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EDUCAÇÃO INFANTIL: REPERCUSSÕES DAS DIFICULDADES DOS PAIS

NA COLOCAÇÃO DE LIMITES NO ESPAÇO ESCOLAR

Fernanda Tessarotto1.

Orientadora:

Resumo: O problema da falta de limites é hoje uma das principais


preocupações de pais e professores, e um grande agravante desta situação é a
indeterminação dos deveres de cada elemento que se relaciona com a criança.
Proporcionar o desenvolvimento físico, emocional e social de crianças entre 0 e
5 anos, vem se tornando uma tarefa de responsáveis indefinidos, ora é dever
da família, ora da escola, e as vezes até da sociedade. Através de justificativas
como a falta de tempo, pais, mães, professores e cidadãos se escondem da
culpa que sentem por verem suas crianças cada vez mais desrespeitosas e
egoístas. Dessa forma, este artigo tem como perspectiva abordar a função
educacional e social da família e da educação infantil, a fim de esclarecer os
principais deveres de casa uma para que a criança possa se desenvolver
plenamente em ambos os ambientes, e a partir da interpretação do professor
de educação infantil sobre a colocação de limites na criança, perceber quais as
principais facilidades e dificuldades do relacionamento entre os educadores
(pais e professores) para a formação dos pequenos. Como metodologia foi
utilizada uma pesquisa, de maneira aleatória, com seis professoras do Ensino
Infantil. Foram coletados dados pessoais e profissionais dos participantes e
anotadas suas respostas. Conclui-se que a família, como principal agente na
formação da criança, tem o dever de proporcionar a esta a melhor educação
possível. Já na escola infantil, hoje vista como uma instituição de ensino, deve
buscar sempre a interação entre família e escola, para que juntas possam
caminhar ao alcance do pleno desenvolvimento de suas crianças.

Palavras-chave: Criança. Família. Educação Infantil. Limites.

Cidade, 2013.

____________________________________________________

1
Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (2010), pós-
graduanda em ????? pela ????. Email: fetessarotto@hotmail.com
2
INTRODUÇÃO

O problema dos limites em crianças e adultos vem se tornando algo


comum na sociedade em que vivemos. Na tentativa de encontrar uma causa ou
um culpado, diversas justificativas são elaboradas como o avanço tecnológico,
a entrada da mulher no mercado de trabalho, a falta de tempo, a distorção dos
papéis dentro da família, inovações pedagógicas e psicológicas dentre outras.
Cada vez mais frequente, a falta de limites é hoje uma das principais
preocupações de pais e professores. Sendo assim, o presente artigo se volta
para a educação infantil, a fim de levar a estas instituições propostas que
tenham como foco a questão dos limites e valores éticos de convivência e, ao
mesmo tempo garantam o desenvolvimento físico e social da criança no
ambiente escolar.
Percebe-se que desde muito pequenas, algumas crianças apresentam
comportamentos egoístas e certa dificuldade em tolerar pequenas frustações o
ambiente escolar, portanto é esse o interesse em realizar esta pesquisa e
artigo, para tentar encontrar meios de diagnosticar as causas e apresentar
possíveis caminhos para as escolas de nível infantil.
Com relação à problemática, é necessário entender as causas que veem
tornando a falta de limites um problema cada vez mais frequente na sociedade
contemporânea e o papel do educador do ensino infantil em relação à
colocação de limites e ao desenvolvimento integral da criança.
A fim de tentar alcançar discussões e reflexões sobre a problemática,
define-se como objetivo deste artigo estabelecer a importância da colocação de
limites no espaço da educação infantil, e mais especificamente, apresentar as
funções da família para o desenvolvimento infantil; descrever o surgimento da
educação infantil no Brasil; coletar relatos de professores sobre o olhar para a
criança na questão de colocação de imites; e, discutir e relacionar os dados
coletados.
1 A FUNÇÃO EDUCACIONAL E SOCIAL DA FAMILIA

