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Filipa Sá
1ª aula
28/10/2020
CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
Ao que nos propomos, no curso, vamos tratar do modus operandi dos vários
operadores jurídicos: o juiz, o jurista dogmático, o legislador, o jurista advogado, o
jurista adminitrativo…todos eles têm um certo modo de proceder.
Estaríamos assim a optar por uma metodologia jurídica global. Na verdade, nós
vamos focar a nossa atenção apenas num operador: o juiz.
O que vamos tentar perceber aqui são quais são os passos que o juiz deve dar
desde o confronto inicial com o caso, que é o prius, até à prático-normativamente
adequada realização do mesmo. - Pois é aqui que o direito se concretiza
autonomamente como exigência de sentido
Odos - o caminho; a via; o percurso que o juiz fará até atingir a meta. Ou seja: o
caminho que o juiz vai seguir, vai ser já orientado por exigências de sentido (meta)
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O método jurídico afirmou-se como autentico paradigma no sec XIX, por influência
do pensamento iluminista e da passagem para a modernidade. Todo o acto pré-
moderno.
Este método foi ultrapassado, já não sendo um paradigma. Vão surgir muitas
teorias que recuperam mts características formais do direito (perspectivas
formalistas) e dentro destas há uma multiplicidade de divisões e, ao lado destas, há
teorias ???
Existe então uma fragmentação das perspectivas. Nós vamos dar apenas 1 delas.
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Ao introduzir a nota "nomos", PINTO BRONZE pressupõe a dialetica entre
validade comunitária e metodologia jurídica. O que está aqui em causa é uma
concepção do nomos operandi, precisamente aquela que lhe atribui a identidade
de um decisório juízo concreto. Ele acentua que as exigências se realizam sempre
em concreto. É com o confronto com os casos reais da vida, únicos e irrepetíveis,
que estão criadas condições para se afirmar a autonomia do direito e realizar as
exigências de validade. E isto não é possível noutros modos de criação de direito.
Por ex, a lesgislaçao serve de instrumento aos programas políticos que o estado
social quer efectivar na prática. Ele ACENTUA A DIALÉTICA permanente entre
SISTEMA E PROBLEMA: entre validade comunitária e metodologia jurídica.
UMA CONVERGÊNCIA DIALÉTICA. Têm de converger e integrarem-se. Aparecem
sempre como 2 momentos; 2 faces inseparáveis da emergência do jurídico. A
MEDIAÇÃO desta dialética é feita pelo JUÍZ.
Possibilidades de relação:
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2ª aula
04/11/2020
CONCEPÇÃO JURISPRUDENCIALISTA
É por vezes criticada por afunilar a metodologia apenas à tarefa do juiz. Mas
entende-se que é este o espaço de garantia de autonomia e de desenvolvimento do
direito; é na realização de casos concretos que o dt se realiza e se desenvolve; é
através da actividade do juiz.
Já vimos que se rejeita a metodologia jurídica global, que inclui outros modus
operandi para alem do do julgador.
…???
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Proposta de HAYECK:
Por outro lado, não podemos ignorar uma estrutura espontânea e complexa: o DT
COMO NOMOS. E que, inevitavelmente, vai introduzindo resistências às soluções
que aparecem na lesgislaçao, na sua dinâmica estratégica. É uma lógica de tradição
de práticas estabilizadas, que não admitem qq transformação ou ruptura.
Ele trata o dt como nomos de uma perspectiva pobre, pois considera essas
aspirações e valores pensados a partir de uma ordem de liberdade de mercado.
Acaba por ser uma compreensão REDUTORA do nomos, ligados a ideais neo
liberais.
3ª aula
11/11/2020
Dt como nomos de Haeck - visão mt redutora. Os valores são pensados todos sob
uma ordem de mercado, ligando-os a um ideal liberal/neoliberal.
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autonomizar a tarefa do julgador, pois é na resolução dos casos concretos que se
cria o direito.
Direito apenas aparece autonomizado em Roma, não com Aristóteles, pois não se
sentiu essa necessidade. Contudo, a reflexão que os gregos fizeram sobre a ideia de
justiça foi fundamental para a construção do depois designado como IUS.
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Vamos convocar as virtudes intelectuais, ligadas a razão. convocadas por
Aristóteles - livro VI. - "ética anicome»"
Cada tipo de virtude vai mobilizar razoes diferentes. Não estamos no campo das
virtudes morais.
