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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Coordenação do Curso de Direito

Cadeira: Direito da Família e Sucessesões

3º Ano-2023

TEMA:

CONVENÇÕES ANTENUPCIAIS

A Tutora:

 Msc. Eulália Albertina de Oliveira

Discente:

 Telma Oflodio Cossa Mucavele

Maputo, Maio de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

3º ANO

NOME DA ACADÊMICA:

TELMA OFLODIO COSSA MUCAVELE

TRABALHO DE CAMPO

TITULO DO TRABALHO:

CONVENÇÕES ANTENUPCIAIS

MAPUTO, MAIO DE 2023


ÍNDICE

CAPÍTULO - I............................................................................................................................... 1
1.Introdução .................................................................................................................................... 1
1.2.Objectivos ................................................................................................................................ 2
1.3.Metodologia .............................................................................................................................. 2
CAPÍTULO - II ENQUADRAMENTO TEÓRICO ................................................................. 3
1.4. NOÇÃO DO CASAMENTO ................................................................................................. 3
1.5. Regime de bens ........................................................................................................................ 5
1.5.1. Regime de bens supletivo ..................................................................................................... 5
1.5.2. Regime da comunhão de adquiridos .................................................................................... 5
1.5.3. Regime de Comunhão geral .................................................................................................. 6
1.5.4. Regime de Separação de bens ............................................................................................... 7
CAPÍTULO - III ........................................................................................................................... 8
1.6. CONVENÇÕES ANTENUPCIAIS ....................................................................................... 8
1.6.1. Noção Convenção antenupcial .............................................................................................. 8
1.6.1.1. Conteúdo da Convenção antenupcial ............................................................................... 10
1.6.1.2. Sujeitos............................................................................................................................. 11
1.6.1.3. Capacidade dos nubentes e formalidades das convenções .............................................. 11
1.6.1.4. Imutabilidade das Convenções Antenupciais .................................................................. 12
1.6.1.5. Estipulação de Regime de Bens sob Condição ou Termo em Convenção Antenupcial ..13
2.Considerações Finais ................................................................................................................. 14
3.Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 15
CAPÍTULO - I

1.Introdução

O casamento é uma das tradições humanas mais antigas e disseminadas pelo mundo, mas é
comumente associado à imagem do cristianismo e, mais especificamente, à Igreja Católica.
Atualmente, ele é visto como uma ação, contrato, formalidade ou cerimônia que deve ser
realizado para estabelecer uma união conjugal, em que os envolvidos têm como propósito a vida
em conjunto. Essa vida comum envolve o compartilhamento de interesses, atividades e
responsabilidades entre as partes envolvidas.

A doutrina sempre divergiu a este respeito, e com base em argumentos que não coincidem. A
generalidade dos Autores afirma que o casamento é um contrato, um negócio jurídico bilateral,
seguindo, aliás, o conceito – contrato – utilizado pela lei. Todavia, mesmo os Autores que
afirmam ser o casamento um contrato, ressalvam que, diversamente do que acontece com os
contratos em geral, a autonomia dos nubentes é muito reduzida no casamento. Pois a quantidade
de normas imperativas que a lei contém em matéria de efeitos pessoais e patrimoniais do
matrimónio o determina. Como contrato, o casamento é um contrato pessoalíssimo sui generis
por isso.

Assim sendo, o presente trabalho de campo, tem como objectivo analisar sobre Convenções
antenupciais. E o mesmo será divivido em três capítulos.

1
1.2.Objectivos

Geral

 Ter noções gerais de Convenções antenupciais

Específicos

 Caracterizar os pressupostos da celebração do casamento;


 Conceptuar o casamento;
 Descrever o regime de bens;
 Saber definir convenções antenupciais;
 Conhecer o conteúdo de convenções antenupciais;
 Conhecer os sujeitos de convenções antenupciais;
 Analisar a Imutabilidade das Convenções Antenupciais;
 Conhecer as vantagens e desvantagens de convenções antenupciais.

1.3.Metodologia

O presente trabalho é meramente de revisão bibliográfica de informação obtida a partir de fontes


escritas, obtidas de livros físicos e virtuais, seguida de uma minesciosa compilação, usando os
meios informáticos disponíveis.

