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INTERPRETAÇÃO

JURISPRUDENCIAL
O estudioso do Direito atua em sua carreira jurídica através da interpretação.
É esta que lhe permite avaliar a relação entre as normas jurídicas, bem como
aplicar a solução jurídica adequada ao caso concreto.

O intérprete atua situando-se no lugar do legislador para buscar a vontade


objetiva da lei, ou seja, busca o sentido e o alcance da norma, a fim de
determinar a real necessidade que guiou o legislador a ditar o comando legal
e, portanto, entender se a regra legal resolve o problema jurídico ou não.
 Para interpretar é necessário revisar as fontes materiais (conteúdo) e as
formais (forma do Direito). E, aprofundar-se no sentido normativo (O quê?
Por quê? Para que?).
 A jurisprudência é aplicada para justificar a solução dada a muitos casos
concretos, tornando-se “costume judiciário”. O profissional do Direito
precisa saber explicar e aplicar adequadamente a norma.
 A disciplina pretende contribuir com o futuro profissional do Direito na
avaliação da interpretação jurisprudencial como instrumento de aplicação
do Direito.
 O que é a interpretação do Direito e quais as suas causas

 A interpretação jurídica busca o sentido e alcance das normas para


explicar e aplicar o Direito. É o ato de esclarecer as coisas, de indagar e
questionar um assunto.
 As causas da interpretação ou o porquê de interpretar a lei são:
 1) O jurista (cientista do Direito) não tem por função simplesmente a
transcrição da norma, mas sim a função de atribuir o sentido à norma
jurídica focando a realidade (que muitas vezes não coincide com o momento
em que a norma foi elaborada e entrou em vigor).

 2) Além do mais, nem sempre é claro ao estudioso do Direito qual norma


jurídica deverá ser aplicada ao caso concreto. Quem aplica o Direito observa
as circunstâncias do fato para verificar sua correspondência com as
hipóteses das normas selecionadas de forma provisória.
 3) Na prática jurídica existe o vínculo entre os interesses estatais (presentes
nas normas jurídicas gerais e abstratas) e os dos cidadãos (nexo
materializado nas referidas normas). As normas jurídicas gerais e abstratas
são a causa da interpretação, pois é impossível ao legislador prever todas as
minúcias da relação social que regula. E, mesmo havendo lacunas na lei, o
magistrado não pode se escusar de decidir em razão delas.
 4) Outra causa que leva a interpretar são as dúvidas que surgem na aplicação
de dispositivos legais recentes. E, a interpretação acontece sejam regras
legais claras ou obscuras, porque para aplicar a lei é preciso interpretar para
integrar a norma abstrata a hipótese concreta.
A Hermenêutica no Direito
 Hermenêutica é um vocábulo derivado do grego hermeneuein, comumente
tida como filosofia da interpretação.
 O termo é associado a Hermes, o deus grego mensageiro, que trazia
notícias. Hermes era o deus, na mitologia grega, capaz de transformar
tudo o que a mente humana não compreendesse a fim de que o significado
das coisas pudesse ser alcançado. Hermes seria um "deus intérprete", na
medida em que era a entidade sobrenatural dotada de capacidade de
traduzir, decifrar o incompreensível.
 O termo hermenêutica ingressou na teologia protestante substituindo a
expressão latina ars interpretandi (= a arte da interpretação). Como arte
da interpretação, a hermenêutica se relacionava, na Antigüidade grega, à
gramática, à retórica e à dialética e sobretudo com o método alegórico,
para permitir a conciliação da tradição (os mitos) com a consciência
filosoficamente esclarecida. Mais tarde, a arte da interpretação foi
assumida por teólogos judeus, cristãos e islâmicos, além de ser aplicada a
interpretação do Corpus iuris canonici na tradição da jurisprudência. Isso
mostra que a hermenêutica, já entendida como a arte da interpretação, se
tornava presente cada vez que a tradição entrava em crise, sobretudo na
época da Reforma Protestante.
 NA ATUALIDADE

 Ao juiz compete adequar a lei às necessidades do presente, pois trata-se a


aplicação da lei uma tarefa prática.

 Ao interpretar uma norma jurídica, o jurista (sujeito) terá a compreensão do


fenômeno jurídico, mediante um instrumento que irá proporcionar essa
compreensão. Tal instrumento é a linguagem que é a condição de
possibilidade de interpretação da norma jurídica.
DIREITO E NORMA JURÍDICA COMO OBJETO DA INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
  A interpretação jurídica é a essência da teoria do direito, pois com ela
buscamos o sentido, alcance e finalidade da norma jurídica através dos
textos ou signos de exteriorização. A atividade do intérprete vincula razão,
sabedoria e experiência quanto ao conteúdo das relações jurídicas e
normas jurídicas.
 Interpretar forma parte na atividade de aplicar a lei, cotejando cada
hipótese concreta do mundo fático com a norma abstrata, faz-se a
integração da norma, provocando sua interpretação, ou seja, o intérprete
aprofunda-se no conteúdo da norma jurídica.
 Nas palavras de Carlos Maximiliano, a hermenêutica jurídica tem por objeto
o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o
sentido e o alcance das expressões do direito.

