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OBJETIVOS
Objetivo Geral
Analisar as principais estratégias cognitivo-comportamentais que
poderiam auxiliar o nutricionista a promover um processo mais eficiente de
mudança de comportamento alimentar de pacientes e, desta forma, contribuir
com a manutenção de um quadro clínico mais favorável e duradouro.
REVISÃO DA LITERATURA
Comportamento Alimentar
O comportamento alimentar está relacionado às ações perante o
alimento e ao ato completo de se alimentar (BITTAR; SOARES, 2020), sendo
um componente complexo e subjetivo, já que inclui a influência de aspectos
biológicos, ambientais, psicológicos e sociais. Todos esses componentes
interagem entre si e são construídos e consolidados ao longo do curso de vida
(ASSIS; GUEDINE; CARVALHO, 2020; SANTOS et al., 2021). Dessa maneira,
não há uma definição unânime e explícita para o comportamento alimentar. A
influência de fatores (internos e externos), previsíveis e imprevisíveis, podem
conduzir a diversos cenários biopsicossociais.
Aspectos biológicos e fisiológicos dizem respeito à regulação
homeostática do corpo humano. Essa regulação busca o equilíbrio energético
por meio do gasto e do consumo energético e, também, dos estoques
corporais, como o tecido adiposo e o glicogênio. Ou seja, o comportamento
alimentar é influenciado por demandas metabólicas e, assim, o organismo
dispõe de mecanismos que regulam o consumo alimentar a fim de manter o
balanço energético adequado. Além disso, há o controle do apetite, que ajuda a
regulação da fome e da saciedade, um mecanismo que envolve integração
entre circuitos neurais e endócrinos (HALPERN et al., 2004).
Entre os fatores socioculturais envolvidos nos hábitos alimentares, um
dos principais é a influência familiar. Será no ambiente familiar que as crianças
serão expostas às primeiras referências de padrão alimentar. Além disso, será
nesse ambiente que serão formadas as principais crenças e atitudes em
relação à alimentação (LENG et al., 2017).
Os aspectos psicológicos estão relacionados a crenças, atitudes e ações
que o indivíduo possui/elabora frente a sua alimentação e podem sofrer a
influência de algumas variáveis como sexo, idade, estado nutricional,
autoconceito e imagem corporal (ASSIS; GUEDINE; CARVALHO, 2020). Estas
variáveis podem estar associadas ao maior risco de desenvolvimento de
comportamentos alimentares disfuncionais (SANTOS et al., 2021).
Um dos instrumentos mais utilizados para avaliação de comportamento
alimentar é o The Three Factor Eating Questionnaire - R21 (TFEQ-21) com
uma versão adaptada à população brasileira por Natacci e col (NATACCI;
JUNIOR, 2011). O TFEQ-21 analisa o comportamento alimentar em três
dimensões: Restrição cognitiva (RC), que é o controle cognitivo da ingestão de
alimentos; a Alimentação Emocional (AE), que é caracterizada pelo consumo
excessivo de alimentos em resposta a emoções vivenciadas; e o Descontrole
Alimentar (DA), quando há a perda do autocontrole e, consequente, um
exagero alimentar. O TFEQ-R21 permite investigar o comportamento alimentar
de indivíduos obesos e eutróficos para, assim, garantir um melhor
planejamento do tratamento nutricional (BIAGIO; MOREIRA; AMARAL, 2020).
O TFEQ-21 é composto por 21 questões, subdivididas nas três escalas
mencionadas: Restrição cognitiva (RC), Descontrole Alimentar (DA) e
Alimentação Emocional (AE). Nos itens de restrição cognitiva (RC) são
abordados a proibição alimentar para controle do peso corporal; no descontrole
alimentar (DA), a tendência de comer em excesso acompanhado, ou não, da
presença de fome; e a alimentação emocional (AE), que mede o comer
exagerado em situações de desconforto emocional (NATACCI; JUNIOR, 2011).
Como mencionado, há determinados fatores que influenciam um
comportamento alimentar disfuncional e, um deles é a imagem corporal. É
importante salientar que a imagem corporal é constituída por duas dimensões:
atitudinal e perceptual. O componente atitudinal diz respeito aos
comportamentos, atitudes, emoções e sentimentos dos indivíduos em relação
ao próprio corpo. Já o perceptual se refere à precisão com a qual o indivíduo
consegue interpretar (ou identificar/discriminar) o próprio corpo (tamanho,
forma, contorno) (DOS SANTOS et al., 2021).
