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A Artigo Original

Compulsão alimentar em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica

Compulsão alimentar em pacientes submetidos a cirurgia


bariátrica
Eating binge in patients undeergoing baryatric surgery
Compulsion alimenticia en pacientes sometidos a cirugia bariatrica

Patricia Miranda Farias1


Cristiane A. S. Furtado1
Graciane Morales1
Luana Caroline dos Santos2
Vanessa Coutinho3

Unitermos: RESUmo:
Cirurgia bariátrica. Obesidade mórbida. Compulsão Introdução: A cirurgia bariátrica é importante opção terapêutica para obesidade mórbida
alimentar periódica.

Key words: compulsão alimentar é empregada a ECAP (Escala de Compulsão Alimentar Periódica),
Bariatric surgery. Morbid obesity. Eating binge disorder. permitindo observar a magnitude das mudanças do comportamento em cada paciente, em
diferentes momentos, durante o tratamento para perda do peso. objetivo:
Unitérminos que podem contribuir para a presença/ausência da compulsão alimentar em pacientes
Cirugía bariátrica. Obesidad mórbida. Compulsión
alimenticia periódica.
perda de peso e o acompanhamento prévio psicológico e nutricional. métodos: A amostra foi
Endereço para correspondência: constituída de 30 pacientes, sendo 27 (90%) do sexo feminino e 3 (10%) do sexo masculino,
Patrícia Miranda Farias com idade média de 40 anos (variando de 21 a 61 anos) submetidos à cirurgia bariátrica
CEP 79021-032 – Rua Praia de Itaparica nº36 tipo Fobi-Capella. Resultados: Observou-se que, após o procedimento cirúrgico, o IMC
Bairro Autonomista - Campo Grande – MS
Telefone e Fax: (067) 3356-1193 ; (067) 9902-0762
patmiranda_nut@hotmail.com relação ao inicial, encontrou-se 25 (83,3%) dos pacientes sem CAP e 5 (16,8%) com CAP.
Observou-se que quanto maior o tempo de orientação nutricional pré-operatória (r= 0,443;
p= 0,014) e pós-operatória (r= 0,639; p= 0,000) e orientação psicológica pré-operatória
Submissão (r= 0,408; p= 0,025) maior foi a porcentagem de perda de peso. Conclusão: Os fatores
02de julho de 2008
aqui citados não tiveram relação com a compulsão alimentar e sim correlação entre eles.
Aceito para publicação
6 de fevereiro de 2009 AbStRACt:
Introduction: Bariatric surgery is a major therapeutic strategy for morbid obesity and is
considered the most effective treatment for long-term weight control. The Binge Eating Scale
(BES) is used to measure eating binge and to assess behavior changes in patients at different
time points during weight loss management. objective: To identify contributing or preventive
factors to the occurrence of eating binge in patients undergoing bariatric surgery based on
pre- and post-operative anthropometric measures, weight loss, and previous psychological
and nutritional evaluation. methods: The study sample comprised 30 patients who underwent
Fobi-Capella bariatric surgery, of which 27 (90%) were females and 3 (10%) males with mean
age of 40 years (range: 21–61 years). Results: Postoperatively, their mean pre-operative
BMI dropped by 66.3%, mean excess weight loss was 33.4% compared to baseline, and
eating binge episodes were seen in 5 (16.8%) but not in 25 patients (83.3%). It was found
that the longer the pre-operative (r= 0.443; p= 0.014) and post-operative (r= 0,639; p= 0,000)
1. Nutricionista; Pós-Graduação Lato Sensu em nutritional counseling and pre-operative psychological counseling (r= 0.408; p= 0.025), the
Nutrição Clínica da Universidade Gama Filho – greater the patients’ weight loss. Conclusions: The factors described here did not have
Campo Grande – MS.
2. Nutricionista; Doutora em Saúde Pública, Pro-
fessora do curso de Especialização em Nutrição
Clínica da Universidade Gama Filho.
3. Nutricionista; Doutora em Ciência dos Alimentos,
Introdución: La cirugía bariátrica es una importante opción terapéutica para la obesidad
Coordenadora do curso de Especialização em
Nutrição Clínica da Universidade Gama Filho. evaluar la compulsión alimenticia se emplea la ECAP (Escala de Compulsión Alimenticia
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Patricia Miranda Farias

Periódica), que permite observar la magnitud de los cambios del comportamiento en cada
paciente, en diferentes momentos, durante el tratamiento para pérdida de peso. objetivo:
-

post operatorio, pérdida de peso y seguimiento previo psicológico y nutricional. métodos:


La muestra fue constituida por 30 pacientes, de los cuales 27 (90%) del sexo femenino y
3 (10%) del sexo masculino, con edad promedio de 40 años (variando entre 21 y 61 años)
sometidos a la cirugía bariátrica tipo Fobi-Capella. Resultados: Se observó que después
del procedimiento quirúrgico, el IMC preoperatorio promedio se redujo en 66,3%, la pérdida
del exceso de peso promedio fue de 33,4% en relación al inicial, se encontró 25 (83,3%)
de los pacientes sin CAP y 5 (16,8%) con CAP. Se observó que mientras mayor el tiempo
de orientación nutricional preoperatorio (r= 0,443; p= 0,014) y post operatorio (r= 0,639; p=
0,000) y orientación sicológica preoperatorio (r= 0,408; p= 0,025), mayor fue el porcentaje
de pérdida de peso. Conclusión: Los factores aquí citados no tuvieron relación con la
compulsión alimenticia, pero sí importancia de correlación entre ellos.

INTRODUÇÃO
O transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP) carac-
teriza-se pela ocorrência de episódios de compulsão alimentar nos países industrializados, sendo que a obesidade mórbida
(ECA)1 pelo menos dois dias por semana nos últimos seis meses,
associados a características de perda de controle 2-6 sobre o que 2
, sendo
ou o quanto se come por período de tempo delimitado (até duas considerada uma doença crônica multifatorial com consequências
horas)7 e não acompanhados de comportamentos compensatórios nefastas para a saúde e qualidade de vida dos indivíduos13. De um
dirigidos para perda de peso1. Destaca-se que esse quadro ainda modo geral, o obeso mórbido tem um longo histórico de tenta-
tivas de redução de peso, algumas das quais sob a orientação de
técnicos de saúde, consistindo na sua maior parte numa dieta e/ou
8 14
. Apesar destes regimes terapêuticos propor-
De acordo com Grilo , os episódios compulsivos podem variar
9
cionarem uma redução de peso numa fase inicial, estes não são
quanto à hora em que costumam ocorrer com perda de controle,
à hora sem esta perda e/ou perda de controle sem o consumo de maioria dos pacientes obesos recupera em pouco tempo o peso
uma grande quantidade de alimentos. Durante os episódios de perdido5, chegando a níveis ainda mais altos que os anteriores14.
compulsão alimentar, o indivíduo apresenta um sentimento de
falta de controle sobre o seu comportamento alimentar, ingere frustração face a estes regimes de tratamento são partilhados
grandes quantidades de alimento mesmo estando sem fome, come por quase todos os obesos que, deste modo, continuam a ganhar
mais rapidamente do que o normal até sentir grande desconforto peso15. Obesos comedores compulsivos podem constituir uma
físico9. Em geral, esses episódios ocorrem escondidos das demais subcategoria entre a população obesa, apresentando níveis
pessoas de seu convívio e se caracterizam por um sentimento de mais elevados de psicopatologia, especialmente a depressão e
embaraço, causado pela quantidade exagerada de alimento consu- transtorno de personalidade, uma gravidade maior e início mais
mido9, e são sucedidos por um mal-estar psicológico, e intenso precoce da obesidade, um percentual maior de sua vida gasto
com dietas e prejuízo no funcionamento social e ocupacional16.

do que as pessoas obesas sem compulsão alimentar10. importante opção terapêutica para esta doença, e é considerada a
A prevalência do transtorno de TCAP na população geral 17
. A cirurgia
encontra-se em torno de 0,7% a 4%1.
A CAP (Compulsão Alimentar Periódica) ocorre em indiví-
duos com peso normal e em indivíduos obesos11. Em obesos que . 18

procuram programas para controle de peso, foram observadas No tratamento cirúrgico da obesidade têm-se empregado
frequências em torno de 30% para TCAP e 46% para CAP,
estando o TCAP associado a sintomas psicopatológicos em geral,
especialmente à depressão e maior gravidade da obesidade . . Esta
17

As pessoas que apresentam o transtorno do comer compulsivo é considerada “padrão ouro” e tornou-se o procedimento mais
têm ataques bulímicos repetidos, mas não evidenciam as medidas realizado no tratamento da obesidade mórbida em todo mundo19.
patológicas de controle de peso que os pacientes com bulimia O índice de perda ponderal atinge em média 30% no primeiro ano,
nervosa utilizam, como os comportamentos compensatórios com redução gradual no decorrer dos anos e aumento da recidiva,
(vômitos, abuso de laxativos, exercício físico excessivo) que
sucedem o episódio bulímico12. ou consumo de alimentação inadequada20.

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Compulsão alimentar em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica

RESULTADOS E DISCUSSÃO
que continue a comer compulsivamente, precipitando complica-
ções médicas, não pode ser considerado sucesso terapêutico, ou (90%) do sexo feminino e 3 (10%) do sexo masculino. O predo-
- mínio de mulheres (90%) na amostra provavelmente decorre
mentais foram negligenciadas18. do fato dessas procurarem mais o tratamento para o controle da
Para avaliar os episódios de compulsão alimentar é empre-
gada a ECAP (Escala de Compulsão Alimentar Periódica), dos pacientes na amostra. Os achados foram próximos aos de
permitindo observar a magnitude das mudanças do comporta- 22

mento em cada paciente, em diferentes momentos, durante o


tratamento para perda do peso e, também, ampliar o conheci- sobretudo os graus de obesidade. No pré-operatório obteve-se
mento das inter-relações entre CAP, sintomas psicopatológicos -
e alterações de peso3 tório para 46,67% (n= 14). No Brasil, estima-se que 26,5% das
pacientes obesos com CAP e, principalmente, no planejamento mulheres e 22% dos homens tenham excesso de peso, 11,2% das
de estratégias terapêuticas adequadas e na avaliação sequencial mulheres e 4,7% dos homens têm obesidade leve e moderada e
do tratamento, tendo em vista que esse subgrupo de pacientes que 0,5% das mulheres e 0,1% dos homens apresentam obesidade
obesos parece apresentar uma evolução clínica diferenciada
dos obesos sem CAP3. resultados encontrados não condizem com esse estudo.
Considerando o exposto, o objetivo deste estudo foi iden-
(p<0,05) entre os sexos para peso e altura pré e pós-operatório
da compulsão alimentar em pacientes submetidos à cirurgia 24
uma média de
-
operatório, perda de peso e o acompanhamento prévio psico-
lógico e nutricional. , mas não houve diferença entre os
24

MÉTODOS
A amostra foi composta por 30 pacientes, sendo 27 (90%)
do sexo feminino e 3 (10%) do sexo masculino. A idade média -
foi de 40 anos (variando de 21 a 61 anos ± 10,13) submetidos à minou a obesidade mórbida24
.
2 25

, avaliando obesos americanos, encontrou redução


26

termo de consentimento livre e esclarecido. 2

Aplicou-se a ECAP3
foram muito próximos dos dados encontrados no nosso, que foram
ou psicológica antes e após a cirurgia, avaliação antropométrica
e informações referentes ao pré-operatório. A avaliação antropo-
métrica atual foi realizada a partir da aferição do peso utilizando-
em 18 ± 13,96 meses de cirurgia (Tabela 2). Observou-se que

.
21
masculino em relação ao tempo de cirurgia. De acordo com
28

(33,93%), no período de 12 a 24 meses, semelhante ao encon-


menor ou igual a 17 são considerados sem CAP; com pontuação 29

entre 18 e 26 são considerados com CAP moderada; e aqueles


com pontuação maior ou igual a 27, com CAP grave.3

o passar dos meses até atingir um patamar, em média de 35%


a 40%, abaixo do peso inicial em 1 a 2 anos30. Esses resultados
estão apresentados na forma de média e desvio padrão para as são muito próximos do nosso estudo.
Observou-se relação entre o tempo de cirurgia e o percentual
-

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Observa-se que quanto maior o tempo de orientação nutri-
cional pré-operatória, maior foi a porcentagem de perda de peso
(r= 0,443; p= 0,014); e quanto maior o tempo de orientação

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Patricia Miranda Farias

tabela 1- Média e desvio padrão da idade e características antropométricas de pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.
Variáveis Homens mulheres total p-value
n= 3 n= 27 n= 30
Idade (anos) 35 ± 8,9 40,9 ± 10,2 40,3 ± 10,1 NS
Peso Pré (kg) 150,7 ± 21,38 119,22 ± 16,80 122,4 ± 19,42 *0,005
Altura Pré (m) 1,77 ± 0,06 1,60 ± 0,06 1,62 ± 0,08 *0,000
IMC** Pré (kg/m2) 47,23 ± 7,03 46,63 ± 7,71 46,69 ± 7,53 NS
Peso Pós (kg) 105,4 ± 18,33 77,91 ± 14,04 80,66 ± 16,44 *0,004
Altura Pós (m) 1,77 ± 0,06 1,60 ± 0,06 1,62 ± 0,08 *0,000
IMC** Pós (kg/m2) 33,57 ± 6,52 30,64 ± 5,74 30,93 ± 5,77 NS
*Teste t de Student
**Índice de Massa corporal

tabela 2 - Média e desvio padrão da perda de peso, % de perda de peso e tempo de cirurgia de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.

Variáveis Homens mulheres total


n= 3 n= 27 n= 30
Perda de peso (kg) 45,3 ± 6,5 41,31 ± 18,97 41,71 ± 18,09
Percentual de perda peso (%) 30,20 ± 4,24 33,80 ± 12,82 33,44 ± 12,24
Tempo de cirurgia (meses) 16,0 ± 11,53 18,22 ± 14,37 18,00 ± 13,96

Correlação do tempo de cirurgia com o percentual de perda de Correlação do índice de massa corporal com o percentual de perda
peso de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. de peso de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.

nutricional pós-operatória maior foi a porcentagem de perda de -


tório com o percentual de perda de peso de pacientes submetidos
maior o tempo de orientação psicológica pré-operatória maior foi
a porcentagem de perda de peso (r= 0,408; p= 0,025). r= 0,639; p= 0,000.

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Compulsão alimentar em pacientes submetidos a cirurgia bariátrica

A média do escore da ECAP foi de 9,57 (± 6,8), sendo que o


escore até 17 é sem CAP. Observa-se que não teve diferença (p=
0,086) entre homens e mulheres na média do escore, talvez pela

escore de 17 como ponto de corte para que se obtenha sensibilidade

por uma entrevista clínica33


CAP entre as mulheres (p= 0,064). Na amostra total, obtivemos
16,7% (n= 5) de pacientes com CAP e 83,3% (n= 25) sem CAP.
A partir de uma anamnese pré-operatória, a presença de um
transtorno alimentar deve forçosamente levar a um seguimento
-
vamento do mesmo, pois a prevalência de tais transtornos é maior

de complicações é cerca de quatro vezes maior35-37. Uma das

a prevalência de CAP pode variar de 27% a 47%38.


Greeno et al.39
de indivíduos sem CAP e também como ferramenta para rastrear
pacientes com graves problemas de CAP. Uma melhora do
comportamento alimentar pode ocorrer precocemente, após a
- Correlação da orientação nutricional no pós-operatório com o operação, mas o retorno dos transtornos alimentares em pacientes
percentual de perda de peso de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica.

o procedimento cirúrgico37.
-
orientação nutricional prévia e no pós-operatório a média de
de mudanças comportamentais, alimentares e de exercícios, com
Com relação à orientação psicológica prévia, a média foi de 11,03 -
sionais da saúde31. Na avaliação pré-cirúrgica, é importante
4,82) no pós-operatório. pesquisar a presença de Transtorno da Compulsão Alimentar
, o intuito do aconselhamento
31
Periódica, o qual tem uma prevalência maior entre obesos
nutricional no período pré-operatório é o aumento do potencial mórbidos4-6. Este transtorno pode permanecer ativo, compro-
de sucesso no pós-operatório e objetiva promover perda de peso metendo o resultado pós-cirúrgico.40
inicial, reforçar a percepção do paciente de que a perda de peso é
CONCLUSÃO
erros e transtornos alimentares, promover expectativas reais de Considerando o objetivo proposto, conclui-se que os pacientes
perda de peso, preparar o paciente para a alimentação no pós-opera- da amostra estudada tiveram no pré-operatório média de obesi-

, somente o acompanhamento nutricional


32

adequado garante o sucesso da cirurgia, evitando complicações


nutricional no pré e pós-operatório e orientação psicológica
A maioria dos pacientes 73,3% (n= 21) não teve orientação no pré-operatório houve maior porcentagem de perda de peso

reduzida, os fatores aqui citados não tiveram relação com a CAP


e sim correlação entre eles.

associado à obesidade pode ser fundamental para o sucesso do


procedimento cirúrgico33. O papel do psicólogo é o de avaliar se transtorno no pré-operatório.

lo quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do REFERÊNCIAS


pré e pós-cirúrgico34. -
De acordo com Coutinho35, a avaliação desses pacientes no
pré e pós-operatório deve ser realizada por uma equipe multidis-
ciplinar composta por endocrinologistas, nutricionistas, cardio-
logistas, pneumologistas, psiquiatras, psicólogos e cirurgiões.
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Patricia Miranda Farias

adaptação para o português da escala de compulsão alimentar

- Nacional de Alimentação e Nutrição, Brasília,1991.

p.40-6.

image evaluations in obese females with binge eating disorder.


pacientes. Brasília med. 2002.
-
sing the features of eating disorders in patients with binge eating U. Changes in bone mineral content after surgical treatment of

O. Binge eating disorder in Brazilian women on a weight-loss

Artmed; 2003.

2 ed., pp. 178-82, 2002.

-
-

-
-

Araujo DE, et al. Transtorno periódico da compulsão alimentar


periódica em uma população de obesos mórbidos candidatos

operation for weight control, and the transected banded gastric

P. Prevalence of binge eating disorder, obesity, and depres-

obesity. Geneve 3-5, 1997.

Local de realização do trabalho:

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A Artigo Original

Terapia Nutricional Enteral: análise dos requerimentos energéticos e

Enteral Nutrition Therapy: analysis of energy and nutritional requirements


Terapia de Nutrición Enteral: análisis de la energía y los requerimientos nutricionales

Ms.Vanessa Taís Nozaki1


Dra. Rosane Marina Peralta2
3

Unitermos REsUmo
Nutrição enteral. Estado nutricional. Necessidades Introdução: Existe importância no estudo da adequação das dietas hospitalares na terapia
energética-proteica.
nutricional enteral, pois há relação com o estado nutricional e o prognóstico do paciente.
objetivos
Key words:
Enteral nutrition. Nutritional status. Energetic and
terapia nutricional enteral. métodos: O estudo foi realizado com 72 pacientes, com idade
protein needs. entre 20 e 90 anos, ambos os gêneros, internados em 4 hospitais gerais. As prescrições
e ofertas energéticas foram avaliadas por meio de prontuários médicos de cada paciente,
Unitérminos os requerimentos desses nutrientes foram calculados por calorimetria indireta. Avaliou-se
Nutrición enteral. Estado nutricional proteico-energética.
Prega Cutânea Tricipital e a Área Muscular do Braço. Resultados:
Endereço para correspondência:
Vanessa Taís Nozaki
Rua Campos Sales 45, ap.804, zona 07 –
CEP: 87020-080 - Maringá-PR.
Tel: 44-33018553/44-91398561. prescrições energéticas estavam em 1593,5 ± 481 Kcal/dia e a média das recomendações
E-mail: vanessa.tais@bol.com.br 2138,4 ± 406,1 Kcal/dia. Conclusão: As prescrições e a infusão de calorias não atingiram
as recomendações propostas e detectou-se desnutrição nos pacientes.
Data de submissão: 02/07/2008
Data de aceite para publicação: 18/03/2009
AbstRACt
Introduction: There are studies important in keeping with of hospital diets in the enteral nutri-
tion terapy, as there association with the nutrition state and the patient prognosis. methods:
The study was perceived with 72 patients males and females, with 20 and 90 years old,
interned at the four hospital. The prescriptions and bargain energy was available through
medical dossier each patient, the dossiers of nutrients were calculated from indirect calormetry.

Results:

recommendation 2138,4 ± 406,1 kcal/day. Conclusions: The prescription and the infusion of

RESuMEN
Introducción: Hay importancia en el estudio de la adecuación de las dietas del hospital en
terapia de nutrición enteral, porque hay relación con el estado nutricional y el pronóstico del
paciente. objetivos: Analizar la energía y los requerimientos nutricionales de los pacientes
1 - Nutricionista e mestre em Ciências da Saúde pela en terapia de nutrición enteral. métodos: El estudio se realizó con 72 pacientes, con edades
Universidade Estadual de Maringá
2 - Docente do mestrado em Ciências da Saúde da comprendidas entre los 20 y 90 años, ambos sexos, ingresados en 4 hospitales generales.
Universidade Estadual de Maringá e doutora Las necesidades de energía y ofertas fueron evaluadas a través de los registros médicos
em Ciências Biológicas pela Universidade de de cada paciente, las necesidades de estos nutrientes fueron calculados por calorimetría
São Paulo
3 - Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade
Estadual de Maringá Masa Corpórea, Prega cutis Tricipital Dystrophy Espacio y el brazo. Resultados: En el
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Ms.Vanessa Taís Nozaki

energía fueron a 1593,5 ± 481Kcal/dia y el promedio de recomendaciones 2138,4 ± 406,1


kcal / día. Conclusión: Los requisitos y la aportación de calorías no llegó a las recomen-
daciones propuestas, y se encontró con la malnutrición en los pacientes.

INTRODUÇÃO necessidades nutricionais de cada paciente e ao seu estado


A escolha adequada da terapia nutricional ao paciente nutricional18. É necessário haver preocupação com a evolução do
enfermo auxilia no tratamento clínico, melhora o prognóstico tratamento durante a internação, essa progressão precisa atingir
e evita complicações1. Existe também uma relação direta com as necessidades gradativamente até que o paciente consuma
o estado nutricional do paciente2. quantidades adequadas de nutrientes. No entanto, observa-se que
A desnutrição é frequentemente observada em hospitali-
zados3,4 e está relacionada tanto com as patologias como com de nutrientes18-21.
a prescrição dietética aplicada. Este estado nutricional pode Este estudo teve como objetivo analisar os requerimentos
afetar a evolução clínica do paciente5, aumentando o tempo de -
permanência hospitalar6, incidência de infecções7, aumento da cional enteral.
morbi-mortalidade8,9 e outras complicações9.
No Brasil1,2 e demais países da América Latina9,10, a desnu- MÉTODOS
trição hospitalar se faz presente. Este fato se comprova na Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universi-
pesquisa realizada com 4000 pacientes pelo Inquérito Brasileiro dade Estadual de Maringá (UEM) (Registro número 203/2004)
de Avaliação Nutricional Hospitalar (IBRANUTRI)1. A pesquisa e todos os pacientes ou responsáveis assinaram o termo de
revelou que 48,1% dos pacientes apresentavam-se desnutridos consentimento e livre esclarecido. Fizeram parte da amostra
e que, destes, 12,5% eram desnutridos graves. Com relação à 72 pacientes em uso de terapia nutricional enteral (TNE),
terapia nutricional, apenas 7,3% dos pacientes recebiam algum internados em quatro hospitais gerais, sendo três na cidade de
tipo de tratamento nutricional e 6,1 % destes foi por Nutrição Maringá (PR) e outro no município de Sarandi-Paraná (Brasil).
Enteral1 . Outro estudo realizado na América Latina com mais Os critérios de inclusão foram: idade igual ou maior que 18
de 9000 pacientes mostrou que cerca de 50% dos pacientes anos; em uso de NE entre o quinto e o décimo dia de evolução
estavam desnutridos, destes 11% apresentavam estado grave (tempo recomendado para que a terapia já tenha alcançado as
e foi utilizado em apenas 8,8% dos internados algum tipo de necessidades nutricionais); o uso apenas de NE total (excluindo-
terapia nutricional9. se pacientes com nutrição oral e/ou parenteral).
Além dos países menos desenvolvidos, a desnutrição pode Pacientes com edema e/ou impossibilidade de aferição das
ser encontrada em locais como Estados Unidos, União Euro- medidas antropométricas foram excluídos da amostra.
peia e Reino Unido, como demonstrou uma pesquisa realizada Os dados analisados foram: sexo, idade, diagnóstico clínico,
no período de 1970 a 1990 na qual detectou-se em 50% dos prescrição dietética, oferta da dieta, volume da dieta/dia, calo-
hospitalizados algum nível de desnutrição11. Muitos trabalhos rias/dia, tempo de evolução da dieta, tempo para iniciar o TNE,
demonstram incidência de risco nutricional em outros países período de internação, evolução clínica (óbito e alta), uso de
da América do Norte e da Europa12 NE após alta.
o tratamento dietoterápico adequado pode melhorar o estado Utilizou-se para cálculo do gasto energético basal (GEB) as
clínico do paciente, evitar desnutrição e diminuir complicações1. equações propostas por Harris e Benedict22 e para o gasto ener-
Por todos esses motivos, sabe-se que o uso da terapia gético total (GET) optou-se pelos fatores de lesão e atividade
nutricional enteral é bastante indicado em inúmeros casos, propostos por Long et al.23.
principalmente porque a nutrição enteral mantém a integridade Os dados referentes à antropometria foram coletados no
da mucosa intestinal13 -
e reduz infecções14. cional desses pacientes o Índice de Massa Corpórea (IMC), a
Prega Cutânea Tricipital (PCT) e a Área Muscular do Braço
desnutrição e também possui ação direta no processo da pato- (AMB). Foram aplicados para os pacientes de 18 a 65 anos os
parâmetros propostos por Frisancho24, nos quais os pontos de
na encefalopatia hepática e em outras doenças do trato diges- corte adotados foram considerados adequados entre os percentis
tório12. Outros benefícios são evidenciados na administração da 15 a 75 para a PCT e acima do p15 para AMB. Para avaliar o
NE, como fornecimento de nutrientes completos, utilização do
sistema porta, reforço na barreira da mucosa intestinal e redução Saúde (OMS)25. Para os pacientes acima de 65 anos adotou-se
na formação de bactérias oportunistas no intestino delgado15,16. os parâmetros de Chumlea et al.26, em que foram considerados
adequados os pacientes que apresentaram IMC e PCT entre os
do tempo de internação17. percentis 5 a 95 e para o AMB acima do percentil 5.
A prescrição dietética da NE precisa ser direcionada às Para analisar os dados foram aplicados “Teste t Student”

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144
p<0,05. Para avaliar a correlação entre as variáveis optou-se
pela Correlação Simples de PEARSON. fazer uma análise por meio da gordura. Dessa forma, a maioria
-
RESULTADOS
Fizeram parte do estudo 72 pacientes, sendo 23 do gênero
feminino e 49 do masculino. A idade média foi de 56,4 anos
(mínima 21 e máxima de 90 anos). Estavam internados na TABELA 2
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) 72% dos avaliados e 28% Adequação da prescrição dietética
em clínicas médicas e gerais. Quanto ao diagnóstico clínico, as
patologias responsáveis pela internação foram bastante variadas dietética de calorias e comparado com as reais necessidades
(Tabela 1) sendo que 32% tinham o diagnóstico de Acidente dos mesmos (Recomendações ou Gasto Energético Total-GET).
Observou-se que a média da prescrição máxima de calorias
15% Traumatismo Cerebral (TCE) e 13% Trauma.

