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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Coordenação do Curso de Direito

Cadeira: Direito da Integração Regional

3º Ano-2022

TEMA: Mercado Comum do Sul ( MERCOSUL )

O Tutor:

Discente:

 Telma Oflodio Cossa Mucavele

Maputo, Março de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO

3º ANO

NOME DO ACADÊMICO:

TELMA OFLODIO COSSA MUCAVELE

TRABALHO DE CAMPO

TITULO DO TRABALHO:

Mercado Comum do Sul ( MERCOSUL )

MAPUTO, MARÇO DE 2023


ÍNDICE

CAPÍTULO - 1. ............................................................................................................................. 1
1.Introdução .................................................................................................................................... 1
1.2.Objectivos ................................................................................................................................ 2
1.3.Metodologia .............................................................................................................................. 2
CAPÍTULO - 2 ............................................................................................................................. 3
1.4. O MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL): Bloco Económicos de Natureza
Intergovernamental ....................................................................................................................... 3
1.4.1. Origem .................................................................................................................................. 3
1.4.2. O Aspecto Jurídico ................................................................................................................ 4
1.4.3.As Sanções no âmbito do Mercosul ....................................................................................... 6
1.5. Supranacionalidade .................................................................................................................. 7
1.5.1. Supranacionalidade no Mercosul .......................................................................................... 9
1.5.1.1. Alterações no modelo do bloco.......................................................................................... 9
1.5.1.2. Condições de aplicabilidade ............................................................................................ 11
1.5.1.3.Vantagens e desvantagens da Supranacionalidade no Mercosul ...................................... 12
2.Considerações Finais ................................................................................................................. 14
3.Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 15
CAPÍTULO - 1

1.Introdução

Os Estados, guiados pelo contexto internacional, tenderam a se agrupar em regiões organizadas,


relacionando-se entre si mediante um sistema integrado. O contexto internacional a que se refere
é o baseado na era da globalização, na qual os países tendem-se a agrupar-se como forma de
estratégia de desenvolvimento económico.

A partir da segunda metade do século XX, estabelecem-se, no mundo, várias tentativas formais
de integração regional, motivadas, principalmente, pela possibilidade de superar crises e pela
necessidade de estabelecer processos de desenvolvimento económico de forma mancomunada. E
como consequência, visando a uma melhor inserção na ordem económica mundial, os países se
reuniram em grupos, realizando integrações de diversos fins, não só por ordem económica, mas
também social, política, cultural e ambiental. Assim sendo, o presente trabalho de campo, tem
como objectivo, analisar os Blocos Económicos ( Mercado Comum do Sul )

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1.2.Objectivos

Geral

 Conhecer os Blocos Económicos –Mercado Comum do sul

Específicos

 Descrever as características e consequências do bloco intergovernamental adoptado pelo


MERCOSUL;
 Identificar a origem de MERCOSUL;
 Analisar os aspectos jurídicos do Blocos Económicos do MERCOSUL;
 Analisar a Supranacionalidade no Mercosul e ;
 Conhecer as vantagens e desvantagens da Supranacionalidade no Mercosul

1.3.Metodologia

Do ponto de vista metodológico, esse trabalho consiste em uma revisão bibliográfica de


literaturas que tratam de Mercado Comum do Sul ( MERCOSUL ), buscando retirar dessa
vasta literatura, inclusive oriunda de tendências teóricas diferentes e até divergentes, as
informações que demonstram ser válida a hipótese levantada.

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CAPÍTULO – 2

1.4. O MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL): Bloco Económicos de Natureza


Intergovernamental

1.4.1. Origem
1
O Mercosul foi criado em 1991, com a assinatura do Tratado de Assunção, pelos países
signatários: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Dentre seus objectivos, o mais
importante era o de se estabelecer um mercado comum, a fim de fortificar as economias dos
países-membros, proporcionando, assim, uma inserção competitiva no mundo globalizado,
conforme previsto no artigo 1º do Tratado de Assunção.

