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Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento


ISSN 1981-9919 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o de P e s q u i s a e E n s i n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
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ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS E ALIMENTARES EM OBESOS


APÓS GRUPO DE INTERVENÇÃO

Amoysa Araújo Ribeiro1, Vanessa Teixeira de Lima Oliveira2, Ricardo Andrade Bezerra1

RESUMO ABSTRACT

Introdução: A obesidade é doença, Behavioral and eating disorders in obese


considerada um dos principais problemas de patients after intervention group
saúde pública. E está relacionada com o
surgimento de outras Doenças Crônicas Não Introduction: Obesity is a disease, considered
Transmissíveis (DTAS). Porém é uma one of the main public health problems. And it
condição que pode ser enfrentada e revertida. is related to the emergence of other Chronic
Para isso existem diversas formas de Noncommunicable Diseases (DTAS).
tratamento, entre eles destaca-se a However, it is a condition that can be faced
metodologia em grupo, que tem sido and reversed. For this there are several forms
fortemente indicada. Objetivo: avaliar as of treatment, among which the group
alterações comportamentais e alimentares de methodology stands out, which has been
pacientes com obesidade após intervenção de strongly recommended. Objective: to evaluate
grupo terapêutico, em Unidades Básicas de the behavioral and alimentary changes of
Saúde no Município de Caicó-RN. Métodos: patients with obesity after intervention of
Trata-se de um estudo de intervenção quase therapeutic group in Basic Units of Health in
experimental. A amostra foi composta por 50 the Municipality of Caicó-RN. Methods: This is
indivíduos, de ambos os sexos, na qual foram a quasi-experimental intervention study. The
aplicados os questionários de Avaliação de sample consisted of 50 individuals of both
Estágios de Mudança na Perda de Peso sexes, in which the questionnaires of Stages of
(Modelo Transteórico); Escala de Compulsão Change in Weight Loss (Transtheoric Model)
Alimentar Periódica (ECAP); Escala de were applied; Periodic Feed Compulsion Scale
Silhuetas de Stunkard (Imagem corporal) e (ECAP); Stunkard Silhouettes Scale (Body
Questionário de Frequência Alimentar (QFA). Image) and Food Frequency Questionnaire
Avaliou-se o estado nutricional, por meio de (QFA). Nutritional status was assessed by
medidas antropométricas. Resultados: Foram means of anthropometric measurements.
observadas, para o grupo de alta adesão a Results: The intervention group was observed
intervenção, melhorias nas atitudes for the high adherence group, improvements in
comportamentais, com avaliação do Modelo behavioral attitudes, with evaluation of
Transteórico, ECAP e percepção da imagem Transtheoric Model, ECAP and body image
corporal. Alterações no consumo alimentar perception. Changes in dietary intake with
com aumento da ingestão de salada crua, increased intake of raw salads, vegetables and
legumes e frutas (p=0.049, 0.030 e 0.001, fruits (p=0.049, 0.030 and 0.001, respectively)
respectivamente. E redução das medidas and reduction of anthropometric means BMI,
antropométricas IMC, CC, CA e %GC CC, CA and% GC (p=0.003, 0.008, 0.015 and
(p=0,003; 0,008; 0,015 e 0,024, 0.024, respectively) between the two moments
respectivamente) entre os dois momentos de of evaluation. Conclusion: This strategy proved
avaliação. Conclusão: Destaca-se que essa to be positive for coping with obesity, however,
estratégia se mostrou positiva para o there is a need for further studies for a
enfrentamento da obesidade. Contudo, há referential basis that encourages its application
necessidade de mais estudos para base in the actions of health teams.
referencial que estimule a aplicação dela nas
ações das equipes de saúde. Key words: Obesity. Public health. Behavioral
Therapy. Nutritional Therapy.
Palavras-chave: Obesidade. Saúde Pública.
Terapia Comportamental. Terapia Nutricional.

1-Universidade Federal do Rio Grande do 2-Universidade Federal do Rio Grande do


Norte (UFRN), Escola Multicampi de Ciências Norte (UFRN), Faculdade de Ciências em
Médica (EMCM), Caicó, Rio Grande do Norte, Saúde do Trairí (FACISA), Santa Cruz, Rio
Brasil. Grande do Norte, Brasil.