2
CAPÍTULO II

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.4. NOÇÃO DO CASAMENTO

Portalis define o casamento como “a sociedade do homem e da mulher, que se unem para
perpetuar a espécie, para ajudar-se mediante socorros mútuos a carregar o peso da vida, e para
compartilhar seu comum destino”. Críticas foram feitas a essa conceituação feita pelo autor, pois
apresenta a vida como um fardo, uma desgraça pela qual o homem deve passar1.

Já Washington de Barros Monteiro definiu o casamento como “a união permanente entre o


homem e a mulher, de acordo com a lei, a fim de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e
de criarem os seus filhos”.

Silvio de Salvo Venosa prefere citar em seu livro os ensinamentos de Guillermo Borda
(1993:45):”é a união do homem e da mulher para o estabelecimento de uma plena comunidade
de vida”.2

Para Silvio Rodrigues, casamento é “o contrato de direito de família que tem por fim promover a
união do homem e da mulher de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações
sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência”, conceito do qual
acreditamos adequar-se à realidade atual 3.

Neste sentido, devemos analisar cada conceito implícito na definição dada pelo autor Silvio
Rodrigues.

Explica Silvio Rodrigues que o casamento, sendo um contrato, obedece à vontade dos
contratantes, desde que essa vontade não seja contrária à lei. Assim, ainda segundo o autor,
historicamente houve um conflito com o caráter que se desejou dar ao matrimônio, de instituição,
ou seja, de um “conjunto de regras impostas pelo Estado, que forma um todo e ao qual as partes
têm apenas a faculdade de aderir, pois, uma vez dada referida adesão, a vontade dos cônjuges se
torna impotente e os efeitos da instituição se produzem automaticamente”.

O casamento, indubitavelmente um dos mais discutidos institutos do Direito Civil, é objeto das
mais variadas definições doutrinárias. Há aqueles que o aclamam e vangloriam, fazendo de tal

3
instituto negócio sublime. Há também os que o julgam verdadeiro atraso, não só à sociedade,
mas ao sistema jurídico em geral. Dizia Schopenhauer que “em nosso hemisfério monógamo,
casar é perder metade de seus direitos e duplicar seus deveres”.4

Poucos, entretanto, são os que o tratam como negócio jurídico que é. A igreja católica o tratava,
e ainda trata, como sacramento, como direito divino, como bem se pode observar na definição de
Modestino: “nuptiae sunt conjunctio maris et feminae consortium omnis vitae, divini et humani
juris communicatio” 5 , ou seja, conjunção entre homem e mulher, que se associam para a vida
toda, comunhão do direito divino e do direito humano. Unem-se duas vidas, para que de uma só
desfrutem, em total comunhão. O affectio maritalis e honor matrimonii são, aqui, os elementos
essenciais do casamento. Esta definição, advinda da época clássica do direito romano, onde
prevalece o aspecto social do casamento, desapareceu com o passar do tempo e a evolução do
Direito, destacando-se a perenidade do instituto, bem como seu caráter civil de sociedade.

O caráter contratual do casamento é bem observado na definição de Lafayette Rodrigues Pereira,


ao afirmar que: “O casamento é um ato solene pelo qual duas pessoas de sexo diferente se unem
para sempre, sob promessa recíprocade fidelidade no amor e da mais estreita comunhão de
vida.”6

__________________________

1 MOURLON, répétitions Écrites sur le Code Civil, 12ª ed., 1/284

2 VENOSA, Silvio de Salvo, op. Cit., p. , “apud”, BORDA, Guillermo A. Tratado de derecho
civil: família. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1993, v.1
3
Silvio Rodrigues, Direito Civil, Direito de família – volume 6, 2004, 28ª edição, Saraiva, São
Paulo, página 19

4
SCHOPENHAUER apud MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 2001. p.
112
5
MODESTINO apud MONTEIRO, Washington de Barros. Op. Cit. 2001. p. 106
6PEREIRA, Lafayette Rodrigues apud GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro:
Direito de Família. 2009. p. 203

4
1.5. Regime de bens

O regime de bens consiste na determinação da titularidade do património dos cônjuges – a qual


deles pertence dado imóvel, a qual deles pertence certa conta bancária, etc. O art. 1698 de C.C.
afirma o princípio da liberdade do regime de bens: “os esposos podem fixar livremente, em
convenção antenupcial, o regime de bens do casamento (...)”.

