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PESQUISA Revista Brasileira de Ciências da Saúde

Research Volume 24 Suplemento Páginas 109-122 2020 ISSN 1415-2177

DOI 10.22478/ufpb.2317-6032.2020v24nSupl. 2.49743

Avaliação do Comportamento de Risco para Transtornos Alimentares e


Distúrbios de Imagem Corporal em Estudantes Universitárias
Risk Behavior Evaluation for Eating Disorders and Body Image Disorders in
University Students

Michelle Cristine Nascimento de Melo1


Sara Ferreira de Oliveira1
Patrícia Vasconcelos Leitão Moreira2
Rafaela Lira Formiga Cavalcanti de Lima3

RESUMO ABSTRACT
Objetivo: Avaliar a prevalência do comportamento de risco para Objective: To evaluate the prevalence of risk behavior for eating
transtornos alimentares e distúrbios de imagem corporal em disorders and body image disorders in college students of the
estudantes universitárias do Curso de Nutrição da UFPB, bem UFPB Nutrition Course, as well as to describe the socioeconom-
como descrever o perfil socioeconômico e os hábitos gerais de ic profile and general life habits of the students, checking the
vida das estudantes, verificando as possíveis associações entre possible associations between these variables and to investi-
essas variáveis e averiguar a associação entre os comporta- gate the association between risk behaviors for eating disorders
mentos de risco para transtornos alimentares e os distúrbios de
and body image disorders among college girls. Methodology:
imagem corporal entre as universitárias. Metodologia: Trata-se
This is a cross-sectional study. Eating Attitudes Test (EAT-26)
de um estudo tipo transversal. Foram utilizados os instrumentos
Eating Attitudes Test (EAT-26) e o Body Shape Questionnaire and Body Shape Questionnaire (BSQ) instruments were used.
(BSQ). Os dados foram analisados com o auxílio do programa Data were analyzed using the SPSS program, adopting a sig-
SPSS, adotando-se o nível de significância de 5% (p<0,05). nificance level of 5% (p<0.05). Ninety-nine students participated
Participaram do estudo 99 estudantes, com média e desvio in the study, with mean and standard deviation of age, height,
padrão da idade, altura, peso e IMC, sendo 21,5 ± 4,53 anos, weight, and BMI being 21.5 years ± 4.53, 1.62 meters ± 0.69,
1,62 ± 0,69 metros, 58,5 ± 11,7 kg e IMC 22,1 ± 4,01 kg/m², 58.5 kg ± 11.7 and BMI 22, 1 kg/m² ± 4.01, respectively. Results:
respectivamente. Resultados: Constatou-se que 27,3% das It was found that 27.3% of students were at risk of developing
estudantes apresentaram risco de desenvolver transtornos ali- eating disorders and 76.8% of students had no dissatisfaction
mentares e 76,8% apresentaram ausência de insatisfação com with body image in addition to the statistically significant asso-
a imagem corporal, além da associação estatisticamente signi- ciation with physical exercise (p=0.011), frequency (p=0.043),
ficativa com a prática de exercício físico (p=0,011), a frequência time (p=0.017) and modality (p=0.000) with the EAT. There was
(p=0,043), o tempo (p=0,017) e a modalidade (p=0,000) com o an association regarding dissatisfaction with body image related
EAT. Ocorreu associação quanto à insatisfação com a imagem to the presence of eating attitudes at risk for the development
corporal relacionada com a presença de atitudes alimentares
of eating disorders (p = 0.009). Conclusion: The results of this
de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares
study are very worrying. There is a large number of dissatisfac-
(p=0,009). Conclusão: Os resultados desse estudo são bem
preocupantes. Verificou-se um grande número de estudantes tions with weight, evidencing the high prevalence of risk behavior
insatisfeitas com o peso, evidenciando a elevada prevalência for eating disorders and the presence of body image disorders.
do comportamento de risco para transtornos alimentares e a
presença de distúrbios da imagem corporal.

DESCRITORES DESCRIPTORS
Transtornos da Alimentação. Ingestão de Alimentos. Imagem Feeding. Eating Disorders. Body image. Students. Feeding
Corporal. Estudantes. Comportamento Alimentar. Behavior.

1
Nutricionista, graduada pela Universidade Federal da Paraiba/UFPB, João Pessoa/PB, Brasil.
2
Pós-doutorado em Epidemiologia pela Universidade de Liverpool, Professora do Departamento de Nutrição da UFPB, João Pessoa/
PB, Brasil.
3
Doutorado em Modelos de Decisão e Saúde pela Universidade Federal da Paraíba, Professora do Departamento de Nutrição da UFPB,
João Pessoa/PB, Brasil.

http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs
MELO et al.

