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FDUC – Direito Internacional Privado I

Rosa Azevedo 2018/2019

RESUMOS CONTRATOS DIREITO INTERNACIONAL PUBLICO

(junção das aulas teóricas e praticas do dr. Afonso Patrão)

PARTE ESPECIAL

LEI APLICÁVEL AOS CONTRATOS

Vimos que o problema da lei aplicável aos contratos não esta numa única fonte, mas em três:

1. A fonte primordial é o regulamento Roma 1 (porque veio substituir a convenção Roma 1, aplicável aos
contratos depois de 17 de dezembro de 2009.
2. ARTIGOS 41 E 42 do código civil.

O regulamento Roma 1 pode ser aplicado às relações contratuais entre o Brasil ou Angola com Portugal, a partir do
ARTIGO 2 do regulamento Roma 1.

O regulamento quando é aplicável tem algumas normas sobre a parte geral, em que estabelece soluções próprias.

• ARTIGO 20 do regulamento Roma 1 – solução específica de um problema da parte geral – reenvio, se um


regulamento estiver a mandar aplicar uma lei que a luz do seu DIP não se considere aplicável, temos um
problema de reenvio, no quadro do regulamento aplicamos o seu próprio método que é a referência material.
• ARTIGO 21 do regulamento Roma 1 – solução de um problema da parte geral – ordem pública do foro. Se
autoriza o funcionamento da exceção da ordem pública internacional, nos termos que nos vimos.
• ARTIGO 9 do regulamento Roma 1 – que toma posição em relação ao problema de aplicação necessária e
imediata – permite a aplicação das NANI do foro.

PARTE ESPECIAL PROPRIAMENTE DITA

Quanto ao domínio da lei aplicável aos contratos, está lei não domina todos os aspetos do contrato. Ex. Como a
capacidade, temos uma regra de conflitos especial para a capacidade.

No regulamento temos uma lista – a lei aplicável ao contrato é para as matérias que estão nas varias alíneas do ARTIGO
12 do regulamento:

• obrigações,
• consequências do incumprimento das obrigações (responsabilidade contratual)
• Causas de extinção das obrigações
• Consequências da violação do contrato.

A regra de conflitos principal do regulamento é o ARTIGO 3 – lei escolhida pelas partes.

Será isto uma novidade em relação ao regime do código civil – ARTIGO 41 - O elemento de conexão é o mesmo? Sim,
o elemento de conexão do CC é a escolha das partes.

As partes podem escolher a lei aplicável aos seus contratos – a isto se da o nome de autonomia conflitual.

É o princípio mais preponderante do direito internacional privado. Será um princípio recente ou antigo? Este princípio
surgiu no século XIV. Não é por isso uma grande novidade. Inicialmente surgiu para os bens do casamento.

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Por um lado temos a autonomia material, do outro lá temos autonomia conflitual.

A autonomia material – é a possibilidade dada as partes de modelar uma relação jurídica material dentro dos limites,
da normas imperativas aplicáveis. Este é um conceito de direito substantivo, e não de DIP.

Dentro de uma certa lei aplicável pode ser concedida as partes uma maior autonomia material.

A autonomia conflitual é a escolha da lei que vai regular o contrato, e depois essa lei é que vai dar mais ou menos
autonomia material.

Porque que é o que o legislador, tanto do CC como do regulamento, adotaram este elemento de conexão?

1. Porque isto é uma projeção do princípio da autonomia privada, a sua projeção conflitual, a autonomia
conflitual.
2. Por uma razão de segurança jurídica, deixa de ser controverso qual a lei aplicável. Isto deixa de ser um
problema, as partes com previsibilidade sem nenhuma insegurança já sabem qual a lei aplicável ao contrato.
3. Será que a autonomia conflitual nos contratos é uma tônica comum no mundo exterior, ou é uma
especificidade europeia? É um princípio quase universal, porque quase todos os sistemas do mundo tem este
princípio – apenas 4 no conhecimento do professor não tem, entre estes o BRASIL.

A autonomia conflitual tem se estendido para outros domínios pra além dos contratos – regime dos bens do
casamento (a partir do dia 19 de jan), na responsabilidade civil extracontratual pelo lesante e pelo lesado, em matéria
de divórcio pelos cônjuges – permite uma facilidade de divórcio, domínio das sucessões pelo decuius antes de morrer.

