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Família na Avaliação
Orientação Familiar
Psicopegógica
Professora Angélica Chico
Professora Angélica Chico
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crianças. Por outro lado, relações satisfatórias e transferida, posteriormente, para outras
felizes entre marido e esposa constituem fonte relações interpessoais, na escola e no grupo
de apoio para ambos os cônjuges, sobretudo de amigos. Paralelamente, identificaram
para a mulher (DESSEN; BRAZ, 2005). que a qualidade da relação com os pares e
amigos pode compensar a baixa qualidade de
interação materna.
6. Vínculos familiares e Os laços afetivos asseguram o apoio
psicológico e social entre os membros
redes de apoio: implicações familiares, ajudando no enfrentamento
do estresse provocado por dificuldades do
para o desenvolvimento cotidiano (OLIVEIRA; BASTOS, 2000). E os
Os laços afetivos formados dentro da padrões de relações familiares relacionam-se
família, particularmente entre pais e filhos, intrinsecamente a uma rede de apoio que pode
podem ser aspectos desencadeadores de ser ativada em momentos críticos, fomentando
um desenvolvimento saudável e de padrões o sentimento de pertença, a busca de soluções
de interação positivos que possibilitam o e atividades compartilhadas.
ajustamento do indivíduo aos diferentes No entanto, nem sempre as famílias
ambientes de que participa. Por exemplo, o constituem uma rede de apoio funcional e
apoio parental, em nível cognitivo, emocional satisfatória, ou mesmo melhor que outras.
e social, permite à criança desenvolver Dell’Aglio e Hutz (2002) compararam
repertórios saudáveis para enfrentar as estratégias de enfrentamento entre crianças
situações cotidianas (EISENBERG et al., 1999, institucionalizadas e outras que viviam com
apud DESSEN; POLONIA, 2007). Por outro suas famílias e não encontraram diferenças na
lado, esses laços afetivos podem dificultar o busca de apoio social e ação agressiva. Segundo
desenvolvimento, provocando problemas de os autores, muitas vezes, as instituições têm
ajustamento social (BOOTH; RUBIN; ROSE- condições físicas, materiais e organizacionais
KRASNOR, 1998). Volling e Elins (1998) e contam com profissionais e rotinas que
mostram que o estresse parental, a insatisfação estabelecem uma rede social de apoio forte
familiar e a incongruência nas atitudes dos e adequada. Portanto, o desenvolvimento de
pais em relação à criança geram problemas de estratégias de enfrentamento apropriadas
ajustamento e dificuldades de interação social. é influenciado por qualidade das relações
As figuras parentais exercem grande afetivas, coesão, segurança, ausência de
influência na construção dos vínculos discórdia e organização, quer na família
afetivos, da autoestima, do autoconceito. ou na instituição. Tais aspectos constituem
Também constroem modelos de relações importantes fatores de proteção para o
que são transferidos para outros contextos indivíduo, favorecendo o desenvolvimento
e momentos de interação social (VOLLING; de habilidades e competências sociais e,
ELINS, 1998). Por exemplo, pais punitivos e consequentemente, sua capacidade de
coercitivos podem provocar em seus filhos adaptação às situações cotidianas (CHAVES et
comportamentos de insegurança, dificuldades al., 2003).
de estabelecer e manter vínculos com outras Diante dos problemas e desafios enfrentados
crianças, além de problemas de risco social na pela família, e sem uma rede de apoio social
escola e na vida adulta. Booth, Rubin e Rose- que promova a superação do estresse, a
Krasnor (1998) investigaram o apoio social resolução de conflitos e o restabelecimento de
e emocional de mães e de outras pessoas uma dinâmica familiar saudável, as famílias
envolvidas com a criança e suas repercussões podem desenvolver padrões de relacionamento
na adolescência e vida adulta. Eles observaram disfuncionais, tais como maus tratos à criança,
que a qualidade da relação mãe-criança é violência intrafamiliar, abuso de substâncias,
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educativas, verificadas no âmbito das relações As práticas educativas escolares têm também
interpessoais e nos resultados acadêmicos dos um cunho eminentemente social, uma vez
alunos, têm reflexos na participação efetiva que permitem a ampliação da inserção dos
e na integração escola-família, assegurando indivíduos como cidadãos e protagonistas
uma continuidade entre os dois segmentos. da história e da sociedade. A educação, em
Portanto, as escolas deveriam investir seu sentido amplo, torna-se um instrumento
no fortalecimento das associações de pais e importantíssimo para enfrentar os desafios do
mestres, no conselho escolar, dentre outros mundo globalizado e tecnológico.