TABELA 1

verdadeiras necessidades.

amostra em três grupos, Óbitos (pacientes que foram a óbito)


o período em que os pacientes utilizaram a NE. Os homens 30,55%; NE (indivíduos que tiveram alta hospitalar com a pres-
crição de nutrição enteral domiciliar) 31,94% e NO (pacientes
que tiveram alta com a prescrição de nutrição por via oral)
ambos os gêneros. Constatou-se uma alta correlação (0,91) entre 37,5%. Observa-se, na Figura 1, que todos os grupos tiveram
o período de internação e de uso da NE.
tabela 1 - Distribuição percentual das patologias principais dos pacientes
estudados
Um dos critérios para avaliar o estado nutricional foi o
Diagnósticos N Frequência (%)
período de uso da NE, ou seja, todos estavam do quinto ao
Câncer 4 6
décimo dia em Terapia Nutricional Enteral, para não haver
discrepâncias entre as avaliações. Detectou-se que o peso Doenças do Sistema Digestório 5 7
corporal dos avaliados estava relativamente baixo, sendo que Acidente Vascular Cerebral 23 32
Diabetes Mellitus 2 3
Hipertensão Arterial 1 1
Síndrome de
Utilizou-se para essa avaliação o IMC, PCT e AMB (Tabela

frequência elevada de baixo peso 37,50% e houve diferença signi- Queimaduras 2 3


Traumatismo Cerebral 11 15
Traumas 9 13
levando-se em consideração a massa muscular. Nesse aspecto,

tabela 2
Estado PCT AMB
Nutricional
Masculino Total Masculino Total Masculino Total
Desnutrição 47,82 32,65* 37,50 39,12 20,40* 26,40 47,82 59,18* 55,55
52,18 59,20 56,95 52,18 55,10 54,16 52,18 40,82* 44,45
Obesidade 0,0 8,15* 5,55 8,70 24,50* 19,44 - - -

PCT: prega cutânea tricipital


Tabela 2 Frequência (%) do estado nutricional por meio do IMC, PCT e AMB dos pacientes AMB: área muscular do braço

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145
Ms.Vanessa Taís Nozaki

uma prescrição energética abaixo da recomendação, entretanto no . 21

grupo de Óbitos, houve 50% com a prescrição energética abaixo No estudo em questão detectou-se alta correlação entre os
de 80% de adequação calórica (em relação à recomendação). No períodos de internação e de utilização da NE, pois quanto mais
grupo NE, observou-se que 57% tiveram uma prescrição entre
60% a 80% de adequação e apenas 30,7% tiveram adequação Talvez pelo fato de que quanto maior o período de internação,
que 100%. No grupo NO, 47,9% tiveram calorias prescritas acima maior também a possibilidade de risco nutricional e conse-
de 80% de adequação, no entanto, também foi o maior grupo com quentemente eleva-se o tempo da utilização da nutrição pela
a prescrição abaixo de 60% de adequação (30% da amostra). via enteral. Watanabe et al.17 comprovaram que a NE diminui o
tempo de internação, quando a mesma é iniciada precocemente
FIGURA 1 (até 72 horas após a lesão)27. No entanto, constatou-se nessa
Observando-se a infusão das dietas enterais (Figura 2), pesquisa que o tempo médio para introdução da NE após a lesão
pode-se averiguar que 40,90% dos pacientes do grupo de Óbitos
consumiram menos que 50% das necessidades determinadas
ou do Gasto Energético Total (GET). No grupo de NE 43,47% que os pacientes estavam com peso aquém de outros trabalhos.
consumiram 51% a 70% do GET e NO 33,33% consumiram Vasconcelos & Tirapegui16
também 51% a 70% do GET. 28 29
. O IMC

FIGURA 2 mesmo assim um grande percentual de pacientes apresentou baixo


Houve uma correlação moderada entre a prescrição energética peso 37% e em maior prevalência no gênero feminino. Petros &
e o estado nutricional, detectado por meio das variáveis PESO Engelmann28 encontraram apenas 6,9% com IMC abaixo de 18,5
e AMB. Dessa forma, acredita-se que quanto menor a energia 30

e Vasconcelos & Tirapegui16 21


também
Com relação à evolução do tratamento, levou-se em conside- encontraram grande prevalência de desnutrição, sendo 17,6% de
desnutrição leve, 11,8% moderada e 26,5% grave.
com NE) e também as alterações nas prescrições do volume e das A desnutrição também esteve presente nas mulheres de
calorias prescritas de NE. Pode-se averiguar que das prescrições acordo com a PCT e dos avaliados, 55,55% estavam desnutridos,
sendo mais representativo nos homens, quando analisada a
primeiro ao último dia de utilização da TNE, podendo constatar que AMB. Dessa forma, pode-se perceber que a desnutrição hospi-
não houve evolução nesse tratamento. Das prescrições (45,83%) talar foi bastante encontrada nesse estudo, já que a maioria das
que aumentaram o valor calórico no decorrer do tratamento, apenas mulheres demonstrou perda de gordura corporal e os homens
30,3% (10 hospitalizados) atingiram as recomendações. de massa muscular, sendo essas as principais características da
DISCUSSÃO desnutrição protéico-energética31. Esse dado é de suma impor-
Na amostra estudada observou-se que o período médio de tância, pois na maioria dos prontuários médicos não havia dados
relacionados à antropometria e em 100% dos casos o estado
nutricional dos pacientes não apareciam anotados. Caso esses
Couto et al.19 encontraram um período de internação médio de 13 dados fossem de conhecimento da equipe de saúde, o tratamento
20
utilizaram a terapia nutricional enteral nutricional poderia ser alterado e adaptado aos riscos nutricionais.

Figura 1. Adequação energética das prescrições por grupo de pacientes Figura 2. Adequação energética da dieta infundida em relação
às necessidades adequadas.
Óbitos: indivíduos falecidos
NE: indivíduos que estavam com Nutrição Enteral NO: indivíduos em Nutrição Oral
NO: indivíduos que estavam com Nutrição Oral NE: indivíduos em Nutrição Enteral

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146

18
houve melhor prognóstico nos pacientes com consumo de 35%
muito importante que sejam adotados métodos rotineiramente a 65% das recomendações19.
- As deficiências nas prescrições de calorias podem ser
ciation for Parenteral and Enteral Nutrition (BAPEN) recomenda pelos motivos citados acima e também pela própria falta de
que todos os pacientes sejam avaliados na admissão hospitalar conhecimento das necessidades reais de cada paciente e do
e em intervalos frequentes durante o período de internação32. estado nutricional dos mesmos2. Nesse caso, pode-se dizer que
A prescrição médica foi avaliada e comparada às recomenda- exista negligência nas prescrições nutricionais19. A falta de
ções energéticas dos pacientes. Na análise de energias, foi encon- conhecimento sobre as necessidades nutricionais ocorre, pois

demonstrando que realmente houve inadequação na prescrição de nas disciplinas de Nutrição15,36. Spain et al.37 detectaram que a
calorias. Gentona et al.30 prescrição de energia aumentou de 66% para 82% do GET com
energética em comparação aos cálculos de recomendações e em
diversos estudos esse fato também foi observado19,20.
médicas pode ocorrer por escassez de conhecimento e falta de
se por avaliar quantos pacientes tiveram óbito na internação, alta estabelecimento de rotinas nas instituições de saúde.
hospitalar com a alimentação por via enteral (NE) e também os que
obtiveram alta com nutrição oral (NO). Os óbitos foram presentes CONCLUSÃO
em 30,55% dos indivíduos, sendo considerada uma mortalidade
maiorias das prescrições não estavam condizentes com os
al.20 encontraram 29% , Silva et al.21 30% e, em outro estudo, o
índice de mortalidade foi menor 21%16. Alta com Nutrição Oral
neste estudo foram de 37,5% e em dois estudos detectou-se 18%20 uma frequência de desnutrição mostrou-se presente, princi-
e 26,6%21. Alta com continuidade da terapia nutricional enteral foi palmente em gordura corporal, avaliada por meio da PCT (em
20
. mulheres) e no gênero masculino na massa magra, analisada
As prescrições de aporte calórico foram avaliadas entre os por meio da AMB.

uma prescrição acima de 80% do GET, seguida do grupo de NO REFERÊNCIAS


1. Waitzberg DL, Caiaffa WT, Correia MI. Hospital malnutrition: the Brazilian national
(47,8%). Adam et al.33 detectaram que 75% a 96% das prescrições
dos pacientes estavam entre 76% a 102% de adequação do GET. 2. Sena FG, Taddeo EF, Neto ERA, Ferreira MSR, Rolim EG. Estado nutricional de
pacientes internados em enfermaria de gastroenterologia. Rev Nutr. 1999;12(3):
Outros detectaram valores em torno de 78% a 90% do GET34. 233-39.
O percentual de adequação da dieta infundida em relação
-
lización a domicilio. Nutr Hosp. 2003;18(1):6-14.
NO teve o maior consumo de calorias em relação aos demais
factors for hospital malnutrition. Nutrition. 2005; 21(3):295–300.
grupos (> 90% do GET), demonstrando que provavelmente essa
correta prescrição e administração das energias possibilitaram
Clin Nutr. 2003; 22(3):235–39.
um prognóstico melhor. Em contrapartida, nenhum paciente do
grupo de óbitos consumiu dieta com valores calóricos maiores Prevalence of malnutrition in nonsurgical hospitalized patients and its association
with disease complications. Am J Clin Nutr. 1997;66(5):1232-9.
que 90% do GET. Diversos estudos existem focando a infusão 7. Marti J, Armadans L, Vaque J, Segura F, Schwartz S. Protein-calorie malnutrition
de calorias. Na maioria destes observa-se consumo energético
(Barc). 2001;116(12):446-50.
entre 65% a 80% do proposto19,20,34. Há bastante discussão
em torno da quantidade adequada de energias que devem ser
2003;19(10)823-5.
ofertadas ao paciente, principalmente o hospitalizado grave. 9. Mutlu EA, Mobarhan S. Nutrition in the care of the cancer patient. Nutr Clin Care.
Alguns autores seguem a linha de que pode ocorrer uma hipe- 2000;3:3-23.
ralimentação e o prognóstico do paciente pode não ser o melhor. in Cuban hospitals. Nutrition. 2005;21(4): 487–97
Outros estudos apontam que é necessário suprir as necessidades
patients: evaluation of nutritional support and documentation. Clin Nutr. 1999;
de energia, conforme calculado pelas equações propostas por 18(3):141-7.
Harris e Benedict22, Couto et al.19 e McClave et al.34 ou por 25
21(3):196-7.
20,34
. Uma das suposições para que se ofereça 13. Oliveira CAC, Cardoso ACA, Troster EJ, Ciaccia MCC. Suporte nutricional enteral
uma dieta normocalórica ou hipercalórica é para que se possa versus parenteral: revisão sistemática. Rev Bras Nutr Clin. 2002; 17(1):20-6.
prevenir catabolismo protéico em pacientes graves19. Uma das
consequências da baixa ingestão de calorias é a desnutrição e 2005;31(1):12-23.
todas as implicações que a mesma possa acarretar ao hospita-
lizado6. Entretanto, a teoria de que uma baixa oferta de energia Hosp. 2004; 19(1):28-33.
16. Vasconcelos MIL, Tirapegui J. Aspectos atuais na terapia nutricional de pacientes
seria necessária para evitar o aumento da termogênese e da na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Rev Bras Cien Farm. 2002; 38(1):23-32.
35
. Pode-se supor, também, que o
Nutrição enteral precoce reduz tempo de internação hospitalar e melhora reembolso
paciente não tolere consumir o total de energia proposto por diário do Sistema Único de Saúde (SUS) ao hospital. Rev Bras Nutr Clin. 2002;
diversas complicações clínicas20 17(2):47-50.

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147
Ms.Vanessa Taís Nozaki

nutrition screening tool based on the recommendations of the British Association


for Parenteral and Enteral Nutrition (BAPEN). Clin Nutr. 2004; 23(5):1104–12.
19. Couto JCF, Bento A, Couto CMF, Silva BCO, Oliveira IAG. Nutrição enteral em 30. Gentona L, Dupertuisa YM, Romand JA, Sominet ML, Jolliet P, Huber O, et al.
terapia intensive: o paciente recebe o que prescrevemos? Rev Bras Nutr Clin.
2002;17(2):43-6. enteral nutrition. Clin Nutr. 2004;23(3): 307–15.

nutricional realizada na unidade de terapia intensiva de um hospital universitário.


Rev Bras Nutr Clin. 2003;18(2):57-64. 32. Sizer T. Standards and guidelines for nutritional support of patients in hospital.

nutricional enteral em fornecer as necessidades calórico-protéicas de pacientes Nutrition,1996.


hospitalizados. Rev Bras Nutr Clin. 2003;18(3):113-8.

Washington, DC, Carnegie Institute of Washington: Publication n.297, 1919. 23(3):261-6.

-
Crit Care Med. 1999; 27(7):1252-6.
24. Frisancho AR. Anthropometric standards for assessment of growth and nutrition 35. Muller TF, Muller A, Bachem MG, Lange H. Immediate metabolic effects of

1995; 21(7):561-6.

- Effect of an integrated nutrition curriculum on medical education, student clinical


performance, and student perception of medical-nutrition training. Am J Clin Nutr.
2001; 73(6):1107-12.
Nurse. 1999; 19(6):40-51.

medical intensive care patients. Clin Nutr. 2006;25(1):51-9. unit. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 1999;23(5):288-92.

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148
A Artigo Original

Unitermos REsUmo
objetivo
métodos
Key words:
Resultados

Unitérminos

Endereço para correspondência:


Conclusão

AbstRACt
objective
Data de submissão: methods
Data de aceite para publicação:

Results

Conclusion

REsUmEn
objetivo
1 - Nutricionista da EMTN do Hospital Esperança/PE;
Especialista em Nutrição Clínica pela UFPE; métodos
Especialista em Alimentos Funcionais na Prática
Clínica pela CVPE.
2 - Coordenadora e Nutricionista da EMTN/HC/UFPE;
Doutora e Mestre em Nutrição pela UFPE;
Especialista em Terapia Nutricional Enteral e Resultados
Parenteral pela SBNPE; Especialista em Nutrição
Clínica pela ASBRAN.
3 - Nutricionista Residente do Serviço de Doenças Infec-
to e Parasitárias do Hospital das Clínicas/UFPE.

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149
Conclusión

INTRODUÇÃO sob TNE exclusiva por um período de 7 a 10 dias, internados


O câncer é uma doença crônico-degenerativa conhecida nas enfermarias de clínica médica e cirúrgica do HC/UFPE,
desde os primeiros relatos da humanidade, sendo mais estu- após aprovação do Comitê de Ética para Pesquisa em Humanos
dada no último século1. Dados epidemiológicos publicados da UFPE. Foram excluídos do estudo pacientes terminais; sem
pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) mostraram 466.730 diagnóstico histológico; com terapia nutricional parenteral ou
casos para o ano de 2008, sendo 18.040 em Pernambuco, e a que receberam nutrição enteral em internamentos recentes e
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, até o ano aqueles sem condições de tomadas das medidas antropométrica
2020, aproximadamente 20 milhões de novos casos de câncer dentro dos padrões de referência internacional.
surgirão a cada ano, sendo que 70% destes portadores estarão Os pacientes foram submetidos à avaliação antropométrica, por
vivendo em países com menos de 5% dos recursos destinados
a controlar a doença2. (IMC) segundo WHO9, Circunferência Muscular do Braço (CB),
Portadores de neoplasias apresentam, frequentemente, o Circunferência Muscular Braquial (CMB), Prega Cutânea do
estado nutricional (EN) comprometido, levando a consequências Tríceps (PCT) e Percentual de Adequação de Peso (%PP) pelos
negativas para a qualidade de vida e sobrevida, nas quais a perda critérios de Blackburn & Thornton10. Todas essas aferições foram
de peso e a desnutrição constituem achados comuns em apro-
ximadamente 80% dos pacientes durante o curso da doença3. O peso corporal do paciente foi aferido após 7-10 dias de uso
A desnutrição possui causas multifatoriais associadas à própria da NE, utilizando-se uma balança calibrada (Filizola), com capa-
doença e/ou tratamento e, quando associada às manifestações cidade de 150 kg e precisão de 100 g, estando o paciente em pé,
metabólicas, é denominada de caquexia4,5. no centro da base da balança, descalço e com roupas leves. Para
O diagnóstico e tratamento da desnutrição tornam-se primor-
diais à medida que esta se associa com a maior frequência de posicionando o indivíduo em pé, descalço, com os calcanhares
complicações, menor velocidade de cicatrização, maiores taxas
de infecção, maior morbimortalidade em menor período de As circunferências e PCT foram obtidas com paquímetro da
tempo, contribuindo para uma maior permanência hospitalar e inextensível, em
dispêndio de recursos5. centímetros com precisão de milímetros através das técnicas
Neste sentido, a avaliação nutricional (AN) torna-se uma de medição proposta por Lohman et al.11, utilizando-se a média
de três aferições.
de desenvolver desnutrição e/ou deficiência específica de Em relação aos parâmetros bioquímicos, foram utilizadas as
dosagens séricas de albumina (Valor Referência (VR): 3,5 a 5,2
desnutrição e auxiliar na monitorização da adequação da Terapia g/dl), hemoglobina (VR: 12 a 18 g/dl) e hematócrito (VR: 36% a
Nutricional (TN) empregada6.
Dentre as formas de TN, a Terapia Nutricional Enteral mg/dl), creatinina (VR: 0,7 a 1,3 mg/dl, homens; 0,6 a 1,1 mg/dl,
(TNE) tem se tornado a mais utilizada no cuidado de pacientes mulheres), sódio (VR: 136 a 145 mEq/L), potássio (VR: 3,5 a 5,1
hospitalizados7, muitas vezes responsável pela melhora no mEq/L), utilizadas na rotina do serviço e dosadas no HC/UFPE.
curso e prognóstico de indivíduos com ingestão alimentar oral Os pacientes receberam TNE exclusiva mediante qualquer
inadequada e/ou desnutrição8. tipo de impedimento do consumo adequado das necessidades
Considerando a elevada incidência da DEP em pacientes nutricionais diárias, na presença do trato gastrointestinal funcio-
oncológicos e a utilização frequente da TNE como intervenção nante, iniciando com um volume de 100 ml quando localização
gástrica e 50 ml se na posição nasoenteral por fase, sendo admi-
nistrada de forma gravitacional e intermitente (3/3 horas). A
complicações, de forma a manter ou recuperar o estado nutri- dieta oferecida foi industrializada, líquida ou reconstituída, com
oferta calórico-protéica de acordo com as necessidades indi-
viduais e recomendações propostas por Bloch & Charuchas12.
câncer submetidos à TNE internados no Hospital das Clínicas A análise dos dados foi realizada por meio de técnicas de
da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE). estatística descritiva e inferencial; com a descritiva compreen-
dendo distribuições absolutas e percentuais e a inferencial, teste
MÉTODOS de comparação de proporções ou de homogeneidade, teste Qui-
Este estudo foi caracterizado como transversal, envolvendo quadrado de independência ou o teste Exato de Fisher quando
pacientes adultos, de ambos os sexos, com diagnóstico de câncer as condições para utilização do teste Qui-quadrado não foram

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150
Considerando-se as características da dieta, 51,5% (20)
utilizaram dieta hipercalórica/hiperprotéica, 6,1% (2) receberam
de igualdade de variâncias foi realizada utilizando-se o teste dieta normocalórica/normoprotéica, 27,3% (11) normocalórica/

9,1% (4) dieta semi-elementar.


RESULTADOS Durante o período avaliado, observou-se que apenas 20,5%
A amostra foi constituída de 39 pacientes, todos com crité- apresentaram alguma intercorrência do trato gastrointestinal
rios de inclusão na pesquisa, com idades variando entre 29 e (TGI), e, dentre elas, a diarréia, constipação e náusea foram as
59 anos e média de 50,20 ± 8,05 anos, havendo predomínio do mais comuns e apresentaram a mesma frequência (25%).
sexo masculino (69,2%).
Quanto à localização do tumor, observou-se que 64,1% UFPE-2006)
acometiam o trato gastrointestinal, prevalecendo as neoplasias Tabela 2 - Prevalência de desnutrição segundo diferentes
de esôfago (35,9%) e estômago (25,6%). medidas antropométricas (HC/UFPE-2006).
Tabela 3 - Associação das medidas antropométricas segundo
o sexo (HC/UFPE-2006).
tabela 1
Tabela 4 - Parâmetros bioquímicos segundo o sexo (HC/
UFPE-2006).
Tabela 5 – Adequação da dieta de acordo com o sexo (HC/
UFPE-2006).

DISCUSSÃO
Os dados obtidos mostraram um predomínio de indivíduos
do sexo masculino (69,2%), com idade de 50,2 anos. Mendes
et al.13 e Pérez et al.14
homens, 61,9% e 77,8% respectivamente, ao estudarem TNE
tabela 2 em pacientes com diagnóstico de câncer, podendo ter relação
com a maior exposição aos fatores de risco.
medidas total Desnutrição Em relação à localização do tumor, as neoplasias que
envolvem o TGI foram as mais observadas, predominando
Antropométricas n %
as de esôfago (35,8%) e estômago (25,6%), o que pode ser

escolha nessas situações e pelo fato da pesquisa ter sido realizada


num local de referência para essas afecções em Pernambuco.
Diferentemente, Wu & Liu15, investigando TNE em pacientes
neoplásicos com envolvimento do TGI, encontraram maior
percentual de câncer em localização gástrica (52,8%).

tabela 3
medidas Antropométricas masculino Feminino total Valor de p
média ± DP(1) média ± DP(1) média ± DP(1)

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151
tabela 4
Parâmetros bioquímicos masculino Feminino total Valor de p
média ± DP(1) média ± DP(1) média ± DP(1)

tabela 5
Variável masculino Feminino total Valor de p
média ± DP(1) média ± D(1)P média ± DP(1)

Diversos estudos demonstram a ocorrência de desnutrição Em 2006, Maio et al.21,


nestes pacientes com percentuais variados de incidência, 30% 13 pacientes com neoplasia de cabeça e pescoço, observaram
a 90% dos casos16, de forma que se torna relevante o conheci- valores abaixo da referência para esses parâmetros em 53,8%
mento dessa incidência em nossa realidade. Dias17 e Waitzberg18
observaram um percentual entre 30% e 50% de DEP em câncer
de cabeça e pescoço na cidade de São Paulo. Enquanto Melo et e com valores semelhantes, atingindo 71% e 75% dos pacientes,
al.19, utilizando o IMC para estabelecer o EN, encontraram 72%
quanto adiposas importantes.
(57,6%); porém deve-se considerar que o IMC, mesmo sendo A avaliação laboratorial contribui no diagnóstico da DEP
um parâmetro bastante utilizado pela facilidade de obtenção das subclínica ou marginal, permitindo a correção de problemas
medidas e baixo custo, sofre interferência de diversos fatores nutricionais em estágios iniciais. Entretanto, na neoplasia
incluindo os distúrbios hidroeletrolíticos e estágio da doença.
A desnutrição de grau moderado esteve presente em 28,7% e a
grave em 17,2% dos pacientes oncológicos, dentre uma amostra da massa tumoral e alterações hormonais consequentes do
de 235 pessoas estudadas por Wu & Liu15, onde todos se encon- tratamento ou síndromes paraneoplásicas22. Os testes mais
travam submetidos à TNE. Em estudo multicêntrico realizado utilizados nos grandes centros são: a dosagem plasmática de
por Grau & Bonet20, utilizando uma amostra de 544 pacientes transferrina, pré-albumina, proteína transportadora de retinol,
com diferentes diagnósticos e submetidos à TNE, apenas 18,2% e creatinina urinária. No entanto, estas possuem alto custo
apresentaram algum grau de desnutrição. Este achado reforça o
fato de que as neoplasias se encontram entre as patologias que hospitalar de órgãos públicos, a albumina sérica é bastante
mais causam depleção nutricional. utilizada frente ao reduzido custo16. O número de trabalhos com