Podemos fazer uma distinção entre 3 virtudes, que aparecem num pla o superior, e
2 abaixo. As que aparecem acima da linha, são a SOPHIA, nous, e EPISTEME e têm a
ver com as coisas que não mudam; que são constantes e universais.
SOPHIA - virtude da contemplação metafísica; das realidades que estão para alem
da física. Que realidades são essas? As dos valores: entidades metafísicas,
susceptíveis de serem contempladas.
EPISTEME - virtude que tem a ver com aquilo que designamos hoje por ciência.
Tem a ver com a descrição dos fenómenos observáveis, nas suas relações de
constância e universalidade.
Tipos de Racionalidade
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Abordamos o jusracionlismo moderno
RACIONALIDADES TEORÉTICAS:
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raciocínios, as verdades que se relacionam entre si, constituindo um sistema
(WOLVE)
O PARADIGMA DA APLICAÇÃO
Aqui, o juiz tinha, em 1º lugar, de partir de uma premissa maior. Que premissa
maior? A norma na sua estrutura hipotético-condicional e características de
generalidade e abstraçao. Que prevê um tipo de problema na hipótese e lhes
responde, na estatuição. A norma já está interpretada em abstracto – ainda sem
qq referencia ao caso. Pq se se admitisse mais de uma interpretação para esta
norma, teríamos esquemas silogístico-subsuntivos diferentes.
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Exemplos: normativismo e positivismo cientifico do sec XIX. A jurisprudência dos
conceitos. Afirmação do paradigma moderno; ruptura com a visão que acabámos
de abordar no contexto pré-moderno. Até aqui, pensamento jurídico e dt estavam
unidos no plano das intenções; partilahavam-nas: intenções de justiça. O dt nasce
como uma tarefa prática de resolução de controvérsias. Com a ruptura moderna,
há uma cisão completa entre direito e pensamento jurídico. Não estão
comprometidos, o pensamento jurídico quer conhecer o dt, para tornar o
conhecimento dt o mais compelto possível. Isto é importante pq so estamos em
condições de chegar à premissa maior, com este tratamento analítico que é feito
das normas. Há uma unidade horizontal das normas. Trabalham se os conceitos
que são repetidos nas varias normas, para os conhecer e elaborar outras
semelhantes, etc. Com estes estudos, vai-se conseguir chegar à premissa maior.
Deveria ser uma ciência analítica, construída à imagem das outras ciências. O
objecto seriam as normas, que aparecem num sistema fechado.
HANS KELSEN - teoria pura (no sentido analítico): com recurso directo à lógica
formal. Aqui, a visão mantém se analítica (racionalidade epistémica), mas a
unidade será vertical, uma hierarquia de estrutura em pirâmide, por coerência
sintática (não horizontal). ?? processo de aplicação e produção de direito, sempre
por referência a uma norma fundamental, que estará no topo da hierarquia.
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Funcionalismos materiais – é necessário partir de uma realidade, conhece la e
inserir o dt nessa realidade. “conhece-la” é ter acesso aos conhecimentos que a
ciência da. Na base dos diversos funcionalismos e da sua racionalidade
instrumental e estratégica está aquilo que se designa por CONHECIMENTO
NOMOLÓGICO: é o conhecimento baseado em hipóteses de regularidade geral. Por
isso é que no
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empírico-social do tipo Y. há aqui um saber nomológico de base, necessário para
formolarmos estas perguntas. É o que está na BASE DOS esquemas
finalísticos. Eles têm de ter sempre na sua base informações seguras das ciências.
O juiz vai ter de optar pela alternativa que realize os fins mais eficaz e
eficientemente, com menos custos. O juiz é um JUIZ TÁTICO. Deve optar pela
alternativa de decisão que atinja o fim com menos custos e mais benefícios.
Decisão orientada por uma estratégia, definida pelo legislador, a priori. O juiz
deve ser um colaborar do legislador - verdadeiro PARADIGMA DE DECISAO: o juiz
não é um mero aplicador submetido à lógica formal. Aqui, ele tem autonomia
bastante para tomar uma decisão, diante das várias alternativas que lhe são
apresentadas. No terreno, terá de optar pela que concretizará melhor a estratégia
do legislador.
