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O PAPEL DO NUTRICIONISTA NO TRATAMENTO DE TRANSTORNO

ALIMENTAR

TORRES, Amanda Rizzo1


MORAES, Caroline Rodrigues de2
LOPES, Leyla de Oliveira3
SANTOS, Andrea4

INTRODUÇÃO
O padrão estético atual de corpo difere do preconizado no início do século
XX. Há uma supervalorização de um corpo magro, definido e musculoso como sinal
de saúde, beleza e poder e não como imagem de desnutrição, pobreza e até mesmo
doença infecciosa como no passado. Esta realidade cria uma situação de frustração,
baixa autoestima e discriminação entre aqueles que fogem desta regra, podendo ser
esta uma condição relevante para o surgimento de transtornos alimentares (TA).
(SILVA, et al., 2011)
Os distúrbios alimentares mais conhecidos são a anorexia nervosa e a bulimia
nervosa. Ambos são caracterizados pela preocupação excessiva com o peso,
principalmente por jovens do sexo feminino. Considerando a complexidade
multifatorial relacionada ao aparecimento destes distúrbios, frequentemente há uma
idéia negativa da imagem corporal, temor à obesidade e facilidade de adesão a
diferentes métodos inadequados para o controle de peso (SILVA, et al., 2011)
Na anorexia nervosa há uma redução voluntária e drástica da ingestão
alimentar, com perda progressiva e intensamente desejada de peso, caquexia e
inanição e, em alguns casos, a morte. Já na bulimia nervosa, basicamente tem-se
uma compulsão alimentar periódica, caracterizada pela ingestão, em um período
limitado de tempo, de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a
maioria dos indivíduos consumiria sob circunstâncias similares, seguida de métodos
compensatórios para evitar o ganho de peso – comportamentos purgativos, tais
como indução de vômitos, uso indevido de laxantes, diuréticos, enemas e exercícios
físicos em exagero. (SILVA; SANTOS, 2006)

1
Graduanda do Curso de Nutrição do Centro Universitário são Camilo-ES, amandarizzot@gmail.com;
2
Graduanda do Curso de Nutrição do Centro Universitário são Camilo-ES, crmoraes2@hotmail.com
3
Graduanda do Curso de Nutrição do Centro Universitário são Camilo-ES, leyla.lopes@hotmail.com;
4
Professor orientador: Andrea Santos, Centro Universitário São Camilo-ES, andrea@espacoelenco.com.br;
Dentro da equipe multidisciplinar que deve tratar do paciente com transtornos
alimentares (TA), o nutricionista é capacitado para propor modificações do consumo,
padrão e comportamento alimentares, aspectos estes que estão profundamente
alterados nos TA. (LATTTERZA, et al., 2004)
O tratamento nutricional dos TA é dividido em duas etapas, educacional e
experimental. Deve-se conduzir uma detalhada anamnese acerca dos hábitos
alimentares do paciente e histórico da doença. É importante avaliar medidas de peso
e altura, restrições alimentares, crenças nutricionais e a relação com os alimentos. A
educação nutricional abrange conceitos de alimentação saudável, tipos, funções e
fontes dos nutrientes, recomendações nutricionais, conseqüências da restrição
alimentar e das purgações. Na fase experimental, trabalha-se mais intensamente a
relação que o paciente tem para com os alimentos e o seu corpo, ajudando-o a
identificar os significados que o corpo e a alimentação possuem (ADA, 1994;
Alvarenga, 2001).
O trabalho do nutricionista na área de TA exige habilidades não-inerentes à
sua formação, como conhecimentos de psicologia, psiquiatria e das técnicas da
terapia cognitivo-comportamental. Deve ser criado um vínculo com o paciente,
atuando de forma empática, colaborativa e flexível (Rock e Curran-Celentano, 1996).

MATERIAIS E METODOS
Trata-se de uma pesquisa de cunho de revisão bibliográfica, onde se realizou
uma busca sistematizada das informações de periódicos na base de dados Scielo,
Lilacs e no Google Acadêmico. As palavras chaves utilizadas foram anorexia
nervosa, bulimia nervosa, transtornos alimentares, nutrição. O período pesquisado
foi compreendido entre 1994 a 2015. E a partir daí foram selecionados os artigos
cujos fatores em estudo e desfechos estavam relacionados com o escopo desta
revisão.

