG et al., 1999, institucionalizadas e outras que viviam com
apud DESSEN; POLONIA, 2007). Por outro suas famílias e não encontraram diferenças na
lado, esses laços afetivos podem dificultar o busca de apoio social e ação agressiva. Segundo
desenvolvimento, provocando problemas de os autores, muitas vezes, as instituições têm
ajustamento social (BOOTH; RUBIN; ROSE- condições físicas, materiais e organizacionais
KRASNOR, 1998). Volling e Elins (1998) e contam com profissionais e rotinas que
mostram que o estresse parental, a insatisfação estabelecem uma rede social de apoio forte
familiar e a incongruência nas atitudes dos e adequada. Portanto, o desenvolvimento de
pais em relação à criança geram problemas de estratégias de enfrentamento apropriadas
ajustamento e dificuldades de interação social. é influenciado por qualidade das relações
As figuras parentais exercem grande afetivas, coesão, segurança, ausência de
influência na construção dos vínculos discórdia e organização, quer na família
afetivos, da autoestima, do autoconceito. ou na instituição. Tais aspectos constituem
Também constroem modelos de relações importantes fatores de proteção para o
que são transferidos para outros contextos indivíduo, favorecendo o desenvolvimento
e momentos de interação social (VOLLING; de habilidades e competências sociais e,
ELINS, 1998). Por exemplo, pais punitivos e consequentemente, sua capacidade de
coercitivos podem provocar em seus filhos adaptação às situações cotidianas (CHAVES et
comportamentos de insegurança, dificuldades al., 2003).
de estabelecer e manter vínculos com outras Diante dos problemas e desafios enfrentados
crianças, além de problemas de risco social na pela família, e sem uma rede de apoio social
escola e na vida adulta. Booth, Rubin e Rose- que promova a superação do estresse, a
Krasnor (1998) investigaram o apoio social resolução de conflitos e o restabelecimento de
e emocional de mães e de outras pessoas uma dinâmica familiar saudável, as famílias
envolvidas com a criança e suas repercussões podem desenvolver padrões de relacionamento
na adolescência e vida adulta. Eles observaram disfuncionais, tais como maus tratos à criança,
que a qualidade da relação mãe-criança é violência intrafamiliar, abuso de substâncias,

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Orientação Familiar

conflitos. Nesses casos, as instituições Como um microssistema da sociedade, ela


públicas ou privadas, incluindo a escola, têm não apenas reflete as transformações atuais
um papel importante oferecendo apoio, direta como também tem que lidar com as diferentes
ou indiretamente, por meio de programas de demandas do mundo globalizado. Uma de
educação familiar (DESSEN; PEREIRA-SILVA, suas tarefas mais importantes, embora
2004) ou de elaboração de políticas públicas difícil de ser implementada, é preparar
para a promoção da saúde. Estas devem tanto alunos como professores e pais para
considerar os fatores de estresse e estimular viverem e superarem as dificuldades em um
a formação de redes de apoio social, seja mundo de mudanças rápidas e de conflitos
na própria comunidade ou nos centros de interpessoais, contribuindo para o processo de
atendimento à população, seja na escola, já desenvolvimento do indivíduo.
que esta ocupa um lugar de destaque nas Coerente com essa concepção, à escola
sociedades contemporâneas.   compete propiciar recursos psicológicos para
a evolução intelectual, social e cultural do
homem (HEDEGGARD, 2002; REGO, 2003).
7. A escola como contexto Ao desenvolver, por meio de atividades
sistemáticas, a articulação dos conhecimentos
de desenvolvimento culturalmente organizados, ela possibilita
a apropriação da experiência acumulada e
humano das formas de pensar, agir e interagir no
A escola constitui um contexto diversificado mundo oriundas dela. Concomitantemente,
de desenvolvimento e aprendizagem, isto é, um proporciona o emprego da linguagem
local que reúne diversidade de conhecimentos, simbólica, a apreensão dos conteúdos
atividades, regras e valores e que é permeado acadêmicos e a compreensão dos mecanismos
por conflitos, problemas e diferenças envolvidos no funcionamento mental,
(MAHONEY, 2002 apud DESSEN; POLONIA, fundamentais ao processo de aprendizagem.
2007). É nesse espaço físico, psicológico, Assim, a atualização do conhecimento cultural
social e cultural que os indivíduos processam e sua organização constante são premissas
o seu desenvolvimento global, mediante as importantes para entender o papel da escola e
atividades programadas e realizadas em sala sua relação com a pessoa em desenvolvimento.
de aula e fora dela (REGO, 2003). O sistema A escola é uma instituição social com
escolar, além de envolver uma gama de objetivos e metas determinados, que emprega
pessoas, com características diferenciadas, e reelabora os conhecimentos socialmente
inclui um número significativo de interações produzidos, com o intuito de promover a
contínuas e complexas, em função dos estágios aprendizagem e efetivar o desenvolvimento
de desenvolvimento do aluno. Trata-se de um das funções psicológicas superiores: memória
ambiente multicultural que abrange também a seletiva, criatividade, associação de ideias,
construção de laços afetivos e o preparo para organização e sequência de conhecimentos,
a inserção na sociedade (OLIVEIRA, 2000). dentre outras (OLIVEIRA, 2000). Ela é um
espaço em que o indivíduo tende a funcionar
7.1 A escola e sua função de maneira preditiva, pois, em sala de aula, há
social momentos e atividades que são estruturados
com objetivos programados e outros mais
A escola emerge, portanto, como uma informais que se estabelecem na interação da
instituição fundamental para o indivíduo e pessoa com seu ambiente social. Por exemplo,
sua constituição, assim como para a evolução na escola, o aluno tem rotinas como hora do
da sociedade e da humanidade (DAVIES; intervalo e do lanche, em que os objetivos
MARQUES; SILVA, 1997; REGO, 2003). educacionais se dirigem à convivência em

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Orientação Familiar

grupo e à inserção na coletividade. No e aprender, tais como memória seletiva,


tocante às atividades acadêmicas, espera- criatividade, raciocínio abstrato, pensamento
se, por exemplo, que os alunos dominem a lógico, tendo o professor uma função
interpretação e as regras fundamentais para preponderante nessa mediação. Para Wallon
expressão oral e escrita e realizem cálculos de (apud ALMEIDA, 2000), a ideia da mediação
forma independente. do conhecimento realizada pelo professor,
O currículo escolar estabelece objetivos por meio de materiais concretos, padrões e
e atividades, conforme a série dos alunos, modelos de aprendizagem e comportamento,
facilitando o acompanhamento do processo permite que, na sala de aula, se incorpore
de ensino-aprendizagem nas diferentes faixas uma ação coletiva que se estrutura e funciona
etárias. Desde o maternal até a educação graças ao uso de estratégias específicas, como
de adultos, a escola tem peculiaridades em o trabalho em grupo e aos pares e a realização
relação à sua estrutura física e à organização de atividades recreativas e competitivas e
dos conteúdos e metodologias de ensino, jogos.No entanto, o uso de estratégias deve
respeitando e considerando a evolução ser adaptado às realidades distintas dos alunos
do aprendiz, bem como articulando os e professores, às demandas da comunidade e
conhecimentos científicos às experiências dos aos recursos disponíveis, levando em conta
alunos. Por exemplo, no ensino médio, espera-se as condições e peculiaridades de cada época
que o aluno apresente um raciocínio hipotético- ou momento histórico. Nesse sentido, é
dedutivo, demonstre autonomia nos estudos e importante identificar as condições evolutivas
pesquisas, enquanto que, no fundamental, os dos segmentos - professores, alunos, pais e
objetivos se dirigem ao domínio das operações comunidade em geral - para o planejamento
complexas, empregando materiais concretos e de atividades no âmbito da escola.
experiências advindas do contexto familiar do Em síntese, a escola é uma instituição em
aluno (BRASIL, 2001). que se priorizam as atividades educativas
Marques (2001) destaca que a função da formais, sendo identificada como um espaço
escola no século XXI tem o objetivo precípuo de desenvolvimento e aprendizagem, e o
de estimular o potencial do aluno, levando currículo, no seu sentido mais amplo, deve
em consideração as diferenças socioculturais envolver todas as experiências realizadas
em prol da aquisição do seu conhecimento nesse contexto. Isso significa considerar
e desenvolvimento global. Sob esse prisma, padrões relacionais, aspectos culturais,
ele aponta três objetivos que são comuns e cognitivos, afetivos, sociais e históricos que
devem ser buscados pelas escolas modernas: estão presentes nas interações e relações
(a) estimular e fomentar o desenvolvimento entre os diferentes segmentos. Dessa forma,
em níveis físico, afetivo, moral, cognitivo, de os conhecimentos oriundos da vivência familiar
personalidade; (b) desenvolver a consciência podem ser empregados como mediadores para
cidadã e a capacidade de intervenção no âmbito a construção dos conhecimentos científicos
social; (c) promover uma aprendizagem de trabalhados na escola.
forma contínua, propiciando ao aluno formas
diversificadas de aprender e condições de
inserção no mercado de trabalho. Isso implica, 8. Compreendendo as
necessariamente, promover atividades ligadas
aos domínios afetivo, motor, social e cognitivo, relações família-escola
de forma integrada à trajetória de vida da Para compreender os processos de
pessoa. desenvolvimento e seus impactos na pessoa,
O autor enfatiza também a importância das é preciso focalizar tanto o contexto familiar
tarefas desempenhadas em sala de aula que quanto o escolar e suas inter-relações
favorecem as formas superiores de pensar (POLONIA; DESSEN, 2005). Por exemplo, o

