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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Direito

Cadeira։Filosofia de Direito e Metodologia do Direito

3o Ano

Tema: Hermenêutica ou Interpretação do Direito

O ∕ ATutor ∕ A:

➢ Grácio Muchanga

Discente:

➢ Telma Oflodio Cossa Mucavele

Maputo, Fevereiro de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

3º ANO

NOME DA ESTUDANTE:

TELMA OFLODIO COSSA MUCAVELE

TRABALHO DE CAMPO

TITULO DO TRABALHO:

HERMENÊUTICA OU INTERPRETAÇÃO DO DIREITO

MAPUTO, FEVEREIRO DE 2023


ÍNDICE

1.Introdução .................................................................................................................................... 1
1.1. Objectivos (gerais e específicos) ............................................................................................ 2
1.2.REFERÊNCIAL TEÓRICO .................................................................................................... 3
1.2.1. Interpretação e Hermenêutica ............................................................................................... 3
1.2.2. A Interpretação Gramatical e a Sistemática .......................................................................... 4
1.2.3. A Interpretação Histórica e a Evolutiva ............................................................................... 6
1.2.4. A Escola da Livre Pesquisa do Direito e o Direito Livre ..................................................... 8
1.2.5. A Interpretação em Hans Kelsen ........................................................................................ 10
1.3.Considerações finais ............................................................................................................... 11
1.4. Referências Bibliográficas ..................................................................................................... 12
1.Introdução

Ao adentrar no contexto de interpretação e hermenêutica é imprescindível a análise da concepção


de norma Jurídica, mesmo que de forma sintetizada. No momento que o Direito vai ser aplicado
concretamente é preciso que seja determinado por meio da interpretação o sentido da norma
jurídica. Origina-se daí a estreita relação guardada entre interpretação e norma jurídica e a
importância de se ter um conceito mesmo que sucinto de norma jurídica, com o fim de se situar,
quando no contexto da interpretação e hermenêutica abordarmos a norma jurídica. Origina-se daí
a estreita relação guardada entre interpretação e norma jurídica e a importância de se ter um
conceito mesmo que sucinto de norma jurídica, com o fim de se situar, quando no contexto da
interpretação e hermenêutica abordarmos a norma jurídica.

Assim sendo, o presente trabalho de campo tem como objectivo, analisar a hermenêutica ou
interpretação do Direito.

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 1


1.1.Objectivos

Gerais

▪ Conhecer a importância da hermenêutica e interpretação em Direito

Específicos

▪ Explicar como funciona a interpretação gramatical e a sistemática;

▪ Descrever a finalidade da interpretação histórica e a da evolutiva;

▪ Identificar formas de aplicação de todos os tipos de interpretações;

▪ Aplicar tais conhecimentos no seu dia-a-dia como Profissional de Direito.

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 2


1.2.REFERÊNCIAL TEÓRICO

1.2.1. Interpretação e Hermenêutica

No meio jurídico é de extrema importância a interpretação e hermenêutica, e, sempre que o


Direito vai ser aplicado, faz-se necessário como ponto de partida a interpretação da norma
jurídica, pois, conforme Friede (1997, p. 118) pode-se verificar que:

[...] as leis positivas, como bem sabemos, são sempre formuladas em termos gerais; fixam regras,
consolidam princípios, estabelecem normas, em linguagem clara e precisa, porém ampla, sem descer,
entretanto, a minúcias desnecessárias.

Outro fato relevante é que não existe uma norma completa, determinando que caso concreto
exista apenas uma única hipótese, bastando aplicar tal norma para se ter o direito garantido. As
normas são estabelecidas de forma ampla e por isso a necessidade de que antes da aplicação da
mesma seja feita uma análise do fato concreto em busca de uma alternativa que se encaixe mais
plenamente dentro dos parâmetros da Justiça para aquele caso específico.