Em um estudo com universitários da área da saúde, homens e
mulheres, avaliou-se a relação entre imagem corporal e comportamento
alimentar. Foi demonstrado uma associação entre imagem corporal negativa e
comportamento alimentar disfuncional. Ou seja, indivíduos com uma
insatisfação corporal e, consequentemente, autoimagem negativa, possuíam
baixa autoestima e, também, poderiam desenvolver, com maior probabilidade,
atitudes nocivas à saúde, como uso de diuréticos. A pesquisa, publicada em
2020, foi realizada com 1570 universitários, sendo demonstrado que 43,6%
possuíam insatisfação corporal pela magreza e 33,2% pelo excesso de peso.
Os autores referem outras pesquisas que apontam que um comportamento
alimentar disfuncional pode acarretar problemas de saúde mental e física, com
a presença de atitudes extremas de controle de peso, ansiedade generalizada
e transtornos alimentares (DOS SANTOS et al., 2021)
Convém, ainda, mencionar que o comportamento alimentar é
influenciado pela relação do indivíduo com o ambiente, e um desses meios
mais atuantes, especialmente sobre adultos jovens, são as mídias sociais
(BITTAR; SOARES, 2020). Pesquisa realizada em 2020 com 201 estudantes
de nutrição, sendo 84,6% do sexo feminino, revelou a associação entre
pensamentos, crenças e comportamentos disfuncionais com o uso cotidiano de
mídias sociais. O estudo apontou prevalência de 27,9% de indivíduos com
comportamentos alimentares disfuncionais. Mais da metade das estudantes
consumiam alimentos, divulgados na mídia, com objetivo de perder peso e,
também, se sentiam motivadas a fazer dieta sem acompanhamento nutricional
adequado, o que poderia aumentar o risco de desenvolvimento de transtornos
alimentares (ASSIS; GUEDINE; CARVALHO, 2020).
Uso de técnicas cognitivas e comportamentais em transtornos
alimentares
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem terapêutica
e de intervenção objetiva e semiestruturada, da Psicologia e da Psiquiatria, que
infere que o sistema de crenças de uma pessoa possui papel fundamental na
formulação de pensamentos, emoções e dos comportamentos (modos de
raciocinar, reagir e lidar com as diversas situações e contextos do dia-a-dia). A
TCC possui como premissa que nossos sistemas racionais (conceitos,
pensamentos, raciocínio) e nossos sistemas afetivos (sentimentos, emoções,
paixões) e, por consequência, nossos comportamentos, são determinados pela
forma como percebemos/interpretamos (ou selecionamos) a realidade. Nesta
perspectiva, crenças disfuncionais, sobre eventos e acontecimentos, podem
controlar nossos comportamentos e, em função de suas consequências, mudar
nossos pensamentos, formando padrões de respostas ineficientes (FILHO;
MAGALHAES; TAVARES, 2009; PIRES; LAPORT, 2019).
Cabe mencionar que o sistema de crenças de um indivíduo, segundo a
TCC, interfere diretamente sobre a produção dos pensamentos automáticos e a
interpretação (imediata) de determinados eventos do cotidiano. Essas crenças
e esquemas (os conjuntos de crenças organizados funcionalmente) são
desenvolvidas e construídas desde a infância e recebem influência dos eventos
e experiências de vida, ideias sobre si mesmo, interação com o meio,
predisposição genética, entre outros fatores (PIRES; LAPORT, 2019; BECK,
2021).
As técnicas cognitivas e comportamentais vêm sendo utilizadas para o
tratamento dos transtornos alimentares (TA), mostram-se potencialmente
eficientes na melhora dos quadros clínicos, uma vez que pacientes com TA
possuem, comumente, crenças disfuncionais acerca da alimentação, da sua
imagem corporal e/ou peso. Dessa maneira, a TCC não apenas identifica
queixas, ou elabora diagnósticos, mas modifica o sistema de crenças
distorcidas que podem estar associadas à autoestima, imagem corporal,
comportamentos alimentares e manutenção de peso corporal e, assim, atuar
preventivamente sobre fatores mantenedores do transtorno alimentar e, ainda,
prevenindo, ou adiando, a probabilidade de recaídas (OLIVEIRA; DEIRO, 2013)
Modelo Transdiagnóstico/Enhanced cognitive-behavioural theory of
eating disorders (CBT-E)
Um dos programas de tratamento para anorexia nervosa e bulimia
nervosa, baseado na TCC, é o modelo conhecido como “transdiagnóstico”, ou
Enhanced cognitive-behavioural theory of eating disorders (CBT-E) (MITCHELL
et al., 2011). Este modelo é baseado na análise de fatores desencadeadores e
mantenedores dos TA's, ou seja, o tratamento é conduzido com base em
sintomas, identificados ou referidos, do paciente, que são analisados em
função da sua história de relações com os diversos contextos ambientais dos
quais fez e faz parte. O programa está, didaticamente, dividido em quatro
estágios. (FILHO; MAGALHAES; TAVARES, 2009).
