Você está na página 1de 7

1

NORMA PROCESSUAL PENAL

CONCEITO

O Direito processual, como todos os ramos de direito, encontra na norma


jurídica uma de suas formas de expressão.

Toda norma que regula, juridicamente, qualquer matéria - que seja objeto
de processo – denomina-se norma processual.

A NORMA PROCESSUAL - como espécie que é, do gênero norma jurídica,


contém, em si, uma regra de conduta, bem como a NECESSÁRIA garantia de se
fazer cumprir.

São elementos da norma processual:

a) A regra contida na norma processual é concernente às atividades que se


desenvolvem no processo, disciplinando a atuação dos órgãos judicantes,
das partes, dos auxiliares da justiça nas suas funções e recíprocas
relações processuais.

b) A garantia do cumprimento da ordem relativa à conduta de todos que


participam do processo, consiste nas diversas medidas previstas para
assegurar a sua observância, como a imposição de ônus e sanções.

c) A observância, dentro do processo, da norma processual, é o meio pré-


ordenado para um fim, isto é, o restabelecimento fora do processo, da
obediência ao direito objetivo material. Esse é o caráter instrumental da
norma processual.

A regra de direito processual distingue-se da norma de direito substantivo.

Enquanto a norma de direito processual disciplina a aplicação das normas de


direito substantivo, esta rege-se diretamente as relações jurídicas entre os
membros de uma comunidade.

CONTEÚDO DO PROCESSO PENAL:

A finalidade do processo é propiciar a adequada solução jurisdicional do


conflito de interesses entre o Estado-Administração e o infrator, através de uma
seqüência de atos que compreendam a formulação da acusação, a produção das
provas, o exercício da defesa e o julgamento da lide.
2

Para a consecução de seus fins, o processo compreende:

a) O procedimento, consistente em uma seqüência ordenada de atos


interdependentes, direcionados à preparação de um provimento final; é a
seqüência de atos procedimentais até a sentença;

b) A relação jurídica processual, que se forma entre os sujeitos do processo


(juiz e partes), pelas quais estes titularizam inúmeras posições jurídicas,
expressáveis em direitos, obrigações, faculdades, ônus e sujeições
processuais.

O Procedimento é o modo pelo qual são ordenados os atos do processo, até a


sentença. De acordo com a infração penal, pode haver diferentes procedimentos,
mas, em regra, para os crimes apenados com reclusão, existe uma seqüência
mais demorada de atos, com maiores oportunidades para o exercício da defesa,
uma vez que se trata de infrações de maior gravidade, com penas mais severas.
Os crimes apenados com detenção sequem o rito sumário, que é mais célere,
justamente porque as infrações são menos graves e menores as penas. Nos
casos de contravenções penais e de crimes não sujeitos a procedimento especial,
cuja pena máxima não exceda a um ano, o procedimento será o do juizado
especial criminal ( Lei 9.099/95).

A relação jurídica processual é aquela que se estabelece entre os chamados


sujeitos processuais, atribuindo a cada um, direitos, obrigações, faculdades, ônus
e sujeições.

INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL


CONCEITO: Interpretação é a atividade que consiste em extrair da norma
processual seu exato alcance e real significado. A interpretação é o processo
lógico que deve buscar a vontade da lei e não a vontade de quem a fez.

Tourinho Filho – Interpretar a lei é descobrir ou revelar a vontade contida na


norma jurídica, ou, revelar o pensamento que anima as suas palavras.

Interpretar a lei consiste em determinar o seu significado e fixar o seu alcance.

Paulo Gusmão ensina que “Interpretar o direito é estabelecer o sentido objetivo


da norma, não o sentido retrógrado e nem aquele que de forma alguma poderia
nele ser incluído, mas o que se depreende do texto ajustado à realidade social”.

Na interpretação da lei, deve-se atender “ aos fins sociais a que ela se dirige e
às exigências do bem comum. A ciência ou método que se preocupa com a
interpretação da lei é denominado “Hermenêutica”, cujos princípios aplicam-se a
todos os ramos do direito e, portanto, à lei processual penal.
3

A necessidade de interpretação da norma decorrerá de sua aplicação ao caso


concreto, uma vez que a norma jurídica trata de uma vontade abstrata da lei, com
um caráter genérico, e no momento da aplicação da lei, pode ser necessária a
interpretação. O intérprete deve pensar como um homem de sua época e não
como homem do tempo em que a lei foi sancionada. O sentido da lei deve ser
atual, nem vinculando-se ao passado e nem exigindo uma posição arrojada ou
futurista.