Concorda-se então com Kelsen (1995, p. 390) quando ele diz que “O direito a aplicar forma, em
todas estas hipóteses, uma moldura dentro da qual existem várias possibilidades de aplicação
[...]”. Nestes aspectos levantados pode-se perceber a importância da interpretação das leis, para
chegar-se a uma dentre as diversas possibilidades que podemos encontrar para um determinado
caso e também para encontrar soluções para os casos que até então se apresentavam sem
enquadramento legal.

Para uma melhor compreensão do exposto, vejamos uma passagem de Friede (1997, p. 117) que
nos diz o seguinte:

O método científico (que é sempre fático) resulta da formalização de várias hipóteses, que
necessariamente precisam ser examinadas com todo o cuidado possível, objetivando-se, sempre, apurar a
hipótese mais provável, mais aceitável com o propósito de convertê-la em dado geral, para, afinal, saber
se coincide ou não com o que convencionamos chamar de verdade.

A interpretação e hermenêutica guardam entre si uma estreita relação, possuem uma dependência
recíproca, sendo que a segunda é que traz a teoria que se encontra inclusa na primeira.

A hermenêutica origina-se do latim tardio, palavra vinda do grego hermeneúcin, interpretar,


derivada de hermes, é um deus da mitologia grega. Tal palavra tanto em grego quanto em latim

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 3


refere-se às actividades que são provenientes da inteligência humana. Começou a despertar
interesse entre os povos quando começaram a ser interpretadas as Sagradas Escrituras, firmando-
se filosoficamente no ano de 1756 com a obra de Georg Friedrich Maier, que defendia a
importância da hermenêutica no campo da especulação. Foi somente após a promulgação dos
Códigos de Napoleão, no entanto, que a hermenêutica definitivamente alcançou relevo, surgindo
então as escolas hermenêuticas (Herkenhoff, 1997, p. 5-32).

A hermenêutica é considerada como parte da ciência jurídica e seu objetivo maior é criar
caminhos ou abrir caminhos para a interpretação, para que a mesma tenha de imediato os
caminhos que deve seguir, bastando tão-somente cumprir sua função dentro dos processos
impostos pela hermenêutica. Dentro desse contexto pode-se apontar Friede (1997, p. 119):

A hermenêutica é, por via de consequência, um processo dinâmico, vivo e cíclico, que alimenta,
crescente e constantemente, os próprios métodos de interpretação, procedendo, em última
instância, à sistematização dos processos aplicáveis para determinar, ao final o sentido
verdadeiro e o alcance real das expressões de direito.

1.2.2. A Interpretação Gramatical e a Sistemática

Já dissemos que a Revolução Francesa atinge um ponto culminante com a publicação do Código
Civil de Napoleão. É um monumento da ordenação da vida civil, projectado com grande engenho
e não menor arte. Portalis, um de seus grandes elaboradores, prudentemente reconhecera a
existência de insuficiências e lacunas no Código, mas assim não pensaram os seus primeiros
intérpretes, os quais pretenderam que não havia parcela da vida social que não tivesse sido
devida e adequadamente regulada, razão pela qual haviam sido revogadas todas as ordenações,
usos e costumes até então vigentes. (COELHO, 1972: 260).1

A lei exsurgiu plano tão alto que passou a ser como que a única fonte de Direito. O problema da
Ciência do Direito resolveu-se, de certa maneira, no problema da interpretação melhor da lei.

Havia duas verdades paralelas: o Direito positivo é a lei; e, uma outra: a Ciência do Direito
depende da interpretação da lei segundo processos lógicos adequados.

Foi por esse motivo que a interpretação da lei passou a ser objecto de estudos sistemáticos de
notável finura, correspondentes a uma atitude analítica perante os textos segundo certos

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 4


princípios e directrizes que, durante várias décadas, constituíram o embasamento da Escola da
Exegese.