A integração na América Latina remonta aos idos de 1826, com os ideários do líder venezuelano
Simón Bolívar. Este almejava uma América unida, livre e independente; um homem à frente de
seu tempo. Pode-se dizer que a possibilidade para a formação de uma integração latina teve seu
início efectivamente nos anos 1960, com a criação da Associação Latino-Americana de Livre
Comércio – ALALC, originada com a assinatura do Tratado de Montevidéu. Esta foi a primeira
tentativa de se criar uma zona de livre comércio na região.

Visando substituir a ALALC, criou-se a ALADI (Associação Latino Americana de Integração)


em 1980, que se deu mediante celebração de outro Tratado de Montevidéu, que visava
reestruturar a ALALC, apresentando conceitos mais flexíveis de integração. Devido ao malogro
de ambas instituições, assistiu-se, pelos idos dos anos 1985, uma aproximação entre Argentina e
Brasil, sequenciando, assim, em um futuro próximo, a criação do Mercosul (Machado e
DelʾOlmo, 2011).

Em 26 de Março de 1991, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram o Tratado de


Assunção, que criou o Mercosul.

2
As Características básicas do Mercosul no âmbito da sua formação na fase transitória foram:

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1
Módulo: Direito de Integração Regional (DIR) ( pag.120), ISCED
2
Idem, 121

3
• A livre circulação de bens e serviços;

• O estabelecimento de uma tarifa externa comum – TEC;

• A adopção de uma política comercial comum perante terceiros países

e;

• A coordenação das políticas macroeconómicas e sectoriais.

De carácter transitório, o Mercosul nasceu com o Tratado de Assunção, no qual duas etapas eram
previstas para a viabilização da realização do Mercado Comum no Cone Sul: uma fase provisória
e uma segunda etapa definitiva. A primeira fase, realizada com a assinatura do Tratado de
Assunção, também conhecida como fase transitória, durou até a assinatura do Protocolo de Ouro
Preto, que deu origem à segunda etapa, oportunidade em que se instituiu a personalidade jurídica
de direito internacional ao presente bloco.3

Foi também o Protocolo de Ouro Preto, assinado em 1994, que instituiu a estrutura do Mercosul,
composta pelos órgãos: CMC – Conselho do Mercado Comum; GMC – Grupo Mercado
Comum; CCM – Comissão de Comércio do Mercosul; CPC – Comissão Parlamentar Conjunta;
FCES – Foro Consultivo Económico-Social; SAM – Secretaria Administrativa do Mercosul.

Nos anos subsequentes, algumas modificações na estrutura do bloco se fizeram remarcáveis,


como a criação do Tribunal Permanente de Revisão – TPR (Protocolo de Olivos, assinado em 18
de Fevereiro de 2002, vigente a partir de 1º de Janeiro de 2004); a criação do Tribunal
Administrativo-Trabalhista – TAT (Resolução do GMC nº 54/2003), a substituição da CPC pelo
Parlamento do Mercosul – PM (Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul, assinado em
9 de Dezembro de 2005, vigente a partir de 24 de Fevereiro de 2007); e a criação do Centro
Mercosul de Promoção do Estado de Direito – CMPED (Decisão CMC 24/04).

1.4.2. O Aspecto Jurídico

Diferentemente do sistema jurídico aplicado na comunidade europeia, o Mercosul optou por


menor complexidade, no qual nenhuma soberania seria afectada. A grande diferença entre a UE,
e o Mercosul é que aquela se baseia na supranacionalidade e este na intergovernabilidade. A
intergovernabilidade é pautada pelos princípios gerais do Direito Internacional Público,
inexistindo qualquer delegação de poderes a órgãos comunitários. O ideal integracionista latino-

4
americano está exposto no preâmbulo do Tratado de Assunção, em que expressa a vontade dos
Estados partes de se integrarem para a respectiva inserção no mercado mundial, aprofundando
suas relações também em outras áreas que não só comercial. (Machado e Del’Olmo, 2011, p. 94).