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Orientação Familiar

planejamento de pesquisa sobre violência As pesquisas têm demonstrado que os


na adolescência deve incluir tanto as pais estão constantemente preocupados
variáveis familiares, que podem contribuir e envolvidos com as atividades escolares
significativamente para a manutenção de dos filhos e que dirigem a sua atenção à
comportamentos antissociais na escola, quanto avaliação do aproveitamento escolar, sendo
as relacionadas diretamente com a escola, isso independente do nível socioeconômico
como o baixo desempenho acadêmico, que, ou da escolaridade (POLONIA; DESSEN,
aliadas aos fatores interpessoais, acentuam 2005). Os pais não somente supervisionam
esse problema (FERREIRA; MARTURANO, e acompanham a realização das atividades
2002; OLIVEIRA et al., 2002). escolares, mas também adotam, em suas
Outros exemplos bastante conhecidos são residências, estratégias voltadas à disciplina e
a evasão e a repetência escolar. Sabe-se que ao controle de atividades lúdicas. Essas ações
a estrutura familiar tem um forte impacto na permitem a eles analisarem, identificarem
permanência do aluno na escola, podendo e realizarem intervenções nos processos
evitar ou intensificar a evasão e a repetência. de desenvolvimento e aprendizagem dos
Dentre os aspectos que contribuem para isso, filhos (SANDERS; EPSTEIN, 1998). Ainda
estão as características individuais, a ausência nesse aspecto, Epstein (apud MARQUES,
de hábitos de estudo, a falta às aulas e os 2002) destaca o envolvimento dos pais
problemas de comportamento (FITZPATRICK; em atividades em casa que afetam a
YOELS, 1992). Em todos esses fatores, a família aprendizagem e o aproveitamento escolar. Esse
exerce uma poderosa influência. Embora um envolvimento ocorre sob diferentes formas
sistema escolar transformador possa reverter de acompanhamento das tarefas (monitorar
esses aspectos negativos, faz-se necessário a sua realização), ou, ainda, em orientações
que a escola conte com a colaboração de outros sistemáticas do comportamento social e do
contextos que influenciam significativamente engajamento dos filhos nas atividades da
a aprendizagem formal do aluno, incluindo a escola, realizadas por iniciativa própria ou por
família (FANTUZZO; TIGHE; CHILDS, 2000). sugestão desta.
É importante ressaltar que a família e a Os laços afetivos, estruturados e
escola são ambientes de desenvolvimento e consolidados tanto na escola como na família,
aprendizagem humana que podem funcionar permitem que os indivíduos lidem com
como propulsores ou inibidores. Estudar as conflitos, aproximações e situações oriundas
relações em cada contexto e entre eles constitui desses vínculos, aprendendo a resolver os
fonte importante de informação, na medida em problemas de maneira conjunta ou separada.
que permite identificar aspectos ou condições Nesse processo, os estágios diferenciados
que geram conflitos e ruídos nas comunicações de desenvolvimento, característicos dos
e, consequentemente, nos padrões de membros da família e também dos segmentos
colaboração. Nessa direção, é importante distintos da escola, constituem fatores
observar como a escola e, especificamente, os essenciais na direção de provocar mudanças
professores empregam as experiências que os nos papéis da pessoa em desenvolvimento,
alunos têm em casa. Face à leitura, é muito com repercussões diretas na sua experiência
importante que a escola conheça e saiba como acadêmica e psicológica. Dependendo do
utilizar as experiências domésticas para gerir as nível de desenvolvimento e das demandas do
competências imprescindíveis ao letramento. contexto, é possibilitado à criança, quando
A interpretação de textos ou a escrita podem entra na escola, um maior grau de autonomia
ser estimuladas pelos conhecimentos oriundos e independência comparado ao que tinha em
de outros contextos, que servem de auxílio à casa, o que amplia seu repertório social e seu
aprendizagem formal. círculo de relacionamentos. Nesse caso, a
escola oferece uma oportunidade de exercitar

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Orientação Familiar

um novo papel que propiciará mecanismos a necessidade de autonomia e independência


importantes para o seu desenvolvimento do aluno.
cognitivo, social, físico e afetivo, distintos do Apesar dos esforços tanto da escola
ambiente familiar. quanto da família em promoverem ações
Um outro aspecto a ser destacado nas de continuidade, há barreiras que geram
pesquisas e programas é a formação das redes descontinuidade e conflitos na integração
sociais de apoio. Deve-se, então, caracterizar entre esses dois microssistemas. Uma das
as dimensões distintas de envolvimento, seja dificuldades na integração família-escola
na família ou na escola, e descrever como e é que esta ainda não comporta, em seus
quando essa rede de relações e apoio à pessoa espaços acadêmicos, sociais e de interação,
em desenvolvimento pode ser utilizada. Na os diferentes segmentos da comunidade e,
família, há o reconhecimento do papel de pais, por isso, não possibilita uma distribuição
irmãos e outras pessoas que convivem com equitativa das competências e o compartilhar
a criança ou adolescente e sua contribuição das responsabilidades. Carneiro (2003) afirma
para o desenvolvimento geral e acadêmico. Na que a mudança desse paradigma depende
escola, destacam-se os professores e os pares, de uma transformação na cultura vigente da
uma vez que se envolvem cotidianamente em escola e que o projeto político-pedagógico
atividades programadas e realizam intervenções poderia ser um dos meios para promover essa
importantes que afetam o processo de ensino inserção.
e aprendizagem. Considerando que as redes Ainda, as formas de avaliação adotadas,
de apoio são constituídas pela diversidade bem como as estratégias para superar
de interações entre as pessoas, são estas as dificuldades presentes no processo de
que permitem a construção de repertórios ensino-aprendizagem, de maneira a incluir a
para lidar com as adversidades e problemas família, exigem que as escolas insiram essa
surgidos, possibilitando sua superação com discussão no projeto pedagógico, como forma
sucesso (FERREIRA; MARTURANO, 2002). de assegurar a sua compreensão e efetivar a
No tocante à colaboração escola-família, participação dos pais, que é ainda um ponto
é importante enfatizar a necessidade de crítico na esfera educacional. Com isso,
estruturar atividades apropriadas à série do pode-se romper o estereótipo presente da
aluno, particularmente em se tratando da preocupação centrada apenas nos resultados
participação dos pais no seu acompanhamento. acadêmicos (KRATOCHWILL et al., 2004).
Segundo Deslandes e Bertrand (2005), a Além disso, o conhecimento dos valores
necessidade ou não de supervisão aos filhos e das práticas educativas que são adotadas
depende das demandas implícitas ou explícitas em casa e que se refletem no âmbito escolar
deles, que, por sua vez, estão relacionadas a e vice-versa é imprescindível para manter
fatores como idade, independência, autonomia a continuidade das ações entre a família
e desempenho como aluno. Os autores vão e a escola (KELLER-LAINE, 1998 apud
além, afirmando que, ao participarem, os pais DESSEN; POLONIA, 2007). Sendo assim,
se predispõem e se sentem referendados pelos as escolas devem procurar inserir no seu
filhos, acionando recursos que envolvem a projeto pedagógico um espaço para valorizar,
ajuda e o acompanhamento; quando os filhos reconhecer e trabalhar as práticas educativas
mostram necessidade de trabalhar sozinhos, familiares e utilizá-las como recurso importante
os pais se afastam, reduzindo seu nível de nos processos de aprendizagem dos alunos. A
supervisão e auxílio às tarefas escolares. colaboração entre esses contextos deve levar
Essa é uma questão polêmica que requer em consideração as diferenças culturais, a
investigações mais detalhadas, considerando formação para A cidadania e a valorização de
a série, as competências exigidas pela escola e ações e de decisões coletivas (KRATOCHWILL
et al., 2004; MARQUES, 2002). As ações

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Orientação Familiar

educativas, verificadas no âmbito das relações As práticas educativas escolares têm também
interpessoais e nos resultados acadêmicos dos um cunho eminentemente social, uma vez
alunos, têm reflexos na participação efetiva que permitem a ampliação da inserção dos
e na integração escola-família, assegurando indivíduos como cidadãos e protagonistas
uma continuidade entre os dois segmentos. da história e da sociedade. A educação, em
Portanto, as escolas deveriam investir seu sentido amplo, torna-se um instrumento
no fortalecimento das associações de pais e importantíssimo para enfrentar os desafios do
mestres, no conselho escolar, dentre outros mundo globalizado e tecnológico.
espaços de participação, de modo a propiciar Apesar da complexidade e dos desafios
a articulação da família com a comunidade, que a escola enfrenta, não se pode deixar
estabelecendo relações mais próximas. A de reconhecer que os seus recursos são
adoção de estratégias que permitam aos pais indispensáveis para a formação global do
acompanharem as atividades curriculares indivíduo. Conhecendo a escola e suas funções,
beneficiam tanto a escola quanto a família. devem-se acionar fontes promotoras de saúde,
As investigações de Keller-Laine (1998) e tais como as redes sociais, a comunidade
de Sanders e Epstein (1998) enfatizam que escolar, os profissionais da escola - psicólogos,
é necessário planejar e implementar ações pedagogos e orientadores educacionais -,
que assegurem as parcerias entre esses dois que são gabaritados (ou deveriam ser) para
ambientes, visando à busca de objetivos realizar intervenções coletivas. É nesse espaço
comuns e de soluções para os desafios que as reflexões sobre os processos de ensino-
enfrentados pela sociedade e pela comunidade aprendizagem e as dificuldades que surgem
escolar. em sala ou em casa são realizadas (ROCHA;
MARCELO; PEREIRA, 2002; SOARES; ÁVILA;
SALVETTI, 2000).
8.1. Desafios e perspectivas Entretanto, como sublinham Soares, Ávila e
A família não é o único contexto em que Salvetti (2000), apesar de a escola desenvolver
a criança tem oportunidade de experienciar aspectos inerentes à socialização das pessoas
e ampliar seu repertório como sujeito de e ser responsável pela construção, elaboração
aprendizagem e desenvolvimento. A escola e difusão do conhecimento, ela vem passando
também tem sua parcela de contribuição no por crises vindas do cotidiano, que geram
desenvolvimento do indivíduo, especificamente conflitos e descontinuidades como a violência,
na aquisição do saber culturalmente organizado o insucesso escolar, a exclusão, a evasão e
em suas distintas áreas de conhecimento. a falta de apoio da comunidade e da família,
Como destaca Szymanski (2001), a ação entre outros. Nesse caso, o cenário político
educativa da escola e da família apresenta passa a exercer uma influência preponderante
nuances distintas quanto a objetivos, para a solução das crises, que extrapolam o
conteúdos, métodos e questões interligadas à cotidiano das escolas. Para superar os desafios
afetividade, bem como quanto a interações e que enfrentam, hoje, uma das alternativas é
contextos diversificados. promover a colaboração entre escola e família
Na escola, as crianças investem seu tempo (POLONIA; DESSEN, 2005), tarefa complexa
e envolvem-se em atividades diferenciadas que tem despertado o interesse de vários
ligadas às tarefas formais (pesquisa, leitura pesquisadores.
dirigida) e informais de aprendizagem (hora A família e a escola constituem os dois
do recreio, excursões, atividades de lazer). principais ambientes de desenvolvimento
Contudo, nesse ambiente, o atendimento às humano nas sociedades ocidentais
necessidades cognitivas, psicológicas, sociais contemporâneas. Assim, é fundamental que
e culturais é realizado de maneira mais sejam implementadas políticas que assegurem
estruturada e pedagógica do que no de casa. a aproximação entre os dois contextos, de