A família nem sempre foi estruturada como conhecemos hoje, pois


semelhante a outros tipos de organizações, ela é algo dinâmico que também
acompanha as mudanças que ocorrem durante a história, se adaptando a
novos valores, relações, conhecimentos, a novas maneiras de viver e também
de educar, é o que afirma (PAGGI;GUARESCI, 2004).
Dessa forma, autores conceituam família a fim de nos dar uma melhor
compreensão sobre a função enquanto um grupo em que cada membro
desempenha um papel específico, e enquanto parte de uma sociedade com
culturas e ideologias já estabelecidas.
Assim, a família é vista como um grupo de pessoas que se relacionam entre
si e com o restante da sociedade, podendo também essas ligações serem
positivas ou negativas.
Tendo como principal função proporcionar o crescimento físico, social e
psicológico dos mais fracos dentro do grupo familiar, Kehl (2008), afirma que
para se construir um sujeito razoavelmente normal, uma família nos tempos
atuais, não precisa, necessariamente, obedecer a uma organização tradicional
com pai, mãe e filhos ligados por consagração e consanguinidade.
Assim como a estrutura familiar vem sem modificando durante anos, a
maneira de educar e cuidar dos filhos também acompanha essas
transformações, que para Zanetti (2009), são provocadas por mudanças
relacionadas à evolução científica, as transformações dos valores da família, o
modo de perceber a criança e a relação entre pais e filhos e, a sociedade que
nos leva a condições precárias de existência.
Entender qual a real importância da família para o desenvolvimento
completo da criança nos primeiros anos de vida, e apontar direções para estes
pais realizarem esse desenvolvimento nos leva a estudar a família nos
aspectos biológicos, psicológicos e sociais.
No aspecto biológico, a família está diretamente relacionada com a
sobrevivência do indivíduo, pois cabe a ela alimentar e proteger o bebê para
que este consiga chegar a fase adulta. Tarefas realizadas há algum tempo,
apenas pelo saber natural dos pais, passadas através das gerações, hoje é
alvo de especialistas, que na busca de um melhor entendimento em relação a
como atuar no cuidado e educação das crianças muitas vezes leva pais e mães
a desconfiarem de sua competência como educadores, é o que afirma Zanetti
(2009).
A função psíquica exercida pela família diz respeito ao emocional, ao
sentimental, onde ela promove o desenvolvimento da personalidade da criança
para que esta possa ser inserida primeiro no grupo familiar e posteriormente na
sociedade. Para Berge (1968, p.23), “o caráter afetivo do meio familiar é, sem
dúvida, sua maior forma e, ao mesmo tempo, o seu ponto fraco”.
A afetividade é vista como fator de extrema importância para a construção
da personalidade da criança porque o carinho, o amor e o respeito de recebe
quando pequena dará origem a uma pessoa que também tem esses
sentimentos para com as demais.
Até que o pai, e posteriormente outras pessoas exerçam papéis
significativos na vida da criança, a mãe se torna responsável pela mediação
entre as relações do filhote com o mundo, é o que enfatiza Passos (2008).
Sendo assim, a mãe se torna a principal figura de apego da criança, e cabe a
ela dar os primeiros incentivos emocionais para que seu pequeno possa
estabelecer relações com as demais pessoas.
Ao contrário da mãe que se assume como tal através da amamentação, a
relação de afetividade com a figura paterna se dá a partir da troca de gestos e
ensinamentos, e dessa maneira aos poucos a criança passa a não ter mais
uma ligação restrita a mãe, começando a se relacionar com outras pessoas
que estão próximas a ela e com a sociedade em que vive.
O modo como cada família organiza sua própria cultura corresponde às
experiências que cada membro carrega, e assim, quando os casais
compartilham de visões de mundo semelhantes se forma o caráter familiar. A
partir daí, vem se moldando a maneira como esse pequeno grupo atua perante
a sociedade.
Dentro do ambiente familiar a criança é aos poucos introduzida a uma
socialização, mas as regras aqui estabelecidas às vezes podem ser
modificadas ou ignoradas sem muita desaprovação dos membros desse meio.
Porém a família deve reconhecer que a sociedade não é tão flexível quanto a
suas normas de convivência, por isso cabe também a família inserir na
sociedade.
Fazer com que a criança compreenda, respeite e incorpore as diversas
normas de convivência das sociedades não é tarefa fácil. Ensinar regras
sociais para uma criança, portanto, não deve partir do método autoritário, pois
na maioria das vezes impor alguma coisa ao ser humano leva-o a revolta, por
ser obrigado a cumprir exigências. Já quando o adulto ensina com autoridade,
a criança busca entender o porque das coisas, e a partir do conhecimento
daquele que lhe ensina surge por ele o sentimento de admiração e respeito.
Para que a criança se sinta segura e tenha certeza de que o que está
aprendendo é correto e o melhor a se fazer mesmo que a princípio não pareça,
o adulto deve ter autoridade ao ensinar, mostrando que seu conhecimento
sobre determinado assunto lhe qualifica para dar as ordens necessárias.
Portanto, se cada membro da família cumprir com suas tarefas enquanto
principais responsáveis pela construção da personalidade de um indivíduo, o
ambiente familiar torna-se a melhor escolha para que uma criança se
desenvolva cognitiva, psicológica e fisicamente, e possa um dia caminhar
sozinha exercendo sua cidadania de forma consciente e atuante na sociedade.

