1 – Considerações gerais. Marco filosófico e contexto histórico.
O Pós-positivismo jurídico e a redemocratização brasileira. Constitucionalismo
do Pós-guerra.
2 –Fundamentos teóricos.
Segundo BARROSSO, são estes:
a) o reconhecimento de força normativa à Constituição – Reconhecimento da
imperatividade das normas constitucionais;
b) a expansão da jurisdição constitucional – Controle de constitucionalidade;
c) o desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional –
especificidades das normas constitucionais( cláusulas abertas e os conceitos jurídicos indeterminados) e o papel dos princípios no sistema de interpretação constitucional.
OBS: Conceitos de princípios: O reconhecimento de normatividade
aos princípios e sua distinção qualitativa em relação às regras é um dos símbolos do pós-positivismo (v. supra). Princípios não são, como as regras, comandos imediatamente descritivos de condutas específicas, mas sim normas que consagram determinados valores ou indicam fins públicos a serem realizados por diferentes meios.
3 – Definição de Neoconstitucionalismo.
Segundo BARROSO, o “neoconstitucionalismo ou novo direito
constitucional, na acepção aqui desenvolvida, identifica um conjunto amplo de transformações ocorridas no Estado e no direito constitucional, em meio às quais podem ser assinalados, (i) como marco histórico, a formação do Estado constitucional de direito, cuja consolidação se deu ao longo das décadas finais do século XX; (ii) como marco filosófico, o pós-positivismo, com a centralidade dos direitos fundamentais e a reaproximação entre Direito e ética; e (iii) como marco teórico, o conjunto de mudanças que incluem a força normativa da Constituição, a expansão da jurisdição constitucional e o desenvolvimento de uma nova dogmática da interpretação constitucional. Desse conjunto de fenômenos resultou um processo extenso e profundo de constitucionalização do Direito.“ Desse conjunto de fenômenos resultou um processo extenso e profundo de constitucionalização do Direito. O que isso significa?
BARROSO explica o fenômeno da constitucionalização do Direito e seus
mecanismos de atuação prática da seguinte forma:
“A idéia de constitucionalização do Direito aqui explorada está
associada a um efeito expansivo das normas constitucionais, cujo conteúdo material e axiológico se irradia, com força normativa, por todo o sistema jurídico [29]. Os valores, os fins públicos e os comportamentos contemplados nos princípios e regras da Constituição passam a condicionar a validade e o sentido de todas as normas do direito infraconstitucional. Como intuitivo, a constitucionalização repercute sobre a atuação dos três Poderes, inclusive e notadamente nas suas relações com os particulares...
(...) A constitucionalização do Direito, como já antecipado, repercute
sobre os diferentes Poderes estatais. Ao legislador e ao administrador, impõe deveres negativos e positivos de atuação, para que observem os limites e promovam os fins ditados pela Constituição. A constitucionalização, no entanto, é obra precípua da jurisdição constitucional, que no Brasil pode ser exercida, difusamente, por juízes e tribunais, e concentradamente pelo Supremo Tribunal Federal, quando o paradigma for a Constituição Federal. Esta realização concreta da supremacia formal e axiológica da Constituição envolve diferentes técnicas e possibilidades interpretativas, que incluem:
a) o reconhecimento da revogação das normas
infraconstitucionais anteriores à Constituição (ou à emenda constitucional), quando com ela incompatíveis;
b) a declaração de inconstitucionalidade de normas
infraconstitucionais posteriores à Constituição, quando com ela incompatíveis;
c) a declaração da inconstitucionalidade por omissão, com a
conseqüente convocação à atuação do legislador [59];
d) a interpretação conforme a Constituição, que pode
significar:
(i) a leitura da norma infraconstitucional da forma que melhor
realize o sentido e o alcance dos valores e fins constitucionais a ela subjacentes;
(ii) a declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução
do texto, que consiste na exclusão de uma determinada interpretação possível da norma – geralmente a mais óbvia – e a afirmação de uma interpretação alternativa, compatível com a Constituição [60].”
Segundo Ávila o Neconstitucionalismo compreende: um movimento de
teorização e aplicação do Direito Constitucional que comporta os seguintes aspectos: a) Ponderação com técnica preponderante de aplicação do Direito; b)Primazia da Justiça particular em detrimento da Justiça Geral; c) Protagonismo do Judiciário na ordem política e social brasileira; d) Prevalência da Constituição no plano da interpretação jurídica.
O Mesmo autor dirá que estas pilares do Neoconstitucionalismo correspondem,
respectivamente, ao que denominou de aspectos: a) normativo, b) metodológico, c) axiológico e d) organizacional
4 – A interpretação do Direito e a distinção entre regras e princípios.