2/12/2020
Estávamos a falar do risco do tipo de racionalidade finalístico-funcional, sendo o
juiz um tático e o legislador, o verdadeiro estratega. Pode, com isto por-se em
causa o P.Separação de Poderes, nomeadamente se aderirmos à visão do
TELEOLOGISMO TECNOLOGICO DE HANS ALBERT. Este autor, ao propor esta
visão, está a considerar as decisões legislativas, judiciais e administrativas decisões
SEMELHANTES (com a mm índole, ainda que com graduações distintas). Estamos a
por em causa a própria autonomia do dt – estão a instrumentaliza-lo. Temos de
assumir uma postura crítica.
Para além deste tp de racionalidade que aparece como um 3º género, vamos passar
às:
RACIONALIDADES PRÁTICAS:
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inteligibilidade de um horizonte indisponível. Não se pretende um retorno
completo à ideia de transcendência. Faz-se depender a força integradora de um
horizonte normativo das possibilidades reflexivas de um pensamento de
imanência constitutiva. Não vai ser fácil garantir este equilíbrio. Onde é que se vai
encontrar esta validade da prática, se já não podemos contar com a pré-
determinação auto-subsistente que existia no contexto pré moderno.
1. Racionalidade tópico-retórico-argumentativa;
2. Racionalidade hermenêutica (hermenêutica como filosofia);
3. Racionalidade narrativa (Discursos Narrativos).
→ RACIONALIDADE TÓPICO-RETÓRICA:
→PERSPECTIVA ARGUMENTATIVA:
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Portanto, a tópica implica uma argumentação no actuar da sua dialética; supõe-na.
A argumentação implica uma tópica na procura dos próprios argumentos (topoi).
A solução que se dá ao problema deve ser uma resposta que se dá num plano
puramente procedimental? a perspectiva jurisprudencialista diz que não. Embora
reconheça a importância fundamental que esta reabilitação da tópica e da retórica
e da dialetica trouxe para colocar outra vez a tónica no problema. O prius
metodológico para a perspectiva jurisprudencialista é, de facto, o problema.
→ RACIONALIDADE HERMANÊUTICA
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→ RACIONALIDADE NARRATIVA
09/12/2020
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independentemente da controvérsia que lhe deu origem. A controvérsia é
reconduzida a um momento puramente heurístico.
Este modelo corresponde, no fundo, a uma perspectiva semelhante à
perspectiva do discurso cientifico empririco-explicativo.
Assim, não pode ser um regresso puro e simples ao universo pre moderno nem mt
menos a desvalorização da prova cientifica. Sustentam uma concepçao pratico-
prudencial do juízo de prova. Isto significa preservar a intencionalidade dialetica e
a estrutura dialógica que é garantida pela prioridade metódica da controvérsia.
Significa conferir à decisão da controvérsia probatória o desempenho conclusivo
de uma narrativa mas tbm, simultaneamente, de aspirar a uma racionalidade de
um juízo-julgamento. No fim do momento da prova, o juiz tem de estar em
condições de confmar um autentico juízo e não apenas uma decisão. E este juízo
implica uma dialetica entre praticas de realização, por um lado e praticas de
estabilização, por outro. Estas ultimas, encontramo-las no sistema de dt probatório
vigente. Abordar assim o problema da prova permite considerar a controvérsia
prática a partir da perspectiva das narrativas rivais: as controvérsias apresentam 2
narrativas rivais e o juízo decisório da prova deve visar a reconciliação da disputa
entre estas narrativas. Como? Como se garante esta reconciliação? Oferencendo as
palavras ultimas de uma 3ª narrativa: o juiz vai ser o autor desta 3ª narrativa e já
vai ter caracter autoritário. Pq? Pq é a versão conclusiva do que aconteceu. Vai
estabelecer a VERDADE PRÁTICA, q depois é indispensável para mobilizar
correctamente os materiais jurídicos. Para isto, o juiz tem de construir um JUIZO.
Uma decisão fundamentada. Não fundamentada nas convicções pessoais do juiz.
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Qnd consideramos as narrativas das partes e do próprio 3º, há sempre um DUPLA
DIMENSAO que devemos saber reconhecer. Compreendemo la através do
contributo de um autor da semioptica narrativa: the story in the trial and the story
of the trial. BERNARD JACKSON.
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Chegados aqui e admitindo que conseguimos formular o tal juízo probatório,
vamos admitir que a questaoi de facto está solucionada. Terminamos o âmbito da
relevância, vimos qual o território dogmático em causa, formulou-se um juízo no
fim ou seja, a questão de facto está resolvida: temos uma narrativa final a do juiz.
Atenção que estas distinções e momentos não são cronológicos, são PURAMENTE
ANALITICOS. Não existem compartimentos estanques e fechados, que se seguem
cronologicamente.