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152
e 23
constipação e náusea; provavelmente pelo número reduzido
Peréz et al. uma albumina baixa em pacientes oncológicos com
14
da amostra. Deve-se considerar que a administração da dieta
TNE, sendo demonstrado valores de 1,7 g/dL e 2,48 g/dL. Em
concordância com estes resultados, observou-se, nos pacientes na ocorrência de diarréia. Esta também foi a intercorrência
mais observada por Dantas & Paiva27, acometendo 16% dos
homens (2,86 g/dL) quando comparado com as mulheres (3,01 pacientes, seguindo-se da estase gástrica (5%), constipação
(1,2%) e vômitos (1,2%). Um maior percentual de pacientes
estas diferenças. A terapia antineoplásica pode acarretar diversas (69%) sem alterações foi observado por Melo et al.19, estando
alterações, dentre elas as bioquímicas, sendo comum a anemia e em concordância com o presente estudo (79,5%).
a desnutrição protéica24, sugerindo ser uma possível causa dessas
alterações neste estudo. A glicemia elevada, observada em 30,6%
dietoterápico adequados aos sintomas, catabolismo da doença
e necessidades individuais, visto que a TNE é comumente
doenças metabólicas, sendo ainda questionado o cumprimento do empregada no pré-operatório, pós-operatório ou ainda no curso
da doença, como a melhor forma de prover nutrientes para a
Analisando-se o tipo da dieta empregada, segundo Alva et manutenção ou recuperação do estado nutricional.
al.23, as fórmulas semi-elementares foram as mais utilizadas
(40%), seguidas das hipercalóricas (44,4%). Peréz et al.14 CONCLUSÃO
O EN dos pacientes adultos oncológicos, principalmente
seguidas das ricas em fibras (10,1%) e fórmulas padrões do estômago e esôfago, que receberam TNE por 7-10 dias,
(normocalóricas/normoprotéicas) (5,7%). Os dados deste estudo mostrou-se variável, dependendo do parâmetro antropomé-
mostraram maior utilização de dieta com característica hiper-
calórica/hiperprotéica (51,5%) e de fórmula padrão (27,3%),
enquanto que 9,15% necessitaram de dieta oligomérica e apenas bioquímico não mostraram relação com o sexo, devendo-se ser
- atribuídas à DEP, terapêutica empregada e progressão tumoral.
calóricas/hiperprotéicas poderá ser explicado pela necessidade Estes dados constaram uma baixa freqüência de intercorrências
de serem atingidas as necessidades nutricionais estimadas, visto
que pacientes oncológicos necessitam de um aporte calórico e nos resultados positivos da TN, associado ainda à adequada
- oferta calórico-protéica.
lismo próprio da doença.
As necessidades calórico-protéicas foram de 2149,5 Kcal e REFERÊNCIAS
92,05 g de proteínas para o sexo masculino e de 1947,5 Kcal e 1. Lima QJ, Fack JA. Sociedade pernambucana de combate a câncer. A importância
83,4 g de proteína para o sexo feminino, com média de 2088,3 90p.
Kcal e 94,5 g de proteína, corroborando com os achados de Alva 2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer – INCA. Estimativa
et al.22, que observaram uma oferta de 2434,0 Kcal e adequação
de 100% das calorias e de 80% de proteínas. Ao se analisar a 3. Olenschlager G. Tumor anorexia: causes, assessment, treatment. 1991, p. 121-249.
adequação da dieta do presente trabalho, detectou-se que toda a 4. Bachmann P. Nutrition ou cours dês radiotherapies et chemotherapies: nutrition
clinique et metabolism. 2001; v.15, p. 308-17.
amostra recebeu aporte adequado para cobrir suas necessidades
- Clínico. In: Magnoni D, Cukier C, editores. Perguntas e Respostas e Nutrição
Clínica. São Paulo: Roca 2001; p.11-19.
ciado pelo reduzido número de complicações ocorridas (20,5%).
Por outro lado, Melo et al.19, em estudo prospectivo de pacientes and recommendations for future research directions. Summary of a conference
sponsored by the National Institutes of Health, American Society for Parenteral
com TNE no pós-operatório de cirurgia de cabeça e pescoço, and Enteral Nutrition, and American Society for Clinical Nutrition. Am J Clin
Nutr. 1997; 66(3):683-706.
7. Magnuson BL, Clifford TM, Bernard AC. Enteral Nutrition and drug administra-
proteínas, com adequação de 70,9% e 75,1% respectivamente. tion, interecations and complications. Nutr Clin Pract. 2005 6(20):618-24.
A TNE é considerada uma das melhores alternativas de 8. Pirlinch M, Lochs H, Ockenga J. Enteral Nutrition. Internist (Berl), mar, 2006.
9. WHO (World Health Organization). Physical Status: The use and interpretation of
provisão de nutrientes, porém deve-se considerar a frequ- anthropometry. Report of a WHO Expert Committee. Geneva, 1995.
ência de complicações mencionadas na literatura. Dentre elas 10. Blackburn GL, Bistrion BR, Moini BS, Schlamn HT, Smith MF. Nutritional and
metabolic assessment of the hospitalized patient. JPEN J Parenter Enteral Nutr.
estão as gastrointestinais, as mecânicas e as metabólicas25. 1977;1(1):11-22.
As gastrointestinais incluem a constipação, náuseas, vômitos, 11. Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Antropometric standardization reference
manual. Abridged edition, 1991. p.90.
distensão abdominal e diarréia, considerada a principal delas, 12. Bloch AS, Charuchas PM. Câncer and câncer therapy. In: Cuppari, L. Guia de
sendo responsável por 5% a 30% das intercorrências. Uma das Nutrição Clínica no Adulto. São Paulo: Manole; 2002. p.223-34.
13. Mendes CCT, Silva OS, Moreira FR, Oliveira FLC, Escrivão MAMS, Sarni ROS,
causas mais frequentes de diarréia refere-se ao uso de algumas Nóbrega FJ. Avaliação do estado nutricional de pacientes com câncer de cabeça e
medicações, hipoalbuminemia, contaminação da fórmula enteral pescoço em acompanhamento ambulatorial. Rev Bras Nutr Clin. 2006;21(1):23-7.
e infusão rápida da dieta, intolerância a algum componente da 14. Pérez OM, Avilés AM, Martín MD. Factores prognósticos de nutrición enteral

fórmula ou infecção da dieta e/ou equipo7,26.


No que se refere a essas manifestações, apenas 25% dos cancer patients. World J Gastroenterol. 2006;12(15):2441-4.
16. Silva MP. Síndrome da Anorexia-caquexia em portadores de câncer. Rev Bras
pacientes apresentaram diarréia, com igual incidência para a Canc. 2006;1(52):59-77.

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 149-54


153
17. Dias MCG. Câncer. In: Cuppari. Nutrição:nutrição clínica no adulto. São Paulo: 23 Alva MCV, García CM, Camacho EI, Reyes CG, Gamez GG, Ortiz JMP. Alimen-
Manole; 2002. p. 223-34. tación enteral em grupo de enfermos graves: prevalência de complicationes. Nutr
18. Waitzberg DL. Câncer. In: Waitzberg DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na
prática clínica. 3ª ed. São Paulo: Atheneu; 2000. p.1381-93.
24. Gimenes DL. Quimioterapia. In: Ikemori EHA, Oliveira T, editors. Nutrição em
19. Melo ILP, Dantas MAM, Silva LC, Lima VT, Sena KCM. Avaliação nutricional
de pacientes cirúrgicos com câncer de cabeça e pescoço sob terapia nutricional Oncologia. São Paulo: Lemar livraria Editora Marina e Tecmedd Editora; 2003.
enteral. Rev Bras Nutr Clin. 2006;21(1):6-11. p.179-88.
20. Grau T, Bonet A. Estúdio multicêntrico de incidência de las complicaciones de 25. Pancorbo-Hidalgo PL, Garcia-Fernandez FP, Ramírez-Pérez CR. Complications

20(4). Clin Nursing. 2001;10(4):482-90.


21. Maio R, Tagliarini JV, Burini RC. Implicações nutricionais protéico-energéticas da
26. Echenique M, Correia MITD. Avances em suporte nutricional del paciente crítico.
presença e/ou tratamento dos cânceres de cabeça e pescoço. Rev Bras Otorrinol.
2000;66(15):673-8. Rev Bras Nutr Clin. São Paulo. 1998;13(3):221-7.
22. Pluvins CC, Martinez CV. Nutrición y neoplasias digestivas. Rev Bras Nutr Clin.
2002;17(supl 1):53-63.

Local de realização do trabalho: ????????????????????????????????

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 149-54


154
A Análise dos registros de evacuações pela equipe de enfermagem em pacientes com nutrição enteral (NE): redução de registro de diarréias após treinamento.
Artigo Original

Análise dos registros de evacuações pela equipe de enfermagem


em pacientes com nutrição enteral (NE): redução de registro de
diarréias após treinamento.
Analysis of registration of stools by the nurses team in patients on enteral nutrition (EN): reduction of re-
gistration of diarrhea after training course.
Análise dos registros de evacuações pela equipe de enfermagem em pacientes com nutrição
enteral (NE): redução de registro de diarréias após treinamento.

Magali Kumbier1
Carla Costa1
Ana Lia Barreto1
Ana Rozélia Ramos de Abreu1
Dânia Gonzáles1
José Vicente Spolidoro1

Unitermos REsUmo
Diarréia. Nutrição enteral. Equipe de enfermagem. objetivo: Comparar os registros de diarréia em pacientes adultos internados, submetidos
Registros.
à nutrição enteral (NE), antes e após treinamento da equipe de enfermagem. métodos:
Foram avaliados os registros de diarréia realizados pelas equipes de enfermagem, para
Key words:
Diarrhea. Enteral nutrition. Nurses. Registration. estes pacientes, durante 30 dias em dois momentos, antes (G1) e após (G2) treinamento,

Unitérminos imagens de evacuações e mudança na forma de registro, com padronização das anotações
Diarrea. Nutricíon enteral. Equipo de enfermería. (o número de evacuações e a quantidade estimada). O intervalo entre as coletas foi de um
Registros.
ano. Resultados: No G1 foram observados 40 pacientes (71±17anos; 52,5% homens),
com registro de diarréia em 15 pacientes; 1,66+3,2 dias de diarréia/paciente. Com base
Endereço para correspondência:
nononononononononononononono
nononononononononononononono
nononononononononononononono +13,3 anos; 54,1% homens). Foram relatados
nononononononononononononono +0,27 dias de diarréia/paciente. No G1, o número de dias efetivos de diarréia foi maior

Data de submissão: 13/07/2009 entre os dias interpretados pelos técnicos como diarréia e os dias efetivos de diarréia entre os
Data de aceite para publicação: 03/09/2009 dois grupos (p=0,001). Conclusão: Os autores demonstram que a padronização de registros
e treinamento da equipe contribuiu para redução de diagnósticos equivocados de diarréia.

AbstRACt
objective: Adult patients hospitalized, on EM, compare the registration of diarrhea, before and
methods: The registration of diarrhea from
the nurses team were evaluated during 30 days on two moments, before (G1) and after (G2)

of stools and change on the registrations form (orientation to register the number of stools and
1 - Nutricionista da EMTN do Hospital Esperança/PE;
Especialista em Nutrição Clínica pela UFPE; Results: G1 40 patients
Especialista em Alimentos Funcionais na Prática were observed (71±17yo; 52,5% male); with registration of diarrhea in 15 patients; 1,66+3,2
Clínica pela CVPE.
2 - Coordenadora e Nutricionista da EMTN/HC/UFPE;
Doutora e Mestre em Nutrição pela UFPE;
Especialista em Terapia Nutricional Enteral e + +0,27
Parenteral pela SBNPE; Especialista em Nutrição days of diarrhea/patient. G1 had more effective diarrhea days than on the G2, however without
Clínica pela ASBRAN.
3 - Nutricionista Residente do Serviço de Doenças Infec- statistic difference. There were statistic difference between the number of patients reported with
to e Parasitárias do Hospital das Clínicas/UFPE. diarrhea by the nurses and the effective days of diarrhea on the two groups (p=0,001). Conclu-
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 155-8
155
Magali Kumbier

sion:
course for the nurses team and the establishment of the pattern of registration.

REsúmEn
objetivo: Comparar los registros de diarréa por el equipo de enfermeria, en pacientes adultos
internados submetidos a NE, antes y despues de su entrenamiento. métodos: Fueron avaliados
los registros de diarrea realizados por los equipos de enfermería, para estes pacientes durante
30 dias en dos momentos, antes (G1) y después del entrenamiento (G2), que constaba en

líquidas por dia), imagenes de evacuaciones y cambios en la forma de registrar los episodios,
con padronizacion de las anotaciones (el número de evacuaciones y la cantindad estimada).
El intervalo de tiempo entre los dos registros, G1 y G2, fue de un año. Resultados: En G1 se
observo 40 pacientes (71±17 años; 52,5% hombres), con registro de diarrea en 15 pacientes;

efectivamente diarrea. Los técnicos en enfermeria describieron 65 dias/diarrea, pero utilizando

G1 el número de dias efectivos de diarrea fue mayor que en G2, pero sin diferencia estadística.

por los técnicos como diarrea y los dias efectivos de diarrea entre los dos grupos (p= 0,001).
Conclusion: La padronizacíon de los registros y el entrenamiento del equipo contribuye para
la reducíon del numero de diagnósticos equivocados de diarrea.

INTRODUÇÃO ObjeTIvO secUNDáRIO


Diarréia é uma complicação frequente em pacientes em
nutrição enteral (NE), com uma variedade de sequelas clínicas
negativas. Em pacientes internados em centro de terapia intensiva MÉTODOs

oferta nutricional, início de nutrição parenteral e aumento do de sinais vitais pelas equipes de enfermagem, relativos aos
período de permanência na CTI1. Estas diarréias podem causar pacientes internados com NE na CTI adulto e C1 durante 30
alteração de líquidos e eletrólitos e a prescrição de drogas anti- dias em dois momentos: antes (G1) e após (G2) treinamento.
2
. Estes fatores levam a estresse
adicional ao paciente e aumentam o custo dos cuidados de saúde3.
A incidência de diarréia em pacientes recebendo NE varia de 2%4
a 95%5. Esta grande variação de resultados é devida a dois principais fezes como FL (fezes líquidas); FSL (fezes semi-líquidas); FP
fatores: primeiro, desde que a patogênese da diarréia inclui muitas (fezes pastosas) ou FN (fezes normais); registrar o número de

sem qualquer resíduo sólido. Quando havia grumos em fezes


. 6
ainda com grande quantidade de líquidos, eram denominadas
Os autores entendem que um trabalho que envolva educação como fezes semi-líquidas. Fezes pastosas seriam quando elas
- não eram formadas, mas deixavam conteúdo, não sendo comple-
réia em pacientes em nutrição enteral, pode permitir uma melhora tamente absorvidas nas fraldas e fezes normais quando eram
formadas. As fezes pastosas, nestes pacientes em NE, não eram
por diarréia nestes pacientes. Em estudo (não publicado) realizado
evacuação de fezes líquidas ou semi-líquidas pelo menos três
de enfermagem interpretava e anotava se havia ou não diarréia e vezes por dia7. A partir do treinamento, os técnicos de enfer-

eram uniformes entre os técnicos de enfermagem. -


ência de sazonalidade, o intervalo entre as coletas foi de um ano.
ObjeTIvO geRal
Comparar o registro de diarréia em pacientes adultos inter- ResUlTaDOs
nados no CTI (Centro de Terapia Intensiva) adulto e unidade Tabela 1 – Dados dos grupos 1 e 2
neurológica (C1), submetidos à NE, antes e após treinamento No G1, dos 15 pacientes interpretados como tendo diarréia
da equipe enfermagem.

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 155-8


156
Análise dos registros de evacuações pela equipe de enfermagem em pacientes com nutrição enteral (NE): redução de registro de diarréias após treinamento.

tabela 1 – Dados dos grupos 1 e 2


GRUPO 1 GRUPO 2
(n=40) (n=37)
Duração do estudo (dias) 30 30 NS
Total de pacientes internados em NE 40 37 NS
Média de idade (anos) 71+17 NS
Sexo masculino 21 20 NS
Tempo de internação médio (dias) 15,5 +10,2 11,3+9,1 NS
Número de pacientes com registro de diarréia pelos técnicos de enfermagem 15 6 P=0,001
Média de dias de diarréia por paciente segundo os técnicos de enfermagem 1,66+3,2 P=0,001
10 6 NS
Número de dias efetivos de diarréia 9 NS (P=0,5)
Média de dias efetivos de diarréia por paciente 0,475+1,11 0,243+0,6 NS (P=0,5)
a
Dados expressos em média + desvio padrão ou “n” ou “%”.

utilizadas. Assim, o profissional de saúde baseia este diag-


- nóstico na opinião subjetiva do profissional de enfermagem
nição de diarréia estabelecida, consideramos que efetivamente que acompanha o paciente.
ocorreu diarréia em 10/15 pacientes. Os técnicos descreveram Uma pesquisa com 35 enfermeiros, médicos e nutricionistas
65 dias com diarréia, mas esta efetivamente ocorreu em 18 dias.
No G1 o número de dias efetivos de diarréia foi maior que
no G2, mas sem diferença estatística (p=0,5). A única diferença
quantidade de fezes (p = 0.048), não houve absoluta concordância
técnicos como diarréia e os dias efetivos de diarréia entre os quanto à importância destas características entre os diferentes
dois grupos (p=0,001). 11
. Em
inspeção independente de 59 amostras de fezes, duas enfermeiras
DIscUssÃO diferentes concordaram na presença ou ausência de diarréia em
-
recuperar a nutrição em pacientes internados e ambulatoriais2,8.
É a forma de terapia nutricional preferencial, utilizada com o
objetivo de oferecer suporte nutricional a pacientes que têm faz com que se entenda que seria melhor descrever as fezes que
interpretar o diagnóstico de diarréia.
em manter ingestão oral adequada. Assim, os autores realizaram treinamento para a equipe de
Frequentemente a nutrição enteral é responsabilizada pela
ocorrência de diarréia, promovendo a diminuição ou troca da
dieta. No entanto, na maioria das vezes não é a dieta a causa os registros dos técnicos de enfermagem superestimavam a
de diarréia, visto que as dietas utilizadas normalmente são presença de diarréia em pacientes adultos internados no CTI
adulto e unidade neurológica (C1), submetidos à NE. Após
Diarréia é a mudança na frequência, consistência e quan-

líquidas três ou mais vezes ao dia, ou quantidades maiores ou


líquidas no mínimo três vezes por dia, evidenciou um número
iguais a 500 ml de fezes por dois dias consecutivos9.
-
-
gado em estudo prospectivo com 29 pacientes masculinos
passou a fazer parte das rotinas deste hospital.
iniciando NE10 -
cONclUsÃO
dia), que resultaram numa incidência de 72% de pacientes,
Os autores demonstram que a padronização de registros e
dia) que resultaram em incidência de 21%. A incidência treinamento da equipe evita que pacientes sem diarréia possam
também variou positivamente com o número de dias em ser manejados como tal.
que o paciente foi monitorado11
ReFeRÊNcIas
1. Montejo JC. Enteral nutrition-related gastrointestinal complications in critically

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 155-8


157
Magali Kumbier

of the Spanish Society of Intensive Care Medicine and Coronary Units. Crit Care
Med. 1999; 27(8):1447–53. in tube-feeding studies? Clinical Nurs Res. 2003;12(2):174–204.
2. Bowling TE. The Sir David Cuthbertson Medal Lecture. Enteral-feeding-
related diarrhoea: proposed causes and possible solutions. Proc Nutr Soc. Editora Atheneu, 3º edição – V. 1, 2000.
1995;54(2):579–90. 8. Hill SA, Nielsen MS & Lennard-Jones JE. Nutritional support in intensive care
3. Dobb GJ. Diarrhea in the critically ill. Intensive Care Med. 1986;12(3):113-5. units in England and Wales: a survey. Eur J Clinl Nutr. 1995;49(5):371–8.
4. Cataldi-Betcher EL, Seltzer MH, Slocum BA & Jones KW. Complications occur-
ring during enteral nutrition support: a prospective study. JPEN J Parenter Enteral 2004.
Nutr.1983;7(6):546–52.
5. DeMeo M, Kolli S, Keshavarzian A, Borton M, Al-Hosni M, Dyavanapalli M, et patients – what a mess! Am J Clin Nutr. 1992;55(3):753–9.

Am J Gastroenterol. 1998;93(6):967–71. tube feeding: do health professionals agree? J Hum Nutr Diet. 2003;16(1):21–6.

local de realização do trabalho: 1 - EMTN do Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre, RS, Brasil

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 155-8


158
A Artigo Original
Análise quantitativa e qualitativa da dieta de pacientes no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica

Análise quantitativa e qualitativa da dieta de pacientes no pré e pós-


operatório de cirurgia bariátrica
Analysis of registration of stools by the nurses team in patients on enteral nutrition (EN): reduction of re-
gistration of diarrhea after training course.
Analisis cuantitativo y cualitativo de la dieta de pacientes en el pre y posoperatorio de cirugía bariátrica.

Carlise Felkl Prevedello1


Elisângela Colpo2
Elveni Teresinha Mayer3
Hairton Copetti4

Unitermos REsUmo
Obesidade. Gastroplastia. Dieta. A obesidade é considerada como um problema de saúde pública e torna-se cada vez mais
prevalente mundialmente. Devido às alterações metabólicas causadas pela obesidade grave,
Key words:
Obesity. Gastroplasty. Diet.
ser o único método capaz de proporcionar perda e manutenção de peso a longo prazo nesta
Unitérminos população e também minimizar os danos causados por doenças crônicas como Diabetes
Obesidad. Gastroplastía. Dieta. Mellitos, Hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias, entre outras. Com o objetivo de analisar o
consumo dietético de uma população que realizou este tipo de cirurgia em uma clínica particular
Endereço para correspondência: de Santa Maria-RS, foram entrevistados 21 pacientes, de ambos os sexos, entre 19 e 44 anos,
Edifício Central de Clínicas operados pelas técnicas de Bypass Gástrico ou Derivação Bileopancreática. Foi analisado o seu
Rua Pinheiro Machado, 2350 consumo alimentar por meio de recordatório 24 horas no pré e pós-operatório. De acordo com
Bloco A, Sala 406
Telefone: (55) 30254340
CEP 97050-600 Santa Maria/RS
E-mail: carlise_fp@hotmail.com e sódio. Em relação aos dados apresentados, ressalta-se a importância do acompanhamento

Data de submissão: 17/07/2008 causadas por restrição de micronutrientes, após a realização da cirurgia bariátrica.
Data de aceite para publicação: 20/03/2009
AbstRAct
The obesidade is considered as a problem of public health and becomes each more preva-
lent time world-wide. Had the metabolic alterations caused by the serious obesidade the

being the only method capable to provide to loss and maintenance of weight in the long run
in this population and also to minimize the actual damages for chronic as Diabetes Mellitos,
1 - Nutricionista graduada pelo Centro Universitário sistêmica arterial Hipertesão and dislipidemias illnesses. With the objective to analyze the
Franciscano (UNIFRA)
2 - Nutricionista docente do Centro Universitário
dietary consumption of a population that carried through this type of surgery in a particular
Franciscano (UNIFRA); Mestre em Bioquímica clinic of Saint Maria, 21 patients had been interviewed, of both the sexos, between 19 and
Toxicológica pela Universidade Federal de Santa 44 years, for the techniques of Gastric Bypass or Bileopancreática Derivation. 24hs in the
Maria (UFSM)
3 - Nutricionista docente da Universidade do Contestado
postoperative daily pay was analyzed its alimentary consumption through recordatório and.
(UnC); Especialista em Nutrição Clínica pelo
Instituto Ponto Crítico de Ensino (IPCE); Mestre daily pay and the postoperative one of Kcal, monoinsaturadas and saturated tiamina, ribo-
em Ciência e Tecnologia de alimentos pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
4 - Médico cirurgião docente da Universidade Federal data one standes out it importance of the nutricional accompaniment of this population for
de Santa Maria (UFSM); Especialista em Cirurgia
Geral pelo Conselho Federal de Medicina (CFM);
Mestre em Cirurgia pela Universidade Federal of micronutrients, after the accomplishment of the bariátrica surgery.
de Santa Maria (UFSM); Membro Titular do
Colégio Brasileiro de Cirurgiões; Membro Titular REsUmEn
da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e
Metabólica; Membro associado da Federação La obesidad es considerada como un problema de salud pública y se torna cada vez más
Internacional da Cirurgia da Obesidade prevalente mundialmente. Debido a las alteraciones metabólicas causadas por la obesidad
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 159-65
159
Carlise Felkl Prevedello

principalmente por ser el único método capaz de proporcionar pérdida o manutención de


peso a largo plazo en esta población y también minimizar los daños causados por enfer-
medades crónicas como Diabetes, Mellitus, Hipertensión arterial sistémica, Dislipidemias,
entre otros. Com el objetivo de analizar el consumo dietético de una población que realizó
este tipo de cirugía en una clínica particular de Santa Maria-RS, fueron entrevistados 21
pacientes, de ambos los sexos, entre 19 y 44 años, por las técnicas de Bypass Gástrico o
Derivación Biliopancreática. Fue analizado su consumo alimentario a través de recordatorio
24hs en el pre y posoperatorio. De acuerdo con ese análisis, en la ingestión entre el pre y

presentados se resalta la importancia del acompañamiento nutricional de esta población

restricción de micronutrientes, luego la realización de la cirugía bariátrica.

INTRODUÇÃO MÉTODOS
O controle da obesidade por meio da cirurgia tem como
objetivo diminuir a entrada de alimentos no tubo digestivo, e/
ou diminuir sua absorção. Os procedimentos cirúrgicos podem
em uma clínica particular de Santa Maria-RS.
ou mistos (restrição e disabsorção)1-3. Foram selecionados 41 pacientes com evolução cirúrgica
O tipo de técnica escolhida ou a conclusão da cirurgia não -

período de mudanças comportamentais e alimentares, acom-


panhadas de exercícios físicos, regularmente monitorados por

da fase de realimentação, o paciente precisa aprender a conviver


com sua nova imagem corporal e adaptar-se às limitações sendo analisado conforme o paciente alimentava-se no momento
impostas pela cirurgia1,4. da entrevista.
Longe de restaurar a perfeição estética, o principal objetivo

em relação ao grupo controle, que são os mesmos pacientes no


suplementação vitamínica, ferro e microelementos1,5.
O sucesso da cirurgia não depende somente da redução de
peso ou técnica escolhida, mas também da capacidade deste

nova condição de vida1,5.