Não significa no entanto, que a autonomia conflitual apareça sempre da mesma forma, pois esta pode ser mais ou
menos generosa, mais ou menos restrita – será que a autonomia conflitual existente para os contratuais é mais ou
menos generosa? Será que a escolha tem de ser expressa ou pode ser tácita?

▪ ARTIGO 6 DO REGULAMENTO – a escolha deve ser expressa ou tácita, admite-se a escolha tácita.
▪ REGIME DO CÓDIGO CIVIL – também admite ambas as opções.

Mas isto gera um problema, como é que se sabe que houve escolha tácita da lei aplicável?

O julgador vai ter de determinar indícios no contrato que leve a perceber que as partes tiveram em conta certa lei
para o contrato. Quais podem ser esse indícios?

➢ As normas indicadas no contrato, se fazem referência a uma certa norma de um certo ordenamento jurídico.
➢ A escolha de foro, escolha do tribunal competente.
➢ Menção a um instituto jurídico que seja específico a uma certa lei. Ex. Trust – específico do ordenamento
jurídico inglês ou americano.

As semelhanças entre o código civil e o regulamento terminam aqui ⚠️

▪ Será que a autonomia conflitual pode ser ilimitada, ou limita se a certas leis (autonomia conflitual limitada):

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• Código civil – ARTIGO 41/2 CC – a designação ou referência das partes só pode recair sobre leis, que esteja
em conexão com o caso, ou um interesse sério das partes.
• Regulamento – as partes podem escolher qualquer lei – ilimitada.

Isto não levanta nenhum problema? Viola o princípio da não transitividade? – não se pode aplicar uma lei que não
tenha contanto com o caso, no entanto aqui permitimos a aplicação de uma lei que não tenha contanto com o caso.
Será que isto põem em causa o princípio da não transitividade? Não porque estamos a cumprir a vontade das partes,
por isso a lei escolhida tem ligação com o caso, ainda que indiretamente. O facto de as partes quererem aplicar uma
lei num domínio de autonomia privada é ligação suficiente para não estar a ser violado o princípio da não
transitividade.

▪ Será a autonomia pode ser ilimitada em todos os domínios em que é utilizada? – não, apenas no domínio
dos contratos.
Se a relação for puramente interna o regulamento não é aplicável, se a relação for puramente interna aplica se a lei
do foro. E se ainda assim as partes tiverem escolhido? ARTIGO 3/3 DO REGULAMENTO – se o contrato for puramente
interno, e houver a escolha de outra lei, mantém se a aplicação das leis imperativas do foro – não há
verdadeiramente autonomia conflitual, no entanto não invalida a escolha das partes, simplesmente diz que continuam
vinculados a lei do foro, que valor que se da a cláusula que escolhe as partes – valor de autonomia material, apenas
se aplica a lei escolhida na parte permitida pelas leis imperativas do foro. Algumas normas podem assim ser
substituídas, as normas supletivas do foro.

▪ O que acontece se a conexão principal falha – problema da falta de escolha das partes, da lei aplicável.
Como é que o DIP normalmente resolve este problema, com conexões subsidiárias, tanto de fonte interna como de
fonte europeia (regulamento Roma 1).

o Código civil – a resposta do código civil tem características diferentes do regulamento, ARTIGO 42/1
CC, a resposta conflitual é a da residência habitual comum para quaisquer contratos. Não leva em
conta a diferença entre os contratos, pois o domínio contratual é muito amplo, o código civil não leva
isso em consideração. E se não houver residência habitual comum? Aplicasse a lei da residência
daquele que da o benefício, ou seja do doador (em casos de doação), nos demais contratos escolhe
se o local da celebração.
o Regulamento Roma 1 – sistema mais moderno, por força do apuramento da justiça conflitual por força
das críticas americanas como encontramos uma espécie de expedientes, das propostas norte
americanas. Regras detalhadas – ARTIGO 4, mas não se aplica em todos os contratos! O legislador
separou o sistema normal, ARTIGO 3, daqueles contratos que tem uma parte mais fraca, tais como o
contrato de trabalho – ARTIGO 8, consumidores – ARTIGO 6 DO REGULAMENTO, contrato de
transporte – ARTIGO 5, contratos de seguros – ARTIGO 7.

Porque é que o legislador fez esta separação?

