Você está na página 1de 25

17/02/2024, 11:23 UNINTER

ARTES VISUAIS, HISTÓRIA E


SOCIEDADE
AULA 2

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Profª Danielly Sandy

CONVERSA INICIAL

O presente texto apresenta um recorte local e temporal da história da arte, tendo início com a

Arte Românica, passando pela Arte Gótica e chegando à arte do Renascimento na Europa. Após isso, é

dada especial atenção a alguns dos artistas que marcaram o último período citado, evidenciando

primeiramente alguns artistas do Renascimento italiano para, em seguida, citar alguns dos do

Renascimento alemão e dos Países Baixos. Assim, os conteúdos estão organizados da seguinte forma:

1. A arte românica;

2. A arte gótica;

3. O Renascimento;

4. Artistas do Renascimento italiano;

5. Artistas do Renascimento alemão e dos Países Baixos.

A ARTE NA IDADE MÉDIA E INÍCIO DA IDADE MODERNA

O período da Idade Média, também conhecido como Idade das Trevas, durou cerca de 1000

anos, tendo seu início no século V e seu término no início da Idade Moderna, no século XV. Durante
esse tempo, a arte passou por algumas modificações, no entanto, preservou-se em seu caráter e

especificidades. Esse período veio após a era cristã primitiva, a qual sucedeu a queda do Império
Romano (Gombrich, 1999).

A Idade Média abarcou diferentes declinações estéticas com suas especificidades, a depender da
localização; no entanto, fatores religiosos, bem como questões estilísticas cristãs, estiveram presentes

em todo momento. Há três estilos componentes da Idade Média mais marcantes: o Bizantino, o
Romano e o Gótico.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Sendo assim, podemos citar primeiramente a arte Carolíngia que se refere ao período do reinado

de Carlos Magno, durante os anos de 768 a 814, como Imperador do Ocidente. Carlos Magno
trabalhou na divulgação do cristianismo e também foi um grande patrono das artes de seu tempo.

Embora seu Império não tenha perdurado, destacamos que, “em contraste, as realizações culturais de

seu reinado revelaram-se muito mais duradouras” (Janson; Janson, 1996, p. 107).

Sob seu reinado, Carlos Magno demonstrou interesse em preservar a arte e a cultura romanas,
com a intenção de restaurar a antiga civilização. E conforme ainda apontam Janson e Janson (1996, p.

107), Carlos Magno “teve um papel ativo nessa restauração, através da qual ele esperava inculcar a

tradições de um passado glorioso nas mentes do povo semibárbaro de seu reino”. Para tanto, essa

primeira fase medieval foi responsável pela fusão entre a cultura celto-germânica e a cultura
mediterrânea.

Na arquitetura dessa fase, evidenciamos a construção de igrejas e mosteiros cujas características

básicas podem ter sido definidas em um concílio eclesiástico (Janson; Janson, 1996). Isso demonstra

que o estilo arquitetônico utilizado era rigorosamente pensado em todos os detalhes da construção,

levando em conta fatores estéticos, mas também práticos e ainda religiosos.

Na arquitetura, essa orientação para o espiritual tomou a forma de construções mais arejadas, mais

leves. A massa e o volume da arquitetura romana deram lugar a edificações que refletiam o ideal
cristão: discretos no exterior, mas refulgentes com mosaicos, afrescos e vitrais espiritualmente

simbólicos no interior. (Strickland, 1999, p. 24)

Outras linguagens da arte que se despontaram nesse período foram os manuscritos e as capas
de livros, além de trabalhos rigorosamente delicados de ourivesaria. Os manuscritos eram sempre

produzidos dentro dos mosteiros e apesentam iluminuras, as quais são desenhos e ornamentos
diversos. Enquanto as igrejas carolíngias apresentavam mosaicos, murais, relevos, esculturas e outros.