N
as últimas décadas e nos dias atuais a dieta altamente restritiva ou a indução da
o estereótipo ideal de beleza corporal expurgação de alimentos consumidos6.
obteve mudanças relevantes, como A anorexia é compreendida pela re-
resultado da forte influência da sociedade mo- sistência do paciente em alcançar e manter
derna que se encontra também em constante um peso adequado para a sua altura, o medo
evolução. Para ter sucesso e reconhecimento extremo em aumentar o peso corporal e re-
social atualmente, usa-se como referência cusa do alimento associada a uma percepção
o corpo humano. Com o passar do tempo distorcida da sua imagem corporal7. A bulimia
ocorreu uma hipervalorização do corpo e, é caracterizada por um ciclo constituído por
consequentemente, a mídia apropriou-se dieta restritiva, compulsão alimentar e purga-
disso. Negligenciam-se as particularidades ção. O sentimento de culpabilidade também
individuais, as limitações biológicas e gené- é apresentado após a ingesta de alguma re-
ticas, ditando-se um padrão de beleza para feição, sendo compensados posteriormente.
homens e mulheres1,2. A restrição tem papel fundamental no início e
As sociedades, principalmente as perpetuação do quadro8.
ocidentais, vêm apresentando uma preocu- A imagem corporal está relacionada
pação demasiada com os padrões de beleza, à percepção do tamanho e a forma do nosso
além de uma busca incessante pela magreza corpo e os sentimentos em relação à forma
exagerada3. Neste contexto, os transtornos física. O modo em que o indivíduo enxerga
alimentares passam a ser relevantes diante seu corpo é predominantemente alterado pela
dessa busca exagerada por se inserir nos imaginação de que o mesmo não o pertence9.
padrões ditados tanto pela sociedade quanto Diante do exposto, tendo em vista a
pela mídia, além dos prejuízos emocionais e relação entre transtornos alimentares e dis-
sociais4. túrbios de imagem corporal em mulheres, o
Os transtornos de comportamento presente trabalho apresenta relevância devido
alimentar são denominados como distúrbios ao grau de importância desses transtornos
psiquiátricos de etiologia multifatorial carac- alimentares, bem como, de suas complexi-
terizados por consumo, padrões e atitudes dades e interferência na vida dos indivíduos
alimentares extremamente distorcidas e de acometidos pelos mesmos e daqueles que
preocupação excessiva com o peso e a forma convivem com esses.
corporal5. Desse modo, a presente pesquisa se
Os transtornos mais conhecidos são propôs a avaliar a prevalência do comporta-
anorexia nervosa e bulimia nervosa, ambos mento de risco para transtornos alimentares
caracterizados pela preocupação excessiva e de distúrbios de imagem corporal em estu-
com o peso, principalmente por jovens do dantes universitárias do Curso de Nutrição
sexo feminino. O excesso de peso torna-se da UFPB, como também, descrever o perfil
um problema para ambos, bem como o gan- socioeconômico e os hábitos gerais de vida
ho de peso. Portanto, tendo como objetivo o das estudantes, verificando as possíveis as-
emagrecimento, em que a solução ditada é sociações entre essas variáveis e averiguar a

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Avaliação do Comportamento de Risco para Transtornos Alimentares e Distúrbios de Imagem Corporal em Estudantes Universitárias

associação entre os comportamentos de risco ca do perfil demográfico e socioeconômico,


para transtornos alimentares e os distúrbios hábitos gerais de vida, situação afetiva e a
de imagem corporal entre as universitárias. prática de exercício físico (frequência, tempo
e modalidade).
METODOLOGIA O primeiro questionário aplicado foi
o Eating Attitudes Test (EAT-26) ou Teste de
Trata-se de um estudo tipo corte atitudes alimentares, que apresenta 26 ques-
transversal. Foram avaliadas as alunas do tões. O EAT-26 é um instrumento que foi de-
Curso de Nutrição da Universidade Federal senvolvido por Garner e Garfinkel12, que indica
da Paraíba (UFPB) do 1º ao 6º período. Os a presença de padrões alimentares anormais,
dois últimos semestres do curso não foram além de fornecer um índice de gravidade com
incluídos, pois os alunos fazem seus estágios relação a preocupações típicas de pacientes
supervisionados e não se encontram no am- com transtorno alimentar e intenção de ema-
biente universitário. O tamanho da amostra grecer e medo de ganhar peso13.
foi determinado por cálculos realizados no Outro questionário utilizado foi o Body
OpenEpi (versão 3.01), sendo adotada uma Shape Questionnaire (BSQ) ou Questionário
frequência de 50% do evento, 5% de erro de imagem corporal que possui 34 questões14.
amostral e 90% de intervalo de confiança. De Adaptado e validado para a população brasi-
acordo com esses parâmetros, verificou-se leira por Di Pietro e Silveira11, com o intuito de
que seria necessário um tamanho amostral avaliar a insatisfação com a imagem corporal,
total de cem (100) estudantes com base no tendo em vista a autopercepção nas últimas
número total de alunas regularmente matricu- quatro semanas. Esse questionário por sua
ladas e ativas no período 2018.2. vez fornece uma avaliação contínua. Ele ava-
A coleta de dados foi realizada por três lia tanto o papel do distúrbio em desenvolvi-
alunas de graduação do Curso de Nutrição, mento, a sua manutenção e atua também na
devidamente treinadas e responsáveis pela resposta ao tratamento de alguns transtornos
pesquisa, sendo realizada durante as aulas alimentares como a anorexia e a bulimia.
de graduação, com permissão antecipada do Os dados foram digitados no Excel e
professor responsável pela disciplina e con- posteriormente transferidos para o programa
sistiu na aplicação do instrumento de coleta estatístico de análise de dados, Statistical
de dados autopreenchível. Package for the Social Sciences (SPSS)
O instrumento utilizado foi a junção de versão 22. A análise estatística foi realizada
dois questionários validados anteriormente, inicialmente pelo teste de normalidade de
que avaliam separadamente comportamentos Kolmogorov-Smirnov das variáveis contínuas,
sugestivos à transtornos alimentares10, como essas mesmas variáveis foram analisadas por
a anorexia nervosa e a bulimia nervosa, bem medidas de tendência central, sendo a média
como distorção da imagem corporal11. Além de e mediana, além do desvio-padrão. Para a
um questionário, baseado em informações de análise das possíveis associações entre os
outros estudos com questões fechadas acer- distúrbios alimentares e o de imagem corporal,