Vamos encontrar uma menor autonomia conflitual, isto vai ser menos generoso nos contratos que tem uma parte
mais fraca, com a intenção de proteção dos intervenientes.

O ARTIGO 4 para os contratos em habitual vai estabelecer a resposta, quando as partes não tiverem estabelecido a lei
aplicável – que diz que na falta de escolha, sem prejuízo dos ARTIGOS 5 A 8, a lei aplicável aos contratos é determinável
de forma diferente para cada tipo de contrato – nas diversas alíneas.

A solução conflitual está mais especializada em relação ao tipo de contrato.

Que fenómeno é este? O fenómeno da especialização do depressage.

Mas existe um problema, o que é que acontece aos contratos atípicos?

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- a resposta está no NÚMERO 2, quando as alíneas do NÚMERO 1 não funcionam, lei da residência, habitual do
contraente que deve efetuar a prestação característica. O que é a prestação característica do contrato? É algo que
pode ser definido através de três critérios distintos:

1. critério da função económico social, defendido pela maioria, é aquela prestação que distingue aquele dos
outros contratos. Exemplo, num caso de empreitada, a prestação do empreiteiro. (Critério principal)
critérios supletivos:
2. Critério do risco – daquele por quem corre o risco, aquele que assume o risco.
3. Critério da profissionalidade, do contraente que celebra aquele tipo de contratos profissionalmente, no
âmbito da sua atividade profissional.

Porque é que precisamos de mais dois critérios?

Exemplo, Não está lá o empréstimo – como tal precisamos de um critério para este caso, temos de determinar a
prestação característica, isolando as prestações. Emprestar dinheiro ou pagar juros? Ambas são distintivas. Quando
falha o critério da função econômica social aplicamos os outros dois critérios, estes servem para o caso em que o
primeiro falha. Onde se lê residência – REMISSÃO ARTIGO 19, é a sede das pessoas coletivas.

Qual é o efeito do ARTIGO 4/3 REGULAMENTO – é um critério flexível que tem a haver com as propostas de Cavers,
ele reconhece o critério, mas reconhece que existe um melhor, é uma cláusula de exceção. Classificávamos as cláusulas
de exceção – fechadas ou aberta – é aberta pois o juiz é que vê qual a lei com aplicação mais forte, também se
classificavam entre formais ou materiais – neste caso é uma cláusula de exceção formal.

Exemplo, contrato de permuta, não está no critério geral, não está nas alíneas do 4/1, vamos ao 4/2, temos de
averiguar a prestação característica, ambas são iguais tem a mesma prestação - e se não for possível determinar a
prestação característica? Nessas situações funciona o ARTIGO 4/4 ROMA I.

O contrato é regulado pela lei do país com a qual tem uma conexão mais estreita – o juiz, consagração do critério da
proximidade. Reflexão do mecanismo da flexibilização.

ARTIGO 8 ROMA I – critério da Lei escolhida pelas partes – autonomia conflitual ilimitada, podem escolher qualquer
lei. Há o risco de a parte mais forte impor a parte mais fraca uma lei que a prejudique, ou seja, as partes se quiserem
escolhem, mas isso não pode ter como consequência o prejuízo do trabalhador, temos sempre de determinar e ter
em conta qual seria a lei aplicável em falta de escolha.

Este contrato vai ser aplicado em cada matéria, pela lei de ambas (a escolhida é aquela que seria supletivamente
aplicável) em função do regime mais benéfico para o trabalhador. Admite-se a escolha da lei aplicável. mas só na
parte mais favorável.

Exames orais ⚠️ – é verdade que a autonomia conflitual e menor nos contratos de trabalho? Não, mas a autonomia
só está a ser levada em conta no sentido mais favorável ao trabalhador.

Qual é a lei aplicável ao contrato de trabalho na falta de escolha – Artigo 8/2 ROMA I. A lei aplicável na falta de escolha,
pela lei do país em que o trabalhador preste habitualmente a sua prestação, o local da prestação do trabalho. E se o
trabalhador for uma hospedeira de bordo? O legislador não deixou está questão em branco, temos um critério
supletivo, o país a partir do qual o trabalhador presta a sua prestação – o local que serve de centro das atividades.

E se não podermos determinar esse centro – ARTIGO 8/3 – aplicasse a lei de estabelecimento que contratou o
trabalhador, ou seja a sede.

