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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Coordenação do Curso de Direito

Cadeira: Medicina Legal

4º Ano-2023

TEMA: Relação entre Medicina legal e poder Judicial

O Tutor:

Discente:

 Virginia Armando Cumbula Benfica

Maputo, Maio de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

4º ANO

NOME DO ACADÊMICO:

VIRGINIA ARMANDO CUMBULA BENFICA

TRABALHO DE CAMPO

TITULO DO TRABALHO:

RELAÇÃO ENTRE MEDICINA LEGAL E PODER JUDICIAL

MAPUTO, MAIO DE 2023


ÍNDICE

CAPÍTULO - 1. .............................................................................................................................. 4
1.Introdução .................................................................................................................................... 4
1.2.Objectivos ................................................................................................................................ 5
1.3.Metodologia .............................................................................................................................. 6
CAPÍTULO - 2 ............................................................................................................................... 7
REFERÊNCIAL TEÓRICO .......................................................................................................... 7
1.4. Histórico da Medicina Legal .................................................................................................... 7
1.4.1.Período científico ................................................................................................................... 8
1.4.2. Histórico da Medicina Legal em Moçambique ..................................................................... 8
CAPÍTULO - 3 ............................................................................................................................... 8
1.5. MEDICINA LEGAL. .............................................................................................................. 9
1.5.1.Campo de actuação nas Ciências Jurídicas .......................................................................... 11
1.5.2. Garantidora de justiça ......................................................................................................... 12
1.6.DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS ..................................................................................... 14
1.6.1. Notificações ........................................................................................................................ 15
1.6.2. Atestados ............................................................................................................................. 15
1.6.3. Relatórios ............................................................................................................................ 16
1.6.4. Parecer Médico-legal .......................................................................................................... 16
2.Conclusão................................................................................................................................... 17
3.Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 18
CAPÍTULO - 1

1.Introdução

A saúde é um direito fundamental e constitui um vector para a justiça social, sendo assim, a
Medicina Legal constitui a ponte de ligação entre Ciências Médicas e o Direito, auxilia na
produção de provas científicas dos delitos, com componente biológica, através de actividade
pericial previamente solicitada pela autoridade competente (PROCURADORIA, TRIBUNAL,
PIC, PRIVADOS), bem como na elaboração de documentos médico-legais.

A medicina legal coloca os conhecimentos científicos à disposição do estudo e do esclarecimento


de inúmeros fatos de interesse jurídico, nas diferentes áreas do Direito e poder judicial e é a
autoridade competente para solicitar a perícia e fazer o uso dela. 1

No entanto, o presente trabalho de campo, tem como objectivo analisar a relação entre medicina
legal e poder judicial.

__________________

1 Módulo de Medicina Legal-pag.23-ISCED

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1.2.Objectivos

Geral

 Saber Explicar a relação entre a Medicina Legal e o Poder Judicial.

Específicos

 Conhecer a história da Medicina legal;


 Apresentar conceitos de Medicina legal;
 Analisar a Medicina Legal no Campo de actuação nas Ciências Jurídicas;
 Enumerar os documentos médicos Legais e a sua utilidade para o sistema judicial:
Notificações, Atestados, Relatório Médico-legal (laudo e auto);

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1.3.Metodologia
Para a realização do presente trabalho de pesquisa recorreu-se a pesquisa descritiva, esta exige
do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo
pretende descrever os factos de determinada realidade GIL (1999: 47).

O tipo de pesquisa descritiva relaciona-se com o presente trabalho porque será feita uma
pesquisa documental para a sua execução, com o intento de debruçar sobre os coflitos laborais e
mediação.

Como método de recolha de dados será usado no presente trabalho de pesquisa a consulta
bibliográfica. Consulta bibliográfica, consiste na análise de diversas obras disponíveis que
debruçam-se sobre o tema em pesquisa, onde também explicitaram-se os principais conceitos e
termos técnicos utilizados para a realização do presente trabalho, (MARCONI, 2011)..