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INTRODUÇÃO Nesta se destaca a avaliação dos


estágios motivacionais para mudança de
A obesidade é considerada um dos comportamento (Modelo Transteórico), que
principais problemas de saúde pública (Wang tem sido indicado pelo Caderno de Atenção
e colaboradores, 2011), e sua prevalência vem Básica, destinado a este público, pois subsidia
aumentando de forma significativa, durante os as estratégias terapêuticas que melhor se
últimos anos, entre a população mundial e adequem ao paciente, de acordo com o
brasileira (Brasil, 2014), sendo uma das estágio no qual este se encontre (Brasil, 2014).
principais causadora de doenças que podem Os estágios são divididos em:
ser evitadas (Janssen, 2013). 1) Pré-contemplação, onde não há o
Caracteriza-se como uma Doença verdadeiro interesse na mudança;
Crônica Não Transmissível (DCNT), e ainda 2) Contemplação, há o início de
pode estar associada ao desenvolvimento de pensamentos de alterar comportamento em
outras DCNT, dentre as quais se destacam o prazo inferior a seis meses;
diabetes mellitus (tipo 2), as dislipidemias e 3) Preparação, o indivíduo possui
doenças cardiovasculares, que têm sido as interesse em mudar, de forma mais ativa, em
principais causas de óbitos em adultos curto espaço de tempo (um mês);
(ABESO, 2016; Schmidt e colaboradores, 4) Ação, já se adota novos
2011). comportamentos em um período inferior a seis
A obesidade possui etiologia meses;
multifatorial, que engloba questões biológicas, 5) Manutenção, há permanecia por
econômicas, sociais, culturais e políticas. mais de seis meses da adoção dos novos
Pode-se considerar o balanço energético comportamentos (Lechner e colaboradores,
positivo, ou seja, a quantidade de energia 1998; Toral, Slater, 2007).
consumida maior do que a quantidade gasta, o Ainda, é imprescindível que se
determinante mais predominante do acúmulo recolham informações sobre a ingestão
excessivo de gordura. alimentar, prática de atividade física,
Além deste, correlacionam-se o condições socioeconômicas, história social,
aumento do sedentarismo e a desregulação estado nutricional, questões comportamentais
de aspectos e processos psicológicos e psíquicas, como avaliação do comer
(ABESO, 2016; Deluchi, Souza, Pergher, compulsivo, imagem corporal, ansiedade,
2013; Raman, Smith, Hay, 2013). entre outros (Brasil, 2014; ABESO, 2016).
Embora a obesidade não seja Para o sucesso do tratamento, deve-
considerada um transtorno mental, é sabido se levar em conta tanto terapias voltadas para
que a mesma está associada a perturbações área alimentar e nutricional, como para
comportamentais e emocionais ligadas à modificação comportamental, as quais devem
alimentação, e apresenta comorbidades estar atrelados durante as ações (ABESO,
relacionadas a transtornos psicológicos, como 2016).
ansiedade, depressão, transtornos A Terapia Nutricional (TN) visa à
alimentares, compulsão alimentar, baixa adoção de uma alimentação saudável e
autoestima e distorção da imagem corporal equilibrada com uma reeducação que melhore
(Deluchi, Souza, Pergher, 2013; American o comportamento alimentar, regulando a
Psychological Association, 2014). qualidade e quantidade das refeições, bem
Alguns estudos têm indicado a como estabelecer o consumo alimentar
importância de haver uma visão ampliada para variado (Brasil, 2014; Brasil, 2008).
o tratamento e enfrentamento da obesidade, Já em relação à modificação
atentando-se tanto a questões relacionadas à comportamental, têm-se destacado fortemente
alimentação, à prática de atividade física, o programa de Terapia Cognitvo-
como disfunções cognitivas e hábitos Comportamental (TCC), que procura produzir
comportamentais (Paiva, 2014; Vannuchi e mudanças emocionais e comportamentais
colaboradores, 2016; Melo e colaboradores, duradouras através da mudança cognitiva,
2014). auxiliando o paciente a perceber situações
Para que o tratamento da obesidade que facilitam a não aderência ao tratamento,
seja mais efetivo, é importante que haja uma bem como estímulos que levam ao comer
avaliação minuciosa de questões que podem desregulado, para que assim possam ser
interferir na adesão. adotas estratégias para evitá-los (Beck, 2014).

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A metodologia de grupo de Família (ESF) e os residentes da Residência