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Estás conexões não são rígidas – por resultado do ARTIGO 8/4 ROMA I – cláusula de exceção, permite se ao juiz em
face do caso concreto afastar a lei quando entender que existe uma lei com uma maior proximidade do contrato,
elemento de flexibilização de Cavers. É uma cláusula de exceção aberta e formal.

ARTIGO 6 – contratos celebrados por consumidores. Risco – a parte mais forte impor ao consumidor um regime pior
e desconhecido.

ARTIGO 6/1 – para que se aplique este regime em vez do regime geral

1. quando seja um contrato entre um consumidor e um profissional, alguém que celebrou o seu contrato no
âmbito da sua atividade profissional.
2. Nos casos em que o profissional tenha dirigido a sua atividade profissional no país da residência do consumidor
– ARTIGO 6/1/NAS DUAS ALÍNEAS. O profissional não podia ser confrontado com a aplicação de uma lei
diferente do país em que exerceu a sua atividade. Mas aqui também releva a expectativa do consumidor, não
pode ter expectativas de aplicar a lei do país da sua residência se não tive possibilidade de se dirigir ao
profissional nesse país.

No entanto isto não se aplica em casos de vendas online, uma vez que estas compras são acessíveis mundialmente.
CONSIDERANDO 24 PARTE FINAL ROMA I.

É necessário para que se preencha que no site a celebração de contratos a distância e aquele contrato tenha sido
celebrado a distância.

3. Não pode tratar se de um contrato excluído pelo ARTIGO 6/4 ROMA I, nomeadamente nas alíneas b) a e).
Que são os contratos de prestação de serviço, arrendamento de imóvel (porque se entende que alguém que compra
um imóvel tem um ónus superior de ponderação), contratos sobre instrumentos financeiros (porque tem um regime
próprio em outro regulamento).

Não há aqui autonomia conflitual – porque se diz que deve ser aplicada a lei da residência do consumidor. Porque é
aquela que o consumidor conhece melhor. ARTIGO 6/1.

ARTIGO 6/2 – sem prejuízo do número 1, as partes podem escolher a lei aplicável, desde que não se prive o consumidor
da proteção da lei da residência, ou seja, podem as partes escolher o regime, mas apenas será aplicável na parte mais
favorável ao consumidor.

O regime do código civil é o regime do ARTIGO 36 CC– os contratos regulados no código civil, anteriores ao
regulamento ou aos quais este não se aplique. A lei que regula a forma do contrato é a mesma que regula a substância,
ou seja, a lei da escolha das partes – REMISSÃO ARTIGO 41 E 42 CC.

No entanto a norma não fica por aqui, é porem suficiente a lei em vigor a lei do local da celebração – princípio do
favor negotti, quando respeitada a lei do lugar da celebração do contrato, está é nos suficiente, conexão múltipla
alternativa.

Diz-nos o ARTIGO 36/3 CC – que também serve a forma prescrita pelo estado para que remete a norma de conflitos
da lei do local da celebração.

Porque é que o legislador faz isto? Devido às expectativas das partes, as partes podem ter contanto legitimamente
com a aplicação daquela lei. Isto trata se de aceitar o reenvio, sem ir ver se está cumprido o fundamento habitual do
reenvio, a harmonia jurídica internacional.

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ARTIGO 11 ROMA I – no seu número 1, temos uma conexão alternativa entre duas, entre a lei que regula a substância
e a lei do local da celebração, em comparação ao código civil desaparece o reenvio, porque o regulamento é
totalmente hostil ao reenvio.

O regulamento tem ainda uma solução especial para os contratos celebrados a distância no ARTIGO 11/2 ROMA I –
estabelece uma conexão múltipla alternativa entre 5 opções.

Sofre dois desvios:

• no ARTIGO 11/5 – em casos de direitos reais sobre imóveis, a forma é do país do local do imóvel desde que se
cumpram os requisitos presentes nas alíneas do artigo. Desde que sejam impostos independentemente do
local da celebração ou da lei escolhida – ou seja sejam leis de aplicação necessária e imediata. Por razões de
efetividade do contrato.
• Contratos celebrados por consumidores – será que o princípio do favor negotti deve valer nestes casos?
Muitas vezes o interesse da parte mais fraca é desvincular se, por isso temos um regime geral no ARTIGO 11/4
ROMA I. Este regime das conexões múltiplas alternativas não se aplica ao Artigo 6 ROMA I, aplica se sim a lei
da residência do consumidor, o contrato só é válido quando a forma respeitar está lei.