2 EDUCAÇÃO INFANTIL: FUNÇÕES DA INSTITUIÇÃO E DO EDUCADOR


PARA A FORMAÇÃO DE INTERAÇÕES DA CRIANÇA NO ESPAÇO
ESCOLAR

A primeira menção a instituições de ensino infantil no Brasil é de 1879 de


acordo com Mello e Rossetti-Ferreira (2008), e tinha como principal objetivo
suprir necessidades primárias como abrigo, comida e vestimentas de crianças
pobres de até seis anos, retirando-as da rua. Enquanto que alguns anos mais
tarde, os chamados jardins-de-infância, visavam educar e desenvolver crianças
de famílias ricas com mais de três anos de idade.
A partir das décadas de 1970 e 1980, como relataram Amorim e Rossetti-
Ferreira (1999), é que as creches passaram a ser uma alternativa para
operários deixarem seus filhos durante a jornada de trabalho, mas ainda com o
objetivo de apenas cuidar dos pequenos.
Entretanto, ainda Amorim e Rossetti-Ferreira (1999) afirmam que estas
instituições ainda são vistas como um ambiente precário de cuidados e ligadas
ao atendimento da população de baixa renda. Além disso, quanto aos
profissionais atuantes nessas escolas, na maioria das vezes possuem uma
restrita prática de formação, e ainda uma difícil condição de trabalho o que
acaba gerando uma grande rotatividade de professores e funcionários nestes
serviços.
A educação como um todo esteve presente, seja de maneira específica ou
não, em todas as legislações brasileiras, porém a educação infantil passa a ser
definida como primeira etapa da educação básica e a receber uma atenção
mais direcionada somente com a Constituição Federal de 1988, a partir da
elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996.
Mas o maior avanço em relação à educação infantil se dá com a edição da
Lei nº 9.394 de 26 de Dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB), que trata a educação escolar em dois Níveis: I-
educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino
médio. II- educação superior.
Em busca da melhoria da qualidade de vida do ensino de todos os níveis de
escolarização, a LDB se refere à educação infantil de forma que esta,
definitivamente, deixa de ser apenas uma instituição assistencialista e
passando a ser considerada um ambiente educacional, afim de que crianças
com até seis anos de idade se desenvolvam em todos os aspectos.
A educação como um todo nem sempre foi atenciosamente estudada nas
constituições anteriores, e o ensino na primeira infância era algo voltado
apenas para o cuidado das crianças mais necessitadas. Ao longo da história,
essa situação vem mudando. Mudanças pequenas, vagarosas, mas que
fizeram com que os cidadãos brasileiros tenham o direito à educação, a cultura
e ao desenvolvimento completo em todas as etapas da vida.
As instituições de educação para bebês e crianças pequenas podem ser
consideradas uma continuação do lar, pois assim como a família segundo
Souza (1969), a escola tem como principal objetivo desenvolver as habilidades
da criança e prepará-la para a vida. Portanto, as creches não devem estar
voltadas apenas para a questão assistencialista, mas sim em realizar um
trabalho que busque oferecer ao aluno oportunidades para que ele construa
sua personalidade e amplie sua visão de mundo.
Coloca Silva e Pantoni (2009, p.7) quem “nesse modelo contemporâneo da
educação infantil, a creche é então concebida e valorizada por sua função
formadora das crianças como sujeitos históricos e culturais”, e essa ideia de
concretiza quando os professores passam a ser vistos como mediadores das
relações dessas crianças com o mundo e, pelas fundamentais para o
desenvolvimento cognitivo, estético, social e relacional da criança em grupo.
As atividades propostas pelo professor devem ser organizadas de modo
que cumpra com todos os seus objetivos. Porém, organizar atividades para
serem realizadas na educação infantil não significa elaborar um planejamento
com sequencias que serão obrigatoriamente executadas, mas sim possibilitar
que as crianças compreendam desde pequenas o funcionamento da
sociedade. Através do estabelecimento de rotinas e das funções de cada
indivíduo, aos poucos, a criança, se torna apta a perceber as mudanças que
ocorrem no ambiente em que vive e com o seu próprio eu, disserta Oliveira
(2001). O educador então deve desenvolver atividades em que seu aluno
interaja com as outras crianças e também com os objetos, espaços e situações
que estejam presentes no seu cotidiano.
Para Martins Filho (2008), no trabalho pedagógico as relações são a base
para se organizar e sistematizar as ações pedagógicas que visam respeitar as
particularidades de cada aluno. Com isso, podemos dizer que a escola e o
professor de educação infantil devem priorizar a singularidade, ou seja,
reconhecer que cada criança é diferente da outra e tentar desenvolver um
trabalho baseado no respeito às individualidades, pois assim a criança será
capaz de estabelecer uma relação saudável com os demais e consigo mesma.
Regras e normas são fundamentais para que o aprendizado aconteça de
maneira integral, porém é preciso entender que crianças, em pleno
desenvolvimento cognitivo, motor, linguístico, social, etc, não podem
permanecer imóveis e mudos durante todo o tempo que ficarem na escola.
Desse modo, cabe ao profissional da educação conciliar o afeto e a parte
emocional com a razão e o espírito crítico da escola para que então, a criança
se sinta segura e confortável para aprimorar suas habilidades físicas e
intelectuais.
Portanto, o mundo heterogêneo das creches e pré-escolas fornece o
convívio com adultos e crianças de várias idades o que proporciona
aprendizagens significativas para a formação da personalidade do indivíduo,
desse modo, cabe a instituição, professores, funcionários e à família usufruir
todas as oportunidades de crescimento intelectual, físico e social.