intervenção constitui uma boa forma para Multiprofissional em Atenção Básica da
utilização das diferentes terapias acima Universidade Federal do Rio Grande do Norte
citadas, sendo uma estratégia de construção (UFRN), no qual houve um levantamento dos
coletiva de conhecimento que permite seus pacientes que provavelmente se
participantes observarem modelos adequados enquadrassem nos requisitos citados.
para aprendizagem e auxílio na modelação do Realizou-se busca ativa em domicílio, de cada
comportamento, favorecendo o um destes, aos quais foram apresentados o
empoderamento dos indivíduos sobre suas objetivo da pesquisa, bem como os riscos e
próprias condições de saúde (Brasil, 2014). benefícios inerentes à mesma, sendo feito o
Diante exposto, este estudo objetiva convite para a participação na mesma.
avaliar as alterações comportamentais e As etapas de avaliação aconteceram
alimentares de pacientes com obesidade após nas próprias UBS, em salas reservadas, de
grupo de intervenção em Unidades Básicas de forma a preservar a identidade dos
Saúde no Município de Caicó-RN. participantes. Inicialmente foram avaliados 59
usuários, contudo, foram excluídos seis,
MATERIAIS E MÉTODOS devido os critérios de inclusão. E houve
desistência de três participantes no momento
O presente estudo possui da segunda avaliação, totalizando ao final uma
delineamento de intervenção quase amostra de 50 participantes na pesquisa.
experimental, no qual realizou-se a O levantamento dos dados aconteceu
comparação com os mesmos sujeitos nos por meio de um questionário estruturado, do
períodos pré e pós a realização de um grupo qual foram coletados dados
de intervenção. sociodemográficos, de estilo de vida e
Os participantes eram usuários de presença de comorbidades.
Unidades Básicas de Saúde (UBS), no Além disso, foram aplicados alguns
Município de Caicó, situado no interior do inquéritos referentes às atitudes
estado do Rio Grande do Norte, região do comportamentais e alimentares:
Seridó, a 282 km da capital, Natal. 1) Avaliação de Estágios de Mudança na
O projeto segue os preceitos éticos Perda de Peso (Modelo Transteórico), utilizou-
para pesquisa com seres humanos definidos se o formato recomendado pelo Caderno de
na Resolução Nº466/2012, e obteve parecer Atenção Básica (CAB) para pessoas com
favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da obesidade, é uma adaptação do algoritmo
Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí- adotado por Hawkins, Hornsby e Schorling
UFRN, segundo número 2.664.722, CAAE: (2001), bastante utilizado em avaliação desses
87690118.0.0000.5568. pacientes, antes das intervenções nutricionais;
Foram convidados a participar 2) Escala de Compulsão Alimentar Periódica
indivíduos de ambos os sexos, que atendiam (ECAP), classifica a presença de compulsão
aos critérios de inclusão: possuir idade entre alimentar de acordo com os escores obtidos
18 e 69 anos e apresentando algum tipo de com a pontuação das respostas. São
obesidade (IMC≥ 30,0 Kgm2), com presença considerados os seguintes pontos de corte:
ou não de comorbidades associadas, e que Leve/Sem Compulsão Alimentar (0-17),
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Compulsão Alimentar Moderada (18-26) e
Esclarecido (TCLE). Os critérios para exclusão Compulsão Alimentar Severa (27-46). A
foram: apresentar transtornos de mesma possui alta consistência interna no
desenvolvimento, psicóticos, por uso de estudo original (α=.85) (Gormally e
substâncias, e ideação ou tentativa de suicídio colaboradores, 1982);
no último ano. 3) Escala de Silhuetas de Stunkard, produzida
O estudo se desenvolveu em quatro primeiramente por Stunkard e colaboradores
etapas: (1) Seleção de participantes; (2) (1983), e passou posteriormente por várias
Avaliação pré-intervenção, antecedente ao adaptações e validações. A escala para
início do grupo terapêutico; (3) pessoas adultas conta com 15 imagens de
Desenvolvimento do grupo terapêutico; (4) silhuetas, evoluindo de um corpo mais magro
Avaliação pós-intervenção, realizada após para um de maior peso. Essas imagens se
término do grupo. correlacionam com três médias de IMC, que
A primeira etapa se deu juntamente classificam a imagem;
com as Equipes de Estratégia de Saúde da

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4) Questionário de Frequência Alimentar Aconteceu por meio de seis encontros,