espaços de participação, de modo a propiciar Apesar da complexidade e dos desafios
a articulação da família com a comunidade, que a escola enfrenta, não se pode deixar
estabelecendo relações mais próximas. A de reconhecer que os seus recursos são
adoção de estratégias que permitam aos pais indispensáveis para a formação global do
acompanharem as atividades curriculares indivíduo. Conhecendo a escola e suas funções,
beneficiam tanto a escola quanto a família. devem-se acionar fontes promotoras de saúde,
As investigações de Keller-Laine (1998) e tais como as redes sociais, a comunidade
de Sanders e Epstein (1998) enfatizam que escolar, os profissionais da escola - psicólogos,
é necessário planejar e implementar ações pedagogos e orientadores educacionais -,
que assegurem as parcerias entre esses dois que são gabaritados (ou deveriam ser) para
ambientes, visando à busca de objetivos realizar intervenções coletivas. É nesse espaço
comuns e de soluções para os desafios que as reflexões sobre os processos de ensino-
enfrentados pela sociedade e pela comunidade aprendizagem e as dificuldades que surgem
escolar. em sala ou em casa são realizadas (ROCHA;
MARCELO; PEREIRA, 2002; SOARES; ÁVILA;
SALVETTI, 2000).
8.1. Desafios e perspectivas Entretanto, como sublinham Soares, Ávila e
A família não é o único contexto em que Salvetti (2000), apesar de a escola desenvolver
a criança tem oportunidade de experienciar aspectos inerentes à socialização das pessoas
e ampliar seu repertório como sujeito de e ser responsável pela construção, elaboração
aprendizagem e desenvolvimento. A escola e difusão do conhecimento, ela vem passando
também tem sua parcela de contribuição no por crises vindas do cotidiano, que geram
desenvolvimento do indivíduo, especificamente conflitos e descontinuidades como a violência,
na aquisição do saber culturalmente organizado o insucesso escolar, a exclusão, a evasão e
em suas distintas áreas de conhecimento. a falta de apoio da comunidade e da família,
Como destaca Szymanski (2001), a ação entre outros. Nesse caso, o cenário político
educativa da escola e da família apresenta passa a exercer uma influência preponderante
nuances distintas quanto a objetivos, para a solução das crises, que extrapolam o
conteúdos, métodos e questões interligadas à cotidiano das escolas. Para superar os desafios
afetividade, bem como quanto a interações e que enfrentam, hoje, uma das alternativas é
contextos diversificados. promover a colaboração entre escola e família
Na escola, as crianças investem seu tempo (POLONIA; DESSEN, 2005), tarefa complexa
e envolvem-se em atividades diferenciadas que tem despertado o interesse de vários
ligadas às tarefas formais (pesquisa, leitura pesquisadores.
dirigida) e informais de aprendizagem (hora A família e a escola constituem os dois
do recreio, excursões, atividades de lazer). principais ambientes de desenvolvimento
Contudo, nesse ambiente, o atendimento às humano nas sociedades ocidentais
necessidades cognitivas, psicológicas, sociais contemporâneas. Assim, é fundamental que
e culturais é realizado de maneira mais sejam implementadas políticas que assegurem
estruturada e pedagógica do que no de casa. a aproximação entre os dois contextos, de
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maneira a reconhecer suas peculiaridades das relações com os outros – ou seja, na vida
e também similaridades, sobretudo no grupal (LANE, 1996, p. 31).
tocante aos processos de desenvolvimento e
aprendizagem, não só em relação ao aluno, Para pensar na situação atual dos
mas também a todas as pessoas envolvidas. adolescentes de grupos populares, precisa-
se refletir sobre o modo como se sentem em
relação a si mesmos, quando olham para si
ou quando percebem que todos a sua volta os
9. Identidade, família desqualificam e os consideram indesejáveis,
marginais, futuros delinquentes. Segundo
e relações sociais em Erikson (1987), Fraga (1996), Mello (1999),
Zaluar (1994b), essa vivência tem marcado
adolescentes de grupos fortemente a trajetória desses adolescentes.
Isso leva a alguns questionamentos
populares fundamentais. Como não acabar confirmando
Partindo da concepção de adolescência toda essa expectativa social? Como resistir a
como um processo do desenvolvimento que essa negatividade que os acompanha? Onde
apresenta transformações nos aspectos encontrar seus aspectos positivos quando
biológicos, psicológicos e sociais, constituindo- a sociedade e, muitas vezes, a família já
se numa fase que marca um importante perderam a esperança? Em resposta a essas
período na vida dos sujeitos, este estudo faz questões, Mello (1999) adverte que é muito
uma reflexão sobre a construção da identidade difícil construir e manter representações
em adolescentes de grupos populares, positivas de si mesmo levando-se em
problematizando as noções de infância, consideração que estas são sistematicamente
família, maternidade e paternidade, assim depreciadas por toda a sociedade, uma vez
como as relações de exclusão e violência que que, ao serem identificados como membros de
têm caracterizado a vivência dos jovens desse grupos populares, elas já vêm marcadas pelo
universo. que significam para os outros.
