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Porém, todas estas aflições “diplomáticas” ficariam, segundo os apologistas do Acordo (entre os
quais se inclui, enfaticamente, o actual Ministro da Cultura), desde que se escrevesse “fato” por
“facto” e “afeto” por “afecto”, não teria qualquer importância que, em documentos ou relatórios
ou livros, encontrássemos coisas como estas, que recolho, sem dificuldade, de apenas dois livros,
de dois grandes nomes da literatura brasileira do nosso tempo: não vou aqui me gabar - mas vi
Luzes da Cidade mais de vinte vezes?; “…King Vidor queria dizer para nós, os intransigentes
em cinema…”, (…) são exemplos mais do que significativos da profunda divergência, em
termos gramaticais e do léxico, entre o português do Brasil e o português de Portugal.
Divergências que aparecerão, gritantes, nos papéis dos areópagos internacionais e nas trocas de
papelarias entre chancelarias: e de modo tão evidente, que o pífio, penteado ortográfico, em que
tanto investimento se tem feito e se quer continuar a fazer, desaparecerá, pálido e insignificante,
confrontado com a pujança divergente daquilo que constitui o cerne da língua – o glossário
rebelde e a gramática impertinente. Pensar que um acordo ortográfico irá apagar as diferenças
vitais e fundamentais – aquelas que realmente dão nas vistas – é não querer aceitar o óbvio.
Quem já andou por embaixadas, sabe perfeitamente que muitos brasileiros só quando não podem
é que não troçam do português europeu, que consideram antiquado e um pouco ridículo (dizer
“casa de banho” em vez de “banheiro” suscita-lhes a vis trocista ao mais alto grau…), talvez, por
isso mesmo, um personagem de uma crónica deliciosa de Luís Fernando Veríssimo observe,
jogando à defesa e olhando de viés para a construção gramatical portuguesa: “Pronome no lugar
certo é elitismo”. Como se vai resolver esta atitude bastante generalizada entre brasileiros?
Unificando (só em parte) a ortografia? Passando a dizer, como eles, “planejando”, “equipe”,
“estrogonofe” e outras coisas assim?
Tenhamos a coragem de admitir, de uma vez por todas, que há um português ortónimo – o que se
fala e escreve em Portugal - e vários portugueses heterónimos (os que se falam no Brasil, em
Moçambique, em Angola, etc.) que se falam e que se escrevem.
Apagar esta heteronímia, tentar fingir que o português é só um, por via de uma tímida e ridícula
unificação ortográfica é querer tapar o sol com a peneira. Acham, a sério, que se pode confundir
uma uniformização ortográfica com a “unidade essencial da língua”? Que “E embolaram” é da
mesma língua que: “E pegaram à zaragata”? a sério que acham? Num tá bom da bola!
Eugénio Lisboa
1.Relacione o título com o texto. (1,0)
5.“Como é que a unificação, aliás relativa, na ortografia – que não passa de uma simples
convenção de escrita pode ambiciosamente significar a unidade essencial da língua
portuguesa…”
a)Reescreva a frase substituindo a expressão sublinhada por uma palavra de sentido equivalente.
(2,0)
6. Sem exceder uma página escreva um texto argumentativo sobre um dos problemas que os
países da CPLP enfrentam. (5,0) (Não se esqueça de sublinhar a sua tese)
Bom sorte!