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Faculdade de Direito
3o Ano
O ∕ ATutor ∕ A:
➢ Grácio Muchanga
Discente:
FACULDADE DE DIREITO
3º ANO
NOME DA ESTUDANTE:
TRABALHO DE CAMPO
TITULO DO TRABALHO:
1.Introdução .................................................................................................................................... 1
1.1. Objectivos (gerais e específicos) ............................................................................................ 2
1.2.REFERÊNCIAL TEÓRICO .................................................................................................... 3
1.2.1. Interpretação e Hermenêutica ............................................................................................... 3
1.2.2. A Interpretação Gramatical e a Sistemática .......................................................................... 4
1.2.3. A Interpretação Histórica e a Evolutiva ............................................................................... 6
1.2.4. A Escola da Livre Pesquisa do Direito e o Direito Livre ..................................................... 8
1.2.5. A Interpretação em Hans Kelsen ........................................................................................ 10
1.3.Considerações finais ............................................................................................................... 11
1.4. Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 12
1.Introdução
Assim sendo, o presente trabalho de campo tem como objectivo, analisar a hermenêutica ou
interpretação do Direito.
Gerais
Específicos
[...] as leis positivas, como bem sabemos, são sempre formuladas em termos gerais; fixam regras,
consolidam princípios, estabelecem normas, em linguagem clara e precisa, porém ampla, sem descer,
entretanto, a minúcias desnecessárias.
Outro fato relevante é que não existe uma norma completa, determinando que caso concreto
exista apenas uma única hipótese, bastando aplicar tal norma para se ter o direito garantido. As
normas são estabelecidas de forma ampla e por isso a necessidade de que antes da aplicação da
mesma seja feita uma análise do fato concreto em busca de uma alternativa que se encaixe mais
plenamente dentro dos parâmetros da Justiça para aquele caso específico.
Concorda-se então com Kelsen (1995, p. 390) quando ele diz que “O direito a aplicar forma, em
todas estas hipóteses, uma moldura dentro da qual existem várias possibilidades de aplicação
[...]”. Nestes aspectos levantados pode-se perceber a importância da interpretação das leis, para
chegar-se a uma dentre as diversas possibilidades que podemos encontrar para um determinado
caso e também para encontrar soluções para os casos que até então se apresentavam sem
enquadramento legal.
Para uma melhor compreensão do exposto, vejamos uma passagem de Friede (1997, p. 117) que
nos diz o seguinte:
O método científico (que é sempre fático) resulta da formalização de várias hipóteses, que
necessariamente precisam ser examinadas com todo o cuidado possível, objetivando-se, sempre, apurar a
hipótese mais provável, mais aceitável com o propósito de convertê-la em dado geral, para, afinal, saber
se coincide ou não com o que convencionamos chamar de verdade.
A interpretação e hermenêutica guardam entre si uma estreita relação, possuem uma dependência
recíproca, sendo que a segunda é que traz a teoria que se encontra inclusa na primeira.
A hermenêutica é considerada como parte da ciência jurídica e seu objetivo maior é criar
caminhos ou abrir caminhos para a interpretação, para que a mesma tenha de imediato os
caminhos que deve seguir, bastando tão-somente cumprir sua função dentro dos processos
impostos pela hermenêutica. Dentro desse contexto pode-se apontar Friede (1997, p. 119):
A hermenêutica é, por via de consequência, um processo dinâmico, vivo e cíclico, que alimenta,
crescente e constantemente, os próprios métodos de interpretação, procedendo, em última
instância, à sistematização dos processos aplicáveis para determinar, ao final o sentido
verdadeiro e o alcance real das expressões de direito.
Já dissemos que a Revolução Francesa atinge um ponto culminante com a publicação do Código
Civil de Napoleão. É um monumento da ordenação da vida civil, projectado com grande engenho
e não menor arte. Portalis, um de seus grandes elaboradores, prudentemente reconhecera a
existência de insuficiências e lacunas no Código, mas assim não pensaram os seus primeiros
intérpretes, os quais pretenderam que não havia parcela da vida social que não tivesse sido
devida e adequadamente regulada, razão pela qual haviam sido revogadas todas as ordenações,
usos e costumes até então vigentes. (COELHO, 1972: 260).1
A lei exsurgiu plano tão alto que passou a ser como que a única fonte de Direito. O problema da
Ciência do Direito resolveu-se, de certa maneira, no problema da interpretação melhor da lei.
