Você está na página 1de 37

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

Profa. Amélia Azevedo


Tema 5.-Os diversos sentidos do
Direito

Sumário: Interpretação da lei.


Aplicação da lei no tempo e no Espaço.
1-Quem pode fazer a interpretação
da lei?
Em sentido amplo, a interpretação pode definir-se
como a determinação de qualquer acto ou fenómeno,
aos quais não escapam os actos e disposições
jurídicas.
Ora, a tarefa de interpretação da lei traduz-se, nem
mais nem menos, na actividade de “determinação ou
fixação do sentido e alcance da lei, ou seu
entendimento ou compreensão, isto é, na
determinação do exacto e pleno conteúdo do
pensamento nele contido”.
A interpretação em sentido restrito consiste na
determinação do sentido da regra que decorre
da fonte, de forma a poder resolver o caso
concreto. Como já se referiu, a interpretação
da lei é a determinação ou fixação do exacto
sentido e alcance de uma norma, constituindo
uma tarefa sempre necessária para aplicar a
lei.
Podemos discernir várias espécies de
interpretação de acordo com diversos critérios:
1) Critério da sua Fonte e Valor:
De acordo com o critério que considera o
agente da interpretação, isto é, a qualidade do
intérprete, há que distinguir a interpretação:
a) Autêntica: É a interpretação que é feita pelo
legislador através de uma nova lei,
nomeadamente, por lei de valor igual ou
hierarquicamente superior ao valor da norma
que se interpreta (lei interpretada),
designando-se tal lei por lei interpretativa.
A função da lei interpretativa é fixar
decisivamente o sentido de outra lei anterior na
qual se integra.
A lei interpretativa integra-se na lei interpretada
(art.º 13º, n.º 1 do C.C.).
A interpretação autêntica é vinculativa mesmo
que esteja errada:
 se a interpretação da lei interpretativa for

correcta há uma verdadeira interpretação;