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MELO et al.

além das associações entre as prevalências resultado do teste BSQ é a somatória dos 34
encontradas com as variáveis, foi utilizado o itens contidos no questionário e sua classifi-
teste Qui-Quadrado de Pearson. Em todo o cação reflete os níveis de preocupação com
estudo foram considerados significativos os a imagem corporal, tais como: Ausência de
testes que obtiveram um nível de significância insatisfação com a imagem corporal (escore
menor que 5%, p-valor <0,05. menor ou igual a 110); Leve insatisfação com a
A análise dos dados do EAT-26 pos- imagem corporal (110-138 pontos); Moderada
sui escala de Likert, com seis alternativas de insatisfação com a imagem corporal (138-167
resposta, que pontuam de 0 a 3: “sempre” (3 pontos); Grave insatisfação com a imagem
pontos), “muito frequentemente” (2 pontos), corporal (>167 pontos). Os itens desse ques-
“frequentemente” (1 ponto), “às vezes” (0 tionário são agrupados conforme os seguintes
aspectos: Autopercepção da forma corporal
ponto), “raramente” (0 ponto), “nunca” (0 pon-
(questões 4, 2, 21, 17, 24, 28, 22, 23, 30,
to). Porém, a questão 25 possui a pontuação
14, 3, 6, 34, 16, 9, 5, 11, 10, 1, 33, 15 e 19);
invertida, sendo considerada as respostas
Percepção Comparativa da imagem corporal
“sempre”, “muito frequentemente” e frequen-
(questões 31, 20, 29, 12 e 25); Atitude em rela-
temente” com a pontuação de 0 ponto e as de
ção à alteração da imagem corporal (questões
respostas “às vezes” (1 ponto), “raramente”
32, 26, 7, 18, e 13); Alterações Intensas da
(2 pontos) e “nunca” (3 pontos). Os itens são
percepção corporal (questões 8, 27).
agrupados conforme os seguintes aspectos:
Para a realização da pesquisa foi re-
Fator 1: Dieta - as questões refletem recusa
digido para a ciência e o consentimento dos
patológica às comidas de alto teor calórico
participantes, um Termo de consentimento
e preocupações com a forma física; Fator 2: livre e esclarecido, respeitando as diretrizes
Bulimia nervosa - refletem pensamentos sobre éticas contempladas na Resolução 466/12,
comida e atitudes bulímicas; Fator 3: Controle do Conselho Nacional da Saúde. O presente
oral - refletem o autocontrole em relação a trabalho foi escrito observando todos os as-
comida e reconhecem pressões sociais no pectos éticos e foi submetido para aprovação
ambiente para ganhar peso. do Comitê de Ética em Pesquisa do CCS/
O resultado é considerado indicador UFPB com o Parecer nº. 2.841.492.
de risco para o desenvolvimento de transtor- Os dados foram utilizados somente
no alimentar, quando o escore formado pelo para fins de pesquisa, sendo assim, foi asse-
somatório de respostas positivas for igual ou gurado o sigilo das informações individuais,
>21, de 10 a 20 baixo risco e de 0 a 9 fora garantindo aos voluntários da pesquisa com-
de risco. pleta autonomia, anonimato, privacidade e
Em relação ao questionário BSQ, tam- isenção de qualquer risco individual ou cole-
bém com escala de Likert, possui seis possi- tivo. O entrevistado foi resguardado também
bilidades de respostas: “sempre” (6 pontos), de qualquer constrangimento moral e ético.
“muito frequentemente” (5 pontos), “frequen- Todos os indivíduos que aceitaram participar
temente” (4 pontos), “às vezes” (3 pontos), da pesquisa assinaram o Termo de consenti-
“raramente” (2 pontos) e “nunca” (1 ponto). O mento livre e esclarecido (TCLE).

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Avaliação do Comportamento de Risco para Transtornos Alimentares e Distúrbios de Imagem Corporal em Estudantes Universitárias

RESULTADOS com os pais, sendo em sua maioria (n=66)