Questao de Dt em abstracto:
Trata do problema da seleçao do critério legal; da norma hipoteticamente
adequada – nesta seleçao, vamos considerar um confronto de problemas (e não
considerar a identidade de situações, como fazia o método do sec XIX): o problema
do caso e o problema da norma.
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Que circunstâncias podem ser consideradas? As circunstâncias EXEMPLARES; as
circunstâncias típicas. Tbm vamos considerar as circunstâncias DO CASO, que lhe
dão identidade e o tornam único (mas smp circunstâncias jurídicas). Tbm
encontramos circunstâncias IRRELEVANTES. Tbm existem circunstancias
RECONDUZÍVEIS A VÁRIOS TIPOS LEGAIS – problema de 2º grau; de concorrência
entre normas. Por último, temos tbm de ter em conta as circunstâncias ATÍPICAS –
que tornam o caso imprevisto – estes vao nos permitir reconhecer os limites
intencionais da lei= a ideia de que a norma legal é smp um critério geral e
abstracto e o caso é sempre concreto e particular.
Quanto aos momentos da norma, eles devem smp ser considerados na perspectiva
do caso e não na norma isolada. Que momentos são estes? Por um lado, o momento
histórico, o momento problemático e ainda o momento teleológico-sistemático.
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3. Momento teleológico-sistemático: é neste momento que estamos em
condições de entender a opção do julgador. Temos de considerar 2
patamares distintos: a justificação teleológica da decisão e, por outro lado, o
fundamento normativo do juízo. Trata-se de inserir a norma na própria
coerência do sistema, através de 2 patamares possíveis: a norma na sua
teleologia imanente (problematização da ratio legis da norma;
compreender a estratégia que a norma assimilou…) e o 2º patamar: que
muitas vezes entra em tensão com o primeiro. É o patamar da
fundamentação normativa do juízo; tratar a norma no plano da ratio iuris:
perceber se aquela opção legislativa é ou não uma opção plausível na
ordem de validade; é ou não a objectivaçao de um ou mais princípios,
tendo em conta o caso concreto?
Na questão do dt em concreto:
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hipotética da norma estão presentes na relevância material do caso e vice
versa. Prtt, há uma verdadeira assimilação como defende castanheira neves.
NÃO É UMA SUBSUNÇAO. É uma verdadeira ASSIMILAÇAO da relevância
POR CONCRETIZAÇÃO. Porquê “ por concretização”? para acentuar que,
mm existindo esta correspondência, não se resolve o problema através de
uma racionalidade logico dedutiva. Envolve sempre a mobilização de outros
critérios a juízos práticos. Dai ser uma CONCRETIZAÇÃO: vamos mobilizar
critérios, fundamentos, etc, para formular este juízo, nunca apenas uma
racionalidade logico dedutiva. Pode haver uma assimilação total (por
concretização, nunca uma aplicação lógico-dedutiva). Mas pode haver
apenas uma ASSIMILAÇAO PARCIAL, qnd encontramos determinados
elementos de relevância material da norma que não estão presentes no caso
ou vice versa. Esta assimilação parcial envolve várias possibilidades, ao
nivel dos resultados da interpretação. Por um lado:
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saber se ela podia ou não receber uma pensão de sobrevivência, que era
para pessoas casadas e não unidas de facto.
Nota: podemos ainda admitir que a fronteira que é constituída por esta
experimentação da atipicidade, possa ser ela própria SUPERADA – ou seja,
na verdade não estamos perante um caso atípico, mas perante uma
situação NUCLEARMENTE DIFERENTE DAQUELA QUE A NORMA
TIPIFICA, que não permite fazer uma assimilação da relevância do caso
pela norma, não estamos em condições de extrair da norma um critério
para o caso. Assim, teremos de considerar a norma OBSOLETA; SUPERADA.
Resultado da superação por obsolescência. A solução que a norma dá foi
perdendo eficácia ao longo do tempo; hj, por força da passagem do tempo,
já não é eficaz= é uma norma obsoleta. Vamos AFASTAR A NORMA,
superando-a. Poderemos ainda encontrar resposta noutro critério –
voltamos ao princípio. No limite, se não encontrarmos resposta, teremos de
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constituir direito por autónoma constituição normativa (não vamos
aprofundar isto).
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Estes 3 momentos têm de estar sempre em articulação uns com os outros.
Não existe uma separação cronológica.
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