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Nota: O presente documento tenta retirar o mais importante dos recomendados pela
regência, pelo que, atenta à subjetividade empregue na seleção da matéria, a nosso ver,
relevante, é recomendada a consulta dos manuais da regência. É de notar que o presente
documento pode conter algumas gralhas.
§36. INTERPRETAÇÃO
1. Justificação
A interpretação jurídica visa apurar o sentido de uma norma, i.e., exprime o sentido de
regra que se considera adequado para resolver o caso sub iudice. A interpretação não é
só das regras constantes de lei, mas de regras de qualquer fonte do direito: a regra
consuetudinária também se interpreta, ainda que haja algumas dificuldades de
aplicação das diretrizes interpretativas.
2. Finalidade
A interpretação é indispensável no âmbito das regras jurídicas, mas também no plano
dos comportamentos humanos, de uma pintura, etc. Note-se que a finalidade é
coincidente quando se interpreta uma norma jurídica ou uma pintura, importando
transmitir uma mensagem explicativa do sentido da regra ou da obra de arte.
Ainda assim, mesmo havendo coincidência de finalidade, o regime jurídico a analisar
respeita unicamente a interpretação das regras jurídicas, e a finalidade, tanto de
interpretação como de integração, é a de encontrar a solução adequada para resolver o
caso concreto, tendo esta, todavia, de encontrar justificação no sentido correto da
regra.
4. Direito português
4.1. Generalidades
O art.º 9/1 determina que a interpretação tem por finalidade a reconstituição do
pensamento legislativo a partir do texto da lei. A expressão pensamento legislativo é
algo ambígua, pois, tanto pode significar o pensamento do legislador como o
pensamento da lei. Note-se que esta ambiguidade é desejada pelo legislador dado que
se encontram no art.º 9, elementos que corroboram uma orientação subjetivista e
outros que conduzem a uma orientação objetivista.
5. Elementos da interpretação
Qualquer aplicação de uma regra jurídica tem de observar determinadas regras: estas
regras específicas da interpretação jurídica costumam ser denominadas elementos da
interpretação, as quais possibilitam não só escolher entre várias interpretações
possíveis da fonte interpretada, mas também determinar se a interpretação realizada é
correta ou incorreta.
6. Enunciado
A interpretação da lei é realizada a partir da letra da lei (art.º 9/1 e 2), com base nas
circunstâncias em que a lei foi elaborada (art.º 9/1), na unidade do sistema jurídico (art.º
9/1) e nas condições específicas do tempo em que a lei é aplicada (art.º 9/1).
Em concreto, os elementos da interpretação são:
▪ o elemento literal (respeitante ao sentido da letra da lei).
▪ o elemento histórico (referente ao momento em que a lei foi produzida).
▪ o elemento sistemático (referente ao enquadramento sistemático da lei).
▪ e o elemento teleológico (respeitante à finalidade da lei).
Note-se que, como a regra jurídica é o resultado da interpretação, não é correto falar
de interpretação da regra, devendo-se adotar a expressão “interpretação do preceito
legal”.
▪ e o outro decorrente do art.º 9/2, em que se refere que não poderá haver uma
interpretação que não tenha um “mínimo de correspondência verbal” com a
letra da lei.
Assim, todo o significado que corresponde à letra da lei tem de ser um significado
possível dessa lei e, para além disso, o significado que não encontra uma
correspondência mínima na letra da lei, está para além do seu significado possível.
Desta afirmação podem retirar-se duas ilações:
▪ a letra da lei constitui o limite para todos os outros elementos da interpretação.
▪ não pode ser qualificada como interpretação a conclusão do intérprete que não
for compatível com a letra da lei (e.g. é o que sucede quando a lei é aplicada
analogicamente a um caso nela não previsto).
A teleologia da lei não pode ser entendida em si mesma, pelo que, para a determinar é
indispensável atender ao ambiente socioeconómico, político e cultural em que a fonte
é interpretada, mas é também necessário considerar fatores jurídicos.
Para a determinação da teleologia da lei não se pode deixar de atender às respetivas
consequências, i.e., havendo duas ou mais teleologias possíveis, há que evitar aquelas
que sejam incompatíveis com o sistema e há que escolher a que melhor se coadunar
com esse mesmo sistema.
6.7. Conjugação dos elementos
Nenhum dos elementos da interpretação, em si mesmo, determina o significado da lei,
mas cada um deles dá um contributo para essa mesma determinação. Com respeito pela
exigência da mínima correspondência da interpretação com o texto da lei (art.º 9/2),
cada um daqueles contributos tem de ser sopesado em conjugação com todos os
demais.
O art.º 9/1, ao impor que o intérprete reconstitua o pensamento legislativo a partir do
texto da lei, mostra que pode haver oposição entre o elemento literal e os vários
elementos não literais, mas não entre cada um destes últimos, ou seja, o elemento
histórico, sistemático e teleológico devem ser vistos numa perspetiva aditiva, pelo que,
cada um deles traz algo que deve ser conjugado com aquilo que resulta de cada um dos
demais.