CASO PRÁTICO 41:


A, português, residente em Portugal, deslocou-se a Cabo Verde em Dezembro de 2012 para participar na instalação
de uma unidade hoteleira. Durante a sua estadia, contratou B, portuguesa e residente em Portugal, para tomar
conta das crianças. Devido a um motivo urgente regressou subitamente a Portugal em 2014, não tendo pago os
últimos dois meses de salário a B. Hoje, B intenta em Portugal uma acção de condenação contra A, exigindo o
pagamento da dívida e respectivos juros. A invoca a prescrição do crédito salarial face ao direito português – artigo
337.o do Código do Trabalho (igual ao então vigente art. 38.o da LCT). B opõe a imprescritibilidade dos créditos
salariais no direito cabo-verdiano.

Quid iuris?

Quem é o credor dos créditos salariais? O trabalhador, que tem medo de intentar durante a duração do contrato
uma ação contra o empregador, dai o prazo da ação só começar a contar após a cessação do contrato. No
entanto conforme a lei o crédito da senhora B já prescreveu.
No entanto a dúvida que surge é se é aplicável a lei portuguesa por conta do direito cabo verdeando.
Estás normas que se discutem são normas sobre a prescrição. Que estão no código civil e no regulamento
ROMA I, no código civil é o ARTIGO 40, no regulamento é o ARTIGO 12.
Temos duas regras de conflitos para determinar a regra da prescrição.
A primeira coisa a fazer neste caso é determinar qual o regime aplicável, se o código civil se o regulamento.
Tentamos aplicar o regulamento porque é mais recente, porque o direito europeu prima em relação ao interno
e se o regulamento não for aplicável aplicamos o regime do código civil.
O regulamento tem requisitos de aplicabilidade:
1) só se aplica a certos negócios jurídicos, bilaterais (não unilaterais). Preenche se o requisito no nosso
caso.
2) O regulamento só se aplica nos termos do seu ARTIGO 28, aos contratos celebrados após 17 de
dezembro de 2009. O contrato foi celebrado em 2012, portanto preenche se este requisito.
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3) Não pode ser um contrato excluído pelo ARTIGO 1 do regulamento. Também se preenche este requisito.

Temos de determinar a lei aplicável ao contrato. Como é que funciona o regime do regulamento, temos regras
gerais que são o ARTIGO 3 E 4. A lei aplicável é aquela que foi escolhida pelas partes – autonomia conflitual.
Esta norma não diverge do ARTIGO 41 CC, no entanto está é uma dimensão da autonomia conflitual menor, em
relação a alterabilidade da lei escolhida, o regulamento permite a escolha de mais de uma lei aplicável, e
qualquer lei ao contrato e o código civil não permite, apenas permite a escolha de leis que tenham contacto com
o caso.
São permitidas em ambos escolhas tácitas da lei aplicável aos contratos.

No nosso caso não houve escolha da lei aplicável pelas partes. Mas o regulamento tem quatro regras especiais
para os contratos em que exista uma parte mais frágil, o que se aplica no nosso caso por se tratar de um
contrato de trabalho ARTIGO 8 ROMA I.
Como é que funciona o regime do contrato de trabalho – as partes podem escolher a lei aplicável, desde que
está não seja menos favorável ao trabalhador, ou seja apenas se aplicam as partes da lei escolhida que
sejam mais favoráveis ao trabalhador.
No restante aplicamos a lei que seria aplicável na falta de escolha das partes.
Qual foi a lei escolhida – nenhuma, por isso só temos de aplicar a lei aplicável na falta de escolha. O ARTIGO 8/2
diz que é a lei do país em que o trabalhador presta o seu trabalho – lei do local de trabalho – lei de cabo verde
ou portuguesa, não temos a certeza por isso temos de explanar ambas as opções.
Imaginemos que adotou a lei cabo Verdiana, como tal o crédito salarial seria imprescritível.
No entanto a lei mais próxima do caso seria a lei portuguesa, e como tal o juiz poderia conforme o ARTIGO 8/4,
aplicar a lei portuguesa – flexibilização do DIP a conta de CAVERS. Temos em causa uma cláusula de exceção. é
uma cláusula de exceção formal e aberta.

