Aplicação da lei no tempo e no Espaço. 1-Quem pode fazer a interpretação da lei? Em sentido amplo, a interpretação pode definir-se como a determinação de qualquer acto ou fenómeno, aos quais não escapam os actos e disposições jurídicas. Ora, a tarefa de interpretação da lei traduz-se, nem mais nem menos, na actividade de “determinação ou fixação do sentido e alcance da lei, ou seu entendimento ou compreensão, isto é, na determinação do exacto e pleno conteúdo do pensamento nele contido”. A interpretação em sentido restrito consiste na determinação do sentido da regra que decorre da fonte, de forma a poder resolver o caso concreto. Como já se referiu, a interpretação da lei é a determinação ou fixação do exacto sentido e alcance de uma norma, constituindo uma tarefa sempre necessária para aplicar a lei. Podemos discernir várias espécies de interpretação de acordo com diversos critérios: 1) Critério da sua Fonte e Valor: De acordo com o critério que considera o agente da interpretação, isto é, a qualidade do intérprete, há que distinguir a interpretação: a) Autêntica: É a interpretação que é feita pelo legislador através de uma nova lei, nomeadamente, por lei de valor igual ou hierarquicamente superior ao valor da norma que se interpreta (lei interpretada), designando-se tal lei por lei interpretativa. A função da lei interpretativa é fixar decisivamente o sentido de outra lei anterior na qual se integra. A lei interpretativa integra-se na lei interpretada (art.º 13º, n.º 1 do C.C.). A interpretação autêntica é vinculativa mesmo que esteja errada: se a interpretação da lei interpretativa for
correcta há uma verdadeira interpretação;
se eventualmente alterar o sentido da lei
interpretada, revoga-a, continuando a vigorar a
lei interpretativa. b) A Interpretação Doutrinal- é assim designada porque não é feita pelo órgão legislativo mas sim por juristas ou jurisconsultos. Não tem qualquer força vinculativa, mas pode persuadir: em resultado do prestígio do intérprete ou da coerência lógica da argumentação. Não tem qualquer força vinculativa, mas tão só valor de facto e persuasivo, resultante da exactidão dos princípios em que se baseie, da razão que o intérprete demonstre ter (da sua lógica argumentativa), e do prestígio do intérprete seu autor. Ver art.º 6º C.C. Os elementos da interpretação são os meios para se determinar o sentido real dos textos legais. Os elementos da interpretação separam-se em: 1.Elemento literal ou gramatical - corpo 2.Elemento lógico ou espírito da lei – alma a. Histórico b. Sistemático c. Teleológico ou racional Artigo 9.ºCC (Interpretação da Lei) 1.A Interpretação não deve cingir-se á letra da lei, mas reconstitui a partir dos textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta unidade do sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada. 1.Elemento Gramatical: é composto pelas palavras pelas quais a lei se exprime, cujo sentido é determinado pelas regras gramaticais.Este elemento constitui um ponto de partida da interpretação, mas é um elemento frágil, porque muitas vezes as palavras são vagas e equivocas e também pode suceder que não se tenha exprimido da melhor forma. Na primeira fase do código estabelece o seguinte “A Interpretação não deve cingir-se á letra da lei” portanto é o elemento gramatical. 2.Elementos Lógicos: são todas as circunstâncias que ultrapassam a letra da lei e que nos podem auxiliar aperceber o seu sentido. Por exemplo se olhamos novamente para art.9º n.º1 que diz , “mas reconstitui a partir dos textos o pensamento legislativo”, logo o elemento logico vai incidir sobre o pensamento legislativo. Os elemento logico vai subdividir em três ramos essenciais: a) Elemento sistemático-consiste no facto de a interpretação duma norma implicar o conhecimento das normas afins ou paralelas, pois a ordem jurídica tem uma unidade e coerência jurídica que devem ser salvaguardadas na interpretação. Ideia de que um preceito não é uma ilha isolada. Assim, um preceito deve ser interpretado em conjunto com as restantes normas: com a epigrafe que a precede, com os textos que estão imediatamente antes e depois e ainda com outros textos que estão mais afastados, em lugares paralelos.E no entanto encontramos aqui na frase ainda no art.9º n.