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AVALIAÇÃO

NUTRICIONAL

Bianca Duarte Beck


Avaliação nutricional
do adulto e do idoso
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer os parâmetros mais utilizados na avaliação nutricional


de adultos e idosos.
„„ Relacionar as implicações de possíveis agravos da condição nutricional,
na fase adulta, com a senescência.
„„ Identificar as principais limitações na avaliação física e do consumo
alimentar de idosos.

Introdução
Sabe-se que a avaliação do estado nutricional envolve o exame das
condições físicas do indivíduo, o seu comportamento e os componen-
tes bioquímicos dos nutrientes ingeridos, bem como a qualidade e a
quantidade deles. Também, é compreendido que durante os ciclos da
vida, a avaliação nutricional deve direcionar a sua análise para diferentes
parâmetros que estão em constante mudança, necessitando que o nu-
tricionista estabeleça o diagnóstico nutricional respeitando a idade e a
fisiologia do paciente.
Neste capítulo, você irá estudar a avaliação nutricional do adulto
e do idoso, observando as principais e fundamentais diferenças que
devem ser consideradas. Ainda, será capaz de identificar os parâmetros
mais utilizados na avaliação nutricional de adultos e idosos, além de
associar as implicações de possíveis agravos, da condição nutricional, à
senescência e, por fim, identificar as principais limitações na avaliação
física e do consumo alimentar de idosos.
2 Avaliação nutricional do adulto e do idoso

Parâmetros da avaliação nutricional


de adultos e idosos

Avaliação nutricional do adulto


A avaliação nutricional, nos diferentes ciclos de vida, abrange parâmetros que
devem ser avaliados e analisados em conjunto, para que se estabeleça o diag-
nóstico nutricional preciso e, com isso, seja estabelecido o plano de intervenção
mais adequado. Tais parâmetros são compostos por avaliações da história
clínica, exame físico e antropométrico, além de parâmetros bioquímicos.
Por se tratar de uma avaliação individualizada, a determinação dos parâ-
metros, que serão utilizados, irá depender do objetivo do profissional de saúde
e das condições de atendimento. Estabelecidas essas condições, o nutricionista
irá realizar a escolha de um ou mais métodos associados.

História clínica

Para a definição da história clínica, a anamnese é considerada fundamental. A


entrevista de anamnese deve envolver aspectos relevantes como (SILVA, 2000):

„„ perda de peso: acima de 10% é significativa;


„„ maneira como a perda de peso aconteceu, se de modo contínuo ou com
recuperações, avaliando a situação nas duas últimas semanas;
„„ alterações do padrão alimentar: devem ser avaliadas em relação à du-
ração (em semanas) e ao tipo (quantitativa e qualitativa);
„„ presença de sintomas gastrointestinais: anorexia, náusea, vômitos e
diarreia (pelo menos três evacuações líquidas por dia) são considerados
importantes, quando estão presentes de forma contínua por mais de
15 dias;
„„ avaliação da capacidade funcional: está relacionada a alterações de
atividades físicas habituais do paciente, podendo obrigá-lo desde a
interrupção das atividades cotidianas, até o grau extremo de inatividade,
em que o paciente permanece acamado a maior parte do tempo;
„„ demanda metabólica: são investigadas situações que causam o aumento
de requerimentos nutricionais, como infecções, trauma, queimaduras,
fraturas, sepse, gravidez e lactação;
„„ antecedentes médicos: cirurgias prévias com localização de ressecções
intestinais, doenças crônicas e suas complicações;
„„ uso de medicamentos: pode afetar o estado nutricional;
Avaliação nutricional do adulto e do idoso 3

„„ história social: nela há aspectos importantes a serem investigados,


geralmente, eles influenciam a compreensão sobre a doença e podem
incluir fatores de risco que afetam a adesão ao tratamento;
„„ história dietética: refere-se a uma revisão dos padrões usuais de inges-
tão de alimentos, utilizando técnicas especiais, a mais conhecida é o
recordatório alimentar (método qualitativo que investiga tudo o que o
paciente ingeriu nas últimas 24 horas).