Pensar na construção da identidade, na Nesse sentido, problematiza-se o modo
formação dos sujeitos do ponto de vista como se constrói a identidade desses
psicológico, leva a pensar em suas relações adolescentes, tendo em vista que as condições
familiares e com o meio social, bem como nas sociais de marginalidade em diferentes planos
experiências vivenciadas por cada um. proporcionam bases muito frágeis para a
Lane (1989 apud ARPINI; QUINTANA, construção de identidades positivas.
2003) observa que o indivíduo está sempre Autores como Madeira (1997), Santos
inserido num contexto histórico, de maneira (1996), Spindel (1984) e Zaluar (1994a;
que suas relações seguem um modelo que é 1994b) têm evidenciado que as perspectivas
desenvolvido por cada sociedade e pelo qual sociais são, para esses jovens, cada vez mais
cada uma se orienta. Segundo a autora, é no empobrecidas; a escola é distante, ausente
contexto grupal que a pessoa se identifica com e carece de sentido; o trabalho, quando
o outro e ao mesmo tempo se diferencia dele, acontece, é sempre desqualificado socialmente
construindo assim a sua identidade. ou pouco prestigiado, oferecendo pouca
ou nenhuma garantia de condições de vida
Quando se procura resgatar a subjetividade, dignas. Seu universo de perspectivas futuras
esta implica necessariamente em identidade, é, por isso, obscuro, o que necessariamente
categoria que leva ao conhecimento da traz consequências para a natureza da
singularidade do indivíduo que se exprime representação que constroem de si mesmos,
em termos afetivos, motivacionais, através
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por meio da qual se pode entender suas sentimento de inferioridade social e uma
identidades. sensação de fracasso pessoal, pelo qual se
Se voltarem o olhar para a vida de seus pais, acusam e são, ao mesmo tempo, acusados.
novamente se depararão com uma perspectiva Esse processo de não reconhecimento
empobrecida, caracterizada pela realização de social, que se traduz por uma representação
trabalhos desvalorizados e mal remunerados, de inutilidade aos olhos da sociedade de
por uma vida sem conforto, situação que produção, pode ser, segundo Carreteiro (1999),
culmina com a ausência de expectativa de o resultado do receio de perder a condição de
mudança. “trabalhador”, cuja consequência seria a de
Segundo Guerra (1998), isso tem gerado pertencer à esfera da inutilidade, podendo,
uma crise na identidade dos pais, que se veem ainda, ser o fruto de uma prática de trabalhos
enfraquecidos em seu papel de sujeitos capazes socialmente desvalorizados e fisicamente
de se converterem em suporte identificatório desgastantes. Soma-se a esse desgaste
para seus filhos. Ao serem considerados o fato de esses sujeitos experimentarem,
insignificantes no trabalho, insignificantes no profissionalmente, uma vivência de relações
lar, acabam tornando-se fragilizados como de submissão, humilhação e menosprezo,
modelo de identificação. cuja natureza evidencia que tais trabalhos
Nesse sentido, Costa (1989) refere a crise são considerados de segunda categoria, isto
de identidade psicológica por que passam é, são vistos como ofícios inferiores e pouco
os homens trabalhadores, a ponto de não qualificados. Para Giddens (1996), os “novos
mais poderem dar conta de suas famílias, pobres” são aqueles que se encontram em
levando-os a enfrentar a autoacusação de uma situação frágil no mercado de trabalho,
serem fracassados, inferiores, incompetentes, ou que foram completamente excluídos dele.
incapazes de atender àqueles atributos que os Dentro desse panorama social, a perspectiva
tornariam homem, termo que traduz a condição de futuro é, com certeza, muito difícil para
de alguém capaz de manter a casa e a família. esses adolescentes, os quais se encontram à
Assim, parece que essa situação, em virtude margem das possibilidades mais positivas que
de não ser assumida pela estrutura social, a sociedade oferece; vivem quotidianamente
passa a ser automaticamente considerada a exclusão e, concretamente, possuem poucas
um problema individual, determinando que os esperanças de se inserirem dignamente no
pais por ela acometidos de fato não possam mundo do trabalho.