Partes do Preâmbulo do Tratado de Assunção: ʿʿConsiderando que a ampliação das actuais


dimensões de seus mercados nacionais, através da integração, constitui condição fundamental
para acelerar seus processos de desenvolvimento económico com justiça social; [...] Tendo em
conta a evolução dos acontecimentos internacionais, em especial a consolidação de grandes
espaços económicos, e a importância de lograruma adequada inserção internacional para seus
países; [...] (GOMES, s.d.)

Dentre as principais características do Mercosul destacam-se:

 Tomada de decisões por consenso e com a presença de todos os membros;

 A inexistência de vinculação directa entre os Estados e as decisões e normas produzidas pelos


órgãos do Mercosul;

 A conservação pelos Estados de todas as suas prerrogativas constitucionais;

 A subordinação da eficácia das normas internacionais ao ordenamento interno dos Estados,


bem como

 Ao posicionamento constitucional de cada país em relação ao mecanismo de recepção dessas


normas e de seu posicionamento hierárquico em face das leis internas (Gomes, s.d.).

Esta claro que o sistema de internalização de normas abordado no Mercosul é diferente do


modelo empregado pela UE.

A uniformidade europeia não está presente nos países integrantes do Mercado Comum do Sul,
haja vista que Brasil e Uruguai não adaptaram suas Constituições, de forma a facilitar a recepção
das

_________________________
3
Artigo 34 do Protocolo de Ouro Preto: é ʿʿO Mercosul terá personalidade jurídica de Direito
Internacionalʾʾ.

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normas emanadas pela integração no qual estão inseridos. Por isso, pode-se ressaltar que o Brasil
adopta o sistema dualista, em que se distingue uma norma internacional da de direito interno,
considerando-as independentes umas das outras. Contudo, para o sistema dualista, as normas
internacionais só serão devidamente aplicadas na legislação interna de um país quando forem
devidamente recepcionadas pelo direito interno (kelsen, 2005). Certo é que nem todos os países
que compõem o bloco se baseiam na teoria monista.

Sabe-se que a Argentina e o Paraguai adequaram suas Constituições, ambos aceitando a


existência de uma ordem supranacional, desde que observadas as condições de igualdade e
reciprocidade entre os outros Estados-membros da integração. 82 O facto de o Mercosul não
apresentar um sistema integrado de recepção de normas enquanto integração, desencadeia uma
série de dificuldades, assim como a estagnação do bloco.

Nas palavras do professor Tavares (2007, p. 13), é ʿʿcerto que o Mercosul vem passando por
dificuldades de efectivo desenvolvimento desde a sua criação, porque não se conseguiu
implantar efectivamente um espaço supranacional nos moldes daquele estruturado pela UEʾʾ. No
que concerne à estrutura institucional do Mercosul, muitas são as dificuldades para a
concretização da mesma segundo as sábias palavras de Basso:

• A primeira delas, sem dúvida, são as barreiras constitucionais existentes, principalmente no


Brasil e Uruguai. Isto porque, quando os Estados se aproximam para formar um ʿʿmercado
comumʾʾ precisam fazer expressa previsão, em suas constituições, que o direito internacional
(fundamentalmente os tratados) tem primazia sobre o direito interno.

• Além do mais, deve ficar expressamente prevista na constituição dos países-membros a


possibilidade de participação destes na formação de um direito comunitário que deverá ter
efeito imediato na ordem jurídica interna (nacional), sem precisar de aprovação do parlamento
nacional (Ibidem).

1.4.3.As Sanções no âmbito do Mercosul

Como já se disse anteriormente, o Mercosul não tem o instituto da Supranacionalidade, sendo


assim não existe neste, um órgão coactor, capaz de fazer cumprir às normas ditadas pelos órgãos

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do Bloco Económico. Para se garantir a efectividade das normas são instituídos dois princípios˸ o
da reciprocidade e o da pacta sunt servanda.