Em suma, o intérprete deve escolher a interpretação que, dentro dos limites impostos
pela correspondência mínima com a letra da lei (art.º 9/2) e com o apoio na
justificação histórica da lei, melhor se integrar no sistema jurídico e melhor se adequar
às necessidades sociais.
7. Interpretação autêntica
A interpretação autêntica é feita pelo órgão de onde a lei emana ou por outro órgão
com idêntica competência legislativa, não se incluindo nesta qualificação a opinião
emitida por um responsável pela elaboração da lei (e.g. pelo membro do Governo que
preparou o projeto), devendo esta interpretação autêntica revestir forma não inferior à
da lei que se interpreta. Uma regra interpretativa determina o sentido de outra regra
jurídica.
Esta pretensa via interpretativa em que o porta-voz do órgão legislativo ou um membro
do Governo vem indicar um sentido da regra jurídica é muitas vezes identificada como
interpretação oficial, mas só releva como elemento interpretativo, em princípio,
associada ao elemento histórico, segundo Sandra Lopes Luís. Já Marques da Silva
desvaloriza a designada interpretação oficial, mesmo nos casos em que o próprio
diploma determina que as dúvidas serão resolvidas por despacho interpretativo.
De igual modo, pode entender-se como interpretação oficial a que é feita por entidades
públicas (como os pareceres do Conselho Consultivo do Instituto dos Registos e
Notariado ou os pareceres do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República),
mas só se pode admitir como mero auxiliar interpretativo, não vinculando o aplicador
do direito.
A lei interpretativa integra-se na lei interpretada (art.º 13/1), pelo que esta passa a ser
entendida com o sentido que decorre da lei interpretativa. A lei, para ser qualificada
como interpretativa, não carece de ser expressamente indicada nesta qualidade, nada
obstando a que, por via da interpretação, se conclua que determinada lá e, apesar da
omissão de qualquer referência expressa, corresponde a uma lei interpretativa.
Por via de regra, a lei interpretativa indica expressamente que visa determinar o sentido
de uma regra vigente, de outro diploma, mas poderá concluir-se que o legislador,
mesmo sem indicar, tinha em vista interpretar uma dada lei.
8. Resultados da Interpretação
a) Interpretação declarativa
Por via da interpretação declarativa procede-se à exposição explicativa do sentido da
regra. Verificando-se que a coincidência entre a letra e o espírito da lei inicia-se no
sentido apurado, é imperioso demonstrar que a letra da lei corresponde ao sentido que
resulta também dos elementos histórico, sistemático e teleológico.
E.g. o termo “homem” surge no art.º 362 no sentido de ser humano, contudo, nos art.º
1320 e 1326 este termo já é utilizado no sentido de oposto aos atos da Natureza.
Existem termos que necessitam de explicação contextualizada, como por exemplo a
boa-fé, a ordem pública ou os bons costumes, os quais, ao enunciar a regra, necessitam
de explicar a abrangência de sentido possível e o enquadramento na situação concreta.
Na interpretação declarativa, os termos utilizados na letra da lei têm de ser
interpretados no respetivo contexto, deste modo, quando se proíbe em determinada
via a circulação de carroça puxada por cavalo, por interpretação declarativa, inclui-se a
proibição de circulação de carroça puxada por burro, pois o termo cavalo, no contexto,
é usado como animal de tração.
Em suma, a interpretação declarativa é uma explicação expositiva de elementos
lógicos da interpretação e incluindo que não há divergência entre ela e o espírito da
lei. Na eventualidade de se detetar uma falta de coincidência entre a letra da lei e o
seu espírito, há que reconstruir o sentido da regra, seja pela interpretação extensiva,
seja pela interpretação restritiva.
b) Interpretação extensiva
Da relação entre o disposto na letra da lei e o que se retira do seu espírito conclui-se
que o legislador disse menos do que queria (minus dixit quam voluit), assim,
atendendo aos elementos lógicos, conclui-se que a formulação linguística ficou aquém
do que se pretendia, e o intérprete, recorrendo à interpretação extensiva, procurará
alcançar o sentido correto da regra.
Como resulta do art.º 11, a interpretação extensiva não está vedada no caso de normas
excecionais: estas também comportam interpretação extensiva, ainda que tal via
interpretativa possa ser complexa perante regras excecionais (e.g. art.º 503; neste
preceito prescreve se a responsabilidade objetiva sem culpa daquilo que tem a direção
efetiva de um veículo de circulação terrestre, sendo problemático admitir uma
interpretação extensiva da norma de molde a abranger veículos que circulem na água
ou no ar; pode concluir-se que tal sentido extensivo contraria o espírito da norma,
aplicável exclusivamente a veículos de circulação terrestre e ainda se pode entender que
aplicar a solução prevista neste artigo a outro tipo de veículos seria analogia, vedada no
art.º 11).
c) Interpretação restritiva
Através da interpretação restritiva a conclusão é a inversa da interpretação extensiva,
admitindo que a lei diz mais do que pretendia (magis dixit quam voluit). A formulação
legal é mais abrangente do que o sentido que se deve retirar do pensamento
legislativo, pelo que se conclui que o resultado interpretativo é mais restrito, assim, a
interpretação restritiva alcança-se recorrendo à ratio legis, atenta à máxima latina
cessante ratione legis cessat ius dispositivo (cessando a razão da lei cessa o seu
dispositivo).