Grandes mestres que obedeceram a essa tendência achavam que os usos e costumes não
poderiam valer, a não ser quando a lei lhes fizesse expressa referência. O dever do jurista era
ater-se ao texto, sem procurar soluções estranhas a ele. Lançaram-se, assim, as bases do que se
costuma denominar Jurisprudência conceitual, por dar mais atenção aos preceitos jurídicos,
esculpidos na lei, do que às estruturas sociais, aos campos de interesse aos quais aqueles
conceitos se destinam.2

Era natural que, nesse quadro espiritual, a interpretação fosse vista, de início, apenas sob dois
prismas dominantes: um prisma literal ou gramatical, de um lado, e um prisma lógico-
sistemático, do outro.

O primeiro dever do intérprete é analisar o dispositivo legal para captar o seu pleno valor
expressional. A lei é uma declaração da vontade do legislador e, portanto, deve ser reproduzida
com exactidão e fidelidade. Para isto, muitas vezes é necessário indagar do exacto sentido de um
vocábulo ou do valor das proposições do ponto de vista sintáctico. 3

A lei é uma realidade morfológica e sintática que deve ser, por conseguinte, estudada do ponto
de vista gramatical. É da gramática tomada esta palavra no seu sentido mais amplo - o primeiro
caminho que o intérprete deve percorrer para dar-nos o sentido rigoroso de uma norma legal.
Toda lei tem um significado e um alcance que não são dados pelo arbítrio imaginoso do
intérprete, mas são, ao contrário, revelados pelo exame imparcial do texto.(HART, 1963: 197).

Após essa perquirição filológica, impõe-se um trabalho lógico, pois nenhum dispositivo está
separado dos demais. Cada artigo de lei situase num capítulo ou num título e seu valor depende
de sua colocação sistemática.

________________________

1
COELHO, Daniel De Souza, Introdução à ciência do Direito, Rio, 1972.
2
Disciplina/Módulo: Filosofia do Direito e Metodologia Jurídica, ISCED, pag:58
3
Idem, pag:59
4
HART, Herbert. El Concepto del Derecho, trad cast, Buenos Aires, 1963.

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 5


É preciso, pois, interpretar as leis segundo seus valores linguísticos, mas sempre situando-as no
conjunto do sistema. Esse trabalho de compreensão de um preceito, em sua correlação com todos
os que com ele se articulam logicamente, denomina-se interpretação lógico-sistemática.4

Levados pelo apego ao texto, alguns mestres da Escola da Exegese sustentavam ser necessário
distinguir a interpretação lógica da interpretação sistemática. A primeira cuidaria, apenas, do
valor lógico das palavras, abstracção feita da posição distribuída a cada grupo de normas no
conjunto geral do ordenamento jurídico. A interpretação sistemática viria num segundo
momento, ou melhor, num terceiro momento, para elucidar dúvidas possivelmente ainda
existentes, após a exegese gramatical e lógica.5

Com o decorrer do tempo, porém, foi se verificando a impossibilidade de separar essas duas
ordens de pesquisas, a lógica e a sistemática. Interpretar logicamente um texto de Direito é situá-
lo ao mesmo tempo no sistema geral do ordenamento jurídico. No entender de (HART, 1963:
200) não se compreende, com efeito, qualquer separação a interpretação lógica e a sistemática.
São antes aspectos de um mesmo trabalho de ordem lógica, visto como as regras de Direito
devem ser entendidas organicamente, estando umas na dependência das outras, exigindo-se
reciprocamente através de um nexo que a ratio juris explica e determina.

É somente graças à interpretação lógica e gramatical que, segundo, a Escola Exegese, o jurista
cumpria o seu dever primordial de aplicador da lei, de conformidade com a intenção original do
legislador. Este é o lema caracterizador da Escola.