Havia duas verdades paralelas: o Direito positivo é a lei; e, uma outra: a Ciência do Direito
depende da interpretação da lei segundo processos lógicos adequados.
Foi por esse motivo que a interpretação da lei passou a ser objecto de estudos sistemáticos de
notável finura, correspondentes a uma atitude analítica perante os textos segundo certos
Grandes mestres que obedeceram a essa tendência achavam que os usos e costumes não
poderiam valer, a não ser quando a lei lhes fizesse expressa referência. O dever do jurista era
ater-se ao texto, sem procurar soluções estranhas a ele. Lançaram-se, assim, as bases do que se
costuma denominar Jurisprudência conceitual, por dar mais atenção aos preceitos jurídicos,
esculpidos na lei, do que às estruturas sociais, aos campos de interesse aos quais aqueles
conceitos se destinam.2
Era natural que, nesse quadro espiritual, a interpretação fosse vista, de início, apenas sob dois
prismas dominantes: um prisma literal ou gramatical, de um lado, e um prisma lógico-
sistemático, do outro.
O primeiro dever do intérprete é analisar o dispositivo legal para captar o seu pleno valor
expressional. A lei é uma declaração da vontade do legislador e, portanto, deve ser reproduzida
com exactidão e fidelidade. Para isto, muitas vezes é necessário indagar do exacto sentido de um
vocábulo ou do valor das proposições do ponto de vista sintáctico. 3
A lei é uma realidade morfológica e sintática que deve ser, por conseguinte, estudada do ponto
de vista gramatical. É da gramática tomada esta palavra no seu sentido mais amplo - o primeiro
caminho que o intérprete deve percorrer para dar-nos o sentido rigoroso de uma norma legal.
Toda lei tem um significado e um alcance que não são dados pelo arbítrio imaginoso do
intérprete, mas são, ao contrário, revelados pelo exame imparcial do texto.(HART, 1963: 197).
Após essa perquirição filológica, impõe-se um trabalho lógico, pois nenhum dispositivo está
separado dos demais. Cada artigo de lei situase num capítulo ou num título e seu valor depende
de sua colocação sistemática.
________________________
1
COELHO, Daniel De Souza, Introdução à ciência do Direito, Rio, 1972.
2
Disciplina/Módulo: Filosofia do Direito e Metodologia Jurídica, ISCED, pag:58
3
Idem, pag:59
4
HART, Herbert. El Concepto del Derecho, trad cast, Buenos Aires, 1963.
Levados pelo apego ao texto, alguns mestres da Escola da Exegese sustentavam ser necessário
distinguir a interpretação lógica da interpretação sistemática. A primeira cuidaria, apenas, do
valor lógico das palavras, abstracção feita da posição distribuída a cada grupo de normas no
conjunto geral do ordenamento jurídico. A interpretação sistemática viria num segundo
momento, ou melhor, num terceiro momento, para elucidar dúvidas possivelmente ainda
existentes, após a exegese gramatical e lógica.5
Com o decorrer do tempo, porém, foi se verificando a impossibilidade de separar essas duas
ordens de pesquisas, a lógica e a sistemática. Interpretar logicamente um texto de Direito é situá-
lo ao mesmo tempo no sistema geral do ordenamento jurídico. No entender de (HART, 1963:
200) não se compreende, com efeito, qualquer separação a interpretação lógica e a sistemática.
São antes aspectos de um mesmo trabalho de ordem lógica, visto como as regras de Direito
devem ser entendidas organicamente, estando umas na dependência das outras, exigindo-se
reciprocamente através de um nexo que a ratio juris explica e determina.
É somente graças à interpretação lógica e gramatical que, segundo, a Escola Exegese, o jurista
cumpria o seu dever primordial de aplicador da lei, de conformidade com a intenção original do
legislador. Este é o lema caracterizador da Escola.
