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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Direito

Coordenação do Crso de Direito

Cadeira de Direito Penal

2º Ano 2023

Tema: Causas da Exclusão de Ilicitude

O Tutor:



Discente:

Renato Dúlcio da Fonseca Hate

Maputo, Março de 2023


INSTITUTO SUPERIOR DE CIENCIAS DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA

CURSO DE DIREITO

2º ANO

NOME DO ESTUDANTE: RENATO DÚLCIO DA FONSECA HATE

TRABALHO DE CAMPO

TITULO DO TRABALHO:

CAUSAS DA EXCLUSÃO DE ILICITUDE

MAPUTO, MARÇO DE 2023


ÍNDICE

1.Introdução .................................................................................................................................... 1
1.1. Objectivos ............................................................................................................................... 2
1.2. Metodologia ............................................................................................................................. 3
Quadro Teórico .............................................................................................................................. 4
1.3. ILICITUDE ............................................................................................................................. 4
1.3.1. Juízo de ilicitude ................................................................................................................... 5
1.3.2. DAS CAUSAS DE EXCLUSÃO E JUSTIFICACAO DE ILICITUDE.............................. 5
1.3.2.1. A exclusão da ilicitude divide-se em categorias, as de situação justificante e deacção
justificada ........................................................................................................................................ 7
1.3.2.2. Elementos objetivos e subjetivos das causas de exclusãoda ilicitude................................ 9
1.3.2.3. Justificação do facto e exclusão da culpa ........................................................................ 10
1.3.2.3.1. Estado de Necessidade .................................................................................................. 11
1.3.2.3.2. Legítima Defesa ........................................................................................................... 12
1.3.2.3.3.Conflito de deveres ........................................................................................................ 13
1.3.2.3.4. Obediência indevida desculpante ................................................................................. 14
1.3.2.3.5. Consentimento do ofendido ......................................................................................... 15
1.3.2.3.6. Consentimento presumido ........................................................................................... 15
1.4. Considerações finais .............................................................................................................. 16
1.5. Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 17
1.INTRODUÇÃO

No acto de qualificar o ilícito, tem-se os conceitos de tipicidade, antijuridicidade eculpabilidade.


Por conseguinte, regularizado isso, viu-se a necessidade de criar excepções, sendo elas, as
excludentes de ilicitude ou culpabilidade, a fim desalvaguardar algumas medidas tomadas por
pessoas que actuam em defesa própria ou ainda, principalmente.

Entre as causas excludentes da antijuridicidade ou ilicitude do fato típico, a legítima defesa é a


mais antiga. É, também, a mais claramente compreendida pela sociedade humana. A
legítima defesa surgiu com o Direito Penal, uma vez que representa uma reação natural do
homem, refletindo o seu instinto de auto conservação. Apesar do amplo reconhecimento na
maior parte das legislações internacionais, a legítima defesa é um dos grandes
temas controversos do Direito Penal.

O presente trabalho de campo tem como objecto de estudo causas da exclusão de ilicitude, mais
especificamente o Instituto da legítima defesa própria ou alheia, Estado de necessidade, o
conflito de deveres, obediência indevida desculpante, consentimento do ofendido e
consentimento presumido.

1
1.1.Objectivos

Geral :

 Fazer uma Analise das Causas de Exclusão e Justificação de Ilicitude.

Específicos:

 Descrever as Causas de Exclusão e Justificação de Ilicitude;


 Demonstrar as causas de exclusão da culpa.

2
1.2.Metodologia

Para o desenvolvimento do presente trabalho, a recolha de informação ou de dadosrecorreu à


seguida da análise da informação para a sua harmonização e posteriormente asua compilação. Ou
seja a recolha de informações baseou-se na utilização deinformação já existente em documentos
anteriormente elaborado com o objectivo deobter dados relevante para responder as questões de
investigação do conteúdo.

3
QUADRO TEÓRICO

1.3. ILICITITUDE

Segundo o autor Cleber Masson (2015, p.413) ilicitude é a contrariedade entre o fato típico
praticado por alguém e o ordenamento jurídico, capaz de lesionar ou expor a perigo de lesão
bens jurídicos penalmente tutelados.