E.g. No art.º 202 como fundamento para qualificar o negócio como usurário, alude-se a
explorar o estado mental, entendendo-se restritivamente que será unicamente uma
exploração do estado mental depressivo.
Por via da interpretação restritiva alcança-se o correto sentido do preceito, restringindo
o sentido que decorria da letra da lei em função do que resulta dos elementos lógicos
da interpretação.
d) Interpretação enunciativa
Discute-se interpretação enunciativa constitui um processo autónomo de determinação
do sentido da regra jurídica ou se, pelo contrário, representa um mero modo de
complementar a interpretação declarativa. Na interpretação enunciativa estão em
causa inferências lógicas que se retiram da regra jurídica, podendo entender-se que
extravasa uma mera interpretação.
Argumentos jurídicos:
i. Argumento a fortiori (por maioria de razão)
Processo argumentativo que assenta numa comparação, permitindo concluir que, se em
determinado caso a solução legal seria uma, noutra hipótese similar, mas mais
significativa, não se poderia chegar a conclusão diversa.
Este argumento também se apoia nos elementos lógicos da interpretação, sendo
necessário questionar qual a finalidade da regra.
v. Argumento a simile
Tendo por base o princípio da igualdade e com fundamento na unidade do sistema
jurídico, conclui-se que se a regra dispõe de um dado sentido, perante um caso com
contornos análogos, não enquadrável diretamente na sua previsão, deve seguir-se o
mesmo sentido interpretativo.
O legislador, com base neste argumento, por vezes, remete a solução de um instituto
para a prevista no outro instituto.
e) Interpretação ab-rogante
Na interpretação ab-rogante, o intérprete verifica que a norma não se aplica, assim, não
se altera o sentido do texto, mas conclui-se que a norma não pode valer na ordem
jurídica.
1) Ab-rogação sistemática
Nesta ab-rogação conclui-se que a norma não se pode aplicar em razão de uma
contradição insanável, assim, surgiu uma regra contrária a outra de hierarquia superior,
como a Constituição, não podendo valer na OJ (neste caso padece de um vício de
inconstitucionalidade).
Esta ab-rogação pode também resultar da conclusão de certa regra ter sido revogada
implicitamente, nomeadamente no caso da revogação de sistema (art.º 7/2).
Por fim, este argumento resulta quando se conclua pela existência de uma contradição
entre duas regras do mesmo diploma, com soluções inconciliáveis ou que, por lapso, se
faça uma remissão para uma solução jurídica revogada ou inexistente (onde poderá
haver uma sobreposição entre a ab-rogação sistemática e a interpretação corretiva).
2) Ab-rogação teleológica
A ab-rogação teleológica ou valorativa, implica a não aplicação da regra, na medida em
que esta contraria valores fundamentais da OJ.
Se a regra contraria regras ou princípios constitucionais, pode, por via da declaração de
inconstitucionalidade proferida pelo TC, determinar-se a sua não aplicação, por
invalidade. Mas é controverso que essa ponderação possa ficar a cargo do intérprete
aplicador de regra jurídica, sob pena de arbítrio e, principalmente, porque acarretar em
segurança jurídica. Assim, segundo RM, não é de admitir a ab-rogação teleológica de
uma regra, invocando a contrariedade a princípios ou valores fundamentais, porquanto
essa ponderação seria naturalmente subjetiva, determinando incerteza e até
arbitrariedade nas soluções jurídicas.
f) Interpretação corretiva
Da interpretação da norma conclui-se que o sentido a que se chega é inadmissível,
incongruente ou inaceitável, tendo em conta princípios fundamentais e a unidade do
sistema jurídico: é neste momento em que se dirá que o legislador se enganou e o
intérprete tem de o corrigir.
A chamada correção do direito incorreto pode resultar de contradições de técnica
legislativa, de contradições normativas, de contradições valorativas, de contradições
teleológicas e de contradições de princípios.
Sem prejuízo da interpretação conforme à Constituição, que pode corrigir regras, Engisch
concluiu que o Direito à de permanecer Direito mesmo quando se mostra desajustado
ao caso concreto. O juiz não pode pretender corrigir o legislador já que está vinculado à
lei. Segundo este autor, a ratificação de lapsos de redação cabe qualificar como
interpretação, mas a decisão contra legem está para já além da interpretação.
Engisch, recusando lançar o Direito contra a lei, admite excecionalmente uma espécie de
ratificação da lei no caso de a contradição da lei positiva com a justiça atingir um grau
tal e seja de tal maneira insuportável que a lei, como Direito injusto, tenha de ceder
perante a justiça.