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CAPÍTULO - 2

REFRÊNCIAL TEÓRICO

1.4. Histórico da Medicina Legal


2
Na Antiguidade já se fazia presente a Medicina Legal, até então uma arte como a própria
Medicina. No Egito, por exemplo, mulheres grávidas não podiam ser supliciadas - o que
implicava o seu prévio exame. Na Roma Antiga, antes da reforma de Justiniano a Lei Régia de
Numa Pompílio prescrevia a histerectomia quando a gestante morresse - e da aplicação desta lei,
segundo a crença de muitos - refutada por estudiosos, como Afrânio Peixoto - teria advindo o
nascimento de Júlio César (quando o nome César, assim como Cesariana, advêm ambos de cedo
cortar).

O próprio César, após seu assassinato, foi submetido a exame tanatológico pelo médico Antíscio,
que declarou que apenas um dos ferimentos fora efectivamente o causador da morte. Este exame,
entretanto, ainda era superficial, posto que a necropsia constituía-se em violação ao cadáver.
Também foram casos históricos de exame post-mortem de Tarquínio e Germânico, ambos
assassinados.

No Digesto justiniano tanto a Medicina como o Direito foram dissociadas, e vê-se no primeiro
caso intrínseca a Medicina Legal, na disposição que preconizava que "Medici non sunt proprie
testes, sed magis est judicium quam testimonium". Outras leis romanas dispunham sobre
assuntos afeitos à perícia médico-legal.

Durante a Idade Média ressalta-se o período carolíngio, onde diversos exames eram referidos na
legislação, desde aqueles que determinavam os ferimentos em batalha, até que os julgamentos
submetiam-se ao crivo médico - prática que foi suprimida com a adoção do direito germânico.

Na Baixa Idade Média e Renascença ocorre a intervenção do Direito Canônico, e a prova médica
retoma paulatinamente sua importância. É na Alemanha que encontra seu verdadeiro berço, com
a Constituição do Império Germânico, que tornava obrigatória a perícia em casos como
ferimentos, homicídios, aborto, etc.

Caso exemplar foi a necropsia feita no Papa Leão X, suspeito de haver sido envenenado, em
1521.
7
1.4.1.Período científico

Considera-se que o período moderno, propriamente científico da Medicina Legal, dá-se a partir
de 1602, com a publicação na Itália da obra de Fortunato Fidelis, à qual se seguiram estudos
sobre este ramo da Medicina a serviço do Direito. No século XIX a ciência ganha finalmente os
foros de autonomia, e sua conceituação básica, evoluindo concomitantemente aos expressivos
progressos do conhecimento humano, a invenção de novos aparelhos e descobertas de novas
técnicas e padrões, cada vez mais precisos e fiéis.

1.4.2. Histórico da Medicina Legal em Moçambique


3
Em Moçambique surge em Maio de 1968 sob o Decreto n˚ 5023, com a criação do Conselho
Medico Legal. Actualmente existem no país 07 Serviços de Medicina-legal, nomeadamente:
Serviço de Medicina Legal de Maputo, Serviço de Medicina Legal da Beira e Serviço de
Medicina Legal de Nampula, Serviço de Medicina Legal de Inhambane, Serviço de Medicina
Legal de Gaza, Serviço de Medina Legal de Tete e Serviço de Medicina Legal de Quelimane que
funcionam nos respectivos Hospitais Centrais ou Provinciais.

O serviço de Medicina Legal em Maputo por exemplo, está localizado no recinto do Hospital
Central de Maputo e no período de 1975 a 1989 era constituído por pessoal médico e
serventuário dependente do serviço de Anatomia Patológica. Em 1989, devido aos problemas da
guerra civil, houve cisão destes dois serviços, passando o serviço de Medicina legal a ter dupla
subordinação nomeadamente, do Ministério da Saúde que contratava médicos legistas e peritos e
do Ministério do Interior que administrava e controlava o serviço por meio dos Agentes da
Policia de Investigação Criminal (PIC) e controlava o pessoal serventuário (evisceradores).