Tudo que vem a ser contrário ao fato típico, aquilo que corresponde a uma conduta praticada no
mundo físico, real descrita em lei, ou seja, toda posição contraria a lei provoca a ilicitude no
ordenamento jurídico, tornando o fato definido como crime ou infração penal, ensejando a
aplicação de uma pena para o indivíduo que transgrediu a lei.

É a contrariedade de uma conduta com o direito, causando efetiva lesão a um bem jurídico
protegido. Trata-se de um prisma que leva em consideração o aspecto formal da antijuridicidade
(contrariedade da conduta com o Direito), bem como o seu lado material (causando lesão a um
bem jurídico tutelado) (NUCCI, 2013, p. 262).

A antijuridicidade, também chamada de ilicitude, é a contrariedade de um ato com o direito,


causando uma lesão a um bem juridicamente tutelado. Trata-se de instituto de caráter objetivo,
haja vista ser uma característica do fato, que se mostra contrário ao Direito, e não um atributo da
pessoa.

A norma penal dirige-se a todos, de maneira indistinta. Até os inimputáveis realizam condutas
ilícitas, contrárias ao Direito, mas serão absolvidos por falta de culpabilidade.

Sobre o tema discorrem André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves:1

A antijuridicidade da conduta deve ser apreciada objetivamente,


vale dizer, sem se perquirir se o sujeito tinha consciência de que
agia de forma contrária ao Direito. Por essa razão, age ilicitamente
o inimputável que comete um crime, ainda que ele não tenha
consciência da ilicitude do ato cometido.De outro lado, a teoria
subjetiva afirma que apenas os imputáveis realizam

condutas antijurídicas, porque a norma penal não se dirige aos inimputáveis, na medida em que
eles não a compreendem. Essa teoria não é aceita, porque a inimputabilidade figura no Código

4
Penal como causa de exclusão da culpabilidade, não como uma justificativa, que são as causas de
exclusão da antijuridicidade.

1.3.1. Juízo de ilicitude

É um juízo que é feito pela ordem jurídica, um juízo generalizado, um juízo de desvalor que
incide sobre o facto praticado, ou seja:

- A ordem jurídica fórmula um juízo negativo sobre quem adopta um determinado facto que a
ordem jurídica considera um facto proibido;

- Ou faz incidir um juízo de desvalor, porque efectivamente a pessoa não adoptou o


comportamento que devia ter adoptado quando a lei o exigia.

Neste sentido tem-se que o juízo de ilicitude é um juízo de desvalor generalizado que incide
sobre o próprio facto.

Este juízo de ilicitude diverge de um juízo de culpa, ou de um juízo de censura de culpa. No


juízo de censura de culpa há também um juízo de desvalor, mas que é já um juízo individual, é
um juízo feito pela ordem jurídica mas que incide já não sobre o facto praticado, mas recai sobre
o agente, precisamente porque o agente actuou tendo praticado um facto ilícito, quando podia e
devia ter-se decidido diferentemente, quando podia e devia ter actuado de harmonia com o
direito. Portanto, no juízo de censura de culpa, o que se reprova é o agente (por isso é um juízo
individualizado) por ele, naquele caso concreto, ter actuado ilicitamente, quando podia e devia
ter actuado de forma diferente, ou seja, licitamente. Donde, o juízo de ilicitude é um juízo que
procede necessariamente o juízo de censura de culpa: se em sede de culpa a ordem jurídica dirige
ao agente um juízo de desvalor porque ele praticou um facto ilícito, então o juízo de ilicitude tem
de ser anterior; tem se der firmado anteriormente que o facto praticado pelo agente é um facto
ilícito.2

1.3.2. DAS CAUSAS DE EXCLUSÃO E JUSTIFICACAO DE ILICITUDE

Esta parte irá abordar as causas de justificação, mais especificamente as excludentesde ilicitude
Mostrando que o agente pratica actos tipificados, porém, com amparo legal para actuar diante

5
desses percalços normativos, mas ainda assim, dentro de limites, semo cometimento de excessos,
logo que, sempre que houver perde-se o apoio da legis.3