3 O OLHAR DAS PROFESSORAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL SOBRE A


COLOCAÇÃO DE LIMITES

Assim como as mudanças econômicas, políticas, religiosas e tantas outras


que estão ligadas ao modo de viver do ser humano, a visão imites também vem
se transformando. Isso porque os valores éticos e morais que são a base para
a colocação de limites nas crianças, vem se modificando durante a história
sendo assim, pais e mães, com tantas inovações pedagógicas e psicológicas,
se sentem inseguros quanto ao desenvolvimento da consciência do que é certo
e errado em seus filhos.
Segundo Furtado (2009, p.26) “os limites tem a função de estabelecer
fronteiras fundamentais para a definição de papéis e a organização de
responsabilidades. Os limites promovem segurança e proteção”.
Colocar limites é fazer com que a criança ou adulto entenda que a partir do
momento que suas ações invadem o espaço (físico e/ou mental) do outro,
interferindo e prejudicando a vida deste, significa que está passando dos seus
limites e cabe não só a família, mas toda a sociedade, reorganizar seus
conceitos éticos para que o problema dos limites chegue a uma solução.
Porém os pais tem apresentado grande dificuldade em impor limites e os
motivos, segundo Furtado (2009, p.27) são: “culpa insegurança, indefinição de
papéis, vida agitada, excesso de compromissos, influência dos amigos e dos
meios de comunicação”.
Ao se deparar com uma criança ou adulto que não respeita seus limites,
tenta-se encontrar um culpado para que se justifique o comportamento rebelde,
impulsivo e egoísta, porém, a culpa se estende a uma série de responsáveis
que, de maneira errônea, aderem metodologias que resultam no problema
limite.
Além da prática permissiva e compensatória justificada pelo pouco tempo
dedicado aos filhos outro fator destacado pelos autores é que antigamente as
regras sociais eram mais claras, o que definia os padrões de educação e
comportamento, então era mais fácil decidir o que era bom ou ruim, o que era
certo ou errado.
Hoje, enfatiza Zagury (2008), o maior problema enfrentado por pais e mães
é a dificuldade para colocar em prática as novas teorias pedagógicas e
psicológicas que confundem esses pais, deixando-os inseguros em quando
dizer sim ou não e, se proibir ou negar causará traumas à criança.
Participar da educação e dos cuidados da criança é um dever de todos
aqueles que convivem com ela, e a família sem dúvida é a principal
responsável pelo desenvolvimento dos pequenos, e cabe aos pais, como
indivíduos mais próximos da criança, ensiná-la quais os seus limites.
A palavra “não” significa negação, mas não é sinônimo de aprendizagem,
pois ao mesmo tempo em que educa também pode fazer com que as crianças
cheguem a conclusão d que tudo que pensam, desejam e fazem é errado.
Zagury (2008) coloca que dizer “sim” sempre que possível e “não” sempre que
necessário. Portanto, quando se negar algo a criança, é preciso explicar o
porque, para que ela possa entender quais os riscos que a pessoa com mais
experiência vê em determinadas ações e atitudes, pois estas podem com estar
prejudicando não só a criança, mas também uma outra pessoa.
Pereira, Furtado e Stumvoll (2009, p.27) dizem que “estabelecer limites
significa amar os filhos”, o próximo, amar as crianças na esperança de se ter