A distinção entre interpretação extensiva e interpretação estrita, esta de maior alcance no campo
do Direito Penal e na aplicação das regras de carácter excepcional (no impropriamente chamado
"Direito Excepcional"), serviu, na realidade, de instrumento técnico que permitia a adequação
das normas às relações sociais, em função da tábua de valores dominantes. Entendendo-se de
estrita interpretação, coarctava-se a incidência de uma lei superada pelos factos; interpretando-se
extensivamente uma outra, preenchia-se uma falha da legislação. Isto ocorria sobretudo quando
não havia possibilidade de recorrer à analogia.

1.2.3. A Interpretação Histórica e a Evolutiva

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 6


Foi no decorrer do século XIX que se operou a revolução técnica, especialmente através dos
grandes inventos no plano da Física e da Química e das aplicações de natureza prática,
notadamente através da utilização da força a vapor e, depois, da electricidade. Com essa
mudança no sistema de produção e as transformações consequentes em vários outros países, a
vida social alterou-se profundamente.

Verificou-se, então, compreensível desajuste entre a lei, codificada no início do século passado, e
a vida com novas facetas e novas tendências. As pretensões de "plenitude legal" da Escola de
Exegese pareceram pretensiosas. A todo instante apareciam problemas de que os legisladores do
Código Civil não haviam cogitado. Por mais que os intérpretes quisessem extrair dos textos uma
solução para a vida, a vida sempre deixava um resto. Foi preciso, então, excogitar outras formas
de adequação da lei à existência concreta.6

Foi especialmente sob a inspiração da Escola Histórica de Savigny que surgiu outro caminho, a
chamada interpretação histórica. Sustentaram vários mestres que a lei é algo que representa uma
realidade cultural, ou, para evitarmos a palavra cultura, que ainda não era empregada nesse
sentido, era uma realidade histórica que se situava, por conseguinte, na progressão do tempo.
Uma lei nasce obedecendo a certos ditames, a determinadas aspirações da sociedade,
interpretadas pelos que a elaboram, mas o seu significado não é imutável.7

Feita a lei, ela não fica, com efeito, adstrita às suas fontes originárias, mas deve acompanhar as
vicissitudes sociais. É indispensável estudar as fontes inspiradoras da emanação da lei para ver
quais as intenções do legislador, mas também a fim de ajustá-la às situações supervenientes.

Uma compreensão progressiva da lei surgiu, em primeiro lugar, entre os pandectistas alemães. A
"Escola dos Pandectistas", na Alemanha, corresponde, até certo ponto, à "Escola da Exegese", na
França, no que se refere ao primado da norma legal e às técnicas de sua interpretação. Em
virtude, porém, da inexistência de um Código Civil, os juristas alemães mostraram-se, por assim
dizer, menos "legalistas", dando mais atenção aos usos e costumes e aceitando uma interpretação
mais elástica do texto legal. (GUSMÃO, 1986: 89).

_________________________
5
Disciplina/Módulo: Filosofia do Direito e Metodologia Jurídica, ISCED, pag:59
6
HART, Herbert. El Concepto del Derecho, Op. cit, p.205

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 7


Foi o pandectista Windscheid que colocou o problema da interpretação em termos de intenção
possível do legislador, não no seu tempo, mais sim, na época em que se situa o intérprete.

1.2.4. A Escola da Livre Pesquisa do Direito e o Direito Livre

Visando a superar as deficiências da interpretação histórico-evolutiva, novas teorias


hermenêuticas foram elaboradas, a partir das últimas décadas do século XIX. Na França, surgiu
um movimento que não tem nada de revolucionário, porquanto o grande François Gény não é um
inovador, no sentido de revolucionar, mas, ao contrário, um construtor equilibrado, que vai, aos
poucos, abrindo o caminho que lhe parece deva ser trilhado. (POUND, 1959: 267).

Deve-se a Gény o movimento chamado da libre recherche, ou seja, da livre pesquisa do Direito.
O interessante na obra de François Gény é que ele quer conciliar certas posições clássicas da
Escola da Exegese com as necessidades do mundo contemporâneo.