e 21,2% apresentaram escore positivo para
Participaram do estudo 99 estudantes comportamento alimentar de risco. Entre as
do sexo feminino, com idade média de 21,5 que moravam com parentes, 57,1% tiveram
anos, altura média de 1,62 metros, peso médio EAT positivo para alto risco. Ademais, das
de 58,5 kg, sendo que 68,8% encontravam-se 8 estudantes que eram casadas, 5 (62,5%)
eutróficas, 16,7% com excesso de peso e apresentaram comportamento de risco.
14,6% com baixo peso. Com relação ao BSQ, 78 alunas que
Para verificar a satisfação com o peso realizavam a maioria das refeições em casa,
e calcular o IMC desejado, foi solicitado às 61 (78,2%) delas foram classificadas com
estudantes que respondessem o seu peso ausência de insatisfação com a imagem
desejado e a altura desejada. Quanto a sa- corporal e 21,9% apresentaram insatisfação.
tisfação com o peso, 51,7% demonstraram o Entretanto, 66,7% das que faziam as refeições
desejo de perder peso e 32,6% ganhar peso, em restaurantes apresentaram algum grau de
as demais se encontravam satisfeitas com o distorção na imagem corporal. Com relação
seu peso corporal atual. ao estado civil, 56 estudantes que referiram o
Constatou-se que 27,3% das estu- estado civil solteira, 76,8% não apresentaram
dantes apresentaram um escore ≥21, que alguma distorção com a imagem corporal,
representa um comportamento de risco para porém 23,2% foram classificadas com insa-
desenvolvimento de transtornos alimentares. tisfação com a imagem corporal.
Quanto ao BSQ, 76,8% das estudantes não Os dados relacionados à associação
apresentaram alguma distorção da imagem entre idade, IMC atual e desejado e satisfa-
corporal, porém 23,2% dessas estudantes ção com a imagem corporal em relação ao
apresentaram algum grau de distorção de sua comportamento de risco para os transtornos
percepção corporal. alimentares estão descritos na Tabela 1. Verifi-
Ocorreu associação estatisticamente cou-se que um total de 75 (84,3%) estudantes
significativa entre a renda familiar e o compor- demonstraram insatisfação com o seu peso
tamento de risco para transtornos alimentares. e 26,7% dessas apresentaram EAT positivo.
Das que apresentavam maior renda, 37% Constatou-se associação estatistica-
apresentaram um comportamento de risco. mente significativa entre todas as variáveis
Entre as de menor renda foi encontrada maior da Tabela 2. Das que praticavam exercício
prevalência (52,1%), sendo de baixo risco. físico, 36,4% obtiveram um escore positivo e
No BSQ, foi observado que das alunas que 15,9% das que não praticavam apresentaram
possuíam uma menor renda, 83,3% foram risco de desenvolver transtornos alimentares.
classificadas com ausência de insatisfação Foi possível observar que 39,3% realizavam
corporal, enquanto 32,5% das que possuíam exercício físico com a frequência de 5 a 7 ve-
uma maior renda foram classificadas com zes semanais e apresentaram comportamento
insatisfação da imagem corporal. de risco positivo. Com relação à modalidade,
Boa parte das graduandas residiam das 44 estudantes que não praticavam alguma

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MELO et al.

Tabela 1. Característica das estudantes e sua associação com o comportamento de risco


para transtornos alimentares, segundo o EAT-26, João Pessoa – PB, 2019

Fora Baixo Risco Total p-


Perfil das Estudantes de risco risco valor*
n % n % n % n %
Idade em anos 17 – 20 13 24,5 22 41,5 18 34 53 100,0
21 – 40 18 39,1 19 41,3 09 19,6 46 100,0 0,170

Total 31 31,3 41 41,4 27 27,3 99 100,0


Classificação do Baixo peso 04 28,6 06 42,9 04 28,6 14 100,0
IMC atual Eutrofia 18 27,3 31 47,0 17 25,8 66 100,0 0,266
Excesso de 09 56,3 04 25,0 03 18,8 16 100,0
peso
● 31 32,3 41 42,7 24 25,0 96● 100,0
Total
Classificação do Baixo peso 03 25,0 07 58,3 02 16,7 12 100,0
IMC desejado Eutrofia 24 34,8 25 36,2 20 29,0 69 100,0 0,373
Excesso de - - 02 50,0 02 50,0 04 100,0
● peso
Total
27 31,8 34 40,0 24 28,2 85● 100,0
Satisfação com o Insatisfeita 24 32,0 31 41,3 20 26,7 75 100,0 0,967
peso Satisfeita 04 28,6 06 42,9 04 28,6 14 100,0
● 28 31,5 37 41,6 24 27,0 89● 100,0
Total
*Teste Qui-quadrado de Pearson, ●alguns dados foram perdidos. Fonte: dados da pesquisa, 2018.

Tabela 2. Relação da participação das estudantes em exercícios físicos com comportamento


de risco para transtornos alimentares, segundo o EAT-26, João Pessoa – PB, 2019

Fora de Baixo Risco Total p-


Exercício físico risco risco valor*
n % n % n % n %
Exercício Físico Não 20 45,5 17 38,6 07 15,9 44 100,0
Sim 11 20,0 24 43,6 20 36,4 55 100,0 0,011
Total
31 31,3 41 41,4 27 27,3 99 100,0
Frequência 0 20 45,5 17 38,6 07 15,9 44 100,0
2 - 4x 07 25,9 11 40,7 09 33,3 27 100,0 0,043
5 - 7x 04 14,3 13 46,4 11 39,3 28 100,0
Total
31 31,3 41 41,4 27 27,3 99 100,0
Tempo em 0 20 45,5 17 38,6 07 15,9 44 100,0
minutos 10 - 50 11 25,6 18 41,9 14 32,6 43 100,0 0,017
60 – 240 - - 06 50,0 06 50,0 12 100,0
Total
31 31,3 41 41,4 27 27,3 99 100,0

Modalidade Nenhuma 20 45,5 17 38,6 07 15,9 44 100,0


Uma 11 25,6 21 48,8 11 25,6 43 100,0 0,000
Duas ou - - 03 25,0 09 75,0 12 100,0
Total mais
31 31,3 41 41,4 27 27,3 99 100,0
*Teste Qui-quadrado de Pearson. Fonte: dados da pesquisa, 2018.