Se não aplicássemos a cláusula de exceção aplicaríamos a lei de cabo verde, mas se a lei de cabo verde mandar
aplicar outra lei, ou seja, a lei portuguesa, cabo verde tem o mesmo código civil que nos, e por isso manda
aplicar a lei da residência, que é a lei portuguesa.
Devemos ou não aceitar o reenvio? Não porque o regulamento não aceita o reenvio, tem um sistema de
referência material – ARTIGO 20 ROMA I.
Nota final: será que o regulamento só se aplica a contratos entre estados membros? ARTIGO 2 ROMA I,
aplicação universal, é a nossa nova regra de conflitos em matéria de contratos, independentemente de se tratar
de contratos entre estados membros ou estados terceiros.

CASO PRÁTICO 42:


Em 2 de Maio de 2013 entre A, residente em Coimbra e uma sociedade portuguesa que se dedica à construção civil,
celebrou-se um contrato de trabalho. O local de trabalho situava-se na Arábia Saudita. A retribuição era paga em
euros, sendo fixada em função das tabelas salariais constantes da convenção colectiva em vigor para o sector em
Portugal. As partes acordaram ainda que o contrato não seria regido pela lei portuguesa. Em 20 de Julho do corrente
ano, a sociedade comunicou por escrito ao trabalhador a vontade de rescindir o contrato a partir do dia 30 de

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Setembro de 2018. A invoca a violação do direito português, mas sociedade considera ter cumprido o direito da
Arábia Saudita que considera competente.

a) Qual o direito competente para reger esta situação?

b) Supondo que o direito da Arábia Saudita é competente, que posição deveria o juiz português tomar se a sociedade
não conseguisse provar o conteúdo desse direito?

Qual a lei aplicável ao contrato? A lei portuguesa ou a lei da Arábia Saudita? Se a lei aplicável for a lei
portuguesa temos um despedimento ilícito, se for a lei da Arábia Saudita não.
Temos o regulamento Roma I e as regras de conflitos do código civil, ARTIGO 41 E 42.
Temos de aferir se estamos dentro do domínio de aplicação do regulamento:
1. Ser um contrato, e não um negócio jurídico internacional.
2. Celebrado após 17 de dezembro de 2009.
3. Não ser uma lei excluída pelo ARTIGO 1 do regulamento ROMA I.

ART 8 ROMA I - As partes podem escolher. mas a escolha só releva nas partes mais favoráveis ao trabalhador.
Na falta de escolha seria a lei da Arábia Saudita, no entanto o ARTIGO 8/4 tem uma cláusula de exceção, em
casos em que há um contrato em que há uma lei que não está, que tem uma ligação mais forte, quer que o juiz
faça uma exceção, uma cláusula de exceção, aberta e formal. O problema com isto é que cria insegurança
jurídica.
Aplicasse aos casos em que o julgador possa ver com segurança em que se o legislador olhasse para o caso
em concreto teria determinado outra lei que não está – critério de mobilização da cláusula de exceção.
O que parece ser o nosso caso, em que a lei mais próxima do caso seria a lei portuguesa, devido a nacionalidade
do trabalhador e da empresa, e a residência do trabalhador, as tabelas salariais são determinadas pela lei
portuguesa, a retribuição é paga em euros, o local da celebração do contrato também foi Portugal.

Na doutrina, o DR. GERALDO RIBEIRO diz que tem de ser muito mais estrito do que isto, mas está sozinho pois
a doutrina e a jurisprudência na sua maioria concordam que todos estes elementos são suficientes para
aplicarmos a cláusula de exceção. Sendo aplicável ao caso a lei portuguesa.

Problema a escolha de lei no contrato de trabalho é feita conforme o ARTIGO 3. A escolha não tem de ser
expressa, admite-se a escolha tácita, será que houve pelas partes uma escolha tácita da lei da Arábia Saudita.
O problema que surge aqui é quando é que há uma escolha tácita? Quais devem ser os critérios? O problema da
flexibilidade aqui é que se formos muito flexíveis, damos uma grande abertura as partes, e pode ceder numa
violação das expectativas das partes. A escolha tem de ser expressa, com resultado de forma clara. O critério de
determinação da escolha deve ser exigente e rigoroso – e aqui há uma unanimidade do TJUE, que
depreendemos dos vários reenvios prejudiciais que tem sido convocados.
Não existe dúvida quando se cumprem os critérios:

• Haver remissão no contrato das partes para uma certa lei,


• A referência do contrato a uma determinada lei é entendida como indício de escolha tácita.
• Haver menção a um instituto específico de uma certa lei.
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• ARTIGO 12 DO REGULAMENTO, o facto de as partes escolherem o tribunal competente.