Neste contexto, a intervenção mecânica serve apenas para

Dietary Reference Intakes, 1997-1998)7,


excesso ou o débito energético, e os micronutrientes comparados

- vitaminas e minerais.
tando em aumento de peso e consequentemente desordens
1,5,6
. calculados e comparados nos diferentes grupos de evolução

ObjeTIvO
-

- e o projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética


mento nutricional contínuo, assim como o uso de suplementos
vitamínicos por um período indeterminado por estes pacientes.
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 159-65
160
Análise quantitativa e qualitativa da dieta de pacientes no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica

ReSULTADOS
-

relação à maioria dos micronutrientes, com exceção do Zinco


, porém houve manutenção da adequação do

-
Na comparação dos dados de porcentagem de proteínas,
carboidratos e lipídios das dietas, não foi demonstrada mudança

TAbeLA 2

saturadas e fibras, demonstrando variação significativa

- tabela 1. Porcentagem de adequação dos nutrientes ingeridos no


pré-operatório de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica em uma clínica
de Santa Maria, RS.
gera uma alimentação completa nutricionalmente. Ressalta-se,
Pré-operatório
nutrientes X ± E.P. Adequação (%)
Kcal 4156,5 ± 298,9 177,6
PTN (%) 16,1 ± 0,7 *
CHO(%) 48,7 ± 1,6 *
LIP (%) 35,2 ± 1,3 *
arterial sistêmica e os altos níveis de colesterol no sangue, que
Vit. B12 (mcg) 8,6 ± 1,6 358,3
mais frequentes de morte nesta população. Vit. B1 (mg) 1,9 ± 0,2 158,3
Vit. B2 (mg) 2,0 ± 0,2 166,6
foram encontradas dentro das recomendações na dieta no pré-
Vit. B6 (mg) 1,9 ±0,3 146,2
Vit. A (mcg) 446,2 ± 133,9 55,8
Vit. C (mg) 85,9 ± 21,4 104,1
Vit. D (mcg) 1,8 ± 0,6 36
TAbeLA 1 Vit. E (mg) 28,5 ± 3,6 190
Ferro (mg) 27,8 ± 7,5 201,4

(grupo B), quando esta população ainda passa pelo período de Cálcio (mg) 986,5 ± 123,4 98,7
Zinco (mg) 25,9 ± 4,7 272,6
Sódio (mg) 4173,5 ± 440,2 278,2
Potássio (mg) 3270,5 ± 434,8 69,58
variações positivas neste período, colaborando para manu-
Ômega 3 (g) 1,9 ± 0,3 147,4
tenção da saúde e funcionamento adequado do organismo
desta população. Ômega 6 (g) 15,0 ± 2,1 103,4
Gor. Mono (g) 42,3 ± 5,7 **
maior de vitaminas e minerais na ingestão destes pacientes, em Gor. Sat. (g) 51,9 ± 5,6 **
que apenas a vitamina C encontra-se dentro das recomendações Colest. (mg) 480,5 ± 63,9 240,3
Fibras (g) 35,7 ± 3,1 112,4

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 159-65


161
Carlise Felkl Prevedello

tabela 2. Porcentagem de adequação dos nutrientes ingeridos por grupos no pós-operatório de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica em uma clínica
de Santa Maria, RS.
Grupo B Grupo C Grupo D
Nutrientes X ± E.P. Adequação (%) X ± E.P. Adequação (%) X ± E.P. Adequação (%)
Kcal 806,0 ± 76,8 38,4 1281,5 ± 77,9 56,9 1653,9 ± 177 77,7
PTN (%) 20,7 ± 1,4 * 17,3 ± 1,8 * 16,8 ± 1,1 *
CHO(%) 45,5 ± 5,7 * 58,5 ± 3,3 * 54,2 ± 2,8 *
LIP (%) 33,8 ± 6,3 * 24,2 ± 9,2 * 28,9 ± 1,9 *
Vit. B12 (mcg) 2,4 ± 0,4 100 2,2 ± 0,4 91,6 3,8 ± 1,5 158,3
Vit. B1 (mg) 0,5 ± 0,1 41,6 0,9 ± 0,2 75,0 0,7 ± 0,1 58,3
Vit. B2 (mg) 0,7 ± 0,1 58,3 1,0 ± 0,1 83,3 0,9 ± 0,1 75
Vit. B6 (mg) 0,7 ± 0,1 53,8 1,0 ± 0,2 76,9 1,1 ± 0,2 84,6
Vit. A (mcg) 885,9 ± 364,4 110,7 634,8 ± 208,3 79,4 241,9 ± 81,1 30,2
Vit. C (mg) 86,9 ± 30,6 105,3 96,2 ± 15,1 116,6 46,9 ± 14,2 56,8
Vit. D (mcg) 1,5 ± 0,6 30,0 2,0 ± 0,8 40,0 1,5 ± 1,1 30
Vit. E (mg) 6,3 ± 2,2 42,0 7,2 ± 1,5 48,6 10,9 ± 2,3 72,6
Ferro (mg) 6,0 ± 1,0 43,5 9,1± 0,7 65,9 9,9 ± 1,6 71,7
Cálcio (mg) 358,6 ± 107,0 35,9 419,7 ± 110,3 41,97 417,3 ± 95,8 41,7
Zinco (mg) 6,5 ± 3,3 68,4 7,4 ± 0,9 77,9 10,0 ± 2,4 105,3
Sódio (mg) 797,8 ± 205,2 53,2 1202,9±241,5 80,2 1408,8 ± 189,4 93,9
Potássio (mg) 1193,8 ± 219,3 25,4 1777,4±101,5 37,8 1596,7 ± 211,5 33,9
Ômega 3 (g) 0,2 ± 0,0 14,8 0,3 ± 0,0 22,2 0,5 ± 0,3 37,0
Ômega 6 (g) 2,4 ± 0,9 16,55 3,3 ± 0,8 22,8 4,8 ± 1,0 33,1
Gor. Mono (g) 6,6 ± 1,0 ** 8,8 ± 1,3 ** 11,2 ± 2,2 **
Gor. Sat. (g) 6,9 ± 0,9 ** 10,5 ± 4,8 ** 14,4 ± 2,2 **
Colest. (mg) 220,4 ± 53,8 110,2 126,6 ± 22,7 63,3 172,2 ± 38,4 86,1
Fibras (g)

FIGURA 1 maior, demonstrando uma significativa diferença entre a


) (Figura

FIGURA 3

FIGURA 2

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 159-65


162
Análise quantitativa e qualitativa da dieta de pacientes no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica

Figura 1 Figura 2

5
, em estudo

abaixo dos observados no presente estudo e nos outros referidos,

-
traram uma adequação da ingestão desta vitamina no pré-opera-
Figura 3:

sistema nervoso central e/ou neuropatia periférica, principal-


mente em casos de vômito persistente nesta população, sendo

pode ser feita para evitar maiores comprometimentos .

consumo alimentar desta população neste período, que


-
-

- dietas marginais pobres em proteína animal e vegetais folhosos.


ladas com seu peso ideal, sendo um importante indicativo -
mação, queimadura e coceira nos olhos, perda de acuidade visual

desenvolver queilose e estomatite angular, entre outros11


acordo com um estudo de Quadros et al.
No estudo de Silva et al. , foi observada ingestão média

as recomendações em todos os grupos.

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 159-65


163
Carlise Felkl Prevedello

Figura 4: Figura 5:

indicam uma inadequação conforme as recomendações em todos


os grupos. Segundo Bloomberg13,
não ocorre normalmente nesta população se estes receberem
suplementação adequada de vitaminas lipossolúveis. contribuir para o aumento níveis de pressão arterial nesta popu-
lação. Os demais grupos estão em ordem crescente de ingestão
e dentro do valor recomendado.
-

recomendações para homens e mulheres, indicando um consumo


menor de frutas, hortaliças e alimentos integrais por esta popu-

O valor observado da ingestão de gorduras saturadas (Figura

dos outros grupos, demonstrando a alta ingestão de fontes

14

O mesmo estudo relata que os suplementos multivitamínicos

vista que as recomendações destes nutrientes são expressas em especialmente nas mulheres durante o ciclo menstrual, indi-
porcentagem dos lipídios totais da dieta e não em gramagem, cando que um maior consumo de fontes de ferro deve ser
conforme analisado pelo presente estudo. incentivado na dieta desta população.
Foi demonstrada uma ingestão acima do recomendado de

risco de desenvolvimento de osteoporose em pacientes que não

15
, os distúrbios nutricionais mais

- -

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 159-65


164
Análise quantitativa e qualitativa da dieta de pacientes no pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica

ReFeRÊNCIAS

al.5
-

nutricionais, principalmente o uso de complexos de vita-


minas e minerais para que estes pacientes atinjam um
mínimo das recomendações.
CONCLUSÕeS

redução acentuada da ingestão de micronutrientes e calorias,

Estas inadequações, associadas aos componentes disabsortivos -

nutricionais e até mesmo desnutrição energético-protéica. meal patterns up to 4 years after Roux-en-Y gastric bypass surgery. Obes Surg.
Os dados deste estudo revelam a importância de um acompa-
-

restrições alimentares que, somadas ao abandono do acompa-


nhamento nutricional e a diminuição do uso de suplementos
vitamínicos, contribuíram para uma maior probabilidade de

Local de realização do trabalho:

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 159-65


165
A Artigo Original
Freitas AR

Insatisfação da imagem corporal, práticas alimentares e de


emagrecimento em adolescentes do sexo feminino
Subjective global assessment and patient-generated subjective global assessment in oncology: a compa-
rative study
Descontento de la imagen corporal, la alimentación y la práctica de reducción de peso corporal en ado-
lescentes del sexo femenino

Angelica Rocha de Freitas1,


Daiana Novello2,

Unitermos REsUmo
Adolescência. Insatisfação corporal. Transtornos Introdução: A adolescência compreende a fase do ciclo de vida que se estende dos 10 aos
alimentares.
ambientais e genéticos. A insatisfação e distorção da imagem corporal, características marcantes
Key words:
dessa fase, contribuem consideravelmente para o desenvolvimento de transtornos alimentares,
Adolescence. Corporal dissatisfaction. Alimentary
disturbances. afetando principalmente as meninas. objetivos: O presente estudo teve como objetivo avaliar
54 adolescentes do sexo feminino, matriculadas em um colégio particular no município de
Unitérminos Guarapuava-PR, com idade entre 14 e 19 anos. métodos: Foram determinados seu estado
Adolescencia. Descontento corporal. Agitaciones nutricional e seu peso teórico, comparando-os com a percepção que as avaliadas têm sobre
alimentícias. o próprio corpo. Resultados: Pelo Índice de Massa Corporal (IMC), percebeu-se que 1,85%
das avaliadas apresentaram magreza grau III, 1,85% magreza grau II, 14,81% magreza grau
Endereço para correspondência:
Rua Capitão Rocha, 400, Bairro Trianon, CEP – 85017-
260, Guarapuava – PR.
E-mail: angerocha@gmail.com
Nota-se que a distorção da imagem corporal ocorre entre essas adolescentes, uma vez que
Data de submissão: 21/07/2008
Data de aceite para publicação: 02/02/2009 Conclusão: Ressalta-se que esse fator pode estar ligado à imagem de corpo ideal veiculado
pela mídia, levando ao desenvolvimento de possíveis transtornos alimentares.

AbstRACt
Introduction: The adolescence understands the phase of the life cycle that extends of the

ambient and genetic factors. The dissatisfaction and distortion of the corporal image, marked
characteristic of this phase, contributes considerable for the development of alimentary
disturbances, affecting the girls mainly. objective: The present study it had as objective to
evaluate 54 adolescents of the feminine sex, registered in a particular college in the city of
Guarapuava-PR, with age between 14 and 19 years. methods: To establish its nutritional
state and its theoretical weight, comparing them with the perception that they have of the
own body. Results: Through the Body Mass Index (BMI), it was perceived that 1.85% of
the evaluated ones had presented leanness degree III, 1.85% leanness degree II, 14.81%

1-Nutricionista formada pela UNICENTRO – Univer-


sidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava It is noticed that the corporal image distortion occurs between these adolescents, a time
– PR.
2 - Professora MsC. Departamento de Nutrição da that the majority is normal and exactly this it possessed the desire to diminish its weight.
UNICENTRO Conclusion: It is stand out that this factor can be connected to the image of ideal body
3- Nutricionista formada pela UNICENTRO propagated by the media, leading to the development of possible alimentary disturbances.
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 166-73
166
Insatisfação da imagem corporal, práticas alimentares e de emagrecimento em adolescentes do sexo feminino

REsUmEn
Introdución: La adolescencia entiende la fase del ciclo vital que si extiende de los diez
a los diecinueve años de la edad. En este período, las transformaciones ocurren que son

corporal, caracteristica marcada de esta fase, contribuyen considerable para el desarrollo


de agitaciones alimenticias, afectando a las muchachas principalmente. objetivo: De esta
manera, del actual estudio que tenía como objetivo para evaluar a 54 adolescentes del
sexo femenino, registrados en una universidad particular en la ciudad de Guarapuava-PR,
con edad entre 14 y 19 años métodos: Determinar su estado alimenticio y su peso teórico,
comparándolos con la opinión que evaluadas tienen en el cuerpo apropiado. Resultados:
Con el Indice de Masa Corporal (IMC), fue percibido que 1.85% evaluados habían presen-

distorsión de la imagen corporal ocurre entre estos adolescentes, una época que la mayoría
es normal y ésta él posee exactamente el deseo de disminuir su peso. Conclusión: Es
soporte hacia fuera que este factor puede estar encendido a la imagen del cuerpo ideal
propagada por los medios, conduciendo al desarrollo de agitaciones alimenticias posibles.

INTRODUÇÃO

.
2

MÉTODOS

7
.
.
22

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 166-73


167
Freitas AR

®
.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

tabela 1.
análise comparativa entre peso aferido e peso teórico, segundo
determinação de West24
Peso aferido (kg)
Peso teórico (kg)
Estatura média (m)
Porcentagem média de gordura corporal
Quantidade média de gordura corporal (kg)
Adolescentes avaliadas abaixo do peso ideal (%) 66,67
OB III – obesidade grau III. IMC – Índice de Massa Corporal
Adolescentes avaliadas acima do peso ideal (%)
Diagnóstico Nutricional das adolescentes avaliadas pelo IMC

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 166-73


168
Insatisfação da imagem corporal, práticas alimentares e de emagrecimento em adolescentes do sexo feminino

GOSTARIAM DE
ENGORDAR
SATISFEITAS GOSTARIAM DE
INSATISFEITAS EMAGRECER
SATISFEITAS

Porcentagem de insatisfação corporal entre as adolescentes ava-


liadas

tabela 2. Porcentagem de peso desejado para emagrecimento entre as


adolescentes avaliadas
Peso desejado para emagrecimento entre as
adolescentes que gostariam de emagrecer %
1kg 5,56
1,5kg 1,85
2kg 9,26

4kg 7,41
5kg 12,96
7
6kg 1,85
8kg 7,41
10kg 7,41
15kg 1,85

.7

27

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 166-73


169
Freitas AR

tabela 3. Práticas de redução de peso realizadas pelas adolescentes tabela 6. Chás utilizados para controle de peso pelas adolescentes
avaliadas avaliadas
Práticas utilizadas para redução ponderal % Chá utilizado %
Comer nas horas certas 1,85 Chás Herbalife® 1,85
Comer normal, sem exageros 1,85 Chá verde 1,85
Ingerir bastante água 1,85 Chá de sene 1,85

Ingerir menos carboidratos 1,85 Chá de carqueja 1,85

Ingerir mais verduras 1,85


Comer menos frituras e alimentos ricos em gordura 5,56

Controlar a alimentação 11,11


Fazer dietas (regimes) 11,11
Comer menos nas refeições 16,67
Comer menos doces e guloseimas 16,67
Realizar atividade física (caminhadas, academia) 24,07
Relatou não conseguir parar de comer 1,85
Não relatou a prática utilizada 11,11

tabela 4. Principais dietas realizadas pelas adolescentes avaliadas


Dietas da moda / Métodos de controle de peso %
Dieta das 2.000 quilocalorias 1,85
Dieta do suco 1,85
Dieta da Herbalife® 1,85

Dieta inventada pela própria adolescente 1,85


Dieta dos Pontos 7,41

Ingestão de alimentos saudáveis 1,85


Ingestão reduzida de alimentos, com a realização

.7
tabela 5. Medicamentos utilizados para controle de peso pelas
adolescentes avaliadas
Medicamento utilizado %

Femproporex 1,85
Remédios Herbalife® 1,85
Remédios naturais 1,85
Não lembrou o medicamento utilizado 1,85
Não relatou o medicamento utilizado 1,85

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 166-73


170
Insatisfação da imagem corporal, práticas alimentares e de emagrecimento em adolescentes do sexo feminino

tabela 7. Questionário de frequência alimentar expresso em porcentagem pela média de consumo das adolescentes avaliadas
mais que 3 de 2 a 3 1 vez ao de 5 a 6 de 2 a 4 1 vez na de 1 a 3
Alimento vezes ao vezes ao dia* vezes na vezes na semana* vezes no nunca*
dia* dia* semana* semana* mês*
Leite 7,41 12,96 1,85 11,11
Iogurte 0 7,41 16,67 7,41 24,07 16,67 12,96 14,81
Café preto 1,85 11,11 11,11 1,85 5,56 5,56 7,41 55,56
Engrossante (Neston/farinha láctea) 1,85 0 1,85 1,85 5,56 7,41 16,67 64,81
Pão 9,26 7,41 9,26 7,41 0 1,85
Margarina/manteiga 1,85 16,67 11,11 12,96 11,11 7,41
Mortadela/presunto/salame 1,85 18,52 12,96 22,22 16,67
Queijo prato/mussarela/minas 7,41 24,07 14,81 16,67 16,67 9,26 7,41
Patê 0 5,56 5,56 7,41 12,96 9,26 18,52 40,74
Requeijão 0 5,56 7,41 5,56 14,81 18,52 12,96
Bolo 9,26 7,41 7,41 11,11 12,96 11,11 1,85
Bolacha salgada 7,41 5,56 16,67 9,26 14,81 16,67 18,52 11,11
Bolacha doce sem cobertura 1,85 5,56 11,11 11,11 9,26 22,22 14,81 24,07
Bolacha recheada/cobertura 5,56 9,26 18,52 14,81 16,67 12,96 1,85
Frutas 11,11 24,07 9,26 18,51 9,26 5,56 1,85
0 0 11,11 1,85 11,11 27,78 16,67
Massas em geral 5,55 9,26 12,96 14,81 24,07 9,26
Macarrão instantâneo 0 5,56 7,41 5,56 14,81
Arroz 14,81 11,11 1,85 9,26 0 5,56
Feijão 1,85 12,96 16,67 11,11
Carne bovina 0 11,11 40,74 9,26 22,22 11,11 1,85
Carne de frango 0 5,56 22,22 1,85 9,26 5,56
Carne de peixe 0 0 7,41 1,85 9,26 22,22
Carne de porco/linguiça/bacon 0 1,85 7,41 1,85
Vísceras (fígado, coração, moela) 0 1,85 1,85 0 1,85 14,81 12,96 66,67
Ovo (galinha e codorna) 0 1,85 0 7,41 16,67
0 0 0 1,85 9,26 44,44 14,81
Hambúrguer 0 1,85 5,56 12,96 16,67
Legumes 1,85 11,11 14,81 5,56 12,96
Verduras 1,85 11,11 12,96 18,52 5,56 16,67
Óleo vegetal 0 11,11 5,56 22,22 14,81 16,67
Banha de porco 0 0 1,85 0 1,85 7,41 85,19
Maionese 0 5,56 18,52 9,26 5,56 12,96 22,22
Creme de leite 0 1,85 9,26 11,11 27,78
Leite condensado 1,85 0 9,26 14,81 9,26 22,22 12,96
9,26 18,52 22,22 9,26 7,41 12,96 16,67
1,85 11,11 27,78 9,26 16,67 18,52 9,26 5,56
Refrigerante 11,11 16,67 11,11 9,26 18,52 18,52 5,56 9,26
Frituras 7,41 16,67 5,56 18,52 14,81 7,41
16,67 5,56 18,52 12,96 12,96
5,56 5,56 18,52 18,52 22,22 22,22
Pipoca 0 1,85 5,56 9,26 12,96 27,78 9,26
Chocolate 7,41 11,11 14,81 12,96 24,07 16,67 11,11 1,85
Achocolatado em pó 7,41 14,81 12,96 18,52 11,11 11,11
Doces diversos 9,26 14,81 22,22 12,96 14,81 16,67 5,56
Bala/chicletes 16,67 18,52 14,81 11,11 5,56 0
Lanche (sanduíches) nas refeições 5,56 9,26 18,51 12,96 7,41 14,81 18,52 12,96

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 166-73


171
Freitas AR

.
Número de refeições diárias feitas pelas adolescentes avaliadas

. Número de refeições diárias feitas pelas adolescentes avaliadas

27

fast
foods, .
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 166-73
172
Insatisfação da imagem corporal, práticas alimentares e de emagrecimento em adolescentes do sexo feminino

27

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

???????????????????????????????????????????

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 166-73


173
A Artigo Original
Shiroma GM

Antropometria e bioimpedância elétrica na doença celíaca


Anthropometrics and bioelectrical impedance in celiac disease
Antropometría y impedancia bioeletrica en la enfermedad celiaca

Glaucia Midori Shiroma1


Maria de Lourdes Teixeira da Silva2
Viviane Chaer Borges3
Lilian Mika Horie4
5
6

Luciana da Costa Eduardo Logullo7


8

Unitermos REsUmo
Doença celíaca. Avaliação nutricional. Antropometria. objetivo:
Bbioimpedância elétrica. Desnutrição.
correlacionadas variáveis coletadas por pregas cutâneas e bioimpedância elétrica. métodos:
Key words: Estudo retrospectivo com 15 pacientes atendidos em consultório de nutrição, sendo 10 do
Celiac disease. Nutritional valuation. Anthropometrics. sexo masculino e 5 do sexo feminino. As variáveis antropométricas coletadas foram: peso
Electrical bioimpedance. Malnutrition. atual, altura, índice de massa corporal (IMC), circunferência do braço (CB), circunferência
muscular do braço (CMB) e prega cutânea triciptal (PCT). As variáveis coletas foram: gordura
Unitérminos
Enfermedad celíaca. Valoración nutricional. Antropome-
corporal (GC) e massa magra (MM). Resultados: Na Tabela 1, observa-se que a média de
tría, impedancia bioeléctrica. La malnutrición..

Endereço para correspondência:


Rua Maestro Cardim, 1236. Paraíso – São Paulo – demonstra correlação linear entre gordura corporal em quilos e prega cutânea tricipital, ambas
SP. Fones: 55 11 32846318/55 11 83695169. CEP:
01323-001
E-mail: g.midori@yahoo.com.br, estado nutricional do paciente, embora não tenham sido encontrados pacientes desnutridos
pesquisa@ganep.com.br no presente estudo. Conclusão:
elétrica estão fortemente correlacionados, portanto, pode-se optar pelo método de antropo-
Data de submissão: 25/07/2008 metria para avaliação nutricional de pacientes, por ser facilmente aplicável e de baixo custo.
Data de aceita para publicação: 12/01/2009
AbstRACt
objective:
1 - Nutricionista do Grupo de Nutrição Humana (GANEP). appointment; A correlation was made with skinfolds and bioelectrical impedance variables.
2 - Mestre em Gastroenterologia. Especialista em Nutrição methods:
Enteral e Parenteral.
Diretora do Grupo de Nutrição Humana (GANEP). patients. The anthropometric variables collected were: present weigh, body mass index
(BMI), arm circumference, muscle arm circumference and tricipital skinfold. The variables
de São Paulo collected were: corporeal fat and muscle. Results: -
3 - Nutricionista do Grupo de Nutrição Humana (GANEP).
Especialista em TNEP pela SBNPE. Doutora em

4 - Nutricionista. Mestranda do Departamento de Gastro-


corporeal fat and tricipital skinfold, both with positive correlation. Celiac disease concerns
health professionals for patients nutritional status, although there was no malnourished
pelo Centro de Estudos de Gasto Energético e patients in this study. Conclusion: The anthropometric methods and bioelectrical impedance
Composição Corporal do Departamento de Gas-
used were highly correlated; therefore you can choose anthropometric method to evaluate
5 - Médica nutróloga do Grupo de Nutrição Humana patients nutritional status, due to its easily workability and low cost.
(GANEP). Especialista em TNEP pela SBNPE.
6 - Nutricionista do Grupo de Nutrição Humana (GANEP).
REsUmEn
(GANEP). objetivo: E
8 - Professor Associado do Departamento de Gastroente-
primera consulta, se correlacionaron las variables recogidas por la prega cutánea triciptal
y impedancia bioeléctrica. métodos: Estudio retrospectivo con 15 pacientes tratados en el
35). Diretor de Grupo de Nutrição Humana (GANEP). cargo de la nutrición, de las cuales 10 hombres y 5 mujeres. Las variables antropométricas
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 174-7
174
Antropometria e bioimpedância elétrica na doença celíaca

recogidos fueron: peso actual, talla, índice de masa corporal (IMC), circunferencia del

Variables colecciones fueron: la grasa corporal (BF) y masa magra (MM). Resultados:
En el Cuadro 1, se observa que la media de IMC se encuentra dentro de los niveles de

muestra una correlación lineal entre la grasa corporal en kilogramos y el pliegue tricipital,
con correlación positiva. La enfermedad celíaca preocupa a los profesionales mantener el
estado nutricional del paciente, pero no fueron encontrados desnutridos pacientes en este
estudio. Conclusión:
están fuertemente correlacionados, de modo que puede elegir el método de la antropometría
para la evaluación nutricional de los pacientes, porque es de fácil aplicación y bajo costo.