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Os dados relacionados à associação entre a idade, o IMC atual e desejado e a
satisfação com o peso em relação a insatisfação com a imagem corporal estão descritos na
Tabela 3. Constatou-se associação estatística significativa entre a variável idade, pois das
estudantes que apresentaram
Avaliação do Comportamento uma faixa
de Risco para Transtornos etária ede
Alimentares 17 a de
Distúrbios 20Imagem
anos, 34%em
Corporal delas demonstraram
Estudantes Universitárias

algum grau de insatisfação com a imagem corporal.

Tabela 3. Características das estudantes e sua associação com a insatisfação da imagem


corporal, segundo o BSQ-34, João Pessoa – PB, 2019

Ausência Leve Moderada Grave Total p-valor*


Perfil das estudantes n % n % n % n % n %
Idade em anos 17 – 20 35 66,0 09 17,0 07 13,2 02 3,8 53 100,0
21 – 40 41 89,1 04 8,7 01 2,2 - - 46 100,0 0,038
Total 76 76,8 13 13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
Classificação Baixo peso 13 92,9 - - 01 7,1 - - 14 100,0
do IMC atual Eutrofia 51 77,3 08 12,1 05 7,6 02 3,0 66 100,0
Excesso de 11 68,8 03 18,8 02 12,5 - - 16 100,0 0,642
peso

Total 75 78,1 11 11,5 08 8,3 02 2,1 ● 100,0
96

Classificação Baixo peso 09 75,0 216,7 01 8,3 - - 12 100,0


do IMC Eutrofia 53 76,8 811,6 06 8,7 02 2,9 69 100,0
desejado Excesso de 01 25,0 250,0 01 25,0 - - 04 100,0 0,327
peso

Total 63 74,1 1214,1 8 9,4 2 2,4 ● 100,0
85

Satisfação com Insatisfeita 57 76,0 912,0 07 9,3 02 2,7 75 100,0


o peso Satisfeita 11 78,6 214,3 01 7,1 - - 14 100,0 0,920

Total 68 76,4 1112,4 8 9,0 02 2,2 ● 100,0
89

*Teste Qui-quadrado de Pearson, ●alguns dados foram perdidos. Fonte: dados da pesquisa, 2018.

Os dados relacionados às variáveis exercício físico, frequência, tempo e a


modalidade em relação à associação com a insatisfação da imagem corporal estão descritos
modalidade, 7 (15,9%) tiveram escore ≥21, significativa entre a variável idade, pois das
na Tabela 4.
bem como, das estudantes que praticavam de estudantes que apresentaram uma faixa etária
dois ou maisA exercícios nenhuma
variável tempo se encontra-
foi estatisticamente significativa,
de 17 a 20 observou-se
anos, 34% que 43demonstraram
delas estudantes
va fora de riscode
praticavam e das
10 12
a que
50 praticavam
minutos dedeexercício,algum
sendograu
quedeuminsatisfação com a imagem
total de 18,6% foram
dois ou mais exercícios, 75,0% apresentaram corporal.
classificadas com insatisfação com a imagem corporal.
comportamento de risco. Os dados relacionados às variáveis
Os dados relacionados à associação exercício físico, frequência, tempo e a moda-
entre a idade, o IMC atual e desejado e a sa- lidade em relação à associação com a insa-
tisfação com o peso em relação a insatisfação tisfação da imagem corporal estão descritos
com a imagem corporal estão descritos na na Tabela 4.
Tabela 3. Constatou-se associação estatística A variável tempo foi estatisticamente

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Tabela 4. Relação da participação das estudantes em exercícios físicos com a insatisfação
da imagem corporal, segundo o BSQ-34, João Pessoa
MELO et al. – PB, 2019

Ausência Leve Moderada Grave Total p-valor*

TabelaExercício
4. Relaçãofísico n
da participação % n %
das estudantes nem % n % físicos
exercícios n com
% a insatisfação
da imagem
Exercíciocorporal, Não
segundo36o BSQ-34,
81,8 05João
11,4Pessoa – PB,01
02 4,5 2019
2,3 44 100,0 0,637
Físico Sim 40 72,7 08 14,5 06 10,9 01 1,8 55 100,0
Total Ausência Leve Moderada Grave Total p-valor*
76 76,8 13 13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
Exercício físico n % n % n % n % n %
Frequência 0 36 81,8 5 11,4 02 4,5 01 2,3 44 100,0
Exercício Não 36 81,8 05 11,4 02 4,5 01 2,3 44 100,0 0,637
2 - 4x 18 66,7 04 14,8 04 14,8 01 3,7 27 100,0 0,691
Físico Sim 40 72,7 08 14,5 06 10,9 01 1,8 55 100,0
5 - 7x 22 78,6 04 14,3 02 7,1 - - 28 100,0
Total 76 76,8 13 13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
Total 76 76,8 13 13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
Frequência 0 36 81,8 5 11,4 02 4,5 01 2,3 44 100,0
Tempo em 0 36 81,8 05 11,4 02 4,5 01 2,3 44 100,0
2 - 4x 18 66,7 04 14,8 04 14,8 01 3,7 27 100,0 0,691
minutos 10 - 50 35 81,4 03 7,0 05 11,6 - - 43 100,0 0,016
5 - 7x 22 78,6 04 14,3 02 7,1 - - 28 100,0
60 – 240 05 41,7 05 41,7 01 8,3 01 8,3 12 100,0
Total 76 76,8 13 13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
Total 76 76,8 13 13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
Tempo em 0 36 81,8 05 11,4 02 4,5 01 2,3 44 100,0
Modalidade Nenhuma 36 81,8 05 11,4 02 4,5 01 2,3 44 100,0
minutos 10 - 50 35 81,4 03 7,0 05 11,6 - - 43 100,0 0,016
Uma 35 81,4 05 11,6 03 7,0 - - 43 100,0 0,064
60 – 240 05 41,7 05 41,7 01 8,3 01 8,3 12 100,0
Duas ou 05 41,7 03 25,0 03 25,0 01 8,3 12 100,0
Total 76 76,8 13 13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
mais
Modalidade
Total Nenhuma 36 81,8 05 11,4 02 4,5 01 2,3 44 100,0
76 76,8 13 13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
*Teste Qui-quadradoUma 35 Fonte:
de Pearson. 81,4dados
05 da11,6 03 2018.
pesquisa, 7,0 - - 43 100,0 0,064
Duas ou 05 41,7 03 25,0 03 25,0 01 8,3 12 100,0