Isso nos mostra o quanto a temática religiosa estava em alta durante esse período e o quanto ela
significava para o Império, não obstante, parece ter sido um tema bastante profícuo durante toda a

Idade Média.

Mas Gombrich ressalta sobre a temática mais usada para a produção artística medieval:

Não devemos imaginar, porém, que toda a arte nesse período existiu exclusivamente para servir a

ideias religiosas. Na Idade Média não foram construídas apenas igrejas, mas também castelos, e os

barões e senhores feudais a quem os castelos pertenciam empregavam, ocasionalmente, artistas.


(Gombrich, 1999, p. 167)

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Assim, observamos que a arte produzida durante a Idade Média abarcou de fato vários temas,

linguagens e com distintos objetivos, embora a temática religiosa tenha realmente vigorado. Isso não

apenas no período que abarcou a arte carolíngia, mas também em outros períodos da Idade Média,

como o Românico e o Gótico, que receberão especial atenção nas próximas páginas. E, por fim,
trataremos sobre o Renascimento com destaque em alguns artistas.

TEMA 1 – A ARTE ROMÂNICA

A arte românica teve início na Europa no século XI, sendo um período de destaque no que se

refere à construção de grandes igrejas católicas. O termo românico tem origem na influência que a

arquitetura do mencionado período teve da arquitetura romana, sobretudo seus arcos e abóbadas de

berço. Não obstante, no bojo da arte românica, ainda encontramos esculturas, pinturas, manuscritos,

iluminuras e mais. De acordo com Hauser:

A arte românica era uma arte monástica, mas, ao mesmo tempo, uma arte da aristocracia. A

combinação dessas qualidades mostra muito bem como era grande a solidariedade entre o clero e a

nobreza secular. As mais importantes funções na Igreja medieval estavam reservadas, à semelhança
do cargo de sumo-sacerdote na antiga Roma, para membros: da aristocracia; os abades e bispos,

entretanto, estavam vinculados ao sistema feudal não só por serem nobres, mas também por seus
interesses econômicos e políticos. (Hauser, 2003, p. 178)

As peças e artefatos que ambientavam as igrejas românicas também nos mostram muito desse

período medieval, destacando a simplicidade e a severidade das formas.

Como a maioria dos fiéis era analfabeta, as esculturas ensinavam a doutrina religiosa, contando

histórias gravadas na pedra. A escultura ficava concentrada no tímpano, que é o espaço semicircular
entre o arco e o dintel da porta central. (Strickland, 1999, p. 26)

Ao tratarmos da arquitetura dess período, imediatamente nos remetemos às fortalezas românicas


construídas com a planta em formato de cruz. A partir disso, encontramos maciças paredes de pedra

que se elevam até arcos redondos em 180°, gerando a sensação de “robustez compacta” (Gombrich,
1999, p. 173). Nessas construções, encontramos austeridade e traços de uma arquitetura robusta.

Destaca-se que havia interesse em construir igrejas com tetos abobadados no lugar de tetos de
madeira porque estes últimos facilmente poderiam se incendiar. Para tanto, os pilares eram maciços e

as paredes bastante espessas. Não obstante, o conhecimento acerca das técnicas e cálculos para a

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

efetivação dessas construções parecia ter se perdido e, por isso, havia grande dificuldade em fazer as

abóbadas de berço utilizando pedras.

Essa opção contribuiu para a ruína de grandiosas igrejas românicas, mesmo algumas com pouco

tempo de construção (Gombrich, 1999), e, como exemplo, podemos citar as ruínas da Igreja de Saint-
Etienne-le-Vieux in Caen, departamento de Calvados, na França.

Figura 1 – Catedral de Pisa com a torre inclinada, na Piazza dei Miracle, na Toscana, Itália, inaugurada

no século XI

Crédito: Rosty McFly/Shutterstock

1.1 A PINTURA ROMÂNICA

Da pintura românica que chegou até nós, a maior parte foi produzida dentro de mosteiros no
caso das iluminuras e, portanto, é natural que apresentem temas religiosos. Mas para além das

iluminuras, destacamos a pintura de ícones, murais, afrescos e ainda a produção de mosaicos. No


entanto, todos parecem manter determinadas características, como o colorismo e a deformação das

figuras.