(QFA), é um formulário de marcadores de no período de 05 de novembro a 14 de
consumo alimentar, indicado pelo Sistema dezembro de 2018, sendo uma sessão por
Nacional de Vigilância Alimentar (Brasil, 2008), semana, com duração de aproximadamente
que avalia a frequência em que o indivíduo 90 minutos cada.
consumiu alguns alimentos ou bebidas nos A condução foi realizada por
últimos 7 dias. profissional nutricionista residente, contando
Também foi realizada avaliação do com a participação de fisioterapeuta e
estado nutricional por meio de medidas psicóloga em alguns encontros, que envolviam
antropométricas; todas as medidas passaram as temáticas voltadas a estes saberes. Utilizou
por duas aferições a fim de obter uma maior técnicas de terapia nutricional, e algumas
fidedignidade e precisão das mesmas. estratégias baseadas na Terapia Cognitivo-
Coletaram-se dados de peso e estatura para o Comportamental (TCC), fundamentadas no
cálculo Índice de Massa Corporal (IMC) e sua livro Pense Magro de Judith Beck (Beck,
classificação (World Health Organization, 2009).
1995), Circunferência da Cintura (CC) e A terapêutica nutricional aconteceu por
Circunferência Abdominal (CA) para meio de oficinas abordando temáticas de
associação com doenças cardiovasculares âmbito alimentar e nutricional; já as estratégias
(World Health Organization, 1998), e dobras comportamentais foram incorporadas em
cutâneas (bicipital, tricipital, supra-ilíaca, sub- abordagens durante os encontros. Além disso,
escapular) para cálculo de percentual de aplicou-se a estratégia de metas semanais,
gordura corporal (%GC) (Pollock, Wilmore, onde foram lançadas tarefas que
1993). promovessem as mudanças de hábitos
O peso foi aferido com balança digital comportamentais e alimentares, para que os
Welmy para adultos, com capacidade máxima participantes pudessem realizar durante a
de 200 quilogramas (kg), e estatura através de semana, até a condução do novo encontro.
estadiômetro fixado à balança. Para as O plano de ação dos seis encontros
circunferências foi utilizada fita métrica semanais foi baseado no estudo Efeitos de
inelástica de dois metros. As dobras cutâneas Intervenção Interdisciplinar em Grupo Para
foram aferidas utilizando o plicômetro Pessoas com Diagnóstico de Sobrepeso ou
(Cercorf), com regulagem do “zero”. Obesidade (Santos, 2010).
A formação e condução do grupo As atividades terapêuticas utilizadas
terapêutico, denominado “Peso Saudável”, estão detalhadas na Tabela 1.
consistiram no processo de intervenção da
pesquisa.

Tabela 1 - Plano de ação dos encontros semanais do grupo “Peso saudável”.


Encontro Módulo Temático Descrição das ações
Contrato de convivência;
Dinâmica de apresentação do espelho;
Apresentação de vídeos sobre auto-estima X obesidade
Introdução ao grupo Roda de conversa: Qual a importância do emagrecer para mim?
1º Encontro Auto-estima X Apresentação: auto-estima X obesidade;
Obesidade Apresentação dos encontros posteriores;
Entrega de material;
Meta semanal: Criar cartão de vantagens de emagrecer;
Aconselhamento: Que tal fazer exercícios físicos essa semana?
Checagem de cumprimento da meta semanal;
Música Titãs: Comida;
Dinâmica: Fome, apetite ou saciedade?
Você sabe o que é Roda de conversa: O que é obesidade;
2º Encontro
Obesidade? Entrega de material;
Meta semanal 1: Cartão de monitoramento da fome;
Meta semanal 2: Seguir orientações para controle de fome e saciedade;
Aconselhamento: Que tal fazer exercícios físicos essa semana?

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Checagem de cumprimento da meta semanal;


Dinâmica: montando meu prato;
Roda de conversa: Grupos e porções alimentares;
Conhecendo os grupos Apresentação: Como montar meu prato saudável?
3º Encontro
e porções alimentares Entrega de material.
Meta semanal1: Realizar e seguir um planejamento alimentar diário de acordo com grupos;
Meta semanal 2: Criar um cartão de monitoramento alimentar;
Aconselhamento: Que tal fazer exercícios físicos essa semana?!
Checagem de cumprimento da meta semanal;
Vídeos sobre “Dietas da Moda”
Apresentação: Principais “Dietas da Moda”
4º Encontro Dietas da Moda Roda de conversa: Devo seguir as “Dietas da Moda”?
Meta semanal 1: Cartão de principais dificuldades em seguir um planejamento alimentar.
Meta semana 2l: Encontrar alguém da família para participar do próximo encontro;
Aconselhamento: Que tal fazer exercícios físicos essa semana?!
Checagem de cumprimento da meta semanal;
Dinâmica: Flor da ansiedade
Roda de conversa: Ansiedade X Obesidade (participação de psicóloga)
Ansiedade X
Roda de conversa: Como a família pode apoiar?
5º Encontro Obesidade
Momento de relaxamento (participação de fisioterapeuta)
Apoio Familiar
Meta semanal 1: Criar cartão de atividades para quando estiver ansioso;
Meta semanal 2: Diário alimentar de 2 dias da semana;
Aconselhamento: Que tal fazer exercícios físicos essa semana?!
Checagem de cumprimento da meta semanal;
Dinâmica: Fortalecendo o vínculo.
Momento de relato: como foi a experiência grupal?
6º Encontro Finalização do grupo Roda de conversa: Como continuar enfrentando a obesidade.
Meta final: Criar um cartão de estratégias para continuar seguindo as metas alcançadas e
vencer as dificuldades do tratamento.
Finalização do grupo.