1.5.1. Regime de bens supletivo

O regime supletivo é o regime que vigora na falta de convenção antenupcial ou no caso de


caducidade, invalidade ou ineficácia da convenção antenupcial. No nosso ordenamento jurídico,
mais concretamente no art. 1717.º do C.C. é fixado supletivamente a comunhão de adquiridos.
Este regime, segundo o qual serão comuns todos os bens adquiridos pelos cônjuges depois da
celebração do casamento e próprios os “levados para o casamento” ou os que advierem a titulo
gratuito por sucessão ou doação, foi considerado, como já expusemos, o mais razoável do ponto
de vista social na medida em que não potencia uma tentativa de locupletamento de um dos
cônjuges em prejuízo do outro através do casamento e, por isso, foi o fixado na lei, no caso de
silêncio das partes 7.

1.5.2. Regime da comunhão de adquiridos

Os regimes de comunhão compreendem, por um lado, a comunhão geral de bens, e por outro
lado, a comunhão de adquiridos de bens. Com a celebração do vínculo matrimonial nasce um
património de bens comuns, propriedade de ambos os cônjuges e um património de bens
próprios de cada um dos cônjuges, embora na comunhão geral seja muito reduzido8.

A comunhão de adquiridos está prevista no art. 1721 e ss e concebe-se como um regime


intermédio entre a comunhão geral e o regime da separação de bens. O princípio ínsito ao nosso
atual regime legal supletivo é o de que devem ser próprios – ou seja, integrados na comunhão –
os bens de que cada cônjuge for titular antes do casamento, e também os que receba por doação
ou a título de herança. E consideram-se bens comuns os bens que os cônjuges angariam no
decurso da sua comunhão de vida matrimonial.

Apesar de todas as críticas feitas a este regime, a prof. Margarida Silva Pereira, afirma que o
legislador andou bem em considerar que o salário dos cônjuges é um bem comum, caso dois

5
cônjuges contraiam casamento e, não celebrando convenção antenupcial, seja a comunhão de
adquiridos que vigora no seu casamento.

Pois o que os cônjuges estabeleceram, foi uma “plena comunhão de vida”. Ora, os salários dos
cônjuges são, por regra, a sua única ou principal fonte de rendimento, e são desiguais
tendencialmente, uma vez que, persiste, a nível mundial, uma desigualdade que reflete um
desequilíbrio salarial e de perceção de rendimentos do trabalho em geral entre homens e
mulheres mesmo com iguais níveis de habilitações. Nesse contexto, a comunhão do salário que o
regime de comunhão de bens adquiridos impõe mitiga a desigualdade social, se bem que não a
solucione.

1.5.3. Regime de Comunhão geral

Este regime vigora quando os nubentes o fixam como regime convencional, a não ser que
estejamos perante um dos casos, já aqui abordados, de regime imperativo, em consonância com o
disposto nos arts. 1720.º, nº1, e 1699.º, n.º 2, bem como vigora como regime supletivo,
relativamente aos casamentos celebrados até 31 de maio de 19679.

O regime da comunhão geral de bens caracteriza-se, tal como resulta do art. 1732.º do C.C., pelo
facto de o património comum ser constituído por todos os bens, presentes e futuros dos cônjuges
que não sejam excetuados por lei. Sendo este um regime de comunhão, estabelece a lei, mais
concretamente no art. 1734.º do C.C., que são aplicáveis à comunhão geral de bens, com as
necessárias adaptações, as disposições relativas à comunhão de adquiridos. Portanto, aplica-se ao
regime da comunhão geral o que referimos na comunhão de adquiridos quanto à natureza
jurídica da comunhão e quanto à participação dos cônjuges no património comum, sobre os bens
sub-rogados no lugar de bens próprios, os bens adquiridos em parte com dinheiro ou bens
próprios de um dos cônjuges, e, noutra parte, com dinheiro ou bens comuns, os bens indivisos
adquiridos, em parte, por um dos cônjuges que deles já tinha uma outra parte; bem como se
aplica ao regime da comunhão geral o que referimos na comunhão de adquiridos quanto aos bens
adquiridos por virtude da titularidade de bens próprios e quanto àresponsabilidade por dívidas.