ABORDAGEM NUTRICIONAL NO TRATAMENTO DE TRANSTORNOS


ALIMENTARES
De acordo com Sicchieri et al. (2006, p. 371 aput BECHARA & KOHATSU,
2014), o tratamento dos transtornos alimentares é um desafio para os profissionais,
pois os pacientes “não se percebem doentes, são levados ao atendimento hospitalar
muitas vezes contrariados e, na maioria das vezes, há grande conflito familiar e alta
demanda por recuperação rápida e cura total de adolescentes que são vistos como
voluntariosos e rebeldes pelos seus respectivos”.
Os transtornos alimentares têm raiz psicológica, sendo muito complexos de
se tratar de forma eficaz. É necessário o acompanhamento de uma equipe
multidisciplinar, com psicólogos, nutricionistas, médicos endocrinologistas,
ginecologistas e pediatras, e talvez psiquiatras. O tratamento deve ser feito com a
pessoa portadora do transtorno juntamente com sua família. O trabalho em equipe
desses profissionais favorece o crescimento e a aprendizagem dos mesmos, desde
que estejam abertos a discussões, mudanças, críticas, pois para que essa equipe
funcione deve haver reflexão sobre as dificuldades, para que se descubra a melhor
postura a ser adotada no tratamento ao paciente (MANOCHIO, 2009).
O nutricionista é imprescindível no tratamento de qualquer transtorno
alimentar, por causa do grande risco clínico que esses pacientes sofrem. A dieta
extremamente restritiva, no caso da anorexia, as práticas purgativas, na bulimia, e a
dieta desequilibrada e excessiva em quantidade da compulsão alimentar, trazem
desequilíbrios nutricionais, prejuízos na digestão e absorção, e consequentemente,
toda a saúde do indivíduo fica comprometida.
É necessário que o atendimento e educação nutricional sejam feitos de forma
humanizada e paciente, sempre com empatia para entender o grave momento
psicológico que o paciente está vivendo. Deve-se procurar criar um vínculo,
conquistar confiança, para que posteriormente comece a se fazer as medidas
antropométricas, falar sobre peso ideal e saudável e quantidades de nutrientes e
calorias (MANOCHIO, 2009).
A reeducação alimentar deve ser feita de forma gradual, pois geralmente
enfrenta resistência por parte dos pacientes, que negam seu estado. O nutricionista
deve considerar as preferências alimentares desses pacientes, e trabalhar as
mudanças em cima desses alimentos.
A suplementação nutricional por via oral é utilizada quando os quadros
clínicos e antropométricos do paciente indicam desnutrição, que pode levar a óbito.
A alimentação por via enteral ou parenteral só é utilizada em casos muito graves,
quando o risco de vida é iminente nos pacientes (MANOCHIO, 2009).
O nutricionista responsável pelo tratamento deve ter conhecimentos sobre
psicologia, terapia cognitivo- comportamental, para que possa entender melhor a
raiz do problema, auxiliar no tratamento psicológico, sem jamais ter a intenção de
substituir o profissional psicólogo, mas para que seu atendimento seja completo. A
interação com os outros membros da equipe multiprofissional é essencial, e todos
devem sempre agir com a finalidade de recuperar a saúde do paciente, cada um em
sua área (MANOCHIO, 2009).
De acordo com Alvarenga e Larino (aput MANOCHIO, 2009), os atributos mais
importantes para o nutricionista que trabalha com esse tipo de transtorno são: um amplo
conhecimento da ciência da nutrição, habilidade no aconselhamento educacional e
comportamental e uma atitude empática e de não-julgamento. Os pacientes desejam um
terapeuta nutricional flexível, que entenda seus medos sobre alimentação e peso, saiba
o que é um transtorno alimentar, trabalhe em um passo que eles possam alcançar; faça
comentários sensíveis, seja paciente, cuidadoso e não julgue; que tenha experiência
com esse tipo de paciente, seja otimista e esperançoso sobre a recuperação e que
trabalhe com ele mais de modo colaborativo do que controlador.
Trabalhar com pacientes com transtornos alimentares pode ser especialmente
extenuante para o nutricionista devido á importância das questões alimentares na
doença. Daí a importância de entender conceitos psicoterapêuticos e emocionais e
manter comunicação com os demais profissionais da equipe, pois para lidar com os TA,
são necessárias habilidades não apenas técnicas, mas principalmente habilidades
pessoais e estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É incontestável a importância do profissional da nutrição para o tratamento
dos transtornos alimentares, juntamente com outros profissionais da saúde. A
relação entre o portador do transtorno e o alimento precisa ser resgatada, voltar a
ser prazerosa, e o nutricionista tem o dever reestabelecer essa relação, com suas
orientações nutricionais e atendimento humanizado. Ainda na graduação, devem-se
incentivar os discentes de nutrição a buscarem conhecimento específico sobre os
transtornos, pesquisarem novos métodos e abordagens, e incentivá-los a buscar
cursos e especializações após a graduação sobre os transtornos alimentares.

REFERÊNCIAS
ADA - American Dietetic Association. - Position of the American Dietetic Association:
nutritional intervention in the treatment of anorexia nervosa, bulimia nervosa and
binge eating. J Am Diet Assoc 94: 902-7, 1994.
ALVARENGA, M.S. - Bulimia nervosa: avaliação do padrão e comportamento
alimentares. São Paulo, 2001. Tese (Doutorado). Curso Interunidades em Nutrição
Humana Aplicada, Universidade de São Paulo.

BECHARA, A. P. V.; KOHATSU, L. N. Tratamento nutricional da anorexia e da


bulimia nervosas: aspectos psicológicos dos pacientes da suas famílias e das
nutricionistas – Revista do NESME, 2014, v.11, n.2, pp. 1-18

LATTERZA A.R; DUNKER K.L.L; SCAGLIUSI F.B; KEMEN E; Tratamento


Nutricional dos Transtornos Alimentares. Rev. Psiq. Clin. 31 (4); 173-176, 2004.

MANOCHIO, M.G., O perfil e a atuação do nutricionista no tratamento dos


transtornos alimentares, 2009. Tese (Mestrado). Enfermagem em saúde publica,
Universidade de São Paulo.

SILVA L.M, SANTOS M.A Construindo Pontes: Relato de experiência de uma equipe
multidisciplinar em transtornos alimentares; Medicina, Ribeirão Preto, Simpósio:
TRANSTORNOS ALIMENTARES: ANOREXIA E BULIMIA NERVOSAS Capítulo XIV
39 (3): 415-24, jul./set. 2006

ROCK, C.L.; CURRAN-CELENTANO, J.- Nutritional management of eating


disorders. Psych Clin North Am 19: 701-13, 1996.

SILVA J.D; SILVA A.B.J; OLIVEIRA A.V.K; NEMER A.S.A Influência do estado
nutricional no risco para transtornos alimentares em estudantes de nutrição Ciência
& Saúde Coletiva, 17(12):3399-3406, 2012

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