Uma questão preliminar.
Definição de princípios: “Princípios não são, como as regras, comandos
imediatamente descritivos de condutas específicas, mas sim normas que consagram determinados valores ou indicam fins públicos a serem realizados por diferentes meios.”
ANA BARCELLOS faz didática compilação dos sete critérios mais comumente propostos pela doutrina para esse fim:
"(a) O conteúdo. Os princípios estão mais próximos da ideia de valor e de
direito. Eles formam uma exigência da justiça, da eqüidade ou da moralidade, ao passo que as regras têm um conteúdo diversificado e não necessariamente moral. (...) (b) Origem e validade. A validade dos princípios decorre de seu próprio conteúdo, ao passo que as regras derivam de outras regras ou dos princípios. (...) (c) Compromisso histórico. Os princípios são para muitos (ainda que não todos), em maior ou menor medida, universais, absolutos, objetivos e permanentes, ao passo que as regras caracterizam-se de forma bastante evidente pela contingência e relatividade de seus conteúdos, dependendo do tempo e lugar. (d) Função no ordenamento. Os princípios têm uma função explicadora e justificadora em relação às regras. (...) (e) Estrutura lingüística. Os princípios são mais abstratos que as regras, em geral não descrevem as condições necessárias para sua aplicação e, por isso mesmo, aplicam-se a um número indeterminado de situações. Em relação às regras, diferentemente, é possível identificar, com maior ou menor trabalho, suas hipóteses de aplicação. (f) Esforço interpretativo exigido. Os princípios exigem uma atividade argumentativa muito mais intensa, não apenas para precisar seu sentido, como também para inferir a solução que ele propõe para o caso, ao passo que as regras demandam apenas uma aplicabilidade, na expressão de Jossef Esser, ‘burocrática e técnica’. (g) Aplicação. As regras têm estrutura biunívoca, aplicando-se de acordo com o modelo do "tudo ou nada", popularizado por Ronald Dworkin. Isto é, dado seu substrato fático típico, as regras só admitem duas espécies de situação: ou são válidafs e se aplicam ou não se aplicam por inválidas. Uma regra vale ou não vale juridicamente. Não são admitidas gradações. Como registra Robert Alexy, ao contrário das regras, os princípios determinam que algo seja realizado na maior medida possível, admitindo uma aplicação mais ou menos ampla de acordo com as possibilidades físicas e jurídicas existentes. Estes limites jurídicos, que podem restringir a otimização de um princípio, são (i) regras que o excepcionam em algum ponto e (ii) outros princípios opostos que procuram igualmente maximizar-se, daí a necessidade eventual de ponderá-los. Desenvolvendo esse critério de distinção, Alexy denomina as regras de comando de definição e os princípios de comandos de otimização" [12].
4.1 – A intepretação jurídica. Premissas e quadro comparativo1:
A interpretação jurídica tradicional desenvolveu-se sobre duas grandes
premissas:
(i) quanto ao papel da norma, cabe a ela oferecer, no seu
relato abstrato, a solução para os problemas jurídicos; (ii) quanto ao papel do juiz, cabe a ele identificar, no ordenamento jurídico, a norma aplicável ao problema a ser resolvido, revelando a solução nela contida. Vale dizer: a resposta para os problemas está integralmente no sistema jurídico e o intérprete desempenha uma função técnica de conhecimento, de formulação de juízos de fato. No modelo convencional, as normas são percebidas como regras, enunciados descritivos de condutas a serem seguidas, aplicáveis mediante subsunção [20].
O modelo neoconstitucionalista considera as seguintes premissas:
(i) quanto ao papel da norma, verificou-se que a solução dos problemas jurídicos nem sempre se encontra no relato abstrato do texto normativo. Muitas vezes só é possível produzir a resposta constitucionalmente adequada à luz do problema, dos fatos relevantes, analisados topicamente; (ii) quanto ao papel do juiz, já não lhe caberá apenas uma função de conhecimento técnico, voltado para revelar a solução contida no enunciado normativo. O intérprete 1 MARANHÃO. Nei. https://jus.com.br/artigos/13387/o-fenomeno-pos-positivista torna-se co-participante do processo de criação do Direito, completando o trabalho do legislador, ao fazer valorações de sentido para as cláusulas abertas e ao realizar escolhas entre soluções possíveis.