 Neste sentido, vale observar que interpretação é um processo pelo qual se


obtém o fim (determinação do sentido e alcance da norma), enquanto
hermenêutica é a teoria que serve de ferramenta para alcançar esse fim,
pois os critérios hermenêuticos nos orientam na interpretação restritiva ou
extensiva da norma.
 INTERPRETAÇÃO
 Processo pelo qual se determina o sentido e o alcance da norma, ao ser
identificada com uma relação jurídica. Operação que fixa a relação
jurídica com base em norma.

 HERMENÊUTICA
 Parte da ciência jurídica que tem por objeto o estudo e a sistematização
dos processos interpretativos, a fim de alcançar seu objetivo que é a
fixação da relação jurídica com base da norma, determinando o seu
sentido (alcance).
IMPORTÂNCIA DA
HERMENÊUTICA JURÍDICA
O estudo da teoria da interpretação do direito
possibilita compreender o porquê das normas jurídicas,
ou melhor, por que as normas jurídicas devem ser
concebidas dentro de um esquema sistemático,
respeitando as questões de hierarquia do direito.

A interpretação é de interesse público, vez que são


feitas para a utilidade pública e, objetiva, através dos
métodos de interpretação tirar conclusões sobre as
deficiências normativas e se aprofundar nestas questões
que limitam o entendimento do sentido, alcance,
aplicação das normas e solução dos conflitos jurídicos.
INTERPRETAÇÃO
JURISPRUDENCIAL
 É a interpretação dada pelos juízes e tribunais por meio
das sentenças e acórdãos. Essa interpretação visa a
aplicação da lei em situações concretas e, também, a
integração ou colmatação do Direito”, conforme Sônia
Maria S. Seganfreddo.
 Dourado de Gusmão acrescenta: “é por ela que se
orientam os advogados e deve se guiar quem quiser
saber quais os Direitos que estão efetivamente
assegurados”.
Há possibilidade no direito atual
da jurisprudência se igualar a lei ?

 A grande inovação realizada pelo NCPC reside além da


matéria processual, enveredando-se na própria Teoria
Geral do Direito. A mudança legislativa insere no
ordenamento brasileiro a Teoria dos Precedentes, de
modo que o entendimento sufragado no âmbito de
tribunais passa a se revestir de um caráter obrigatório e
até mesmo vinculante perante as demais instâncias.
 O primeiro passo para compreender essa nova
sistemática está na necessidade de definir o que vem a
ser um precedente. E, ainda, o modo pelo qual ele pode
ser identificado e aplicado.
O QUE É UM PRECEDENTE?

 Precedente nada mais é do que uma decisão judicial


prolatada em um caso concreto que possua o condão de
influir em decisões futuras tomadas em situações de
matéria fática semelhante. Sua definição ocorrerá no
âmbito dos tribunais de 2º grau (TRF e TJ) e superiores
(STF e STJ), os quais adotarão o entendimento que
prevalecerá em determinada situação fática, aspergindo
efeitos para o futuro.
 Neste passo, torna-se dever dos tribunais uniformizar a sua jurisprudência
e, ao formar os seus enunciados e súmulas, deverão se ater às
circunstâncias fáticas. Confira-se o disposto no novo CPC:
 “Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la
estável, íntegra e coerente.
 § 1o Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no
regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula
correspondentes a sua jurisprudência dominante.
 § 2o Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.”
 Caberá ao intérprete identificar o precedente formado. Para tanto,
analisará os julgados prolatados sobre a questão, atendo-se,
especificamente, aos fatos relevantes para a causa e também ao
raciocínio jurídico formulado, os quais podem ser compreendidos como
elementos de formação do precedente.

 Assim, o magistrado de 1º grau, ao proferir uma sentença, somente


aplicará o precedente se concluir que os fatos relevantes ora julgados
possuam uma semelhança com aqueles igualmente relevantes no
precedente. Portanto, torna-se necessária a existência de uma similitude
real entre a matéria fática relevante ora em julgamento e aquela outrora
apreciada por ocasião da formação do precedente no tribunal.
 Diante de sua relevância, para facilitar o acesso aos precedentes, o
legislador, por meio do artigo 927 § 5º, determinou que:
 “Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os
por questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na
rede mundial de computadores.”
 Perceba-se que o juiz fará uma comparação, relacionando caso a caso (CPC
, 927, §, 1º). Trata-se de relevante mudança na forma de motivação das
decisões judiciais.
 Como se sabe, a estrutura jurídica adotada no Brasil é a Civil Law, cuja
consequência, em síntese, é fazer da lei, enquanto texto abstrato e
positivo, a principal fonte do direito. Em contrapartida, nos países de
origem anglo-saxônica como EUA e Inglaterra, prevalece a estrutura
Common Law, na qual o entendimento jurisprudencial e direito
consuetudinário prevalecem.
 Logo, na nova sistemática adotada pelo NCPC, o Brasil mais se aproxima da
estrutura Common Law, vez que as decisões deixarão de se apoiar tão
somente em textos de lei.

