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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

2º ano

Trabalho de campo

Tema:
TEORIA BUROCRÁTICA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Discente: Hamina Salimo Gumende Uahele Código: 708224931

Tutor: André Fernando Vahala

Curso: Licenciatura em Administração Pública

Disciplina: Reforma do Sector Público – Código:

Maputo, Maio de 2023


Categorias Indicadores Padrões Classificação

Pontuação Nota Subtotal


máxima do
Tutor

Estrutura Aspectos  Capa 0.5


Organizacionais
 Índice 0.5

 Introdução 0.5

 Discussão 0.5

 Conclusão 0.5

 Bibliografia 0.5

 Contextualização 1.0
(indicação clara do
Introdução problema)
 Descrição dos 1.0
objectivos

 Metodologia adequada 2.0


ao objecto do trabalho
 Articulação e domínio 2.0
do discurso académico
(expressão escrita
cuidada,
coerência/coesão
textual)
Análise e
 Revisão bibliográfica 2.0
discussão
nacional e
internacionais
relevantes na área de
estudo
 Exploração dos dados 2.0

Conclusão  Contributos teóricos 2.0


Conteúdo práticos

 Paginação, tipo e 1.0


tamanho de letra,
paragrafo,
espaçamento entre
Aspectos Formatação linhas
gerais
Referencias Normas APA 6ª  Rigor e coerência das 4.0
Bibliográficas edição em citações/ referências
citações e bibliográficas
bibliografia

ÍNDICE
CAPÍTULO - I...............................................................................................................................4
1.
Introdução 4

1.1 Objectivos (Geral, Específicos).................................................................................................5


1.2..Metodologia..............................................................................................................................5
CAPÍTULO - II..............................................................................................................................6
ENQUADRAMENTO TEÓRICO ..................................................................................................6
1.3.ESTADO....................................................................................................................................6
1.3.1.Administaração Pública..........................................................................................................6
1.3.1.1.Natureza e Finalidade da Administração Pública................................................................8
CAPÍTULO - III............................................................................................................................9
1.4. Administração Pública: Modelos Teóricos e Evolução............................................................9
1.4.1. Concepção de Burocracia .....................................................................................................9
1.4.1.1. Administração Burocrática...............................................................................................10
1.4.1.2. Características das Organizações burocráticas.................................................................13
1.4.1.3. Vantagens da Burocracia..................................................................................................16
1.4.1.4. Disfunção Burocrática......................................................................................................16
1.4.1.5.Enquadramento da Burocracia na Administração Pública Moçambicana.........................17
2.Considerações finais...................................................................................................................18
3.Referências Bibliográficas..........................................................................................................19
CAPÍTULO - I

1.Introdução

Ao longo dos anos assiste-se a múltiplas mudanças económicas, legislativas e sociais; no século
XX e com a globalização a maior mudança foi de ordem tecnológica. Estas mudanças
influenciam não só desenvolvimento social, jurídico e económico como também a toda
Administração Pública.

Com estas mudanças surgem também novos desafios, novas necessidades, novas
estruturas e um desenvolvimento das estruturas já existentes, como é o caso dos
recursos humanos. Estes gerem a vida profissional das pessoas, e acompanhou todo este
desenvolvimento, tornando-se cada vez mais complexo.

A Administração Pública é o aparelhamento do Estado, organizado para a realização de


seus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas. Para satisfazer as
necessidades de seus cidadãos a Administração Pública inevitavelmente precisa manter-
se em constante evolução. Este trabalho de campo, tem como objetivo, abordar a teoria
burocrática na Administração Pública.

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1.1. Objectivos

Geral

 Ter noção geral da teoria burocrática na Administração Pública

Específicos

 Ter noção da definição do estado ;


 Conhecer o conceito, a natureza e finalidade de administração pública;
 Analisar a concepção da burocracia;
 Perceber e identificar as características das organizações burocráticas;
 Conhecer as vantagens e disfunçoes (desvantagens) da teoria burocrática;
 Saber enquadrar a teoria brocrática na Administração Pública Moçambicana.