EXPÉCIEIS DE INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL:

Quanto ao sujeito que realiza a interpretação, pode ser ela: autêntica,


jurisprudencial (ou judicial) e doutrinária ou ( doutrinal).

1 - Interpretação Autêntica é a que procede da mesma origem que a lei e tem


força obrigatória. Quando vem inserida na própria legislação, é chamada de
contextual. É o caso, por exemplo, do conceito de “flagrante delito”, estabelecido
pelos artigos 302 e 303 do CPP. Outro exemplo é o que dispõe no artigo 150, em
que o próprio legislador procurou gizar os contornos da palavra “casa”. A
interpretação, porém, pode ser promovida por lei posterior, elaborada para
esclarecer o sentido duvidoso de uma lei já em vigor. (Tourinho) denomina este
tipo de interpretação “por lei posterior”.

2 - Interpretação doutrinaria – A interpretação pode ser doutrinaria, quando


constituída do entendimento dado aos dispositivos legais pelos escritores ou
comentadores do direito. Mirabete afirma que a interpretação doutrinária não tem
força obrigatória, Tourinho Filho, esclarece que o Juiz, ao julgar, deve buscar nas
obras doutrinarias (Códigos Comentados) o exame da matéria. se assim não
proceder, faz sua a demanda. Afirma ainda que a interpretação doutrinal, produto
de pesquisas dos juristas, é de valor inexcedível (que não pode ser excedido). E
seu prestígio será tanto maior quanto maior for a envergadura do jurista.

3 - Interpretação Judicial – E aquela levada a efeito pelos Juízes e Tribunais ao


aplicarem a lei a um caso concreto, Sua importância é também extraordinária e,
quando uniforme, duradoura e repetida, forma a jurisprudência, que, segundo
muitos autores, pode até ser considerada como fonte do direito. (No livro de
Mirabete ela é colocada como Interpretação Jurisprudencial)

Relativamente ao meio empregado, a interpretação pode ser:

4 - Interpretação literal ou gramatical – Procura-se fixar o sentido das palavras


ou expressões empregadas pelo legislador. Examina-se a “letra da lei”, em sua
função gramatical, quanto ao seu significado no vernáculo. Se este for
insuficiente, é necessário que se busque a vontade da lei, o seu conteúdo, através
de um confronto lógico entre seus dispositivos. A verificação do exato sentido dos
vocábulos (literal) ou o valor das proposições sintáticas (gramatical) seriam
elementos suficientes à boa interpretação.
4

- Gramatical ou literal é a que inspira no próprio significado das palavras.

Exemplos: O Artigo 3º do CPPM dispõe – A lei de processo penal militar


deve ser interpretada no sentido literal de suas expressões.

- Quando a lei fala em “sentença definitiva”, deve entender-se como tal


aquela que decide o fundo da questão.

5 - Interpretação lógica ou teleológica: Ocorre quando o intérprete se serve das


regras gerais do raciocínio para compreender o espírito da lei e a intenção do
legislador. Visa precisar a finalidade da lei, a vontade nela manifestada.

Exemplo:

O mesmo se diz quando alguém fala em “Queixa”, deve entender-se como


a tal peça vestibular da Ação Penal Privada.

A palavra “autoridade” utilizada no artigo 10 §§ 1º, 2º e 3º do CPP, significa


autoridade policial, conforme dispõe os artigos 4º e 6º do CPP.

Teleológica: A tarefa de interpretação, nos dias atuais, tem como


preocupação central a finalidade social da lei. Ao interpretar um dispositivo legal,
o hermeneuta deve-se valer todos os métodos que se lhe permitam identificar o
fim social a que se destina, uma vez que a norma jurídica tem sempre como
finalidade a preservação de um valor relevante socialmente, de ordem religiosa,
moral, estética, econômica, etc..

Tal interpretação dita teleológica foi expressamente prevista no artigo 5º da


Lei de introdução ao Código Civil, ao instituir que:

“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e
às exigências do bem comum”.

Quanto aos resultados obtidos com a interpretação, pode ser:

6 - Interpretação declarativa – ocorre quando o texto examinado não é ampliado


nem restringido, encontrando-se apenas o significado oculto do termo ou
expressão utilizada pela lei. Exemplo: Quando a lei processual se refere a “casa
habitada” (artigo 248, evidentemente está se referindo a ser ela ocupada por uma
ou mais pessoas, numa interpretação meramente declarativa).

7 - Interpretação restritiva - Ocorre quando se reduz o alcance da lei para que se


possa encontrar a sua exata vontade.
5

Exemplo: Quando a lei prevê a nulidade pela falta de “intervenção do


Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da
intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública” (artigo
564, II, d, do CPP), deve-se entender que ela só ocorrerá se for alegada no
momento oportuno, diante do que dispõe o artigo 572 do CPP.