º1ºCC “tendo sobretudo em conta unidade do sistema jurídico” e vocês percebem “sistema de norma” logo existe esse sistema jurídico que devemos ter em conta logo vai ser o elemento logico sistemático. b).Elementos históricos:na sua tarefa interpretativa, o intérprete deve, ainda, atentar à evolução que deu origem à lei, à sua história, ou seja,consiste na evolução temporal ou cronológica da feitura da lei. Pode se separar em: i). Trabalhos preparatórios: inclui todos os ante- projectos, projectos e actos que registam as discussões nas comissões e plenários que são importantes para determinar o sentido da lei e a vontade do legislador; ii) Precedentes normativos: são as normas nacionais e estrangeira que vigoraram no passado ou na época de formação da lei, e que a influenciaram; iii) Occasio legis: são as circunstâncias históricas, políticas e jurídicas que rodearam a feitura da lei, e que o intérprete não deve desconsiderar. Exemplo: a CRA mantém traços de socialismo que hoje em dia já perderam o sentido, mas que faziam todo o sentido na época em que foi feita. c) Elemento teológico: corresponde ao fim concreto ou necessidade que a regra visa satisfazer.( Santos Justos) Vamos verificar aqui no art.9º, n.º1º na ultima parte, “As circunstâncias em que a lei foi elaborada” logo dentro desse artigo encontramos efectivamente a interpretação da lei contem esses elementos essenciais por um lado o elemento logico e o elemento gramatical. Da relação entre a letra e o espírito da lei, podemos realizar diferentes modalidades de interpretação, as modalidades de interpretação quanto ao resultado. 1.Interpretação declarativa 2.Interpretação extensiva 3.Interpretação restritiva 1.Interpretação declarativa A interpretação diz-se declarativa quando se verifica que existe coincidência entre a letra e o espírito da lei, sendo as palavras inteiramente adequadas para exprimir o pensamento legislativo. Isto é, é aquela que fixa como verdadeiro sentido da norma o sentido ou um dos sentidos literais, cabendo o sentido da lei dentro da sua letra. Pelo que, o legislador disse aquilo que efectivamente quis dizer. A interpretação declarativa pode ser:
a)Interpretação declarativa ampla ou lata:Tem lugar quando a
interpretação toma como exacto o sentido gramatical mais lato ou amplo dos vários sentidos de extensão desigual da lei, ou seja, a palavra é tomada no seu sentido mais amplo.
b) Interpretação declarativa restrita – quando a interpretação toma
como exacto o sentido gramatical mais restrito dos vários sentidos de extensão desigual da lei. 2. Interpretação Extensiva-Tem lugar nos casos em que havendo uma desconformidade ou não coincidência entre a letra e o pensamento legislativos, o intérprete, através dos elementos utilizados, chega à conclusão de que o legislador disse menos do que o que queria dizer, isto é, conclui-se que a letra da lei é mais restrita que o seu espírito – “o legislador minus dixit quam voluit” (o legislador disse menos do que aquilo que queria). A letra fica aquém do espírito da lei, tendo atraiçoado o pensamento legislativo. Nesse caso, o intérprete deve ampliar o texto legal, dando-lhe um alcance mais extenso do que o directamente contido nas suas palavras, de modo a abranger todos os casos que o legislador pretendeu contemplar, sem o ter conseguido. 3. Interpretação Restritivo- o intérprete chega à conclusão de que a letra da lei vai além do seu espírito, ultrapassa-o. Ou seja, “limita a norma aparente”, por considera que o texto, a letra da lei vai além do seu sentido – “o legislador maius dixit quam voluit” (o legislador disse mais do que aquilo que queria). Neste caso, deve proceder-se a uma interpretação restritiva e reduzir a disposição legal à sua verdadeira dimensão, limitando o alcance da norma legal àquilo que através da norma se pretendeu regular de acordo com o pensamento legislativo que o intérprete reconstituiu. Resumindo: Para terminar sempre que a Interpretação não for suficiente ou no entanto o legislador não for previr alguma situação concreta dado assim lugar a caso omissos ou no entanto a lacunas será necessário fazer uma Integração das leis e vem previsto no