Nesta linha se apresentam os seguintes quadros:
Com efeito, no positivismo( aqui considerado como base teórica
da forma convencional de se conceber a interpretação jurídica) :
i) o intérprete há de ter uma postura neutra, apenas extraindo o
sentido já embutido no enunciado legal; ii) o sistema jurídico é visto como fechado/completo, marcando-se pela unidisciplinariedade; iii) dá-se a supremacia da lei (foco no texto legal – prevalência da lex), destacando-se a normatividade das regras; iv) trabalha-se no âmbito do ser/dever ser; v) a interpretação se dá in abstracto, ocorrendo a inconstitucionalidade da norma, esta encarada como objeto da interpretação (o preceito normativo é o ponto de chegada – o fato concreto não é valorizado); vi) reina na hermenêutica o método subsuntivo/silogístico (ciência), com predomínio do valor segurança; vii) há rigidez na separação funcional do poder; viii) o papel do juiz é passivo, na função de mero reprodutor da lei (o juiz descreve a realidade).
Já no pós-positivismo( Aqui tomado em sua semelhança com o
neoconstitucionalismo):
i) o intérprete há de ter uma
postura construtiva, atribuindo sentido ao enunciado legal; ii) o sistema jurídico é visto como aberto/complexo, marcando-se pela interdisciplinariedade; iii) dá-se a supremacia da Constituição (foco no contexto fático- jurídico – prevalência do jus), destacando-se a normatividade dos princípios; iv) trabalha-se no âmbito do poder ser [23]; v) v) a interpretação se dá in concreto, ocorrendo a possibilidade de inconstitucionalidade dos efeitos da norma, esta encarada como resultado da interpretação (o preceito normativo é o ponto de partida – o fato concreto é valorizado) [24]; vi) reina na hermenêutica o método ponderativo (prudência), com predomínio do valor justiça; vii) há flexibilidade na separação funcional do poder; viii) o papel do juiz é ativo, na função de verdadeiro produtor do direito (o juiz transforma a [25] realidade) . 4.2 A intepretação jurídico-constitucional e o fenômeno da colisão entre normas constitucionais.( nas suas mais variadas formas).
“ A existência de colisões de normas constitucionais, tanto as de
princípios como as de direitos fundamentais [23], passou a ser percebida como um fenômeno natural – até porque inevitável – no constitucionalismo contemporâneo. As Constituições modernas são documentos dialéticos, que consagram bens jurídicos que se contrapõem. Há choques potenciais entre a promoção do desenvolvimento e a proteção ambiental, entre a livre-iniciativa e a proteção do consumidor. No plano dos direitos fundamentais, a liberdade religiosa de um indivíduo pode conflitar-se com a de outro, o direito de privacidade e a liberdade de expressão vivem em tensão contínua, a liberdade de reunião de alguns pode interferir com o direito de ir e vir dos demais [24]. Quando duas normas de igual hierarquia colidem em abstrato, é intuitivo que não possam fornecer, pelo seu relato, a solução do problema. Nestes casos, a atuação do intérprete criará o Direito aplicável ao caso concreto.”
4.3 Compreendendo a técnica da ponderação. Considerações
gerais e aplicabilidade.
“A fórmula da ponderação deve respeitar três postulados: a
proporcionalidade, a razoabilidade e a adequação. Aplicar estes postulados não se resume a apenas citá-los na decisão. Estes são, assim, os três elementos da estrutura analítica da ponderação. Para Alexy, “as máximas da necessidade e da adequação decorrem da natureza dos princípios como mandamentos de otimização em face das possibilidade fáticas de sua concretude” (2008, p. 116), enquanto a ponderação em sentido estrito surge “do fato de princípios serem mandamentos de otimização em face das possibilidades jurídicas”. (2008, p. 118)( http://www.revistas.unifacs.br/index.php/sepa/article/viewFile/2825/2055
5- Neocosntitucionalismo. Análise crítica a partir da perspectiva de
Humberto Ávila.
5. 1 – Crítica ao fundamento normativo. Neste particular, (i) umas das críticas
é direcionada à prevalência irrestrita e incondicional dos princípios sobre as regras. (ii) A outra refere-se à concepção de constituição principiológica.
5.2 Crítica ao fundamento metodológico: (i) A utilização da técnica
metodológica conduz ao anti-escalonamento do sistema jurídico, desestruturando sua complexa rede hierárquica de normas superiores e normas inferiores; (ii) Enfraquecimento do valor das regras na aplicação do Direito, comprometendo, assim, o princípio da democracia do ordenamento jurídico; (iii) Subjetivismo judicial na aplicação da Lei e consequente perda do caráter heterolimitador do Direito.
5.3 Crítica ao fundamento axiológico. (i) Crítica à moralização do Direito e
a arbitrariedade judicial daí decorrente.
5.4 Crítica ao fundamento organizacional. (i) Crítica à prevalência do Poder
Judiciário sobre o Poder Legislativo no que se refere à fenômeno da “produção” do direito positivo.