 O Princípio da Reciprocidade, previsto na Convenção de Viena sobre Direitos dos Tratados,


impede que as partes contratantes, para se abdicarem das obrigações assumidas, invoquem
normas internas, sendo possível à invocação quando se referir as questões de ordem pública.

 O Principio da Pacta Sunt Servanda prevê a possibilidade dos Estados-partes se


harmonizarem em suas relações, pois por este princípio os Estados do bloco económico ao
assumirem direitos e obrigações, terão reciprocidade em relação ao outro Estados do Bloco
Económico (Gomes, s.d, p. 173).

Outra medida adoptada diz respeito a cláusula da nação mais favorecida, onde um Estado-parte
que conceder privilégios a um País, que não faça parte do Bloco Económico, terá a obrigação de
conceder o mesmo privilégio aos Estados-partes do Mercosul. O sistema de solução de
controvérsias adoptado pelo Protocolo de Olivos busca o avanço no sistema de sanções ao criar
um Tribunal de Revisão Permanente, que apesar de não ter as características de um Tribunal de
Justiça, com jurisdição obrigatória e que prevê sanções ao Estado infractor, possibilita através da
emissão de laudos a resolução dos conflitos.

Portanto, podemos perceber que as normas instituídas pelo Mercosul, estão sujeitas as
disposições dos Estados-partes, posto que não exista no sistema de sanções do bloco económico
um órgão institucional para julgar os litígios correspondentes e fazer com que suas normas sejam
obedecidas.

1.5. Supranacionalidade

Por ser o modelo escolhido pelo bloco mais avançado no processo de integração, a
supranacionalidade é uma característica desejada por muitas nações e suas regiões, pois tem
grande importância no “sucesso” alçando pela UE, ainda que para chegar nessa fase de
comunitarismo não seja tão simples e rápido. “Um dos principais suportes do Direito
Comunitário é o instituto da supranacionalidade, que contribuiu decisivamente para a
consolidação dos objectivos da União Europeia, possibilitando o desenvolvimento de políticas
comunitárias compatíveis com a legislação dos Estados-membros e uniformidade na tomada de

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decisões, com base no primado e na aplicabilidade direta das normas comunitárias.” (GOMES,
2018).

Preliminarmente, é correto afirmar que a supranacionalidade tomou o caminho oposto da


tradição de que a economia e a política são governadas através de uma visão nacional, já que nas
últimas décadas foi criado esse sistema organizacional, que abraça várias nações da mesma
região, com a intenção de incluir o carácter supranacional.

Basicamente, a supranacionalidade é a cessão parcial das atribuições estatais de cada país em


detrimento de um órgão superior, ou seja, é criado uma superestrutura, onde as nações abrem
mão, em parte, da soberania, para activar um conjunto de alianças entre os estados membros,
com o objectivo de desenvolver a região. É o que vem confirmar Pedroso (2007, 85 p.): “Para
analisar o instituto da supranacionalidade, não há como deixar de abordar o significado do termo
supranacional, o qual expressa um poder de mando que supera os poderes dos Estados,
resultando na transferência de parcelas de soberania pelas unidades estatais em benefício da
organização comunitária. […] os aspectos políticos, embora conduzam mais à apreensão da
estrutura existente e da sua orientação, acabam por exercer influência no modo e no ritmo da sua
evolução, devendo, portanto, combinar diagnose e perspectiva.”.