nosso código civil no art. 10º CC . Quando uma lei entra em vigor numa determinada sociedade tal não significa que essa lei vigore indefinidamente para sempre, podendo ser revogada por outra lei posterior. Pelo que, em princípio, se aplica o princípio fundamental de que “a lei nova revoga a lei antiga”. Mas, será que a lei nova que revoga uma lei antiga nunca mais se aplica para o futuro? Será que as normas jurídicas nunca se aplicam ao passado? Se uma lei nova revoga uma lei anterior, consequentemente estatuirá um regime jurídico diferente para a mesma espécie de situações. Se assim é, coloca-se a questão de saber por que lei se deve regular a situação constituída no domínio da lei antiga que se mantém depois da entrada em vigor da lei nova ou que, na vigência desta, é apreciada. Exemplo 1: Determinada lei vem a admitir o divórcio num país onde até então não era permitido. Aplica-se a nova lei só aos casamentos celebrados após a entrada em vigor dessa lei ou também aos celebrados anteriormente? Contudo, assim não sucede na maior parte dos casos, não existindo preceitos especiais aplicáveis tendo, nessa hipótese que procurar-se a solução legal do problema nos artºs 12º e 13º do C.Civil, que dispõem quer o princípio geral, quer as soluções específicas.
1)- Princípio Geral
A regra geral aplicável a qualquer ramo do direito está
prevista no art.º 12º, n.º 1, do C.C. que estabelece: “A lei só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja atribuída eficácia retroactiva, presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destine regular”. Em primeiro lugar, uma norma é retroactiva quando valora de novo um facto passado, antes valorado diferentemente pela lei vigente no tempo em que se verificou, atribuindo-lhe consequências diferentes, sobretudo quando mais desfavoráveis ao destinatário da mesma norma. Presume-se que a lei nova é mais adequada. Se não fosse retroactiva poderia colocar-se em causa a segurança dos actos já praticados e afectar-se-ia negativamente a previsibilidade das consequências das condutas que a existência de regras possibilita. Dentro da retroactividade podemos discernir três graus: a)- 1º grau: privação para o futuro das consequências que a lei antiga ligou ao facto Se a lei nova exige que o arrendamento comercial seja celebrado por escritura pública e determina que os arrendamentos, mesmos celebrados validamente, passam a ser ineficazes a partir da entrada em vigor desta lei, o arrendatário tem que restituir o imóvel e deixa de pagar a renda; b)- 2º grau: anulação mesmo das consequências passadas dos factos No caso anterior, a lei nova obrigava a restituir as rendas já pagas; c)- 3º grau: anulação de uma categoria muito especial da lei antiga, a saber, os casos julgados. Trata–se da reabertura dos processos já julgados e seu julgamento à luz da lei nova. Legalmente, também, em matéria penal se proíbe expressamente a retroactividade das leis incriminatórias – princípio da não retroactividade da lei penal mais desfavorável e princípio da retroactividade da lei penal mais favorável (art.º 2º do C. Penal). Efectivamente as regras penais incriminadoras não podem ser retroactivas, em nome do princípio da legalidade. Nem podem ser aplicadas sanções não previstas em lei anterior. Contudo, o referido princípio da não retroactividade previsto no Código Civil não é absoluto. Significa, antes, que, em regra, a lei não tem eficácia retroactiva, isto é, rege para o futuro e deve respeitar os factos passados, os factos verificados antes da sua entrada em vigor, não atingindo situações que se devam considerar consumadas. Cada facto deve, pois, ser regulado pela lei vigente ao tempo da sua verificação, nomeadamente: aplicando-se a lei nova aos factos ocorridos após a
sua entrada em vigor
aplicando-se a lei antiga aos factos ocorridos
anteriormente à entrada em vigor da lei nova, ou