um futuro em que o respeito e a igualdade reinem em todos os cidadãos.

4 PESQUISA

4.1 Seleção dos Participantes da Pesquisa


A escolha dos participantes desta pesquisa foi feita de maneira aleatória,
sendo, as participantes, professoras do Ensino Infantil de escolas públicas ou
privadas de uma cidade do interior do estado de São Paulo. A amostra utilizada
foi se seis profissionais da área da educação.
As participantes atuam em níveis de berçário ao Infantil III, e o número
de seis amostras foi escolhido intencionalmente, tendo em vista um estudo
qualitativo, e por considerar que seis participantes compõe um número
coerente com os objetivos da pesquisa.
Para a realização da metodologia julgou-se necessário coletar dados
pessoais e profissionais dos participantes como: idade, tempo de magistério,
formação acadêmica, turma em que atua e escola se pública ou privada. A fim
de garantir a identidade das participantes, foram atribuídos nomes fictícios
conforme consta no quadro abaixo:
Nome Idade Tempo de Formação Acadêmica Turma Escola
magistério
Ana 36 anos 17 anos Pedagogia Infantil II Pública
Pós- Psicopedagogia
Bete 46 anos 22 anos Pedagogia Infantil III Pública

Carla 26 anos 3 anos Pedagogia Infantil II Privada

Dora 37 anos 14 anos Magistério, Pedagogia e Infantil III Pública


Pós-Psicopedagogia
Eliana 30 anos 10 anos Pedagogia Maternal Privada
Pós- Psicopedagogia
Flávia 24 anos 5 anos Letras/ Inglês Infantil I Privada

Quadro 1- Dados de Identificação


Fonte: o autor

4.2 Resultados da Pesquisa


Optou-se por transcrever a pergunta e as respostas das participantes, na
integra para uma melhor compreensão dos entendimentos sobre a colocação
dos limites nas crianças do Ensino Infantil.
“Na sua prática pedagógica, como você tem analisado a parceria escola
e família das mesmas sobre a colocação dos limites? Quais as facilidades e
dificuldades? Qual a contribuição da Educação Infantil na colocação de limites
da infância?”
Respostas:
a) Participante Ana:
“Temos percebido, durante os últimos anos, que a falta de limites vem
alcançando proporções enormes no que diz respeito à educação das crianças,
independente da idade que possuem, pois há um desrespeito geral. Notamos o
quanto a presença da família na vida da criança, e seu comprometimento com
a mesma é determinante no estabelecimento de uma convivência saudável no
ambiente escolar. Torna-se mais fácil trabalhar com crianças que já tenham
noção de respeito e limites, cabendo a escola somente reforça-los e não
ensiná-los, relativamente.
b) Participante Bete:
“Em minha opinião, a escola sempre procura maneiras competentes para
trazer os pais à escola para participarem das dificuldades de seus filhos e dos
problemas. Ainda há dificuldade da escola em manter esse contato, pois
sempre há a questão da falta de tempo em alguns casos e também a falta de
apoio, colaboração e participação dos pais. Como sempre a justificativa é que o
tempo que eles ficam com seus filhos é pouco. A escola procura todas as
formas cabíveis para manter contato com os pais e responsáveis e mesmo
assim, ainda encontram algumas dificuldades na colaboração dos mesmos. A
educação infantil procura, através de atividades, brincadeiras, roda de
conversa, histórias, desenhos, colaborar na formação de seus alunos”.