O Tratado da Comunidade Europeia não categorizou o conceito de supranacionalidade, mas


ganhou vida concomitantemente a criação da Comunidade Europeia do Carvão e Aço – CECA,
através do Tratado de Paris em seu artigo 9º. Foi neste artigo que foi empregado pela primeira
vez o termo “supranacionalidade” e identificou a existência de um poder superior ao das
autoridades nacionais dos Estados-membros, o qual foi chamado de Alta Autoridade, com a
capacidade de emanar decisões obrigatórias as nações do bloco. As características do sistema
supranacional ficaram integradas da seguinte maneira: “La creación de organismos
diferenciados de los estatales, a los cuales los proprios Estados y por voluntad soberana le
transfieren diferentes cuotas de competencias y facultades que antes eran ejercidas en forma
autônoma por cada país en particular y que ahora en virtud de tal transformación passan a ser
desarolladas, algunas de ellas en forma exclusiva por las nuevas instituiciones y otras, en forma
concurrente com los estados. […] estos entes supranacionales debe quedar representado el
interés de la comunidad […]”. (PEROTTI, 1999, p. 127 e 128).

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1.5.1. Supranacionalidade no Mercosul

Por ser o bloco económico em que o Brasil está inserido, o MERCOSUL e seu sucesso são
imprescindíveis para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos brasileiros e de todos os
cidadãos da américa latina.

Para a continua evolução e desenvolvimento dos blocos é necessário um processo de integração


que atraia resultados positivos para os Estados-membros, e caso a mudança de instituto seja de
vital importância para o progresso do bloco, isso deve ser visto como prioridade, ainda que seja
primordial alterações nas constituições e na soberania das nações. “Verifica-se que os Estados-
membros Brasil e Uruguai, desde a assinatura do Tratado de Assunção (1991), não fizeram
progressos no sentido de colocar, em patamares semelhantes aos Estados-membros da
Argentina e Paraguai, seus ordenamentos jurídicos, no que diz respeito à adoção do instituto da
supranacionalidade e o que demonstra as dificuldades que tal instituto apresente ao bloco do
Cone Sul. […] a aceitação de uma ordem jurídica supranacional supõe, destarte, o abandono do
conceito ultrapassado de soberania que, por muitos anos, esteve impregnado nos casos de
conflito, sustentadas e manipuladas pela chamada doutrina de segurança nacional, que foi a
causadora do atraso dos países latino-americanos, e contribuiu para o aumento da fome e da
miséria, ao manter seus povos pobres e ignorantes, enquanto os países investiam em
armamentos, precavendo-se de uma eventual guerra com os vizinhos, que sempre eram vistos
como inimigos. […] a tendência atual é de a soberania existir como um conceito meramente
formal, tendo em vista a internacionalização da vida econômica, social e cultural. Diante disso,
alguns países latino-americanos assumiram posição de vanguarda, admitindo a
supranacionalidade em suas Cartas Magnas, seguindo, assim, a tendência das constituições
europeias, ao interpretar a nova ordem mundial, onde a primazia de um direito único e
supranacional tem direcionado o caminho a ser seguido para a conformação de um mercado
comum.”. (PEDROSO, 2007).

1.5.1.1. Alterações no modelo do bloco

O grande impasse desta alteração diz respeito ao quanto a adopção de estruturas supranacionais
no MERCOSUL ajudaria no desenvolvimento do processo de integração da região latino-
americana. Para tanto, o exemplo europeu demonstra grande valia para o entendimento do tema

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no âmbito do MERCOSUL, porém, evidentemente que está afastada a possibilidade da simples
cópia do modelo, das estruturas e das categorias europeias para o MERCOSUL, tendo em vista a
história de cada bloco. “Embora, as metas dos dois blocos sejam diferentes, muitos estudiosos
afirmam que o fator supranacional seria benéfico para a melhoria e o desenvolvimento do
MERCOSUL. É possível notar a ausência de supranacionalidade no MERCOSUL através da
análise do Tratado de Assunção e do Protocolo de Ouro Preto. Segundo o artigo 38 do
Protocolo de Ouro Preto, as decisões do MERCOSUL devem ser tomadas por consenso dos
países membros e devem ser incorporadas à ordem jurídica interna para serem efetivadas. O
artigo 2 do mesmo protocolo também ressalta o caráter intergovernamental do bloco. […] Nota-
se também no MERCOSUL, a ausência do Direito Comunitário entre os países. Observando-se
a adoção das ordens jurídicas nacionais em detrimento do Direito comum aos países, sendo que
as decisões tomadas pelos órgãos MERCOSULinos possuem caráter recomendatório e são
adotadas pelos países de acordo com seus interesses.”. (SILVA; PINTO, 2016).

