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INTRODUÇÃO
Nesta aula, nosso objetivo, inicialmente, é definir o que é linguagem e o que é língua,
para, então, definirmos o que é a Linguística, a ciência da linguagem e do que ela trata.
Para isso, precisamos determinar para que serve a linguagem, quais as suas funções
e como ela organiza e representa o mundo em que vivemos. É necessário, portanto,
entender a capacidade que o ser humano tem de, por meio da linguagem, significar, ou
seja, de produzir sentido para expressar a sua experiência, seu conhecimento.
Os indivíduos produzem sentidos por meio de símbolos, sinais, signos, sons, gestos,
imagens, mas, no âmbito da Linguística, o que interessa é a linguagem verbal, expressa
por meio de uma língua. Desse modo, precisamos entender também o que é língua, e como
esse objeto de estudo é visto por correntes diversas de estudos dos fenômenos linguísticos.
Com o estudo da linguagem e da língua podemos, então, definir o que é a Linguística,
no vasto campo de interesses pela línguagem. Como afirma Chomsky: “O estudo da
linguagem é um dos ramos mais antigos de investigação sistemática, com marcos que
rastreamos na antiguidade clássica da Índia e da Grécia, e uma história rica em realizações.
A partir de outro ângulo, esse estudo é novo.” Ou seja, há séculos o estudo da linguagem
interessa a vários pesquisadores – religiosos, filósofos, catedráticos (e curiosos) -, mas é
somente no início do século XX que a Linguística se estabelece como ciência, iniciando um
modo sistemático de ver esse fenômeno tão amplo.
Outro ponto a ser discutido diz respeito aos ramos da Linguística, isto é, aos diversos
modos de se estudar a língua(gem). Entenderemos como, com base nesse objeto, foram
construídas teorias diferentes para compreendê-lo. Explicando melhor: qualquer forma de
expressão verbal, seja escrita ou falada, diz sempre respeito a uma linguagem e a uma
língua em particular. E ela é sempre a mesma. As diferenças consistem, então, no objetivo
e no modo como o olhamos.
É a mesma coisa na gramática. Por exemplo, em uma gramática da língua portuguesa,
o objeto é sempre o mesmo: o português, mas há modos diferentes de descrevê-lo:
considerando como escrever corretamente (a ortografia), como pontuar suas frases, quais
os seus sons (a fonética), como classificar as diferentes palavras (a morfologia), como
combinar essas palavras em frases (a sintaxe), entre outros. É a mesma língua, mas
separada em partes para que se tente estudá-la em sua totalidade e, embora o professor
de português deva ser capaz de conhecer toda ela, há estudiosos que se dedicam (ou já
se dedicaram) especificamente a cada uma dessas partes.
São justamente as “partes” da Linguística que nós vamos ver aqui, juntamente com a
sua relação com as demais ciências que também tratam da linguagem, embora apresentem
um ponto de vista diferente da nossa disciplina.
2. A LINGUAGEM
É claro que um indivíduo pode se manifestar de várias formas: por meio de imagens,
como na pintura; por meio de sinais, como nas línguas de sinais; e por meio de sons, como
no caso da fala. Essas várias formas de manifestações justificam uma distinção
fundamental: linguagem verbal e linguagem não verbal.
A linguagem verbal é aquela que se expressa por meio do verbo (termo de origem
latina que significa “palavra”), ou seja, por meio de uma língua, que pode ser oral, escrita
ou sinalizada (a língua dos surdos). Já a linguagem não verbal é aquela que se vale de
outros signos que não os linguísticos, das mais diversas e diferentes naturezas, o que nos
permite falar de linguagem musical, linguagem cinematográfica, linguagem corporal etc.
Para a Linguística, no entanto, interessa apenas a linguagem representada pelas
línguas naturais, principal forma de comunicação humana. A linguagem verbal, ao mesmo
tempo em que possui aspectos inatos (o homem nasce com a capacidade de produzir sons
específicos ao fazer vibrar a coluna de ar da sua respiração), é uma instituição social, pois
é ela que permite as trocas em uma determinada sociedade: interagir com os outros, falar,
contar experiências, representar o mundo, nomeando, criando ou transformando o universo
real.