O Direito Penal é formado por normas incriminadoras e também por normas permissivas que
autorizam, no caso concreto e em virtude de determinadascircunstâncias, a realização de uma
conduta, em princípio, proibida. Essas normas permissivas têm, portanto, a capacidade de excluir
a antijuridicidade da conduta típica.4

Diante do acolhimento da teoria da tipicidade como indício da ilicitude, uma vez praticado o
facto típico, isto é, o comportamento humano previsto em lei como crime oucontravenção penal,
presume-se o seu carácter ilícito, Tendo uma excludente deilicitude presente, estará excluída a
infracção penal. Crime e contravenção penal deixamde existir, pois o facto típico não é contrário
ao Direito. Ao contrário, a ele se amolda.5

As diversas terminologias empregadas pela doutrina para se referir às causas legais deexclusão
da antijuridicidade, tais como causas excludentes de ilicitude, causasexcludentes de
antijuridicidade, causas de justificação, causas justificantes, causas deexclusão do crime, entre
outras. No entanto, destaca a mais usual pelo legislador nacional que optou pelo uso da
termologia ‘exclusão da ilicitude dando lugar àcorrespondente alusão às causas de exclusão da
ilicitude. Contudo, considera maisadequado, sob a perspectiva dogmática, o uso do termo
exclusão da antijuridicidade e,em consequência, da expressão causas de exclusão da
antijuridicidade, [excludentes deantijuridicidade, como sinônimo de causas de justificação. 6

_____________________________

1
https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/causas_de_exclusao_da_antijuridicidade.pdf
Acedido em 17 de Março de 2023 9:00

2
https://octalberto.wixsite.com/octalberto/g4-ilicitude

3
https://pt.scribd.com/document/467977715/Causas-de-Exclusao-e-Justificacao-de-Ilicitude#
Acedido em 17 de Março de 2023 9:15
4
Idem
5
Idem
6
Idem

6
1.3.2.1. A exclusão da ilicitude divide-se em categorias, as de situação justificante e deacção
justificada

O estudo das justificações pode ser simplificado pelo método de organizar seuselementos
constitutivos nas categorias de situação justificante e de acção.7

● Justificada a situação justificante compreende os pressupostos objectivos das justificações, por


exemplo, a agressão injusta, actual ou iminente, a direito próprio ou de terceiro, na legítima
defesa;

● Acção justificada de defesa, ou necessária, ou no exercício de direito, ou emcumprimento de


dever legal ou consentida pelo titular do bem jurídico contémelementos subjectivos e objectivos,
às vezes, também, elementos normativos,como a permissibilidade da defesa, na legítima defesa.8

Há de se ressaltar que no Código Penal se encontra exclusão da culpabilidade e exclusãoda


ilicitude. Por esse motivo, para identificar uma causa de exclusão da ilicitude, doCódigo Penal
utiliza a expressão “não há crime”, enquanto para se reportar a uma causade exclusão da
culpabilidade, o legislador se vale de expressões como “não é punível éisento de pena entre
outras semelhantes. Na parte geral do Código essa diferença éevidente, no entanto há de se
cuidar com a parte especial que em algumas situaçõesutiliza a “expressão “isento de pena”, ou
análoga, para fazer menção à exclusão docrime. Acerca da importância da sistematização das
causas de justificação, ouexcludentes de ilicitude. 9

A sistematização das causas de justificação tem como fundamento material anecessidade de


solucionar situações de conflito entre o bem jurídico atacado pelaconduta típica e outros
interesses que o ordenamento jurídico também consideravaliosos e dignos de protecção. A
importância prática das causas de justificação podeser apreciada em razão dos efeitos que
produz. as causas de justificação não somenteimpedem a imposição de pena ao autor do facto
típico, mas converte esse facto em algolícito, com todas as suas consequência. 10

Isso significa que diante de um acto justificado não cabe legítima defesa, porque se esta
pressupõe, como veremos, uma agressão injusta, não pode ser exercida contra umcomportamento
valorado como lícito, a participação no acto justificado do autor também será considerada como
justificada.