Em 1994 por decisão do MISAU, o serviço de Medicina Legal foi integrado na Direcção de
Saúde da Cidade de Maputo/Departamento de Higiene Ambiental e Exames médicos (CHAEM).
EM 1998, o mesmo serviço foi transferido para o Departamento de Assistência Médica,
passando a ser autónomo no Hospital Central de Maputo e cria-se as Unidades Médico
Judiciarias nos Hospitais.

____________________________
2 https://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_legal
3 Módulo de Medicina Legal-pag.18,19-ISCED

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CAPITULO – 3

1.5. MEDICINA LEGAL

Vários têm sido os conceitos dados à Medicina Legal, dentre os quais se destacam:

França (2011) organiza alguns conceitos desenvolvidos por pesquisadores do assunto, como
Ambroise Paré que define a Medicina Legal como “a arte de fazer relatórios em juízo” e Foderé:

“a arte de aplicar os conhecimentos e os preceitos de diversos ramos principais e acessórios da


Medicina à composição das leis e às diversas questões de direito, para iluminá-los e interpretá-
los convenientemente”. (FRANÇA, 2011 apud Foderé, s.d.)

E ampliando esta concepção França (2011) escreve que pode-se entender a Medicina Legal como
uso da ciência e da tecnologia como contribuição às questões do Direito na elaboração das leis,
na administração judiciária e na consolidação da doutrina.

A medicina Legal pode se relacionar com o Direito Civil nas questões de paternidade, nulidade
de casamento, testamento. Com o Direito Penal nas questões relacionadas às lesões corporais,
aborto (legal e criminoso), infanticídio, crimes contra a liberdade sexual. Com o Direito
Administrativo ao avaliar as condições dos seus agentes, referente ao ingresso, afastamentos e
aposentadorias.

“ Medicina Legal é o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados a servir ao


Direito, cooperando na elaboração, auxiliando a interpretação e colaborando na execução dos
dispositivos legais atinentes ao seu campo de acção de medicina aplicada” (Hélio Gomes)4.

“ Medicina Legal é a aplicação de conhecimentos médico - biológicos na elaboração e execução


das leis que deles carecem” (Flamínio Fávero)5

“Medicina Legal é a aplicação de conhecimentos médicos e científicos aos problemas judiciais


que podem ser por eles esclarecidos” (Marc, Vilbert e N. Rojas).

A Medicina Legal é uma importante e fundamental ciência forense auxiliar, sendo incumbida de
realizar perícia nas áreas de sua competência 5.

9
Hélio Gomes assevera que “não basta ser simplesmente um médico para que se julgue apto a
realizar perícias, como não basta a um médico ser simplesmente médico para que faça
intervenções cirúrgicas”. Prossegue o autor enfatizando que são necessários estudos mais
“acurados, treino adequado, aquisição paulatina da técnica e disciplina”. Ainda, corrobora que
nenhum médico está apto a ser perito apenas pelo fato de ser médico, é indispensável possuir
educação médico-legal, conhecimento da legislação que rege a matéria, noção de resposta nos
quesitos pleiteados, bem como prática em redacção dos laudos periciais. Finaliza no sentido de
que sem esses prévios conhecimentos toda a sua sabedoria médica será perigosa e estéril. 6

7
Para Odon Ramos Maranhão é “a ciência de aplicação dos conhecimentos médico-biológicos
aos interesses do Direito constituído e à fiscalização do exercício médico-profissional”. Ainda,
Hélio Gomes 8 menciona que “é o conjunto de conhecimentos médicos e paramédicos destinados
a servir ao Direito, cooperando na elaboração, auxiliando a interpretação e colaborando na
execução dos dispositivos legais atinentes ao seu campo de acção de medicina aplicada”. Simoni
corrobora que “a Medicina Legal aparece com uma tríplice complexidade por sua natureza
médica, seu espírito jurídico e seu carácter social 9.