______________________________
7
Helena Mota, Os Efeitos Patrimoniais…, ob. cit., p. 72 ss
8
Jorge Duarte Pinheiro, O Direito da Família…, ob. cit., p. 257.

6
1.5.4. Regime de Separação de bens

Como já oportunamente referimos, o regime da separação de bens vigora como regime


imperativo ou convencional. Assim, vigora como regime imperativo nas situações previstas no
art. 1720.º do C.C., e como regime convencional quando os nubentes fixam em convenção
antenupcial 10.

Com a celebração do casamento, quer porque tenham optado pelo regime quer porque tenha
sido imposto aos nubentes, a verdade é que nos termos do art. 1735.º, cada um deles conserva o
domínio e a fruição de todos os seus bens presentes e futuros, podendo dispor deles livremente.
Com este regime, não há bens comuns, havendo uma separação de bens e de administração dos
mesmos.

Contudo, não existe uma liberdade total quanto à administração e disposição de bens, pois o
legislador entendeu que, nas situações previstas no art. 1682.º – A, n.º 2, do C.C., referentes à
prática de atos que impliquem a oneração, alienação e arrendamento da casa de morada de
família, e nas situações previstas no art. 1682.º do C.C., referentes aos móveis utilizados
conjuntamente na vida do lar ou como instrumento de trabalho e aos móveis pertencentes ao
cônjuge que não administra, carecem do consentimento de ambos.

A lei entendeu por bem que mesmo em regime de separação de bens existem regras que
desvirtuam a total separação patrimonial entre os cônjuges.

_____________________________
9
Francisco Pereira Coelho, Guilherme de Oliveira, Curso de Direito…, ob. cit., p. 643 e 644
10
Dependendo da forma como vigora este regime (pela forma convencional ou imperativa),
produzem-se diferenças no campo das doações entre casados: são válidas no regime
convencional, nulas no regime imperativo (art. 1762.º).

7
CAPÍTULO - III

1.6. CONVENÇÕES ANTENUPCIAIS

1.6.1. Noção Convenção antenupcial

Tal como já tivemos oportunidade de referir, o nosso direito confere aos nubentes uma ampla
liberdade na escolha do regime de bens, sendo a convenção antenupcial a forma que assume essa
conformação da vida dos nubentes.

A regra primordial desta matéria é a que decorre do texto do art. 1698.º do C.C., “Os esposos
podem fixar livremente, em convenção antenupcial, o regime de bens do casamento, quer
escolhendo um dos regimes previstos neste código, quer estipulando o que a esse respeito lhes
aprouver, dentro dos limites da lei”.

Deste modo, as convenções antenupciais são acordos que os nubentes celebram, num momento
prévio à celebração do matrimónio, sendo o seu teor principal a conformação do regime de bens
que há-de vigorar na constância do casamento, tal como se afere da própria lei, podendo, no
entanto, versar sobre qualquer efeito do casamento, desde que não proibido por lei.

Diogo Leite Campos e Mónica Martinez de Campos entendem por convenção antenupcial o
acordo entre os nubentes destinado a fixar o seu regime de bens11. Ora, como decorre do que já
expusemos, as convenções antenupciais não se destinam apenas a fixar o regime de bens, pelo
que, cremos que esse entendimento não é suficientemente abrangente para incluir tudo o que
pode ser estipulado nesse contrato.

Pereira Coelho e Guilherme de Oliveira definem convenção antenupcial da mesma forma,


contudo, acrescentam que é um “contrato acessório do casamento, cuja existência e validade
supõe, podendo dizer-se que o casamento – a ulterior celebração de um casamento válido entre
os nubentes – é uma condição legal de eficácia da convenção antenupcial”12. Assim, a convenção
antenupcial é um contrato acessório que tem uma condição legal de eficácia, a celebração do
casamento, a qual não produzirá efeitos (independentemente da sua validade) se não for
celebrado o casamento, caducando se o casamento não for celebrado no prazo de um ano.