INTRODUÇÃO
A Doença Celíaca (DC) é uma doença auto-imune, que primeira consulta e comparar métodos antropométricos e bioim-
afeta crianças e adultos, e tem como sintomatologia principal os pedância elétrica.
sintomas gastro-intestinais (consequentemente, má-absorção),
embora outras formas também possam ocorrer, como oligossin- MÉTODOS
tomática, atípica, latente, silenciosa ou em potencial1 Foi realizado um estudo retrospectivo no período
também como intolerância permanente ao glúten, caracterizada de dezembro/1996 a julho/2006 (VERIFICAR ESTAS
DATAS!!!), por meio de dados coletados nos prontuários
proximal, levando à má absorção de nutrientes em indivíduos do consultório de nutrição GANEP, contendo 15 pacientes
geneticamente suscetíveis. Para que ocorra a expressão da DC portadores de DC, sendo 10 sexo feminino e 5 sexo masculino.
é também necessária a presença de outros fatores, tais como: Foram coletados dados da primeira consulta, como idade,
genéticos, imunológicos e ambientais2. A patogenia da doença medidas antropométricas e de composição corporal por meio
tem um quadro clínico variado e é multifatorial, no qual os de BIA. Todos os pacientes do presente estudo estavam na
sintomas de desnutrição e má-absorção são destaques3. fase sintomática da doença.
A DC, por ter uma característica de má-absorção, gera grandes As variáveis antropométricas coletadas foram: peso atual,
repercussões no estado nutricional dos pacientes. A avaliação altura, índice de massa corporal (IMC), circunferência do braço
(CB), muscular (CMB) e dobra cutânea tricipital (DCT).
corporais em um indivíduo ou em uma população, visando O peso foi aferido em balança tipo plataforma da marca
medidas de intervenção4. Hernandéz & Argüelles3 Filizola ®, calibrada com capacidade máxima de 150kg e
a anorexia é um sintoma frequente e pode ser uma das principais variação de 100g. A altura foi medida em estadiômetro no
causas da ausência de ganho ponderal. Mancilla et al.5, em estudo mesmo aparelho com variação de 0,5cm. O IMC foi calculado
realizado com 37 doentes celíacos em Santiago (Chile), encontrou pela equação (OMS, 1997)8:
38% dos pacientes apresentando perda de peso. IMC=peso (kg)/altura2 (m)
A antropometria é utilizada para avaliar o tamanho e as
proporções dos segmentos corporais, pela medida de circun- medida pelo adipômetro Lange ®. A circunferência muscular
ferência e comprimento dos segmentos corporais. Utiliza-se do braço foi calculada por meio da equação:
também a medição da espessura do tecido adiposo subcutâneo CMB (cm)= CB - (0,314 x PCT)9
(dobras cutâneas). São testes válidos para situações de campo A composição corporal foi avaliada pelo aparelho de BIA
ou clínicas, porque são fáceis de administrar em grandes grupos modelo BodyStat 1500 da marca Bodystat Ltda, Douglas, UK.
com o custo relativamente baixo. No entanto, a validade do As variáveis coletas foram: gordura corporal (GC), massa
método de dobras cutâneas depende da habilidade do avaliador6. magra (MM).
Outro método de avaliação da composição corporal é a Todas as avaliações foram realizadas pelo mesmo
análise da bioimpedância elétrica (BIA), a qual estima com observador.
exatidão a massa livre de gordura e a gordura corporal, utili- Os dados foram analisados estatisticamente pelo programa
zando-se equações baseadas em idade, sexo, nível de gordura SPSS, versão 11.01, Inc, Chicago, IL, EUA. Foi utilizado o
corporal e nível de atividade física. É um método rápido e
não-invasivo, porém é mais caro do que os métodos de dobras entre as variáveis. O valor de p<0,05 foi considerado estatisti-
cutâneas e antropométricos7 .
Tendo em vista as considerações acima descritas, torna-se
de interesse avaliar o estado nutricional de pacientes portadores RESULTADOS
de DC em fase inicial de tratamento, com o intuito de otimizar Foram avaliados 15 pacientes (10F/05M) com idade média
a terapia nutricional destes. Portanto, o objetivo do presente de 46,63 anos. Na Tabela 1, observamos que a média de IMC

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 174-7


175
Shiroma GM

A circunferência braquial (CB) é o parâmetro nutricional


.A 8
antropométrico recomendado pela OMS para estimativa da
média de porcentagem de gordura corporal (%GC), segundo proteína muscular esquelética total11.
10
, está acima da média recomendada
para homens e mulheres. de antropometria, também teve ótima correlação com a massa
magra aferida em método de bioimpedância elétrica.
muscular braquial e massa magra corporal (MM), demonstrando Durante a inanição e estresse prolongado, as reservas
protéicas são mobilizadas para atender a demanda da fase aguda
que demonstra correlação da gordura corporal (GC) em kg e a e proteínas secretoras, levando à depleção da massa corpórea
DCT, também apresentou uma boa correlação, com r = 0,795 magra. A circunferência muscular braquial é usada para avaliar
e p < 0,001. este compartimento14.
A análise da bioimpedância elétrica é um método não-inva-
DISCUSSÃO sivo, rápido, sensível, indolor, relativamente preciso, usado para
As estimativas da composição do peso corporal são neces- avaliar a composição corpórea15. Coppini et al.16, ao estudarem a
sárias para determinar e monitorar o estado nutricional. A porcentagem de GC estimada pela antropometria e bioimpedancia
medida da dobra cutânea constitui o meio mais conveniente
para estabelecer indiretamente a massa corpórea de gordura11.
Uma dobra cutânea mede indiretamente a espessura do tecido resultado do método realizado nos pacientes do presente estudo.
adiposo subcutâneo6. Pesquisas demonstraram que a gordura
subcutânea, avaliada pelo método de pregas cutâneas em 12 CONCLUSÃO
locais, é similar ao valor obtido nas imagens de ressonância A DC, por caracterizar-se pela má absorção de nutrientes,
magnética12.
Como se pôde observar, a medida da DCT, feita pelo método do paciente. Não foi observada desnutrição no trabalho reali-
de antropometria, esteve fortemente correlacionada ao IGC, zado, porém, como já visto neste artigo, é uma população de
cujo cálculo tem como base a quantidade de gordura corporal risco nutricional, devendo, assim, direcionar uma maior atenção
em quilos, obtida pelo método de biomimpedância elétrica. na avaliação da composição corporal destes pacientes.
A gordura subcutânea corresponde a 50% da gordura

conteúdo de gordura corporal total, baseado no fato de que a


espessura da gordura é relativamente constante. A DCT é a mais
frequentemente utilizada, pois se considera que seja o local mais
representativo da camada subcutânea de gordura13.

tabela 1 – Características dos pacientes com diagnóstico de doença


celíaca

total (n=15)
Idade (anos) 45,63 ± 16,76
Peso atual (kg) 58,25 ± 12,86
Altura (cm) 1,64 ± 0,10 - Correlação linear ente circunferência muscular do braço e massa
magra corporal (kg)
IMC (kg/m2) 21,76 ± 4,20
CB (cm) 26,25 ± 3,73
PCT (mm) 21,19 ± 9,30
CMB (cm) 19,52 ± 2,50
MM (%) 71,98 ± 8,37
MM (kg) 41,91 ± 10,99
GC (%) 28,03 ± 8,37
GC (kg) 16,34 ± 6,16

CB: circunferência braquial


GC: gordura corporal
PCT: prega cutânea triciptal
CMB: circunferência muscular braquial - Correlação linear ente circunferência muscular do braço e prega
MM: massa magra cutânea tricipital.

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 174-7


176
Antropometria e bioimpedância elétrica na doença celíaca

Ao considerarmos as referências consultadas e os resultados et al. Enfermidad Celíaca del adulto: Experiencia clínica. Rev. Med. Chile.
2005;133(11):1317-21.
deste presente estudo, podemos observar que os métodos de 6 Stolarczyk LM, Heyward VH. Método de dobras cutâneas. In: Avaliação da
antropometria e bioimpedância elétrica estão fortemente corre- Composição Corporal Aplicada. São Paulo:Manole;2000.
7 Stolarczyk LM, Heyward VH. Método de impedância bioelétrica. In: Avaliação
lacionados, podendo se dizer que tanto um método como outro da Composição Corporal Aplicada. São Paulo:Manole; 2000.
8 World Health Organization. Obesity: preventing and managing the total epidemic.
Report of a WHO Consultation Group. Geneva: WHO;1997.
Para tanto, conclui-se que o método de antropometria pode 9 Durnin JV, Womersley S. Body fat assessed from total body density and its estima-
ser uma boa opção de avaliação, em vista da sua fácil aplicabi- tion from skinfold thickness: measurements on 481 men and women age from 16
to 72 years. Br J Nutr. 1974;32(1):77-97.
lidade, precisão de resultados e baixo custo. Esperam-se mais 10 Lohman TG. Advances in body composition assessment. Current issues in exercises
estudos, com um número maior de pacientes, a respeito da science series. Monograph no. 3. Champaign, IL: Human Kinetics. 1992.
11 Waitzberg DL, Ferrini MT. Exame físico e antropometria. In: Nutrição oral, enteral
avaliação corpórea de adultos com DC em atividade. e parenteral na prática clínica. São Paulo: Atheneu. V.1, 3.ed. 2000.
12 Hayes PA, Sowood PJ, Belyavin A, Cohen JB, Smith FW. Subcutaneous fat thick-
ness measured by magnetic resonance imaging, ultrasound, and calipers. Med Sci
REFERÊNCIAS Sports Exerc 1988;20(3):303-9.
1 Melo FM, Cavalcanti MSM, Santos SB, Lopes AKFB, Oliveira FAA. Associação 13 Acuña K, Cruz T. Avaliação do estado nutricional de adultos e idosos e situação nutri-
entre marcadores sorológicos de doença celíaca e das doenças auto-imunes da cional da população brasileira. Arq Bras Endocrinol Metabol. 2004;48(3):345-61.
tireóide. Arq Bras Endocrinol Metab. 2005;49(4):542-7. 14 Vanucchi H, Unamuno MRDL, Marchini JS. Avaliação do estado nutricional.
2 http://www.rgnutri.com.br - capturado em 25 de fevereiro de 2008. Medicina, Ribeirão Preto, 1996;29(1):5-18.
3 Hernández DJG, Argüelles XH. Manejo nutricional de la enfermedad celíaca. Rev 15 Coppini LZ, Waitzberg DL. Impedância bioelétrica. In: Nutrição oral, enteral e
Cubana Pediatr. 2006;78(2). parenteral na prática clínica. São Paulo: Atheneu. V.1, 3.ed. 2000.
16 Coppini LZ. Determinação clínica da gordura corpórea total: comparação da
2002;78(5):357-8. bioimpedância elétrica com antropometria. Rev Bras Nutr Clin. 1997;12(Supl
5 Mancilla C, Madrid AM, Valenzuela J, Morales A, Hurtado C, Smok G, 2):s96–97.

Local de realização do trabalho: ???????????????????????????????????????????

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 174-7


177
A Artigo Original
Silva JT

Marcadores bioquímicos do estado nutricional x incidência de úlcera


de pressão em pacientes assistidos pela Equipe Multidisciplinar de
Terapia Nutricional
Biochemical nutrition status indicators X Pressure incidence in patients assisted by the Multidisciplinar
Nutritional Therapy Group
Marcadores bioquímicos del estado nutricional x incidencia de úlceras de presión en pacientes asistidos
por la Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional

Juliana Teixeira da Silva1


Mychelyne Ferreira de Oliveira2
Michelle Nunes Silveira2

Unitermos REsUmo
Úlcera de pressão. Indicadores bioquímicos. Estado Introdução: A incidência e prevalência de úlceras de pressão (UP) em pacientes hospi-
nutricional.
talizados têm uma grande amplitude de variação, provavelmente como consequência dos
Key words:
Pressure ulcer. Biochemical indicators. Nutritional é reconhecidamente alto para despertar a necessidade de estabelecimento de medidas
status. preventivas. Vários estudos sugerem haver uma forte correlação entre alterações do estado
nutricional e o risco do desenvolvimento de UP. objetivo: Este trabalho teve por objetivo
Unitérminos
Úlcera de presión. indicadores bioquímicos. Estado
nutricional. incidência de úlcera de pressão. métodos: Foram acompanhados 166 pacientes em terapia
nutricional durante 4 meses. Resultados: A incidência de UP nesta população foi de 38%
Endereço para correspondência: (global). Nos indivíduos com idade superior a 60 anos, a ocorrência de UP foi de 43,9%,
Rua Maestro Cardim, 1236. Paraíso – São Paulo – enquanto que 13 pacientes (26%) com idade inferior a 60 anos apresentaram UP. Os indiví-
SP. Fones: 55 11 32846318/55 11 83695169. CEP:
01323-001 duos que apresentaram níveis séricos de albumina menor que 3,5 mg/dl apresentaram mais
E-mail: g.midori@yahoo.com.br, UP (41,8%) do que aqueles com níveis maiores desta proteína (16%). O mesmo aconteceu
pesquisa@ganep.com.br com os indivíduos que apresentaram níveis de hematócrito e hemoglobina abaixo dos
valores normais. Conclusão: Os indicadores bioquímicos do estado nutricional podem ser
Data de submissão: 15/08/2008 importantes fatores de risco na gênese da úlcera de pressão. É importante reforçar que tais
Data de aceite para publicação: 15/04/2009
para o uso destes elementos como único método de avaliação do estado nutricional.

AbstRACt
Introduction: The incidence and prevalence of Pressure Ulcer (PU) in hospitalized patients

and the economical impact of its medical treatment is thankfully high to interest preventive
measures. Many studies sugest that there is a strong correlation between nutritional state
changes and PU development risk. objective: The aim of this study was to verify the corre-
lation between the hematocrit, hemoglobin and albumin seric levels, and PU incidence.
methods: 166 patients in nutritional therapy were observed during 4 months. Results: The
PU incidence in this population was 38% (global). In elderly patients (up to 60 years old) the
1 - Nutricionista do Centro Especializado de Nutrição. PU incidence was 43,9%, while 13 younger patients (26%) developed PU. The patients that
Membro da Equipe Multidisciplinar de Terapia
Nutricional da Clínica e Hospital São Lucas developed minor albumin seric levels (under 3,5 mg/dl) developed higher PU incidence (41,8%)
(Aracaju/SE). Especialista em Nutrição Clínica than those with higher levels of this protein (16%). The same occured with the individuals
pelo GANEP. that developed hematocrit and hemoglobin levels under normal values. Conclusion: The
2 - Nutricionista do Centro Especializado de Nutrição.
Membro da Equipe Multidisciplinar de Terapia
biochemical indicators of the nutritional status may be important risk factors in PU origin. It’s
Nutricional da Clínica e Hospital São Lucas
(Aracaju/SE). this fact restricts the use of these elements as the only nutritional status evaluating method.
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 178-83
178
Marcadores bioquímicos do estado nutricional x incidência de úlcera de pressão

REsUmEn
Introdución: La incidencia y prevalencia de la Úlcera de Presión en pacientes hospitali-
zados tiene una amplitud de variación, probablemente como consecuencia de los métodos

es reconocidamente alto para despertar la necesidad de establecimiento de medidas


preventivas. Varios estudios sugeren haber una fuerte correlación entre alteraciones
del estado nutricional y riesgo del desarollo de la UP. objetivo: Este trabajo tiene como
objetivo averiguar la correlación entre los niveles séricos del hematócrito, hemoglobina
y albumina y la incidéncia de la UP. métodos: Se seguieron 166 pacientes en terapia
nutricional durante 4 meses. La incidéncia de UP en esta población fue de 38% (global).
Resultados: En los individuos con edad superior a 60 años, el surgimiento de UP fue de
43,9%, mientras que 13 pacientes (26,5%) con edad inferior a 60 años presentaron UP. Los
individuos que presentaron niveles de albumina inferiores a 3,5mg/dl presentaron más UP
(41,8%) comparados con los individuos que tenian niveles más elevados de esa proteina
(16%). Lo mismo ocurrió con los individuos que presentaron niveles de hematocrito y
hemoglobina inferiores a los valores considerados normales. Conclusión: Los indicadores
bioquímicos del estado nutricional pueden ser importantes factores de riesgo en la génesis

único método de valoración del estado nutricional.

INTRODUÇÃO -
A incidência e prevalência de úlceras por pressão (UP) rações do estado nutricional e o risco do desenvolvimento de
em pacientes hospitalizados têm uma grande amplitude de
variação, provavelmente como consequência dos métodos de

podem estar associadas à qualidade de assistência preventiva


em todos os aspectos, da detecção inicial do paciente em risco
de risco importantes para o aumento da incidência de lesões
necessários1

mostrou que a incidência de UP em hospitais nos Estados -


mento das Úlceras de Pressão do European Pressure Ulcer
11

1-3

de UP é pouco clara, sem que haja estudos consistentes que


relacionem uma nutrição inadequada com um aumento da

risco para UP durante três meses, mostrou uma incidência Contudo, este mesmo “guidelines” menciona que é

4
, quando uma úlcera se

milhões de a cada ano1 assistem os portadores de UP – sendo a carga tecidular e a


O impacto econômico do tratamento de uma UP é reconhe- 11

de medidas preventivas, visto que são lesões cuja cura é lenta ObjeTIvO
e provocam aumento no período de hospitalização, além da

saúde, às unidades pagadoras (seguradoras, convênios de incidência de úlcera por pressão em pacientes assistidos pela

MÉTODOS
1

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 178-83


179
Silva JT

Variável Categoria n (%)


Gênero Masculino 89 (53,6)
Feminino 77 (46,4)
Idade 60 anos 117 (70)
< 60 anos 49 (30)
tabela 1 - Distribuição dos pacientes em Terapia Nutricional segundo sexo e faixa etária

considerados os pacientes que apresentaram as lesões durante Variável Categoria n (%)


Incidência de UP Pacientes com UP 63 (38)
- Pacientes sem UP 103 (62)
Localização da UP Sacral 59 (93)
Trocantérica 10 (15,8)
Calcâneo 6 (9,5)
utilização dos dados de acompanhamento nutricional e dos Cabeça 1 (1,6)
- Grau da lesão Graus 1 e 2 47 (74,6)
Graus 3 e 4 16 (25)
-
tabela 2 - Distribuição dos pacientes em Terapia Nutricional segundo incidência global, localiza-
ção e grau das úlceras por pressão

Incidência de Úlceras por Pressão


Variáveis n (%) P
Idade
60 anos 51 (43,9) 0,000
< 60 anos 13 (26
Albumina sérica

- 3,5 mg/dl 4 (16) 0,000


< 3,5 mg/dl 59 (41,8)
o número de casos novos de pessoas com UP desenvolvida
Níveis de Hemoglobina
12 mg/dl 10 (20) 0,000
ReSULTADOS
< 12 mg/dl 53 (45,3)
-
Níveis de Hematócrito
38 mg/dl 7 (22,5) 0,014
< 38 mg/dl 56 (41,5)
UP – Ùlcera por Pressão
tabela 3 – Incidência de Úlceras por Pressão nos pacientes em Terapia Nutricional de acordo
com as variáveis, albumina sérica, níveis de hemoglobina e hematócrito e idade

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 178-83


180
Marcadores bioquímicos do estado nutricional x incidência de úlcera de pressão

tabela 4 – Comparativo dos valores médios referentes à idade, indicadores bioquímicos e tempo de internação
GRUPO n Mínimo Máximo Média p*
GRUPO 1
Idade (anos) 27,6 96,0 76,4 0,000
Albumina sérica (mg/dl) 1,3 4,5 2,6 0,709
Níveis de hematócrito (%) 63 17,3 46,4 31,8 0,448
Níveis de hemoglobina (mg/dl) 6,5 15,0 10,6 0,880
Tempo de internação (dias) 27,6 6,0 115,0 35,1 0,000
GRUPO 2
Idade (anos) 12,0 96,0 64,9
Albumina sérica (mg/dl) 1,7 4,5 2,9
Níveis de hematócrito (%) 103 18,8 50,0 33,9
Níveis de hemoglobina (mg/dl) 6,4 15,4 10,8
Tempo de internação (dias) 3,0 140,0 20,4
* < 5% (p<0,05).
Grupo 1 – Indivíduos que desenvolveram úlcera por pressão
Grupo 2 – indivíduos que não desenvolveram úlcera por pressão

tabela 5 - Distribuição dos pacientes em Terapia Nutricional segundo


diagnóstico clínico dos doentes que não desenvolveram UP ligeiramente maior
GRUPo 1 GRUPo 2 totAL
Para os indivíduos que tiveram níveis de hematócrito e
Diagnóstico Clínico n (%) N (%) N (%)
-
Doenças Neurológi- 26 (41,3) 26 (21,3) 52 (31,3) -
cas

Complicações infec- 21 (33,3) 23 (22,3) 44 (26,5)


ciosas

Diabetes Mellitus 12 (19,0) 22 (21,3) 34 (20,4)

Neoplasias 14 (22,0) 19 (18,4) 33 (19,8)


DISCUSSÃO
Cardiopatias 10 (15,8) 15 (14,6) 25 (15,0)
-
Hipertensão arterial 8 (12,7) 14 (13,6) 22 (13,2)

11 (17,5) 11 (10,7) 22 (13,2)

Doenças pulmonares 14 (30) 8 (7,8) 22 (13,2)


incidência de úlceras de pressão (UP) e os níveis séricos de
Cirúrgicos 3 (4,7) 12 (11,6) 15 (9,0)

Politrauma 1 (1,0) 5 (4,8) 6 (3,6) , que


Outros 0 (0,00) 10 (9,7) 10 (6,0)
3
, que
GRUPo 1 – Indivíduos que desenvolveram úlcera por pressão
GRUPo 2 – indivíduos que não desenvolveram úlcera por pressão
13

O grupo que apresentou UP teve maior incidência de -

National Pressure
Ulcer Advisory Panel

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 178-83


181
Silva JT

As diversas alterações que ocorrem na pele dos indivíduos


Fernandes1, em sua tese de mestrado (revisão), cita que
dois terços das UP ocorrem na cintura pélvica e um terço nos -

como a diminuição da camada dérmica e sua vascularização em

-
14

mais encontradas na população estudada, seguidas das


encontraram valores semelhantes na sua

correlacionou-se com a melhora no tempo de cicatrização da

apresentavam como causa da hospitalização uma doença

, os

mostraram uma prevalência ainda maior de


-
-
os autores relatam que os níveis séricos de hematócrito e

necessidade especial de cuidados para estes pacientes que


-
-

pacientes que não apresentaram úlcera tiveram uma média

-
em um hospital universitário, onde havia
predomínio de idosos em uma população com UP de cerca de -
dência de UP relacionada a estes marcadores do estado nutri-
cional, apenas pontuaram seus níveis séricos nos pacientes que

A correlação encontrada entre as alterações nos parâmetros


mostram a predominância de indivíduos com -

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 178-83


182
Marcadores bioquímicos do estado nutricional x incidência de úlcera de pressão

estarão mais susceptíveis a lesões de pele e músculos, além


de terem a reparação dos tecidos lesados comprometidos por

CONCLUSÕeS

-
tório, sendo esta uma limitação para o uso destes elementos

-
-
mento das úlceras de pressão, sendo estas mais incidentes na

tomar como rotina a prática da vigilância nutricional dentro da


unidade hospitalar, para que seja possível atuar precocemente
-

ReFeRÊNCIAS

Local de realização do trabalho:

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 178-83


183
A Artigo Original
Albuquerque MFB

Estado nutricional de idosos hospitalizados por meio da Mini


Avaliação Nutricional
Nutritional status of hospitalized elderly through the Mini Nutritional Evaluation
Estado nutricional de mayores hospitalizados a través de la Mini Evaluación Nutricional

Marinez Ferreira Barbosa Albuquerque1


Veruska Prado Alexandre2
3

Lílian Fioravanso Apolinário4


5

Liana Lima Vieira6


Iara Kallyanna Cavalcante Ferreira7 (in memorian)

Unitermos: RESUmo
Estado Nutricional. Idoso. Mini Avaliação Nutricional. objetivo: Avaliar o estado nutricional de idosos hospitalizados e sua relação com sexo, faixa
Key words:
etária e principal diagnóstico de admissão. métodos: Foram avaliados 98 pacientes com
Nutritional status. Elderly. Mini Nutritional Evaluation.

Unitérminos: Estado nutricional. Mayor. Mini Evalua-


ción Nutricional. era do sexo masculino (68,4%) e a média de idade foi de 71,6 (± 8,5) anos. Resultados: As
Endereço para correspondência: principais causas de internação foram as doenças cardiorespiratórias (25,51%), doenças do
Marinez Ferreira Barbosa Albuquerque.
Endereço: Rua T28, número 400, apartamento 1104, nutricional, 2/3 (dois terços) da população apresentou risco de desnutrição ou desnutrição,
Edifício Vitória Régia 2, Setor Bueno. CEP: 74.210-040.
Goiânia/Goiás.
Telefone: (62) 3201-4372, (62) 3201-4385 (fax).
E-mail: marinez.f.b@bol.com.br A principal causa de internação entre os nutridos foram as lesões e causas externas (30%)
e entre os pacientes em risco de desnutrição e desnutridos foram as doenças do aparelho
Submissão circulatório (35,29% e 20,59%, respectivamente). Conclusão: Houve predomínio de idosos
6 de agosto de 2008 desnutridos ou em risco de desnutrição, independente do sexo; relação direta entre risco de
Aceito para publicação desnutrição e faixa etária mais avançada para as mulheres; e predominância de comprome-
25 de maio de 2009 timento nutricional em doenças caracteristicamente de curso crônico.

AbStRACt
1. Nutricionista – Especialista em Terapia Nutricional
pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral
objective: To evaluate the nutritional state of hospitalized elderly and its relation with sex,
e Enteral, Chefe da Seção de Nutrição e Dietética age and main diagnosis of admission. methods:
years in hospital of urgency through the Mini Nutritional Evaluation. The data were express in
Nutricional do Hospital de Urgências de Goiânia/
SES.
2. Nutricionista do Hospital de Urgências de Goiânia/
SES – Mestre em Nutrição Humana pela Universi- was men (68.4%) and the mean age was of 71.6 (± 8.5) years. Results: The main causes
dade de Brasília.
3. Nutricionista do Hospital de Urgências de Goiânia/ of internment had been the cardiorespiratory illnesses (25.51%), illnesses of the digestive
SES – Especialista em Nutrição Clínica pelo
Grupo de Apoio em Nutrição Enteral e Parenteral state, 2/3 (two third) of the population presented risk of malnutrition or malnutrition, without
de Terapia Nutricional do Hospital de Urgências
de Goiânia/SES.
4. Nutricionista do Hospital de Urgências de Goiânia/
SES – Especialista em Nutrição Clínica pelo
Grupo de Apoio em Nutrição Enteral e Parenteral causes (30%) and enters the patients at risk of malnutrition and malnutrition they had been
(GANEP). the illnesses of the circulatory system (35.29% and 20.59%, respectively). Conclusion:
5. Nutricionista do Hospital de Urgências de Goiânia/
SES – Especialista em Nutrição Humana e Saúde
It had predominance of elderly with risk of malnutrition or of malnutrition, independent of
pela Universidade Federal de Lavras. the sex; direct relation between malnutrition risk and more advanced age for the women;
6. Nutricionista do Hospital de Urgências de Goiânia/ and predominance of nutritional damage in illnesses characteristically of chronic course.
SES – Especialista em Nutrição Clínica e Terapêu-
tica Nutricional pela Faculdade de Ciências Bioló- Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 184-8
gicas e da Saúde de União da Vitória (Uniguaçu)/
Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos/Instituto 184
Estado nutricional de idosos hospitalizados por meio da Mini Avaliação Nutricional

RESUmEn
objetivos: Evaluar el estado nutricional de los mayores hospitalizados y su relación con
el sexo, la edad y el principal diagnóstico de la admisión. métodos: Fueron evaluados 98

Nutricional. Los datos fueron expresos en las frecuencias medias y (con el desvío medio).