7
como consequência do princípio de acessoriedade limitada da participação, não será possível
aplicar pena, impor medida de segurança, nem qualquer outro tipo de sanção aoautor de uma
conduta justificada, pois esta passa a ser considerada lícita em todos osâmbitos do ordenamento
jurídico.11

Esses efeitos aplicam-se, indistintamente, a todas as causas de justificação, mas somentedentro


dos limites do comportamento autorizado, pois, como o próprio legislador penaldetermina, tanto
o excesso doloso como o excesso culposo respeitada aexcepcionalidade do crime culposo, no
exercício de uma causa de justificação, sãoantijurídicos e puníveis.12

Além das causas genéricas ou gerais, previstas na parte Geral do Código Penal, há de seatentar às
causas específicas ou especiais, que “podem ser definidas como as previstasna Parte Especial do
Código Penal, com aplicação unicamente a determinados crimes,ou seja, somente àqueles delitos
a que expressamente se referem. 14

No entanto, mesmo tendo-as descritas no Código Penal, as excludentes de ilicitude vãoalém


desse texto legal. Apesar da existência dessa lacuna na lei acerca da “possibilidadede se
reconhecer a existência de causas supra legais. 15

de exclusão da antijuridicidade, adoutrina e a jurisprudência nacionais admitem sua viabilidade


dogmática. Entende-seque a existência de causas justificantes supra legais é uma decorrência
natural docarácter fragmentário do Direito Penal, que jamais conseguiria catalogar todas
ashipóteses em que determinadas condutas poderiam justificar-sediante da ordem jurídica,mesmo
quando eventualmente venham a se adequar a algum tipo penal.16

_________________________

7
https://pt.scribd.com/document/467977715/Causas-de-Exclusao-e-Justificacao-de-Ilicitude#
Acedido em 17 de Março de 2023 9:15
8
Idem
9
Idem
10
Idem

8
Ainda sobre o tema, na mesma corrente a exclusão da ilicitude em leis de cunho extra penal e
ainda afirma que essa relação legal, contudo, não impede a formulação decausas supra legais de
exclusão da ilicitude. 15

Frente a dinâmica das relações sociais e a necessidade de contextualização do DireitoPositivo,


que deve regular a convivência de uma comunidade em um determinadomomento histórico,
exige-se o desligamento de uma concepção puramente positivistadas normas permissivas. Essas
causas supralegais podem encontrar seu fundamento nos princípios gerais de direito, na analogia
e nos costumes. Por conseguinte, “diante daregulamentação das excludentes de criminalidade no
nosso Código Penal, sobra poucoespaço para a ocorrência de alguma excludente supralegal,
porém, se por ventura o casoconcreto o exigir, a doutrina e a jurisprudência jurídico-penais estão
suficientementemaduras e actualizadas para analisá-lo e admitir eventuais causas supralegais
que, porventura, venham a configurar-se. 16

1.3.2.2. Elementos objetivos e subjetivos das causas de exclusãoda ilicitude

17
A doutrina apresenta uma discussão acerca do reconhecimento de uma causa deexclusão de
ilicitude, se depende somente dos requisitos legalmente previstos,relacionados ao aspecto
exterior do facto, ou se está condicionado também a umA antijuridicidade, entendida como
relação de contrariedade entre o facto e a norma jurídica, tem sido definida, por um sector
doutrinário, como puramente objectiva, sendoindiferente, por isso, a relação anímica entre o
agente e o facto justificado.

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Acedido em 17 de Março de 2023 9:15
12
Idem
13
Idem
14
Idem
15
Idem
16
Idem

9
No entanto,segundo o entendimento majoritário, assim como há elementos objectivos e
subjectivosno tipo penal, originando a divisão em tipo objectivo e tipo subjectivo, nas causas de
justificação que excluem a antijuridicidade, há igualmente componentes objectivos esubjectivos.
Por isso, não basta que estejam presentes os pressupostos objectivos deuma causa de justificação,
sendo necessário que o agente tenha consciência de agir acobertado por uma excludente, isto é,
com conhecimento da situação justificante e comvontade de evitar um dano pessoal ou alheio