Exame físico

O exame físico orienta o nutricionista para a detecção de carências nutricio-


nais. Por isso, ele deve ser minucioso, com o objetivo de identificar sinais de
deficiências específicas de nutrientes. Enquanto que a avaliação do exame
físico geral proporciona muitas informações úteis, como:

„„ sinais de depleção nutricional: perda de tecido subcutâneo na face,


tríceps, coxas e cintura;
„„ perda de massa muscular nos músculos quadríceps e deltoide, ressal-
tando que o repouso prolongado leva à atrofia muscular;
„„ presença de edema em membros inferiores, região sacral e ascite;
„„ coloração de mucosas: palidez da anemia.

Detsky et al. (1987) sugerem um modelo de questionário-padrão que inves-


tigava aspectos da história clínica e de exame físico, denominado Avaliação
Subjetiva Global (ASG). A ASG permite a classificação em três categorias:
A = bem nutrido; B = moderadamente (ou suspeito de ser) desnutrido; C =
gravemente desnutrido. A aplicação da ASG tem sido, extensamente, estudada
na literatura, sendo validada, quando comparada a outros métodos e modi-
ficada para atender a situações clínicas diversas, como as de pacientes com
nefropatia, neoplasia, hepatopatia, HIV positivo e geriátricos.

Antropometria

Trata-se de um método não invasivo, de baixo custo e universalmente apli-


cável, disponível para avaliar o tamanho, proporções e composição do corpo
humano. A idade deve ser estabelecida pois, tanto as medidas recomendadas,
quanto os padrões de referência são considerados com base nela. Outro fator
que precisa ser considerado é o gênero, porque existem diferenças expressivas
entre o tamanho de homens e mulheres. Assim, a antropometria permite a
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obtenção de muitas informações, porém, peso, altura, suas combinações e


pregas cutâneas são os métodos antropométricos mais utilizados em estudos
epidemiológicos (LOHMAN; ROCHE; MARTORELL, 1988).

Altura e peso

„„ Altura: representa o maior indicador do tamanho corporal geral e do


comprimento dos ossos. Adultos são geralmente medidos em pé. Em
situações que não se possa medir a altura, por dificuldade de perma-
necer em pé ou problemas de coluna no adulto jovem, a envergadura
dos braços é equivalente à altura. Outra possibilidade é a utilização da
medida da altura do joelho;
„„ Peso: corresponde à soma de todos os componentes de cada nível da
composição corporal. É uma medida aproximada das reservas totais
de energia do corpo, logo mudanças no peso refletem alterações no
equilíbrio entre ingestão e consumo de nutrientes;
„„ Porcentagem de alteração de peso (%AP): é estabelecida pela compa-
ração do Peso Usual (PU), que é aquele apresentado usualmente pelo
indivíduo quando está saudável, com o Peso Atual (PA), que é medido
no momento da avaliação. Para isso, utiliza-se a fórmula %AP = (PA
– PH)/PH x 100;
„„ Peso Ideal (PI): é o padrão de referência para faixa etária e gênero.

Índice de Massa Corporal (IMC)

Os parâmetros de peso e altura representam as variáveis antropométricas


comumente disponíveis em estudos epidemiológicos. As suas combinações
medem o peso corporal corrigido pela altura, entretanto, não conseguem
distinguir adiposidade de massa muscular e edema. O IMC é considerado,
por diversos autores, o melhor indicador de massa corporal no adulto, porém
alguns pesquisadores destacam três limitações do método:

„„ Relação com a proporcionalidade do corpo — pessoas com as pernas


curtas para a sua altura terão o IMC aumentado;
„„ Relação com a massa livre de gordura, especialmente, em homens —
atletas e indivíduos musculosos podem ter o IMC na faixa da obesidade;
„„ Relação com a estatura — mesmo em indivíduos de baixa estatura pode
ser significativa, principalmente, em menores de 15 anos.
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Circunferências

Na avaliação nutricional, situações clínicas que necessitem de análise mais


completa podem se beneficiar da medida de circunferências corpóreas. As
circunferências são afetadas pelas massas gorda e muscular, além do tamanho
ósseo. Com o método é possível medir uma grande variedade de circunferências
corporais (HEYWARD; STOLARCZYK, 2000).