oferecer-se como suporte identificatório, Passam, então, a viver na periferia das
devido à sua própria situação de precariedade grandes dimensões institucionais de saúde,
e fragilidade como sujeitos sociais. educação e trabalho, mantendo com estas
O conceito de desqualificação social, relações de muita fragilidade, o que permite
elaborado por Paugam (1999), permite entender a situação de exclusão em que se
entender esse processo de enfraquecimento encontram e de acordo com a qual ora são
da identidade paterna. Segundo o autor, a mantidos fora da rede de suporte social, ora
experiência de desclassificação social é uma são iludidos pela própria sociedade de que
experiência humilhante que produz uma dela fazem parte em condições de igualdade
desestabilização nas relações com o outro e em relação aos demais.
afeta as relações familiares, convertendo-se Portanto, ao referir esses aspectos, não
muitas vezes num incremento ao sentimento se pode deixar de pensar nas relações entre
de culpa experimentado pelos pais ao se identidade e estrutura social, pois, como
depararem com a impossibilidade de vencer observa Ciampa (1989, 1998), as identidades
os obstáculos encontrados. Assim, ao não refletem a estrutura social ao mesmo tempo
conseguirem dar conta daquilo que deles se em que reagem sobre ela, conservando-a
esperaria como sujeitos, os pais vivem um ou transformando-a. Assim, as diferentes
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raro, ainda bastante jovem torna-lhe difícil aspecto é evidenciado por Zaluar (1994b, p.
o gerenciamento de todos os problemas e 264) ao referir:
dificuldades decorrentes de ser pobre, ter A diminuição acentuada da presença
muitos filhos e precisar mantê-los e, ao paterna, quer por abandono físico, quer por
mesmo tempo, garantir a manutenção da indiferença moral e psicológica, significou um
casa (SARTI, 1994). O mecanismo de controle acúmulo das funções maternas, agora também
encontrado por essas mães no cumprimento apontada como a responsável pela moralidade
de sua função doméstica é a imposição da da família.
violência; elas precisam “manter as rédeas”, Percebe-se, nas palavras da mãe citada, que
pois temem que, na ausência de um “pai”, as ela sente que faltou a “figura forte” (MOURA,
filhas e os filhos não venham a respeitá-las e 1996), aquela que se reveste de autoridade
conhecer as noções de limites necessárias. e com a qual os filhos se identificam e que
Nesse sentido, a ausência da figura paterna respeitam; aquela pessoa que, de posse de
acaba construindo uma relação diferente no autoridade, pode orientar e, enfim, controlar.
conjunto da vida familiar, o que leva a mãe a Tal figura, devido a sua condição de poder,
ser mais “durona” na intenção de preencher leva à incorporação das regras de convivência,
o vazio deixado na relação com os filhos. A à internalização de valores e normas na
família monoparental, matrilinear, coloca a socialização dos integrantes da família.
mãe nessa dupla função de mulher mãe e O que se pode constatar nessa situação é
trabalhadora, de modo que ela passa a exercer a presença de uma noção de disciplina ligada
parte da tradicional autoridade masculina para à ideia de autoridade, de força, de violência.
evitar fragilizar ainda mais sua família, uma Para muitas mães, e mesmo pais, a forma
vez que não há um homem para prover teto, de ensinar e disciplinar passa pela violência
alimento e respeito, ficando por conta dela a física, pelo medo, de modo que bater num
economia familiar (SARTI, 1994). filho é a forma de ensinar-lhe o que é certo
Dessa forma, entende-se que o fato de e bom. Trata-se sempre de um ato corretivo
a mãe assumir sozinha a manutenção da e preventivo de que as mães lançam mão
família a sobrecarrega muito, o que a deixa para evitar que percam o controle da situação
mais volúvel e reduz o tempo destinado a si e e que reflete a necessidade de sentirem que
aos filhos, trazendo-lhe mais preocupações e dominam seus filhos, domínio esse que se
angústias, situação que, sem dúvida, se reflete exerce pela força, pela ameaça ao abandono
em sua relação com eles. como forma historicamente conhecida na
Moura (1996) destaca a importância educação (FONSECA, 1987).
dessa problemática, observando que a Moura (1996) descreve a “síndrome da
família apresenta cada vez mais uma casa vazia”, em que a ausência dos pais, de
estrutura matrilinear, na qual cabe à mãe a acordo com a necessidade de trabalhar para
responsabilidade pelo crescimento econômico manutenção e sobrevivência familiar, priva
da família, fato que vem modificando a as crianças de uma figura de referência na
dinâmica dos papéis familiares. organização de seu dia a dia, fazendo com
A experiência de trabalho junto a que se aproximem gradativamente do mundo
adolescentes tem evidenciado essa realidade, da rua. Existe, segundo o autor, algo que é
que pode ser exemplificada por meio do muito significativo na vida da criança que não
depoimento de uma mãe, a qual atribui as está dado apenas pela presença física; faz-se
falhas da educação dada ao filho ao fato de necessário aquilo que ele chama de “presença
tê-lo criado sozinha, sem a importante figura psicológica”, a qual talvez possa garantir
do pai. Hoje, teme as atitudes do filho, que, melhores condições de vida, sobretudo
segundo relata, não consegue controlar. Esse por meio da possibilidade de relações de
solidariedade, de afeto, de proteção.