8 - Interpretação extensiva – É aquela que amplia o sentido do texto. Ocorre


quando é necessário ampliar o sentido ou alcance da lei.

Exemplos: O artigo 475 do CPP se refere expressamente a documento, o


dispositivo abrange também alegação da defesa em plenário sobre autos ou
papéis que não constavam do processo.

A renúncia expressa deve constar de declaração assinada pelo ofendido


(artigo 50 do CPP), a interpretação extensiva obriga a ser considerada como
também “expressa” a renúncia produzida oralmente, já que a lei admite, inclusive
a renúncia tácita.

O artigo 34 do CPP, diz que o menor de 21 e maior de 18, poderão exercer


o direito de queixa. Pergunta-se, poderá exercer, também, o direito de
representação? Sim, quem pode o mais pode o menos.

9 - Interpretação Progressiva – Ocorre quando o intérprete, observando que a


expressão contida na norma sofreu alteração no correr dos anos, procura
adaptar-lhe o sentido ao conceito atual. Tourinho cita o exemplo do artigo 5º, § 2º
do CPP, onde dispõe que ao requerimento do ofendido, indeferido pela autoridade
policial, cabe recurso ao Secretário da Segurança Pública. No passado, ainda um
tanto tímida a organização policial, era realmente ao Secretário, tal recurso, no
entanto, hoje, com a presença do Delegado Geral de Polícia, Delegados
Regionais, Seccionais. Qualquer destes será competente para receber e apreciar
o recurso. Ao intérprete, analisando o texto da lei, saberá que ocorreram
alterações na legislação.

10 - Interpretação Sistemática - Recorre-se a este tipo de interpretação quando


a dúvida não recai sobre o sentido de uma expressão ou de uma fórmula da lei,
mas sim sobre a regulamentação do fato ou da relação sobre que se deve julgar.
O intérprete deve colocar a norma em relação com o conjunto de todo o Direito
vigente e com as regras particulares de Direito que têm pertinência com ela. Por
outro lado, os títulos, capítulos, secções, artigos, parágrafos e alíneas facilitam ao
intérprete alcançar a mensagem da lei. Poderá inclusive lançar mão da analogia e
os princípios gerais do direito.
6

Paulo Lúcio Nogueira dispõe em sua obra (Curso Completo de Processo


Penal) que o elemento sistemático, exige a análise global de uma conduta, não se
restringindo à adequação típica, devendo ser examinados os elementos
“antijuridicidade” e “culpabilidade”. Assim, matar alguém (artigo 121 CP), pode não
constituir crime de homicídio.

11 - Interpretação histórica – A história da lei ou a história dos seus precedentes


auxilia o aclaramento da norma. Os projetos de leis, as discussões havidas
durante sua elaboração, a Exposição de Motivos, as obras científicas do autor da
lei são elementos valiosos de que se vale o intérprete para proceder à
interpretação.

12 - Interpretação Analógica: Quando fórmulas casuísticas inscritas em um


dispositivo são seguidas de expressões genéricas, abertas, utiliza-se a
semelhança (analogia) para uma correta interpretação destas últimas.

Exemplo: Quando a lei se refere a “quaisquer outros elementos” no artigo 6º


- IX, do CPP, está mencionado outros dados referente à vida pregressa do
indivíduo.

Não há que se confundir Interpretação Analógica, que é a busca da


vontade da norma através da semelhança com formulas usadas pelo legislador,
com a analogia que é forma de auto integração da lei.

INTEGRAÇÃO DA LEI PROCESSUAL:

Denomina-se integração à atividade desenvolvida pelo aplicador da lei para


preencher lacunas nela existentes, valendo-se dos recursos da analogia, dos
costumes e dos princípios gerais do direito.

A integração faz-se necessária diante de situações que não foram previstas e,


portanto, não reguladas pelo legislador.

Artigo 3º do Código de Processo Penal dispõe: “ A lei processual penal admitirá


interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos
princípios gerais do direito”

O preenchimento das lacunas da lei faz-se através da analogia e dos princípios


gerais do direito.

Analogia – consiste em resolver um caso não previsto em lei, mediante a


utilização de regra jurídica relativa a hipótese semelhante. Onde há a mesma
razão, deve haver a mesma disposição de direito.
7

Princípios gerais do direito – são enunciações normativas de valor


genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico,
que para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas.

A integração é disciplinada pelo artigo 4º da Lei de Introdução ao Código


Civil, ao estatuir que:

“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais do direito”.

Você também pode gostar