Dobras cutâneas

A gordura subcutânea corresponde a 50% da gordura armazenada do corpo e


pode refletir, de maneira precisa, o conteúdo de gordura corporal total, baseado
no fato de que a espessura da gordura é relativamente constante. A medida
das Dobras Cutâneas (DC) apresenta duas vantagens (LOHMAN; ROCHE;
MARTORELL, 1988):

„„ fornecer uma maneira simples e não invasiva de estimar a gordura


corporal;
„„ caracterizar a distribuição da gordura subcutânea.

Exames bioquímicos

Na avaliação nutricional bioquímica, os exames laboratoriais mais utilizados,


na população adulta, para triagem de doenças crônicas e/ou deficit nutricional
mais prevalente são o hemograma, glicemia de jejum e/ou pós-prandial, além
do perfil lipídico. A seguir, outros parâmetros bioquímicos que podem ser
avaliados (BOTTONI, 2000):

„„ estado proteico: as proteínas são essenciais para as funções reguladoras


(hormônios e enzimas) e estruturais (colágeno e elastina). As proteínas
séricas frequentemente avaliadas para determinação do estado nutri-
cional são albumina, transferrina e pré-albumina;
„„ balanço nitrogenado: este parâmetro possibilita monitorar a adequação
de terapia nutricional, avaliando o grau de equilíbrio entre a ingestão e
a excreção urinária de nitrogênio. Quando a ingestão é suficiente para
cobrir as perdas, é obtido um balanço positivo. Em cenários opostos,
as perdas superam as sínteses, assim é verificado um balanço negativo
(p. ex., trauma, sepse, queimaduras, fístulas, etc.). Pelas dificuldades
6 Avaliação nutricional do adulto e do idoso

técnicas, sua precisão somente se viabiliza em pacientes internados


em unidades metabólicas.

Avaliação nutricional do idoso


A literatura mostra que a avaliação do estado nutricional do idoso é complexa
em razão da influência de uma série de fatores. Eles necessitam de investi-
gação detalhada, visando ao diagnóstico nutricional preciso, possibilitando a
intervenção nutricional apropriada. Sabe-se que a população brasileira está
passando por um processo de envelhecimento rápido e intenso. De acordo
com as estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de
2025, o Brasil será o 6º país do mundo com o maior número de pessoas idosas
(AZEVEDO et al., 2007). Este fato reforça a necessidade de aprofundar a
compreensão sobre o papel da nutrição na promoção e manutenção da inde-
pendência e autonomia dos idosos.
Assim, o nutricionista tem papel fundamental no cuidado dessa população,
sendo suas principais funções a identificação de indivíduos em risco para
desenvolver doenças crônicas não transmissíveis e a intervenção alimentar para
a prevenção e controle de enfermidades (GARIBALLA; SINCLAIR, 1998).
É significante a incidência de doenças crônicas nos indivíduos idosos, como
também, o risco de desenvolvê-las ou de torná-las mais graves, ocasionando
incapacidades (VELLAS; ALBEREDE; GARRY, 1992). Desta forma, uma
identificação precoce é essencial, podendo ser realizada, a partir da avaliação
adequada do estado nutricional, em que se deve considerar as especificidades
de cada indivíduo idoso, uma vez que ele é parte de um grupo bastante hete-
rogêneo (NAJAS; SACHS, 1996).
Todavia, a definição do diagnóstico nutricional e a identificação dos fatores
que contribuem para esse diagnóstico no indivíduo idoso são complexos. A
complexidade se deve à ocorrência de diversas alterações, tanto fisiológicas,
quanto patológicas, além de variações econômicas e no estilo de vida, entre
outras sofridas ao longo da vida (PERISSINOTTO et al., 2002).