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ideal cujos atributos se distanciam do perfil a elaboração de uma agenda e tudo aquilo que
apresentado por esses grupos. é necessário ao “como estudar” (como ler um
Por outro lado, a mesma sociedade que os texto, como escrever, como estudar para a
generaliza, quando trata de estabelecer um prova, etc.).
diagnóstico e compará-lo com o ideal definidor, 2. Apropriação dos conteúdos escolares:
é a que define uma forma de tratamento o psicopedagogo visa propiciar o domínio de
diferenciada ao considerar seus espaços e disciplinas escolares em que a criança não vem
oportunidades em relação a emprego, estudo, tendo um bom aproveitamento. Ele diferencia-
formação e tratamento. Com isso, fica explícito se do professor particular pois o conteúdo
que a própria sociedade se contradiz ao exigir escolar é usado apenas como uma estratégia
uma aproximação quando se trata de avaliar e para ajudar a fornecer ao aluno o domínio
estabelecer uma diferenciação quando se trata de si próprio e as condições necessárias ao
de atender e dar oportunidades, pois neste desenvolvimento cognitivo.
caso desaparece seu interesse em generalizar 3. Desenvolvimento do raciocínio: trabalho
a concepção mais moderna, o que demonstra feito com os processos de pensamento
que não considera todos como sujeitos da necessários ao ato de aprender. Os jogos são
mesma ordem. muito utilizados, pois são férteis no sentido de
É nesse sentido que este trabalho busca criarem um contexto de observação e diálogo
contribuir, permitindo uma aproximação sobre processos de pensar e de construir
às dificuldades e conflitivas que decorrem o conhecimento. Esse procedimento pode
da realidade na qual se encontram esses promover um desenvolvimento cognitivo
adolescentes, evitando que as práticas sejam maior do que aquele que as escolas costumam
discriminatórias e descontextualizadas e, conseguir.
portanto, inadequadas à realidade deles. 4. Atendimento de crianças: a
psicopedagogia presta-se a atender
deficientes mentais, autistas ou crianças com
10. Como nasceu a comprometimentos orgânicos mais graves,
podendo até substituir o trabalho da escola.
Psicopedagogia...
A psicopedagogia nasceu para atender à Para Macedo (1990), essas quatro atividades
patologia da aprendizagem, mas tem se voltado não são excludentes entre si e nem em relação
cada vez mais para uma ação preventiva, a outras. O atendimento psicopedagógico
acreditando que muitas dificuldades de poderá, em determinados casos, recorrer
aprendizagem se devem à inadequada a propostas corporais, artísticas etc. De
pedagogia institucional e familiar. A proposta qualquer forma, está sempre relacionado com
da psicopedagogia, numa ação preventiva, é o trabalho escolar, ainda que com ele não
adotar uma postura crítica frente ao fracasso esteja diretamente comprometido.
escolar, numa concepção mais totalizante, Para Janine Mery (1985), psicopedagogo é
visando propor alternativas de ação voltadas um professor de um tipo particular que realiza a
para a melhoria da prática pedagógica das sua tarefa de pedagogo sem perder de vista os
escolas. propósitos terapêuticos da sua ação. Qualquer
Segundo Lino de Macedo (1990 apud que tenha sido a sua formação (psicólogo,
BOSSA, 2000), o psicopedagogo, no Brasil, pedagogo, fonoaudiólogo, professor), ele
ocupa-se das seguintes atividades: assumirá sempre a dupla polaridade do seu
1. Orientação de estudos: consiste em papel, o que determinará seu modo de ser
organizar a vida escolar da criança quando perante a criança e seus familiares, bem como
esta não sabe fazê-lo espontaneamente. diante da equipe a que pertence. O trabalho
Procura-se promover o melhor uso do tempo,
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dele, de acordo com Mery, possui as seguintes tanto no seu exercício na área educativa
especificidades: como na saúde, pode-se considerar que o
psicopedagogo tem uma atitude clínica frente
●● O “distúrbio de aprendizagem” é en- ao seu objeto de estudo. Isso não implica
carado como uma manifestação de que o lugar de trabalho seja a clínica, mas se
uma perturbação que envolve a totali- refere às atitudes do profissional ao longo da
dade da personalidade. sua atuação.