A interpretação corretiva vai além da interpretação atualista ou da correção decorrente
da interpretação extensiva ou restritiva, porque o sentido assim alcançado não tem
qualquer amparo na letra da lei nem nos elementos lógicos da interpretação. Esta
implica que o intérprete reescreva a lei, na medida em que o texto que dela consta é
inadmissível, por contrariar princípios fundamentais da OJ, ou incongruente por via de
um lapso.
Assim, a interpretação corretiva pode assumir duas vias:
→ A correção material, por contrariedade a princípios jurídicos, a qual não parece
aceitável como via interpretativa, abrindo a porta ao arbítrio na aplicação do
Direito e à insegurança jurídica. A OJ prevê meios de fiscalização da
constitucionalidade e da legalidade das regras jurídicas, apreciação esta que
passa também pela ponderação da conformidade com princípios fundamentais
do sistema; fora deste contexto, não pode o intérprete aplicador corrigir a
norma, por entender que contraria princípios fundamentais, sob pena de
insegurança jurídica.
Na medida em que esta extravasa a interpretação restritiva, está trilhado o
caminho da insegurança jurídica, atendendo à multiplicidade dos fins que se
podem vislumbrar subjetivamente na lei.
Na aplicação judicial do direito, há ainda um argumento para afastar a
interpretação corretiva: a vinculação do juiz à lei e a irresponsabilidade do juiz
que aplica a lei, leva-nos a perceber que a irresponsabilidade é inaplicável ao juiz
que não se vincula à lei.
→ De modo limitado e com justificação objetiva, pode haver lugar à interpretação
corretiva de lapsus scribendi. Assim, quando há um lapso na escrita, um erro de
cálculo, admite-se interpretação corretiva. Contudo, note-se que a correção de
um erro manifesto pode entroncar na ab-rogação sistemática.
Não correspondendo propriamente à interpretação corretiva, podem admitir-se
valorações interpretativas, decorrentes do espírito do sistema, desde que estas
encontrem amparo no elemento teleológico da interpretação.
Verificada a existência de uma lacuna e atendendo à proibição de non liquet (art.º 8/1),
o intérprete aplicador terá de proceder à integração da lacuna (art.º 10).
Ainda que haja esporádica e específica previsão de regras sobre integração de lacunas,
o regime geral da integração de lacunas, nos diferentes ramos do direito, consta do CC.
2. Classificação de lacunas
Lacuna aparente –percorrido o processo interpretativo, conclui-se que a solução para o
caso concreto se encontra, por remissão, noutro regime o que indiretamente se resolve
a questão por via de critérios indicados, nomeadamente por aplicação da equidade.
Sendo aparente, a lacuna não carece de integração, já que a resolução do caso alcança-
se pela interpretação.
Interessa atender a lacuna que decorre de a lei não previr regulamentação para o caso,
tanto por se tratar de uma lacuna intencional como de lacuna imprevista, em razão da
novidade do caso. É esta lacuna, intencional ou prevista, que carece de integração nos
termos previstos no art.º 10.
Lacuna patente – identificável de imediato.
Lacuna oculta – identificável apenas após um processo de interpretação restritiva da
norma aplicável ou de eventual redução metodológica.
Lacuna da lei stricto sensu – quando a matéria não regulada se encontra omissa no texto
legal em avaliação (e.g. o CC).
Lacuna do Direito – quando a falta de previsão é a nível de todo o ordenamento jurídico.
Lacunas de colisão – lacunas resultantes de uma contradição insanável entre normas
jurídicas, de onde se conclui pela inaplicabilidade das regras em conflito (contradição
esta, geralmente decorrente da perspetiva teleológica da interpretação).
Lacunas rebeldes – inaplicabilidade da analogia, ou seja, não se consegue resolver o
caso em apreço pela via da integração, mormente pela falta de caso análogo.
3. Integração de lacunas
a) Justificação
A integração de lacunas pode ser feita por meios extra-sistemáticos (e.g. equidade), ou
por processos intra-sistemáticos, mediante o recurso à analogia (art.º 10/1) ou por via
da norma que o intérprete criaria (art.º 10/3).
Para a resolução de questões decorrentes de lacunas recorre-se à integração, prevista
no art.º 10/1. Note-se que, são raros os casos em que os tribunais recorrem ao art.º 10,
dado ao facto da complexidade problemática da integração de lacunas e a analogia não
encontrarem correspondente prática na aplicação do direito.
b) Intervenção legislativa
Não raras vezes, detetado uma lacuna, o legislador intervém, regulando a matéria. É
frequente que as lacunas, salvo as intencionais, sejam colmatadas por intervenção
legislativa, porquanto a existência de uma lacuna corresponde a uma falha de
regulamentação.