 Com efeito, a fonte prioritária de solução para o conflito não mais residirá
no ordenamento positivo, mas sim nos precedentes, os quais deixam de ter
o caráter meramente persuasivo.
 Essa mudança também atinge o direito de ação, pois ao formular uma
pretensão direcionada ao Judiciário, a parte autora não mais buscará tão
somente no ordenamento positivo a fundamentação para o seu pedido.
 Deverá ir além, demonstrando que, acerca do caso concreto ora narrado,
existem julgados onde foram enfrentados os mesmos fatos, sobrevindo um
entendimento dominante e, portanto, torna-se justo lhe conceder o mesmo
tratamento outrora assegurado. Veja-se que o apontamento dos
precedentes não visa mais tão somente influir o julgador, mas sim
demonstrar a tese dominante e o seu caráter obrigatório ou mesmo
vinculante.
 Assim, percebe-se claramente que uma das intenções do legislador é zelar
pela isonomia e segurança jurídica, evitando-se decisões contraditórias que
desigualam pessoas em idêntica situação.
 Infere-se, ainda, uma outra benesse que não é menos importante, qual
seja, o direito constitucional à razoável duração do processo.
 De fato, o caráter vinculativo reconhecido ao precedente agilizará a
solução do litígio.
 Neste ponto, na exposição de motivos do NCPC, podemos citar que:

 "Todas as normas jurídicas devem tender a dar efetividade às garantias


constitucionais, tornando 'segura' a vida dos jurisdicionados, de modo a que
estes sejam poupados de 'surpresas', podendo sempre prever em alto grau
as consequências jurídicas de sua conduta".
 Impende reconhecer que a nova sistemática afasta o tradicional efeito
“caixa de surpresas” do processo.
 Havendo um precedente que envolva os mesmos fatos, os litigantes terão
condições de prever o posicionamento do Judiciário, o que contribuirá para
a redução da judicialização de conflitos ou aventuras jurídicas.
 Agora, à toda evidência, a adoção de um sistema baseado em precedentes
não significa que as decisões deverão, inevitavelmente, seguir o
entendimento formado. Com efeito, o Direito sempre está em contínua
evolução.
 Assim, para que um magistrado ou tribunal deixe de seguir algum enunciado
de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, deverá
demonstrar a existência de uma real distinção fática no caso em julgamento
que seja capaz de afastar o precedente ou a superação do entendimento.
 Não havendo tal demonstração, o NCPC considerará a decisão contrária
(interlocutória, sentença ou acórdão) como não fundamentada, nos moldes
do artigo 489, § 1º, VI.
 Tais mecanismos evidenciam a importância concedida aos precedentes,
anunciando uma nova realidade jurídica no ordenamento brasileiro.
 A eficácia concedida aos precedentes

 O legislador disciplinou a eficácia dos precedentes, de modo que existirão


aqueles de alta vinculação, outros em um patamar médio e, por fim, os
demais apenas com a função de influir determinada corrente.

 Os precedentes poderão ser vinculantes (aqueles que de fato vinculam o


juízo, sob pena de reclamação), obrigatórios (aqueles que devem ser
observados, mas que eventual não acatamento não gera reclamação direta
ao tribunal que o editou) e persuasivos (todos os demais cuja função é
apenas influir em determinada corrente de decisão).
 Acerca da questão, o NCPC, no artigo 927, determina que:

 “Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


 I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade;
 II - os enunciados de súmula vinculante;
 III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de
resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos
extraordinário e especial repetitivos;
 IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional;
 V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem
vinculados.”
 O novo CPC busca garantir uma estabilidade aos precedentes para impor a
autoridade do sistema, mas não significa que haverá uma paralisia
sistêmica do Direito.

 Em um aspecto filosófico, sabe-se que a sociedade sempre estará um passo


à frente do Direito. Vale dizer, os fatos sociais surgem e, em seguida,
diante de sua relevância e quando necessário, o Direito é acionado e
atuará para regulamentá-los em prol da paz social. Assim sendo, o
precedente firmado em uma determinada conjuntura fática atual pode, no
futuro, não mais refletir as necessidades sociais de seu tempo e, com isso,
clamar por mudança.

 Prevendo tal situação, o NCPC admite a modificação de precedentes ou


até mesmo a revogação, desde que realizada pelo mesmo tribunal que o
produziu ou um superior.

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