●●O desenvolvimento infantil é considera-
do a partir de uma perspectiva dinâmi- 10.1 Papel do Psicopedagogo
ca, e é dentro dessa evolução que o
sintoma “distúrbio de aprendizagem” é O amplo conjunto de tarefas
estudado. Assim, se for oferecida uma e funções realizadas pelos profissionais que
forma de relação melhor e diferente prestam assessoramento psicopedagógico às
à criança, ela deverá retomar a sua escolas, apesar de sua diversidade, pode ser
evolução normal. organizado em torno de quatro eixos (COLL,
●● A neutralidade do papel do psico- 1989 apud BOSSA, 2000). O primeiro é relativo
pedagogo é negada, e este conhece à natureza dos objetivos da intervenção, cujos
a importância da relação transferen- polos caracterizam respectivamente as tarefas
cial entre o profissional e o sujeito da que se centram prioritariamente no sujeito
aprendizagem. e aquelas que têm como finalidade incidir
●● O objetivo do psicopedagogo é levar o no contexto educacional. Assim, as tarefas
sujeito a reintegrar-se à vida escolar incluídas são tanto as que têm como objetivo
normal, respeitando as suas possibili- prioritário o atendimento a um aluno quanto
dades e interesses. as que aparecem vinculadas a aspectos
curriculares e organizacionais.
O segundo eixo afeta as modalidades de
O psicopedagogo, ainda segundo Mery intervenção, que podem ser consideradas como
(1985), respeita a escola tal como é, apesar corretivas ou preventivas e enriquecedoras.
de suas imperfeições, porque é por meio Qualquer intervenção realizada na escola
dela que o aluno se situará em relação aos pode ser caracterizada em um determinado
seus semelhantes, optará por uma profissão, momento, embora, em um momento posterior,
participará da construção coletiva da sociedade sua consideração se modifique.
à qual pertence. Esse fato não impedirá que Outro eixo também diferencia modelos de
o psicopedagogo colabore para a melhoria intervenção. Embora tenha como objetivo final
das condições de trabalho numa determinada o aluno, pode ter diferenças consideráveis:
escola ou para a conquista de seus objetivos. enquanto alguns psicopedagogos trabalham
Mas, em seu trabalho, ele deverá fazer com diretamente com o aluno, orientam-no e
que a criança enfrente a escola de hoje e até manejam tratamentos educacionais
não a de amanhã. Esse enfrentamento, individualizados, outros combinam momentos
no entanto, não significaria impor normas de intervenção direta e indireta (por exemplo,
arbitrárias ou sufocar-lhe a individualidade. no caso de uma avaliação psicopedagógica)
Busca-se sempre desenvolver e expandir a centrados nos agentes educacionais que
personalidade do indivíduo, favorecendo as interagem com ele (no próprio processo
suas iniciativas pessoais, suscitando os seus de avaliação psicopedagógica, na tomada
interesses, respeitando seus gostos, propondo de decisões sobre o plano de trabalho mais
e não impondo atividades, procurando sugerir adequado para esse aluno). São frequentes
pelo menos duas vias para a escolha do rumo as consultas formuladas por um professor ao
a ser tomado, permitindo a opção. Assim, psicopedagogo em relação a um aluno que
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não vai manter nenhum contato direto com médicos e psicólogos clínicos infantis. Esse
este profissional. trabalho apresenta uma etapa inicial, em
Como último eixo, Coll (1989b) indica que se faz uma avaliação sobre os aspectos
o lugar preferencial de intervenção, que afetivos, cognitivos e pedagógicos da criança,
entendemos como a diversidade de níveis e um paralelo com entrevistas de anamnese com
contextos, mesmo quando circunscrita ao os pais, a elaboração de um estudo de caso e a
marco educacional escolar. Esse eixo inclui realização de sessões. Num segundo momento,
tanto as tarefas localizadas no nível de sala a criança passa por um período de intervenção
de aula, em algum subsistema dentro da psicopedagógica paralelo com sessões de
escola, na instituição em seu conjunto, ano, orientação aos pais. Também a prática
série, como aquelas que se dirigem ao sistema psicopedagógica clínica é frequentemente
familiar, à zona de influência etc. desenvolvida em instituição de saúde que
O fato que se deve considerar é que as mantém atendimento psicopedagógico à
tarefas que aparecem englobadas nos eixos criança proveniente da comunidade e que não
precedentes são objeto da intervenção teria condições financeiras para receber esse
psicopedagógica, o que não significa que tipo de assistência em clínicas particulares.
todos os psicopedagogos as executem em seu
conjunto e, obviamente, que as realizem da
mesma forma.