Nalgumas áreas jurídicas ocorre um aparente preenchimento de lacunas por avisos,
informações, ordens de serviço, etc. (e.g. em direito fiscal recorre amiúde a despachos
interpretativos com a finalidade de preencher lacunas). É duvidoso que por esta via se
possam efetivamente preencher lacunas, ainda que o ato possa ter um valor e
humorístico, como auxiliar interpretativo.
c) Poder discricionário
São, ainda hoje, usuais, remissões para um órgão administrativo, tendo em vista
preencher lacunas da lei. Sem prejuízo das dúvidas de legalidade quando vou ser
conferido a um órgão administrativo o poder de integrar lacunas da lei, por contrariar o
princípio da separação de poderes, a tomada de decisão da entidade, mesmo que se
entenda que não tem o valor de integração de uma lacuna da lei, terá relevo
hermenêutico.
Também surgem lacunas nas relações contratuais e para a eventualidade de não haver
regra legal supletiva, caso em que se concluiria pela existência de lacuna, pode estar
previsto um modo de colmatar a lacuna contratual (e.g. é usual provirem estatutos de
associações que as dúvidas são resolvidas por decisão do presidente da direção). Em tal
caso, está determinado o modo de preenchimento da lacuna, não sendo necessário
recorrer a um processo de integração.
A integração de lacuna por via da intervenção de entidade com poder para tal, não
assenta na pura discricionariedade, pois o preenchimento da lacuna deve atender a
diretrizes básicas, mormente, como se indica no art.º 10/3, ao espírito do sistema.
4. Analogia
a) Identidade e critérios identificadores
Por via da analogia pretende-se tratar de modo igual casos semelhantes (art.º 10),
utilizando por argumento o princípio da igualdade. deste modo, verificando-se a
existência de uma lacuna, o caso para o qual não se encontra regra que o solucione deve
ser resolvido de modo idêntico ao que ocorreria noutros casos com similitudes.
Contudo, para proceder à integração das lacunas da lei, importa considerar critérios que
justificam a analogia.
O primeiro critério é que se atende para a integração, previsto no art.º 10/2 virgula
recorre às mesmas razões justificativas da regulamentação legal, apesar de a situação
ser diversa. Tem de haver diversidade para haver lacuna, mas alguma similitude para se
poder recorrer à analogia. No fundo, como indicar, só há lacunas e o caso concreto for
diverso daquele que a regra se aplica, caso contrário, a solução encontrar-se-ia por via
da interpretação, nomeadamente a interpretação extensiva. Havendo total semelhança,
o caso inclui-se na regra e esta aplica-se diretamente só por via da interpretação.
Perante a diversidade factual e ausência de previsão de regra aplicável, já detetada pela
interpretação, há que apurar se o caso análogo é idêntico ao caso decidendi.
Apesar da diversidade, que justifica a existência de uma lacuna, têm de existir suficiente
semelhança que permita a analogia. A semelhança em causa pode ser determinada por
um núcleo fundamental que a identifica os dois casos.
Nos termos do art.º 11, as regras excecionais não comportam aplicação analógica. Na
medida em que a solução excecional contraria a regra geral num campo de aplicação
específico, suscita óbvias dúvidas de justificação do recurso à analogia, essencialmente
relacionadas com a identidade das situações (e.g. atentar excecionalidade da
responsabilidade sem culpa, art.º 483/2 a responsabilidade objetiva referente a veículos
de circulação terrestre, art.º 503, não deve ser aplicável a outro tipo de veículos).
A regra excecional tem em vista um grupo limitado de casos, com contornos
particulares, pelo que, em princípio, não haverá identidade com o caso concreto (e.g. se
há um regime geral de construção na cidade de Lisboa e um regime diferentes ou
aplicável à construção na baixa pombalina, este regime excecional não é aplicável por
analogia), salvo se o caso omisso manifestar identidade com as especialidades
constantes do referido regime excecional, que pode ser complexo.
No art.º 7 do Decreto-Lei n.º 202/98 de 10 de julho, por vezes a responsabilidade civil
do navio, podendo a demanda ser intentada contra a coisa, ora, esta é, obviamente,
uma regra excecional com origem histórica, sabendo que a responsabilidade civil é
direcionada tão-só a pessoas. A solução constante do citado preceito não comporta
aplicação analógica, porque a ratio legis do preceito não encontra similitude com aviões
ou automóveis (esta é uma regra excecional que tem em conta unicamente aquela
hipótese, não se justificando a aplicação a casos análogos).
A proibição justifica-se porque a regra excecional constitui ius singulare (ou seja, não
corresponde a uma excecionalidade aparente, pois contraria uma regra geral
informadora do sistema jurídico; e.g. como no exemplo da responsabilidade do navio,
que se opõem um princípio geral nos termos do qual são as pessoas são responsáveis,
mas, pese embora a excecionalidade da regra, pode questionar-se se será aplicável a
outras impressões não qualifica como navios, sendo que, mesmo que a resposta seja
positiva, pode ancorar-se na interpretação extensiva).
c) Proibição de analogia
Na medida em que, por analogia, se aplica uma regra a um caso concreto que não se
encontra no âmbito da previsão dessa regra, essencialmente por motivos de segurança
jurídica, estabelecem-se algumas limitações quanto ao recurso à analogia.