Para análise dos dados os intervenções. Foi considerado


participantes foram divididos em dois grupos: significativamente valores estatísticos de
Grupo sem/baixa adesão (n=26), onde p<0,05 e o IC de 95%.
incluíram-se aqueles indivíduos que
participaram de zero a três encontros, e grupo RESULTADOS
de alta adesão (n=24), que engloba os que
estiveram presentes em todos os momentos. O estudo apresentou amostra total de
Visto que, considera-se que a forma 50 participantes, as características
de adesão ao grupo é fator determinante para sociodemográficas apontam uma maior
o impacto das mudanças sobre as variáveis frequência de participantes do sexo feminino
estudadas. (86,0%), com uma média de 37,96 ± 10,28
Quanto à análise estatística, utilizou- anos, casados (60,0%), escolaridade de
se o Programa Statistical Package for the ensino fundamental incompleto e médio
Social Sciences (SPSS), versão 20.0. A completo (24,0% e 22,0%, respectivamente),
normalidade dos dados foi verificada pelo com moradia própria (48,0%), e renda de até
teste de Shapiro-wilk, para os dados um salário mínimo (52,0%). A maioria dos
paramétricos foram realizadas medidas de pacientes não era tabagistas nem faziam o
média e desvio padrão, e para os não consumo de bebida alcoólica (94,0% e 62,0%,
paramétricos utilizou-se mediana e intervalos respectivamente). Foram observadas algumas
interquartílicos, ainda se calculou as Doenças Crônicas Não Transmissíveis
frequências para descrição e representação (DCNT), entre os indivíduos, como hipertensão
de dados. Foram aplicados teste Qui- e diabetes (34,0% e 8%, respectivamente).
quadrado de Pearson e teste de Fisher para Os resultados referentes às questões
as análises de consumo alimentar do SISVAN; comportamentais, por meio da avaliação do
e Test -t pareado e de Wilcoxon para analisar Estágio de Mudança na Perda de Peso
possíveis diferenças das variáveis (Modelo Transteórico), Estado de Compulsão
antropométricas entre os momentos das Alimentar (ECAP) e percepção da imagem

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corporal (Escala de Silhuetas) estão descritas participantes para o estágio de ação após a
(Tabela 2). intervenção, estes encontravam-se
Os percentuais estão apresentados inicialmente, de forma predominante, no
comparando os momentos pré e pós estágio de preparação.
intervenção, de ambos os grupos. Quanto à compulsão alimentar, a
Observa-se, em relação ao modelo maioria dos participantes estavam
transteórico, que o grupo sem/baixa adesão classificados em um grau mais grave durante
praticamente manteve seus valores a avaliação inicial. Porém, na segunda fase da
percentuais nos mesmos estágios de pesquisa foi constatada redução desta
mudança, entre os dois momentos de condição para um grau mais moderado,
avaliação. apenas no grupo de maior adesão a
Por outro lado, para o grupo de alta intervenção.
adesão teve-se uma progressão de todos os

Tabela 2 - Percentuais de Inquéritos Comportamentais: Modelo Transteórioco, ECAP e Escala de


Silhuetas (Imagem Corporal), entre os momentos pré e pós-intervenção, dos grupos segundo a
adesão a intervenção.
Grupo Sem/Baixa Adesão Grupo Alta Adesão
(n=26) (n=24)
Pré - Pós - Pré - Pós -
intervenção intervenção intervenção intervenção
Contemplação 0,0% 0,0% 4,2% 0,0%
Modelo Transteórico Preparação 65,4% 53,8% 91,7% 0,0%
Ação 34,6% 46,2% 4,2% 100,0%
Sem compulsão 3,8% 3,8% 0,0% 4,2%
Compulsão
Compulsão moderada 38,5% 34,6% 33,3% 70,8%
Alimentar
Compulsão grave 57,7% 61,5% 66,7% 25,5%
Imagem corporal < IMC 3,8% 3,8% 4,2% 4,2%
Escala de Silhuestas Imagem corporal = IMC 53,8% 57,7% 37,5% 50,0%
Imagem corporal > IMC 42,3% 38,5% 58,3% 45,8%