c) Participante Carla:
“Muitos pais colocam seus filhos cada vez mais cedo na escola na
esperança de que a professora imponha-lhes os limites que eles não
conseguem em casa, o que dificulta o nosso trabalho. No entanto as crianças
pequenas tendem a se adequar à rotina proposta pela professora.”
d) Participante Dora:
“Nos últimos tempos tenho observado que os limites que as crianças
recebem em casa tem sido muito pouco, os pais estão delegando esse poder
aos professores e acredito que seja por isso o grande aumento da indisciplina
dentro das salas de aula. A facilidade é que o professor molda seus alunos de
acordo com suas convicções pedagógicas e a dificuldade é que existem limites
que devem ser colocados desde o berço. A educação infantil deu um grande
passo, sendo de 0 a 5 anos, pois as crianças receberão uma metodologia e
disciplina mais adequada desde a mais tenra idade.”
e) Participante Eliana:
“Em minha prática pedagógica, procuro sempre colocar os pais a parte de
todo o andamento de seu filho(a) e orientá-los no que acho necessário para
que a criança seja educada plenamente, de acordo com a convivência em
sociedade. Percebo uma certa resistência de alguns pais em aceitar as
orientações. O ensino infantil é de extrema importância para o pleno
desenvolvimento da criança.”
f) Participante Flávia:
“Quanto à parceria, depende muito do ambiente escolar (pública/particular).
As facilidades são que com a parceria tudo se consegue e as dificuldades são
que sem a participação dos pais, colocar limites é quase impossível. O ensino
infantil contribui em vários aspectos, inclusive em comportamento, disciplina,
educação com as pessoas.”