18
Em outros termos, a partir do momento em que se adopta uma concepção do injusto
quedistingue o desvalor da ação do desvalor do resultado, é necessária a presença doelemento
subjectivo em todas as causas de justificação, isto é, não basta que ocorraobjectivamente a
situação de excludente de antijuridicidade, mas é necessário que oautor conheça a situação
justificante e tenha a vontade de actuar de forma autorizada,isto é, de forma juridicamente
permitida. Mutatis mutandis , como se exige o dolo paraa configuração do tipo, exige-se,
igualmente, o mesmo “dolo” de agir autorizadamente. Não estará, por exemplo, amparado em
legítima defesa quem agir movido por vingança,ainda que se comprove, posteriormente, que a
vítima estava prestes a sacar sua arma para matá-lo. Em outras palavras, só age em legítima
defesa quem o faz com animusdefendendi. Isso significa que a presença do elemento subjectivo
da causa de justificação afasta o desvalor da acção, pois, na verdade, age conforme ao
Direito,consequentemente, desenvolve uma acção valiosa. Quando, ao contrário, está ausente
oelemento subjectivo de justificação, o desvalor da acção persiste.

1.3.2.3. Justificação do facto e exclusão da culpa

As causas que excluem a ilicitude e a culpa esta previsto no artigo 51 do código penal:

 o estado de necessidade;
 a legítima defesa própria ou alheia;
 o conflito de deveres;

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Acedido em 17 de Março de 2023 9:15

18
Idem

10
 a obediência legalmente devida aos seus superiores legítimos, salvo se houver excesso
nos actos ou na forma de execução;

 A autorização legal no exercício de um direito ou no cumprimento de umaobrigação, se


tiver procedido com diligência devida, ou o facto for um resultadomeramente casual.

Constituem causas de exclusão da culpa:

 os que praticam o facto violentados por qualquer força estranha, física eirresistível;

 os que praticam o facto dominados por medo insuperável de um mal igual oumaior,
iminente ou em começo de execução;

 os que praticam um facto cuja criminalidade provém somente das


circunstânciasespeciais, que concorrem no ofendido ou no acto, se ignorarem e não
tiveremobrigação de saber a existência dessas circunstâncias especiais;em geral, os que
tiverem procedido sem intenção criminosa e sem culpa

1.3.2.3.1. Estado de Necessidade

Guilherme de Souza Nucci conceitua o estado de necessidade como o sacrifício de um interesse


juridicamente protegido, para salvar de perigo atual e inevitável o direito do próprio agente ou
de terceiro, desde que outra conduta, nas circunstâncias concretas, não fosse razoavelmente
exigível.

Assim, o estado de necessidade exige a existência de um perigo atual, uma situação limite, que
confronte dois interesses legítimos que, pelas circunstâncias, não podem ser ambos salvos,
devendo um deles perecer em favor do outro.

O estado de necessidade esta plasmado no artigo 52 do código penal, Só se pode verificar a


justificação do facto nos termos da alínea a) do número 1 do artigo anterior, quando concorrerem
os seguintes requisitos:

a) realidade do mal;

11
b) impossibilidade de recorrer à força pública;

c) impossibilidade de legítima defesa;

d) falta de outro meio menos prejudicial do que o facto praticado; e

e) probabilidade da eficácia do meio empregado.

O estado de necessidade é um instituto que está inserido no ordenamento jurídicomoçambicano,


no Art. 52 do código penal, Considera-se em estado de necessidadequem pratica o facto para
salvar de perigo actual, que não provocou por sua vontade,nem podia de outro modo evitar,
direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nascircunstâncias, não era razoável exigir-se.
Atualmente, duas teorias definem a natureza jurídica do estado de necessidade: a) a teoria
diferenciadora disciplina o estado denecessidade segundo um sistema duplo: como justificação
(para hipóteses de proteçãode bem jurídico superior ao sacrificado) e como exculpação (para
hipóteses de proteçãode bem jurídico equivalente ao sacrificado) – teoria adotada pela legislação
penal alemã, por exemplo, que define expressamente o estado de necessidade justificante.

1.3.2.3.2. Legítima Defesa

A legitima defesa esta plasmado no artigo 53 do código penal.