No estágio 1, são avaliados pensamentos disfuncionais do paciente,
sendo importante que se adote uma abordagem colaborativa com o indivíduo a
fim de se obter um fortalecimento de vínculo entre profissional e paciente para,
também, garantir confiança e autonomia crescentes. Um instrumento que pode
ser utilizado nessa fase é o diário alimentar, que tem como finalidade ensinar o
cliente a automonitorar seu comportamento alimentar. Ou seja, são
observados, a partir de registros do próprio paciente, os alimentos consumidos,
bem como pensamentos e sentimentos associados (a todo o ato, desde o
desejo de se alimentar, escolha, preparação, consumo e suas consequências).
Dessa maneira, consegue-se identificar eventos desencadeadores de padrões
de comportamentos disfuncionais. Além disso, nessa primeira etapa, busca-se
discutir com o paciente possíveis modos de adquirir e manter um padrão
alimentar mais saudável, visando a recuperação do peso e a aquisição de
hábitos alimentares mais funcionais (FILHO; MAGALHAES; TAVARES, 2009;
PIRES; LAPORT, 2019). Ainda nesse primeiro estágio, o profissional pode
adotar estratégia de psicoeducação, que consiste em esclarecer o paciente
sobre um transtorno, com a utilização de diversos recursos (informações
escritas, audiovisuais, teóricas, dados de evidência empírica, manejo de
aplicativos, busca ativa pelo próprio paciente), dependendo da motivação e do
perfil social e cognitivo do indivíduo para abordar as temáticas. (LEMES;
NETO, 2017).
No estágio 2, o profissional avalia os efeitos da implementação das
técnicas apresentadas/sugeridas na etapa 1, com intuito de analisar os
obstáculos à mudança comportamental (percebidos pelo indivíduo) e os
desafios que profissional e paciente entendem que deveriam ser superados.
O terceiro estágio é a etapa de reorganização do sistema de crenças do
indivíduo, relacionadas ao transtorno alimentar. Ou seja, é importante que o
paciente possa compreender como seus pensamentos disfuncionais e
sentimentos distorcidos influenciam seus comportamentos. Ademais, nessa
etapa, pode-se, também, abordar técnicas de resolução de problemas, quando
o paciente aprenderá a descrever o problema, escolher uma solução, testá-la e
avaliar sua eficácia (BECK, 2022).
Por fim, o quarto estágio enfatiza a prevenção de recaídas, buscando-se
analisar possíveis dificuldades durante o tratamento, para que o próprio
indivíduo tenha condições potenciais de executar uma reestruturação de
comportamentos alimentares disfuncionais, quando for necessário (PIRES;
LAPORT, 2019; MITCHELL et al., 2011).
Como um dos argumentos ao uso de estratégias de TCC é o fato de que
muitos transtornos alimentares requerem uma intervenção além da orientação
nutricional, pois esta não é suficiente para alterar o comportamento alimentar
de um indivíduo (VARKEVISSER, et al., 2019), foi demonstrado que cerca de
40% das pessoas com transtornos alimentares, como Bulimia Nervosa e
Transtorno de Compulsão Periódica (TCAP), possuíam IMC elevado. Nestes
casos, abordagens cognitivo-comportamentais, se concentram no
desenvolvimento de autocontrole da compulsão alimentar, pensamentos
automáticos negativos e medos de lidar com situações desafiadoras
(PALAVRAS, et al., 2020).
No estudo de Palavras et al (2020) foi realizada uma intervenção, com
TCC, em indivíduos com sobrepeso, além de bulimia nervosa e compulsão
alimentar. O tratamento consistia na “terapia cognitivo-comportamental
potencializada” (tradução de “Enhanced” Cognitive Behavioral Therapy [CBT-
E]), realizada em 30 sessões, ao longo de 6 meses e dividida em 4 fases.