1.2. Metodologia

O presente trabalho é meramente de revisão bibliográfica de informação obtida a partir


de fontes escritas, obtidas de livros virtuais, seguida de uma minuciosa compilação,
usando os meios informáticos disponíveis.

A pesquisa bibliográfica é aquela que se “desenvolve tentando explicar um problemas,


utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em livros ou obras
congêneres” (KÖCHE: 1997:122). Normalmente, neste tipo de pesquisa, são utilizados
dados de natureza teórica, identificando-as, analisando-as e avaliando a contribuição
dessas para a compreensão ou explicação de um determinado problema.

5
CAPÍTULO - II

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.3. ESTADO

De acordo com a abordagem que se pretende neste estudo, é indispensável que se inicie
com a discussão entorno do conceito de Estado, na medida em que toda acção da
administração pública objectiva materializar os fins e funções do Estado.

Embora se reconheça ser difícil dar uma definição “completamente fechada” de Estado
devido a complexidade que o caracteriza, (AZAMBUJA, 2008, p. 67) trás uma
definição simples sobre o Estado que o ajuda a obter um conhecimento razoável em
relação ao conceito.

Para (AZAMBUJA, 2008, p. 67), “Estado é a organização político-jurídica de uma


sociedade para realizar o bem público, com governo próprio e território determinado”.
Desta definição podemos retirar três aspectos essências, que conjugados constroem os
elementos indispensáveis para a existência de um Estado. Os três elementos são:
território, povo e poder político.

1.3.1.Administaração Pública

A expressão “administração pública” pode referir-se a diferentes contextos e diferentes


significados, não apenas pela complexidade da sua acção, mas também pelas reformas
progressivas que o Estado moderno vem sofrendo ao longo dos tempos, com vista a
assegurar a prossecução dos seus fins.

Para (PALUDO, 2012, p. 21). A Administração Pública é o aparelhamento do Estado,


organizado para a realização de seus serviços, visando à satisfação das necessidades
coletivas. Para Meirelles (1994, p. 55), o estudo da Administração Pública em geral,
“compreendendo a sua estrutura e as suas atividades, deve partir do conceito de Estado,
sobre o qual repousa toda a concepção moderna de organização e funcionamento dos
serviços públicos a serem prestados aos administrados”.

O termo Administração Pública, devido à amplitude de seu campo de atuação, carrega


diferenciações em sua conceituação, conforme a especificidade que se pretende
apresentar em determinada situação. Junquilho (2010, p. 16) ressalta que “definir o
conceito de Administração Pública não é fácil, dada a sua amplitude e complexidade”.
6
Isso faz com que esse conceito seja desdobrado para englobar a amplitude de sua
expressão e, assim, contemplar diversas referências (MEIRELLES, 2001, p. 59). Em
sentido amplo, refere-se ao conjunto de órgãos de governo com função política e de
órgãos administrativos, com função administrativa. Em sentido estrito, define-se a
Administração Pública como o conjunto de órgãos, entidades e agentes públicos que
desempenham a função administrativa do Estado.

Segundo Paludo (2012) o sentido amplo compreende tanto o governo – responsável por
tomar as decisões políticas - a estrutura administrativa, bem como à administração – que
executa essas decisões. Já o sentido estrito compreende apenas as funções
administrativas relacionadas à execução dos programas de governo, prestação de
serviços e demais atividades.

A expressão administração pública [além de suas divisões em sentido amplo e sentido


estrito e sua diferenciação gráfica] é tratada e diferenciada em subjetivo/orgânico/formal
- em sua essência, relacionado aos órgãos da Administração Pública – e pelos termos
objetivo/material/funcional - em sua essência, relacionado às atividades executadas pela
administração (MEIRELLES, 2001).