O desempenho profissional de um 11. ORIENTAÇÃO
psicopedagogo ou de uma equipe é influenciado
também pela tradição e pela formação PSICOPEDAGÓGICA
recebida. Com relação à tradição, aquilo que
se fez sempre, que responde à percepção PARA OS PAIS SOBRE O
social sobre o papel profissional, possui uma
influência direta inegável nas próprias crenças COMPORTAMENTO DAS
do psicopedagogo, em sua autopercepção
profissional e, consequentemente, no que faz; CRIANÇAS
indiretamente, influi também por meio das Muitos pais (e professores) às vezes pensam
expectativas geradas por sua tarefa e pelas que os filhos têm alguns comportamentos
demandas que lhe são formuladas. indesejáveis propositalmente apenas para
Quanto à formação, a intervenção irritá-los, mas isso nem sempre corresponde
psicopedagógica foi assumida, à verdade. É importante que prestem
fundamentalmente, por pedagogos, psicólogos atenção às expectativas em relação aos
e, mais recentemente, psicopedagogos. Esses comportamentos apresentados por seus filhos.
profissionais foram formados em tradições Há comportamentos que os pais desejam e
disciplinares diferentes (psicologia escolar, outros que podem esperar.
psicologia clínica, psicologia social, pedagogia, O comportamento desejável geralmente
terapêutica, organização escolar, orientação leva os pais à frustração. Isso porque é um tipo
profissional etc.) e em diferentes escolas de de comportamento que desejam que os filhos
pensamento psicológico que, com frequência, tenham sem que haja uma intervenção direta
fazem alusão a modelos de funcionamento do deles. Por exemplo: levantar-se no horário
psiquismo humano abertamente discrepantes. para ir à escola, ou logo no primeiro chamado,
A atuação clínico-terapêutica é praticada fora arrumar os brinquedos e materiais escolares,
das paredes escolares, em locais especiais de ajudar nas tarefas da casa, saber o horário de
atendimento, o consultório psicopedagógico; tomar banho (e fazê-lo sem precisar mandar),
geralmente, são atendidas crianças das refeições, de estudar, de fazer as tarefas
encaminhadas por outros profissionais, como escolares e até mesmo de tomar remédios,
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Comportamento problemático M T N E M T N E M T N E M T N E M T N E M T N E
M Manhã
T Tarde
N Noite
E Escola: atividades escolares
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pelo prazer que ela sente em poder colaborar 11.2 Viver em conjunto: a
e servir aos outros.
É importante que as crianças aprendam importância dos limites
a participar das tarefas domésticas, Os pais também devem estar atentos aos
especialmente quando executadas junto com limites. Crianças e adolescentes precisam
um adulto, pois, além da orientação adequada, saber o que podem e o que não podem fazer.
aprendem sobre colaboração, companheirismo, Precisam saber que o limite ou a proibição
responsabilidade e cuidado com os espaços é para o bem deles e que, quando, ou se,
individuais e coletivos. for apropriado, terão a permissão para uma
Outra sugestão prática para a orientação dos determinada ação ou atividade.
pais é pedir aos filhos para elaborarem uma Crianças e jovens precisam saber que
lista de coisas que podem fazer para reforçar, suas ações têm consequências; que há
sem críticas, o comportamento positivo deles. coisas que eles não podem fazer porque não
Quando se tratar de elogios, eles devem ser têm maturidade biológica e psicológica para
específicos, verdadeiros e claros. Por exemplo: responder por elas ou porque causam danos
aos outros ou a elas próprias; que há lugares
● Gostei
● do jeito como você falou com que não devem frequentar, programação na TV
sua irmã. e filmes nas locadoras que não devem assistir;
●
● Gostei do jeito como você pendurou a que há horários de saídas e chegadas em casa
blusa. que devem ser combinados e respeitados;
● ● Gostei do jeito como você arrumou seu que há regras sociais a ser cumpridas; e que
material escolar. as normas de relacionamento social podem
● ● Gostei da maneira como você arrumou ser aprendidas e devem ser praticadas dentro
seu quarto. e fora de casa.
●
● Gosto quando você me ajuda a tirar a Os pais devem tratar seus filhos com muita
mesa do almoço. atenção, firmeza e carinho. Cuidar, proteger
● ● Muito obrigada(o) por sua ajuda, e ouvir o que eles têm a dizer é importante.
filho(a)! Ouvir suas queixas e seus medos e ajudá-
●Evitar
● associar elogio e crítica. Exemplo: los a superar as dificuldades. Ensiná-los a
● Gosto
● de como você ajudou a tirar a escolher, a negociar, a esperar e a lidar com a
mesa do café, mas você não colocou a frustração que a espera pode gerar. Essas são
louça na máquina. tarefas paternas importantes.