Conforme os mais
dados expostos na Tabela 5, ocorreu associação estatisticamente
Total 76
significativa entre o EAT com o 76,8
BSQ.13Sendo,
13,1 08 8,1 02 2,0 99 100,0
portanto, a insatisfação com a imagem
*Teste Qui-quadrado de Pearson. Fonte: dados da pesquisa, 2018.
corporal relacionada com a presença de atitudes alimentares de risco para o
desenvolvimento de transtornos alimentares (p=0,009).
Conforme os dados expostos na Tabela 5, ocorreu associação estatisticamente
significativa entre o EAT com o BSQ. Sendo, portanto, a insatisfação com a imagem
Tabela 5. Relação entre comportamento de risco para transtornos alimentares e distúrbios
corporal
de imagemrelacionada com
corporal, João a presença
Pessoa – PB, 2019de atitudes alimentares de risco para o
desenvolvimento de transtornos alimentares (p=0,009).
EAT
Fora de Baixo Risco Total p-valor*
Tabela 5. Relação entre comportamento
risco de risco risco
para transtornos alimentares e distúrbios
de imagem corporal, João Pessoa – PB,n 2019
% n % n % n %

BSQ Ausência 28 36,8 34 44,7 14 18,4 76 100,0


EAT
Leve 03 de 9,7 04Baixo
Fora 30,8 06 Risco
46,2 13 Total
100,0 0,009
p-valor*
Moderada -
risco - 03risco
37,5 05 62,5 08 100,0
Grave -n %- -n %
- n 100,0
02 % n 100,0
02 %
Total
BSQ Ausência 31
28 31,3
36,8 41
34 41,4
44,7 27
14 27,3
18,4 99
76 100,0
100,0
*Teste Qui-quadrado de Pearson. Fonte: dados da pesquisa, 2018.
Leve 03 9,7 04 30,8 06 46,2 13 100,0 0,009
Moderada - - 03 37,5 05 62,5 08 100,0
Grave - - - - 02 100,0 02 100,0
116
Total R bras ci Saúde 24(Supl):109-122, 2020
31 31,3 41 41,4 27 27,3 99 100,0
*Teste Qui-quadrado de Pearson. Fonte: dados da pesquisa, 2018.
Avaliação do Comportamento de Risco para Transtornos Alimentares e Distúrbios de Imagem Corporal em Estudantes Universitárias

significativa, observou-se que 43 estudantes Universidade Federal de Santa Catarina foi


praticavam de 10 a 50 minutos de exercício, encontrado um percentual de 25,4%, com fator
sendo que um total de 18,6% foram classifica- de risco para desenvolvimento de transtorno
das com insatisfação com a imagem corporal. alimentar, quando comparadas a alunas de
Conforme os dados expostos na Ta- outros cursos (18,7%)16 e, em outro trabalho,
bela 5, ocorreu associação estatisticamente também com estudantes de nutrição, foi en-
significativa entre o EAT com o BSQ. Sendo, contrado um percentual de 21,7%, em que as
portanto, a insatisfação com a imagem cor- estudantes apresentaram risco de desenvol-
poral relacionada com a presença de atitudes verem transtornos alimentares17.
alimentares de risco para o desenvolvimento É importante ressaltar que, quando o
de transtornos alimentares (p=0,009). percentual encontrado for maior que 20% em
estudantes com escore EAT positivo, ele é
DISCUSSÃO considerado preocupante, no qual evidencia a
importância da investigação desses sintomas
O comportamento de risco para trans- nas populações que apresentam risco15.
tornos alimentares e a insatisfação com a ima- Quanto ao estado nutricional, 68,8%
gem corporal foram avaliados nesse estudo, apresentaram um estado nutricional adequa-
no qual foi observada a presença de atitudes do. Valores similares foram encontrados em
alimentares inadequadas, bem como, as de um estudo com estudantes de nutrição da Ci-
distúrbios de imagem corporal. Constatou-se dade de Teresina, da Universidade Federal do
uma relação entre o comportamento de risco Piauí (UFPI), em que a maioria da população
para transtornos alimentares com distúrbios estudada apresentou eutrofia, sendo 77,8%
de imagem corporal, assim como, uma asso- nas estudantes concluintes18. Universitárias
ciação com algumas variáveis, tais como, ren- eutróficas e insatisfeitas com a sua imagem
da familiar, idade, prática de exercício físico, corporal demonstram uma preocupação ex-
frequência, tempo e modalidade do exercício. cessiva com a estética do corpo17. Contudo,
A presença de comportamento de risco conforme a associação entre o EAT-26 positi-
para transtornos alimentares foi de 27,3%, vo com o IMC, foi visto que 88,5% das eutrófi-
segundo a classificação do EAT para alto risco cas apresentaram EAT positivo, sendo 11,5%
de desenvolver transtornos alimentares, resul- obesas e 2,4% possuíam o IMC adequado.
tado ligeiramente acima quando comparado Analisando os valores do IMC informado e
a outros estudos nacionais com universitárias o desejado, pode existir uma forte influência
do curso de nutrição. Em estudo recente com para o limite inferior da normalidade, o que
estudantes da área de saúde da Universidade sugere um desejo de adequação ao corpo
Estadual do Ceará (UECE), as universitárias ideal na atualidade2.
de nutrição apresentaram uma porcentagem Com relação à renda, 48 (51,1%)
de 21% com EAT positivo . Em outro estu-
15
alunas possuíam a renda de R$ 340,00 a R$
do, também, com estudantes de nutrição da 3.000,00. Em outro estudo com estudantes de