Meirelles (2001) diferencia esses dois termos e destaca a respeito:

‘’um, normalmente chamado de subjetivo, orgânico ou formal, no qual


essa expressão compreenderia as pessoas jurídicas, seus órgãos e agentes
que executam a atividade administrativa; outro, conhecido como
objetivo, material, operacional ou funcional, compreendendo a atividade
empreendidapor esses agentes’’. (MEIRELLES, 2001, p. 59).

Pessoa (2003) descreve que a Administração Pública, em seu sentido orgânico ou


subjetivo, designa a estruturação e organização dos órgãos, repartições, unidades e
entidades Públicas. Cretella Júnior (1966), lembra que em:

Adotando-se o critério subjetivo ou orgânico, administração é o


complexo de órgãos aos quais se confiam funções administrativas, é a
soma das ações e manifestações da vontade do Estado, submetidas à
direção do chefe do Estado. (CRETELLA JÚNIOR, 1966, p. 24).

A administração pública moçambicana passa por um processo sucessivo de reforma”.


Neste caso, a expressão se refere ao aparelho do Estado, isto é, ao conjunto formado por
um governo, por um corpo de funcionários que se ocupa da gestão e por uma força

7
policial e militar que busca assegurar a protecção contra inimigos externos, bem como a
ordem interna. Ou seja, quando o aparelho do Estado é complementado por um
ordenamento jurídico que o regula e que regula toda a sociedade (PEREIRA, 1995: 67).

Portanto, a Administração Pública é o conjunto de organizações e de servidores,


mantidos com recursos públicos, cujas actividades são realizadas em conformidade

com a lei, responsáveis pela tomada de decisão e implementação das políticas e normas
necessárias ao bem-estar da sociedade (MELLO, 2000: 130).

1.3.1.1. Natureza e Finalidade da Administração Pública

Segundo MELLO (2004: 132), basicamente, a natureza da Administração Pública


constitui o munus público, isto é, o que emana do poder público ou da lei e que é
exercido em proveito da colectividade. É tudo que procede da autoridade pública, e
obriga o indivíduo a um encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens,
serviços e interesses da colectividade.

Perante essa natureza, impõe-se ao agente público a obrigação de cumprir fielmente os


preceitos do direito e da moral administrativa que regem a sua actuação, ao assumir para
com a colectividade o compromisso de bem servi-la, porque outro não é o desejo do
povo, como legítimo destinatário dos bens, serviços e interesses administrados pelo
Estado (ibidem).

Neste diapasão, MEIRELLES (2004: 67), salienta que a finalidade da Administração


Pública passa pela defesa e prossecução do interesse público (as aspirações ou
vantagens licitamente almejadas por toda a comunidade administrada, ou por uma parte
expressiva de seus membro), através da prestação de serviços aos cidadãos e/ou
promoção o bem-estar da colectividade.

Assim, toda actividade do administrador público deve ser orientada para esse objectivo,
de maneiras que o acto ou contrato administrativo realizado sem interesse público
representa um desvio ao alcance dessa finalidade.

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CAPÍTULO - III

1.4. Administração Pública: Modelos Teóricos e Evolução

Historicamente, a Administração Pública sofreu grandes mudanças em sua forma de


Gestão, tendo como base os seguintes “modelos”: Patrimonialista, Burocrático e
Gerencial. A "evolução" da administração pública,

[...] é um processo de aperfeiçoamento dos serviços prestados pelo


Estado à população e essa pode ser representada por três modelos:
administração pública patrimonial, administração pública burocrática e
administração pública gerencial. Nesses modelos, o objetivo é suprir
uma deficiência do modelo anterior, introduzindo novos conceitos ou
mudando conceitos ineficientes ou nocivos ao aparelhamento do Estado.
(SILVA, 2015, p. 2)

Nesse sentido, o modelo a ser abordado neste capítulo, é o modelo burocrático.

1.4.1. Concepção de Burocracia

A concepção de burocracia é vista pelos leigos como processos lentos com muita
formalidade e exagero, porém, apesar de viver-se numa época totalmente globalizada na
qual as informações são quase em tempo real, a burocracia de certa forma acabou sendo
injustiçada, pois ela surgiu para tornar os processos mais eficientes.