Na mesma linha de pensamento, Antunes Varela define a convenção antenupcial como o


“acordo contratual em que, tendo em vista a celebração do futuro casamento, se regulam relações

8
de carácter patrimonial entre cônjuges, podendo essa regulamentação abranger o regime de bens
do casamento”13. Contudo, as convenções antenupciais não regulam apenas relações de caráter
patrimonial, mas também podem regular relações de caracter pessoal. Assim, os nubentes podem
acordar na convenção o nome dos futuros filhos; podem acordar que seguiram alguma religião;
ou uma perfilhação.

Decorre de toda a nossa exposição o quão importante é esta convenção, não só pela noção e o
conteúdo que a mesma pode abranger, mas também porque é o meio em que os nubentes revelam
a sua vontade de não se sujeitar ao regime supletivo. É o meio em que os nubentes, antes da
celebração do casamento, fixam o regime que pretendem instituir para o seu matrimónio, à
exceção das situações em que a lei imperativamente impõe o regime de bens.

A convenção antenupcial tem como condição temporal a sua celebração num momento prévio ao
casamento, podendo, até à celebração do casamento, os nubentes alterarem, revogarem ou
substituir a convenção, tal como decorre do estipulado no art. 1712.º C.C.

Sendo a convenção antenupcial um verdadeiro contrato, nesse sentido, está, consequentemente,


sujeita aos requisitos substanciais de validade aplicáveis aos contratos em geral, dependendo a
sua validade do consentimento dos respetivos cônjuges, aplicando-se igualmente na falta do
consentimento de ambos o regime geral aplicável aos contratos, no que concerne à divergência
entre a vontade real e a vontade declarada e os vícios do consentimento 14.

O art. 1708.º do C.C. prevê que a capacidade para celebrar convenções antenupciais depende da
capacidade para contrair casamento, necessitando os menores, interditos e inabilitados da
anuência dos seus representantes legais para a celebrar, sob pena de a mesma poder ser anulada.

________________________
11
Diogo Leite de Campos, Mónica Martinez de Campos, Lições de…, ob. cit., p. 246.

12
Francisco Pereira Coelho; Guilherme de Oliveira, Curso de Direito…, ob. cit., p. 570.

13
João de Matos Antunes Varela, Direito da Família I, Direito Matrimonial, Livraria Petrony,
Coimbra, 1982, p. 354

14
Francisco Pereira Coelho, Guilherme de Oliveira, Curso de…, ob. cit., p. 588 ss

9
1.6.1.1. Conteúdo da Convenção antenupcial

A convenção antenupcial é um acordo celebrado entre os nubentes num momento prévio à


celebração do casamento, destinado a fixar o regime de bens que há-de vigorar na constância do
casamento, bem como pode versar sobre qualquer efeito patrimonial ou pessoal do casamento.

Nesse contexto, o conteúdo da convenção antenupcial pode versar sobre o regime de bens que
há-de vigorar no casamento bem como pode versar sobre outros aspetos que não o regime de
bens.

É admissível a realização na convenção antenupcial de quaisquer atos ou negócios que possam


constar de escritura pública, desde que pelo menos um dos nubentes figure com autor, parte ou
beneficiário. Assim os nubentes podem por convenção antenupcial regular relações de caráter
patrimonial (por ex., compra e venda, arrendamento) bem como podem regular relações de
caráter extrapatrimonial (por ex., perfilhação, indicação de tutor, declaração de maternidade)15

Acresce que, ainda dentro do conteúdo da convenção antenupcial não respeitante ao regime de
bens, mas conexo com o matrimónio que se irá celebrar, temos de realçar as disposições por
morte e as doações para casamento16.

Nos termos do art. 1753.º, n.º 1, a “doação para casamento é a doação feita a um dos esposados,
ou a ambos, em vista do seu casamento”.

À luz do art. 1754.º as doações para o casamento podem ser feitas por um dos esposados ou
pelos dois reciprocamente (doações entre esposados), bem como podem ser feitas por terceiro a
um ou a ambos os esposados (doações de terceiros).