Pode haver uma proibição genérica de recurso à analogia, assim, no direito penal
impede se o recurso à analogia no que respeita às regras incriminatórias (regras que
identificam crimes, que determinam estados de perigosidade ou que prescrevem penas
ou medidas de segurança).
Em determinadas áreas jurídicas onde se determina um regime de tipicidade, limita-se
o recurso à analogia. A limitação esta via decorre da tipologia aberta ou a uma
enumeração exemplificativa, a analogia não é restringida. Assim, em direito fiscal, com
uma ratio não muito distinta das regras penais, não se admite o recurso à analogia.
Havendo tipicidade, em princípio, não pode aplicar-se na logicamente a solução prevista
para determinada situação típica a outra análoga (e.g. art.º 204). Contudo, não está
vedado que algumas regras das relações de vizinhança se apliquem a situações não
enquadráveis no âmbito de direitos reais (e.g. no que toca ou uma relação de vizinhança
entre concessionários ou utilizadores de barracas de praia). De igual modo, ao prever-se a
tipicidade das sociedades comerciais, não obsta à aplicação analógica de regras das
sociedades anónimas às sociedades por quotas e vice-versa.
A proibição de analogia existe igualmente em relação a regras excecionais, porquanto a
analogia basear-se-á na regra geral e não na excecional.
A analogia constitui uma via para demonstrar a plenitude do sistema jurídico. Sistema
este que tem regras e princípios e, não estando a questão concreta regulada
expressamente, retira-se a solução de princípios plasmados em regras jurídicas.
A analogia implica sempre uma valoração e, sendo um processo valorativo, há que
atender a regras e princípios jurídicos. Daí que a fronteira entre analogia legis e analogia
iuris pode ser ténue, já que na analogia legis também se atende a princípios jurídicos
(embora uma analogia iuris fundada exclusivamente em princípios jurídicos, sem
amparo na lei, extravase a via da integração, como prevista no art.º 10, criando uma
situação de insegurança jurídica insuportável).
e) Razões de equidade
As razões de identidade para o recurso à analogia surgem mencionadas no art.º 10/2,
como razões justificativas da regulamentação do caso previsto na lei. As referidas razões
justificativas têm de ser ponderadas sob duas perspetivas: factual e valorativa.
Deste modo, há que apurar da existência de uma similitude factual entre o caso omisso
e o que se encontra na previsão da regra. Por um lado, cabe verificar se há uma
identidade de valorações, i.e., se a ratio legis da regra que se pretende aplicar por
analogia se enquadra valorativamente no caso omisso (é esta razão, denominada por
fator teleológico, a mais significativa para analogia).
Neste processo de integração da lacuna recorrendo a razões de identidade, ter-se-á de
partir do sistema jurídico, preconizando a sua unidade, no já mencionado pensamento
sistemático.
O caso omisso tem de ser semelhante, do ponto de vista factual e teleológico, o que está
regulado e cuja regra se pretende aplicar por analogia ao primeiro (e.g. o transporte
marítimo, previsto no Código Comercial, tem similitude com o transporte aéreo –
inexistente a data de aprovação do diploma –, pelo que as regras do transporte
marítimo, inicialmente aplicaram se, por analogia, ao transporte aéreo).
Como, em última análise a lacuna será preenchida pela norma que o intérprete criaria,
RM, conclui pela existência da plenitude do ordenamento jurídico, em que todos os casos
têm solução, direta ou indireta, no sistema jurídico. Isto não significa que não haja
lacunas e que o sistema jurídico seja pleno, mas estão criadas as vias para se encontrar
uma solução tendo em vista resolver todos os casos concretos. No fundo, sem prejuízo
de haver lacunas, que são inevitáveis, há mecanismos jurídicos para, dentro do espírito
do sistema, resolver os casos concretos. A alusão ao espírito do sistema remete para o
pensamento sistemático.
c) Retroatividade
a. Noção
Como princípio, vale a não retroatividade da lei, que tutela, especialmente, dois valores:
a segurança jurídica e a tutela da confiança, tal como defende Baptista Machado.
Mas a não retroatividade tem igualmente uma justificação pragmática. Na medida em
que a regra jurídica, usualmente, impõe uma conduta, só pode fixar um comportamento
a realizar no futuro.
A retroatividade implica um novo regime jurídico afeta a validade dos factos ocorridos
anteriormente, colidindo com os efeitos jurídicos produzidos, antes da alteração
jurídica. O princípio da não retroatividade, permite, em contrapartida, a aplicação do
novo regime a situações constituídas no passado que perdurem a data da entrada em
vigor deste novo regime.
Valendo o princípio da não retroatividade (tempus regit actum), nada obsta a que se
tenha fixado efeito retroativo a uma lei (art.º 12/1, 2º parte), e, por exemplo, no caso
de uma lei interpretativa prescreve-se a retroatividade (art.º 13/1). Ao abrigo da
autonomia privada, nada obsta a que os interessados, salvaguardando interesses de
terceiros, regulem situações jurídicas com efeito retroativo.