Resultados: Las causas principales de la internación


fueron las enfermedades cardiorespiratorias (25,51%), enfermedades del dispositivo

nutricional, un 2/3 (dos tercios) de la población presento riesgo de la desnutrición y de la

lesiones y causa externas (30%) y entre los pacientes con el riesgo de desnutrición y los
desnutridos había sido las enfermedades del dispositivo circulatorio (35,29% y 20,59%,
respectivamente). Conclusión: Hubo predominio de mayores desnutridos o con el riesgo
de desnutrición, independiente del sexo; relación directa entre el riesgo de desnutrición y

nutricional en enfermedades características del curso crónico.

INTRODUÇÃO desnutrição e o risco de desenvolver desnutrição entre pacientes


Os idosos fazem parte da população vulnerável e o processo idosos, mesmo antes que as alterações clínicas se manifestem10.
natural de envelhecimento repercute sobre as suas condições de Este trabalho teve como objetivo avaliar o estado nutricional
saúde e nutrição1 - de pacientes idosos hospitalizados e sua relação com sexo, faixa
micas, funcionais, bioquímicas e psicossociais que, associadas

medicações, estão relacionadas à anorexia e perda de peso2, com MÉTODOS


acentuação nas idades mais avançadas3. -
Essas alterações aumentam o risco de infecções e hospitali- cias da cidade de Goiânia, Goiás, em que foram avaliados 98

anos. A coleta de dados foi realizada entre os meses de fevereiro


desnutrição, aumento do tempo de hospitalização e morbimortali- a abril de 2007, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
dade4. Assim, torna-se fundamental a avaliação nutricional destes da Instituição.
indivíduos, possibilitando que adequadas condutas terapêuticas Foram excluídos do estudo pacientes com incapacidade de
sejam operacionalizadas1. responder as questões da MAN e sem acompanhantes ou que
Muitos métodos de avaliação nutricional têm sido propostos
internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Para a coleta de dados foi utilizada a MAN10, sendo os dados
pois todos apresentam limitações5. coletados em até 72 horas após a internação. O questionário da
- -
nóstico nutricional6 rias: antropometria (peso, altura, circunferências do braço e da
cutâneas, área muscular do braço, circunferências corporais e
índice de massa corporal (IMC)7 - medicação e mobilidade); dieta (relativas ao número de refeições,
ções que ocorrem com o envelhecimento podem comprometer
auto-avaliação (da saúde e nutrição). Cada resposta recebe um
preciso8; além disso, para pacientes hospitalizados, a antropo-

desnutrição e, abaixo de 17, desnutrição10.


renal, câncer e tratamento dialítico . Adicionalmente, o método
7

antropométrico per se (distribuídos nas faixas etárias de 60 a 69 anos; 70 a 79 anos e


para a determinação do real estado nutricional9.
Dessa forma, foi desenvolvida a Mini Avaliação Nutricional
(MAN), uma escala simples e de fácil uso para avaliação da popu- Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à
Saúde (CID 10)11
antropométrica. Sua aplicação pode detectar a presença de frequentemente relatados. Em decorrência do número reduzido de

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 184-8


185
Albuquerque MFB

RESULTADOS
-
-
tornos mentais e comportamentais; doenças dos olhos e anexos; Tabela 1.
do sistema osteoarticular e tecido conjuntivo foram apresentadas A amostra estudada foi composta por 98 idosos, com média
de idade de 71,6 (± 8,5) anos, sendo 67 (68,4%) homens e 31
Os dados antropométricos coletados foram o peso, o compri- (31,6%) mulheres. A maior parte dos idosos (52,2%) apresen-
mento do joelho e as circunferências do braço e da panturrilha. O
maior frequência (48,4%) na faixa etária entre 70 aos 79 anos,
sem diferenças entre os sexos (Tabela 1). Dentre as principais
. Para os pacientes imobilizados,
12 causas de internação destacam-se as doenças cardiorespiratórias
o peso foi estimado a partir de fórmula proposta por Chumlea et al.13.
Para a avaliação da intensidade de edema, foi utilizada a técnica causas externas (17,3%), para homens e mulheres, sem diferença
14

2/3 (dois terços) da população estudada apresentou risco de


Gibson15. Para a aferição da circunferência braquial e circunferência desnutrição e desnutrição. Observou-se para os homens a mesma
12 frequência de pacientes nutridos e desnutridos (34,3% cada) e
, respectivamente.
16

A estatura foi obtida com auxílio da fórmula de Chumlea et foi a mais frequente. Na análise estatística, não foi observada
al.17. Para a determinação do IMC, calculou-se a razão entre o
- Nas Tabelas 2 e 3, são apresentados os resultados da avaliação
sentado por Lipschitz18.
O processamento de dados e as análises foram realizados maior percentual de desnutridos nos indivíduos com idade
com auxílio do aplicativo Statistical Software for Professional
(STATA), versão 7.0. As análises estatísticas foram realizadas por
sexo, sendo os resultados expressos em frequências e médias com de acordo com a faixa etária apresentou diferença estatisticamente

o teste do qui-quadrado e teste exato de Fischer, considerando

tabela 1.
Variáveis Sexo
Homens mulheres total
(n=67) (n=31) P (n=98
n % n % n %
Idade
35 52,2 12 38,7 0,14 47 48
70 a 79 anos 18 26,9 15 48,4 33 33,7
14 20,9 4 12,9 18 18,3
Diagnósticos1
Doenças do aparelho circulatório 18 26,9 7 22,6 0,96 25 25,5
Doenças do aparelho digestivo 12 17,9 7 22,6 19 19,4
Causas externas2 12 17,9 5 16,1 17 17,3
Transtornos endócrinos, nutricionais e metabólicos 5 7,4 3 9,7 8 8,2
20 29,9 9 29,0 29 29,6
Estado nutricional *
Nutrido 23 34,3 7 22,6 0,44* 30 30,6
Risco de Desnutrição 21 31,4 13 41,9 34 34,7
Desnutrido 23 3,4,3 11 35,5 34 34,7

* Valor p do teste exato de Fisher ** Valor p do qui quadrado.

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 184-8


186
Estado nutricional de idosos hospitalizados por meio da Mini Avaliação Nutricional

tabela 2. Distribuição do estado nutricional por faixa etária, homens, Goiânia, 2007.
Estado nutricional
Faixa etária nutrido Risco de desnutrição Desnutrição Valor p*
n % n % n %

70 – 79 anos 5 27,8 9 50 4 22,2 0,07

* p teste exato de Fisher

tabela 3. Distribuição do estado nutricional por faixa etária, mulheres, Goiânia, 2007
Estado nutricional
Faixa etária nutrido Risco de desnutrição Desnutrição Valor p*

n % n % n %
1 8,3 8 66,7 3 25,0
70 – 79 anos 6 40,0 5 33,3 4 26,7 0,02
0 00,0 0 00,0 4 100

tabela 4. Distribuição do estado nutricional de acordo diagnóstico principal.


Risco de
Diagnóstico de internação1 nutridos Desnutrição Desnutridos
n % n % n %

Doenças do aparelho circulatório 6 20,0 12 35,3 7 20,6

Doenças do aparelho digestivo 8 26,7 7 20,6 4 11,8

Causas externas2 9 30,0 6 17,6 2 6,0

Transtornos endócrinos, nutricionais e metabólicos 0 0,0 4 11,8 4 11,8

7 23,3 5 14,7 17 50,0


Total 30 100,0 34 100,0 34 100,0
1
Diagnóstico segundo CID 1011. 2

DISCUSSÃO
Neste estudo, observou-se uma alta frequência de homens e frequente em mulheres. De forma semelhante, este estudo
observou um maior comprometimento do estado nutricional com
desnutrição foi maior para as mulheres. Assim como em outros
estudos, a relação entre estado nutricional e sexo não apresentou Otero et al.27
19-23
. Diversos estudos têm encontrado altas mais relacionado à mortalidade do que o excesso de peso.
frequências de risco de desnutrição ou desnutrição em idosos O aumento da desnutrição com o avanço da idade se relaciona

50%20,21,24,25
estado nutricional não são padronizados, podendo levar à inter- uso de sonda alimentar; assim como em decorrência da situação
ferência na comparação entre os resultados. 28
. Estes
Em referência à relação entre idade e estado nutricional,
19
, Azevedo et al.22 e Paula et al.23 observaram nas situações nas quais ocorre o aumento das necessidades nutri-
maiores frequências de desnutridos ou risco de desnutrição em 29
.
idosos com idade mais avançada. Dados da Pesquisa Nacional
sobre Saúde e Nutrição (PNSN)26, apontam para um aumento

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 184-8


187
Albuquerque MFB

as principais causas de internação observadas para a população


4(1):1-4.
idosa estudada, sendo este achado corroborado por diversos 3. Ortiz SPJ, Mendez SFJ, Varela PL, Pamo RO. Variación del estado nutricional del
estudos e pelo Sistema de Informações Hospitalares (SIH-SUS).
30
, em análise dos dados do SIH-SUS,
tendo como referência o ano de 2001, as doenças dos aparelhos Opin Clin Nutr Metab Care. 2005;8(4):397-402.
- Brasil Editora;2002.
damente 60% das causas de internação. Resultados semelhantes -
lizado. Rev Bras Nutr Clin. 2003;18(3):106-12.
foram encontrados por Siqueira et al.31, no qual as doenças do
aparelho circulatório (60,6%) foram as mais frequentes causas
8. Sampaio LR. Avaliação nutricional e envelhecimento. Rev Nutr. 2004;17(4):507-14.

doenças do aparelho respiratório (33,0%). Amaral et al. , em 32

estudo com idosos hospitalizados no Rio de Janeiro, observaram


como principal causa de internação as doenças do aparelho circu- 2):15-59.

estado nutricional, observou-se que os pacientes com desnutrição e


risco de desnutrição tiveram como principal causa de internação as
doenças do aparelho circulatório. Já os pacientes nutridos, em sua
-
Press;1993.
tico. Este resultado pode estar relacionado ao fato de que os idosos -

33
, ao passo que lesões
21(1):55-67.
diretamente a comprometimento do estado nutricional prévio.
Okoshi et al.34 e Dourado et al.35
J Clin Nutr. 2005; 82(4):784-91.
- 20. Van Nes MC, Herrmann FR, Gold G, Michel JP, Rizzoli R. Does the Mini Nutri-
ratória, uma menor assimilação de nutrientes; um aumento das
2001;30(3):221-26.
necessidades nutricionais e da produção de citocinas (levando 21. Ramos MJG, Valverde FMG, Álvarez S. Estúdio del estado nutricional em la población
anciana hospitalizada. Nutr Hosp. 2005; 20(4):286-92.
22. Azevedo LC, Fenilli M, Neves L, Almeida CB, Farias MB, Breitkopf T, Silva AA,
Esmeraldino R. Principais fatores da mini-avaliação nutricional associada a alterações
nutricionais de idosos hospitalizados. ACM: arquivos catarinenses de medicina. 2007;
36(3):7-14.
CONCLUSÃO 23. Paula HAA, Oliveira FCE, José JFBS, Gomide CI, Alfenas RCG. Avaliação do estado
Diante do exposto, conclui-se que na população estudada houve
um predomínio de idosos desnutridos ou em risco de desnutrição,
independente do sexo. Em relação à idade, observa-se relação direta 25. Person MD, Brismar KE, Katzarski KS, Nordenström J, Caderholm TC. Nutricional
entre risco de desnutrição e faixa etária mais avançada, entretanto

da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição. Cad Saúde Pública. 1999;15(5):759-68.


27. Otero VB, Rozenfeld S, Gadelha AJ. Óbitos por desnutrição em idosos, São Paulo
e Rio de Janeiro. Análise de séries temporais. 1980-1996. Rev Bras Epidemiol.
2001;4(3):191-205.

fatores causais e estado nutricional atual.


17(6):496-98.

AgRADECIMENTO Causas de internações hospitalares entre idosos brasileiros no âmbito do Sistema Único
de Saúde. Epidemiol Serv Saúde. 2004;13(4):229-38.
in memorian), nutricio- 31. Siqueira AB, Cordeiro RC, Perracini MR, Ramos LR. Impacto funcional da internação
hospitalar de pacientes idosos. Rev Saúde Pública. 2004;38(5):687-94.
o reconhecimento pela atuação e contribuição na pesquisa em de morbidade e de mortalidade de pacientes idosos hospitalizados. Cad Saúde Pública.
Nutrição Clínica. 2004;20(6):1617-26.
33. Campos MAG, Pedroso ERP, Lamounier JA, Colosimo EA, Abrante MM. Estado
nutricional e fatores associados em idosos. Rev Assoc Med Bras. 2006;52(4):214-21.
REFERÊNCIAS -
1. Sampaio HAC, Melo MLP, Almeida P.C, Benevides ABP. Aplicabilidade das ência cardíaca. Rev Bras Med. 2001;58(10):742-49.
fórmulas de estimativa de peso e altura para idosos e adultos. Rev Bras Nutr Clin.
2002;17(4):117-21.

Local de realização do Trabalho:

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 184-8


188
A Artigo Original
Compulsão alimentar periódica e distorção da imagem corporal em adolescentes

Compulsão alimentar periódica e distorção da imagem corporal em


adolescentes
Alimentary periodic compulsion and alteration of the corporal image in adolescents
Compulsão regular de la alimentación y la distorsión de la imagen corporal en adolescentes

Nayara Mocci Ciorlin1


Vanessa Taís Nozaki2

Unitermos RESUMO
Obesidade. Distúrbio alimentar. Disfunção alimentar. Introdução: Atualmente, é nítido o aumento da prevalência de obesidade e de transtornos
Imagem corporal
alimentares em adolescentes. A obesidade ou excesso de gordura corporal é comprovada-
mente fator de risco para saúde humana. Objetivo:
Key words:
alimentar periódica e alteração da imagem corporal em adolescentes de uma escola particular
Obesity. Upheaval alimentay. Riot alimentay. Image
body. de um município do Norte do Paraná. Método: Os adolescentes foram divididos em dois
-
Unitérminos tionários constituídos por informações sobre: hábitos alimentares e auto-relato relacionado à
Obesidad. Disturbio alimentar. Disfunción alimentar. imagem corporal. Além disso, os adolescentes foram submetidos à aferição do peso, com o
Imagen corporal.
Resultados:
Endereço para correspondência: uma maior tendência a desenvolver compulsão alimentar (30,77%) e distorção da imagem
Av. Caçapava 136 Apt. 16, Bairro Petrópolis, Porto
Alegre – RS, CEP: 90460130
(20% para compulsão alimentar e 20% para distorção da imagem corporal). Conclusão: A
Telefone: (51) 33326360
E-mail: marizinhamota@hotmail.com análise percentual indicou a existência de diferenças em relação à insatisfação corporal entre

Data de submissão: 14/05/2008


Aceito para publicação: 05/03/2009 ABSTRACT
Background: Currently the increase of the prevalence of obesity is clear and of alimentary
upheavals in adolescents, the obesity or excess of corporal fat is proven factor of risk for health
human being. Objective: To identify to the prevalence of alimentary periodic compulsion and
alteration of the corporal image in adolescents of a public school of a City of the North of the
Paraná. Method:

on: alimentary habits and auto-story related to the corporal image. Moreover, the adolescents
had been submitted to the gauging of the weight, with the aid of the scale and stature with
metric ribbon, for determination of its nutritional state. Results: Female adolescents who have
overweight and obesity have a greater tendency to develop compulsion food (30.77%) and

to compulsion food and 20% for distortion of body image). Conclusion: Percentile analysis

being that in the feminine sex it has a bigger concern with the beauty standards.

RESUMEN
Introdución: Actualmente el aumento de la presencia constante de la obesidad y de los
trastornos alimentares en adolescentes es concretamente notable. La obesidad, o el exceso
de gordura en el cuerpo, es comprobadamente factor de riesgo para la salud humana.
Objetivo:
1 - Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário de de la imagen corporal en adolescentes de una escuela privada de un distrito del norte
Maringá – CESUMAR
2 - Mestre em Ciências da saúde pela Universidade de Paraná. Métodos:
Estadual de Maringá – UEM 2 - sobrepesos y obesos. Los datos fueron obtenidos por intermedio de cuestionarios
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 189-95
189
Nayara Mocci Ciorlin1

con informaciones acerca de sus hábitos alimentares y un auto-informe sobre la imagen


corporal. Además, los adolescentes fueron sometidos a la evaluación de peso, con la
ayuda de una báscula y de la estatura, con una cinta métrica, para la determinación de
sus estados de nutrición. Resultados:
la obesidad tienen una mayor tendencia a desarrollar la obligación de alimentos (30,77%)

imagen corporal). Conclusión: El análisis del porcentaje indicó la existencia de diferencias

una mayor preocupación con los padrones de belleza.

INTRODUÇÃO
Dados recentes comprovam o aumento da prevalência geral pode variar de 1,5% a 5%, em amostras clínicas de pacientes
de obesidade e de transtornos alimentares em adolescentes.
Wang et al., citados por Conti et al.1, estudaram a tendência de com compulsão alimentar usualmente evidenciam uma elevação
obesidade e baixo peso em crianças e adolescentes, constatando maior do que a esperada em relação às taxas de psicopatologia
alimentar, ou seja, perturbação da imagem corporal9.
a prevalência de obesidade entre jovens aumentou em 8,9% no Cash (1993), citado por Almeida et al.2, diz que a imagem
período de 1974 a 1997.
Independentemente do gênero, os adolescentes se preocupam aparência e o funcionamento do seu corpo. Segundo o autor, o
com o peso corporal e aparência. Almeida et al.2 apontam que essa descontentamento relacionado ao peso, que muitas vezes leva
preocupação pode estar relacionada aos transtornos alimentares a uma imagem corporal negativa, vem de uma ênfase cultural
e à obesidade. Hábitos alimentares inadequados, associados a na magreza e estigma social da obesidade.
doenças, constituem potenciais problemas de saúde pública. 2
, desta-
Com o aumento da prevalência de obesidade e transtornos caram dois aspectos relativos à imagem corporal: insatisfação e
alimentares em adolescentes, estudos sobre este assunto poderão distorção da imagem corporal. Quanto à insatisfação, os autores
ajudar na conscientização e no aprendizado da importância de
se ter uma alimentação adequada. que em relação à distorção, embora associada à obesidade, os
Os transtornos alimentares são doenças psiquiátricas que dados não têm se mostrado consistentes.
atingem na maioria das vezes adolescentes e adultos jovens do
sexo feminino, podem causar prejuízos biológicos e psicológicos em adolescentes, caracterizados tanto pelo excesso, quanto
e aumentar o índice de morbidade e mortalidade3. Apesar dos
transtornos alimentares serem doenças psiquiátricas, eles estão dia cresce o número de adolescentes com hábitos alimentares
inadequados, com obesidade e transtornos alimentares.
taxas de mortalidade entre 5 a 15%4. A distorção da imagem corporal, ou seja, superestimar
Os transtornos alimentares são constituídos por um conjunto ou subestimar o tamanho e/ou forma do corpo, não constitui
de fatores em interação, que envolvem componentes biológicos, característica particular de adolescentes que desenvolvem
psicológicos, familiar e sócio-culturais5. Sobreira6 destaca que algum tipo de transtorno alimentar, uma vez que se torna mais
os transtornos alimentares podem ocorrer em associação com presente na dinâmica vivencial dos indivíduos dessa faixa etária.
vários transtornos psiquiátricos e clínicos: anorexia nervosa,
bulimia nervosa, transtornos depressivos, obesidade, diabetes etc.
Os principais fatores que acentuam os transtornos do e felicidade, estão entre as causas da alteração da percepção
comportamento alimentar são os fatores culturais, que desen- da imagem corporal, gerando insatisfação, em especial para
indivíduos do sexo feminino1.
A relação entre a imagem corporal e o Índice de Massa
transtornos apresentam em comum a característica relacionada
à preocupação excessiva com o peso e a forma corporal, que algum tipo de distúrbio alimentar. Considerando as consequên-
exacerba medo mórbido de engordar7. cias adversas decorrentes dos transtornos alimentares, bem como
-
meter com os aspectos curativos voltados ao tratamento, mas
pela ingestão de uma grande quantidade de comida em um
pequeno intervalo de tempo com sensação de perda de controle outros adolescentes possam desenvolver quadros semelhantes1.
sobre o que ou quanto se come8. Diante do exposto, acredita-se que identificar fatores

um diagnóstico encontrado frequentemente neste grupo, principal-


mente naqueles indivíduos que realizam tratamento para a perda de adequadas a evitar ou diminuir a transtornos alimentares. Dessa

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 189-95


190
Compulsão alimentar periódica e distorção da imagem corporal em adolescentes

compulsão periódica alimentar e alteração da imagem corporal

do Paraná.
o grau de obesidade dos indivíduos, sendo calculado dividindo
MÉTODOS o peso pela altura ao quadrado. A amostra analisada foi avaliada
A casuística da investigação foi composta de 168 adoles- quanto ao IMC, como apresentado na Figura 1.

Paraná. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a FIgURA 1


adolescência corresponde faixa etária de 11 a 19 anos. A análise da Figura 1 possibilita observar que, em relação
Os sujeitos da pesquisa foram divididos em dois grupos,
aproximadamente 72%, quando comparados ao valor de apro-
ximadamente 71% dos meninos. Outro dado importante foi o do
sobre: hábitos alimentares e auto-relato relacionado à imagem risco para o baixo peso. As meninas apresentaram em torno de
15%, enquanto que os meninos apresentaram aproximadamente
9% de risco de baixo peso. Outro parâmetro analisado foi o da
obesidade, que apresentou um predomínio no sexo masculino
15%, quando comparada ao sexo feminino, que apresentou
aproximadamente 7%.
Outro parâmetro analisado foi à compulsão alimentar,
IMC, segundo os parâmetros de Must (1991), e os pontos de que representa um transtorno alimentar, caracterizado pelo
corte adotados foram: excesso alimentar acompanhado de perda de controle. A Figura
< P5 baixo peso, P³ 5 I P15 risco para baixo peso, P³15 I P85 2 compara os valores referentes à compulsão alimentar em

A avaliação dos hábitos alimentares foi realizada por meio


FIgURA 2

compulsão grave. É possível observar que as meninas, tanto


abaixo:
- Menor ou igual 17 = normal tendência a apresentarem compulsão alimentar periódica do que

(de nada a muito)


- 30 ou mais = Compulsão Alimentar Periódica têm maiores possibilidades de não apresentarem compulsão
A distorção da imagem corporal foi avaliada segundo o Teste
A Tabela 1 sintetiza a análise descritiva da compulsão
sobre auto-relato relacionado à imagem corporal12. alimentar nos adolescentes avaliados, apresentando o número,

RESULTADOS
A amostra apresentava 104 meninas e 64 meninos, nos quais Tabela 1

Figura 1 – Distribuição da amostra segundo o índice de massa corpórea e Figura 2 – Distribuição da amostra segundo a compulsão alimentar e sexo
gênero.

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 189-95


191
Nayara Mocci Ciorlin1

Tabela 1 - Análise Descritiva dos adolescentes segundo os resultados de Compulsão Alimentar Periódica

COMPULSÃO N Média Mínimo Máximo Desv.Padrão

75 11,50667 0,000000 27,00000 6,350938

Fem_Obesas 13 15,30769 0,000000 25,00000 5,691875

45 5,57778 0,000000 24,00000 5,096741

Masc_Obesos 13 8,30769 0,000000 21,00000 5,633007

Fem = Feminino
Masc = Masculino

meninos obesos, como visualizados na Tabela 2.

Tabela 2

valor mínimo, máximo e desvio padrão dos dados referentes à

los segundo os parâmetros descritos.

Tabela 3
A Tabela 3 mostra um número de 75 adolescentes do sexo

Figura 3 – Distribuição da amostra segundo a distorção da imagem corporal característica a ser abordada refere-se à igualdade do número
e sexo.
de adolescentes de ambos os gêneros obesos, contudo esses
apresentam valor mínimo com diferença expressiva para o teste
de imagem corporal, de 42 para as meninas obesas e de 34 para
meninas obesas 15,30 (± 5,69).
A imagem corporal de uma maneira geral está relacionada à valores, como observado na Tabela 3.
forma com que o indivíduo se percebe e se sente em relação ao
Tabela 4
grau de distorção da imagem corporal dos adolescentes, como A Tabela 4 apresenta os valores apresentados a partir da
demonstrado na Figura 3. aplicação do teste T Student, dessa forma observa-se que apenas
a relação entre a distorção da imagem em meninos obesos
Figura 3
A análise percentual indicou a existência de diferenças em
relação à Insatisfação Corporal entre gêneros, sendo que os Student, como observado na Tabela 4.
meninos obesos apresentam 15,38% de distorção da imagem A Tabela 5 sintetiza os dados referentes ao Teste T Student para
a compulsão correlacionada aos gêneros. A análise da Tabela 5
em contrapartida, as meninas obesas apresentam 38,46% demonstra que somente quando comparada a relação entre meninos
de distorção da imagem corporal, enquanto as meninas -

observa-se que os meninos apresentam pouquíssima chance Tabela 5

DISCUSSÃO
23% obesas) de manifestar distorção leve, como apresentado Com base na análise dos dados obtidos neste estudo, foi
na Figura 3. possível perceber que adolescentes do sexo feminino apresentam
A Tabela 2 sintetiza a relação entre os parâmetros analisados, de uma maneira geral maior tendência a desenvolver compulsão
que caracterizaram a análise estatística do teste T Student para alimentar e distorção da imagem corporal, quando comparadas
os gêneros estudados. Observa-se que o peso de ambos os aos adolescentes do sexo masculino, que apresentam alta proba-
bilidade de não apresentar compulsão alimentar e distorção de
Student, como imagem corporal.
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 189-95
192
Compulsão alimentar periódica e distorção da imagem corporal em adolescentes

Tabela 2 – Análise estatística do teste T Student para a caracterização dos gêneros

Relação P

0,011204

0,837927

0,063737

0,000093

0,058996

0,000004

Tabela 3 - Análise descritiva dos adolescentes segundo os resultados de imagem corporal

IMAGEM N Média Mínimo Máximo Desv.Padrão

75 85,53333 39,00000 173,0000 28,56445

Fem_Obesas 13 90,92308 42,00000 151,0000 34,37407

45 43,80000 34,00000 125,0000 14,43575

Masc_Obesos 13 66,23077 34,00000 150,0000 35,39104


Fem = Feminino
Masc = Masculino

Tabela 4 - Análise estatística do teste T Student para a Imagem

Relação da distorção de imagem P

0,000000

0,543931

0,083713

0,001151

da aplicação de questionários coletivos. As análises se voltaram


para os questionamentos a respeito da preocupação com corpo
alimentares utilizando testes com indivíduos de várias idades, dos estudantes pesquisados. Os resultados indicaram existência
inclusive em adolescentes13, objetivando avaliar suas condutas de diferenças em relação à insatisfação corporal entre gêneros,
14
.
Russo 15
- formas como: medo de ganhar peso, sensibilidade expressa por
pensamentos aliados a um desejo de emagrecer.