As doações inter vivos produzem efeitos a partir da celebração do casamento, salvo convenção
em contrário. A transmissão da propriedade ou da titularidade de outro direito produz efeitos em
vida do doador. As doações mortis causa produzem efeitos por morte do doador, como decorre
do art. 1755.º. As doações para casamento mortis causa enquadram-se na categoria dos pactos
sucessórios designativos e figuram entre as raras exceções ao princípio da proibição da sucessão
contratual prevista no art. 2028.º

Ao abrigo do disposto nos arts. 1699.º, n.º 1, al. a), e 1700.º, n.º 1, os nubentes podem incluir na
convenção antenupcial a instituição de herdeiro ou a nomeação de legatário, desde que seja feita
10
por qualquer dos esposados ou em favor de qualquer um deles. O n.º 2 do art. 1700.º admite que
na convenção antenupcial, os nubentes insiram cláusulas acessórias de reversão ou
fideicomissárias, as quais ao abrigo do art. 1707.º, são livremente revogáveis a todo o tempo pelo
autor da liberalidade. Os arts. 1701.º a 1706.º particularizam a regulamentação das liberalidades
mortis causa admissíveis na convenção antenupcial, não sendo, contudo, consideradas lícitas a
inclusão de outras disposições por morte.

1.6.1.2. Sujeitos

São sujeitos da convenção antenupcial os nubentes e terceiros que nela intervenham. Adverte-se
que, nos termos do art. 1711/2, não são considerados terceiros, na convenção antenupcial, para
além dos nubentes, os demais outorgantes e ainda os herdeiros dos cônjuges.

Quanto aos terceiros intervenientes, são partes no negócio jurídico. Relativamente aos herdeiros,
os cônjuges devem ter a faculdade de opor a convenção antenupcial aos herdeiros um do outro. E
também os herdeiros dos cônjuges poderão beneficiar da titularidade do direito de opor a
convenção antenupcial uns aos outros, e também aos herdeiros de todos os outorgantes na
escritura, mesmo que a convenção antenupcial não tenha sido registada.

1.6.1.3. Capacidade dos nubentes e formalidades das convenções

A convenção antenupcial exige capacidade dos nubentes. Será a mesma capacidade que se exige
para o casamento. Art. 1708/1 do CC. Segundo o disposto no art. 1710, as convenções
antenupciais serão válidas desde que celebradas por declaração prestada perante funcionário do
registo civil ou, em alternativa, por escritura pública.

O art. 1711 visa estipular a obrigatoriedade do registo como condição de produção de efeitos
relativamente a terceiros. Ora, sendo o registo necessário para tal produção de efeitos, não o é
face às entidades que a lei exclui e o referido preceito enumera e que afasta expressamente do
conceito de terceiro (nº 2).

_________________________
15
Jorge Duarte Pinheiro, O Direito da Família…, ob. cit., p. 393
16
Idem.

11
1.6.1.4. Imutabilidade das Convenções Antenupciais

Como vimos, nos dias de hoje, o princípio da Imutabilidade resulta do preceito previsto no art.
1714.º do C.C., que representa a continuação da solução que já decorria do art. 1105.º do Código
de 1867 e que foi transposta do Direito francês.

Como podemos ler no art. 1714.º do C.C. “Fora dos casos previstos na lei, não é permitido
alterar, depois da celebração do casamento, nem as convenções antenupciais nem os regimes de
bens legalmente fixados”, consagrando este preceito o princípio da imutabilidade das convenções
antenupciais e do regime de bens e que nas palavras de Cristina Dias “constitui uma das pedras
angulares em que assenta a construção jurídica das convenções matrimoniais”17.

Tal como já referimos, resulta do preceito que prevê o princípio da imutabilidade não só a sua
aplicabilidade quanto ao regime de bens convencionado pelas partes como também a sua
aplicabilidade ao regime supletivo (art. 1717.º).

Tal como já referimos, resulta do preceito que prevê o princípio da imutabilidade não só a sua
aplicabilidade quanto ao regime de bens convencionado pelas partes como também a sua
aplicabilidade ao regime supletivo (art. 1717.º).

Outra ideia que resulta deste princípio é que as convenções antenupciais apenas se tornam
imutáveis a partir do momento em que é celebrado o casamento, pelo que até à celebração do
casamento são livremente modificáveis e revogáveis, desde que consentidas por todas as pessoas
que nela outorgaram ou os respetivos herdeiros (art. 1712.º, n.º1).

Nas palavras de Antunes Varela “o que não pode é haver, fora dos casos previstos na lei,
modificações post-nupciais da convenção”18, ficando, assim, acauteladas as situações de
precipitação bem como o surgimento de alterações de circunstâncias, permitindo aos futuros
cônjuges em momento anterior à celebração do casamento modificar a convenção.