se eventualmente alterar o sentido da lei

interpretada, revoga-a, continuando a vigorar a


lei interpretativa.
b) A Interpretação Doutrinal- é assim designada
porque não é feita pelo órgão legislativo mas sim
por juristas ou jurisconsultos. Não tem qualquer
força vinculativa, mas pode persuadir: em
resultado do prestígio do intérprete ou da
coerência lógica da argumentação.
Não tem qualquer força vinculativa, mas tão só
valor de facto e persuasivo, resultante da
exactidão dos princípios em que se baseie, da
razão que o intérprete demonstre ter (da sua
lógica argumentativa), e do prestígio do
intérprete seu autor.
Ver art.º 6º C.C.
Os elementos da interpretação são os meios
para se determinar o sentido real dos textos
legais.
Os elementos da interpretação separam-se em:
1.Elemento literal ou gramatical - corpo
2.Elemento lógico ou espírito da lei – alma
a. Histórico
b. Sistemático
c. Teleológico ou racional
Artigo 9.ºCC
(Interpretação da Lei)
1.A Interpretação não deve cingir-se á
letra da lei, mas reconstitui a partir dos
textos o pensamento legislativo, tendo
sobretudo em conta unidade do
sistema jurídico, as circunstâncias em
que a lei foi elaborada e as condições
específicas do tempo em que é
aplicada.
1.Elemento Gramatical: é composto pelas palavras
pelas quais a lei se exprime, cujo sentido é
determinado pelas regras gramaticais.Este elemento
constitui um ponto de partida da interpretação, mas
é um elemento frágil, porque muitas vezes as
palavras são vagas e equivocas e também pode
suceder que não se tenha exprimido da melhor
forma.
Na primeira fase do código estabelece o seguinte “A
Interpretação não deve cingir-se á letra da lei”
portanto é o elemento gramatical.
2.Elementos Lógicos: são todas as circunstâncias que
ultrapassam a letra da lei e que nos podem auxiliar
aperceber o seu sentido. Por exemplo se olhamos
novamente para art.9º n.º1 que diz , “mas reconstitui
a partir dos textos o pensamento legislativo”, logo o
elemento logico vai incidir sobre o pensamento
legislativo.
Os elemento logico vai subdividir em três ramos
essenciais:
a) Elemento sistemático-consiste no facto de a
interpretação duma norma implicar o conhecimento
das normas afins ou paralelas, pois a ordem jurídica
tem uma unidade e coerência jurídica que devem ser
salvaguardadas na interpretação.
Ideia de que um preceito não é uma ilha
isolada. Assim, um preceito deve ser
interpretado em conjunto com as restantes
normas: com a epigrafe que a precede, com
os textos que estão imediatamente antes e
depois e ainda com outros textos que estão
mais afastados, em lugares paralelos.E no
entanto encontramos aqui na frase ainda no
art.9º n.º1ºCC “tendo sobretudo em conta
unidade do sistema jurídico” e vocês
percebem “sistema de norma” logo existe esse
sistema jurídico que devemos ter em conta
logo vai ser o elemento logico sistemático.
b).Elementos históricos:na sua tarefa
interpretativa, o intérprete deve, ainda, atentar à
evolução que deu origem à lei, à sua história, ou
seja,consiste na evolução temporal ou cronológica
da feitura da lei. Pode se separar em:
i). Trabalhos preparatórios: inclui todos os ante-
projectos, projectos e actos que registam as
discussões nas comissões e plenários que são
importantes para determinar o sentido da lei e a
vontade do legislador;
ii) Precedentes normativos: são as normas
nacionais e estrangeira que vigoraram no passado
ou na época de formação da lei, e que a
influenciaram;
iii) Occasio legis: são as circunstâncias
históricas, políticas e jurídicas que
rodearam a feitura da lei, e que o
intérprete não deve desconsiderar.
Exemplo: a CRA mantém traços de
socialismo que hoje em dia já perderam o
sentido, mas que faziam todo o sentido
na época em que foi feita.
c) Elemento teológico: corresponde ao fim
concreto ou necessidade que a regra visa
satisfazer.( Santos Justos)
Vamos verificar aqui no art.9º, n.º1º na
ultima parte, “As circunstâncias em que a lei
foi elaborada” logo dentro desse artigo
encontramos efectivamente a interpretação
da lei contem esses elementos essenciais
por um lado o elemento logico e o elemento
gramatical.
Da relação entre a letra e o espírito da
lei, podemos realizar diferentes
modalidades de interpretação, as
modalidades de interpretação quanto
ao resultado.
1.Interpretação declarativa
2.Interpretação extensiva
3.Interpretação restritiva
1.Interpretação declarativa
A interpretação diz-se declarativa quando se verifica que existe
coincidência entre a letra e o espírito da lei, sendo as palavras
inteiramente adequadas para exprimir o pensamento legislativo. Isto
é, é aquela que fixa como verdadeiro sentido da norma o sentido ou
um dos sentidos literais, cabendo o sentido da lei dentro da sua letra.
Pelo que, o legislador disse aquilo que efectivamente quis dizer.
A interpretação declarativa pode ser:

a)Interpretação declarativa ampla ou lata:Tem lugar quando a


interpretação toma como exacto o sentido gramatical mais lato ou
amplo dos vários sentidos de extensão desigual da lei, ou seja, a
palavra é tomada no seu sentido mais amplo.

b) Interpretação declarativa restrita – quando a interpretação toma


como exacto o sentido gramatical mais restrito dos vários sentidos de
extensão desigual da lei.
2. Interpretação Extensiva-Tem lugar nos casos em que
havendo uma desconformidade ou não coincidência
entre a letra e o pensamento legislativos, o intérprete,
através dos elementos utilizados, chega à conclusão de
que o legislador disse menos do que o que queria
dizer, isto é, conclui-se que a letra da lei é mais restrita
que o seu espírito – “o legislador minus dixit quam
voluit” (o legislador disse menos do que aquilo que
queria).
A letra fica aquém do espírito da lei, tendo atraiçoado o
pensamento legislativo.
Nesse caso, o intérprete deve ampliar o texto legal,
dando-lhe um alcance mais extenso do que o
directamente contido nas suas palavras, de modo a
abranger todos os casos que o legislador pretendeu
contemplar, sem o ter conseguido.
3. Interpretação Restritivo- o intérprete chega à
conclusão de que a letra da lei vai além do seu espírito,
ultrapassa-o. Ou seja, “limita a norma aparente”, por
considera que o texto, a letra da lei vai além do seu
sentido – “o legislador maius dixit quam voluit” (o
legislador disse mais do que aquilo que queria).
Neste caso, deve proceder-se a uma interpretação
restritiva e reduzir a disposição legal à sua verdadeira
dimensão, limitando o alcance da norma legal àquilo
que através da norma se pretendeu regular de acordo
com o pensamento legislativo que o intérprete
reconstituiu.
Resumindo:
Para terminar sempre que a Interpretação
não for suficiente ou no entanto o
legislador não for previr alguma situação
concreta dado assim lugar a caso
omissos ou no entanto a lacunas será
necessário fazer uma Integração das leis
e vem previsto no nosso código civil no
art. 10º CC .
Quando uma lei entra em vigor numa
determinada sociedade tal não significa que essa
lei vigore indefinidamente para sempre, podendo
ser revogada por outra lei posterior.
Pelo que, em princípio, se aplica o princípio
fundamental de que “a lei nova revoga a lei
antiga”.
Mas, será que a lei nova que revoga uma lei
antiga nunca mais se aplica para o futuro? Será
que as normas jurídicas nunca se aplicam ao
passado?
Se uma lei nova revoga uma lei anterior,
consequentemente estatuirá um regime jurídico
diferente para a mesma espécie de situações.
Se assim é, coloca-se a questão de saber por que
lei se deve regular a situação constituída no
domínio da lei antiga que se mantém depois da
entrada em vigor da lei nova ou que, na vigência
desta, é apreciada.
Exemplo 1: Determinada lei vem a admitir o
divórcio num país onde até então não era
permitido.
Aplica-se a nova lei só aos casamentos celebrados
após a entrada em vigor dessa lei ou também aos
celebrados anteriormente?
Contudo, assim não sucede na maior parte dos casos,
não existindo preceitos especiais aplicáveis tendo,
nessa hipótese que procurar-se a solução legal do
problema nos artºs 12º e 13º do C.Civil, que dispõem
quer o princípio geral, quer as soluções específicas.