Assim, por exemplo, não concorda ele, de maneira alguma, com a tese de Windscheid e outros,
no sentido de se descobrir uma intenção possível do legislador, se estivesse vivendo no mundo
contemporâneo.

Diz ele que o intérprete da lei deve manter-se fiel à sua intenção primeira. Segundo Gény, a lei
só tem uma intenção, que é aquela que ditou o seu aparecimento. Não se deve deformar a lei,
mas, ao contrário, reproduzir a intenção do legislador no momento de sua decisão.

Pode-se constatar, portanto, que, num primeiro momento, Gény se apega à pureza da Escola da
Exegese mas, em seguida, liberta-se do apego à lei, para restituir ao juiz certa independência em
face do texto. Quando a lei, interpretada em toda a sua pureza originária, não permite uma
solução, o juiz deve buscar nos costumes e na analogia os meios de resolver o caso concreto.8

Se, porém, a lei deve ser interpretada no seu sentido originário e os factos e acontecimentos da
vida são novos, qual o caminho que deve seguir o juiz? É nesse ponto que Gény declara que o
magistrado deve entregar-se a um trabalho científico, isto é, à livre pesquisa do Direito, com base
na observação dos factos sociais.9

___________________________________________
7
Ibidem, p.206

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 8


A lei tem lacunas10, tem claro, mas o Direito interpretado como ordenamento da vida, este não
pode ter lacunas, porque deverá ser encontrada, sempre, uma solução para cada conflito de
interesses. O trabalho de Zitelmann já aconselhava a procurar-se, fora da lei, meios e modos
técnicos para se preencherem as lacunas verificadas. Ele o fazia, entretanto, com aquela mesma
cautela e equilíbrio que distinguem a obra de Gény.

Uma posição que em muito contém erros, mas que não poderia deixar de ser explanada aqui, é a
de Kantorowicz, este alegava que houvesse ou não lei que regesse o caso, cabia ao juiz julgar
segundo os ditames da ciência e de sua consciência, devendo ser devidamente preparado, por
conseguinte, para tão delicada missão. O que deve prevalecer, para eles, é o Direito justo, quer
na falta de previsão legal (praeter legem) quer contra a própria lei (contra legem).11

Segundo os adeptos do Direito Livre, o juiz é como que legislador num pequeno domínio, o
domínio do caso concreto. Assim como o legislador traça a norma genérica, que deverá abranger
todos os casos futuros, concernentes à matéria, caberia ao juiz legislar, não apenas por equidade,
mas, toda vez que lhe parecer, por motivos de ordem científica, inexistente a lei apropriada ao
caso específico: estamos, pois, no pleno domínio do arbítrio do intérprete.

O Direito Livre, que ainda se debate e se discute, foi, como disse o jurista italiano Max Ascoli,
"uma ventania romântica que assolou os domínios da Jurisprudência". O que se queria era
antepor o valor do caso concreto à previsão racional da generalidade dos casos. Não se poderá
dizer que o assunto já esteja superado: uns sustentam ainda hoje que a lei é lei e deve ser
interpretada na sua força lógica, ao passo que outros pretendem transformar a lei em meras
balizas na marcha da liberdade do intérprete.12

____________________________
8
POUND, Roscoe. The Nature of Law, vol. II de Jurisprudence, St. Paul, Minn, 1959
9
Ibidem, p.270
10
MENDES, João Castro, Introdução ao Estudo do Direito, Coimbra, 3a ed, 2010, p.32.
11
POUND, Roscoe. The Nature of Law, Op. cit. p.419, 1959.

12 Disciplina/Módulo: Filosofia do Direito e Metodologia Jurídica, ISCED, pag:66

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1.2.5. A Interpretação em Hans Kelsen

Após a análise da interpretação e hermenêutica verifica-se que dentre o mais diverso estudioso
da área pode-se encontrar três tipos de divisões com relação à interpretação das leis: a
interpretação autêntica, a judicial e a doutrinária. Lógico que entre elas há divergências, mas a
que se sobrepõe de forma mais acentuada é a encontrada na Teoria Pura do Direito de Hans
Kelsen.