Como se vê, destacam-se, assim, na definição da Medicina Legal, as expressões “ciência”,


“conhecimentos médico-biológicos” e “aplicação ao Direito” (resolução dos problemas
judiciais). Qualquer conceituação feita pelo candidato, se fizer referência a estas três expressões,
será, em princípio, satisfatória.

____________________

4 GOMES, Hélio. Medicina legal, p. 28.


5 FÁVERO, Flamínio. Medicina legal. 11a ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980, p. 40.
6 GOMES, Hélio. Medicina Legal. 29ª Ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1993.
7 MARANHÃO, Odon Ramos. Curso básico de medicina legal. 8. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004, p. 25
8 GOMES, Hélio. Medicina legal. 33. ed. Rio de Janeiro: Frei Bastos, 2004. 1958, p 21
9 SIMONIN, Camilo. Medicina Legal Judicial. 2 ed. Barcelona: JIMS. 1966.

10
1.5.1.Campo de actuação nas Ciências Jurídicas

10
É corriqueiro supor que a Medicina Legal atua apenas nos casos em que envolvem crimes,
contudo a área de contribuição da matéria abrange várias subdivisões do Direito. O campo de
actuação da Medicina Legal nas ciências jurídicas é distribuído de acordo com o conteúdo
programático do direito positivo, seja Direito Civil, Trabalhista, Administrativo e Penal.

No Direito Civil a abrangência da Medicina Legal engloba diversos factores nas questões de
direito privado seja relacionada à identidade e à identificação civil; perícia do nascituro e provas
do início da personalidade civil, avaliação do dano corpóreo de natureza jurídico-civil;
casamento; separação; divórcio; política demográfica; capacidade civil: limites e modificadores;
psicologia judiciária civil: estudo do testemunho e da confissão; morte real e presumida; dentre
tantas outras. É possível sustentar que a perícia tem grande importância em inúmeras acções, sem
o instituto ficaríamos a mercê de conclusões mal elaboradas e sem nenhuma sustentação
científica.

Outrossim, no Direito Trabalhista a área possui grande valoração, visto que é inegável e notória a
presença do perito. O campo de actuação na matéria abrange as perícias das doenças do trabalho,
doenças profissionais e acidentes de trabalho; avaliação do dano corpóreo de natureza
trabalhista; deficiência e incapacidade; simulação, dissimulação e metas simulação em
infortunística do trabalho; psicologia do trabalho; noções de rendimento muscular; poluição
ambiental: contaminação, ruídos e irradiações; necrópsias de interesse trabalhista; dentre outras.

Já no Direito Administrativo as perícias são voltadas aos servidores públicos, seja na perícia
previdenciária; juntas médicas oficiais; avaliação da capacidade laborativa dos servidores
públicos; formalidades do exame biométrico; auditorias; critérios param readaptação; avaliação
do dano corpóreo de natureza administrativa; actividades penosas e periculosidade na função;
necrópsias de interesse administrativo; dentre outras.

Por fim, no Direito Penal engloba diversos tópicos: nas questões criminais; perícias de natureza
penal; identidade e identificação criminal; energias causadoras do dano; lesões corporais sob o
ponto de vista jurídico; periclitarão da vida e da saúde; distúrbios da preferência sexual; aborto
legal e criminoso; sedução, posse sexual mediante fraude, estupro e atentado violento ao pudor;
infanticídio; filicídio; toxicofobias e embriaguez alcoólica; tanatologia médico-legal;

11
imputabilidade penal, dentre outras. Nesse sentido, é notório afirmar que a perícia criminal é
apenas uma área dentre muitas dentro da extensão de trabalho do médico-legal. As Ciências
Jurídicas possuem grande campo de actuação para a Medicina e, portanto, a Medicina Legal
possui imensa importância tendo em vista sua grande inserção na área.

1.5.2. Garantidora de justiça

A perícia médica é reconhecida através do Código de Processo Civil como prova e tem papel
fundamental na resolução de questões envolvendo os litígios.