Assim, a linguagem verbal serve também como expressão do pensamento,
instrumento de comunicação e veículo de interação social. Cada uma dessas concepções,
ao longo dos estudos da linguagem, embasou um modo diferente de pensar o fenômeno
da linguagem.
A primeira concepção – linguagem como expressão do pensamento – deriva dos
estudos clássicos e explica a linguagem a partir das condições de vida psíquica individual
do sujeito falante, como um ato puramente individual que se forma no psiquismo do
indivíduo. É a atividade mental que organiza a expressão, modelando e determinando sua
orientação, ou seja, a capacidade de se expressar depende da organização lógica do
pensamento. Se o indivíduo não consegue se expressar com logicidade é porque não é
capaz de pensar.
A segunda concepção – linguagem como instrumento de comunicação – vem da teoria
da comunicação, proposta por Roman Jakobson nos anos 1970. Nessa tendência, o centro
organizador de todos os fatos da língua situa-se no sistema linguístico (formas fonéticas,
gramaticais e lexicais da língua), considerado como estável, objetivo e externo à
consciência individual e independente. A língua é um código – um conjunto de signos que
se combinam segundo regras capazes de transmitir ao receptor uma mensagem, e a
expressão é uma enunciação (ato de produzir um enunciado, um dizer) monológica, pois
parte da intenção do falante (emissor), que pode dizer o que quer e como quer que será
entendido, bastando que ambos compartilhem o código (a língua).
Finalmente, a terceira concepção – linguagem como forma de interação – é originária
dos estudos mais recentes da Linguística. Segundo essa tendência, a verdadeira
substância da linguagem não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas,
nem pela enunciação monológica, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo
fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações.
A interação verbal constitui, assim, a realidade fundamental da linguagem, ou seja, a
comunicação verbal só pode ser explicada e compreendida nas relações da interação
concreta e na situação extralinguística, isto e, não só na situação imediata, mas também,
através dela, no contexto social mais amplo. Aqui, o outro é mais do que um ouvinte, um
receptor, pois tem papel ativo na construção do dizer – o enunciador tem que levar em
consideração para quem está falando e em que situação está fazendo isso para organizar
sua enunciação (seu dizer). A língua é, portanto, mais do que um código, um conjunto
organizado de regras, já que não há um sentido dado, mas sim construído entre
interlocutores em uma interação verbal, o que faz da linguagem um produto histórico-social.
Podemos dizer, então, que a linguagem tem um lado autônomo – como capacidade
física – e um lado orientado: se não há sociedade sem comunicação, e a linguagem é a
condição da vida social, tudo o que for escrito ou falado depende de uma visão de mundo
compartilhada por sujeitos que vivem em uma determinada realidade social, histórica e
cultural. Por isso, mesmo individual, porque ligada à consciência de um indivíduo, é
compartilhada por toda uma comunidade de falantes. A linguagem foi criada pelo homem
para que ele pudesse cumprir sua função social: interagir com o meio que o cerca e com
os outros homens, fazendo da comunicação a forma de compreensão do mundo e da
interação humana.
É preciso destacar que a linguagem é uma maneira de se perceber o mundo. Isso
quer dizer que as coisas do mundo exterior só têm existência para os homens quando são
nomeadas. É certo que a realidade existe, mas somente podemos perceber as coisas por
intermédio da linguagem, uma atividade simbólica que cria conceitos sobre as coisas do
mundo, ordenando a realidade e categorizando o mundo. E isso é feito por meio da língua
– é ela que permite interpretar a realidade, já que cada língua pode ordenar o mundo de
maneira diversa, exprimindo modos de ver a realidade.
Uma enunciação, quer seja falada ou escrita, não é apenas uma forma de mostrar
objetos, mas um meio de interpretar a realidade, designando as coisas do mundo,
comentando-as e estabelecendo relações entre elas, em um processo de interação com os
outros que compartilham esse mesmo conhecimento dado pela língua. Dessa forma, como
afirma Fiorin (2013), “a linguagem é um meio de ação recíproca, é um meio de interagir
com os outros, é um lugar de confrontações, de acordos de negociação.