seja, na vigência da lei antiga Porém, em certos domínios pode haver leis retroactivas. Pode na própria lei ser “atribuída eficácia retroactiva”, isto é, determinar-se que certa lei se aplica ao passado; contudo “presume-se que ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular”, isto é, que há a intenção de respeitar os efeitos jurídicos já produzidos pelos factos que a lei se destina a regular. Admite-se, pois, a retroactividade de 1º grau. Mas, a norma jurídica não regula apenas factos; regula, também, as suas consequências ou efeitos, muitos dos quais relativos a factos anteriores à vigência da nova lei. A este respeito, consagrou o n.º 2 do citado art.º 12º do C.C. que: “Quando a lei dispõe sobre as condições de validade substancial ou formal de quaisquer factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em caso de dúvida, que só visa factos novos; mas, quando dispuser directamente sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos que lhe deram origem, entender-se-á que a lei abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em vigor”. Este normativo procura complementar o princípio geral da não retroactividade da lei. Exemplo 1: A resposta à questão de saber se a lei nova que admite o divórcio se aplica só aos casamentos ocorridos após a sua entrada em vigor ou aos celebrados anteriormente encontra-se na 2ª parte do artigo 12º, n.º 2 do C.C. – “mas, quando dispuser directamente sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos que lhe deram origem, entender-se-á que a lei abrange as próprias relações já constituídas, que subsistam à data da sua entrada em vigor”. Logo, nova lei é imediatamente aplicável a todos os casamentos, incluindo os celebrados antes da entrada em vigor da nova lei, pois tratar-se de uma disposição que vem regular os conteúda da relação jurídica matrimonial, atribuindo aos cônjuges um direito que até aí não tinham, sem o fazer depender de qualquer facto. Respeita às situações que estão em conexão com diversas ordens jurídicas nacionais ou internacionais locais, surgindo um conflito de leis que impõe determinar a ordem jurídica aplicável à situação. Para o efeito recorre-se às normas de direito internacional privado, contidas nos artºs 25º a 65º do C.C.. A aplicação da lei no espaço vai existir sempre que estiver sobre uma única relação jurídica envolvido mas de um ordenamento jurídico. Na verdade estamos aqui a falar do direito internacional privado, direito este que tem a finalidade de regular jurídico privadas que estejam em conexão por mais de um ordenamento jurídico, logo sempre que vai existir essa base da aplicação na lei no espaço. Quando é que efectivamente vamos encontrar uma relação conectada ou pluriconectada por mais de um ordenamento jurídico? Resumindo: a aplicação da lei no espaço tem como finalidade designar qual vai ser a lei aplicável quando existirem mais de um ordenamento jurídico envolvido numa única relação jurídica. Regra geral nos outros ramos do direito no direito penal aplica-se o princípio da territorialidade (art.53º n.º 1º do CP) no caso de lugar onde se cometeu o crime é a lei que vai ser aplicada, há algumas excepções quando existir acórdão entre dois países diferentes existe a extradição, no caso o individuo vai ser extraditario para ser julgado, ou condenado ou absolvido no seu país, mas em regra geral aplica-se o principio da territorialidade nos termos do código penal e também em regra geral em outros ramos do direito da territorialidade que impera no caso da aplicação da lei no espaço. A eficácia da norma jurídica A eficácia da norma jurídica vai falar da possibilidade real aplicação dessa norma, quando nos falamos de aplicabilidade ou eficácia técnica nos taremos a falar da questão duma norma poder ser aplicada independentemente de outra norma. A eficácia técnica: ela vai dizer se essa norma ela é independente ou não de certa forma. Já a eficácia social ela diz respeito a questão que as pessoas efectivamente entendem, eles tem uma adequação social e a lei funciona, ela é efectiva. Resumindo: existem normas que pegam e normas que não pegam isto é essa eficácia social essa adequação diz respeito a isso o facto das pessoas respeitarem ou não aquela norma, e nos sabemos que tem lei que as pessoas não respeitam ou seja as pessoa não pegam, em tese deveria existir um fiscalização do estado para que a norma fosse comprida , mas a gente sabe que nem sempre acontece pode acontecer de certas normas terem validade vigência, vigor mas não essa efectividade em termos sociais.