A distinção entre interpretação extensiva e interpretação estrita, esta de maior alcance no campo
do Direito Penal e na aplicação das regras de carácter excepcional (no impropriamente chamado
"Direito Excepcional"), serviu, na realidade, de instrumento técnico que permitia a adequação
das normas às relações sociais, em função da tábua de valores dominantes. Entendendo-se de
estrita interpretação, coarctava-se a incidência de uma lei superada pelos factos; interpretando-se
extensivamente uma outra, preenchia-se uma falha da legislação. Isto ocorria sobretudo quando
não havia possibilidade de recorrer à analogia.
Verificou-se, então, compreensível desajuste entre a lei, codificada no início do século passado, e
a vida com novas facetas e novas tendências. As pretensões de "plenitude legal" da Escola de
Exegese pareceram pretensiosas. A todo instante apareciam problemas de que os legisladores do
Código Civil não haviam cogitado. Por mais que os intérpretes quisessem extrair dos textos uma
solução para a vida, a vida sempre deixava um resto. Foi preciso, então, excogitar outras formas
de adequação da lei à existência concreta.6
Foi especialmente sob a inspiração da Escola Histórica de Savigny que surgiu outro caminho, a
chamada interpretação histórica. Sustentaram vários mestres que a lei é algo que representa uma
realidade cultural, ou, para evitarmos a palavra cultura, que ainda não era empregada nesse
sentido, era uma realidade histórica que se situava, por conseguinte, na progressão do tempo.
Uma lei nasce obedecendo a certos ditames, a determinadas aspirações da sociedade,
interpretadas pelos que a elaboram, mas o seu significado não é imutável.7
Feita a lei, ela não fica, com efeito, adstrita às suas fontes originárias, mas deve acompanhar as
vicissitudes sociais. É indispensável estudar as fontes inspiradoras da emanação da lei para ver
quais as intenções do legislador, mas também a fim de ajustá-la às situações supervenientes.
Uma compreensão progressiva da lei surgiu, em primeiro lugar, entre os pandectistas alemães. A
"Escola dos Pandectistas", na Alemanha, corresponde, até certo ponto, à "Escola da Exegese", na
França, no que se refere ao primado da norma legal e às técnicas de sua interpretação. Em
virtude, porém, da inexistência de um Código Civil, os juristas alemães mostraram-se, por assim
dizer, menos "legalistas", dando mais atenção aos usos e costumes e aceitando uma interpretação
mais elástica do texto legal. (GUSMÃO, 1986: 89).
_________________________
5
Disciplina/Módulo: Filosofia do Direito e Metodologia Jurídica, ISCED, pag:59
6
HART, Herbert. El Concepto del Derecho, Op. cit, p.205
Deve-se a Gény o movimento chamado da libre recherche, ou seja, da livre pesquisa do Direito.
O interessante na obra de François Gény é que ele quer conciliar certas posições clássicas da
Escola da Exegese com as necessidades do mundo contemporâneo.
Assim, por exemplo, não concorda ele, de maneira alguma, com a tese de Windscheid e outros,
no sentido de se descobrir uma intenção possível do legislador, se estivesse vivendo no mundo
contemporâneo.
Diz ele que o intérprete da lei deve manter-se fiel à sua intenção primeira. Segundo Gény, a lei
só tem uma intenção, que é aquela que ditou o seu aparecimento. Não se deve deformar a lei,
mas, ao contrário, reproduzir a intenção do legislador no momento de sua decisão.