No caso do colorismo, evidenciamos a aplicação direta das cores puras realizada pelos artistas da
época. Com isso, eram obtidas tonalidades diversas, a depender da gama de pigmentos que tinham
acesso. Não obstante, a passagem de cores, ou seja, o degradê, não era utilizado porque as pinturas

pareciam muito mais com desenhos coloridos. Ao observarmos essas características, podemos

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

analisar alguns casos, considerando que a técnica mais utilizada era a têmpera a ovo. Conforme Ralph

Mayer:

No uso moderno do termo, a pintura a têmpera é aquela que emprega um médium que pode ser

livremente diluído com água, mas que após secar torna-se suficientemente insolúvel para permitir
sobrepinturas com mais têmpera ou com médiuns de óleo e verniz. (Mayer, 1996, p. 287)

A partir do exposto, podemos imaginar que a técnica da têmpera aceita camadas de pintura,

chamadas de veladuras. A têmpera a ovo é uma tinta produzida com a gema ou a clara como

aglutinante ou médium, misturado aos pigmentos coloridos, que dão cor à mistura, permitindo que

esta seja utilizada como tinta. Mas devido ao uso de ovos como aglutinante, a têmpera tem uma

secagem muito rápida, inibindo o trabalho de passagem em degradê entre as cores, o que exige do
artista que a pintura seja produzida mais rapidamente. Além disso:

Como regra geral, as técnicas de têmpera não são muito adequadas para estilos casuais ou

espontâneos e, na maior parte, requerem um estudo aprofundado e uma familiaridade só alcançados

através da compreensão inteligente de seus princípios. (Mayer, 1996, p. 288)

Dessa forma, ao compreendermos a técnica e suas formas de aplicação, compreendemos melhor

os efeitos obtidos a partir dela. Mesmo assim, vale ressaltar que o colorismo como característica das

pinturas românicas ainda é preservado nos afrescos, mosaicos e outras obras desse período.

Outra característica peculiar da arte românica é a deformação das figuras. Tal deformação está

relacionada à noção de proporcionalidade que permitia ao artista representar uma figura em maior

ou menor escala que as demais, a depender de sua santidade. Além disso, em muitos casos, a

proporcionalidade dos membros das figuras também é deformada, sugerindo um estilo próprio com
possibilidades de leitura.

Figura 2 – Antigo ícone românico de Jesus nos braços de Nossa Senhora. Barcelona, Espanha,
Museu da Catalunha

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: XRISTOFOROV/Shutterstock.

TEMA 2 – A ARTE GÓTICA

Ainda dentro da Idade Média, encontramos a arte gótica a partir do século XII até o início do

Renascimento, tendo origem na França. O termo gótico tem relação com aquilo que vinha dos

“godos” – um povo de origem germânica considerado bárbaro por não aderir às características da

arte sob a influência greco-romana. Isso se deu principalmente na arquitetura em que as

características góticas podem ser melhor identificadas. Dessa forma, a arte gótica era vista como arte

dos bárbaros, sobretudo as catedrais que se assemelhavam a grandiosos monumentos em direção


aos céus.

Figura 3 – Vitral de rosácea na Catedral de Notre-Dame, Paris

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: mario confente/Shutterstock.