Chiavenato (2003) ressalta que a burocracia é uma forma de organização humana que se
baseia na racionalidade, ou seja, na adequação dos meios aos objetivos desejados, com
intenção de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos.

Weber (1987) apud Migott; Grzybovski e Silva (2001) define a burocracia como um
sistema que administra e propaga a hierarquia, ou seja, uma forma de disciplina rigorosa
e a reverenciar a autoridade.

Segundo Maximiano (2000), Weber procurou descrever o alicerce formal e legal em


que as organizações pudessem se basear. Pois sua atenção estava voltada para a relação
obediência – autoridade (o chamado processo de dominação), no qual as organizações
modernas dependem de leis, no modelo weberiano organizações formais e organizações
burocráticas são sinônimos.

9
1.4.1.1. Administração Burocrática

A "Teoria de Burocracia na Administração" (mais tarde denominada "Staff", do Inglês),


é uma teoria sociológica de MAX WEBER.

Sociólogo alemão Max Weber integrou o estudo das organizações ao desenvolvimento


histórico-social. Na relação Hierarquia Social e Autoridade. Segundo ele, cada época
social caracterizou-se por um determinado sistema político e por uma elite dentro de
determinada Cultura que, para manter essa Cultura e consequentemente o poder dessa
Cultura "Estatal", e a sua também consequente legitimidade, desenvolveu um
determinado aparelho ou estabelecimento - administrativo *Staff "(do inglês) para servir
de suporte à sua autoridade e manter a sociedade nessa Educação, Administração e
Cultura que é Dinâmica em toda Sociedade, ela não para o tempo e espaço devendo ser
e estando a modernizar-se para sua sobrevivência e legitimidade evolutiva, segundo
Max Weber.

Esse modelo foi implementado com o objetivo de suprimir o modelo Patrimonialista, de


modo a organizar e racionalizar a Administração Pública. Para Silva (2015) os ideais
democráticos foram propulsores nessa transição entre os modelos de administração,
pois, passaram a pressionar para que houvesse uma administração pública
profissionalizada, sem a pessoalidade do modelo Patrimonialista, com tratamento
igualitário entre os administrados.

A administração burocrática se orienta pelo cumprimento às normas, à formalidade e ao


profissionalismo, ou seja, a igualdade sendo manifestada por meio de regras formais.
Nessa perspectiva,

[...] trouxe novos conceitos à Administração Pública: a separação entre a


coisa pública e a privada, regras legais e operacionais previamente
definidas, reestruturação e reorientação da administração para atender ao
crescimento das demandas sociais e aos papéis econômicos da sociedade
da época, juntamente com o conceito de racionalidade e eficiência
administrativa no atendimento às demandas da sociedade. (PALUDO,
2012, p. 56).

Diferentemente do conceito popular que a Burocracia simboliza, Max Weber apud


Chiavenatto (2003, p. 262) a define como sendo uma “organização eficiente por

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excelência, e para atingir esta eficiência a burocracia explica detalhadamente como as
coisas deverão ser feitas”. O modelo burocrático parte de uma desconfiança prévia nos
Gestores Públicos.

Por isso, o cumprimento às normas e o controle rígido nas ações dos administrados o
caracterizam. Existe uma atenção especial para coibir os abusos e, nesse sentido, os
controles são focados principalmente na legalidade da admissão de pessoal, na
legalidade das aquisições públicas e na legalidade do atendimento das demandas
(PDRAE, 1995, p. 15).

Secchi (2009, p. 351), assinala que no modelo burocrático, o poder emana das normas,
das instituições formais e não do perfil carismático ou da tradição, reforçando o
entendimento de que “[...]a partir desse axioma fundamental derivam-se as três
características principais do modelo burocrático: a formalidade, a impessoalidade e o
profissionalismo".