1)- Princípio Geral

A regra geral aplicável a qualquer ramo do direito está


prevista no art.º 12º, n.º 1, do C.C. que estabelece:
“A lei só dispõe para o futuro; ainda que lhe seja
atribuída eficácia retroactiva, presume-se que ficam
ressalvados os efeitos já produzidos pelos factos que
a lei se destine regular”.
Em primeiro lugar, uma norma é retroactiva
quando valora de novo um facto passado,
antes valorado diferentemente pela lei vigente
no tempo em que se verificou, atribuindo-lhe
consequências diferentes, sobretudo quando
mais desfavoráveis ao destinatário da mesma
norma.
Presume-se que a lei nova é mais adequada.
Se não fosse retroactiva poderia colocar-se em
causa a segurança dos actos já praticados e
afectar-se-ia negativamente a previsibilidade
das consequências das condutas que a
existência de regras possibilita.
Dentro da retroactividade podemos discernir três
graus:
a)- 1º grau: privação para o futuro das consequências
que a lei antiga ligou ao facto
Se a lei nova exige que o arrendamento comercial seja
celebrado por escritura pública e determina que os
arrendamentos, mesmos celebrados validamente,
passam a ser ineficazes a partir da entrada em vigor
desta lei, o arrendatário tem que restituir o imóvel e
deixa de pagar a renda;
b)- 2º grau: anulação mesmo das consequências
passadas dos factos
No caso anterior, a lei nova obrigava a restituir as
rendas já pagas;
c)- 3º grau: anulação de uma categoria muito especial
da lei antiga, a saber, os casos julgados.
Trata–se da reabertura dos processos já julgados e seu
julgamento à luz da lei nova.
Legalmente, também, em matéria penal se proíbe
expressamente a retroactividade das leis
incriminatórias – princípio da não retroactividade da lei
penal mais desfavorável e princípio da retroactividade
da lei penal mais favorável (art.º 2º do C. Penal).
Efectivamente as regras penais incriminadoras não
podem ser retroactivas, em nome do princípio da
legalidade.
Nem podem ser aplicadas sanções não previstas em lei
anterior.
Contudo, o referido princípio da não retroactividade
previsto no Código Civil não é absoluto.
Significa, antes, que, em regra, a lei não tem eficácia
retroactiva, isto é, rege para o futuro e deve
respeitar os factos passados, os factos verificados
antes da sua entrada em vigor, não atingindo
situações que se devam considerar consumadas.
Cada facto deve, pois, ser regulado pela lei vigente
ao tempo da sua verificação, nomeadamente:
 aplicando-se a lei nova aos factos ocorridos após a