Para Gombrich (1999), o surgimento do estilo gótico tornou as construções românicas pesadas,
obsoletas e pouco graciosas. E, ainda, que o estilo gótico sugeria muito mais do que uma técnica, pois

contribuiu metodologicamente com a construção de abóbadas mais seguras que contavam com arcos

transversais, permitindo, assim, que as construções se elevassem de uma forma surpreendente. De

acordo com Strickland:

Os teólogos medievais acreditam que a beleza da igreja inspirava a meditação e a fé dos

paroquianos. Consequentemente, as igrejas são mais que uma simples reunião de espaços. São Textos
sagrados, com volumes de ornamentos pregando o caminho da salvação. As principais formas de
decoração nas catedrais góticas são a escultura, os vitrais e as tapeçarias. (Strickland, 1999, p. 29)

A arte gótica possui características peculiares em diferentes linguagens artísticas, outrossim, foi
na arquitetura que novamente se evidenciou deixando marcas indeléveis. “Desde que os cálculos

fossem corretos, era possível construir uma igreja de um tipo inteiramente novo: uma edificação de
pedra e vidro como o mundo jamais vira” (Gombrich, 1999, p. 185).

Figura 4 – Interior da Catedral de Sainte-Chapelle, Paris, França

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: Resul Muslu/Shutterstock.

Em resumo, as catedrais góticas apresentam como principais características os arcos ogivais, a

sequência de arcos formando arcadas, as abóbadas de cruzaria, vitrais coloridos, rosácea usada sobre

as portas de entrada, esculturas externas diversas, incluindo as famosas gárgulas. “No interior de uma

catedral gótica somos levados a compreender a complexa interação de trações e pressões que

mantêm a grandiosa abóbada em seu lugar” (Gombrich, 1999, p. 186)

Figura 5 – Catedral de Notre Dame – Paris, França

Crédito: TTstudio/Shutterstock.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Na fase final da arquitetura do período gótico, temos as catedrais que se elevam às alturas como

se fossem chamas em encontro aos céus. Esse estilo é conhecido como gótico flamejante, com linhas

sinuosas que visualmente sugerem o movimento do fogo.

Figura 6 – Catedral de Rouen (Catedral de Notre-Dame), em Rouen, França, um belo exemplo de


cathedral gótica no estilo flamejante

Crédito: Telly/Shutterstock.

Sobre as obras tridimensionais góticas, podemos observar o predomínio do naturalismo nas

esculturas das fachadas das catedrais, destacando o uso dessas obras para a decoração religiosa, tal

como as estátuas de pedra na fachada da Catedral de Salisbury Cathedral facade (Cathedral Church of
the Blessed Virgin Mary), em Wiltshire, Inglaterra, na imagem a seguir:

Figura 7 – Estátuas de pedra na fachada de Salisbury Cathedral Facade

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: Dmitry Naumov/Shutterstock.

E ainda, conforme mencionado anteriormente, podemos destacar as esculturas conhecidas como

“gárgulas”, que tinham a função de desaguadouros por onde a água da chuva acumulada nos

telhadas podia escoar. Essas esculturas apresentam formas demoníacas, algumas humanas, outras

animalescas e todas monstruosas.

O intuito era passar o sentimento aos fiéis de que, fora da casa de Deus, todos estavam sujeitos

ao mal e, ainda, de que o demônio estaria à espreita de todos aqueles que pecassem. Dessa forma,

esse símbolo era utilizado como maneira de amedrontar aqueles que não frequentavam as igrejas ou

possuíam uma conduta incondizente com aquilo que era pregado.

Figura 8 – Gárgula na Catedral de Notre-Dame, em Paris

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: Viacheslav Lopatin/Shutterstock.

A pintura gótica buscava transmitir uma mensagem religiosa sobretudo aos analfabetos e leigos

para que, assim, pudessem ter contato com os conteúdos das sagradas escrituras. Vale destacar que o

sentimento religioso estava muito presente e evidente nas produções artísticas da época.