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Orientação Familiar

maneira a reconhecer suas peculiaridades das relações com os outros – ou seja, na vida
e também similaridades, sobretudo no grupal (LANE, 1996, p. 31).
tocante aos processos de desenvolvimento e
aprendizagem, não só em relação ao aluno, Para pensar na situação atual dos
mas também a todas as pessoas envolvidas. adolescentes de grupos populares, precisa-
se refletir sobre o modo como se sentem em
relação a si mesmos, quando olham para si
ou quando percebem que todos a sua volta os
9. Identidade, família desqualificam e os consideram indesejáveis,
marginais, futuros delinquentes. Segundo
e relações sociais em Erikson (1987), Fraga (1996), Mello (1999),
Zaluar (1994b), essa vivência tem marcado
adolescentes de grupos fortemente a trajetória desses adolescentes.
Isso leva a alguns questionamentos
populares fundamentais. Como não acabar confirmando
Partindo da concepção de adolescência toda essa expectativa social? Como resistir a
como um processo do desenvolvimento que essa negatividade que os acompanha? Onde
apresenta transformações nos aspectos encontrar seus aspectos positivos quando
biológicos, psicológicos e sociais, constituindo- a sociedade e, muitas vezes, a família já
se numa fase que marca um importante perderam a esperança? Em resposta a essas
período na vida dos sujeitos, este estudo faz questões, Mello (1999) adverte que é muito
uma reflexão sobre a construção da identidade difícil construir e manter representações
em adolescentes de grupos populares, positivas de si mesmo levando-se em
problematizando as noções de infância, consideração que estas são sistematicamente
família, maternidade e paternidade, assim depreciadas por toda a sociedade, uma vez
como as relações de exclusão e violência que que, ao serem identificados como membros de
têm caracterizado a vivência dos jovens desse grupos populares, elas já vêm marcadas pelo
universo. que significam para os outros.
Pensar na construção da identidade, na Nesse sentido, problematiza-se o modo
formação dos sujeitos do ponto de vista como se constrói a identidade desses
psicológico, leva a pensar em suas relações adolescentes, tendo em vista que as condições
familiares e com o meio social, bem como nas sociais de marginalidade em diferentes planos
experiências vivenciadas por cada um. proporcionam bases muito frágeis para a
Lane (1989 apud ARPINI; QUINTANA, construção de identidades positivas.
2003) observa que o indivíduo está sempre Autores como Madeira (1997), Santos
inserido num contexto histórico, de maneira (1996), Spindel (1984) e Zaluar (1994a;
que suas relações seguem um modelo que é 1994b) têm evidenciado que as perspectivas
desenvolvido por cada sociedade e pelo qual sociais são, para esses jovens, cada vez mais
cada uma se orienta. Segundo a autora, é no empobrecidas; a escola é distante, ausente
contexto grupal que a pessoa se identifica com e carece de sentido; o trabalho, quando
o outro e ao mesmo tempo se diferencia dele, acontece, é sempre desqualificado socialmente
construindo assim a sua identidade. ou pouco prestigiado, oferecendo pouca
ou nenhuma garantia de condições de vida
Quando se procura resgatar a subjetividade, dignas. Seu universo de perspectivas futuras
esta implica necessariamente em identidade, é, por isso, obscuro, o que necessariamente
categoria que leva ao conhecimento da traz consequências para a natureza da
singularidade do indivíduo que se exprime representação que constroem de si mesmos,
em termos afetivos, motivacionais, através

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Orientação Familiar

por meio da qual se pode entender suas sentimento de inferioridade social e uma
identidades. sensação de fracasso pessoal, pelo qual se
Se voltarem o olhar para a vida de seus pais, acusam e são, ao mesmo tempo, acusados.
novamente se depararão com uma perspectiva Esse processo de não reconhecimento
empobrecida, caracterizada pela realização de social, que se traduz por uma representação
trabalhos desvalorizados e mal remunerados, de inutilidade aos olhos da sociedade de
por uma vida sem conforto, situação que produção, pode ser, segundo Carreteiro (1999),
culmina com a ausência de expectativa de o resultado do receio de perder a condição de
mudança. “trabalhador”, cuja consequência seria a de
Segundo Guerra (1998), isso tem gerado pertencer à esfera da inutilidade, podendo,
uma crise na identidade dos pais, que se veem ainda, ser o fruto de uma prática de trabalhos
enfraquecidos em seu papel de sujeitos capazes socialmente desvalorizados e fisicamente
de se converterem em suporte identificatório desgastantes. Soma-se a esse desgaste
para seus filhos. Ao serem considerados o fato de esses sujeitos experimentarem,
insignificantes no trabalho, insignificantes no profissionalmente, uma vivência de relações
lar, acabam tornando-se fragilizados como de submissão, humilhação e menosprezo,
modelo de identificação. cuja natureza evidencia que tais trabalhos
Nesse sentido, Costa (1989) refere a crise são considerados de segunda categoria, isto
de identidade psicológica por que passam é, são vistos como ofícios inferiores e pouco
os homens trabalhadores, a ponto de não qualificados. Para Giddens (1996), os “novos
mais poderem dar conta de suas famílias, pobres” são aqueles que se encontram em
levando-os a enfrentar a autoacusação de uma situação frágil no mercado de trabalho,
serem fracassados, inferiores, incompetentes, ou que foram completamente excluídos dele.
incapazes de atender àqueles atributos que os Dentro desse panorama social, a perspectiva
tornariam homem, termo que traduz a condição de futuro é, com certeza, muito difícil para
de alguém capaz de manter a casa e a família. esses adolescentes, os quais se encontram à
Assim, parece que essa situação, em virtude margem das possibilidades mais positivas que
de não ser assumida pela estrutura social, a sociedade oferece; vivem quotidianamente
passa a ser automaticamente considerada a exclusão e, concretamente, possuem poucas
um problema individual, determinando que os esperanças de se inserirem dignamente no
pais por ela acometidos de fato não possam mundo do trabalho.
oferecer-se como suporte identificatório, Passam, então, a viver na periferia das
devido à sua própria situação de precariedade grandes dimensões institucionais de saúde,
e fragilidade como sujeitos sociais. educação e trabalho, mantendo com estas
O conceito de desqualificação social, relações de muita fragilidade, o que permite
elaborado por Paugam (1999), permite entender a situação de exclusão em que se
entender esse processo de enfraquecimento encontram e de acordo com a qual ora são
da identidade paterna. Segundo o autor, a mantidos fora da rede de suporte social, ora
experiência de desclassificação social é uma são iludidos pela própria sociedade de que
experiência humilhante que produz uma dela fazem parte em condições de igualdade
desestabilização nas relações com o outro e em relação aos demais.
afeta as relações familiares, convertendo-se Portanto, ao referir esses aspectos, não
muitas vezes num incremento ao sentimento se pode deixar de pensar nas relações entre
de culpa experimentado pelos pais ao se identidade e estrutura social, pois, como
depararem com a impossibilidade de vencer observa Ciampa (1989, 1998), as identidades
os obstáculos encontrados. Assim, ao não refletem a estrutura social ao mesmo tempo
conseguirem dar conta daquilo que deles se em que reagem sobre ela, conservando-a
esperaria como sujeitos, os pais vivem um ou transformando-a. Assim, as diferentes