sua entrada em vigor


aplicando-se a lei antiga aos factos ocorridos

anteriormente à entrada em vigor da lei nova, ou


seja, na vigência da lei antiga
Porém, em certos domínios pode haver leis
retroactivas.
Pode na própria lei ser “atribuída eficácia
retroactiva”, isto é, determinar-se que certa lei
se aplica ao passado; contudo “presume-se que
ficam ressalvados os efeitos já produzidos pelos
factos que a lei se destina a regular”, isto é, que
há a intenção de respeitar os efeitos jurídicos já
produzidos pelos factos que a lei se destina a
regular.
Admite-se, pois, a retroactividade de 1º grau.
Mas, a norma jurídica não regula apenas factos;
regula, também, as suas consequências ou
efeitos, muitos dos quais relativos a factos
anteriores à vigência da nova lei.
A este respeito, consagrou o n.º 2 do citado art.º
12º do C.C. que:
“Quando a lei dispõe sobre as condições de
validade substancial ou formal de quaisquer
factos ou sobre os seus efeitos, entende-se, em
caso de dúvida, que só visa factos novos; mas,
quando dispuser directamente sobre o conteúdo
de certas relações jurídicas, abstraindo dos
factos que lhe deram origem, entender-se-á que
a lei abrange as próprias relações já constituídas,
que subsistam à data da sua entrada em vigor”.
Este normativo procura complementar o
princípio geral da não retroactividade da lei.
Exemplo 1:
A resposta à questão de saber se a lei nova que admite o
divórcio se aplica só aos casamentos ocorridos após a
sua entrada em vigor ou aos celebrados anteriormente
encontra-se na 2ª parte do artigo 12º, n.º 2 do C.C. –
“mas, quando dispuser directamente sobre o conteúdo
de certas relações jurídicas, abstraindo dos factos que
lhe deram origem, entender-se-á que a lei abrange as
próprias relações já constituídas, que subsistam à data
da sua entrada em vigor”.
Logo, nova lei é imediatamente aplicável a todos os
casamentos, incluindo os celebrados antes da entrada em
vigor da nova lei, pois tratar-se de uma disposição que
vem regular os conteúda da relação jurídica matrimonial,
atribuindo aos cônjuges um direito que até aí não
tinham, sem o fazer depender de qualquer facto.
Respeita às situações que estão em conexão
com diversas ordens jurídicas nacionais ou
internacionais locais, surgindo um conflito de
leis que impõe determinar a ordem jurídica
aplicável à situação.
Para o efeito recorre-se às normas de direito
internacional privado, contidas nos artºs 25º
a 65º do C.C..
A aplicação da lei no espaço vai existir sempre
que estiver sobre uma única relação jurídica
envolvido mas de um ordenamento jurídico. Na
verdade estamos aqui a falar do direito
internacional privado, direito este que tem a
finalidade de regular jurídico privadas que
estejam em conexão por mais de um
ordenamento jurídico, logo sempre que vai
existir essa base da aplicação na lei no espaço.
Quando é que efectivamente vamos encontrar
uma relação conectada ou pluriconectada por
mais de um ordenamento jurídico?
Resumindo: a aplicação da lei no espaço tem como
finalidade designar qual vai ser a lei aplicável quando
existirem mais de um ordenamento jurídico envolvido
numa única relação jurídica. Regra geral nos outros
ramos do direito no direito penal aplica-se o princípio
da territorialidade (art.53º n.º 1º do CP) no caso de
lugar onde se cometeu o crime é a lei que vai ser
aplicada, há algumas excepções quando existir acórdão
entre dois países diferentes existe a extradição, no caso
o individuo vai ser extraditario para ser julgado, ou
condenado ou absolvido no seu país, mas em regra
geral aplica-se o principio da territorialidade nos
termos do código penal e também em regra geral em
outros ramos do direito da territorialidade que impera
no caso da aplicação da lei no espaço.
A eficácia da norma jurídica
A eficácia da norma jurídica vai falar da
possibilidade real aplicação dessa norma,
quando nos falamos de aplicabilidade ou
eficácia técnica nos taremos a falar da
questão duma norma poder ser aplicada
independentemente de outra norma.
A eficácia técnica: ela vai dizer se essa norma
ela é independente ou não de certa forma.
Já a eficácia social ela diz respeito a questão
que as pessoas efectivamente entendem, eles
tem uma adequação social e a lei funciona, ela
é efectiva.
Resumindo: existem normas que pegam e
normas que não pegam isto é essa eficácia
social essa adequação diz respeito a isso o
facto das pessoas respeitarem ou não aquela
norma, e nos sabemos que tem lei que as
pessoas não respeitam ou seja as pessoa não
pegam, em tese deveria existir um fiscalização
do estado para que a norma fosse comprida ,
mas a gente sabe que nem sempre acontece
pode acontecer de certas normas terem
validade vigência, vigor mas não essa
efectividade em termos sociais.

Você também pode gostar