Assim, a administração Burocrática é caracterizada pelo que Junquilho (2010) chama de


"dominação legal":

Na dominação legal a legitimação das relações de mandato e obediência


se estabelece pela crença em ordenamentos, regras e estatutos legais,
formais e impessoais. Ou seja, a obediência não é exercida em relação a
um senhor por uma tradição institucionalizada, mas sim por meio de
regulamentos de caráter racional. (JUNQUILHO, 2010, p. 49).

Wilson Granjeiro (2006) refere que nesse modelo de administração a legitimidade da


dominação é o que a mantém. Por esse ângulo, Paludo, (2012) reforça:

A legitimidade facilita o exercício do poder pelos Governos, na medida


em que mais facilmente os governados se dispõem a aceitar esse poder,
na forma de obediência às ordens recebidas (cumprindo as normas
definidas pelos governos); por outro lado, o poder que estiver destituído
de legitimidade encontrará fortes resistências e tenderá a desaparecer.
(PALUDO, 2012, p. 61).

Segundo Junquilho (2010), na concepção weberina as características da burocracia


seriam fundamentais e superiores às demais (tradição e carisma), desde o ponto de vista

11
técnico, para o pleno funcionamento das organizações e, em particular, do Estado diante
das constantes evoluções do mundo moderno. Por isso a importância das características
da burocracia na Administração Pública, pois permitiria o fim do abuso do poder
patrimonial, dos benefícios indiscriminados e favores pessoais, bem como a garantia da
“precisão, velocidade, eliminação de equívocos, conhecimento do registro documental,
continuidade, sentimento de discrição, uniformidade operativa, sistema de
subordinação.” (BENDIX, 1979, p. 399).

Embora sejam reconhecidas vantagens ao modelo de Administração Burocrático


(ancorado pela concepção weberiana), a capacidade do ser humano de agir de forma
distinta ao que está previsto nas regras ou até mesmo não agir, nos dois modos,
infringindo a legislação, não era considerada. Segundo Junquilho (2010), a formalização
do comportamento humano adequada à formalidade da lei, não é possível. Assim, criou-
se uma discrepância entre o que é legal (oficial), formal e o que é informal, entre o que
devia ser feito e o que era feito, “um hiato entre os mundos prescrito - das normas, da
impessoalidade e o real – da pessoalidade, isto é, de sentimentos humanos como o afeto,
a inveja, o ciúme, dentre outros” (JUNQUILHO, 2010, p. 54).

Paludo (2012, p. 63-64) cita algumas questões que configuram as desvantagens


(disfunções) desse modelo burocrático: quais sejam: apego exagerado às regras e
regulamentos internos; formalismo exagerado e excesso de papelório; resistência a
mudanças; desconsideração à pessoa do servidor (despersonalização); rigidez e falta de
flexibilidade; desconsideração do cidadão; decisões distantes da realidade.
Para Paludo (2012), as novas ideias de gestão, fundamentadas nos princípios da
confiança e da descentralização das decisões na busca pelos resultados pretendidos,
passam a exigir formas flexíveis de gestão, descentralização de funções e incentivos à
criatividade, características não contempladas pelo modelo burocrático.

A inaptidão governamental para resolver problemas é que gera todo um


conjunto de críticas ao modelo da Administração Pública do tipo
Burocrática, que passa a ser tomada como causa para a lentidão, o
inchaço, emperramento, a inflexibilidade e a ineficiência do Estado. Dito
de outro modo, a má governança estatal. (JUNQUILHO, 2010, p. 58).

Com a ineficiência do estado no atendimento das necessidades dos cidadãos, somadas


às disfunções enraizadas na burocracia, o modelo burocrático é considerado
insustentável. Faz-se então necessário a implementação de um novo modelo de

12
administração. Um modelo em que se priorize a qualidade do serviço público,
profissionalizando e aperfeiçoando continuamente seus servidores, objetivando um
atendimento de melhor qualidade aos cidadãos que passam a ser vistos como clientes.
Para Silva, (1994, p. 7):

‘’O Estado então passa a buscar o atendimento das necessidades tanto de


regulação quanto dos serviços de seus clientes ou cidadãos, através de
incentivos a programas de flexibilização da gestão pública, tornando sua
máquina administrativa mais barata, ágil e receptiva à inovação gerencial
e a autonomia administrativa’’.