Exames bioquímicos

Especificamente, os exames bioquímicos mais utilizados para a avaliação


nutricional do idoso são albumina, transferrina, hematócrito, hemoglobina,
contagem total de linfócitos, colesterol total e frações (SULLIVAN; SUN;
WALLS, 1999). Entretanto, é fundamental que se realize uma análise crítica
na interpretação desses exames, pois, apesar de detectar problemas nutricio-
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nais precocemente, os indicadores bioquímicos podem ser influenciados por


enfermidades, uso de medicamentos ou estresse, condições bastante frequentes
no indivíduo idoso (KAMIMURA et al., 2002).

Exame físico

Na prática clínica, os sinais clínicos mostram baixa especificidade para identi-


ficação de problemas nutricionais no indivíduo idoso. Isto ocorre porque muitos
sinais podem ter como causa alterações fisiológicas decorrentes do processo
de envelhecimento ou, ainda, a instalação de algum processo patológico não
nutricional.
Alguns exemplos práticos podem ser confundidores (oriundos de uma ou
mais variáveis), tais como a púrpura senil que, geralmente, é consequência do
envelhecimento da pele pode, por exemplo, ser confundida com hipovitaminose,
e a cegueira noturna, que pode ter como causa a presença de catarata e não a
deficiência de vitamina A.
Sendo assim, a investigação dos sinais de carência ou excesso, assim
como dos indicadores de deficiência nutricional específica, deve fazer parte
da avaliação do estado nutricional do idoso. Entretanto, este exame necessita
ser interpretado, a partir da história clínica e em associação com os indica-
dores bioquímicos, a antropometria e/ou qualquer outro método apropriado
(COELHO; FAUSTO, 2002).

Antropometria

Parâmetros antropométricos são indicadores essenciais na avaliação nutricional


geriátrica. Contudo, algumas alterações, que ocorrem com o envelhecimento,
podem comprometer a determinação de um diagnóstico antropométrico pre-
ciso, caso cuidados específicos não sejam tomados, no sentido de neutralizar
ou amenizar o efeito dessas alterações sobre a avaliação (PERISSINOTTO
et al., 2002).

Altura

Estudos apontam uma redução na altura com a idade. Alguns autores encon-
traram um decréscimo que varia de 2 a 3cm/década. Este declínio se inicia
por volta dos 40 anos e se torna mais acentuado com o avanço da idade. As
razões para esse declínio são: achatamento das vértebras, redução dos discos
intervertebrais, cifose dorsal, escoliose, arqueamento dos membros inferiores
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e/ou achatamento do arco plantar. Recomenda-se a estimativa da altura de


indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, tendo em vista que, por
algumas dessas alterações, a altura já sofreu algum declínio. Considere que a
altura pode ser estimada a partir do comprimento da perna (altura do joelho
ou, do inglês, knee height).
O comprimento da perna tem sido recomendado para estimar a altura de
idosos com base nas equações a seguir. Esta medida apresenta as seguintes
vantagens: possibilita estimar a altura de pacientes acamados e deitados, quando
utilizadas as equações de Chumlea et al. (1988), muda pouco com a idade,
apresenta alta correlação com estatura e possibilita estimar o peso corporal,
sempre que associada a outras medidas (detalhes na discussão sobre o peso).
Esta medida deve ser verificada com o auxílio de uma régua antropométrica
ou de um infantômetro com haste de metal. O indivíduo deve ficar com a
perna dobrada, formando um ângulo de 90º com o joelho. A parte fixa da
régua é colocada embaixo do calcanhar e a móvel é trazida para dois ou três
dedos da patela.
Agora, veja as equações para estimar a estatura de idosos, a partir do
comprimento da perna (CHUMLEA; ROCHE; STEINBAUGH, 1985):