Para Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery:

“O objectivo da prova pericial é o fato ou os fatos que foram alegados na inicial


ou na contestação que careçam de perícia para sua cabal demonstração. Se a
alegação do fato surgiu durante o processo, de forma fugaz e pouco consistente,
apenas como recurso de retórica, não pode ter o condão de impor a necessidade de
produção de prova”.

Além disso, Marcus Vinicius Gonçalves doutrina que։

“O perito deve limitar-se a esclarecer as questões técnicas que interessem à causa,


e que lhe sejam submetidas, não podendo enveredar por questões jurídicas, nem
emitir opiniões sobre o julgamento. O seu papel é apenas o de fornecer subsídios
técnicos para que o juiz possa melhor decidir. ” (grifo nosso).

Para o juiz é fundamental a prova pericial para que se possa apreciar melhor a verdade com um
instrumento científico e adquirindo uma consciência dos fatos que constituem o problema
jurídico. Além disso, talvez seja essa a principal incumbência da perícia médico-legal: orientar e
iluminar a consciência do magistrado 11.

Outrossim, a perícia é um procedimento especial com o objectivo de constatar, provar ou


demonstrar, de forma científica ou técnica, a veracidade de uma determinada situação. Do
mesmo modo, se caracteriza como procura de elementos que construam uma convicção segura e
adequada acerca do fato que se pretende provar e, portanto, estruturar uma prova de fato.

12
De acordo com Delton Croce։

“A missão dos peritos é sagrada. Subordinados a uma ética rigorosa, os peritos


que faltarem com a verdade no exercício de sua nobre função, embaraçando a
Justiça, respondem penal e civilmente por dolo ou culpa [...]. Os peritos não-
oficiais também estão sujeitos à disciplina”.

Nesse sentido, o autor continua seu argumento mencionando que o perito necessita possuir uma
conceituação universitária dos seres humanos, por sua cultura, indispensável que é da Justiça,
sendo, portanto, herói anônimo capaz de deslindar crimes indecifráveis através de paciente e
penoso trabalho só conhecido das autoridades policial-judiciárias.

Doutor Marcos Rovinski, Professor de Medicina pela Universidade Luterana do Brasil corrobora
que :

“ Importante assinalar que ao médico legista cabe um viés diferente da Medicina


tradicional: enquanto nesta o médico atua no sentido de assegurar a saúde à
sociedade e ao indivíduo, quer na prevenção, no tratamento ou na reabilitação do
doente, na Medicina Legal o profissional usa todo o conhecimento médico disponível
no sentido de esclarecer aos órgãos de segurança e de Justiça fatos criminosos ou
suspeitos que tenham vitimado o ser humano. A partir do crescimento da violência e
da criminalidade, que lamentavelmente vem ganhando espaço na mídia e na vida das
nossas ruas e dos nossos lares, a Medicina Legal assume maior importância na
sociedade. Cada vez mais as autoridades de Justiça e Segurança vêm assegurando, à
elaboração da prova técnica, um papel fundamental para os inquéritos e processos.
Ao mesmo tempo, o avanço da ciência e da tecnologia tem sido vertiginoso, de forma
a exigir do profissional um conhecimento sempre actualizado da área médica para
que essa venha a acrescentar mais recursos na investigação pericial” .

__________________

10 pdf https://revista.defensoria.rs.def.br/defensoria/article/download/197/182/362
11 FRANÇA, Genival Veloso de. Fundamentos da Medicina Legal. 2 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan. 2014. p. 5

13
Genial veloso de França arremata em irrevocável síntese

“ A Medicina Legal é a contribuição médica e biológica às questões


complementares dos institutos jurídicos e às questões de ordem pública quando
do interesse da administração judiciária. É, portanto, a mais importante e
significativa das ciências subsidiárias do Direito” .

A cultura médico-legal, pouco conhecida, muito discutida e destituí- da de real valor, existe para
atender ao chamado da Justiça. Além disso, possibilita uma melhor análise da verdade em
critérios exactos, com o intuito de construir uma maior consciência dos fatos que formam os
problemas jurídicos 12.

