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Em defesa da pátria comunicação quem define a forma

como se fala e falará. Daí a


Joaquim 4 de Outubro de 2009, 0/00 responsabilidade dos jornalistas, que
Vieira? pode ser encarada de muitas maneiras
mas que, para um jornal com o estatuto
editorial do PÚBLICO, deveria ser no
sentido de defender de modo coerente a
correcção do português - o que implica
apurados cuidados da parte de quem
escreve.

O provedor já noutras crónicas tem


sublinhado este aspecto, com o
levantamento de inúmeros erros,
muitos deles sistemáticos, que
poderiam ser corrigidos com melhor
formação ou até com um pouco mais de
atenção ao que se verte para o teclado.
A extinção progressiva - ditada pela
contenção de custos - dos revisores de
JOSEPH BARRAK/AFP
texto, a quem incumbia a tarefa de zelar
Se, como escreveu Pessoa, "a minha pelo respeito das regras, só tem ajudado
pátria é a língua portuguesa", preservar a tornar as coisas piores. Os alertas
a língua é lutar pela pátria lançados nesta coluna destinam-se
apenas a fazer ver como muitos erros
Mais do que um território, um conjunto podiam ser evitados se os jornalistas
de tradições ou um traço genético, a tivessem um pouco mais de
língua pode ser factor de identidade de sensibilidade para o problema.
uma comunidade nacional. Tome-se
como se quiser, é isso que diz o Veja-se o caso dos estrangeirismos,
aforismo de Pessoa: "A minha pátria é a cada vez mais frequentes, porque cada
língua portuguesa." E o futuro da língua vez mais, abdicando da investigação
está hoje nas mãos dosmedia: é a própria (também devido à poupança),
imprensa e os meios electrónicos de se traduz notícias e informações já
publicadas noutras línguas (sobretudo naquele país seja efectuado pelo
em inglês e na Internet). Entre muitos exército, mas sim por funcionários
outros, eis dois exemplos detectados ("officers" em inglês) governamentais.
pelo leitor Rodrigo Valle Teixeira na
edição de 5 de Setembro: na pág. 5, no Mais para ocidente, noticiou o
artigo "Cientistas portugueses usam PÚBLICO de 13 de Setembro, na pág.
teoria dos jogos para redefinir o 15, sobre o jornalista iraquiano que
combate do cancro", "no segundo atirara os sapatos a George Bush
parágrafo, a frase "Se tudo corre bem, durante uma conferência de imprensa
há um balanço entre esta dinâmica..." em Bagdad, que fora "condenado a três
deveria ser "Se tudo corre bem, há um anos de cadeia por assalto a um chefe
equilíbrio entre esta dinâmica...""; na de Estado estrangeiro". Tradução
pág. 14, no artigo "Cinco pessoas errada do inglês "assault", que não
morreram em protestos em Xianjiang", significa "assalto" (a uma pessoa) mas
"onde se lê "com o tráfico cortado" sim "agressão".
deveria ser "com o tráfego cortado"".
Comenta o leitor que no primeiro caso E a 10 do mesmo mês escrevia-se na
"parece uma tradução literal errada do pág. 14 sobre um "candidato
inglês "balance"", e quanto ao segundo: incumbente", expressão inexistente nos
"Imagino que as autoridades chinesas dicionários de português, em que não
tenham cortado o trânsito automóvel, e há equivalente para "incumbent"(do
não o tráfico de substâncias ilegais." inglês, um eleito recandidato). Em
contrapartida, existe uma palavra
Ainda a propósito do Oriente, a legenda portuguesa para significar a expressão
de uma foto da reportagem "Bebés inglesa"statute of limitations", que é
roubados na China alimentam negócio "prescrição" (legal), mas o jornalista-
das adopções", na pág. 4 do P2 de 28 de tradutor que fez uma notícia para a pág.
Setembro, fala em "oficiais do 13 dessa edição não deu por ela,
planeamento familiar", quando o texto, escrevendo: "Não existe qualquer
correctamente, menciona "funcionários estatuto de limitação da
do planeamento familiar". Não consta, responsabilidade pelos crimes de
na verdade, que o planeamento familiar guerra."
Ainda no domínio jurídico, escreveu Se bem que o inglês seja a influência
Nuno Curado: "Não percebo como é que dominante, não é a única. "Pasta",
num "jornal de referência" não há o palavra italiana para "massa", ainda
cuidado para evitar a tradução directa não entrou no léxico português, mas
de certos termos em inglês quando está permanentemente a ser usada.
estes não correspondem na língua Exemplo: "Para Jamie Olivier, se o
portuguesa. Utiliza-se no texto o termo azeite for bom, a pasta for fresca..." (1
"evidências" como se se tratasse da de Abril, pág. 4).
palavra "provas". Isso funciona em
inglês, em que"evidence"realmente tem E depois há o recurso abusivo a
esse significado." (O leitor, que escrevia palavras estrangeiras, outro tema
em 24 de Setembro, não disse onde é também já abordado nesta coluna. É o
que detectou a "evidência", e o provedor caso que levou a leitora Isabel Barros
também não a localizou, mas o erro é Ferreira a reclamar: "No PÚBLICO de
tão frequente nosmedia portugueses 14 de Setembro, pág. 20, sob o
que, mesmo assim, vale a pena o antetítulo "Consumo - Legislação traz
alerta.) mais garantias aos utilizadores dos
centros de atendimento", seguia-se um
Quanto a Rui Miguel Neiva, reparou no artigo cujo título era: "Nova lei dos call
seguinte: "Na edição de 15 de Setembro, centersobriga as empresas a gravarem
no artigo da pág. 20 sobre a "guerra dos as chamadas por 90 dias." Se há em