Homens: [2,02 x comprimento da perna] – [0,04 x idade] + 64,19

Mulheres: [1,83 x comprimento da perna] – [0,24 x idade] + 84,88

Peso

Estudos mostram que o homem ganha peso até os 65 anos de idade, depois
passa a perder. Enquanto que a mulher aumenta o peso até os 75 anos e, apenas,
a partir desta idade, ela começa com a perda ponderal (GOING; WILLIAMS;
LOHMAN, 1999). As principais causas para isso são a perda de água corporal
e a redução no peso das vísceras, além da diminuição do tecido muscular.
Nas situações em que o indivíduo estiver impossibilitado de ser pesado com
o auxílio de balança, é possível estimar o seu peso corporal. Existem equações
para este propósito, no entanto, elas apresentam importantes limitações, como
elevada margem de erro e necessidade de várias medidas corporais, ou seja,
Circunferências da Panturrilha (CP) e do Braço (CB), além do comprimento
da perna e a Prega Cutânea Subescapular (PCSE).
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Você pode conferir as equações para estimativa do peso, com base nas
medidas corporais (CHUMLEA et al., 1988):

Homens: (0,98 x CP) + (1.16 x comprimento da perna) +


(1,73 x CB) + (0,37 x PCSE) – 81,69
Mulheres: (1,27 x CP) + (0,87 x comprimento da perna) +
(0,98 x CB) + (0,4 x PCSE) – 62,35

Mini Avaliação Nutricional (MAN)


A MAN é uma ferramenta de avaliação nutricional que pode identificar, em pacientes
com idade maior ou igual a 65 anos, desnutrição ou com risco para isso. Consiste em
um questionário que pode ser completado em 10 minutos. Ele é dividido, além da
triagem, em quatro partes: avaliação antropométrica (IMC, circunferência do braço,
circunferência da panturrilha e perda de peso); avaliação global (perguntas relacionadas
ao modo de vida, medicação, mobilidade e problemas psicológicos); avaliação dietética
(perguntas relativas ao número de refeições, ingestão de alimentos e líquidos, bem
como autonomia na alimentação); autoavaliação (a autopercepção da saúde e da
condição nutricional).
A soma dos escores da MAN permite uma identificação do estado nutricional e dos
respectivos riscos. A sensibilidade desta escala é 96%, a especificidade 98% e o valor
prognóstico para desnutrição 97%, considerando o estado clínico como referência.
Para a triagem, o máximo de pontos a ser atingido é 14. Um escore de 12 pontos
ou mais considera o idoso como normal, sendo desnecessária a aplicação de todo o
questionário. Aqueles que atingem 11 pontos ou menos, é considerada a possibilidade
de desnutrição e, portanto, o questionário deve ser seguido.
No questionário total da MAN, os escores considerados são:
■■ Estado nutricional adequado: MNA ≥ 24;
■■ Risco de desnutrição: MNA entre 17 e 23,5;
■■ Desnutrição: MNA < 17.

Associação de possíveis agravos nutricionais


na fase adulta à senescência
No decorrer na vida, é vivenciado o envelhecimento, como uma experiência
heterogênea, ou seja, o processo ocorre de forma diferente para cada indivíduo.
Esta diferenciação pode ser explicada por diversos aspectos que envolvem,
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por exemplo, fatores sociais, culturais, genéticos e ambientais. A busca por


conhecimentos relacionados ao processo de envelhecimento é fundamental
para melhorar a qualidade de vida da população idosa. Neste sentido, é preciso
considerar algumas implicações gerais sobre o processo de envelhecimento e
sua relação com a nutrição.