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 189-95


193
Nayara Mocci Ciorlin1

Tabela 5 – Análise descritiva do Teste T Student para a compulsão

Relação entre os gêneros P

0,000001

0,046487

0,004316

0,102086
.

Vários estudos demonstram essa preocupação acentuada musculosos, passando horas na academia se exercitando, e
pela busca do corpo perfeito16, 17, que na maioria das vezes -
se acentua no sexo feminino, como comprovado no presente ticos25-27. O transtorno da compulsão alimentar periódica e o
estudo, de acordo com os dados descritos nos resultados. Dessa transtorno obsessivo-compulsivo foi relatado por Papelbaum
forma, Andrade et al.18 destacam que o processo de globalização, e Appolinário26, que abordam a relação desse distúrbio em
homens, demonstrando o descontrole compulsivo pela ingestão
homem do seu centro de referência cultural. A insatisfação com de alimentos, em decorrência de problemas psicológicos seme-
a imagem corporal, entre outros fenômenos, explica o processo lhantes aos mesmos efeitos apresentados em mulheres.
que coloca a mulher em uma busca incessante pela beleza19. A evolução do diagnóstico e tratamento para transtornos

maioria das pessoas, que avaliam seus corpos pela interação com funcionamento mental dos pacientes e das descobertas
terapêuticas que derivam dessa compreensão. Gorati et al.28
continuamente durante a vida inteira, mas as necessidades de sugerem que a psicoterapia representa uma proposta de
ordem social ofuscam as necessidades individuais. Cultural- tratamento para pacientes com transtorno alimentar, que tem
como objetivo recuperar e fortalecer a auto-estima e auxiliar
se fazem dele. Se a imagem dominante, valorizada socialmente,
for de uma pessoa magra, emagrecer será o ideal de todos. da consciência.
Aqueles que não conseguem chegar a este padrão desejado A busca do corpo perfeito está gerando excessos e preocu-
sofrem muito20
a auto-imagem, principalmente das mulheres, que se sentem
obrigadas a ter um corpo magro, atrativo, em forma e jovem21. mais no sentido de orientação e promoção da saúde incentivando
Siqueira, et al.22 avaliaram 2.855 indivíduos de uma amostra uma alimentação saudável e uma melhor qualidade de vida.
de conveniência (usuários de shopping centers de cinco cidades
brasileiras) e observaram uma prevalência de compulsão CONCLUSÃO
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou concluir
que a compulsão alimentar está relacionada às diferenças em
e 6,6% em mulheres com sobrepeso e obesidade. relação à insatisfação corporal entre gêneros, sendo que no sexo
Um estudo realizado com universitárias de uma instituição
privada de São Leopoldo (RS), mostrou que as universitárias
com IMC superior a 25Kg/m2 apresenta mais compulsão socialmente conceituados.
alimentar periódica do que as universitárias com IMC inferior
a 25Kg/m2, já que os resultados foram 54,5% para excesso de maneira geral com que o indivíduo se percebe e se sente em
peso e obesidade enquanto o mesmo só ocorreu para 13,4% relação ao seu próprio corpo, foi acentuadamente maior no
23
. sexo feminino.
Triches et al.24
ao deste estudo. Avaliaram a insatisfação corporal em escolares vítima da compulsão alimentar periódica e da distorção da
em dois municípios do Rio Grande do Sul e constataram que imagem corporal, são as pessoas que se encontram em excesso
as crianças mais insatisfeitas são as que apresentam risco para de peso e obesidade. Hoje em dia, esses problemas já não
obesidade e obesidade. são mais raros em homens, mas o número de mulheres com
compulsão alimentar periódica e distorção da imagem corporal
-
nais estimuladas pela busca do corpo perfeito A vigorexia, mais
comum em homens, se caracteriza por uma preocupação exces- AgRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelo dom da vida, e pela oportunidade de

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 189-95


194
Compulsão alimentar periódica e distorção da imagem corporal em adolescentes

usufruir desse dom com saúde e dignidade, para poder concluir


mais essa etapa da minha vida. Research, n. no prelo, 2006.
Aos meus pais, irmãos, namorado e familiares, por sempre 13 Oliveira CL, Fisberg M. Obesidade na infância e adolescência: uma verdadeira
acreditar em mim.

disposição e por me auxiliar sempre que precisei.


Aos meus amigos, pela amizade sincera e pela força.
À minha amiga Danieli, por ter me ajudado na coleta de 16 Montenegro Medina MA, Ornstein Letelier C, Tapia Ilabaca PA. Corpo e corpo-
dados. ralidade a partir da vivência feminina. Acta bioeth.
17 Tavares, M.C.C. Imagem Corporal: Conceito e Desenvolvimento. São Paulo:
À minha tia Dori, pela ajuda e disposição.

REFERÊNCIAS

alimentares.
.

. 10a ed, São Paulo:

Interdisciplinar da Obesidade, 2007.


(acesso em 15/10/2007).
1997. 184p.
; 33:284-92.
Marzo, 1999.

.
2

Local de realização do trabalho: ???????????????????????????????????????????

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 189-95


195
A Artigo Original
Marília Alonso Mota

Avaliação subjetiva global e avaliação subjetiva global produzida pelo


paciente em oncologia: um estudo comparativo
Subjective global assessment and patient-generated subjective global assessment in oncology: a compa-
rative study
Evaluación subjetiva global y evaluación subjetiva global producida por el paciente en oncologia: un estudio
comparativo

Marília Alonso Mota1


Laura Labarthe de Andrade1
2

Graciela D’Ambrosi3

Unitermos RESUMO
Avaliação nutricional; Estado nutricional; Oncologia Introdução: -
cional do paciente, possibilitando intervenção nutricional adequada. A Avaliação Subjetiva
Key words: Global Produzida Pelo Paciente (ASG-PPP) utiliza escores, com o objetivo de melhor rastrear
Nutritional Evaluation, Nutritional State, Oncology
o estado nutricional de pacientes oncológicos. Objetivo: Comparar os resultados obtidos por
meio da utilização da ASG e ASG-PPP. Métodos: A coleta de dados foi realizada por meio
Unitérminos da utilização de duas avaliações nutricionais: ASG e ASG-PPP, aplicadas em dias diferentes.
Evaluación nutricional; El estado nutricional; Oncologia.

estado nutricional, em: bem nutrido, moderadamente desnutrido ou suspeito de desnutrição


Endereço para correspondência:
Av. Caçapava 136 Apt. 16, Bairro Petrópolis, Porto e gravemente desnutrido. Resultados: Participaram do estudo 14 pacientes. Percebeu-se
Alegre – RS, CEP: 90460130
Telefone: (51) 33326360
E-mail: marizinhamota@hotmail.com

Data de submissão: 05/05/2008


Aceito para publicação: 20/01/2009

Conclusão: Os resultados obtidos nesse estudo piloto mostraram uma diferença entre as
-
sário uma maior investigação e continuidade do presente estudo.

ABSTRACT
Introduction: The Subjective Global Assessment (SGA) has the objective to identify the
nutritional condition of the patient, allowing an adequate nutritional intervention. The Patient-
Generated Subjective Global Assessment (PG-SGA) utilizes scores, with the objective of
better investigating the nutritional state of oncological patients. Objective: To compare the
results gotten through the use of PG-SGA. Methods: The data collecting was gotten through
the use of two nutritional evaluations: SGA and PG-SGA, applied on different days. In the

condition, in: well-fed, moderately underfed or suspected of deep underfeeding. Fourteen


patients participated in the study. Results:
to the ASG as well nourished and, according to the ASG-PPP, the ranking had changed to
1 - Nutricionista - PUCRS moderately malnourishment or suspected of malnutrition, but this difference in the nutritional
2 - Nutricionista, Especialista em Terapia Nutricional
Parenteral e Enteral/ SBNPE e Mestre em Ge-
rontologia Biomédica/ PUCRS
3 - Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Ente-
ral/ SBNPE e Especialista em Terapia Nutricional necessity of an improvement of symptoms. Conclusions: The results obtained in this pilot
Parenteral e Enteral/ PUCRS study showed a difference among the nutritional evaluation applied, but, statistically, this
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 196-202
196
Avaliação subjetiva global e avaliação subjetiva global produzida pelo paciente em oncologia: um estudo comparativo

difference is not expressive. A deeper investigation and the continuity of the present study
are necessary.Evaluación subjetiva global y evaluación subjetiva global producida por el
paciente en oncologia: un estudio comparativo

RESUMEN
Introducción:
nutricional del paciente, haciendo la intervención ajustada posible del nutricional. La Evalua-
ción Subjetiva Global Producida Por el Paciente (ESG-PPP) utiliza escores, con el objetivo
de rastrear el estado nutricional de los pacientes oncológicos. Objetivo: El presente estudio
tiene por objetivo comparar los resultados obtenidos por la utilización da ESG e ESG-PPP.
Métodos: La coleta de dados fue realizada mediante la utilización de dos evaluaciones nutri-
cionales: ESG e ESG-PPP, aplicadas en días distintos. En los dos métodos de evaluación

moderadamente desnutrido o sospecho de desnutrición e gravemente desnutrido. Resul-


tados:

moderadamente desnutridos o sospechoso de desnutrición, por lo tanto tal diferencia del

0,001). Con relación a la intervención nutricional, la mayoría de los pacientes presentó escore
Conclusión: Los resultados
obtenidos en este estudio piloto, mostraron una diferencia entre las evaluaciones nutricionales

necesario una mayor investigación y continuidad del presente estudio.

INTRODUÇÃO funcional4,10,12. Foi desenvolvida em 1987, inicialmente para


A incidência do câncer tem aumentado no Brasil nos pacientes cirúrgicos. Atualmente, tem sido amplamente utilizada
últimos anos. Para 2020, estima-se 15 milhões de casos novos nas demais especialidades clínicas de pacientes adultos. Em
de pacientes oncológicos1. Em 2004, 13,7% dos óbitos regis- algumas situações clínicas, a ASG foi adaptada, como no caso
trados foram causados pelo câncer2. Sabe-se que os pacientes dos pacientes oncológicos13.
oncológicos têm uma alta prevalência de desnutrição, por ser Ottery14
uma doença hipermetabólica3. Assim, o diagnóstico nutricional Avaliação Subjetiva Global Produzida Pelo Paciente (ASG-
precoce é de suma importância, pois diminui o número de PPP). Essa avaliação utiliza escores com o objetivo de rastrear
morbi-mortalidade, tempo de internação e, consequentemente, melhor o estado nutricional de pacientes oncológicos. A
os custos dos hospitais4,5. avaliação é dividida em duas partes: inicialmente, um ques-
tionário auto-aplicativo relacionando sintomas como alteração
estado nutricional, promovendo uma intervenção, a fim de do paladar, náuseas, diarréia, constipação e lesão na boca.
melhorar a saúde e a qualidade de vida do paciente6. Vários
métodos de avaliação nutricional têm sido utilizados, caracteri- avalia os fatores associados ao diagnóstico que aumentam a
zando-se por utilizar métodos bioquímicos, antropometria, testes demanda metabólica e o exame físico semelhante à ASG9,15. É
de avaliação clínica, e exames de avaliação corporal. No entanto, importante ressaltar que essa avaliação é válida para qualquer
essas avaliações apresentam limitações, como a interação com tipo de câncer9.
a patologia, alto custo, entre outros. Com isso Baker et al.7 e O objetivo deste trabalho foi comparar os resultados obtidos
Detsky et al.8 desenvolveram um padrão de avaliação nutricional
chamado Avaliação Subjetiva Global (ASG), que se diferencia assistência nutricional prestada ao paciente oncológico em um
dos demais métodos por ser de baixo custo, simples, pode ser hospital universitário.
aplicado na beira do leito e considera também a avaliação clínica
e história hospitalar9 MÉTODOS
devem ser previamente treinados para que os resultados sejam Este estudo caracteriza-se por ser observacional, transversal,
mais precisos, já que essa avaliação é subjetiva4,9,10. com abordagem descritiva e analítica.
A ASG já é rotineira na maioria dos hospitais e é aplicada A pesquisa, que terá duração de dois anos, foi aprovada
- pelo Comitê de Ética da PUCRS. A primeira etapa da coleta de
sito de diagnosticar o mais precocemente possível o estado dados caracterizou-se como um estudo piloto e foi realizada no
nutricional do paciente11. Essa avaliação é um instrumento período de 9 de outubro a 9 de novembro de 2007. O tamanho
prático que obtém informações sobre a sintomatologia consi- da amostra foi determinado pelo número total de pacientes
derando aspectos da história clínica, exame físico e capacidade internados neste período, em uma Unidade de Internação do

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 196-202


197
Marília Alonso Mota

Sistema Único de Saúde (SUS) do Hospital São Lucas (HSL) da capacidade funcional. Em seguida, foi aplicada a segunda
da PUCRS, sendo todos adultos a partir de 20 anos de idade, parte da ASG-PPP, que foi completada com base nos fatores
de ambos os sexos e com diagnóstico de câncer. associados ao diagnóstico que aumentam a demanda metabó-
Foram adotados como critérios de inclusão: todos os lica (estresse, febre, depressão, fadiga, estadiamento do tumor
pacientes com diagnóstico de câncer que assinaram o termo ou tratamento) e o exame físico semelhante à ASG9,14,16. Os
de consentimento, incluindo os de câncer terminal, e pacientes
analfabetos. Foram excluídos os pacientes que apresentavam motoras ou perda cognitiva foram auxiliados pelos cuidadores
baixo nível de consciência, os que foram a óbito sem responder ou pesquisadoras a responder o questionário, sem intervir nas
as duas avaliações e os que não desejaram participar da pesquisa. respostas do paciente.
A coleta de dados foi realizada pela utilização de dois
instrumentos de avaliação nutricional, apresentados no quadro e sem nenhuma pontuação4
1 e no quadro 2: ASG e ASG-PPP, as quais foram aplicadas ocorre através de escores: “0-1” não necessita de intervenção
em dias diferentes, para que não ocorresse viés nas respostas nutricional no momento, reavaliar durante o tratamento; “2-3”
dos questionários. No primeiro dia foi aplicada a ASG, sendo necessita intervenção do nutricionista ou do enfermeiro asso-
realizada nas primeiras 72 horas de internação do paciente no ciado às características da doença; “4-8” necessita de inter-
HSL. Essa avaliação consiste em um questionário que contém venção nutricional juntamente com a nutricionista, enfermeiro e
informações baseadas na história clínica do paciente, que avalia -
a perda de peso nos últimos seis meses, alterações nas últimas sita de intervenção indicando a necessidade crítica de melhora
duas semanas, alterações na ingestão alimentar, presença de dos sintomas, manejo e/ou intervenção nutricional agressiva17.
Nos dois métodos de avaliação nutricional o paciente foi clas-
funcional do paciente, demanda metabólica de acordo com o
diagnóstico e exame físico da palpação e inspeção para clas- – bem nutrido, “B” – moderadamente desnutrido ou suspeito
de desnutrição e “C” – gravemente desnutrido10.
edema e ascite4,10. É importante ressaltar que as duas avaliações foram apli-
No segundo dia foi aplicada a ASG-PPP, que consiste cadas pela mesma pesquisadora em cada paciente, em função
em duas partes. A primeira é um questionário que o próprio da subjetividade das avaliações. Assim, manteve-se o mesmo
paciente responde, descrevendo a sua perda de peso, alteração da critério de avaliação para os dois questionários, reduzindo a
ingestão alimentar, sintomas relacionados ao câncer e alterações possibilidade de viés na coleta de dados.
Foi utilizada a estatística descritiva para caracterizar a
amostra. As variáveis quantitativas foram descritas por meio da
Tabela 1 - Caracterização da amostra média e desvio padrão e as variáveis qualitativas foram descritas
Características n=14 por meio de freqüências absolutas e relativas. Para comparar
as avaliações nutricionais foi utilizado o teste Qui-quadrado de
Idade – Média ± DP 56,4 ± 15,1
McNemar e para avaliar a concordância entre as avaliações, o
Sexo – n(%)
Masculino 4 (28,6) foi de 5% e as análises foram realizadas no programa SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences) versão 13.0.
Feminino 10 (71,4)
RESULTADOS
Gastrointestinais 2 (14,3) Conforme a Tabela 1 participaram do estudo 14 pacientes,
sendo predominantemente do sexo feminino. A idade média foi
Ginecológicos 3 (21,4)
de 56,4 anos, com desvio padrão de ± 15,12 e uma variação de
Mama 1 (7,1) 28 a 87 anos de idade. Quanto ao diagnóstico de câncer foram
Linfomas 2 (14,3)
linfomas, próstata, pulmonar e ósseo.
Próstata 3 (21,4)
-
Pulmonar 2 (14,3) ciência, com condições de responder o questionário da ASG-PPP.
Ósseo 1 (7,1) Ainda assim, alguns pacientes necessitaram de ajuda do cuidador ou
das pesquisadoras, pois não tinham condições motoras, cognitivas
Necessitam de ajuda – n(%)
ou eram anal fabetos. Durante a coleta de dados, dois pacientes
Sim 3 (21,4) não desejaram participar da pesquisa e um paciente foi a óbito no
Não 11 (78,6) período da aplicação das avaliações nutricionais.
Óbito – n(%)
No que diz respeito à ASG, demonstra que cinco dos pacientes
Sim 1 (7,1)
Não 13 (92,9) estavam moderadamente desnutridos ou com suspeita de

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 196-202


198
Avaliação subjetiva global e avaliação subjetiva global produzida pelo paciente em oncologia: um estudo comparativo

Tabela 2

Estado nutricional ASG ASG-PPP

n (%) n (%)

Bem nutrido 5 (35,7) 3 (21,4)

Moderadamente desnutrido ou suspeita de desnutrição 4 (28,6) 6 (42,9)

Gravemente desnutrido 5 (35,7) 5 (35,7)

Como método de avaliação nutricional, a ASG é rotineira-


mente utilizada para avaliação dos pacientes hospitalizados.

oncológicos (ASG-PPP), a ASG continua sendo aplicada em


grande parte dos hospitais21.
Barbosa e Silva relata que a ASG-PPP possui avaliação
-
site, xerostomia, ausência do paladar, dor, entre outros, e inclui
características típicas da doença, como: estresse metabólico,
estadiamento do tumor, condições clínicas e exame físico,
– Comparação entre ASG e ASG-PPP, aplicadas em pacientes on-
cológicos de um hospital universitário.
relacionando com estado nutricional19. Apesar dos aspectos
relevantes ressaltados pela autora com relação à ASG-PPP, o
tamanho da amostra utilizada no presente estudo talvez não

No estudo de Gupta et al. 22


é um método prático, de baixo custo, não invasivo e também
nutricional, seis moderadamente desnutridos ou com suspeita
de desnutrição e cinco gravemente desnutridos. Com relação à
intervenção nutricional, apenas um paciente apresentou escore do estado nutricional dos pacientes oncológicos, sem deixar de
entre 4-8, indicando necessidade de intervenção nutricional
pelo nutricionista, em conjunto com enfermeiro ou médico de Por outro lado, em uma pesquisa realizada em um hospital
acordo com os sintomas que o paciente aferiu. O restante dos privado da Austrália, foi analisada a utilização da ASG-PPP,
sendo que um dos pontos destacados foi o fato de que tal
de melhora dos sintomas, manejo e/ou intervenção nutricional avaliação é mais precisa no momento de diferenciar o paciente
agressiva. moderadamente desnutrido ou com suspeita de desnutrição do
Os resultados obtidos demonstraram uma diferença no diag- paciente desnutrido. Outro aspecto relevante é que essa pesquisa
comparou a ASG-PPP com a ASG, demonstrando 98% de sensi-

desnutrição. Diferentemente da ASG, a ASG-PPP se caracteriza


para “B”, porém tal diferença no diagnóstico nutricional não pelos escores, rastreando melhor os pacientes que necessitam
de uma intervenção nutricional urgente20.

18
. -
namento e da capacidade do avaliador de detectar as alterações
DISCUSSÃO
Conforme apresentado anteriormente, a desnutrição é uma e versátil, de forma que o paciente entenda as questões propostas
complicação frequente em pacientes oncológicos, acarretando por essa avaliação, principalmente aquelas relacionadas à alte-
maiores índices de infecção, maior tempo de hospitalização, ração na ingestão alimentar e na capacidade funcional. Esse fato
menor resposta à quimioterapia e radioterapia, sendo um impor-
tante preditor de morbidade e mortalidade16,19. Para amenizar Madrid, onde foi comparada a forma de aplicação da ASG-PPP
essas complicações, é de suma importância uma intervenção
nutricional adequada, possibilitando melhora do estado nutri- um grupo de médicos para aplicar essa avaliação. Os resultados
cional, qualidade de vida e resposta ao tratamento20. demonstraram que o grupo de nutricionistas obteve conclusões
Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 196-202
199
Marília Alonso Mota

Quadro 1 - Ficha de Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ASG)

A) História
1. Alteração no peso

Alteração nas últimas duas semanas = __________aumento _________sem alteração _________diminuição.

2. Alteração na ingestão alimentar

____sem alteração

____alterada _______duração = _______semanas.

____tipo: ______dieta sólida sub-ótima ______dieta líquida completa ______líquidos hipocalóricos ______inanição.

3. Sintomas gastrointestinais (que persistem por > 2 semanas)

___nenhum ___náusea ___vômitos ___diarréia ___anorexia.

4. Capacidade funcional

___sem alteração (capacidade completa)

___diminuição ___duração = ____semanas.

___tipo:___trabalho sub-ótimo ___ambulatório ___acamado.

5. Doença e sua relação

Demanda metabólica (stress):____sem stress ____baixo stress ____stress moderado ____stress elevado.

_______perda muscular (quadríceps, deltóide)

_______edema tornozelo

_______ascite

C)Avaliação subjetiva global (selecione uma)

______ A = bem nutrido

______ B = moderadamente (ou suspeita de ser) desnutrido

______ C = gravemente desnutrido

Destsky e col.,19874

mais precisas da avaliação, pois estão mais acostumados a


trabalhar com questões abordadas pela ASG-PPP23. -
Notou-se, também, dificuldades em relação ao tempo nadas ao peso atual, perda de peso em um ano e nos últimos
máximo para ser aplicada a ASG (72 horas após a internação), seis meses. Alguns pacientes demonstraram incerteza e confusão
resultando na diminuição do número de pacientes incluídos ao responderem essas perguntas. Isso pode causar um viés
nessa pesquisa. Essa questão, relacionada ao tempo, pode
ser um empecilho na rotina do hospital, contudo é de grande Mas ao mesmo tempo, as questões relacionadas à ingestão
importância não ultrapassar esse período, pois isso pode alterar alimentar, sintomas gastrointestinais e capacidade funcional
a qualidade das evidências e das questões presentes na ASG. são mais claras e de mais fácil entendimento, podendo tornar

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 196-202


200
Avaliação subjetiva global e avaliação subjetiva global produzida pelo paciente em oncologia: um estudo comparativo

Quadro 2 - Ficha de Avaliação Nutricional Subjetiva Produzida pelo Paciente (ASG - PPP)
A. História
1. Mudança de peso:

Resumo do meu peso habitual:

Eu habitualmente peso ___quilos. Tenho 1 metro e ___ centímetros de altura. Há um ano meu peso era de ___quilos. Há seis meses eu pesava___ quilos.

Durante as duas últimas semanas meu peso: ( ) diminuiu(1) ( ) não mudou(0) ( ) aumentou(0)

2. Ingestão alimentar:

Em comparação com o normal, eu poderia considerar minha ingestão alimentar durante o último mês como:

( ) inalterada(0), ( ) mais que o normal(0), ( ) menos que o normal(1).

Agora estou me alimentando com: ( ) pouca comida sólida(1), ( )apenas suplementos nutricionais(3), ( )apenas líquidos(3), ( ) muito pouco, quase nada(4).

3. Sintomas:

Sem problemas para me alimentar(0), ( )Sem problemas, apenas sem vontade de comer(3), ( )náuseas(1) ( ) vômitos(3) ( ) Constipação(2) ( )
diarréia(3), ( )lesões na boca(1) ( ) boca seca(1), ( )as coisas têm gosto estranho ou não têm gosto(2), ( ) o cheiro da comida me enjoa(1), ( ) dor(3)Onde?

4. Capacidade funcional:

Durante o último mês, eu consideraria a minha atividade como:

( ) normal, sem nenhuma limitação(0), ( ) não no meu normal, mas capaz de realizar satisfatoriamente minhas atividades normais(1), ( )sinto-me incapaz
para a maioria das coisas, mas permanecendo na cama por menos da metade do dia(2), ( )capaz de fazer pouca atividade e passando a maior parte
do dia na cadeira ou na cama(3), ( ) quase sempre acamado, raramente fora da cama(3),

O resto do questionário será preenchido pela nutricionista. Obrigada pela sua colaboração!