Assim, a linguagem cumpre diferentes funções. Essas funções foram estabelecidas
por Roman Jakobson, no quadro teórico da Teoria da Comunicação, centrada nas relações
entre emissor (quem fala ou escreve), receptor (quem ouve ou lê), código (língua),
mensagem (o enunciado, falado ou escrito), canal (meio pelo qual circula a linguagem) e
referente (assunto, contexto, situação, fato a que a mensagem se refere), como se pode
ver na imagem abaixo:
Fonte: Cola na Web
Fonte: Google
A linguagem, no entanto, não se destina apenas a informar, mas serve também para
expressar a subjetividade. Tem-se então a função emotiva, centrada no emissor, que, com
palavras, expressa seus sentimentos e emoções. Essa é a função centrada na
subjetividade, como podemos ver no tuíte abaixo:
Fonte: Google
Fonte: Google
Fonte: Google
Essas são, então, as seis funções da linguagem descritas por Jakobson (referencial,
conativa, emotiva, fática, metalinguística e poética). É preciso, destacar, porém, que não
há um texto que tenha apenas uma função – apenas uma delas é a que se destaca.
Observe o exemplo:
O texto acima é uma propaganda, cuja função primordial é a conativa, pois é uma
mensagem centrada no receptor, que tem de ser convencido frequentar o lugar anunciado.
E vemos que isso acontece na propaganda acima, especialmente no slogan “Com você na
Feira do Livro”. Mas também é claro que uma propaganda tem de informar a respeito do
seu produto, por isso também temos a função referencial - veja o enunciado “Happy Hour
com música ao vivo todos os dias a partir das 18h” ou mesmo o nome: “Bistrô do MARGS”.
No entanto, considerando a forma como o texto da propaganda é organizado, recorrendo
inicialmente a uma retextualização do poema de Carlos Drummond de Andrade “E agora
José”, a função principal deste texto é a poética. Note que não é um simples “Venha...” ou
“Compre...” ou “Temos...”. Há um “trabalho” em manusear esteticamente a linguagem da
propaganda, mesclando-a à linguagem literária, o que torna essa peça publicitária
diferenciada. Desse modo, embora as outras funções estejam presentes, a preponderante
neste texto é a função poética.
Portanto, podemos concluir que a linguagem tem diversas funções que se realizam
em textos diversos: ela serve “para informar, para influenciar, para exprimir sentimentos e
emoções, para criar e manter laços sociais, para falar da própria linguagem, para ser fonte
e lugar de prazer” (FIORIN, 2013, p. 26). Mas, como vimos antes das seis funções da
linguagem propriamente ditas, ela também serve para perceber o mundo, para caracterizar
a realidade, para propiciar a interação verbal.
3. A LÍNGUA
4. A Linguística
6. Bibliografia
Esta aula foi organizada com partes das seguintes obras:
BAGNO, M. Língua, linguagem, linguística. Pondo os pingos nos ii. São Paulo: Parábola,
2014.
CARONI, F. Introdução à Linguística. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
FIORIN, J. L. Introdução à Linguística I – Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
___. A linguagem humana: do mito à ciência. In: FIORIN, J. L. et al. (orgs.) Linguística? O
que é isso? São Paulo: Contexto, 2013.
LYONS, J. Lingua(gem) e Linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1987.
MARTELOTTA, M. E. (org.) Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2008.
MAINGUENEAU, D. Introdução à Linguística. Lisboa: Gradiva, 1996.
ORLANDI, E. P. O que é Linguística. São Paulo: Brasiliense, 1986.
RAMANZINI, H. Introdução à Linguística moderna. São Paulo: Ícone, 1990.
TURIN, R. N. Aulas: introdução ao estudo das linguagens. São Paulo: Annablume, 2007.
https://www.youtube.com/watch?v=9LA-8nzO9XE&t=3s
https://www.estudopratico.com.br/linguagem-lingua-e-fala-o-que-sao-e-suas-diferencas/
http://paginapessoal.utfpr.edu.br/gustavonishida/disciplinas/linguistica-geral/LYONS%20-
1987.pdf/view
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3189923/mod_label/intro/NEGR%C3%83O_Estrut
uraDaSentenca.pdf
https://docslide.com.br/documents/o-que-e-linguistica-eni-pulcineli-orlandi.html
https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxsZ3Vmc
GVsfGd4OjM5MTE3NTNhNmQyNThlNDk
http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/4168/n/lingua:_modos_de_usar
https://www.youtube.com/watch?v=6dYmDQzvLJY
http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3136/n/linguistas_e_gramaticos