Envelhecimento e qualidade de vida


Uma das principais características do envelhecimento é o declínio, na maioria
das vezes, físico, o que leva a alterações sociais e psicológicas. Estes declí-
nios podem ser classificados de duas maneiras: senescência e senilidade. A
senescência é caracterizada como um processo fisiológico relacionado à idade
cronológica. Pode ser considerada como um envelhecimento sadio, em que a
debilitação física e mental é lenta, sendo compensada, de certa forma, pelo
organismo. Já, a senilidade é caracterizada pelo declínio físico associado à
desorganização mental. Ela não é exclusiva da idade avançada e pode ocorrer
prematuramente, pois é identificada uma perda considerável no funciona-
mento físico e cognitivo, visível pelas alterações na coordenação motora, a
alta irritabilidade, além de uma considerável perda de memória. Sabe-se que
a senilidade pode ser acentuada por meio de atitudes negativas em relação à
vida, ao futuro, a si mesmo e aos outros.
Para a OMS, idoso é o indivíduo com idade igual ou superior a 65 anos, em
países desenvolvidos, e com 60 anos ou mais, nos países em desenvolvimento
(MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2001). Existem classificações mais específicas
que subdividem a idade em ciclos de vida. Ainda, Spirduso (1995) propôs uma
classificação, de acordo com a idade cronológica, classificando como adulto
de meia idade o indivíduo entre 45 e 64 anos; idoso-jovem aquele entre 65 e
74 anos; idoso o indivíduo com idade entre 75 e 84 anos; idoso-idoso entre
85 e 99 anos; idoso-velho que seriam pessoas acima de 100 anos de idade.
É compreendido que a qualidade de vida está diretamente ligada às con-
dições de vida e ao estilo de vida, incluindo os hábitos e comportamentos
autodeterminados, adquiridos social ou culturalmente, de modo individual ou
em grupos. Neste contexto, estariam incluídos alguns hábitos como tabagismo,
alcoolismo, preferências alimentares e opções de lazer sedentário, entre outros.
Sendo assim, quando se fala em estilo de vida, pressupõe-se que o indivíduo
tem controle sobre suas ações e que elas podem ser prejudiciais ou benéficas
à saúde. Então, ele poderia optar por uma conduta de estilo de vida saudável.
Desta maneira, o envelhecimento é influenciado por fatores extrínsecos (dieta,
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sedentariedade, causas psicossociais etc.), logo, eles intensificariam os efeitos


que ocorrem com o passar dos anos. Com isso, na busca por um envelheci-
mento saudável, esses itens devem integrar, de forma positiva, a qualidade
de vida do indivíduo.

Nutrição e o envelhecimento
Quando se conclui que a população brasileira está envelhecendo, estratégias
precisam ser definidas e, neste sentido, a prevenção tem papel importantíssimo.
A alimentação é um dos fatores centrais para a manutenção da saúde e quali-
dade de vida do indivíduo. O seguimento de um padrão alimentar equilibrado
proporciona melhor condição de bem-estar, contribuindo, diretamente, na
prevenção e controle das principais doenças que acometem os idosos.
As condições de saúde de um idoso dependem do estilo de vida que ele
adotou até chegar aos 60 anos. É cientificamente comprovado que modificações
nos hábitos alimentares e a prática de exercícios físicos podem ter grande
influência, tanto na qualidade, quanto na expectativa de vida. Os hábitos do
adulto reduzem ou retardam mudanças e doenças que surjam com o envelheci-
mento. Desta forma, o estilo de vida saudável pode mudar a trajetória natural
dos fatos, modificando o ritmo do envelhecimento no organismo.
Mudanças fisiológicas do envelhecimento interferem no apetite, consumo
e absorção de alimentos e nutrientes. Sabe-se que o envelhecimento é acom-
panhado, também, por uma série de mudanças psicológicas, econômicas e
sociais que afetam, desfavoravelmente, o estado nutricional.
Por exemplo, com o avançar da idade, a digestão e a absorção dos nutrientes
sofrem prejuízos que são atribuídos ao processo natural do envelhecimento.
Eles são caracterizados principalmente pela:

„„ diminuição da sensação do paladar por redução no número e função


das papilas gustativas;
„„ redução na percepção do olfato e da visão;
„„ diminuição da secreção salivar e gástrica;
„„ falha na mastigação pela ausência de dentes ou uso de próteses
impróprias;
„„ diminuição da absorção intestinal, ocasionando a constipação intestinal.
Com isso, o apetite do idoso pode ficar reduzido, gerando uma redução
no consumo alimentar e, consequentemente, deficiência de nutrientes
específicos, até mesmo, estados de desnutrição.
12 Avaliação nutricional do adulto e do idoso