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Orientação Familiar

possibilidades de configurações de identidade se aqui, mais particularmente, à experiência


estão relacionadas às diferentes configurações vivenciada por adolescentes em projetos de
da ordem social. extensão vinculados à Universidade Federal
É nesse sentido que Erikson (1987) alerta de Santa Maria, contexto que, tendo em vista
que não se pode separar a crise de identidade que abre suas portas a adolescentes de grupos
na vida individual da crise contemporânea no populares, provoca os “estranhamentos”
desenvolvimento histórico, pois uma ajuda em relação a esse acesso, evidenciados em
a definir a outra e estão verdadeiramente expressões como: “Que faz essa gente aqui?”.
relacionadas entre si. Assim, a reação à inclusão desses sujeitos nesse
Lane (1995) diz que a identidade é a universo, do qual eles estariam logicamente
categoria-síntese na qual a mediação das excluídos, caracteriza-se pela intolerância em
outras pessoas seria predominante, sendo relação a seus comportamentos e atitudes,
constituída historicamente no conjunto das bem como por tentativas de barrá-los, reações
relações sociais do indivíduo. Destaca-se, manifestadas por todos os segmentos no
porém, a importância de se considerar que interior da instituição. Isso permite entender
todas as categorias de afetividade, consciência que a reversão desse processo é um caminho
e atividade mantêm mútua interdependência, difícil, porém é necessária à problematização
estando umas imbricadas nas outras. das relações sociais estabelecidas.
Vygotski (1996, p. 228) observa que: Para entender os adolescentes aqui referidos,
faz-se necessário repensar conceitos como
Portanto, las estructuras de las funcio- família, infância, adolescência, sexualidade,
nes psíquicas superiores vienen a ser la
que são determinantes na construção do
copia de las relaciones colectivas, so-
ciales entre los hombres. Dichas estruc- sujeito, sobretudo quando se trata desses
turas no son más que las relaciones de adolescentes.
orden social, transladas al interior de la Estudos como os de Ariès (1981), Costa
personalidad que contituyen la base de
(1983) e Santos (1996) têm evidenciado
la estructura social de la personalidad
humana. La naturaleza de la personali- as transformações desses conceitos ao
dad es social. longo do tempo nas diferentes sociedades,
mostrando que a infância, a adolescência e a
Isso reforça a importância de pensar família são conceitos definidos e construídos
dialeticamente para poder entender os historicamente, dando lugar à compreensão
processos nos quais as identidades vão se histórico-social deles.
construindo, o que significa, conforme Sawaia
(1999), pensar na dialética da exclusão/ Parte-se, portanto, da ideia de que não
existe, histórica e antropologicamen-
inclusão como relação entre categorias que
te falando, um modelo - padrão de or-
não existem por si mesmas, mas que se ganização familiar; não existe a famí-
constituem na própria relação que mantêm lia regular. Menos ainda que o padrão
entre si. europeu de família patriarcal, do qual
deriva a família nuclear burguesa (que
Dessa maneira, quando um adolescente é
a moral vitoriana da sociedade inglesa
excluído do universo da escola e do trabalho, no século XIX atualizou historicamente
ele está, nesse momento, sendo incluído para os tempos modernos), seja a única
no espaço social da marginalidade e da possibilidade histórica de organização
familiar a orientar a vida cotidiana no
delinquência. A forma como a sociedade
caminho do progresso e da modernida-
organiza as relações torna difícil fugir dessa de (NEDER, 1994, p. 28).
lógica. Essa dificuldade é tão grande que as
experiências empreendidas no sentido de
romper com essa nítida separação encontram Segundo Giddens (1991), o casamento e a
dificuldades para flexibilizar o processo. Refere- família não seriam o que são hoje são se não

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Orientação Familiar

tivessem sido inteiramente “sociologizados” e identidade é uma concepção contaminada pela


“psicologizados”. maneira como a sociedade concebe a infância.
A infância, tendo em vista que ganha o Os estudos anteriores de Ariès (1981), Costa
estatuto de idade privilegiada (ARIÈS, 1981), (1983) e Santos (1996) mostraram que, em
incrementa os estudos de ordem sociológica e outras épocas, ela não teve essa mesma
psicológica, os quais, principalmente a partir importância.
do século XIX, vêm marcando as diretrizes Tal esclarecimento torna-se relevante
do que se torna fundamental para o bom no sentido de que não se acredite que essa
desenvolvimento. De fato, houve uma grande concepção é hegemônica, universal e,
mudança na compreensão desses conceitos, portanto, a única possibilidade de conceber
bem como na percepção da importância da a construção da infância e da adolescência
relação materna nos primeiros anos de vida. dentro de uma perspectiva satisfatória. Nesse
As contribuições de Winnicott (1996) sentido, problematiza-se essa concepção na
são fundamentais à compreensão do valor qual a família nuclear é tomada como o único
atribuído à relação inicial da criança com modelo adequado a um desenvolvimento
sua mãe e à dela com seu ambiente familiar, saudável. Dessa maneira, pode-se abordar
onde deve receber afeto, proteção, atenção e melhor as diferentes construções decorrentes
limites, fatores fundamentais à organização de composições familiares diversas, pois isso
futura. Para o autor, o sentido de identidade exige a flexibilização das concepções antes
pessoal, aspecto essencial ao ser humano, mencionadas, de modo a entender, sem
está totalmente condicionado à existência de preconceitos ou prejuízos, grande parcela da
uma maternagem satisfatória. Ainda segundo população.
Winnicott (1995), é preciso que as crianças Atualmente, muitas famílias são
tenham vivenciado a experiência de holding, monoparentais, situação em que a mãe fica
que seria a capacidade da mãe em se identificar sendo a única responsável pela manutenção
com seu filho, da qual derivaria a confiança da casa, devido à morte do marido ou mesmo
básica no mundo, expressão por excelência da sua instabilidade ou ausência do lar. Segundo
nova subjetividade. Goldani (1994), além de haver crescido o
É também por meio dessas abordagens número de crianças que vivem somente com
médico-psicológicas que se pode perceber a mãe, aumentou também o tempo que as
alterações na dinâmica familiar, que passa, mulheres nessa condição permanecem sem
então, a privilegiar a intimidade, restringindo o cônjuge e com filhos.
ambiente doméstico e intensificando a relação “As taxas crescentes de famílias com
entre pais e filhos (COSTA, 1983). Segundo chefes mulheres nas áreas urbanas assumem
Violante (1994), o desejo materno e paterno dimensões dramáticas quando se tem presente
de ter filhos é o suporte de qualquer dimensão a associação entre famílias chefiadas por
identificatória. A ausência daquele coloca o mulheres e pobreza urbana” (GOLDANI, 1994,
bebê num vazio identificatório gerador de p. 118).
angústia. Alves-Mazzotti (1996, p. 118), ao falar sobre
Assim, segundo Winnicott (1996), estariam a situação das famílias de meninos e meninas
cobertas de razão as crianças que cobram na rua, diz: “Dentre essas características,
seus pais que, depois de as terem trazido à destacam-se a extrema pobreza, a condição
existência, não lhes garantem as condições de migrante e a desagregação familiar –
mínimas de acesso a ela, privando-as daquilo geralmente representada pela ausência do
que, na visão do autor, é a base de toda a pai, transferindo à mãe o papel de chefe da
construção do sujeito. família”.
Destaca-se que a ênfase na maternagem Nesse tipo de relação, a mãe é a figura
como elemento privilegiado na construção da de autoridade na casa, e o fato de ser, não

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Orientação Familiar

raro, ainda bastante jovem torna-lhe difícil aspecto é evidenciado por Zaluar (1994b, p.
o gerenciamento de todos os problemas e 264) ao referir:
dificuldades decorrentes de ser pobre, ter A diminuição acentuada da presença
muitos filhos e precisar mantê-los e, ao paterna, quer por abandono físico, quer por
mesmo tempo, garantir a manutenção da indiferença moral e psicológica, significou um
casa (SARTI, 1994). O mecanismo de controle acúmulo das funções maternas, agora também
encontrado por essas mães no cumprimento apontada como a responsável pela moralidade
de sua função doméstica é a imposição da da família.
violência; elas precisam “manter as rédeas”, Percebe-se, nas palavras da mãe citada, que
pois temem que, na ausência de um “pai”, as ela sente que faltou a “figura forte” (MOURA,
filhas e os filhos não venham a respeitá-las e 1996), aquela que se reveste de autoridade
conhecer as noções de limites necessárias. e com a qual os filhos se identificam e que
Nesse sentido, a ausência da figura paterna respeitam; aquela pessoa que, de posse de
acaba construindo uma relação diferente no autoridade, pode orientar e, enfim, controlar.
conjunto da vida familiar, o que leva a mãe a Tal figura, devido a sua condição de poder,
ser mais “durona” na intenção de preencher leva à incorporação das regras de convivência,
o vazio deixado na relação com os filhos. A à internalização de valores e normas na
família monoparental, matrilinear, coloca a socialização dos integrantes da família.
mãe nessa dupla função de mulher mãe e O que se pode constatar nessa situação é
trabalhadora, de modo que ela passa a exercer a presença de uma noção de disciplina ligada
parte da tradicional autoridade masculina para à ideia de autoridade, de força, de violência.
evitar fragilizar ainda mais sua família, uma Para muitas mães, e mesmo pais, a forma
vez que não há um homem para prover teto, de ensinar e disciplinar passa pela violência
alimento e respeito, ficando por conta dela a física, pelo medo, de modo que bater num
economia familiar (SARTI, 1994). filho é a forma de ensinar-lhe o que é certo
Dessa forma, entende-se que o fato de e bom. Trata-se sempre de um ato corretivo
a mãe assumir sozinha a manutenção da e preventivo de que as mães lançam mão
família a sobrecarrega muito, o que a deixa para evitar que percam o controle da situação
mais volúvel e reduz o tempo destinado a si e e que reflete a necessidade de sentirem que
aos filhos, trazendo-lhe mais preocupações e dominam seus filhos, domínio esse que se
angústias, situação que, sem dúvida, se reflete exerce pela força, pela ameaça ao abandono
em sua relação com eles. como forma historicamente conhecida na
Moura (1996) destaca a importância educação (FONSECA, 1987).
dessa problemática, observando que a Moura (1996) descreve a “síndrome da
família apresenta cada vez mais uma casa vazia”, em que a ausência dos pais, de
estrutura matrilinear, na qual cabe à mãe a acordo com a necessidade de trabalhar para
responsabilidade pelo crescimento econômico manutenção e sobrevivência familiar, priva
da família, fato que vem modificando a as crianças de uma figura de referência na
dinâmica dos papéis familiares. organização de seu dia a dia, fazendo com
A experiência de trabalho junto a que se aproximem gradativamente do mundo
adolescentes tem evidenciado essa realidade, da rua. Existe, segundo o autor, algo que é
que pode ser exemplificada por meio do muito significativo na vida da criança que não
depoimento de uma mãe, a qual atribui as está dado apenas pela presença física; faz-se
falhas da educação dada ao filho ao fato de necessário aquilo que ele chama de “presença
tê-lo criado sozinha, sem a importante figura psicológica”, a qual talvez possa garantir
do pai. Hoje, teme as atitudes do filho, que, melhores condições de vida, sobretudo
segundo relata, não consegue controlar. Esse por meio da possibilidade de relações de
solidariedade, de afeto, de proteção.