O Poder Judiciário, desde a fase de instrução até o julgamento, necessita de provas para
averiguação da verdade, para tanto são necessários meios eficientes para se chegar mais perto do
objectivo da acção judicial: promover justiça. Um dos meios é a perícia médica, que a cada dia
se torna cada vez mais presente e fundamental na resolução de questionamentos, com o intuito de
alcançar com efectividade e veracidade os elementos do caso concreto.

1.6.DOCUMENTOS MÉDICO LEGAIS

Documento é uma declaração escrita, oficialmente reconhecida, que serve de prova de um


estado, facto ou acontecimento, isto é, todo o instrumento que tem a faculdade de reproduzir e
representar uma manifestação de pensamento.

Do ponto de vista médico-legal representam manifestações públicas ou privadas, que tem um


carácter representativo de um facto a ser avaliado em juízo. Os documentos médico-legais são
todas informações escritas, fornecidas por um médico ou Técnico de Medicina, que relata
matéria clínica de interesse jurídico-legal (atestados, notificações, relatórios e pareceres) fruto do
cumprimento de encargo deferido pela autoridade competente.

Os documentos de interesse da Justiça são 13:

________________

12 COSTA, Luís Renato da Silveira; COSTA, Bruno Miranda. A Perícia Médico-Legal Aplicada
à Área Criminal. 2. ed. Campinas: Millennium. 2015, p.2

14
1.6.1. Notificações

São comunicações obrigatórias feitas pelos médicos ou Técnicos de Saúde as autoridades


competentes de um facto profissional, por necessidade social, de saúde pública ou jurídico-legal,
tais como: acidentes de trabalho, doenças profissionais, doenças infecto-contagiosas, uso
habitual ou não de substâncias psicotrópicas lícitas sob controle.

Em alguns crimes de natureza pública (como os casos de aborto criminal, envenenamento,


homicídio, violência doméstica e sexual nos menores), o profissional da saúde que tomar
conhecimento em virtude do exercício das suas funções ou não, deve relatar por escrito o que
observou e constatou e notificar ao Ministério Público, titular da acção penal pública para
desencadear o respectivo procedimento criminal.

Ainda não existe, no nosso país, um modelo oficial de Notificação em Medicina Legal deste
modo as notificações são feitas em uma folha A4

1.6.2. Atestados

São documentos assinados sob responsabilidade, pelo qual se certifica ou se atesta alguma coisa.
É elaborado pelo médico ou Técnico de Saúde e tem como fim provar um estado mórbido real,
presente ou anterior, para fins de licença, dispensa, justificativo de um estado de saúde.

Por exemplo:

Na área do trabalho o atestado ou certificado é passado:

▪ Em caso de aborto não-criminoso; repouso remunerado da mulher e retorno à função anterior


em caso de ameaça de aborto;

▪ Para evitar o rompimento do contrato da mulher grávida se este é apresentado;

▪ Justificação - Ausência no Trabalho - - Atestado Médico de Doença;

▪ Para obtenção dum emprego- Atestado de aptidão.

Os atestados são classificados em:

15
▪ Oficioso: serve como prova ou justificativo por ausências no local de trabalho ou serviço, por
exemplo: atestado de doença;

▪ Administrativo: serve geralmente para a Administração Pública, para efeitos de licença,


reforma ou justificativo de faltas;

▪Judiciário: de interesse da Administração da justiça, requisitado pelo Juiz.

1.6.3. Relatórios

Relatório médico-legal é a exposição escrita e minuciosa de uma perícia médico-biológica a fim


de responder a solicitação da autoridade policial ou judicial, de uma entidade pública ou privada.
Existem dois tipos de relatório: (1) AUTO quando é ditado pelo perito ao escrivão, durante ou
logo após o exame e (2) LAUDO quando é redigido pelo (s) próprio(s) perito(s), posteriormente
ao exame.