Pode-se constatar, portanto, que, num primeiro momento, Gény se apega à pureza da Escola da
Exegese mas, em seguida, liberta-se do apego à lei, para restituir ao juiz certa independência em
face do texto. Quando a lei, interpretada em toda a sua pureza originária, não permite uma
solução, o juiz deve buscar nos costumes e na analogia os meios de resolver o caso concreto.8
Se, porém, a lei deve ser interpretada no seu sentido originário e os factos e acontecimentos da
vida são novos, qual o caminho que deve seguir o juiz? É nesse ponto que Gény declara que o
magistrado deve entregar-se a um trabalho científico, isto é, à livre pesquisa do Direito, com base
na observação dos factos sociais.9
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7
Ibidem, p.206
Uma posição que em muito contém erros, mas que não poderia deixar de ser explanada aqui, é a
de Kantorowicz, este alegava que houvesse ou não lei que regesse o caso, cabia ao juiz julgar
segundo os ditames da ciência e de sua consciência, devendo ser devidamente preparado, por
conseguinte, para tão delicada missão. O que deve prevalecer, para eles, é o Direito justo, quer
na falta de previsão legal (praeter legem) quer contra a própria lei (contra legem).11
Segundo os adeptos do Direito Livre, o juiz é como que legislador num pequeno domínio, o
domínio do caso concreto. Assim como o legislador traça a norma genérica, que deverá abranger
todos os casos futuros, concernentes à matéria, caberia ao juiz legislar, não apenas por equidade,
mas, toda vez que lhe parecer, por motivos de ordem científica, inexistente a lei apropriada ao
caso específico: estamos, pois, no pleno domínio do arbítrio do intérprete.
O Direito Livre, que ainda se debate e se discute, foi, como disse o jurista italiano Max Ascoli,
"uma ventania romântica que assolou os domínios da Jurisprudência". O que se queria era
antepor o valor do caso concreto à previsão racional da generalidade dos casos. Não se poderá
dizer que o assunto já esteja superado: uns sustentam ainda hoje que a lei é lei e deve ser
interpretada na sua força lógica, ao passo que outros pretendem transformar a lei em meras
balizas na marcha da liberdade do intérprete.12
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8
POUND, Roscoe. The Nature of Law, vol. II de Jurisprudence, St. Paul, Minn, 1959
9
Ibidem, p.270
10
MENDES, João Castro, Introdução ao Estudo do Direito, Coimbra, 3a ed, 2010, p.32.
11
POUND, Roscoe. The Nature of Law, Op. cit. p.419, 1959.
Após a análise da interpretação e hermenêutica verifica-se que dentre o mais diverso estudioso
da área pode-se encontrar três tipos de divisões com relação à interpretação das leis: a
interpretação autêntica, a judicial e a doutrinária. Lógico que entre elas há divergências, mas a
que se sobrepõe de forma mais acentuada é a encontrada na Teoria Pura do Direito de Hans
Kelsen.
Segundo Kelsen temos dentro da ordem jurídica somente duas espécies de interpretação, as quais
devem ser diferenciadas uma da outra, que seria a interpretação do Direito pelo órgão que o
aplica e aquela que não é realizada por um órgão jurídico e sim por uma pessoa privada. Para
facilitar a compreensão torna-se por base a distinção fornecida por Coelho (2000, p. 61):
“Distingue Kelsen duas espécies de interpretação. De um lado, a autêntica, realizada pelo órgão
com competência para aplicar a norma jurídica, e, de outro, a não autêntica, procedida pela
ciência do direito e pelas pessoas em geral”.
Para Kelsen a única interpretação que é capaz de criar Direito é a interpretação autêntica, aquela
proveniente do órgão aplicador do direito, podendo criar Direito tanto na produção de normas
gerais quanto individuais. A interpretação autêntica apresenta-se como um ato de vontade e é
vinculante, sendo que os órgãos possuem total liberdade para atribuírem à norma o sentido que
acharem mais conveniente, mesmo que tal sentido não seja aceito pelos cientistas do Direito (p.
387-397).
COELHO, Fábio Ulhoa. Para entender Kelsen. 3.ed. Max Limonad, 2000.
GUSMÃO, Paulo Dourado De.Introdução à Ciência do Direito, 11ª ed, Rio de Janeiro, 1986,
p.87 ss.
HART, Herbert. El Concepto del Derecho, trad cast, Buenos Aires, 1963.
HERKENHOFF, João Baptista. Como aplicar o direito. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MENDES, João Castro, Introdução ao Estudo do Direito, Coimbra, 3a ed, 2010, p.32.
POUND, Roscoe. The Nature of Law, vol. II de Jurisprudence, St. Paul, Minn, 1959