A lei nova que se aplicar a um facto ocorrido (atropelamento) ou a um efeito já
produzido (compensação de créditos) é retroativa.
A não retroatividade constitui o respeito pelos factos passados sem pôr em causa que,
no presente, não devem permanecer estatutos diferenciados, sob pena de
desigualdade. Não é defensável, ao abrigo do princípio da não retroatividade, manter a
aplicação da lei antiga, sobrevivência, a todas as situações que tiverem a sua origem no
passado, durante a vigência do anterior regime jurídico.
Seria absurdo que, em situações jurídicas duradouras, fossem aplicáveis
simultaneamente vários regimes que se sucederam no tempo, atendendo à data da
Constituição de cada direito.
Por outro lado, seria inadequado a sobrevivência de regimes anteriores, porquanto
constituiria fonte de desigualdades não permitindo a conformação das situações
jurídicas antigas às novas realidades jurídico-económicas.
A não retroatividade implica que a lei só dispõe para o futuro, portanto, os factos
ocorridos e os efeitos jurídicos, desde que verificados o domínio da lei anterior, não são
postos em causa.
O princípio da não retroatividade é, por vezes, encarado na perspetiva da defesa dos
direitos adquiridos, segundo o professor Oliveira Ascensão e Batista Machado.
Pese embora o principio da não retroatividade, são múltiplas as intervenções legislativas
em que se estabelecem soluções retroativas, tendo o legislador, durante o estado de
emergência decorrente da pandemia, sido prolixo a prever a aplicação retroativa de
regimes.
Nestes causos, a retroatividade pode resultar da distinção entre a entrada em vigor e
produção de efeitos, determinando-se que esta ocorre antes daquela. Além dos efeitos
retroativos, por se determinar uma produção de efeitos com data anterior à da entrada
em vigor do diploma, surgem igualmente situações de Retroconexão, determinando que
os pressupostos de aplicação de um regime se reportam a factos constituídos ao abrigo
de legislação anterior.
b. Tipos de retroatividade
É comum atender-se a três níveis de retroatividade, a retroatividade normal, gravada e
extrema.
A retroatividade normal encontra-se prevista no art.º 12/1, 2º parte ressalvando os
efeitos já produzidos na situação jurídica ao abrigo do anterior regime jurídico. Nos
termos deste preceito, aplica-se o novo regime a situações jurídicas que seriam
regulados pela lei antiga, ressalvando os efeitos já produzidos.
Será agravada a retroatividade que não respeito o limite do art.º 12/1, 2º parte, sem,
contudo, colidir com efeitos produzidos e objeto de decisão com trânsito em julgado. A
retroatividade é agravada na medida em que não são ressalvados os efeitos já
produzidos. Assim, a retroatividade consagrada no art.º 13/1 (lei interpretativa) é, neste
sentido, agravada, ou, como tem sido usual.
Por último, na retroatividade de grau máximo ou extrema não seria respeitado o efeito
já produzido e decidido definitivamente ou relativamente ao qual já tivessem decorrido
os prazos de caducidade ou de prescrição.
c. Limites à retroatividade
Apesar de o princípio da não retroatividade admitir exceções, podendo prescrever-se
que novo regime regula factos e efeitos passados, há limites constitucionais.
Em primeiros lugar, nos termos do art.º 18/3 quanto a leis restritivas de direitos,
liberdades e garantias determina-se que não podem ter efeitos retroatividade.
Em segundo lugar, a lei penal incriminatória não pode ser retroativa, tendo em conta a
regra nullum crimem sine lege (art.º 29, nº1 e 3 CRP). Em contrapartida, no âmbito penal
Daqui decorre que só é adquirido o direito subjetivo depois de constituído numa esfera
jurídica. Assim, antes do decurso do correspondente prazo e de ter sido invocado o
usucapião, o possuidor não adquiriu o direito de propriedade.
Há que verificar-se na situação concreta, os benefícios consignados no plano de pensões
abstraem-se ou não do facto que lhes deu origem. Em suma, é o próprio plano de
pensões que define em que circunstâncias há direitos adquiridos, pelo que a solução
legal é formal, tendo de se encontrar a solução no regime comum (art.º 12).
Antes do direito subjetivo se encontrar constituído numa esfera jurídica pode haver uma
expectativa de que, no futuro, se venha a constituir, passando a direito adquirido. Sendo
a situação jurídica de formação sucessiva, pode haver uma expectativa de que o efeito
jurídico se vem a produzir. A expectativa assenta numa previsão de futuro aquisição do
direito ou de manutenção da situação jurídica, por exemplo, o possuidor tem a
expectativa de, decorrido o prazo de usucapião, a poder invocar, e, assim, adquirir o
correspondente direito real. As expectativas jurídicas, ainda que tuteladas, podem não
valer perante outros valores do sistema, daí que as expectativas sejam muitas vezes
frustradas pela entrada em vigor de um novo regime jurídico que não tem de as garantir,
podendo dispor de modo diverso do que o anterior previa.