Diante de tamanha necessidade de expressão da fé, os artistas deixavam de lado características

como o naturalismo e o realismo, sendo facilmente reconhecível, além de temas religiosos, simbólicos
e imaginários, distorções nas figuras e simplicidade na representação espacial. Assim, a espacialidade

era representada, muitas vezes, por meio de planos, considerando que, na Idade Média, os artistas

ainda não faziam uso da perspectiva. Para Gombrich:

na Idade Média, o artista aprendeu também a expressar em seu quadro o que sentia. Não se

pode fazer justiça a qualquer obra de arte medieval sem ter em mente esse propósito. Pois esses

artistas não se propunham criar uma semelhança convincente com a natureza ou fazer belas coisas:

eles queriam transmitir a seus irmãos de fé o conteúdo e a mensagem da história sagrada. (Gombrich,

1999, p. 165)

Conforme visto, a arte gótica possui bem claras as suas especificidades, sobretudo na arquitetura,

todavia, há elementos estilísticos que permanecem na arte bidimensional e tridimensional, mas que

tomam outras formas no final do período gótico, que também pode ser chamado de “gótico tardio”.
Desse período do final do gótico e, consequentemente, da Idade Média, podemos destacar os artistas

Giotto di Bondone (1267 – 1337), Jan van Eyck (1390 – 1441), Simone Martini (1284 – 1344), Fra
Angelico (1395 – 1455), Duccio (1255 – 1319).

Figura 9 – Pádua, Vêneto, Itália. Lamentação de Cristo, pelo artista Giotto di Bondone, na Capella
Scrovegni, concluída em 1305. Famoso início do Renascimento com representação viva da emoção

humana. Tema da Páscoa

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: Mirages.nl/Shutterstock.

Figura 10 – Madonna com Menino, Siena, Itália. Pintura de Duccio Maestà produzida durante o

século XIV

Crédito: Svetlana Chekhlova/Shutterstock.

Figura 11 – Jan van Eyck (1390 – 1441), A Lucca Madonna. Pintada em aproximadamente 1437

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: Oleg Golovnev/Shutterstock.

TEMA 3 – O RENASCIMENTO

O Renascimento foi o período que marcou a passagem na história da Idade Média para a Idade

Moderna. Isso ocorreu a partir do século XV, e o nome renascimento foi utilizado por ter sido

considerado o retorno e a valorização da antiguidade clássica. Na renascença, consideramos que


houve a celebração da libertação da razão como uma forma triunfal do individualismo (Hauser, 2003)
e, assim, buscavam o renascer de elementos humanistas identificados na cultura greco-romana e

ideais racionalistas, universalistas, antropocentristas e cientificistas.

De fato, foi um período de grandes descobertas quando os artistas tiveram seus horizontes

ampliados, deixando de ser um “artífice entre artífices” e se voltando “para as matemáticas a fim de
estudarem as leis da perspectiva e para a anatomia a fim de estudarem a construção do corpo

humano” (Gombrich, 1999, p. 287).

Não obstante, encontramos um retorno dos ideais classicistas não apenas na arte, mas na
sociedade da época. Tais ideais tinham forte relação com a forma como o homem passava a conduzir
a sua fé e pensamento metafísico em relação aos aspectos religiosos e espirituais. “As ideias sobre

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

salvação, o outro mundo, redenção e pecado original, que encheram totalmente a vida espiritual do

homem medievo, tornaram-se, é certo, meras ‘ideias secundárias’” (Hauser, 2003, p. 276).

Mesmo assim, vale destacar que no renascimento os temas religiosos e metafísicos não foram

abandonados, muito pelo contrário, aliás, passaram a receber uma outra conotação com
representações mais naturalistas em composições matematicamente harmônicas e equilibradas.

No entanto, esses temas já não se traduziam mais em representações de subjugação do homem


diante do sagrado, muito pelo contrário, pois o homem passa a ser visto como algo naturalmente

sagrado e com um papel fundamental na criação. E esse já representava um dos reflexos do

pensamento antropocêntrico na arte.