Para a avaliação nutricional do idoso, é fundamental ressaltar a sua história


alimentar por intermédio de uma anamnese detalhada. É essencial questionar o
idoso, assim como os familiares, sobre alterações de peso, restrições alimenta-
res voluntárias ou impostas, alcoolismo, depressão, alterações gastrointestinais,
doenças crônicas e uso de medicamentos. Uma alimentação diversificada,
com alimentos de diferentes fontes, oferece os nutrientes necessários para
uma nutrição equilibrada, desde que ingeridos na quantidade recomendada
para suprir os gastos energéticos. Portanto, o alimento é o combustível para
o corpo exercer suas capacidades funcionais.
O hábito alimentar é uma construção coletiva, fundamentada em condutas
que proporcionam ao idoso mais prazer com a alimentação, tais como:

„„ Conhecimento sobre o valor nutricional dos alimentos e sua relação


com a saúde (combinar, de acordo com as recomendações para a faixa
etária, alimentos construtores, energéticos e reguladores);
„„ Evitar o isolamento social (é recomendado que o idoso sente confortavel-
mente à mesa na companhia de familiares, amigos, entre outras pessoas);
„„ Disciplina no consumo de alimentos (oferecimento de refeições menos
volumosas e em mais vezes ao dia);
„„ Controle da ingestão do sal (usar temperos naturais, como alho, cebola,
cebolinha, cheiro verde, salsa, orégano e outros).

Um fator relevante, na qualidade de vida do idoso, é o declínio dos níveis de atividade


física habitual, o que contribui para a redução na aptidão das funcional e a manifestação
de diversas doenças. Nos idosos, os componentes da aptidão funcional de destaque
são: cardiorrespiratório, força, flexibilidade, agilidade e coordenação. Tais qualidades
físicas atuam como prognósticos da capacidade funcional, pois reúnem condições
para que o indivíduo consiga realizar as suas tarefas do dia a dia, de modo satisfatório.

Limitações na avaliação física e do consumo


alimentar de idosos
O idoso apresenta peculiaridades relacionadas ao processo de envelhecimento.
Estas alterações contribuem para a limitação desses dados como fonte precisa
Avaliação nutricional do adulto e do idoso 13

na avaliação nutricional dos idosos. Assim, é orientado que sejam analisadas,


de forma crítica, as informações, aliando os dados com os aspectos inerentes
ao envelhecimento humano. É perceptível que o envelhecimento está associado
a modificações fisiológicas, tais como:

„„ redução progressiva da altura, de um a dois cm por década;


„„ ganho progressivo de peso e IMC entre 65 e 70 anos, diminuindo após
esse período;
„„ alterações da composição corporal, com redistribuição de gordura,
que diminui na área periférica e aumenta no interior do abdômen, e
redução da massa magra.

Pelo fato dos idosos passarem por modificações fisiológicas, a desnutrição


pode ser difícil de distinguir das alterações resultantes do processo natural do
envelhecimento, contudo, se não for detectada, resultará em agravamento das
condições clínicas e aumento da mortalidade. Logo, os idosos fazem parte de
uma população particularmente propensa a problemas nutricionais em razão
de fatores relacionados a:

„„ alterações fisiológicas e sociais;


„„ ocorrência de doença crônica;
„„ uso de várias medicações;
„„ problemas na alimentação (que comprometem a mastigação e deglutição);
„„ depressão;
„„ alterações da mobilidade com dependência funcional.

A observação de perda de peso involuntária, redução do apetite e caquexia


são comuns na população geriátrica. Destaca-se que a anorexia é a principal
causa de desnutrição no idoso, de etiologia multifatorial, ela envolve doença
sistêmica, iatrogenia e fatores psicossociais. Também, é compreendido que
os receptores gustativos e olfativos têm as suas funções diminuídas com o
envelhecimento, comprometendo a o apetite. Ocorre, também, a redução do
tempo de esvaziamento gástrico, com o aumento da saciedade. Todas essas
alterações são decorrentes do processo fisiológico do envelhecimento e com-
prometem a ingestão de nutrientes, podendo levar à desnutrição.
Ainda, na avaliação física, se deve destacar a observação e manutenção
da saúde bucal, pois a perda dos dentes e outras afecções da cavidade oral
causam dor, dificuldade para mastigar e deglutir, associando-se às causas que
contribuem para um quadro de desnutrição.
14 Avaliação nutricional do adulto e do idoso

Capacidade funcional
Outro ponto relevante na avaliação do idoso, ocorre na análise do nível fun-
cional por meio da quantificação das atividades da vida diária (básicas e
instrumentais), permitindo a classificação:

„„ I — fisicamente incapaz ou dependente;


„„ II — fisicamente frágil;
„„ III — fisicamente independente;
„„ IV — fisicamente apto/ativo;
„„ V — atleta.