5 ANÁLISE DOS DADOS

Sobre a análise da pesquisa, observou-se que as participantes disseram


achar importante interar e integrar a família nos projetos e no cotidiano da
escola, para um melhor desenvolvimento da criança em relação à colocação de
limites.
Porém muitas vezes a escola não encontra meios pra estabelecer esta
relação com a família e com a comunidade por diversos motivos. Em alguns
depoimentos as professoras disseram sobre esse afastamento dos pais em
relação à educação escolar dos filhos.
A falta de tempo é vista como um dos principais vilões do relacionamento
entre as pessoas, afetando todos os tipos de relação social, inclusive a relação
entre pais e filhos dentro da família ou da escola. Afirma Furtado (2009, p.155)
que, nem sempre estar muito tempo ao lado dos filhos significa estar dando a
atenção necessária e com a devida qualidade a eles. O modo como se
estabelece a interação e a participação na vida do filho não depende
exclusivamente do quanto de tempo se passa com ele, mas sim de como e
com qual qualidade essas relações serão conduzidas pelos pais.
Ao dizer que a parceria depende da depende da escola ser de iniciativa
pública ou privada, nos remetentes a observar que problemas que justificam a
pouca interação da família e escola são problemas que abrangem as diversas
camadas sociais, e as soluções propostas por Vélez (2008), garantes uma
melhor participação na vida escolar das crianças independente de sua escola
ser particular ou não.
Vélez (2008) ainda propõe mecanismos para melhor informação e
participação, sendo através de combinações variáveis com canais formais
(reuniões e assembleias) e informais (pequenas oficinas, ou até mesmo nas
entradas e saídas dos alunos).
Outra dificuldade apresentada é a existência dos limites desde o berço.
Segundo Soifer (1989), a função dos progenitores é de ensinar, enquanto que
a função dos filhos é de aprender.
Por limites e ensinar valores e regras sociais é algo que deve acontecer em
todos os momentos da vida da criança, desde que nascem as pessoas que a
rodeiam devem iniciar esses ensinamentos através de seus gestos e palavras.
Desse modo, o respeito é algo que não cabe somente a escola ensinar mas
também a sociedade e a família.
Certamente quando a estrutura familiar proporciona a criança ter relações
afetivas com as demais pessoas e lhe coloca limites, ao entrar para a escola a
criança e o professor estabelecem um relacionamento entre si e com as outras
pessoas que facilitam o convívio e aprendizado de todos.
Sendo assim, ou a educação vem de casa ou se torna responsabilidade
exclusiva da escola, quando na verdade, segundo Krishnamurti (1974), pais e
mestras vivem muito ocupados com os próprios conflitos esquecendo que a
criança precisa de ambos para, de fato, crescer e desenvolver suas
habilidades, se tornando futuramente um cidadão atuante que respeita seus
limites.
No que diz respeito às contribuições da escola, notou-se que todas veem o
ensino infantil como uma relevante contribuição para o desenvolvimento das
crianças de 0 a 5 anos, não só em relação aos imites, mas também nos
aspectos físicos, emocionais e sociais.
Sendo assim a escola infantil se coloca como sendo um espaço dedicado
ao aprendizado de todos os aspectos, onde a família inicia em casa nos
primeiros meses de vida, e dá continuidade posteriormente junto com a escola
e a sociedade.
Através da discussão entre os depoimentos e das revisões literárias, pode-
se perceber que na sociedade em que vivemos, muitos são os problemas que
acarretam um comportamento sem limites de crianças e adultos, mas o
principal deles é a má distribuição das funções de casa elemento social, pois a
família, muitas vezes, se sente no direito de delegar suas responsabilidades à
escola, e esta à sociedade, e assim sucessivamente, sem refletirem o mal que
causam a formação emocional e psíquica da criança.
O desenvolvimento infantil é dever de todos que se relacionam com a
criança direta ou i9ndiretamente, não podendo este ignorar ou passar a diante
suas funções e responsabilidades perante a formação de um ser humano que
ainda depende do outro para sobreviver e para se relacionar com as demais
pessoas.

6 CONCLUSÃO

O problema “limites” vem se tornando algo cada vez mais comum na


sociedade em que vivemos. Com estre artigo foi possível constatar as
dificuldades dos pais na educação dos filhos. A família, então, transfere para a
escola a responsabilidade pela criação dos pequenos, cobrando desta uma
educação de qualidade, entretanto, muitas vezes, deixando de participar da
elaboração e aplicação dos programas propostos pelas instituições.
Através de uma análise das atitudes e relações sociais dentro da família
e da escola, foi possível chegar a conclusão de que o principal agravante a
falta de limites em crianças é a indeterminação das funções de cada pessoa
que se relaciona com a criança. Pais, mães, muitas vezes se veem
sobrecarregados com tantos outros problemas pessoais e profissionais, que
acabam transferindo a responsabilidade pela educação dos filhos para a
escola, e esta não se sentindo na obrigação de criar os filhos dos outros
devolve a responsabilidade à família.
Não assumir seu papel perante a educação das crianças é o que dá
início ao problema da falta de limites, pois desenvolve na família uma relação
permissiva e compensatória, além da criança não ter alguém que lhe ensine o
que é certo e errado. É preciso entender que se esconder atrás das
justificativas, ou jogar a culpa em terceiros não irá resolver o conflito vivenciado
nas casas e classes de aula.
A família e a escola possuem funções particulares, porém estas são
interdependentes, sendo assim, nenhum dos dois supre por completo a falta do
outro. O que acontece é que os dois meios se completam, podendo através de
suas funções até suplementar pequenas deficiências um do outro.
Sabemos que muitos são os obstáculos que dificultam essa parceria,
mas é essencial lembrar que a formação e o bem-estar da criança é o mais
importante. Colocar limites é cumprir com seu papel de cidadão e contribuir
para a construção de uma sociedade baseada no respeito e na igualdade.
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