20
Orientação Familiar

Os adolescentes de grupos populares simples questão de boa vontade ou de força


evidenciam carecer do aspecto teoricamente de vontade, ao passo que a resistência a tal
considerado fundamental à formação da mudança é percebida como uma questão de
identidade. Percebe-se, portanto, que esse má vontade, de inferioridade hereditária ou de
modelo, esse mito familiar já não se sustenta e, outro tipo.
embora a sociedade crie alguns espaços sociais
para dar conta dos que não podem viver em Nas palavras de Erikson (1987, p. 130):
família, isso é feito a partir de uma postura de
descrédito em relação a essa população, que E, com efeito, é o potencial ideológico
de uma sociedade que fala mais clara-
é vista como pessoas de segunda categoria,
mente ao adolescente que está tão an-
que devem ser assistidas, mas de quem não sioso por ser afirmado pelos seus pares,
se espera um futuro promissor. Daí deriva a confirmado pelos professores e inspira-
crença de que se trata de indivíduos em que do por “modos de vida” que valham a
pena ser vividos. Por outro lado, se um
não vale a pena investir com seriedade, mas
jovem pressentir que o meio tenta pri-
apenas o suficiente para prestar contas a uma vá-lo radicalmente de todas as formas
sociedade que, em sua maioria, também não de expressão que lhe permitiriam de-
espera muito mais do que isso. Esse fenômeno senvolver e integrar o passo seguinte,
ele poderá resistir com o vigor selvá-
evidencia a presença de um forte preconceito
tico que se encontra nos animais que
em relação às famílias das classes populares são forçados, subitamente, a defender
e, por consequência, ao seu modo de vida. a própria vida. Pois, de fato, na selva
Segundo Neder (1994), é possível identificar, social da existência humana não existe
sentimento vivencial sem um sentimen-
ainda, a permanência do preconceito nas
to de identidade.
políticas públicas em relação às famílias
populares, pois estas são ainda consideradas A psicologia, sobretudo os autores ligados
bestiais/bestializadas. à infância - como Santos (1996) e Winnicott
É preciso, sem dúvida, adotar um outro (1995, 1996) -, tem se preocupado em
modo de conceber a relação família/pobreza, definir as especificidades da infância e da
no sentido de afastar-se da ideia de que os adolescência, suas necessidades, suas
pobres são desqualificados e que os pais características e atributos fundamentais. O que
pertencentes a esse grupo são incapazes de se nota é que muitas vezes essas teorias se
oferecer afeto, proteção e amor a seus filhos. referem a um núcleo determinado de crianças
Precisa-se repensar essa institucionalização e adolescentes e tendem a estender essa
da concepção de família, evitando reproduzir fala a todos os demais. Isso é problemático,
o tipo de relação que a sociedade estabelece pois essa generalização sempre leva a uma
com essa população e com as instituições que desvalorização do grupo novo em relação ao de
a abrigam. origem, que é o definidor das concepções mais
Entretanto, percebe-se que, além de não modernas em psicologia, medicina, pediatria,
proporcionar as condições consideradas básicas pedagogia etc. O problema está justamente
para que esses grupos possam enfrentar os no abismo que a sociedade construiu entre
desafios sociais, a sociedade, insistentemente, os diferentes grupos sociais, que determina
culpa-os por sua situação de fracasso, formas distintas de estruturar a infância e a
desamparo e passividade. Ela individualiza-os adolescência em cada um deles. Essa estrutura
sem, porém, conhecer a história que os une tende a ser obscurecida quando se fazem
e os coloca na situação de exclusão e risco os diagnósticos, pois, ao se desconhecer ou
em que se encontram, processo que também negar essa diferença, provoca-se sempre um
é individualmente vivido por seus pais e suas prejuízo para essas crianças e adolescentes,
famílias. Como observa Erikson (1987), a em virtude de apresentarem um modelo
mudança desejável é concebida como uma

21
Orientação Familiar

ideal cujos atributos se distanciam do perfil a elaboração de uma agenda e tudo aquilo que
apresentado por esses grupos. é necessário ao “como estudar” (como ler um
Por outro lado, a mesma sociedade que os texto, como escrever, como estudar para a
generaliza, quando trata de estabelecer um prova, etc.).
diagnóstico e compará-lo com o ideal definidor, 2. Apropriação dos conteúdos escolares:
é a que define uma forma de tratamento o psicopedagogo visa propiciar o domínio de
diferenciada ao considerar seus espaços e disciplinas escolares em que a criança não vem
oportunidades em relação a emprego, estudo, tendo um bom aproveitamento. Ele diferencia-
formação e tratamento. Com isso, fica explícito se do professor particular pois o conteúdo
que a própria sociedade se contradiz ao exigir escolar é usado apenas como uma estratégia
uma aproximação quando se trata de avaliar e para ajudar a fornecer ao aluno o domínio
estabelecer uma diferenciação quando se trata de si próprio e as condições necessárias ao
de atender e dar oportunidades, pois neste desenvolvimento cognitivo.
caso desaparece seu interesse em generalizar 3. Desenvolvimento do raciocínio: trabalho
a concepção mais moderna, o que demonstra feito com os processos de pensamento
que não considera todos como sujeitos da necessários ao ato de aprender. Os jogos são
mesma ordem. muito utilizados, pois são férteis no sentido de
É nesse sentido que este trabalho busca criarem um contexto de observação e diálogo
contribuir, permitindo uma aproximação sobre processos de pensar e de construir
às dificuldades e conflitivas que decorrem o conhecimento. Esse procedimento pode
da realidade na qual se encontram esses promover um desenvolvimento cognitivo
adolescentes, evitando que as práticas sejam maior do que aquele que as escolas costumam
discriminatórias e descontextualizadas e, conseguir.
portanto, inadequadas à realidade deles. 4. Atendimento de crianças: a
psicopedagogia presta-se a atender
deficientes mentais, autistas ou crianças com
10. Como nasceu a comprometimentos orgânicos mais graves,
podendo até substituir o trabalho da escola.
Psicopedagogia...
A psicopedagogia nasceu para atender à Para Macedo (1990), essas quatro atividades
patologia da aprendizagem, mas tem se voltado não são excludentes entre si e nem em relação
cada vez mais para uma ação preventiva, a outras. O atendimento psicopedagógico
acreditando que muitas dificuldades de poderá, em determinados casos, recorrer
aprendizagem se devem à inadequada a propostas corporais, artísticas etc. De
pedagogia institucional e familiar. A proposta qualquer forma, está sempre relacionado com
da psicopedagogia, numa ação preventiva, é o trabalho escolar, ainda que com ele não
adotar uma postura crítica frente ao fracasso esteja diretamente comprometido.
escolar, numa concepção mais totalizante, Para Janine Mery (1985), psicopedagogo é
visando propor alternativas de ação voltadas um professor de um tipo particular que realiza a
para a melhoria da prática pedagógica das sua tarefa de pedagogo sem perder de vista os
escolas. propósitos terapêuticos da sua ação. Qualquer
Segundo Lino de Macedo (1990 apud que tenha sido a sua formação (psicólogo,
BOSSA, 2000), o psicopedagogo, no Brasil, pedagogo, fonoaudiólogo, professor), ele
ocupa-se das seguintes atividades: assumirá sempre a dupla polaridade do seu
1. Orientação de estudos: consiste em papel, o que determinará seu modo de ser
organizar a vida escolar da criança quando perante a criança e seus familiares, bem como
esta não sabe fazê-lo espontaneamente. diante da equipe a que pertence. O trabalho
Procura-se promover o melhor uso do tempo,