Tabela 3 - Associação do consumo alimentar pelo SISVAN, pré e pós grupo terapêutico, por grupos
segundo adesão à intervenção.
Grupo sem/baixa Grupo alta adesão Valor
adesão (n=24) (p)
(n=26)
Frequência de Consumo Alimentar <5x ≥5x <5x ≥5x
Salada crua 21 5 17 7 0,410
Legumes 26 0 24 0 -
Frutas 19 7 10 14 0,250
Feijão 13 13 13 11 0,768
Leite 20 6 20 4 0,728
Pré-intervenção
Fast-food 25 1 20 4 0,182
Embutidos 25 1 23 1 1,000
Cereais refinados 14 12 10 14 0,389
Doces 22 4 18 6 0,490
Refrigerante 24 2 23 1 1,000
Salada crua 19 7 11 13 0,049*
Legumes 26 0 20 4 0,030*
Frutas 20 6 7 17 0,001*
Feijão 13 13 14 10 0,555
Leite 19 7 15 9 0,423
Pós-intervenção
Fast-food 25 1 24 0 1,000
Embutidos 25 1 24 0 1,000
Cereais refinados 16 10 19 5 0,174
Doces 25 1 24 0 1,000
Refrigerante 25 1 23 1 1,000
Legenda: o valor 5x se refere aos dias da semana.

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Tabela 4 - Diferenças das variáveis antropométricas, pré e pós grupo terapêutico por grupos segundo
adesão à intervenção.
Pré-intervenção Pós-intervenção Valor (p)
Grupo IMC 38,98±5,97a 39,04±5,82a 0,601
sem/baixa Circunferência cintura 103,00 (95,75 - 112,50)b 102,00 (94,75 - 115,00) b 0,902
adesão Circunferência abdominal 111,00 (102,75 - 120,50) b 110,50 (104,5 -120,25) b 0,285
(n=26) Percentual de gordura 43,52 (41,33 -45,38) b 43,70 (41,55 - 46,22) b 0,175
IMC 38,30±4,76a 37,81±4,89a 0,003*
Grupo alta
Circunferência cintura 100,50 (96,50 - 109,00) b 99,50 (94,00 - 106,50) b 0,008*
adesão
Circunferência abdominal 113,50 (108,00 - 118,75) b 111,50 (105,50 -117,75) b 0,015*
(n=24)
Percentual de gordura 44,21 (41,30 - 46,19) b 42,13 (39,95 - 45,33) b 0,024*

Tratando-se da percepção corporal, a transmitem informações sobre temáticas


maior parte dos integrantes, possuíam uma importantes, favorecem oportunidade para o
visão própria que representava um IMC igual compartilhamento de desafios, inseguranças e
ou superior ao que realmente apresentavam dúvidas, auxiliando na construção de vínculos
antropometricamente, no momento pós- e na comunicação, estimulando e motivando
intervenção, houve uma leve redução seus participantes na adesão ao tratamento
daqueles que se viam com IMC superior para (Melo e colaboradores, 2014; Rocha e
igual, em ambos os grupos, contudo de forma colaboradores, 2015).
mais acentuada no grupo alta adesão. Tratando-se da avaliação do modelo
A Tabela 3 apresenta dados do transteórico, é possível observar que muitos
consumo alimentar dos usuários, referentes às pacientes, quando procuram tratamento para
duas avaliações realizadas, considerando-se perda de peso, encontram-se entre estágios
um consumo menor ou maior a 5 vezes de contemplação e preparação. Isto pode ser
durante a semana. Diferenças estatisticamente visto em dois estudos, realizados com
significativas foram observadas para o indivíduos obesos, que buscavam tratamento
consumo de salada crua, legumes e frutas para perda de peso, um realizado com 48
(p=0.049, 0.030, 0.001, respectivamente). participantes de um ambulatório de Nutrição
Para estes, pôde-se observar aumento do Clínica do Hospital Universitário da
consumo alimentar daqueles participantes Universidade Federal de Juiz de Fora
pertencentes ao grupo de alta adesão a (HU/UFJF) (Moraes, Oliveira, 2011), e outro
intervenção. com 30 mulheres da Intranet da Irmandade da
As variáveis antropométricas de CC e Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
CA, cálculos de IMC e percentual de gordura (ISCMPA) atendidas pelo Setor de Psicologia
corporal, obtiveram resultados estatísticos do Centro do Tratamento da Obesidade
significativos, somente para o grupo de alta (CTO). Nestes foram averiguados, de forma
adesão a intervenção. predominante, os estágios de contemplação
Para estas, comparou-se as (41,7%) e a preparação em (93,3%) entre os
diferenças entre os valores da primeira e entrevistados, respectivamente (Leão e
segunda avaliação, no qual foram constatadas colaboradores, 2015).
redução delas ao segundo momento. Contudo, nem sempre os pacientes
conseguem ter uma efetiva mudança de
DISCUSSÃO comportamentos e hábitos, uma vez que
procuram o tratamento para perda de peso
Baseado nos resultados obtidos, sem a motivação necessária. Porém, o
observam-se algumas melhorias de aconselhamento profissional pode auxiliar no
características comportamentais, entre aumento de tal motivação, promovendo mais
aqueles participantes que apresentaram maior chances de adesão às terapêuticas e sucesso
adesão ao grupo de intervenção “Peso nas mudanças necessárias (Leão e
Saudável”. colaboradores, 2015).
Tem sido relatado, por alguns autores, Este fato pode ser visto, no presente
que a metodologia de grupo de intervenção estudo, uma vez que foi constatada uma
tem obtido sucesso no tratamento de predominância dos participantes no estágio de
pacientes com sobrepeso ou obesidade, visto preparação, no momento pré-intervenção, mas
que estes encontros suscitam discussões e boa parte destes apresentou uma baixa