A presença do pensamento antropocêntrico, do homem no centro de todas as coisas, permitia

que o artista compreendesse a relação do homem com o sagrado de uma forma mais humanista,

valorizando a inteligência e racionalidade humana. Tal pensamento pode ser facilmente identificado

ainda em questões sociais, econômicas e culturais desse período.

Figura 12 – Desenho do “Homem Vitruviano” de Leonardo da Vinci, 1490, lápis sobre papel.

Nesse desenho, encerram-se ideais de harmonia, proporção e equilíbrio, sendo considerado um dos

símbolos do antropocentrismo

Crédito: Reeed/Shutterstock.

Contudo, temos o retorno da aplicação da proporção áurea e retângulo de ouro nas

composições diversas, sejam elas pinturas bidimensionais, esculturas e até mesmo na arquitetura. E

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

isso porque se buscava, por meio da matemática, resultados harmônicos de uma geometria

considerada sagrada por estar presente em, basicamente, todas as formas da natureza.

Para os artistas do renascimento, essas leis de equilíbrio estariam dentro de nós e, portanto,

seriam buscadas, de alguma forma, pelo nosso olhar em resultado de nosso equilíbrio com a
natureza.

A compressão acerca da natureza permitia ao homem ser um investigador, um cientista da


criação e não mais uma figura que deveria aceitar sem compreender os diferentes fenômenos. A

razão matemática entre o lado maior e o menor do retângulo de ouro é 1,618, sendo chamado de

número PHI (Φ) em homenagem ao artista grego Phideas.

Figura 13 – Desenho do retângulo áureo com sua proporcionalidade ao lado de exemplo dessa

proporção em elemento da natureza

Créditos: Oleh Svetiukha/Shutterstock; Surachai Pung/Shutterstock.

A arquitetura renascentista apresenta características também baseadas na composição áurea,


abandonando a edificação de construções grandiosas que se elevavam aos céus tal como no período

gótico em detrimento de edificações mais equilibradas e simétricas. A regularidade matemática


presente nas construções desse período tem relação com a proporcionalidade do corpo humano e do

retorno dos arcos romanos. Entre os arquitetos, devemos citar Filippo Brunelleschi (1377 – 1446) que,
segundo Gombrich:

Brunelleschi não foi apenas o iniciador da arquitetura da Renascença. Segundo parece, a ele se
deve outra momentosa descoberta no campo da arte, a qual também dominou a arte de séculos

subsequentes: a da perspectiva. Vimos que mesmo os gregos, que entendiam o escorço, e os pintores
helenísticos que eram engenhosos na criação da ilusão da profundidade ignoravam as Íeis

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

matemáticas pelas quais os objetos parecem diminuir de tamanho quando se afastam de nós.

(Gombrich, 1999, p. 226-229)

Ou seja, o uso da perspectiva linear cônica para criar a ilusão de profundidade no lugar da

resolução a partir do uso da técnica do escorço permitia ao artista trabalhar bem e explorar
positivamente a tridimensionalidade no plano bidimensional. Os resultados podem ser vistos nas

pinturas do renascimento e comparados com a resolução do espaço em pinturas de períodos


anteriores. Para Argan (2003, p. 132), “a perspectiva não é, portanto, uma reflexão intelectual sobre o

dado percebido pelos olhos, mas o modo de ver segundo o intelecto, primeiro com a mente, depois

com os olhos”.

Como exemplo de obra, está o afresco da Santíssima Trindade, feito pelo artista renascentista

Masaccio (1401 – 1428), encontrando-se na Igreja de Santa Maria Novella, em Florença, na Itália.

Criado em 1427, essa obra é considerada uma pintura pioneira no uso da perspectiva, tornando-se

inspiração para muitos artistas.