Esta etapa deve ser preenchida pela nutricionista:

5. A história:

Doença e suas relações com as necessidades nutricionais:

6. Demanda metabólica (stress): ( ) nenhum(0) ( ) baixa(1) ( ) moderada(2) ( ) alta(3).

7. Exame físico:

B- Conclusão

A- bem nutrido

B- moderadamente desnutrido (suspeita)

C- gravemente desnutrido
Destsky e col.,19874

Conforme Barbosa e Silva4, a aplicação da ASG-PPP diminui -


- rística da ASG-PPP é ser pontuada em escores, sendo a avaliação

criar um escore contínuo que possibilita não só a criação de

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 196-202


201
Marília Alonso Mota

categorias de risco nutricional, mas também permite reavaliar measurements. N Engl J Med. 1982;306(16):969-72.
8. Detsky AS, McLaughlin JR, Baker JP, Johnston N, Whittaker S, Mendelson RA,
et al. What is subjective global assessment of nutritional status? JPEN J. Parenter
do risco nutricional24. Enteral Nutrition. 1987;11(1):8-13.
9. Barbosa-Silva MCG, Barros AJD. Avaliação nutricional subjetiva: Parte 2 – revisão
O presente estudo mostrou que as duas avaliações nutricio- de suas adaptações e utilizações nas diversas especialidades clínicas. Arq. Gastro-
enterol. 2002;39(4):248-52.
10. Duarte AC, Castellani, FR. Avaliação subjetiva global (ASG). In: Duarte AC
do paciente oncológico. Mesmo com a ASG-PPP sendo mais e Castellani, FR. Semiologia Nutricional. Rio de Janeiro: Axcel Books; 2003.
detalhada, não foi possível constatar estatisticamente que é p.18-31.
11. Costa DB, et al. Avaliação global subjetiva em pacientes oncológicos internados no

Brasileiro de Nutrição Integrada – GANEPÃO. Cidade: São Paulo, 2006. Dispo-


nível em:
entre as avaliações nutricionais. Acesso em: 09/11/2007.
12. Barbosa-Silva MCG, Barros AJD. Avaliação nutricional subjetiva: parte 1 - revisão
de sua validade após duas décadas de uso. Arq. Gastroenterol. 2002;39(3):181-7.
CONCLUSÃO 13. Baxter YC. Avaliação nutricional do cardiopata. Rev Socesp. 1997;7(4):445-57.
Os resultados obtidos neste estudo piloto mostraram uma 14. Ottery FD. Center cachexia prevention, early diagnosis, and management. Cancer
Pract. 1994;2:123-31.
pequena diferença entre as avaliações nutricionais aplicadas. 15. Copiini LZ. Avaliação nutricional no paciente com câncer. In: Waitzberg DL. Dieta,
Ainda que tenha ocorrido essa diferença, estatisticamente não nutrição e câncer. São Paulo: Atheneu Editora; 2004. p.385-91.
16. Trintin LA. In: Ikemori EHA, et al Nutrição em oncologia. São Paulo: Tecmedd;
2003, p.43-71.
ASG-PPP é mais indicada do que a ASG, pois necessita uma 17. Duval PA, et al. Aplicação da avaliação subjetiva global produzida pelo paciente
(ASG-PPP) em um programa de intervenção domiciliar interdisciplinar (PIDI). In:
maior investigação e a continuidade deste estudo para obtenção Anais do Congresso Brasileiro de Nutrição Integrada – GANEPÃO. Cidade: São
de conclusões mais precisas. Paulo, 2006. Disponível em:
Acesso em: 10/11/2007.
Cabe ressaltar a importância da avaliação nutricional com o 18. Altaman GD. Pratical Statistics for Medical Research. 1st. ed. London: Chapman
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19. Silva MCB. Qual é a melhor avaliação nutricional para o doente com câncer.
In: Anais do Congresso Brasileiro de Nutrição Integrada – GANEPÃO. Cidade:
São Paulo, 2006. Disponível em: http://www.ganep.com.br/ganepao/anais_
ganepao_2006.pdf Acesso em: 10/11/2007.
20. Bauer J, Capra S, Ferguson M. Use of the scored Patient-Generated Subjective
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situacao/ Acesso em: 17/04/07. 09/11/2007.
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prática clínica. São Paulo:Atheneu Editora; 2000. p.1381-93.
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Nutritional assessment: a comparison of clinical judgement and objective 11/11/2007.

Local de realização do trabalho: ???????????????????????????????????????????

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 196-202


202
A Artigo de Revisão
Cuidado nutricional na disfagia: uma alternativa para maximização do estado nutricional

Cuidado nutricional na disfagia: uma alternativa para maximização do


estado nutricional
Nutritional care in dysphagia: an alternative for the maximization of the nutritional state
Cuidado nutricional de la disfagia: uma alternativa para la maximizacion del estado nutricional

Luciano Bruno de Carvalho Silva1


Cintia Mitie Ikeda2

Unitermos RESUMo
Disfagia. Deglutição e Viscosidade. A deglutição é um processo complexo, que envolve estruturas relacionadas à cavidade
Key words
oral, faringe, laringe e esôfago. Estas estruturas são submetidas a um controle neural que
Cardiovascular disease. Risk factors. Diabetes mellitus,
type 2. Women. que venha ocorrer na deglutição denomina-se disfagia. A disfagia frequentemente leva à
desnutrição, perda de peso e desidratação. A desnutrição e a baixa ingestão de nutrientes
Unitérminos e energia podem ocorrer como resultado da inadequação dietética e da consistência
Unitérminos: Disfagia. Deglución. Viscosidad.
alimentar. Dentre as condutas necessárias para tratamento das consequências da disfagia,
Endereço para correspondência: o tratamento dietético possui importante papel para a melhora do quadro e adequação do
Luciano Bruno de Carvalho Silva estado nutricional. Neste sentido, o espessamento de alimentos e preparações oferecidas
Rua Gabriel Monteiro da Silva 700 conduzem à redução dos episódios de vômitos, facilita a deglutição, diminui o risco de
CEP 37130-000, Alfenas-MG – Brasil.
pneumonia aspirativa, além de aumentar a oferta de nutrientes, atendendo as necessidades
Fax 55 35 32991110.
E-mail: luciano@unifal-mg.edu.br.

Submissão são de alto custo, limitando a aquisição e ajuste da consistência correta. o espessamento a
7 de maio de 2009 partir da utilização dos próprios alimentos em preparações diversas para ajuste da consis-
Aceito para publicação
1 de setembro de 2009 da saúde. Sendo assim, a presente revisão tem como objetivo mostrar a importância do
cuidado nutricional de disfágicos, com o auxílio de técnicas simples, baratas e seguras,
visando maximização da qualidade de vida dos indivíduos disfágicos.

ABStRACt
the swallowing is a complex process involving structures related to the oral cavity,
pharynx, larynx and esophagus. these structures are subjected to a neural control that

in swallowing is called dysphagia. the dysphagia often leads to malnutrition, weight loss
and dehydration. Malnutrition and low intake of nutrients and energy can occur as a result
of inadequate diet and food consistency. Among the behaviors necessary to address the
consequences of dysphagia, the dietary treatment is important for the improvement and
adequacy of the nutritional status. Accordingly, the thickness of food and preparations
leading to the reduction of episodes of vomiting, facilitates swallowing, reduces the risk of
aspiration pneumonia, and increase the supply of nutrients, given the nutritional needs of

1. Nutricionista, doutor em Alimentos e Nutrição pelo of commercial thickeners. But these are expensive, limiting the acquisition and adjustment
Departamento de Alimentos e Nutrição (DEPAN)
- Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) -
of the correct consistency. the thickness from the use of food in the various preparations
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) for setting the correct consistency is still unknown for many patients, caregivers and health
e professor Adjunto do Departamento de Nutrição professionals. therefore, this review aims at showing the importance of nutritional care of
- Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG).
2. Acadêmica do curso de Farmácia - Universidade dysphagia, with the aid of simple techniques, cheap and safe, to maximize the quality of
Federal de Alfenas (UNIFAL-MG). life of individuals dysphagic.
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Silva LBC et al.

RESUMEN
La deglución es un proceso complejo que abarca las estructuras relacionadas con la
cavidad oral, faringe, laringe y esófago. Estas estructuras están sometidas a un control
neuronal que permite la realización de los anticonceptivos orales al contenido del estó-

a menudo conduce a la desnutrición, pérdida de peso y deshidratación. La malnutrición


y la baja ingestión de nutrientes y energía puede ocurrir como resultado de una dieta
inadecuada y la coherencia de alimentos. Entre los comportamientos necesarios para
hacer frente a las consecuencias de la disfagia, el tratamiento dietético es importante
para la mejora de la adecuación y el estado nutricional. Por consiguiente, el grosor de
los alimentos ofrecidos y los preparativos conducentes a la reducción de los episodios de
vómitos, facilita la deglución, reduce el riesgo de neumonía por aspiración, y aumenta el
suministro de nutrientes, habida cuenta de las necesidades nutricionales de la persona.
Estos cambios en la viscosidad de los alimentos y líquidos se pueden lograr con la ayuda
de espesantes comerciales. Pero estos son caros, lo que limita la adquisición y adaptación
de la consistencia correcta. El espesor de la utilización de los alimentos en los diversos
preparativos para el establecimiento de la correcta coherencia sigue siendo desconocido
para muchos pacientes, cuidadores y profesionales de la salud. Por lo tanto, esta revisión
tiene como objetivo mostrar la importancia de la atención nutricional de la disfagia, con la
ayuda de técnicas sencillas, baratas y seguras, para maximizar la calidad de vida de las
personas disfágicas.

INTRODUÇÃO tratamento dietético a pacientes disfágicos, por alternativas

A deglutição consiste na efetiva condução do alimento da aos mesmos.


boca até o estômago por meio de fases que se inter-relacionam,
comandada por um complexo mecanismo neuromotor, sendo MÉTODOS

denomina-se disfagia1. A revisão de literatura foi realizada com base em periódicos


O paciente disfágico pode apresentar desnutrição, desidra- nacionais e internacionais abordando assuntos relacionados
tação e aspiração de alimentos, saliva ou secreções para a árvore ao tema. As bases consultadas foram: PUBMED, LILACS,
traqueobrônquica. Essa disfunção pode ser causada por vários SciELO, Scirus; de textos didáticos e revisões publicadas,
fatores. Os mais comuns são doenças neurológicas, alterações além das listas de referências destas várias fontes e livros. Os
mecânicas, principalmente no câncer de cabeça e pescoço,
medicamentos, entre outros. A avaliação precoce do distúrbio área de disfagia em periódicos de 2000 a 2008, tanto na lite-
da deglutição é fundamental para minimizar ou mesmo evitar ratura nacional como internacional. Foram encontradas muitas
intercorrências clínicas2. referências com a palavra “disfagia, deglutição, viscosidade e
A disfagia é sintoma interdisciplinar e o atendimento desses espessamento.”.
doentes deve ser realizado por equipe de especialistas, como
médicos das mais diferentes especialidades, fonoaudiólogo, DISFAGIA

O ato da deglutição é importante para a manutenção da


vida, e por se tratar de evento rápido e automático, pode
parecer simples. Contudo, seus mecanismos estão entre os mais
inclusive, protocolos interdisciplinares ligados aos grupos de 1
.
nutrição2-4. A deglutição consiste em conduzir de forma programada uma
sequência dinâmica de contrações e relaxamentos de músculos
que podem ser divididos em três fases com base na localização:

oral com a consistência mais adequada a cada caso, por meio na deglutição. É um problema comum que pode atingir todos
de técnicas mais seguras para o disfágico5. os grupos etários, porém sabe-se que a incidência é maior em
- idosos e pacientes que sofreram acidente vascular cerebral
samento de alimentos, altos índices de pneumonia aspirativa e (AVC). Estudos sobre a epidemiologia da disfagia na nossa
óbito, o presente estudo visa apresentar a importância de um população são ainda escassos e pouco explorados2.
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Cuidado nutricional na disfagia: uma alternativa para maximização do estado nutricional

que a proporção de risco de disfagia desses pacientes foi de


69% e do estado nutricional inadequado de 71%, valor elevado,
-
tórias da cavidade oral ou do trato gastrointestinal superior, até
doenças mais complexas, como os AVCs e tumores de cabeça
e pescoço6. gravidade.

uma anormalidade anatômica ou funcional (neuromuscular) em CONSEQUÊNCIAS


qualquer estrutura e fase do processo de deglutição. A alteração
da deglutição, causada por doenças neurológicas, trauma ou A presença de disfagia, isolada ou em combinação a outras
doenças musculares, é denominada “disfagia neurogênica”. Na incapacidades funcionais, está associada a maiores taxas de
“disfagia mecânica”, o controle neurológico central e os nervos letalidade e a um pior prognóstico de recuperação e reabili-
periféricos estão intactos, mas as estruturas anatômicas estão tação8,12. Isto se deve, principalmente, à frequente associação
alteradas. Quando as alterações dizem respeito à fase oral e/ou com lesões de prognóstico reservado; e às consequências do
faríngea da deglutição, a disfagia é denominada orofaríngea ou próprio comprometimento da deglutição. A disfagia associa-se
alta. Quando existem alterações na fase esofagiana da deglu- à menor capacidade de alimentação adequada e daí maior risco
tição, a disfagia é denominada esofagiana ou baixa4. 13
; e a risco real
de complicações pulmonares, incluindo aspiração de alimentos
CAUSAS e líquidos e, consequentemente, de pneumonia aspirativa e
septicemia14. Além disso, tem grande impacto potencial sobre os
A disfagia é uma alteração da deglutição que surge sempre aspectos sociais da alimentação, já que pode levar à retração e
em decorrência de alguma doença. O acidente vascular ence- isolamento do paciente, comprometendo sua qualidade de vida15.
fálico (AVE) parece ser a causa mais comum de disfagia6. Esta Pacientes disfágicos geralmente apresentam baixa ingestão
pode ser encontrada em quase metade dos casos na fase aguda energética, apresentando risco nutricional e conseqüentemente
da doença7. desnutrição5. Pacientes com disfagia, seja decorrente de fatores
no tronco cerebral associam-se a risco aumentado, porém, o neurológicos ou outros fatores associados, apresentaram
problema ocorre de modo relativamente frequente também em ingestão calórica em torno de 1800 Kcal/dia, de acordo com
pacientes sem estas características8. estudos realizados por Nandurkar et al., em 200416. Estes valores
7
, que teve como estão abaixo da necessidade média destes indivíduos, que é
objetivo analisar a incidência de disfagia orofaríngea após AVE de aproximadamente 2500 Kcal/dia. A ingestão de alimentos
protéicos também está aquém das necessidades individuais,
76,5% dos pacientes avaliados clinicamente. Este percentual visto que a necessidade é de 1,0 a 1,5 kg/dia, diferente da média
ingerida por estes pacientes, que é em torno de 0,5 a 0,8 kg/dia.
incidência de disfagia observada neste estudo, que avaliou
pacientes com amplo espectro de gravidade, em diferentes fases encontram em obter alimentos na consistência tolerada5-17.
de recuperação, ressalta a importância de equipe multidisci- A desidratação pode agravar a broncoaspiração dos pacientes
plinar, incluindo fonoaudiólogos capacitados, para avaliar os disfágicos, pois, no paciente desidratado, observa-se diminuição
distúrbios da deglutição nos diversos momentos de recuperação
dos pacientes após AVE. orofaringe; letargia e confusão mental, que propiciam aspiração
As causas neurológicas são as mais frequentes e, usual- -
mente, as que causam mais grave repercussão na dinâmica da dratação pode levar também a alterações do sistema imune18.
A deglutição de líquidos de consistência rala (água) requer
podem estar associadas à disfagia, tais como as tumorações, coordenação e controle máximo. Os líquidos são facilmente
que podem provocar uma obstrução intrínseca ou extrínseca aspirados para dentro dos pulmões e podem representar um
da luz digestiva, traumas, cirurgias, alterações odontológicas
9
, entre outros possíveis eventos. pneumonia aspirativa, mesmo em decorrência de água estéril
Nas pessoas idosas, a prevalência exata de disfagia é desco- nos pulmões18. Os pacientes idosos têm maior probabilidade
de desenvolver aspiração como resultado de uma debilidade
muscular ocasionada por alterações mecânicas e/ou neuroló-
gicas. A pneumonia aspirativa, segundo Hardiman, leva a uma
por xerostomia, por desordens neurológicas (AVC, doença de das maiores taxa de mortalidade e está entre os maiores custos
de tratamento dos tipos de pneumonia19.
por desordens musculares e da anatomia orofaríngea3,10. As consequências sociais e psicológicas também podem
Estudo desenvolvido por Maciel et al.11, em 2008, para afetar a qualidade de vida dos pacientes que sofrem com a
disfagia, promovendo o isolamento social, afetando a auto-
risco nutricional dos pacientes idosos internados na clínica estima, podendo desenvolver depressão, ansiedade, medo e frus-
médica do Hospital Universitário de Brasília (HUB), relatou
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Silva LBC et al.

são deglutidos rapidamente e não mantêm sua forma dentro da


de deglutição, levando ao agravamento da doença20. cavidade oral, podendo escorrer prematuramente para a faringe
e, assim, penetrar nas vias aéreas ainda abertas. Para evitar esse
TRATAMENTO efeito, deve ser determinada a viscosidade ideal para a deglu-
tição ocorrer de maneira segura4.

disfagia e aos métodos de avaliação existentes têm proporcio-


- centpoises (ctps ou cP)26.
pêuticas, clínicas e/ou cirúrgicas frente ao paciente disfágico20. Existem diferentes tipos de viscosidade que podem ser facil-
É fundamental a participação de uma equipe multidisciplinar mente alcançadas utilizando espessantes comerciais. Estes tipos
no tratamento da disfagia, especialistas na área da saúde, como (cP) (Tabela
médicos de diferentes áreas, fonoaudiólogo, nutricionista, enfer- 1) em ralo (1-50 cP), néctar (51-350 cP), mel (351-1750 cP) e
pudim (> 1750 cP)27.

.3,4

A contribuição da fonoaudiologia busca ampliar as perspec-


tivas prognósticas, com a redução do tempo de internação e a
redução na taxa de re-internações por pneumonia aspirativa, com disfagia.

de vida dos pacientes21-23. Ralo 1-50


A dieta para disfagia orientada pelo nutricionista é designada
Néctar 51-350
para facilitar a progressão de acordo com a tolerância individual,
otimizar a ingestão nutricional e diminuir o risco de aspiração24. Mel 351-1750
Para minimizar o risco de aspiração e acúmulo de alimentos, Pudim > 1750
principalmente em valéculas, o tratamento da disfagia no adulto
Fonte: ADA, 2002.

Os líquidos devem ser espessados e os alimentos sólidos devem


ser subdivididos ou amassados25,26.
Existem possibilidades de tratamento para o paciente
disfágico, desde questões relacionadas à via alternativa de TERAPIA NUTRICIONAL
alimentação (SNE, gastrostomia, jejunostomia), reabilitação
fonoterápica e todo o seu universo de atuações: alterações Os pacientes com sintomas de disfagia que limitam sua
dietéticas, manobras de proteção, terapias sensoriais, utilização
de válvula de fala, entre outras. Até condutas clínicas, medi- lares, devem ser considerados aqueles com alto risco de sofrer

gastroesofágico, aplicação de toxina botulínica em glândulas tratados.


salivares e músculo cricofaríngeo.
Há, ainda, uma gama de condutas cirúrgicas, propostas em baseiam em um complexo equilíbrio entre preparação, ingestão
uma minoria de casos em que o tratamento de reabilitação fono- e absorção dos alimentos e bebidas24.Ao diagnosticar a causa e a
-
ração, podendo-se citar: miotomia do músculo cricofaríngeo,
mais segura do paciente disfágico, uma vez que a consistência da
ligadura dos ductos parotídeos, separação laringo-traqueal, até dieta deve ser individualizada de acordo com o tipo e extensão
a laringectomia total, realizados por médicos especializados. É da disfunção. Se a receita não é seguida, o indivíduo pode
um campo novo de atuação, no qual a literatura ainda é relativa- deparar-se com consequências graves para a saúde3,26.
mente escassa, a indicação cirúrgica é rara, os resultados ainda No Quadro 1 está apresentado um exemplo de uma dieta
são mais qualitativos do que quantitativos, sendo necessários
para indivíduos com disfagia e comprometimento da deglutição.
de tais propostas cirúrgicas. Tudo isso sem contar o respeito à
vontade dos pacientes e/ou familiares. Apesar de todas estas
2
.
-
INFLUÊNCIA DA VISCOSIDADE santes devem interferir o mínimo possível nas propriedades
sensoriais dos líquidos, ou por suas próprias características
A viscosidade do alimento é uma das variáveis mais impor- físicas e químicas ou evitar reprocessamento adicional 26-28.
Vários agentes podem ser utilizados como espessantes de
de pacientes que apresentam controle laríngeo reduzido, pois alimentos. Tais espessantes são formados principalmente por
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Cuidado nutricional na disfagia: uma alternativa para maximização do estado nutricional

aproximadamente 2.000 quilocalorias.


Refeição Alimento Viscosidade

Café da manhã: Mingau de farinha Láctea Leite: 100 mL 910


Farinha Láctea: 25 g
Banana amassada 1 unidade – 90 g 2.900

Lanche: Suco de mamão espessado Água: 30 mL 870


Mamão: 170 g

Almoço: Leite: 100 mL


Farinha Láctea: 25 g - 2.440

320

Suco de laranja espessado Suco de laranja: 200 mL


Espessante: 10 g

Lanche: 1.090

Jantar: Caldo de vegetais -

de azeite, batata grande crua

Mousse de limão 100 g 8.000

Ceia: Mingau de milho Leite: 100 mL 840


Farelo de Milho: 25 g
* Adaptado de Peres, Manzano e Silva (2007).

polissacarídeos (carboidratos), como gomas e amidos, além Sabe-se que a ingestão pode ser maximizada por meio
das pectinas e derivados de celulose. Dentre estes, o amido do ajuste da consistência dos alimentos a partir de técnicas
simples e de baixo custo, sem o uso de espessantes comerciais
que são onerosos29,30. O espessamento de alimentos a partir da
utilização dos próprios alimentos em preparações diversas para
natural. Além de poder maximizar a ingestão nutricional e
28
. Portanto,

usados para evitar a desidratação de indivíduos com disfagia27. ingestão alimentar, resultando em altos índices de desnutrição,
Porém, os espessantes comerciais são de alto custo, em torno desidratação e aspiração pulmonar, e aumentando o risco de
de R$ 40,00 a quantidade de 200 gramas, preço que limita a óbito31. São técnicas projetadas para este público, especialmente
aquisição e ajuste da consistência correta. no que diz respeito à quantidade de comida em medidas caseiras
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necessárias para atingir as viscosidades ideais de acordo com


o padrão da ADA.
Em 2006, foram realizadas pesquisas para o desenvolvi-

preparações padronizadas para pacientes disfágicos, viscosi-


dades ajustadas de acordo com a ADA, composição química e
-
dores e pacientes disfágicos, para ingestão dietética segura28.

Os diferentes tipos de viscosidade podem ser alcançados


por meio de diluições apropriadas, utilizando-se leite ou água, a
partir de preparações na viscosidade de pudim. As proteínas do
leite e soro possuem a capacidade de aumentar a viscosidade de
diferentes sistemas de alimentos, pois possuem comportamento
reológico e propriedades funcionais tecnológicas importantes32. Figura 1
na consistência pudim. pH = 3,73; viscosidade = 2000 cP; quantidade de água
para diluição = 0 mL

estimulação gustativa e do trigêmio pelo ácido33.


Um fator considerado limitante para ajuste da viscosidade é

da consistência das preparações, o que não garante uma ingestão

preparação de creme de palmito na consistência de pudim. Nela,


observa-se como características principais a formação de um

preparação na consistência de mel, no qual observa-se a

“V” característico.

rala da mesma preparação, como o próprio nome diz, observa- Figura 2 –


na consistência mel. pH = 3,69; viscosidade = 1080 cP; quantidade de água
para diluição em 100 mL da receita na viscosidade pudim = 14,23 mL
Essas alternativas consideradas simples, baratas e seguras,
-
dade de vida ao paciente disfágico sem se limitar a necessidade
de espessantes comerciais. Porém, ainda faltam orientações e
divulgação a respeito de como seguir uma correta preparação.

sua qualidade de vida e à redução de potenciais complicações,


por meio de programas de promoção de educação e saúde,
incluindo procedimentos especializados e programas de orien-
tações a cuidadores2.
Reavaliações periódicas e adequadas da condição de deglu-
tição são aspectos essenciais para a prevenção/recuperação
da desnutrição. Um estudo avaliou a adequação da dieta de
idosos institucionalizados, no qual 91% dos pacientes estavam
com dietas em consistência abaixo do que poderiam tolerar de
maneira segura. Tanto o estado nutricional como a qualidade
de vida podem ser afetados quando pacientes são mantidos em
dietas com viscosidade inapropriada4.
Figura 3
Os pacientes com disfagia podem apresentar saciedade rapi- na consistência néctar. pH = 3,71; viscosidade = 240 cP; quantidade de água
para diluição em 100 mL da receita na viscosidade pudim = 42,88 mL

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Cuidado nutricional na disfagia: uma alternativa para maximização do estado nutricional

paciente, prevenindo a desnutrição e estimulando o paciente a


desfrutar os prazeres de comer, levando em conta que é funda-

disfagia depende da elaboração de um programa terapêutico


que eleja um grupo de procedimentos capazes de causar efeitos

satisfatória no quadro geral do indivíduo. Porém, uma questão


-

Ainda é necessário desenvolver pesquisas, divulgações,


promoções de saúde e educação para atingir um patamar de
controle da disfagia, possibilitando oferecer a esta população
Figura 4
na consistência rala. pH = 5,36; viscosidade = 46 cP; quantidade de água para
diluição em 100 mL da receita na viscosidade pudim = 107,14 mL de vida digna.

REFERÊNCIAS
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pacientes devem receber porções menores e mais frequentes31. É 1. Jacobi J, Levy DS, Silva LMC. Disfagia: avaliação e tratamento. Rio de
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among community-dwelling elderly individuals as estimated using a

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37
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o objetivo de maximizar a qualidade de vida do paciente e a 2004;20(5):497-505.


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Local de realização do Trabalho:

Rev Bras Nutr Clin 2009; 24 (3): 203-10


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