A primeira fase tinha como objetivo fornecer psicoeducação sobre o
tratamento e introduzir os princípios do automonitoramento ao paciente,
utilizado para registro da alimentação, comportamentos, pensamentos,
sentimentos e eventos associados e, assim, sugerir mudanças e melhorias na
rotina do paciente. Na segunda fase, o progresso era revisado e as dificuldades
abordadas, visando superá-las. Na terceira etapa, foram identificadas as
principais distorções cognitivas que reforçavam a manutenção dos TA’s,
buscando flexibilizar as crenças disfuncionais dos pacientes, por meio da
reestruturação cognitiva e da resolução de problemas. Por fim, na última etapa,
era abordado o sistema de vigilância para prevenção de recaídas (PALAVRAS,
et al., 2020).
Neste estudo, foi observado que houve uma perda de peso maior que
5% do peso inicial, sustentada após o acompanhamento, em média, por 20%
das pessoas. Além disso, como desfecho secundário, verificou-se melhora dos
sintomas dos TA’s, como a redução de 16% da prevalência de compulsão
alimentar e, também, a minimização de mecanismos compensatórios na
alimentação (PALAVRAS, et al., 2020).
Efeitos positivos e consistentes também foram encontrados em uma
metanálise, proposta por Linardon (2018). Sabemos que a disfuncionalidade
psicológica comum aos transtornos alimentares é um sistema de autoavaliação
ineficiente, em que a autoestima costuma estar atrelada, em grande parte, ao
peso corporal e ao baixo controle em seu manejo. Essa preocupação excessiva
com o peso e a forma corporal corrobora para a manutenção de restrições
alimentares, ou de regras alimentares rígidas, que governam o comportamento
alimentar (LINARDON, 2018). Dessa maneira, o estudo teve como objetivo
analisar se a TCC seria eficaz à redução da restrição alimentar e das
preocupações disfuncionais em relação à forma e peso corporal. Os resultados
mostraram que ao comparar a TCC com nenhum tratamento (lista de espera ou
placebo), obteve-se efeitos estatisticamente significativos e moderados,
mostrando a eficiência da TCC sobre a redução da restrição alimentar e das
preocupações com o peso corporal. Além disso, observou-se que a TCC tinha
um efeito geral mais significativo sobre o controle de sintomas de
compulsão/purgação, com potencial à modificação de mecanismos cognitivos-
comportamentais disfuncionais (LINARDON, 2018).
Pesquisadores da Universidade de Oxford procuraram adaptar e
reformular o tratamento baseado na TCC em um modelo transdiagnóstico que
englobasse os transtornos alimentares não especificados (TANE)
(GONÇALVES et al., 2013), que compreendiam cerca de 80% dos pacientes
ambulatoriais com TA. Foi realizado estudo randomizado com 154 indivíduos
com bulimia nervosa (38,3%) ou TANE (61,7%), submetidos ao tratamento com
o modelo transdiagnóstico. O tratamento tinha duração de 20 semanas e um
período de 60 semanas de acompanhamento (FAIRBURN., et al 2009).
No estudo, houve separação de três grupos, sendo que dois (grupos)
recebiam tratamento transdiagnóstico. Um grupo se concentrava apenas nas
características do transtorno alimentar e o outro em um tratamento mais
complexo que, além do TA, também, abordava intolerância ao humor,
perfeccionismo clínico, baixa autoestima e dificuldades interpessoais. O
terceiro grupo foi chamado de “lista de espera” e não recebia qualquer tipo de
intervenção. A avaliação foi efetuada por meio do Eating Disorder Examination
Questionnaire (EDE-Q). Esse instrumento compreende quatro escalas:
restrição alimentar, preocupação alimentar, preocupação com a forma corporal
e preocupação com o peso. Também foram utilizados o Brief Symptom
Inventory (BSI) e uma Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-V
(FAIRBURN., et al 2009).
Observou-se que os pacientes, dos dois grupos que realizaram o
tratamento, obtiveram melhora significativa em relação ao grupo sem
intervenção. Os pacientes conseguiram manter essa melhora ao longo das 60
semanas avaliadas e, ao final de 20 semanas, mais da metade tinha
indicadores de transtorno alimentar inferior a um desvio padrão acima da média
da comunidade. Em relação, aos pacientes com bulimia nervosa, ao final do
tratamento, 38,6% não relataram episódios de compulsão alimentar ou
purgação nos últimos 28 dias, e em 60 semanas de acompanhamento a
proporção de melhoria foi de 45,6% (FAIRBURN., et al 2009).