pneus" entre os EUA e a China, diz-se português o termo "centro(s) de
no final da primeira coluna: "(...) e vêm atendimento", que me parece
responder às reivindicações das uniões perfeitamente adequado para traduzir o
de trabalhadores norte-americanos." inglês "call center(s)", como aliás é
Esse "união dos trabalhadores" não utilizado no antetítulo, porquê insistir
estará a referir-se a um (ou vários) três vezes, no corpo do artigo, na
sindicatos? É que a palavra"union" em expressão inglesa? Não haverá tradução
inglês significa não só "união" mas adequada de termos como "backoffice"
também "sindicato", o que, pelo e "contact center", para não falar de
contexto do texto, parece ser o caso. "time-sharing"? É que estes termos
Tem o leitor razão. aparecem também no mesmo artigo
que, presumo, seja feito para ser lido
maioritariamente por portugueses. E,
não sendo o inglês língua oficial de com conteúdo "au meunier". (...)
Portugal, não entendo como obrigatório Acrescento outra pérola, de 5 de
que todos tenham de saber traduzir Setembro. (...) É nos destaques de TV
aquelas palavras." que está este anúncio de uma
verdadeira revolução (ou será
Mudando de tema, o leitor Paulo Rato revulsão?) da História:Roubos de Arte
propôs-se intitular "Vamos salvar as Nazi (...) narra a história épica do roubo
preposições!" a sua carta ao provedor. sistemático, da destruição deliberada e
Eis a razão: "Tenho notado que a da sobrevivência milagrosa dos
temível quinta coluna que, infiltrada em tesouros artísticos europeus do Terceiro
tudo o que é meio de comunicação de Reich e da Segunda Guerra Mundial".
massas, actua impunemente com o Será também da doença das
intuito de descaracterizar a língua preposições?"
portuguesa (...), se voltou agora para as
preposições. (...). Num artigo publicado Muito há a acrescentar, mas propõe-se
no P2 de 4 de Setembro, "Assassinaram apenas uma reflexão aos jornalistas.
o perfeito Brian?", lê-se: "empreiteiro Num título na pág. 10 de 17 de Julho,
encarregue pela remodelação da "Social-democratas em silêncio sobre
mansão do guitarrista". Que significa propostas de revisão constitucional
isto em português bem para a Madeira", o PÚBLICO aderiu à
"preposicionado": que uma entidade, de tendência tão em voga nos meios
nome "remodelação", encarregara o audiovisuais de fazer o plural de "social-
empreiteiro da mansão. De quê? Talvez democrata" apenas no termo final, e
de cuidar dela, de verificar que nada lhe não, como indicam a maior parte dos
acontecia, coisas assim... No PÚBLICO, filólogos, nos dois ("sociais-
semanas antes, escreveu-se: democratas"). Como fará quem assim
"Salvaguardando não conhecer ao procede para o plural de "democrata-
detalhe a directiva". Dou de barato o cristão"?provedor@publico.pt
"detalhe", galicismo de há muito Reclamou a leitora Graça Horta: "Foi
acolhido pelos dicionários (...), mas com espanto que no PÚBLICO de 28 de
refiro a sua origem porque, neste caso, é Outubro reparei que os resultados [das
admissível que a preposição também eleições legislativas] por distrito eram
tenha vindo de França, a acompanhar o dados para as forças políticas com
"detalhe", em embalagem de alumínio, assento parlamentar e ainda para... o
MEP! Ou se dava o resultado de todos previamente, sob pena de se verificarem
os partidos concorrentes, ou, a escolher atrasos no fecho da edição (...). Tal não
um pequeno partido, seria da lógica se verificou (...). O erro foi, na noite das
mais elementar publicar o do mais eleições e já de posse dos resultados,
votado entre os pequenos, no caso o não se ter apagado de todas as tabelas a
PCTP/MRPP. (...) O PÚBLICO está coluna referente ao MEP, que pareceu
interessado em promover o MEP?" estranha, e com razões para isso, a
muitos leitores."
Perante facto na verdade tão insólito,
reconheceu o director adjunto Paulo O provedor alvitraria solução diferente:
Ferreira: "A crítica da leitora é certeira. como jornal de referência que aspira a
Tratou-se de um erro, que não devia ter ser, e porque nem todos os seus leitores
acontecido mas que tem explicação são eleitores dos "cinco grandes", o
simples. Cerca de duas semanas antes, PÚBLICO deveria divulgar os
o PÚBLICO começou a preparar as resultados distritais de todos os
bases informáticas e infográficas para a partidos concorrentes (além dos votos
edição em causa. Tratava-se de criar brancos e nulos) e não segregar, na base
automatismos para que, na noite da adivinhação, quem julga que não
eleitoral, a elaboração dos mapas, elege deputados.
gráficos e tabelas de resultados pudesse
ser feita com rapidez e adaptada aos
espaços reservados em cada página. No
caso das tabelas distritais, a indicação
Descarregue a aplicação do PÚBLICO, subscreva as nossas
por mim dada ao departamento notificações e esteja a par da evolução do novo coronavírus.
informático foi no sentido de prevenir a
Subscreva a nossa newsletter
possibilidade de se acrescentar uma
sexta coluna para além dos cinco
partidos habitualmente mais votados. TÓPICOS
Porquê? Porque nas eleições europeias
OPINIÃO
o MEP tinha sido o sexto partido mais
! TORNE-SE PERITO
votado em Lisboa e, se repetisse a
mesma percentagem, teria eleito um
deputado nesse distrito. Essa
possibilidade tinha que ficar garantida

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