Por exemplo, é entendido que a dependência para se alimentar está relacio-


nada ao aumento da mortalidade, logo, o nível de independência funcional é um
forte prognóstico para a ocorrência ou não de complicações na população idosa.

Antropometria
Em relação à antropometria dos idosos, foram observadas peculiaridades, como:

„„ possibilidade de estimar o peso, utilizando fórmulas que aplicam vari-


áveis antropométricas, quando ele não possa ser medido;
„„ em relação à altura, se deve estimá-la pelo uso da medida da altura do
joelho aplicada a fórmulas e à altura, em posição sentada;
„„ a Circunferência da Panturrilha (CP) é considerada a medida mais
sensível de massa muscular no idoso, sendo superior à Circunferência
do Braço (CB).

Avaliação do consumo alimentar


A avaliação nutricional de idosos deve ir além, envolvendo, assim, diferentes
aspectos, de forma integrada e multidisciplinar, em distintos níveis. Em rela-
ção à questão alimentar, a avaliação nutricional destaca a necessidade de os
profissionais estarem atentos às seguintes questões:

„„ perda da autonomia para comprar os alimentos, inclusive, financeira;


„„ perda da capacidade/autonomia para preparar os alimentos e para
alimentar-se;
Avaliação nutricional do adulto e do idoso 15

„„ perda de apetite e diminuição da sensação de sede e, também, da per-


cepção de temperatura dos alimentos;
„„ perda parcial ou total da visão que dificulte a seleção, o preparo e
consumo dos alimentos;
„„ perda ou redução da capacidade olfativa, interferindo no apetite.

Além dos citados, alguma outra razão que faça com que o idoso restrinja
determinados tipos de alimentos, como dietas para perda de peso, diabetes,
hipertensão, hipercolesterolemia e por dificuldade de mastigação devido à lesão
oral, ao uso de prótese dentária ou em decorrência de problemas digestivos.
Ainda, a escolha dos métodos para a avaliação do consumo precisa con-
siderar as características associadas ao processo de envelhecimento, como
dificuldades de cognição, concentração, memória, visão ou audição. Neste
contexto, a escolaridade, o arranjo domiciliar, o acesso aos alimentos (segu-
rança alimentar ou autonomia financeira e operacional quanto à aquisição,
transporte e preparo de alimentos) e o prazer associado ao consumo alimentar
são, também, aspectos que merecem atenção.

Instrumentos de avaliação nutricional


Na avaliação individual do consumo alimentar, os instrumentos mais utilizados
para a obtenção de dados (grupos de alimentos, tipos de refeições, locais e
horários das refeições e tipos de preparações utilizadas) são o questionário
de frequência alimentar, o registo ou diário alimentar e o recordatório 24h.
A utilização da Avaliação Subjetiva Global (ASG) na população geriátrica
é indicada como um instrumento útil na verificação do estado nutricional.
Vários outros instrumentos têm sido desenvolvidos em tentativas de identi-
ficar os idosos desnutridos ou em risco nutricional. Assim, a Mini Avaliação
Nutricional (MAN) foi proposta para avaliar o risco de desnutrição em idosos
e identificar aqueles que possam se beneficiar de intervenção precoce. A ver-
são original é composta por 18 itens que englobam antropometria, avaliação
dietética, avaliação clínica global e autopercepção de saúde, além do estado
nutricional, podendo ser utilizada tanto para triagem, como para avaliação e
deve ser aplicada por profissional na área da saúde.
16 Avaliação nutricional do adulto e do idoso

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