Em um artigo de revisão buscou-se evidências da TCC no tratamento de
obesos com o Transtorno de Compulsão Alimentar. A revisão apontou redução
de episódios e de gravidade da compulsão alimentar avaliada pela Escala de
Compulsão Alimentar Periódica. Além disso, a TCC proporcionou melhora em
relação às atitudes e comportamentos relacionados à alimentação e à forma
corporal, com diminuição do grau de insatisfação com a forma corporal e
aumento do controle de impulsos que levavam a um comer inadequado e
descontrolado. Dessa maneira, as evidências mostraram que estratégias de
TCC ajudaram os indivíduos na melhora de sintomas psicopatológicos do
transtorno alimentar, porém, não houve resultado significativo na redução do
peso corporal (DUCHESNE., et al 2007).
Abordagem Familiar
Estratégias de TCC também podem ser adotadas em cenários que
requerem que toda uma família participe efetivamente, na premissa de que a
organização familiar influencia os fatores mantenedores, ou desencadeantes,
de comportamentos disfuncionais que corroboram com o transtorno.
A família exerce papel importante na construção de hábitos alimentares,
além de transmitir crenças e atitudes sobre alimentação, dieta e imagem
corporal (CANALS, et al., 2009). Como muitas crenças e comportamentos
disfuncionais são praticadas no cotidiano pelos pais, cuidadores e demais
membros da família, isso pode prejudicar a melhora do indivíduo com TA. É
importante ressaltar que, mesmo com essa abordagem familiar, o paciente
deve continuar com o acompanhamento individual (CANALS, et al., 2009).
Na primeira etapa, da abordagem familiar, é feita a avaliação geral com
objetivo de se conhecer a dinâmica familiar (o sistema de crenças e de
relacionamentos entre os membros) e definir quem participará dos encontros.
Nessa etapa, são analisados os conflitos e regras familiares que influenciam a
aquisição e manutenção de transtornos.
A segunda etapa é voltada à psicoeducação da família acerca do
transtorno alimentar e das estratégias de TCC. Busca-se explicar a etiologia e
os fatores de manutenção do TA, além de ser feito a familiarização do modelo
cognitivo-comportamental aos membros da família, para que cada um defina
sua responsabilidade (seu papel funcional) sobre o tratamento (CANALS, et al.,
2009).
A terceira etapa é chamada de reestruturação cognitiva, quando se
treina o monitoramento e registro de pensamentos disfuncionais e, também, o
uso de estratégias, como o questionamento socrático e a resolução de
problemas. O questionamento socrático consiste em uma exploração
colaborativa, em que se busca auxiliar o paciente à mudança de padrões
disfuncionais de pensamentos. O paciente tem papel ativo, a partir de uma
descoberta guiada, em que uma série de perguntas indutivas são feitas com o
objetivo de facilitar a percepção de padrões de pensamentos e
comportamentos disfuncionais e, assim, facilitar a modificação de crenças
negativas. O questionamento socrático permite abordar o processo de
aprendizagem do indivíduo, criando uma autoexploração, quando a pessoa é
induzida a pensar sobre suas próprias respostas e pensamentos automáticos
e, assim, explorar possíveis soluções alternativas e mais eficientes (BECK,
2022).
Por último, ocorre a prevenção de recaídas e avaliação final, que
objetiva ensinar pacientes e familiares a identificarem e mudarem seus
comportamentos disfuncionais, prevendo o que pode acontecer e buscando
enfrentar essas dificuldades com a aprendizagem adquirida (CANALS, et al.,
2009).
Em um ensaio clínico randomizado buscou-se analisar a viabilidade da
abordagem familiar, ou family-based treatment (FBT), com indivíduos
Coleta de Dados
Universo Amostral
Foi realizada uma catalogação a partir de 35 artigos lidos, sendo obtidas
informações a partir de título e resumos/abstract. Em seguida, 30 analisados na
íntegra e 25 utilizados para conduzir a pesquisa documental.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base na pesquisa literária, foi possível explorar artigos que
abordavam o tema das contribuições das estratégias cognitivo-
comportamentais para a mudança de comportamento alimentar. Vinte e cinco
artigos, respeitando os critérios estabelecidos, foram selecionados.
É importante ressaltar que os artigos selecionados abordagem diferentes
fatores do comportamento alimentar, TCC, TA’s e tratamentos, utilizando
abordagens longitudinais, transversais e observacionais, conforme pode ser
observado na Tabela 1, descritos de acordo com o título do artigo/autoria/ano,
objetivo(s) e o tipo de pesquisa.
Tabela 1- Descrição dos artigos selecionados e suas respectivas publicações.