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adesão aos encontros do grupo, relatando impulsionam o ato de comer de forma


principalmente a falta de tempo e desregulada e compulsiva, interferindo na
disponibilidade, não conseguindo aderir ao manutenção das mudanças já adquiridas
tratamento e as mudanças de comportamento. (Leão e colaboradores, 2015).
Entretanto, os indivíduos que se dedicaram de Em termos de percepção corporal, é
forma efetiva a intervenção, obtiveram natural que muitas pessoas com obesidade
melhoras expressivas em alguns apresentem disparidade para com sua imagem
comportamentos, tanto psicos quanto corporal, enxergando-se muitas vezes com um
alimentares, progredindo para o estágio de tamanho exagerado, passando a desaprovar e
ação neste inquérito. hostilizar o próprio corpo. Estabelecem uma
Não foram encontrados estudos imagem depreciativa de si, podendo tornar-se
avaliando este modelo antes e após uma inseguros, sem confiança, e com baixa
intervenção terapêutica para perda de peso. autoestima (Lima, Oliveira, 2016; Melo e
Porém, autores afirmam que o modelo colaboradores, 2014).
transteórico é uma importante ferramenta para Sendo assim, é importante ajudar o
o âmbito nutricional, pois permite checar o indivíduo a superar essa autopercepção
estágio motivacional do paciente, e assim negativa, por meio da modificação dos
determinar as estratégias para aquele pensamentos disfuncionais em relação ao
momento, contribuindo para maior adesão ao formato corporal e peso (Neufeld, Moreira,
tratamento e a hábitos alimentares saudáveis Xavier, 2012; Nunes e colaboradores, 2006).
(Leão e colaboradores, 2015; Sader, Macedo, Este foi um ponto abordado durante as
2012). sessões do grupo terapêutico realizado, o que
Com relação à Compulsão Alimentar proporcionou, mesmo que de forma tímida,
Periódica (CAP), a maioria dos participantes uma melhoria na percepção corporal e
apresentou algum grau de compulsão, porém autoestima de alguns pacientes, possibilitando
uma redução do grau grave para moderado foi a tais se observarem de forma mais fidedigna
constatada no grupo de alta adesão. Isto pode com a realidade.
ser atribuído à utilização das estratégias da O consumo alimentar foi variável que
TCC, com a utilização de metas semanais que também apresentou alterações, havendo
foram incorporadas ao cotidiano dos aumento da ingestão de saladas crua,
participantes, fazendo-os adotar as medidas legumes e frutas, dos participantes que
de forma gradual. apresentaram uma boa adesão ao grupo de
Lima e Oliveira (2016), afirma que as intervenção.
estratégias da TCC se mostram importantes Houve aumento também do consumo de leite
no tratamento de indivíduos com obesidade, e diminuição do consumo de cereais refinados
uma vez que reestrutura os processos e doces, porém sem diferenças
disfuncionais subjacentes, sejam eles estatisticamente significantes.
cognitivos, afetivos e comportamentais, Estudos baseados em encontros com
contribuindo para adesão a mudanças, intervenção nutricional e comportamental
emagrecimento e qualidade de vida do sujeito. apresentam resultados convergentes com os
Alguns estudos condizem com o aqui encontrados.
resultado aqui encontrado, mostrando que Como o realizado por França e
indivíduos obesos apresentam algum grau de colaboradores (2012), que destaca não ter
compulsão alimentar (Lima, Oliveira, 2016) verificado diferença significativa em nenhum
(Klobukoski, Höfelmann, 2017). E que dos grupos de alimentos nos períodos antes e
intervenções terapêuticas utilizando a TN e após sessão do grupo.
TCC auxiliam na redução desta condição Porém, nos valores médio, mínimo e
(Neufeld, Moreira, Xavier, 2012). máximo de cada grupo de alimentos,
Contudo, essas regressões são lentas, principalmente leite e derivados, doces,
onde o indivíduo passa a apresentar um bebidas adoçadas, tiveram aproximação com
estágio de compulsão mais leve, todavia, os valores preconizados pelo guia alimentar.
podendo apresentar recaídas. Outros estudos ainda apontam que,
Essa dificuldade se dá porque após intervenção, seus participantes
pacientes com CAP possuem pensamentos diminuíram o consumo de produtos
distorcidos, que interferem no próprio industrializados, carboidratos refinados e
tratamento, estando mais propensos a serem carnes vermelhas, aumentaram consumo de
afetados por questões emocionais que verduras, leites e derivados, leguminosas, e