1.6.4. Parecer Médico-legal

14
Documento utilizado para dirimir divergências na interpretação de uma perícia, sendo
solicitado a uma pessoa de renome. Geralmente, é um documento particular solicitado pela parte.
Possui valor de prova técnica, a ser estimada de maneira relativa pelo juiz. Logo, é usado:

• Quando há divergências importantes quanto à interpretação dos achados de uma perícia, de


modo a impedir uma orientação correta dos julgadores, ou

• Quando esses querem solicitar esclarecimentos mais aprofundados a uma instituição cujo corpo
técnico tem competência inquestionável, ou a um perito ou professor cuja autoridade na matéria
seja reconhecida.

É um documento que pode ser solicitado por uma das partes interessadas no processo para
explicações mais aprofundadas a uma instituição com corpo técnico de alta reputação ou a um
profissional cujo prestígio na matéria seja reconhecido.

_______________________
13
Módulo de Medicina Legal-pag.23-ISCED
14
2972-7-DOCUMENTOS-MDICO-LEGAIS.docx https://forumturbo.org/wp-
content/uploads/wpforo/attachments/35818/2972-7-DOCUM

16
2.Conclusão

Deste trabalhou, concluiu se, que, a medicina legal tem ampla aplicação na ciência jurídica, seja
ela penal, civil ou trabalhista, auxiliando na aplicação das leis e permitindo à justiça o
cumprimento de seu mister social e constitucional. O Poder Judiciário, desde a fase de inquérito,
indo para o setor processual e até no julgamento, necessita de provas estas realizar-se-ão com a
colaboração dos peritos médicos legistas como auxiliadores da justiça.

A Medicina legal é frequentemente usada na prática forense, pois com as perícias realizadas
pelos médicos legistas têm um valor probante indiscutível no auxílio do direito processual pela
busca da sentença justa, que tenha como fundamento a verdade dos fatos e suas circunstâncias.

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3.Referências bibliográficas

COSTA, Luís Renato da Silveira; COSTA, Bruno Miranda. A Perícia Médico-Legal Aplicada à
Área Criminal. 2. ed. Campinas: Millennium. 2015, p.2

CROCE, Delton. JÚNIOR, Delton Croce. Manual de Medicina Legal. 5. ed., São Paulo/SP:
Saraiva, 2004.

GOMES, Hélio. Medicina legal. 33. ed. Rio de Janeiro: Frei Bastos, 2004. 1958, p 21

GOMES, Hélio. Medicina Legal. 29ª Ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1993.

GIL, António. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª ed. Atlas, São. Paulo, 1999.

GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Coordenador


Pedro Lenza. 2ª ed. São Paulo: Saraiva. 2012.

FRANÇA, Genival Veloso de. Fundamentos da Medicina Legal. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan. 2014. p. 5

FÁVERO, Flamínio. Medicina legal. 11a ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980, p. 40.

FRANÇA, Geneval Veloso de. Medicina Legal. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

JUNIOR, Nelson Nery; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código do Processo Civil Comentado.
12ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.

MARANHÃO, Odon Ramos. Curso Básico de Medicina Legal. 8. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004.

MADRUGA, Antonio Alves. A Importância da Medicina Legal no Curso de Direito <Disponível


em:http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/journals/2/articles/30003/submission/review/300
03- 30153-1-RV.pdf > Acesso em 19 de maio de 2022

MADRUGA, Antonio Alves. A Importância da Medicina Legal no Curso de Direito <Disponível


em: http://www.

MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 6ª Edição, São Paulo, Atlas Editora,
2011.

Módulo de Medicina Legal-pag.18,19,23-ISCED

SIMONIN, Camilo. Medicina Legal Judicial. 2 ed. Barcelona: JIMS. 1966.

18
Internet։

https://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_legal

pdf https://revista.defensoria.rs.def.br/defensoria/article/download/197/182/362

2972-7-DOCUMENTOS-MDICO-LEGAIS.docx https://forumturbo.org/wp-
content/uploads/wpforo/attachments/35818/2972-7-DOCUM , Acesso em 16 de maio de 2022

buscalegis.ufsc.br/revistas/files/journals/2/articles/30003/submission/review/30003-30153-1-
RV.pdf > Acesso em 19 de maio de 2022

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