R bras ci Saúde 24(Supl):109-122, 2020 117


MELO et al.

nutrição e administração, em uma instituição três vezes na semana (24,6%) e com as que
de nível superior em Montes Claros-MG, foi não realizam atividade física (21,3%)21. Ainda
observado maior frequência de estudantes nesse mesmo estudo, observou-se que, na
com renda familiar na faixa de 2 a 4 salários análise da prática de atividade física, 57%
mínimos, entre os estudantes de nutrição das estudantes EAT positivo e 47% com EAT
(68,7%) e administração (66,4%), renda essa negativo realizavam algum tipo de atividade
que variava de R$ 1.244,00 a R$ 4.488,00 .19
física durante a semana22.
Em uma pesquisa com estudantes do curso Não foram encontrados estudos na-
da área de saúde de uma universidade pública cionais que verificaram a quantificação de
no interior de Minas Gerais, 51,6% da amostra modalidades com relação a exercício físico
possuía renda familiar de 2 até 10 salários .
20
em universitárias, apesar de ter sido consta-
Nesse estudo, a renda apresentou associação tado associação significativa com os hábitos
com o comportamento de risco. Entre as de alimentares inadequados, conforme o EAT
menor faixa de renda, constatou-se um per- positivo, em que 75% das estudantes que pra-
centual significativo de prevalência segundo ticavam de duas ou mais modalidades apre-
a classificação de baixo risco (52,1%). sentavam comportamento de risco. Dessas
Com relação à prática de atividade modalidades, 36,4% praticavam musculação,
física, frequência, tempo e modalidade, nesse 11% praticavam musculação e outra modali-
estudo foi constatado que existiu uma asso- dade e 8% praticavam outras modalidades
ciação com o desenvolvimento de transtornos como ballet, pilates, etc. Conforme o estudo
alimentares. Portanto, 55,6% acadêmicas pra- com praticantes de atividade física foi avaliado
ticavam exercícios e 44,4% não praticavam, a relação do estado nutricional com a percep-
porém, 36,4% das que praticavam exercício ção de imagem corporal atual e idealizada.
físico tiveram EAT positivo. Ademais, 39,3% Observou-se que as mulheres possuíam uma
das que praticavam de 5 a 7 vezes por semana imagem corporal distorcida, além de relatos
apresentaram comportamento de risco, quan- sobre o sentimento de insatisfação com a
do comparadas com aquelas que realizavam própria imagem corporal22.
de duas a quatro vezes por semana (33,3%) e Com relação a variável tempo, 50%
das que não faziam algum exercício (15,9%). daquelas que tinham como duração o exer-
Resultados esses que se assemelham a outro cício de 60 a 240 minutos apresentaram
estudo com alunas de nutrição de uma facul- comportamento alimentar de risco para de-
dade particular do Centro do Estado do Rio senvolvimento de transtornos alimentares. No
Grande do Sul, onde se constatou que 37% estudo com frequentadores de uma academia
das estudantes que mais referiram realizar de ginástica23, 42,5% dos que praticavam de
atividade física, sendo de quatro vezes por 60 a 90 minutos apresentaram EAT positivo,
semana ou mais, apresentaram mais sinto- quando comparado com aqueles que prati-
mas associados com transtorno alimentar, cavam até 60 minutos (31,5%). Quanto ao
quando comparadas com as que realizam até BSQ, 16,6% que praticavam exercício, com a

118 R bras ci Saúde 24(Supl):109-122, 2020


Avaliação do Comportamento de Risco para Transtornos Alimentares e Distúrbios de Imagem Corporal em Estudantes Universitárias

duração de 60 e 240 minutos, apresentaram imagem corporal apresentaram prevalência