_____________________________________
17
Cristina M. Araújo Dias, Alteração do estatuto patrimonial dos cônjuges e a responsabilidade
por dívidas, Coimbra, Almedina, Reimpressão, 2017, p. 10.

18
João de Matos Antunes Varela, Direito da Família, I…, ob. cit., p. 357

12
1.6.1.5. Estipulação de Regime de Bens sob Condição ou Termo em Convenção Antenupcial

A lei admite que o regime de bens convencionado mude em razão de verificação de ou termo,
desde que a condição ou o termo constem da convenção antenupcial. Sendo assim, a convenção
antenupcial mantém-se imutável neste aspeto da determinação do regime de bens, pois que é ela
própria a estipular as condições ou os termos que poderão ser apostos para que o regime de bens
mude. Assim decorre do art. 1713/1.C.C.

Caso o preenchimento da condição ou a ocorrência do termo se verifiquem, não produzirão


efeitos retroativos em relação a terceiros – assim, o art. 1713/2.C.C. Significa isto que os
critérios de terceiros, constituídos antes da verificação da condição ou do termo, serão pagos de
harmonia com o regime de bens que vigorava antes. É uma decorrência do princípio da
segurança do comércio jurídico.

Sucede que a possibilidade de aposição de termo significa que, na prática, o legislador admite
uma margem de mutabilidade dos regimes de bens muito mais ampla do que afirma à partida.
Pois existem termos cuja concretização é fácil e depende em larga medida da vontade dos
nubentes.

Sucede que a possibilidade de aposição de termo significa que, na prática, o legislador admite
uma margem de mutabilidade dos regimes de bens muito mais ampla do que afirma à partida.
Pois existem termos cuja concretização é fácil e depende em larga medida da vontade dos
nubentes.

A lei contempla a possibilidade de alterar o regime de bens convencionado, no caso de ter havido
revogação de doações mortis causa feitas por terceiros aos nubentes (art. 1715/1 alínea a)). A
norma é pertinente, na medida em que a composição das massas patrimoniais possa sofrer, por
este facto, alterações que justifiquem uma nova decisão dos cônjuges sobre o regime de bens.

Os demais casos em que os regimes de bens podem sofrer alterações que decorrem da separação
de bens que ocorra entre os cônjuges.

13
2.Considerações finais

A convenção antenupcial interfere no conteúdo do casamento, porque a convenção pode incidir


em vicissitudes da vida pessoal dos cônjuges, mas sobretudo em efeitos patrimoniais do
casamento, e principalmente, no regime de bens que vigorará no mesmo casamento.

O art. 1698 do CC, que inicia o capítulo do código sobre esta matéria, é bem elucidativa sobre o
objetivo fundamental destas convenções, de acordo com o pensamento legislativo: fixarem,
através delas, os cônjuges, livremente, o regime de bens que vigorará no casamento.

A convenção antenupcial tem, portanto, um alcance jurídico muito mais importante do que a
promessa de casamento, ainda que comungue com ela da antiguidade. As convenções
antenupciais são negócios bilaterais ou contratos que antecedem o casamento.

Compreendemos, igualmente, ao longo do nosso estudo que o principal problema é a proteção de


terceiros e não tanto a modificação do regime de bens, pelo que a modificação do regime de bens
não necessita de um controlo judicial, é sim necessário acautelar os interesses de terceiros com
mecanismos defesa e de proteção. A previsão de mecanismos eficientes para acautelar os direitos
de terceiros torna desnecessária a exigência de controlo judicial.

Assim, julgamos que a alteração à convenção após a celebração do matrimónio deve estar sujeita
à mesma regra de forma estabelecida para a convenção antenupcial, devendo ser celebrada como
ato notarial ou mediante declaração prestada perante o funcionário do registo, fixando-se um
sistema de publicidade adequado e obrigatório, ou seja, averbando não só no assento de
casamento como no assento de nascimento, bem como deverão ser sujeitos a menção da
modificação do regime matrimonial todos os bens imóveis e móveis sujeitos a registo, incluindo
sociedades.

14
3.Referências Bibliográficas

AAVV, Código Civil Anotado – Livro V – Direito das Sucessões, coordenação de Cristina
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