A segurança jurídica e a proteção da confiança que lhe é inerente impõem a tutela de
situações jurídicas, mas o âmbito de tal tutela tem de diferir em função da confiança
que a situação jurídica permite deduzir. Com efeito, sendo a expectativa uma previsão
de ver a adquirir o direito ou de manter a situação jurídica, não é tutelada pelo princípio
de não retroatividade, pelo que o novo regime não tem de a garantia, podendo dispor
de modo diverso do que anteriormente se previa.
Não obstante as expectativas, contrariamente aos direitos adquiridos, não podem ser
invocadas, no sentido de conferirem ao titular uma posição jurídica de vantagem, há
que atender à tutela da confiança que emerge de uma situação jurídica. Dito de outro
modo, a alteração de regimes jurídicos, não está condicionada por expectativas, mas
encontra-se imitada por um princípio de tutela da confiança. A tutela de confiança
decorre de um princípio de estabilidade e segurança da ordem jurídica, dando cobertura
legal à legítima previsibilidade na continuação de situações jurídicas.
A tutela de confiança não inviabiliza a introdução de necessários ajustamentos,
impostos nomeadamente para adaptação a novas condicionantes socioeconómicas.
Na ordem jurídica portuguesa, a tutela dos direitos adquiridos em caso de sucessão
temporal de regimes jurídicos, tendo em conta a sua imprecisão, é normalmente
explicitada com base na teoria dos factos passados e dos efeitos jurídicos já produzidos.
Daí que a tutela dos direitos adquiridos explique de forma mais precisa recorrendo à
teoria dos factos passados, distinguindo factos efeitos jurídicos, como se prevê no art.º
12.
e. Facto passado
No art.º 12 optou-se por seguir a teoria do facto passado. Nada se prescrevendo quanto
ao efeito retroativo do novo regime, a regra será a de que este não afeta os factos e
f. Retroconexão
A retroconexão encontra-se implicitamente referenciada no art.º 12/1, 1º parte, na
ampla admissão de eficácia retroativa. A retroconexão corresponde a um modo
específico de conferir retroatividade a um regime legal e, deste modo, está sujeita aos
limites constitucionais previstos para a lei retroativa.
Atendendo à aplicação imediata da lei nova, o decorrer do novo regime que este se
aplica a factos que têm pressupostos anteriores à sua vigência. No fundo, ainda que se
preveja a aplicação para o futuro, quanto ao âmbito e aplicação da lei nova relevam
factos ocorridos antes da sua entrada em vigor.
e) Regimes especiais
a. Lei interpretativa
No caso da lei interpretativa prescreve-se a retroatividade (art.º 13/1). A lei
interpretativa é retroativa, pois atua sobre factos ocorridos na vigência da lei
interpretada e que antecederam a entrada em vigor daquela, com salvaguarda do caso
julgado e de efeitos já produzidos.
Mesmo que se entendesse que a lei interpretativa se limita a corrigir uma falha da lei
interpretada, a retroatividade não é puramente formal, pois seria uma ficção entender-
se que, afinal, o sentido correto sempre fora o fixado pela lei interpretativa.
A retroatividade da lei interpretativa resulta de se ter estabelecido um novo
entendimento, que se pretende integrar na lei interpretada (art.º 13/1, 1º parte)
ficando, porém, ressalvados os efeitos já produzidos em quatro hipóteses: cumprimento
da obrigação; sentença transitada em julgado; transação; atos análogos.
A construção mencionada assenta no pressuposto da lei interpretativa não ser
inovadora, só assim se compreende que se entregue na lei interpretada. Contudo a lei
interpretativa, ainda que de modo imitado, pode comportar alguma inovação,
principalmente quando fixa um sentido não expectável para a lei interpretada, atentos
os elementos da interpretação.
b. Alteração de prazos
Há ainda o regime especial de aplicação da lei no tempo referente a prazos.
O art.º 297 estabelece regras especial para a eventualidade de sucessão de regimes
jurídicos com distintos prazos. O regime legal aplica-se a prazos em curso e distingue-se
as situações em que o prazo foi reduzido daquelas em que houve aumento de prazo. Em
qualquer caso, o novo regime aplica-se imediatamente aos prazos que estejam em
curso.
No primeiro caso, encurtamento do prazo, o novo prazo só se conta a partir do início do
início de vigência do novo regime, exceto se, atendendo ao anterior prazo, faltar período
inferior para o respetivo termo (art.º 297/1).
Na segunda hipótese, alargamento do prazo, o novo prazo aplica-se à situação em curso,
computado o período já decorrido (art.º 297/2).
Este regime de sucessão temporal de prazos vale igualmente para o caso de prazos
fixados pelos tribunais ou por qualquer outra entidade (art.º 297/3).
Poder-se-ia questionar se o regime previsto no 297 vale igualmente em relação a prazos
fixados por acordo ou resultantes de regime estatutário. Na medida em que, ao abrigo
da autonomia privada, as partes fixaram prazos convencionais, distintos dos legais, a
alteração legislativa, em princípio, não os afeta. Mas se as partes remetem para o regime