Segundo Kelsen temos dentro da ordem jurídica somente duas espécies de interpretação, as quais
devem ser diferenciadas uma da outra, que seria a interpretação do Direito pelo órgão que o
aplica e aquela que não é realizada por um órgão jurídico e sim por uma pessoa privada. Para
facilitar a compreensão torna-se por base a distinção fornecida por Coelho (2000, p. 61):
“Distingue Kelsen duas espécies de interpretação. De um lado, a autêntica, realizada pelo órgão
com competência para aplicar a norma jurídica, e, de outro, a não autêntica, procedida pela
ciência do direito e pelas pessoas em geral”.

A interpretação autêntica, conforme Kelsen, encontra-se diante de uma relativa indeterminação


do ato de aplicação do Direito, pois nem sempre a norma que se apresenta no escalão superior
vinculara sob todas as hipóteses o ato através do qual é aplicada. A norma do escalão superior
apresenta-se então como uma moldura que deverá ser preenchida por este ato. Tal
indeterminação poderá ser intencional, isto é, ser exatamente a intenção do órgão que criou a
norma a aplicar, estabelecendo-se então, à determinada autoridade, o poder para definir certas
questões. A indeterminação poderá ainda não ser intencional, pelo fato de às vezes a autoridade
equivocar-se diante das várias significações que pode ser dada a uma palavra. Diante de tais
considerações “O Direito a aplicar forma, em todas estas hipóteses, uma moldura dentro da qual
existem várias possibilidades de aplicação [...]” (Kelsen, 1995, p. 390).

Para Kelsen a única interpretação que é capaz de criar Direito é a interpretação autêntica, aquela
proveniente do órgão aplicador do direito, podendo criar Direito tanto na produção de normas
gerais quanto individuais. A interpretação autêntica apresenta-se como um ato de vontade e é
vinculante, sendo que os órgãos possuem total liberdade para atribuírem à norma o sentido que
acharem mais conveniente, mesmo que tal sentido não seja aceito pelos cientistas do Direito (p.
387-397).

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1.3. Considerações Finais

De todo o exposto pode-se perceber a extrema importância que a interpretação e hermenêutica


possuem em relação à aplicação do Direito. É por meio delas que podemos com certeza, atribuir
soluções mais justas para os casos concretos que nos são apresentados, podendo assim ao
analisar-se a norma jurídica, levar em consideração certos valores que na maioria das vezes são
esquecidos no momento em que a norma é formulada. Também facilita a solução de um maior
número de casos, que não poderiam ser resolvidos se não existisse a via da interpretação, pois
não existe norma específica para todos os casos que possam ocorrer.

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 11


1.4. Referências Bibliográficas

COELHO, Fábio Ulhoa. Para entender Kelsen. 3.ed. Max Limonad, 2000.

COELHO, Daniel De Souza, Introdução à ciencia do Direito, Rio, 1972.

Disciplina/Módulo: Filosofia do Direito e Metodologia Jurídica, ISCED

FRIEDE, Reis. Ciência do direito, norma, interpretação e hermenêutica jurídica.Rio de Janeiro:


Forense Universitária, 1997.

GUSMÃO, Paulo Dourado De.Introdução à Ciência do Direito, 11ª ed, Rio de Janeiro, 1986,
p.87 ss.

HART, Herbert. El Concepto del Derecho, trad cast, Buenos Aires, 1963.

HERKENHOFF, João Baptista. Como aplicar o direito. 4.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

MENDES, João Castro, Introdução ao Estudo do Direito, Coimbra, 3a ed, 2010, p.32.

POUND, Roscoe. The Nature of Law, vol. II de Jurisprudence, St. Paul, Minn, 1959

Hermenêutica ou Interpretação do Direito 12

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