1. Só pode verificar-se a justificação do facto, nos termos da alínea b), do número 1 do artigo 51,
quando concorrerem os seguintes requisitos:

a) agressão ilegal em execução ou iminente, que não seja motivada por provocação, ofensa ou
qualquer crime actual praticado pelo que defende;

b) impossibilidade de recorrer à força pública;

c) necessidade racional do meio empregado para prevenir ou suspender a agressão.

2. Não é punível o excesso de legítima defesa devido a perturbação ou medo desculpável do


agente.

A legítima defesa é hoje tida pela quase generalidade da doutrina como uma causa de
exclusão da ilicitude, constituindo o exercício de um direito – o direito de defesa.Com efeito, e

12
conforme é também entendimento unânime, a protecção dos indivíduos dentrode um Estado
de Direito Democrático deve, em linha de princípio, ser garantida pelaautoridade
pública. O Estado detém o monopólio de uso da força, sendo apenas a ele que, emprincípio, é
lícito usar essa força para garantir a protecção dos seus cidadãos e garantir,igualmente, o império
do Direito sobre a ilicitude. 19

Conforme Beleza (sa), Assim e parafraseando Teresa Beleza, a ideia básica da legítima
defesaconsiste no entendimento de que se uma pessoa é agredida, não podendo usar os
meiosnormais de repressão dessa agressão, como chamar a policia ou fazer queixa ao tribunal
emtempo útil, pode, em principio, agir por suas próprias mãos para garantir a sua defesa.A
legítima defesa aparece, portanto, como uma situação de exercício de um direito, o direitode
defesa.

É por este motivo que a legitima defesa deve situar-se no campo da exclusão da ilicitude enão no
campo da exclusão da culpa como no passado chegou a ser defendido. Com efeito, deacordo com
o Prof. Eduardo Correia (2000) “por todos lados, na verdade, se considera que [alegítima defesa]
exclui a ilicitude – até porque constitui o exercício de um direito: o direito delegitima defesa – o
uso de um meio necessário e exigido para a defesa de uma agressão actual e ilícita de bens
jurídicos do agente ou terceiro ”

1.3.2.3.3.Conflito de deveres

Conflito de deveres plasmado no artigo 54 do código penal com seguintes requisitos:

1. Não é ilícito o facto de quem, em caso de conflito no cumprimento de deveres jurídicos ou de


ordens legítimas de autoridade, satisfizer dever ou ordem de valor igual ou superior ao do dever
ou ordem que sacrificar.

2. O dever de cumprimento de ordens superiores cessa quando estas conduzam à prática de um


crime.

_____________________________

19
https://www.studocu.com/row/document/universidade-catolica-de-mocambique/direito-
penal/direito-penal-trabalho-de-campo/8398011, acedido em 17 de Marçode 2023

13
20
Existe conflito de deveres sempre que o agente seja confrontado com a concorrência de
deveres jurídicos ou ordens legítimas de autoridade e se lhe põe a opção de escolher de entre
eles, aquele ou aqueles que deve sacrificar em detrimento dos demais

Atrás dos deveres ou ordens há valores jurídicos que o agente tem de considerar, sendo pelo
prisma desses valores que se vai fazer a escolha daquele ou daqueles que devem ter a primazia e
que justificam assim a licitude ou ilicitude da conduta assumida.

O conflito de deveres autonomiza-se do estado de necessidade desculpante sobretudo porque a


justificação do facto não exige aqui que o dever ou ordem que se cumpre seja sensivelmente
superior ao dever ou ordem que se sacrifica (bastando apenas que seja igual ou superior), além
de que o agente não é livre de se envolver ou não no conflito, uma vez que tem que cumprir, pelo
menos, um dos deveres em choque. Na avaliação da importância dos deveres em conflito é
decisiva a importância dos valores jurídicos que aqueles deveres servem, tendo aqui cabimento,
igualmente, as considerações feitas a esse propósito quanto ao direito de necessidade, sem
esquecer «as particulares razões que os especializam ou autonomizam como deveres de acção»

1.3.2.3.4. Obediência indevida desculpante

De aordo com o artigo 55 do Código Penal:

Age sem culpa o servidor público que cumpre uma ordem sem conhecer que ela conduz à prática
de um crime, não sendo isso evidente no quadro das circunstâncias por ele representadas.