22
Orientação Familiar

dele, de acordo com Mery, possui as seguintes tanto no seu exercício na área educativa
especificidades: como na saúde, pode-se considerar que o
psicopedagogo tem uma atitude clínica frente
●● O “distúrbio de aprendizagem” é en- ao seu objeto de estudo. Isso não implica
carado como uma manifestação de que o lugar de trabalho seja a clínica, mas se
uma perturbação que envolve a totali- refere às atitudes do profissional ao longo da
dade da personalidade. sua atuação.
●●O desenvolvimento infantil é considera-
do a partir de uma perspectiva dinâmi- 10.1 Papel do Psicopedagogo
ca, e é dentro dessa evolução que o
sintoma “distúrbio de aprendizagem” é O amplo conjunto de tarefas
estudado. Assim, se for oferecida uma e funções realizadas pelos profissionais que
forma de relação melhor e diferente prestam assessoramento psicopedagógico às
à criança, ela deverá retomar a sua escolas, apesar de sua diversidade, pode ser
evolução normal. organizado em torno de quatro eixos (COLL,
●● A neutralidade do papel do psico- 1989 apud BOSSA, 2000). O primeiro é relativo
pedagogo é negada, e este conhece à natureza dos objetivos da intervenção, cujos
a importância da relação transferen- polos caracterizam respectivamente as tarefas
cial entre o profissional e o sujeito da que se centram prioritariamente no sujeito
aprendizagem. e aquelas que têm como finalidade incidir
●● O objetivo do psicopedagogo é levar o no contexto educacional. Assim, as tarefas
sujeito a reintegrar-se à vida escolar incluídas são tanto as que têm como objetivo
normal, respeitando as suas possibili- prioritário o atendimento a um aluno quanto
dades e interesses. as que aparecem vinculadas a aspectos
curriculares e organizacionais.
O segundo eixo afeta as modalidades de
O psicopedagogo, ainda segundo Mery intervenção, que podem ser consideradas como
(1985), respeita a escola tal como é, apesar corretivas ou preventivas e enriquecedoras.
de suas imperfeições, porque é por meio Qualquer intervenção realizada na escola
dela que o aluno se situará em relação aos pode ser caracterizada em um determinado
seus semelhantes, optará por uma profissão, momento, embora, em um momento posterior,
participará da construção coletiva da sociedade sua consideração se modifique.
à qual pertence. Esse fato não impedirá que Outro eixo também diferencia modelos de
o psicopedagogo colabore para a melhoria intervenção. Embora tenha como objetivo final
das condições de trabalho numa determinada o aluno, pode ter diferenças consideráveis:
escola ou para a conquista de seus objetivos. enquanto alguns psicopedagogos trabalham
Mas, em seu trabalho, ele deverá fazer com diretamente com o aluno, orientam-no e
que a criança enfrente a escola de hoje e até manejam tratamentos educacionais
não a de amanhã. Esse enfrentamento, individualizados, outros combinam momentos
no entanto, não significaria impor normas de intervenção direta e indireta (por exemplo,
arbitrárias ou sufocar-lhe a individualidade. no caso de uma avaliação psicopedagógica)
Busca-se sempre desenvolver e expandir a centrados nos agentes educacionais que
personalidade do indivíduo, favorecendo as interagem com ele (no próprio processo
suas iniciativas pessoais, suscitando os seus de avaliação psicopedagógica, na tomada
interesses, respeitando seus gostos, propondo de decisões sobre o plano de trabalho mais
e não impondo atividades, procurando sugerir adequado para esse aluno). São frequentes
pelo menos duas vias para a escolha do rumo as consultas formuladas por um professor ao
a ser tomado, permitindo a opção. Assim, psicopedagogo em relação a um aluno que

23
Orientação Familiar

não vai manter nenhum contato direto com médicos e psicólogos clínicos infantis. Esse
este profissional. trabalho apresenta uma etapa inicial, em
Como último eixo, Coll (1989b) indica que se faz uma avaliação sobre os aspectos
o lugar preferencial de intervenção, que afetivos, cognitivos e pedagógicos da criança,
entendemos como a diversidade de níveis e um paralelo com entrevistas de anamnese com
contextos, mesmo quando circunscrita ao os pais, a elaboração de um estudo de caso e a
marco educacional escolar. Esse eixo inclui realização de sessões. Num segundo momento,
tanto as tarefas localizadas no nível de sala a criança passa por um período de intervenção
de aula, em algum subsistema dentro da psicopedagógica paralelo com sessões de
escola, na instituição em seu conjunto, ano, orientação aos pais. Também a prática
série, como aquelas que se dirigem ao sistema psicopedagógica clínica é frequentemente
familiar, à zona de influência etc. desenvolvida em instituição de saúde que
O fato que se deve considerar é que as mantém atendimento psicopedagógico à
tarefas que aparecem englobadas nos eixos criança proveniente da comunidade e que não
precedentes são objeto da intervenção teria condições financeiras para receber esse
psicopedagógica, o que não significa que tipo de assistência em clínicas particulares.
todos os psicopedagogos as executem em seu
conjunto e, obviamente, que as realizem da
mesma forma.
O desempenho profissional de um 11. ORIENTAÇÃO
psicopedagogo ou de uma equipe é influenciado
também pela tradição e pela formação PSICOPEDAGÓGICA
recebida. Com relação à tradição, aquilo que
se fez sempre, que responde à percepção PARA OS PAIS SOBRE O
social sobre o papel profissional, possui uma
influência direta inegável nas próprias crenças COMPORTAMENTO DAS
do psicopedagogo, em sua autopercepção
profissional e, consequentemente, no que faz; CRIANÇAS
indiretamente, influi também por meio das Muitos pais (e professores) às vezes pensam
expectativas geradas por sua tarefa e pelas que os filhos têm alguns comportamentos
demandas que lhe são formuladas. indesejáveis propositalmente apenas para
Quanto à formação, a intervenção irritá-los, mas isso nem sempre corresponde
psicopedagógica foi assumida, à verdade. É importante que prestem
fundamentalmente, por pedagogos, psicólogos atenção às expectativas em relação aos
e, mais recentemente, psicopedagogos. Esses comportamentos apresentados por seus filhos.
profissionais foram formados em tradições Há comportamentos que os pais desejam e
disciplinares diferentes (psicologia escolar, outros que podem esperar.
psicologia clínica, psicologia social, pedagogia, O comportamento desejável geralmente
terapêutica, organização escolar, orientação leva os pais à frustração. Isso porque é um tipo
profissional etc.) e em diferentes escolas de de comportamento que desejam que os filhos
pensamento psicológico que, com frequência, tenham sem que haja uma intervenção direta
fazem alusão a modelos de funcionamento do deles. Por exemplo: levantar-se no horário
psiquismo humano abertamente discrepantes. para ir à escola, ou logo no primeiro chamado,
A atuação clínico-terapêutica é praticada fora arrumar os brinquedos e materiais escolares,
das paredes escolares, em locais especiais de ajudar nas tarefas da casa, saber o horário de
atendimento, o consultório psicopedagógico; tomar banho (e fazê-lo sem precisar mandar),
geralmente, são atendidas crianças das refeições, de estudar, de fazer as tarefas
encaminhadas por outros profissionais, como escolares e até mesmo de tomar remédios,

24
Orientação Familiar

• Passar um tempo juntos em algo que


entre outros. Quando esses comportamentos
não são apresentados espontaneamente, os o filho escolha. Por exemplo: jogos de
pais ficam muito irritados, o que apenas piora computador, jogos de tabuleiro, jogos de
a situação. cartas, projetos de arte, brincar na piscina,
Diferentemente, os comportamentos
brincar de bonecas, cozinhar, praticar
esperados podem ser ensinados e têm maior
esportes, entre outros.
probabilidade de ser praticados com sucesso
pelas crianças, resultando em comportamentos • Não fazer discursos sobre
desejáveis pelos pais. comportamentos. Muitas vezes, os pais
Como os pais podem agir de modo que seus passam mais tempo falando o que os filhos
filhos tenham os comportamentos que eles
não deveriam fazer e dando lição de moral
esperam?
do que conversando a respeito de boas
De acordo com as orientações de Friedberg
e McClure (2004), os pais precisam saber o atitudes e ouvindo o que eles pensam sobre
quão importante é: diferentes assuntos, de maneira a orientá-los
adequadamente.
• Reforçar o bom comportamento com • Dar comandos específicos, por exemplo:
elogios, abraços, uma brincadeira ou folga coloque os brinquedos na estante; em vez de:
de alguma tarefa doméstica. por que você não coloca os brinquedos na
• Dar atenção aos filhos com sorrisos, estante? Dizer o que deve ser feito ou como
abraços, elogios verbais, comentando uma deve ser feito de maneira clara. Mostrar o
fala do filho, olhando para ele enquanto caminho.
conversa, prestando atenção a uma tarefa • Permitir escolhas, como forma de valorizar
que ele está realizando. os comportamentos. Por exemplo: que bom
• Estabelecer uma rotina para os que você veio jantar quando eu chamei!
comportamentos que devem ser repetidos Você poderá escolher um lugar à mesa para
diariamente, como tomar banho, arrumar a se sentar, ou você poderá escolher o que
cama ou estudar. Facilita a permanência deles fazer após o jantar... Outro exemplo: já que
se, na época em que estão sendo ensinados, você completou as tarefas da escola, pode
forem repetidos sempre no mesmo local e escolher um brinquedo para brincar, ou uma
horário. Por exemplo, estabelecer um local e história para eu contar.
um horário diário de estudos para os filhos.
• Reservar um tempo diário para brincar com
a criança, de preferência uma brincadeira no 11.1 Comportamentos-alvo
chão dirigida por ela mesma, pelo menos por Durante os atendimentos psicopedagógicos,
dez minutos. Nesse momento, os pais devem alguns pais relatam que os filhos apresentam
valorizar os comportamentos adequados dos comportamentos indesejáveis que os
incomodam muito e que não sabem como
filhos e ignorar os negativos que não sejam
fazer para lidar com eles nesses casos ou como
perigosos. As crianças e adolescentes (como transformar seus hábitos comportamentais.
qualquer pessoa) precisam de um tempo em O psicopedagogo pode ajudar os pais a
que possam decidir o que fazer e como fazer, identificar alguns comportamentos-alvo. Uma
sem serem o tempo todo guiados por regras, sugestão é fazer um quadro para que marquem
normas ou limitações.