Vale destacar que relutância dos Estados-membro do MERCOSUL em relação a


supranacionalidade vem baseada nas perspectivas e expectativas que eles possuem para o bloco.
Pois os dois maiores países, Brasil e Argentina, são favoráveis à manutenção do modelo do bloco
intergovernamental, porque são também favoráveis a um consenso entre as economias dos países
e não as políticas adoptadas por eles. Porém, esse modelo consensual pode afectar o
desenvolvimento do bloco, até porque a oposição de um dos membros é suficiente para impedir
que uma decisão seja acatada pelos outros membros.

Nesse sentido, ficou observado a divisão de opinião entre os países do MERCOSUL quanto a
qual instituto de integração poderia ser aplicado ao bloco, sendo os dois maiores países aceitando
a regra do consenso e os dois menores renunciando a sua posição em torno de instituições com
carácter supranacional. Siqueira (2006) completa com outros motivos pelos quais,
principalmente o Brasil, reluta em alterar o modelo do bloco: “A capacidade de exercer pesada
influência política talvez seja o ponto que mais amedronte aqueles que são contrários à
formação dos blocos econômicos, pois tira de cena o tradicional jogo político praticado há
centenas de anos e a herança colonial, no caso do Mercosul, deixada no relacionamento sócio-
político por Portugal e Espanha nos Estados-membros.”.

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Ainda que a questão da supranacionalidade tenha entrado em pauta pelo governo
brasileiro: “[…] em 1993, quando o Itamaraty realizou um debate com importantes juristas
especializados em integração com a finalidade de se discutir a questão da supranacionalidade
no Mercosul. O objetivo final era preparar a posição brasileira nas reuniões
intergovernamentais ante os assuntos institucionais que aconteceriam em junho de
1993.” (SIQUEIRA, 2006).

Deste modo, até os tempos atuais, todo o sistema de solução de controvérsias do MERCOSUL é
submetido ao controle das autoridades do Poder Executivo. Os negociadores brasileiros
argumentam que seria precipitada a criação de um tribunal com características supranacionais
anteriores a um aperfeiçoamento do bloco do cone sul. Entretanto, todos consentem que o bloco
deverá abraçar níveis mais elevados de independência jurídica. Se a busca de formação de um
bloco regional tem como suporte a ideia de que a integração pode levar a minora os problemas
socioeconómicos dos países envolvidos e a desenvolver suas potencialidades e fortalecer o
Continente Sul-americano no cenário mundial, mister se faz que se modifiquem as formas de
actuar, realizando as devidas reformas constitucionais, buscando, por um lado, ampliar as áreas
que comportam iniciativas integracionistas, e por outro, possibilitando a criação de um direito
comunitário e de órgãos com poder supranacional que atribua ao MERCOSUL um verdadeiro
status de comunidade, com todas as instituições que lhe são inerentes.

1.5.1.2. Condições de aplicabilidade

A possibilidade de aplicação deste processo de integração está directamente condicionada aos


tratados e principalmente aos textos das Cartas Magnas de cada Estado-membro, no que se
referem ao contexto da soberania.