Figura 14 – Afresco da Santíssima Trindade, feito por Masaccio

Crédito: Bill Perry/Shutterstock.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

A partir da observação do afresco acima, identificamos várias características do renascimento,

desde a resolução do espaço bidimensional a partir da aplicação da perspectiva, ao naturalismo da

representação das figuras, em que o sagrado não é representado em dimensões maiores que as

figuras comuns. Assim, “o novo espaço pictórico racional independe das figuras.” (Janson; Janson,

1996, p. 196). Além disso, podemos observar as cores claras, harmonia e proporcionalidade.

Figura 15 – Igreja de Santa Maria del Fiori, a Catedral de Florença. Teve início em 1296 com
projeto de Arnolfo di Cambio e contou com projeto de Filippo Brunelleschi (1377 – 1446) para a

construção da cúpula, sendo esta finalizada em 1436

Crédito: ChiccoDodiFC/Shutterstock.

TEMA 4 – ARTISTAS DO RENASCIMENTO ITALIANO

A Itália foi o berço do renascimento, sobretudo a cidade de Florença, oferecendo ambiente

propício ao desenvolvimento intelectual, artístico, cultural e científico, contribuindo economicamente


para a produção dos artistas. No renascimento italiano, encontramos vários mecenas, que eram os
patrocinadores da arte, capazes de confiar aos artistas da época grandes encomendas que se

tornariam, posteriormente, obras e patrimônio histórico e cultural da humanidade.

Os artistas renascentistas italianos se preocupam em representar muito mais detalhadamente a


tridimensionalidade das coisas, nos levando a sentir o volume das coisas, enquanto “os artistas

medievais mal tomavam conhecimento da luz. Suas figuras planas não projetavam sombras”

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

(Gombrich, 1999, p. 260). Outra característica é o uso de cores neutras e linearidade que

racionalmente separava figura e fundo. De acordo com Argan:

No princípio do Quatrocento cumpre-se, em Florença, uma transformação da concepção, dos

modos, da função da arte tão radical quanto a que se completara, um século antes, com Giotto. Os
primeiros protagonistas do movimento são um arquiteto, Filippo Brunelleschi, um escultor, Donatello,

um pintor, Masaccio: suas obras estão relacionadas, mas as três personalidades são diversamente
caracterizadas. (Argan, 2003, p. 129)

Vale destacar que cada artista que se despontou no renascimento italiano deixou sua

contribuição significativa para a arte, apresentando obras que, embora seguissem os ideais

renascentistas, ainda apresentavam características próprias.

Essas mesmas características adivinham de profundo estudo e dedicação aos temas de interesse

de cada artista. Entre os artistas do renascimento italiano, podemos destacar Donatello (1386 – 1466),

Andrea del Verrocchio (1435 – 1488), Sandro Botticelli (1445 – 1510), Leonardo da Vinci (1452 – 1519),

Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564), Rafael Sanzio (1483 – 1520).

4.1 SANDRO BOTTICELLI (1445 – 1510)

Figura 16 – A obra O Nascimento de Vênus, pintada com têmpera, sobre tela, sendo fotografada

por turistas na Galeria Degli Uffizi, em Florença, Itália

Crédito: Hunter Bliss Images/Shutterstock.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 19/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

4.2 LEONARDO DA VINCI (1452 – 1519)

Figura 17 – A Santa Ceia, afresco

Crédito: Ungvari Attila/Shutterstock.

Figura 18 – Estudos de engenharia desenhados por Leonardo da Vinci em uma de suas

cadernetas

Crédito: KIM JIHYUN/Shutterstock.

Figura 19 – Estudos de anatomia humana, por Leonardo da Vinci

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 20/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: lolloj/Shutterstock.

4.3 MICHELANGELO BUONARROTI (1475 – 1564)

Figura 20 – A Pietá (Piedade), escultura dentro da Basílica de São Pedro, na Itália

Crédito: PhotoFires/Shutterstock.

Figura 21 – Afrescos pintados por Michelângelo no teto da Capela Sistina, no Vaticano


https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 21/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: S-F/Shutterstock.