25
Orientação Familiar

a ocorrência dos comportamentos indesejáveis sponsáveis. É importante que os pais


e quando eles mais acontecem. saibam que não estão “comprando” a
criança, mas, sim, que estão prestan-
Nome da criança: QUADRO DE OBSERVAÇAO DOS PAIS de__/__/___ a __/__/___

segunda terça quarta quinta sexta final de semana Observações

Comportamento problemático M T N E M T N E M T N E M T N E M T N E M T N E

M Manhã
T Tarde
N Noite
E Escola: atividades escolares

do atenção ao que ela faz, que a val-


Os pais levam para a sessão as anotações orizam e a respeitam.
que fizeram, e o terapeuta ajuda-os na ●Os
● comportamentos que forem escolhi-
escolha dos comportamentos que apareceram dos para ser modificados não precisam
como mais problemáticos e que podem ser imediatamente tornar-se como os pais
transformados. A ideia é que eles sejam gostariam que fossem. Assim, o psico-
substituídos pouco a pouco por uma conduta pedagogo também pode ajudá-los no
nova e positiva. estabelecimento de tarefas, cuja com-
● ● Os pais podem identificar dois ou três plexidade vai aumentando gradativa-
comportamentos-alvo aos quais darão mente. É preciso pensar em pequenos
mais atenção quando forem praticados passos e valorizar os pequenos pro-
pela criança de maneira positiva. Não gressos. Por exemplo:
se deve propor mudar totalmente os ● ● Na ajuda às tarefas domésticas: a cri-
comportamentos da criança, mas de- ança poderá levar as roupas da lavan-
cidir quais os mais importantes no mo- deria para o quarto, colocando-as so-
mento ou aqueles em cuja modificação bre a cama para que a mãe ou o pai as
os pais conseguirão mais facilmente guardem.
obter êxito. Aos poucos, o repertório ●
● Em um momento posterior: a criança
da criança vai aumentando e, muitas levará as roupas da lavanderia para o
vezes, ela, por si só, conseguirá modi- quarto e as guardará na gaveta ou as
ficar sua conduta, agindo de uma ma- pendurará no cabide, e assim por di-
neira mais habilidosa socialmente. ante.
● ● Um elogio e/ou algo que agrade a cri- Essas atividades devem ser acompanhadas
ança, como um abraço, um olhar, um de boas palavras ditas pelos pais, de um
sanduíche, um suco, pipocas, deve ser abraço ou de uma atividade prazerosa, como
oferecido quando os pais observam fazer algo juntos após todos terminarem as
seu comportamento positivo. Isso ex- tarefas. Essa é a recompensa externa, mas a
ige muita atenção por parte dos re- grande recompensa vem de dentro da criança,

26
Orientação Familiar

pelo prazer que ela sente em poder colaborar 11.2 Viver em conjunto: a
e servir aos outros.
É importante que as crianças aprendam importância dos limites
a participar das tarefas domésticas, Os pais também devem estar atentos aos
especialmente quando executadas junto com limites. Crianças e adolescentes precisam
um adulto, pois, além da orientação adequada, saber o que podem e o que não podem fazer.
aprendem sobre colaboração, companheirismo, Precisam saber que o limite ou a proibição
responsabilidade e cuidado com os espaços é para o bem deles e que, quando, ou se,
individuais e coletivos. for apropriado, terão a permissão para uma
Outra sugestão prática para a orientação dos determinada ação ou atividade.
pais é pedir aos filhos para elaborarem uma Crianças e jovens precisam saber que
lista de coisas que podem fazer para reforçar, suas ações têm consequências; que há
sem críticas, o comportamento positivo deles. coisas que eles não podem fazer porque não
Quando se tratar de elogios, eles devem ser têm maturidade biológica e psicológica para
específicos, verdadeiros e claros. Por exemplo: responder por elas ou porque causam danos
aos outros ou a elas próprias; que há lugares
● Gostei
● do jeito como você falou com que não devem frequentar, programação na TV
sua irmã. e filmes nas locadoras que não devem assistir;

● Gostei do jeito como você pendurou a que há horários de saídas e chegadas em casa
blusa. que devem ser combinados e respeitados;
● ● Gostei do jeito como você arrumou seu que há regras sociais a ser cumpridas; e que
material escolar. as normas de relacionamento social podem
● ● Gostei da maneira como você arrumou ser aprendidas e devem ser praticadas dentro
seu quarto. e fora de casa.

● Gosto quando você me ajuda a tirar a Os pais devem tratar seus filhos com muita
mesa do almoço. atenção, firmeza e carinho. Cuidar, proteger
● ● Muito obrigada(o) por sua ajuda, e ouvir o que eles têm a dizer é importante.
filho(a)! Ouvir suas queixas e seus medos e ajudá-
●Evitar
● associar elogio e crítica. Exemplo: los a superar as dificuldades. Ensiná-los a
● Gosto
● de como você ajudou a tirar a escolher, a negociar, a esperar e a lidar com a
mesa do café, mas você não colocou a frustração que a espera pode gerar. Essas são
louça na máquina. tarefas paternas importantes.
●Evitar
● julgamentos que vinculem a pes- É preciso cuidar dos filhos com amor e
soa ao comportamento, como: dedicação, especialmente dos menores,

● Você é um bom menino porque fez a que tanto dependem dos adultos para o seu
lição. desenvolvimento saudável.
●Não
● elogiar por elogiar. É muito impor- É importante que os pais prestem atenção
tante saber que a sinceridade do elogio ao período de desenvolvimento em que as
é fundamental! crianças se encontram, pois, muitas vezes,
elas ainda não têm maturidade cognitiva,
emocional e nem mesmo física para responder
adequadamente a uma tarefa proposta tanto
pelos próprios pais como, algumas vezes, pela
escola ou grupo social.
É preciso estabelecer uma relação de
confiança mútua entre pais e filhos, pois as
crianças e os adolescentes precisam confiar
nos pais e saber que os pais confiam neles.

27
Orientação Familiar

Dentro dos limites do próprio desenvolvimento 13 – Lembrem-se de sou um pequeno


e contexto, os filhos precisam sentir que os indivíduo com as minhas próprias
pais confiam neles; saber que, com o tempo, características.
serão capazes de cuidar de si mesmos e de Autor desconhecido. Disponível em: http://
obter sucesso nas tarefas da vida, contando portaldosaber-psicopedagogia.blogspot.com.
que poderão contar com os pais e que estes br/, acesso em: 7.mar.2014.
poderão contar com eles também.

11.3 ORIENTAÇÃO À FAMÍLIA 12. Para reflexão....


- MEU RECADO AO PAPAI E À Avós e pás
MAMÃE Isabel Parolin

Como tudo a nossa volta, a infância


Perguntem-me o que fiz na escola, também está muito diferente da infância
encorajem-me sem insistir, para que eu conte de gerações passadas. Nossas crianças,
algo, mostrem um interesse sincero por tudo principalmente as de classe média, vivem e se
o que eu relatar. desenvolvem longe de quintais, balanços, terra,
2 – Não desanimem se eu ainda não fizer galinhas e minhocas. Eles estão crescendo
muita coisa, não caçoem dos meus enganos, em playgrounds, em piscinas de bolinhas, em
valorizem antes, o esforço que eu desprendi. pátios de colégios, em salas de TV e vídeo ou de
3 – Falem da minha escola com carinho. bate-papo,ou,ainda navegando pela internet.
4 – Sejam bondosos com a minha Além dos espaços á volta da criança estarem
professora, digam-lhe o que ela precisa saber muito limitados, estão fortemente protegidos
para compreender-me melhor. quanto a forma de brincar.
5 – Ensinem-me uma frequência assídua, Em nome da segurança e da proteção,
ajudem-me a chegar pontualmente e mandem cuja relevância não discuto, mas sim, o seu
uma justificativa quando realmente eu tiver direcionamento, esses espaços tem roubado da
que faltar. criança outros espaços preciosos – geográficos
6 – Não deixem de ir me apanhar na hora e emocionais – os espaços da brincadeira !
certa, pois, se eu me sentir abandonado, posso As histórias, as músicas, as danças, que são
ficar com medo de voltar à escola. as puras expressões humanas e uma forma
7 – Sempre que possível, esteja um de lúdica de tomar contato e conhecimento de
vocês em casa quando eu voltar da escola. si mesmo, do outro e do seu entorno, foram
8 – Deem-me um lugar para eu guardar substituídas. Na brincadeira, que é uma forma
meu material, permitam que eu assuma as de aquisição de conhecimento, a criança vai
minhas primeiras responsabilidades. compreendendo seu mundo e se integrando a
9 – Procurem com frequência a minha escola ele, além de construir-se em sua corporeidade.
para saber o que eu estou aprendendo, como Jogos e brincadeiras em que a criança possa
funciona o ambiente que me cerca. construir, montar, desmanchar, desempenhar,
10 – Deem-me orientação religiosa. sujar-se, permitem que a criança se desenvolva
11 – Ensinem-me a enfrentar as asperezas sob amplos aspectos e promova diferentes e
do caminho com muita coragem e fé. preciosas aprendizagens.
12 – Não façam comparações entre o meu Nós, pais e educadores, precisamos
progresso e o do vizinho ou do meu irmão garantir o direito a uma infância em que sejam
mais velho. contempladas as peculiaridades típicas dessa
fase da existência, e a brincadeira, simples e