Dando atenção a Constituição pátria, percebe-se em seu histórico que a carta de 1988 dá ênfase a
soberania nacional, sendo este o grande obstáculo para a supranacionalidade. Porém o conceito
de soberania está desfasado frente a globalização, tanto que hoje se fala em soberania relativa, a
qual é mais compatível com a supremacia de Direito Internacional e ao estabelecimento de uma
ordem jurídica dessa natureza no cenário político mundial. Nogueira (2006) analisa a
constituição brasileira e a soberania: “Acredita-se que para ocorrer a aceitação da

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supranacionalidade por parte de nossa Constituição, necessário se faz uma avaliação da
política interna, possibilitando uma flexibilização do conceito de soberania, em consequência,
ocorra a mudança da teoria dualística arraigada na Carta Magna. Observa- se, contudo, que a
Constituição brasileira não pode ficar a mercê concepções ultrapassadas, que clamam por uma
soberania absoluta, em meio às revoluções e às inovações, ocasionadas pelos processos de
globalização e mundialização, pois na medida em que continuar com conceito ultrapassado há a
possibilidade de subjugar-se aos interesses de potências que podem aproveitar da fragilidade.
Verifica-se que a Constituição brasileira não vislumbrou que na medida em que o Estado
suprime parte do seu poder de independência soberana, cresce a sua posição estratégica em
relação à comunidade internacional e que não haverá perda, mas delegações ao seu exercício,
visando ao benefício comum.”.

1.5.1.3.Vantagens e desvantagens da Supranacionalidade no Mercosul

1.5.1.3.1. Desvantagens

Se faz necessário tal destacamento de vantagens e desvantagens tendo em vista que o estudo da
supranacionalidade se dá apenas com base no exemplo europeu, tornando restrita suas
consequências a aquele continente, sem o conhecimento de como seria sua funcionalidade em
outra região, com aspectos, necessidades, cultura e carga histórica completamente diferentes.

Iniciando então com as desvantagens, já que não é garantido o sucesso do instituto da


supranacionalidade no MERCOSUL só porque o mesmo gerou gratos resultados em outras
circunstâncias. Gomes (2018) destaca os primeiros pontos, que em seu entendimento são
desvantagens da supranacionalidade: “b.1) Para a adopção do instituto, o desenvolvimento dos
Estados deve ser harmónico, em seus aspectos sociais, económicos, culturais; b.2) adoptado o
instituto da delegação de competências, o Estado submete-se aos interesses do bloco económico,
não podendo exercê-las, mesmo que temporariamente; b.3) impõem a necessidade de
instituições permanentes, com funcionários próprios, o que muitas vezes torna dispendioso o
processo; b.4) cada processo de integração deve criar seu próprio modelo, segundo suas
características geográficas, económicas, culturais. Vide o exemplo da Comunidade Andina, que
“transplantou” para o seu ordenamento jurídico o Direito Comunitário e a supranacionalidade,
e está desde há muito tempo estagnada.”.

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Outro ponto negativo da implementação do instituto estudado, seria sobre as identidades dos
indivíduos e como poderiam perder sua construção cultural e histórica, sendo que o Estado
influencia nessas relações de seus cidadãos como um colectivo distinto. Nesse prisma, Furtado
(2016) disserta sobre o assunto: “A crítica a que se referem é que não existiriam mais franceses,
espanhóis ou mesmo ingleses, e sim que haveria somente europeus. Esta visão do bloco europeu
se refere à questão da nação e do nacionalismo, em que cada povo seria caracterizado como
uma nação com território, cultura e história próprios.”.

1.5.1.3.2.Vantagens

Agora as vantagens, benefícios e possíveis resultados económicos que podem ser atingidos pelos
membros do bloco após a implementação do instituto da supranacionalidade: “a.1) Possibilita
uma maior integração do bloco económico, devido à presença de órgãos com competência
própria que adoptam suas decisões no interesse da integração, independentemente dos
interesses particulares dos Estados; a.2) possibilita o aprofundamento da integração, pois, com
a adopção por parte dos Estados de uma política única comunitária, os conflitos podem ser
resolvidos de forma mais fácil, sempre em prol do bloco económico; a.3) prestigia a sociedade
civil, reconhecendo os direitos do cidadão como sujeito activo e passivo das normas
comunitárias, o que possibilita a sua participação efectiva no processo de integração; a.4)
finalmente torna possível um verdadeiro ordenamento jurídico comunitário, com uniformidade
na interpretação e aplicação das normas comunitárias tanto por tribunal comunitário quanto
pelos tribunais nacionais.”. (GOMES, 2018).