Nessa lógica, o Estado passa a ser visto como um prestador de serviços ao cidadão
devendo se utilizar de instrumentos de mercado para garantir a eficiência de suas
organizações. Assim, a Administração Burocrática vai perdendo referência na
Administração Pública.

1.4.1.2. Características das Organizações burocráticas

Conforme Weber (apud Chiavenato, 2003), a burocracia explica detalhadamente como


as coisas deverão ser feitas para alcançar a eficiência, e tem as seguintes características;
o caráter legal das normas, caráter formal das comunicações, caráter racional e divisão
do trabalho, impessoalidade nas relações, hierarquia da autoridade, rotinas e
procedimentos padronizados, competência técnica e meritocracia, competência técnica
e meritocracia, especialização da administração, profissionalização dos participantes e
completa previsibilidade do funcionamento.

1. Caráter legal de normas e regulamentos: é no qual a organização é conectada


através de normas e regulamentos especificados por escrito, no qual, prevê
exaustivamente todas as ocorrências possíveis. Em outros termos, é uma
organização baseada em uma espécie de legislação própria, um livro de normas e
condutas – como a Constituição para o Estado, os estatutos para a empresa privada,
etc. – que define antecipadamente como a organização burocrática deverá funcionar.
(CHIAVENATO, 2003 p. 262).

2. Caráter formal das comunicações: a organização é atada por comunicações


escritas. Suas regras, decisões e ações administrativas são elaboradas e lavradas por
escrito.

13
Daí o caráter formal da burocracia: todas as ações e procedimentos são feitos para
proporcionar comprovação e documentação adequadas, bem como assegurar a
interpretação unívoca das comunicações. (CHIAVENATO, 2003 p. 263).

3. Caráter racional e divisão de trabalho: possui um aspecto totalmente racional por


ser uma organização que evidencia uma divisão de trabalho sistemática, que atende
a uma racionalidade, que é adequada aos objetivos a serem atingidos: a eficiência da
organização. Há uma divisão sistemática do trabalho e do poder, estabelecendo as
atribuições de cada participante. Cada participante tem um cargo específico, funções
específicas e uma esfera de competência e responsabilidade. (CHIAVENATO, 2003
p. 263).

4. Impessoalidade nas relações: um caráter impessoal por conta da distribuição das


atividades que é feita de forma impessoal, isto é, em termos de cargos e funções e
não de pessoas envolvidas. Conforme Chiavenato (2003) a administração
burocrática considera pessoas como ocupantes de cargos e de funções, o poder de
cada pessoa deriva do cargo que ela ocupa, o mesmo acontece na relação entre
subalterno e chefia, a obediência é em consideração ao cargo de maior nível e não a
pessoa em si, desta forma a burocracia garante a continuidade, pois pessoas vêm e
vão, porém, os cargos e funções permanecem ao longo do tempo. Desta forma, a
burocracia é uma estrutura social impessoalmente organizada.

5. Hierarquia de autoridade: os cargos são estabelecidos de acordo com o princípio


da hierarquia. Cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um
posto superior. Nenhum cargo fica sem controle ou supervisão. Daí a necessidade da
hierarquia da autoridade para definir as chefias nos vários escalões de autoridade.
(CHIAVENATO, 2003 p. 258).

6. Rotina e procedimentos padronizados: As regras e normas técnicas regulam a


conduta do ocupante de cada cargo, cujas atividades são executadas de acordo com as
rotinas e procedimentos. 15 A disciplina no trabalho e o desempenho no cargo são
assegurados por um conjunto de regras e normas que ajustam o funcionário às
exigências do cargo e às exigências da organização: a máxima produtividade.
(CHIAVENATO, 2003 p. 258-259).