●Evitar
● julgamentos que vinculem a pes- É preciso cuidar dos filhos com amor e
soa ao comportamento, como: dedicação, especialmente dos menores,
●
● Você é um bom menino porque fez a que tanto dependem dos adultos para o seu
lição. desenvolvimento saudável.
●Não
● elogiar por elogiar. É muito impor- É importante que os pais prestem atenção
tante saber que a sinceridade do elogio ao período de desenvolvimento em que as
é fundamental! crianças se encontram, pois, muitas vezes,
elas ainda não têm maturidade cognitiva,
emocional e nem mesmo física para responder
adequadamente a uma tarefa proposta tanto
pelos próprios pais como, algumas vezes, pela
escola ou grupo social.
É preciso estabelecer uma relação de
confiança mútua entre pais e filhos, pois as
crianças e os adolescentes precisam confiar
nos pais e saber que os pais confiam neles.
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levando brinquedos que a estimulem a brincar. tomar muito tempo e acabam escolhendo
Quantas crianças vão à praia ou ao parque outra que não permite tempo algum.
sem nenhum brinquedo porque seus pais não Fonte: Parolin, 2007.
levam, e a criança acaba ficando sem estímulo
para começar a brincar. Lembro ainda que
o brinquedo deve permitir que a criança o 13. Conclusão:
manipule e faça dele o que ela quiser. Tenho Como é antiga a frase “é melhor prevenir
visto muitos brinquedos em que a criança não que remediar!”
brinca, mas é brincada por ele. Carrinhos que Entretanto, mais rotineiro é ainda o
saem em curvas, capotam e param conforme hábito de se tomarem providências e cuidados,
a programação do fabricante, ou bonecas que apenas após o infortúnio. Não é diferente
ficam girando em seus patins, infinitamente. Ou também na área educacional.
seja, o brinquedo faz aquilo e só aquilo, dando Como ficaria o gráfico de sua escola,
pouca margem para a criança transformá-lo se fosse feito um levantamento comparativo
e, mesmo assim, quando a criança vence esse entre regras e atitudes punitivas adotadas, de
obstáculo, quebrando, ou dobrando algo no um lado, e as medidas preventivas criadas e
brinquedo, os pais gritam: “Não te dou mais exercidas pela equipe pedagógica, de outro?
brinquedo... você só estraga...”. Para que lado pesaria mais a balança?
A avó, personagem desse relato, soube O quanto sua escola se preocupa com
entender que as crianças necessitavam de o exercer de uma orientação pedagógica
um disparador para começarem a brincar. atuante, junto aos pais e aos alunos? Com que
Possivelmente são crianças acostumadas reqüência são realizadas reuniões e encontros
a ficarem na frente da televisão e se entre pais e professores, com a finalidade de
desacostumam a brincar na areia. A passar informações e dar suporte para que
brincadeira relaxa, organiza, distrai e permite seus filhos sejam melhor conduzidos?
que os adultos façam suas coisas. Se a criança Qual a intensidade da preocupação que
estiver envolvida com suas brincadeiras e sua escola manifesta em criar uma aliança
brinquedos, os adultos poderão, igualmente, com as famílias, principalmente promovendo
envolver-se com suas conversas, com suas e alimentando uma aproximação com os pais
coisas e poderão, certamente, distrair-se. Do dos alunos desde a pré-escola, a fim de evitar
contrário, ficam tal qual as mães à beira-mar, um clima de desconfiança, rivalidades e de
tentando conversas e as crianças tentando se mútuos ataques, no futuro?
distrair e nada, efetivamente, acontece. O que sua escola prioriza? Aumentar
É preciso aprender a respeitar a infância, o número de matrículas ou investir na área
suas necessidades e características e, também, pedagógica e na relação produtiva com seus
a viver bem. Educar uma criança demanda professores?
tempo e intenção, dentre outras coisas. A Não existem escolas perfeitas, nem
infância é tempo de brincar, de experimentar, alunos e famílias perfeitas. Mas, como se lidam
de aprender. É um tempo precioso que não pode com os erros? Qual é a maior preocupação?
ser impedido nem postergado. Nossas crianças Punir ou educar? Orientar os que chegam ou
crescem, apesar da pressa, da falta de tempo e criar regras de defesa e ataque?
de paciência de seus pais e educadores. Até que ponto, sua escola reconhece
As mães dessa história queriam paz para que tem uma parcela de responsabilidade nos
conversarem entre si e não perceberam que “fracassos escolares”, em lugar de se proteger,
uma educadora e uma pá poderiam construir culpando apenas os pais por sua falta de
esse espaço tão almejado. Muitas pessoas limites, pela sua ausência física e de valores?
acreditam que uma determinada ação vai Toda “escola tem sua metodologia e
filosofia para educar uma criança, no entanto,
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