28
Orientação Familiar

livre, descompromissada de qualquer objetivo, o menino, já se abaixando e começando a


a não ser o deleite de brincar, é um deles. trabalhar na areia.
Brincar é uma das coisas mais sérias que Diante do movimento das crianças, as
uma criança pode fazer e cabe a nós promover mães recomeçaram a conversa, elogiando a
esse momento essencial para a construção de iniciativa da avó e comentando que elas não
um sujeito feliz. tinham paciência de fazer aquilo.
Uma jovem mãe relatou uma história por ela A avó começou o seu trabalho que logo todas
vivida e que serviu de reflexão para nós duas. as crianças aderiram. Uma criança tinha a tarefa
A jovem mãe estava na beira do mar, com de buscar conchinhas, outra, palito de sorvete,
seu filho, sua mãe, amigas e respectivos outra, baldes de água do mar, outra cavava,
filhos. Era impossível conversar, relatou-me a enfim, todos entraram na brincadeira. Crianças
mãe, tamanha era a barulheira que as crianças que brincavam próximo ao grupo começaram
faziam. Uma verdadeira “falta de respeito”, a olhar e logo foram aderindo ao trabalho
continuava ela, manifestando a opinião das que se estendeu por boa parte da manhã. Ao
outras mães. As crianças brigavam entre si para encerrarem, além da satisfação das mães, que
ficar perto de suas mães, queriam tudo que puderam finalmente conversar sossegadas,
era vendido na praia e acabavam derrubando havia a satisfação das crianças que tinham
ou não comendo o que era objeto de choro brincado a valer, ocupadas, sentindo prazer na
e urgência. Enfim, “um inferno” sendo fiel ao atividade e aprendendo inúmeras coisas nessa
relato. brincadeira. Sem falar na satisfação da avó,
Em meio a tentativas frustradas de que além de agradar ao seu neto e a sua filha,
encabeçar uma conversa, as mães diziam, passou a ser a “avó” de todas as crianças.
cada uma a seu tempo para as crianças: “Vão Esse episódio reproduz o que muitos pais
brincar...Tem tanta coisa para fazer... Saiam de vivem hoje e que entendo ser, na verdade,
perto... Desgrudem... Deixem-nos conversar... um grande desencontro. Começo lembrando
Brinquem entre vocês... Da outra vez não vou que criança gosta mesmo é de brincar, e
trazer...Eu devia ter deixado você em casa... para brincar, basta existir esse espaço, que
Pare de incomodar!” E nada acontecia. As é tanto geográfico, quanto psicológico. É por
crianças continuavam brigando e impedindo meio da brincadeira que a criança entende o
que as amigas conversassem a vontade e se mundo e as relações sociais. O que será que
divertissem. teria acontecido se as mães das crianças as
Repentinamente a avó, mãe da moça tivessem convidado da seguinte forma: “Vamos
que relatou a história, levantou-se e propôs a praia? Eu me encontrarei com minhas amigas
com entusiasmo: “Quem me ajuda a fazer enquanto vocês brincam...O que vocês querem
um castelo?”. As crianças olharam e com ar levar para brincar na praia ? Eu estou levando
de “ai que sem graça” ninguém se mexeu, cadeiras porque sou adulta e gosto de conversar
continuando agarradas as suas mães. A avó, sentada e você?” Além de localizar a criança,
resoluta e invencível, prosseguiu: “Preciso de a mãe estaria construindo o espaço favorável
pás para fazer o castelo. Quem tem uma para para a brincadeira e para a diversão. As crianças
me emprestar?” E foi logo se ajoelhando e necessitam entender as situações e receber
arrumando o terreno em que iria construir o autorização para serem elas mesmas. Se as
castelo. Uma das crianças correu e entregou a mães, ao invés de criticá-las, tivessem dado
sua pazinha e ficou olhando meio desconfiada, o exemplo, facilitando o momento, como fez a
de longe. As mães pararam de conversar e avó, as coisas certamente seriam diferentes.
observaram o que acontecia. A avó virou-se Muitos pais, pensando em não se incomodar,
para o neto e disse: “Querido, eu não sei o que acabam se incomodando muito. Muitas vezes,
faço a piscina...” “Aqui vó !”, afirmou animado ganha-se tempo e sossego ao “perder” um
tempo organizando o espaço da criança, ou

29
Orientação Familiar

levando brinquedos que a estimulem a brincar. tomar muito tempo e acabam escolhendo
Quantas crianças vão à praia ou ao parque outra que não permite tempo algum.
sem nenhum brinquedo porque seus pais não Fonte: Parolin, 2007.
levam, e a criança acaba ficando sem estímulo
para começar a brincar. Lembro ainda que
o brinquedo deve permitir que a criança o 13. Conclusão:
manipule e faça dele o que ela quiser. Tenho Como é antiga a frase “é melhor prevenir
visto muitos brinquedos em que a criança não que remediar!”
brinca, mas é brincada por ele. Carrinhos que Entretanto, mais rotineiro é ainda o
saem em curvas, capotam e param conforme hábito de se tomarem providências e cuidados,
a programação do fabricante, ou bonecas que apenas após o infortúnio. Não é diferente
ficam girando em seus patins, infinitamente. Ou também na área educacional.
seja, o brinquedo faz aquilo e só aquilo, dando Como ficaria o gráfico de sua escola,
pouca margem para a criança transformá-lo se fosse feito um levantamento comparativo
e, mesmo assim, quando a criança vence esse entre regras e atitudes punitivas adotadas, de
obstáculo, quebrando, ou dobrando algo no um lado, e as medidas preventivas criadas e
brinquedo, os pais gritam: “Não te dou mais exercidas pela equipe pedagógica, de outro?
brinquedo... você só estraga...”. Para que lado pesaria mais a balança?
A avó, personagem desse relato, soube O quanto sua escola se preocupa com
entender que as crianças necessitavam de o exercer de uma orientação pedagógica
um disparador para começarem a brincar. atuante, junto aos pais e aos alunos? Com que
Possivelmente são crianças acostumadas reqüência são realizadas reuniões e encontros
a ficarem na frente da televisão e se entre pais e professores, com a finalidade de
desacostumam a brincar na areia. A passar informações e dar suporte para que
brincadeira relaxa, organiza, distrai e permite seus filhos sejam melhor conduzidos?
que os adultos façam suas coisas. Se a criança Qual a intensidade da preocupação que
estiver envolvida com suas brincadeiras e sua escola manifesta em criar uma aliança
brinquedos, os adultos poderão, igualmente, com as famílias, principalmente promovendo
envolver-se com suas conversas, com suas e alimentando uma aproximação com os pais
coisas e poderão, certamente, distrair-se. Do dos alunos desde a pré-escola, a fim de evitar
contrário, ficam tal qual as mães à beira-mar, um clima de desconfiança, rivalidades e de
tentando conversas e as crianças tentando se mútuos ataques, no futuro?
distrair e nada, efetivamente, acontece. O que sua escola prioriza? Aumentar
É preciso aprender a respeitar a infância, o número de matrículas ou investir na área
suas necessidades e características e, também, pedagógica e na relação produtiva com seus
a viver bem. Educar uma criança demanda professores?
tempo e intenção, dentre outras coisas. A Não existem escolas perfeitas, nem
infância é tempo de brincar, de experimentar, alunos e famílias perfeitas. Mas, como se lidam
de aprender. É um tempo precioso que não pode com os erros? Qual é a maior preocupação?
ser impedido nem postergado. Nossas crianças Punir ou educar? Orientar os que chegam ou
crescem, apesar da pressa, da falta de tempo e criar regras de defesa e ataque?
de paciência de seus pais e educadores. Até que ponto, sua escola reconhece
As mães dessa história queriam paz para que tem uma parcela de responsabilidade nos
conversarem entre si e não perceberam que “fracassos escolares”, em lugar de se proteger,
uma educadora e uma pá poderiam construir culpando apenas os pais por sua falta de
esse espaço tão almejado. Muitas pessoas limites, pela sua ausência física e de valores?
acreditam que uma determinada ação vai Toda “escola tem sua metodologia e
filosofia para educar uma criança, no entanto,

30
Orientação Familiar

ela necessita da família para concretizar o seu 14. Textos de apoio


projeto educativo” (Isabel Parolin). http://portaldosaber-psicopedagogia.blogspot.
É necessário arar a terra, adubar o
com/2010/04/orientacao-familia.html
terreno, para que se possa colher. Assim
www.drmarcioconsigo.com
também acontece em Educacão.
É notório o clima conflitante que http://www.psicopedagogia.com.br/guia/como.
caracteriza o atual relacionamento escola- shtml
família e vice-versa. Muito se fala sobre http://www.pucrs.br/mj/entrevista-06-2003.php
essa complexa relação, mas ainda estamos
http://mariahelenabaeza.blogspot.com/2010/05/
distantes de sanar as dificuldades originadas
sobre-o-texto-de-rosely-sayao.html
por este confronto e que, sem dúvida, é fonte
de desequilíbrio na prática educativa. h t t p : / / t a n i a z a g u r y. c o m / e n t r e v i s t a s .
De um lado, crescem as exigências e asp?pgNum=9&cdc=31
pedidos protecionistas dos pais, bem como sua
interferência crítica e prejudicial no trabalho
do professor. De outro, aumentam os casos
de indisciplina, as suspensões, as reclamações
do comportamento dos alunos para os pais,
os encaminhamentos para os consultórios de
especialistas.
A intenção deste artigo é ressaltar a
importância de um trabalho preventivo das
escolas junto aos pais, desde a pré-escola, a
fim de estimular o aparecimento de alianças
entre ambos.
É de grande ajuda a promoção de
reuniões e atividades que visem elucidar a
filosofia da escola junto às famílias, que deixe
claro o porquê de determinadas medidas
disciplinares e seus objetivos educacionais.
Reuniões que promovam uma confiança dos
pais na escola, que possibilitem um espaço de
trocas e não de acusações, que alertem sobre
os perigos que cercam os jovens de hoje e
que elucidem sobre como, juntos, escola e
família, poderiam se entreajudar no que se
refere a temas polêmicos como drogadição,
sexualidade e agressividade, além de questões
relacionadas somente a rendimento escolar.
Elisabeth Salgado

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