14
7. Competência técnica e meritocracia: conforme Chiavenato (2003) é a necessidade
de exames, concursos, testes e títulos para admissão e promoção dos funcionários
ocorrem porque segundo Weber (1999) a burocracia é uma organização na qual a
escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência técnica e não em preferências
pessoais.

8. Especialização da administração: os administradores da burocracia não são seus


donos, acionistas ou proprietários. O dirigente não é necessariamente o dono do negócio
ou grande acionista da organização, mas um profissional especializado na sua
administração. Segundo Chiavenato (2003 p.264), “com a burocracia surge o
profissional que se especializa em gerir a organização, e daí o afastamento do capitalista
da gestão dos negócios, diversificando as suas aplicações financeiras de capital”.

9. Profissionalização dos participantes: segundo Weber apud Chiavenato (2003), é


uma organização que se caracteriza pela profissionalização dos seus participantes. Cada
funcionário da burocracia é um profissional, pelas seguintes razões:

 é um especialista, ou seja, cada funcionário é especializado nas atividades do seu


cargo;

 é assalariado - os funcionários da burocracia participam da organização e


recebem salários correspondentes ao cargo que ocupam;

 é nomeado por superior hierárquico;

 seu mandato é por tempo indeterminado;

 segue carreira dentro da organização;

 não possui a propriedade dos meios de produção, o administrador profissional


administra a organização em nome dos proprietários;

 é fiel ao cargo e identifica-se com os objetivos da empresa, o funcionário passa a


defender os interesses do seu cargo e da sua organização.

10. Completa previsibilidade do funcionamento: o modelo burocrático parte do


pressuposto de que o comportamento dos membros da organização é perfeitamente
previsível:

15
 os funcionários devem comportar-se de acordo com as normas e
regulamentos da organização;
 tudo na burocracia é estabelecido no sentido de prever todas as ocorrências e
transformar em rotina sua execução
1.4.1.3. Vantagens da Burocracia

A Conforme Weber (1999, p. 212), a razão decisiva do avanço da organização


burocrática sempre foi sua superioridade totalmente técnica sobre qualquer outro
modelo. A relação entre um mecanismo burocrático plenamente desenvolvido e os
outros modelos é análoga à relação entre uma máquina e os métodos não mecânicos de
produção de bens. Sendo suas vantagens; “precisão, rapidez, univocidade,
conhecimento da documentação, continuidade, discrição, uniformidade, subordinação
rigorosa, diminuição de atritos e custos materiais e pessoais” (WEBER, 1999 p. 212),
isto faz com que a administração rigorosamente burocrática atinja a excelência quando
executado por funcionários treinados. Chiavenato (2003 p. 266) explica cada uma
dessas vantagens que serviu para alavancar o modelo burocrático de Weber.

1.4.1.4. Disfunção Burocrática

O excesso de burocracia atrapalha a empresa ou a organização e em vez de ajudar, ela


acaba sendo a responsável pela ineficiência, da entidade em vez de ser eficaz.

Conforme Gouldner apud Maximiano (2000), nem toda associação formal possui o
conjunto de características propostas pelo ideal burocrático de Weber, segundo o autor o
tipo ideal pode ser usado como uma medida que possibilita determinar em que aspecto
particular a organização é burocratizada. Merton apud Sanabio et al Santos e David
(2013), diz que o excesso valorização de regulamentos, a automatização das relações
humanas, os exageros de autoridade, a resistência à mudança, a limitação das interações
entre organização e beneficiário, a formalidade excessiva, a hierarquização das decisões
e outros desvios representam disfunções da burocracia.

Conforme, Maximiano (2000), as disfunções ou desvantagens existem porque as


organizações são compostas de sistemas humanos e não mecânicos, estritamente regidos
pelas leis.

16
1.4.1.5. Enquadramento da Burocracia na Administração Pública Moçambicana

Com o golpe de Estado ocorrido a 25 de Abril de 1974, inicia a 2ª. República,


caracterizada administração social e económica. O Estado nesta fase é caracterizado
pela separação das funções administrativa e jurisdicional, pelo reforço da administração
local, pelo incremento do poder intervencionista do Estado na economia e pelo
restabelecimento dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos na constituição. Neste
período foi incrementada a descentralização da Administração Pública.