Alcançar o Mercado Comum, que é objectivo inicial do MERCOSUL, através da


supranacionalidade pode ser considerada uma grande vantagem para o bloco, além de suplantar
suas dificuldades e adquirir a consolidação plena de suas etapas, superando conflitos e
divergências, os quais não poderão ser resolvidos através dos atuais mecanismos existentes,
como da diplomacia e da arbitragem, é o que vem destacar Silva e Pinto (2016), afirmando que
há uma “[…] forte tendência na futura adopção do sistema supranacional por blocos como o
MERCOSUL. Para a concretização do mercado comum que o MERCOSUL almeja parece
indispensável a supranacionalidade do bloco, pois, de acordo com o mesmo autor a estrutura
intergovernamental mostra-se frágil diante o enfrentamento de crises económicas ou políticas.”.

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2.Considerações finais

Contudo, deste estudo, conclui-se que, no presente momento, o carácter intergovernamental


adoptado pelo MERCOSUL traz sérias consequências ao bloco, muitas vezes impedindo que seu
objectivo principal seja alcançado: a consolidação de um mercado comum entre seus países-
membros.

Não há indícios de formação de uma ordem jurídica com carácter supranacional que leve à
completa integração dos Estados integrantes do MERCOSUL. As possibilidades de vir a existir
um direito comunitário do MERCOSUL estão limitadas, por um lado pelas Constituições dos
Estados-Partes (principalmente do Brasil e Uruguai) e por outro, pela noção tradicional de
soberania e independência que envolve a vontade política dos governantes dos países que o
integram. Parece ser conveniente aos países que as decisões sejam tomadas por consenso e que
as competências não sejam delegadas a determinados órgãos.

A criação de instituições supranacionais é imprescindível para o sucesso de processos


integrativos de objectivos ambiciosos, conforme o demonstrado pelos êxitos da experiência
europeia e, principalmente, pelas dificuldades que a natureza intergovernamental do
MERCOSUL gera para o bloco, impedindo que o MERCOSUL atinja os objectivos com os quais
os próprios Estados se comprometeram.

Então, se a integração regional de um bloco pode levar a minorar os problemas socioeconómicos


dos países envolvidos e a desenvolver suas potencialidades e fortalecer o Continente sul-
americano no cenário mundial, é necessário que se alterem as formas de actuar, procedendo as
devidas reformas constitucionais, procurando, por um lado, ampliar as áreas que comportam
iniciativas integracionistas, e por outro lado, possibilitando a criação de um direito comunitário e
de órgãos com poder supranacional que atribua ao MERCOSUL um verdadeiro status de
comunidade, com todas as instituições que lhe são inerentes.

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3.Referências Bibliográficas

GOMES, Eduardo Biacchi. União Européia e Mercosul – Supranacionalidade versus


Intergovernabilidade.

GOMES, Eduardo Biacchi (2001). Blocos Económicos e Soluções de Controvérsias, Jurúa, Curitiba;

FURTADO, Rogério Dourado. A Supranacionalidade como instituto essencial para a formação de


mercados comuns: Os casos do MERCOSUL e União Europeia. 2016. 120 p. Doutorado (Doutorado em
Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, São Paulo, 2016

KELSEN, Hans (2005). Teoria Geral do Direito e do Estado, Martins Fontes, São Paulo;

MACHADO, Diego Pereira. O que se entende por supranacionalidade? 2011

Módulo: Direito de Integração Regional (DIR) ( pag.120,121), ISCED

MERCOSUL (1991). Tratado de Assunção. Disponível em


<http://www.mercosur.int/innovaportal/file/4002/1/tratado_de_asun cion_pt.pdf> Acesso em 24 de Março
de 2022.

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