insatisfação moderada e grave. No estudo de transtorno alimentar 5,6 vezes maior que
com estudantes de Educação Física de uma aqueles sem distorção da imagem corporal,
universidade pública do Rio de Janeiro , 24
mesmo com ajustes por sexo e estado nutricio-
verificou-se uma prevalência de insatisfação nal26. Da mesma forma, em outra pesquisa19
corporal de 14,6% entre aqueles que pratica- ocorreu associação estatística entre a percep-
vam exercício de 60 a 90 minutos, segundo a ção da imagem corporal e a anorexia nervosa
classificação de moderada ou grave insatisfa- (p=0,000) e a bulimia nervosa (p=0,000),
ção conforme o BSQ. conforme a escala de silhuetas20, além de
De acordo com a análise do BSQ, outro estudo em que foi encontrada associa-
76,8% das estudantes foram classificadas ção estatisticamente significativa (p=0,000)
com ausência de insatisfação da imagem cor- entre a imagem corporal e o comportamento
poral e 23,2% com presença de insatisfação. alimentar inadequado25. Da mesma forma, a
Constatou-se que desses 23,2%, 10,1% das chance de presença de comportamento bulí-
universitárias apresentaram de moderada a mico nos universitários em Florianópolis, que
grave insatisfação de acordo com a classifica- foi 19,9 vezes maior naqueles com distorção
ção do BSQ. Essa prevalência é semelhante da imagem corporal27.
à insatisfação encontrada em outro estudo Diante do exposto, é possível per-
com estudantes de nutrição da Universidade ceber que os resultados desse estudo são
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), na bem preocupantes, visto que, existe um
Cidade de Porto Alegre, sendo um percentual grande número de participantes do estudo
de 13,5%25 e com universitárias do Curso de com insatisfação com o peso, evidenciando
Nutrição da Universidade Federal de Ouro um comportamento de risco para transtornos
Preto (UFOP), em que foi encontrado um total alimentares e distúrbios de imagem corporal.
de 13,7% . Sobretudo, outros estudos en-
17
Esses números são expressivos, visto que
contraram percentuais maiores como em um serão futuras profissionais da área de saúde,
estudo, no Rio de Janeiro, sendo de 18,6% . 2
das quais serão promotoras de saúde e, não
No presente estudo foi observada a obstante a isso, possuem contato constante
associação entre a insatisfação com a ima- com o alimento e informações nutricionais
gem corporal e o comportamento de risco acerca dos mesmos. É fato que a cobrança da
para transtornos alimentares (p<0,009), bem sociedade perante esses futuros profissionais
como, o estudo realizado em uma instituição é tamanha, que faz com que exista uma maior
de educação superior da Região Oeste do preocupação quanto à aparência física. Esses
Paraná, com estudantes de educação física. fatores podem predispor a maior suscetibili-
Verificou-se a associação das variáveis com dade de desenvolver algum tipo de distúrbio
transtorno alimentar, identificando associa- alimentar e corporal.
ção significativa com a imagem corporal. Os No entanto, é imprescindível que a
universitários com presença de distorção da instituição de ensino possa estabelecer um

R bras ci Saúde 24(Supl):109-122, 2020 119


MELO et al.

olhar diferenciado para os acadêmicos, sendo CONCLUSÃO


necessário que haja a promoção de saúde, por
meio de programas que estimulem os univer- Os resultados encontrados nesse
sitários a ter uma melhor qualidade de vida, estudo demonstram que existe uma hiperva-
pois em um quadro de transtornos alimentares lorização de corpo ideal, excepcionalmente
é importante que exista uma maior atenção o magro, o que prevalece de acordo com os
no sentido de esclarecer e discutir sobre o resultados constatados, pois ocorreu uma
tema, a fim de prevenir a prática de atitudes grande insatisfação com o peso corporal. Além
alimentares consideradas anormais entre os disso, identificou-se uma alta prevalência com
estudantes de uma forma geral. relação ao comportamento alimentar de risco
Por fim, os dados apresentados nesse para transtornos alimentares e presença de
estudo demonstram a importância de ser ava- distúrbios de imagem corporal, além da insa-
liado o comportamento alimentar, os hábitos
tisfação com a imagem corporal pelo desejo
de vida, a prática de exercício físico e a ima-
de perder peso. Foram encontradas associa-
gem corporal em universitárias, principalmente
ções entre a idade e o tempo do exercício
aquelas da área da saúde, em especial, as
físico com a insatisfação da imagem corporal
de nutrição, visto que são consideradas um
e, também, associações entre o perfil socioe-
grupo de risco, uma vez que as mesmas irão
conômico, prática de exercício físico, o tempo
lidar com pessoas que poderão possuir algum
do exercício, a modalidade e a frequência com
tipo de transtorno alimentar e distúrbio de
o comportamento de risco para transtornos
imagem corporal, para que não se perpetue
alimentares. Esses dados são de extrema
a conduta de práticas que ocasionem o início
relevância, visto que entre a relação do IMC
ou a manutenção de um distúrbio alimentar.
atual com o desejado foi observado o desejo
O presente estudo apresenta algu-
mas limitações que incluem o fato do estudo explícito de perda de peso, até mesmo entre

ser do tipo transversal, pois não permite um as estudantes que se encontravam com o

acompanhamento contínuo, mas apenas o peso adequado para a sua estatura. Esses
estabelecimento de uma relação temporal resultados apontam para a necessidade de
entre as variáveis abordadas, além do uso uma atenção especial a esse grupo de risco,
de questionários, os quais dependem mais pois o papel, como futuras profissionais, im-
do entendimento de quem está respondendo, plica diretamente em como será a abordagem
podendo existir interpretações equivocadas. diante de um quadro clínico similar para que
Quanto ao uso dos questionários, por terem não haja a prática inadequada de controle de
sido usados instrumentos validados, minimiza peso e informações errôneas.
esse efeito da compreensão.

120 R bras ci Saúde 24(Supl):109-122, 2020


Avaliação do Comportamento de Risco para Transtornos Alimentares e Distúrbios de Imagem Corporal em Estudantes Universitárias

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