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mantiveram consumo de frutas, ovos e carnes escolhas de melhor qualidade, quanto para
brancas (Vannuchi e colaboradores, 2016) redução e controle ponderal.
(Pereira e colaboradores, 2015). Além disso, alega-se que suas
Contudo, uma dificuldade da utilização alterações se mantém em longo prazo, pois
do questionário QFA é identificar as porções permite a troca de informações e saberes,
exatas de consumo diário, uma vez que ele só ampliando o poder de escolha por hábitos de
identifica se houve ou não o consumo durante vida saudáveis, possibilitando a
a semana. corresponsabilização e autocuidado do
Sendo assim, adotou-se para esta paciente, que traz as modificações e as
pesquisa, o consumo maior ou menor que incorpora ao seu tempo, até torná-las de
cinco vezes, que é o recomendo pelo Guia hábito cotidiano.
Alimentar para o consumo de alguns alimentos Além disso, permite um planejamento
de boa qualidade (frutas, verduras, legumes). alimentar mais flexível, considerando
Porém, para alimentos que devem ser preferências alimentares, questões financeiras
consumidos de forma esporádica ou não e estilo de vida.
consumidos, como embutidos, refrigerantes, Diferente de algumas dietas restritivas
doces, não existe um valor determinado. e rígidas, focadas na perda de peso, onde há
Por isto, mesmo sendo observada uma alta restrição que o paciente não
uma ingestão destes alimentos menor que consegue ser sustentável a longo tempo
cinco vezes, não significa que esta ingestão (ABESO, 2016; Pereira e colaboradores,
esteja adequada, pois os participantes muitas 2015).
vezes não atingiam um alto consumo, mas o
realizavam de 2 a 3 vezes na semana, sendo CONCLUSÃO
ainda considerado prejudicial.
Além dessa, algumas outras limitações O grupo de intervenção “Peso
podem ser destacadas, neste estudo, como a Saudável” obteve impacto positivo nas
ausência de um grupo controle para que alterações alimentares e antropométricas,
houvesse maior fidedignidade dos resultados além de melhoria em atitudes
alcançados. Bem como um maior período de comportamentais dos participantes que
intervenção, onde pudessem ser discutidas apresentaram uma boa adesão a metodologia.
outras temáticas importantes para educação Destaque-se que o intuito inicial desta
alimentar e atitudes comportamentais. pesquisa foi alcançando, confirmando a
A respeito das medidas importância deste tipo de estratégia para o
antropométricas, os participantes enfrentamento da obesidade.
apresentaram uma média de IMC apontado Tais considerações permitem também
para obesidade grau II, CC e CA com valores salientar a importância de mais estudos neste
que indicam alto risco para o desenvolvimento sentido, uma vez que esta metodologia de
de doenças cardiovasculares e percentual de grupos tem sido indicada como de alta
gordura muito elevado. potencialidade para o tratamento de
Averiguou-se redução significativa obesidade e outras doenças crônicas, além de
destas medidas entre os participantes que as pesquisas servirem como base referencial
frequentaram o grupo de intervenção de forma para que posteriormente equipes de saúde
mais assídua. possam aplicar esta estratégia em seu leque
Estudos abordando intervenções de ações.
baseadas na terapia nutricional e
comportamental, em grupos de intervenção REFERÊNCIAS
voltados para perda de peso, apresentaram
resultados semelhante aos aqui encontrados, 1-ABESO. Associação Brasileira para o
com diminuição das medidas antropométricas Estudo da Obesidade e da Síndrome
(peso, IMC e CC) de participantes que Metabólica. Diretrizes brasileiras de
realizavam mais sessões grupais (Vannuchi e obesidade. São Paulo. ABESO. Num. 4. 2016.
colaboradores, 2016; Neufeld, Moreira, Xavier, p.1-186.
2012; França e colaboradores, 2012).
Sendo assim, destaca-se que a 2-American Psychological Association-APA.
modificação dos hábitos alimentares, por meio Manual diagnóstico e estatístico de
da TN, possui repercussão positiva, tanto para transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre.
Artmed. 5ª edição. 2014.

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