TEMA 5 – ARTISTAS DO RENASCIMENTO ALEMÃO E DOS PAÍSES


BAIXOS

O renascimento também teve bastante influência na Alemanha, inclusive se disseminando entre

os pensadores desse país. A arte e a ciência alemã aderiram aos ideais renascentistas e também em

decorrência da disseminação do pensamento humanista pela Europa. O artista renascentista de maior

destaque na Alemanha foi Albrecht Dürer (1471 – 1528), que, além de pintor, também se destacou

como exímio gravador dominando diferentes técnicas como xilogravura, litogravura e outras. Dürer
ainda contribuiu com o seu tratado sobre geometria, com base em um estudo aprofundado sobre
perspectiva.

Figura 22 – A penitência de São Jerônimo (c. 1494), óleo sobre madeira, Museu de Viena

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 22/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Crédito: Adam Jan Figel/Shutterstock.

Outros artistas renascentistas de destaque foram Lucas Cranach, o Velho, (1472 – 1553), Albrecht

Altdorfer (1480 – 1538) e Hans Holbein (1498 – 1543).

No renascimento dos países baixos e Holanda, podemos observar grande influência do

pensamento renascentista italiano com ênfase nas temáticas religiosas, ao contrário do renascimento
alemão, deu maior destaque a temas narrativos ou com a representação de retratos humanos e da
natureza, além de imagens simbólicas e históricas.

Os países baixos eram formados pela região localizada na Europa Ocidental, que atualmente
inclui a Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Dessa região, saíram muitos artistas dos quais ainda

podemos destacar os artistas flamengos da região de Flandres. Do renascimento nessa região,


podemos destacar os artistas Hieronymus Bosch (1450 – 1516), Joachim Patinir (1483 –

1524), Pieter Bruegel, o Velho, (1525/1530 – 1569).

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 23/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Figura 23 – A tentação de Santo Antônio, por Hieronymus Bosch, ca. 1530-1600, pintura, óleo

sobre painel. Santo António, o Eremita, em oração acompanhado por simbolismo

Crédito: Everett Collection/Shutterstock.

NA PRÁTICA

A partir do que aprendemos nesta aula, vamos desenvolver nosso “espírito renascentista”

· Sabendo que os artistas do Renascimento se dedicavam, concomitantemente, à diferentes


linguagens das artes e expressões humanas, te convidamos a:

o Desenvolver um estudo da construção imaginária de uma catedral para a sua cidade onde
você criará o projeto arquitetônico, as esculturas e pinturas externas e internas, além de todos os

demais itens que você queira incluir. Faça todas as anotações em seu sketchbook e com variações de
cada detalhe.

FINALIZANDO

Nesta aula aprendemos sobre a arte na Idade Média, passando pela arte românica com destaque

na construção das grandiosas e austeras igrejas construídas nesse estilo. Também vimos sobre a
pintura românica e destacamos que muitas das esculturas desse período se encontram nas igrejas.
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 24/25
17/02/2024, 11:23 UNINTER

Ainda, tratamos sobre a arte do período gótico com ênfase nas catedrais góticas e suas características

como o arco ogival.

Além disso, nesta aula, tratamos sobre o Renascimento e suas características e seus conceitos,

como o antropocentrismo. A partir disso, abordamos alguns dos artistas do Renascimento italiano
para, por fim, destacarmos alguns dos artistas do Renascimento alemão e dos Países Baixos.

REFERÊNCIAS

ARGAN, G. C. História da arte italiana: de Giotto a Leonardo. São Paulo: Cosac e Naify, 2003. v.

2.

FRIEDLAENDER, W. De David a Delacroix. São Paulo: Cosac Naify, 2001.

GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1999.

HAUSER, A. História social da arte e literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

JANSON, H. W; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

MAYER, R. Manual do artista. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

STRICKLAND, R. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.

WÖLFFLIN, H. Conceitos fundamentais da história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 25/25

Você também pode gostar