Nos anos que se seguiram à independência, houve uma tendência centralizadora, que
pode-se associar à Administração Pública tradicional, consubstanciada pela adopção do
modelo socialista de desenvolvimento. Tal como refere Macuane (2007), a separação
dos poderes no período pós-independência em Moçambique é um fenómeno novo. Até
aos meados dos anos 80 os poderes Executivo e Legislativo estavam concentrados nas
mãos do Presidente da República, que acumulava as funções de Presidente da
Assembleia Popular (o poder Legislativo) e do Partido Frelimo no poder. A falta de uma
separação clara entre a política e a administração atrasou a criação de uma burocracia
profissional e meritocrática.

Entretanto, com o PRE Moçambique introduziu algumas reformas no sector público,


com ênfase no que Stevens e Teggeman (2004) chamam de primeira geração de
reformas africanas, que consistiram na privatização das empresas estatais, tais como as
companhias de água (Águas de Moçambique), os dois maiores bancos comerciais
(Banco Comercial de Moçambique e Banco Popular de Desenvolvimento), bem como
muitas indústrias, como parte do programa de ajustamento estrutural. Nos meados dos
anos 90 Moçambique começou a dar um maior enfoque à descentralização, que
culminou com a aprovação pelo parlamento do pacote legislativo autárquico. Isto
passou pela introdução de algumas emendas constitucionais para acomodar
juridicamente os municípios recentemente criados e abrir espaço à eleição directa dos
legisladores e chefes dos executivos municipais, prática que pode-se associar ao modelo
burocrático.

O burocrático caracterizado por uma serie de normas que norteiam a sua forma de
actuação, tal como é o caso da Lei nº 14/2009, de 17 de Março, que aprova o Estatuto
Geral dos Funcionários e Agentes do Estado, o qual estabelece o regime jurídico do
ingresso no Aparelho do Estado, e demais normas.

17
2.Considerações finais

O estudo nos permite identificar a importância da Administração Pública no cotidiano


do cidadão. Nos mostra como a Administração pode prejudicar a coletividade quando
age de forma a beneficiar determinados grupos tendo a “pessoalidade” como critério na
tomada de decisões. Nos mostra os benefícios que uma Administração Pública
consciente e “atualizada” pode trazer para a população a qual administra.

Quando se fala em burocracia, automaticamente associa-se à lentidão, a algo que vem


para atrapalhar e não ajudar. Porém, na verdade, é uma forma de tornar as organizações
mais eficientes para atingir seus objetivos com maior eficácia, por detalhar passo a
passo como os procedimentos devem ser feitos, mantendo desta forma uma
padronização de técnicas que ajudam a organização a atingir o resultado esperado.

Para Weber a burocracia é “a forma mais racional de exercer a dominação”


(MAXIMIANO, 2000, p. 64) já que nas organizações em que se faz sentir este modelo
de administração existe um nível de formalidade e de prestação de contas dos
funcionários aos seus superiores hierárquicos o que faz ainda perceber que entre os
funcionários de uma organização burocrática existem aqueles que exercem a autoridade
e os que a obedecem a mesma. A burocracia é “a dominação pela racionalidade e
instrumentalidade: controles, normas, regras, formalidades, formulários, o que pode
desestimular a participação ativa, crítica e criativa das pessoas” CORRÊA &
MONDLANE (2015, p. 31).

Ao se analisar a forma de actuação da administração pública ao longo do tempo, é


possível notar que ela foi evoluindo e adoptando diferentes modelos. Para o caso da
administração pública Moçambicana, é possível notar que esta por sua vez vem
adoptando diferentes modelos desde o período colonial até à actualidade.
Hoje em dia, é notória a combinação de dois modelos na administração pública
moçambicana, nomeadamente o modelo burocrático e gerencial.

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