21
Em contraponto foi consagrada a exclusão da responsabilidade disciplinar do funcionário que
actue no cumprimento de ordens ou instruções emanadas de legítimo superior hierárquico e em
matéria de serviço. Mas essa exclusão exige a reclamação da ordem ou o pedido da sua
transmissão ou confirmação por escrito, por parte do funcionário, com base na ilegalidade.

__________________________

20
http://www.asapol.net/asapol/legislacao/new/C%C3%B3digo%20Penal%20%20%20Anotado.
pdf

21
Idem

14
1.3.2.3.5. Consentimento do ofendido

Consentimento do ofendido plasmado no artigo 56 do código penal com seguintes requisitos:

1. Além dos casos especialmente previstos na lei, o consentimento exclui a ilicitude do facto
quando se referir a interesses jurídicos livremente disponíveis e o facto não ofender os bons
costumes.

2. O consentimento pode ser expresso por qualquer meio que traduza uma vontade séria, livre e
esclarecida do titular do interesse juridicamente protegido e pode ser livremente revogado até à
execução do facto.

3. O consentimento só é eficaz se for prestado por maior de 16 anos que possua o discernimento
necessário para avaliar o seu sentido e alcance no momento em que o presta.

4. Se o consentimento não for conhecido do agente, este é punível com a pena aplicável à
tentativa.

1.3.2.3.6. Consentimento presumido

De acordo co artigo 57 do Código Penal:

1. Ao consentimento efectivo é equiparado o consentimento presumido.

2. Há consentimento presumido quando a situação em que o agente actua permitir razoavelmente


supor que o titular do interesse juridicamente protegido teria eficazmente consentido no facto se
conhecesse as circunstâncias em que este é praticado.

Asim sendo sem prejuizo aos artigos anteriores, age sem culpa quem actua em circunstâncias tais
que não seria razoável exigir e dele esperar comportamento diferente. (artigo 58 do Código
Penal).

15
1.4.Considerações Finais

Crime é a conduta típica, antijurídica e punível. A tipicidade e a antijuridicidade são juízossobre


a ação humana, ao passo que a culpabilidade é o juízo que se faz sobre o agente.Antijuridicidade
ou ilicitude está relacionada com a contrariedade da ação em face doordenamento
jurídico. É um juízo negativo que se faz sobre a conduta do agente,qualificando-o
como contrário ao direito. Prima facie, a conduta típica é também antijurídica,não o é, todavia,
quando incidente uma causa de exclusão.

Por tudo isso, fica claro dizer que nem toda conduta humana em que há uma ação tipificada em
lei será considerada uma infração penal, pois, existe a causa de excludente das ilicitude. Sendo
assim, quando o agente agir em legítima defesa a uma agressão injusta, atual ou iminente, estado
de neccessidade, conflito de deveres, obediência indevida desculpante, consentimento do
ofendido e consentimento presumido estará acobertado pelo instituto da excludente da
antijuridicidade ou ilicitude.

16
1.5.Referências Bibliográficas

Beleza, T(s.a),Direito Penal Vol II (s.ed). Lisboa

Correia, E(2000), Direito Criminal Vol. II(S.ed).Coimbra : Livraria Almedina

MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado. Parte geral. V. 1. 9ª. Ed. Rev. Atual e ampl. Rio
de Janeiro: Forense. São Paulo: Método, 2015.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal – 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013

Legislação

Código Penal aprovado pela Lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro

Internet

https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/causas_de_exclusao_da_antijuridicidade.pdf
Acedido em 17 de Março de 2023 9:00

https://octalberto.wixsite.com/octalberto/g4-ilicitude

https://pt.scribd.com/document/467977715/Causas-de-Exclusao-e-Justificacao-de-Ilicitude#
Acedido em 17 de Março de 2023 9:15

https://www.studocu.com/row/document/universidade-catolica-de-mocambique/direito-
penal/direito-penal-trabalho-de-campo/8398011, acedido em 17 de Marçode 2023

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