Agora temos de averiguar se existe ou não escolha tácita.


Será que podemos concluir que escolheram tacitamente a lei portuguesa – não porque eles disseram
expressamente que não queriam a lei portuguesa.

No nosso caso não se preenchem os indícios de escolha tácita, por isso não há escolha da lei aplicável.
Qual é a lei aplicável ao contrato? A lei portuguesa, no entanto eles não queriam a lei portuguesa, e agora?
O que fazer? Determinou o tribunal da relação neste caso que existem indício para determinar a aplicação da lei
da Arábia Saudita, tendo em conta que o contrato apenas entra em contacto com duas leis, se excluirmos uma,
apenas se pode aplicar a outra, como lei escolhida pelas partes.
Em cada matéria vai aplicar se entre as duas a mais favorável ao trabalhador.
Na parte do despedimento a lei mais favorável é a lei portuguesa.
A doutrina disse que o tribunal não precisava de determinar a lei aplicável a este despedimento, como é que se
chamam as normas que se aplicam independentemente da regra de conflitos, as NANI, O ARTIGO 53 DA
CONSTITUIÇÃO É uma NANI. Por isso tem de se aplicar a este caso, por o trabalhador ser português e reside em
Portugal.
Mas o regulamente deixa funcionar as NANI? segundo o ARTIGO 9 sim, que as define e que as permite.

b) (revisão da matéria da parte geral) o que é que o juiz devia fazer se a sociedade não conseguisse provar que
a lei da Arábia Saudita permitia este despedimento. O juiz tem de determinar oficiosamente artigo 348 CPC, há
um gabinete próprio na procuradoria geral da república. Se o gabinete não conseguir determinar o conteúdo da
lei estrangeira, nos termos do ARTIGO 23 DO CC passamos para a lei subsidiariamente competente.
Se tudo falhar o juiz tem de decidir, e por isso aplica a lei do foro – ARTIGO 348/3 CPC.

CASO PRÁTICO 43:


Durante o mês de Agosto do ano passado, A, cidadão português domiciliado em Viseu, deslocou-se ao Egipto
integrado numa viagem de férias. Enquanto se passeava nos mercados do Cairo, juntamente com a sua mulher,
apontou para um dos muitos papiros que se encontravam à venda numa das bancas e que representava um dos
monumentos que tinham visto em Luxor. Perplexos, A e a mulher são de imediato interpelados pelo vendedor que,
invocando uma prática costumeira dos mercados egípcios segundo a qual o simples facto de se apontar para um dos
objectos expostos vale como declaração negocial de cunho irrevogável, pretende que os turistas comprem o objecto
que tinha sido apontado e cujo preço se encontrava marcado de forma bem visível. Sendo a situação discutida nos
tribunais portugueses, aprecie as questões seguintes:

a) Refira, fundamentando, qual a lei competente, face ao DIP vigente, para dizer se houve efectivamente acordo
negocial?

b) Caso o direito egípcio seja o competente para regulamentar a questão, será que o juiz português deverá atribuir
relevância vinculativa às referidas práticas comerciais de cariz costumeiro?

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c) Imagine agora que a viagem tinha sido organizada por uma agência de viagens com sede e administração
principal em Salamanca e que o contrato abrangia o transporte (a partir de Viseu), alojamento, alimentação e
actividades turísticas várias.

Levantando-se agora o problema do cumprimento do contrato por parte da agência de viagens, qual seria a lei
aplicável à responsabilidade contratual?

a) O problema é de saber se houve ou não contrato, de saber se um comportamento vale ou não como
declaração negocial.
Qual será a regra de conflitos que nos vai orientar neste problema, temos de ver se o contrato existisse ele estaria
ou não dentro do regulamento Roma I, se sim vamos buscar a solução ao regulamento ROMA I, se não vamos buscar
a solução ao código civil.

Quem declarou, o senhor A, e o declaratório tem residência habitual? Não tem. Na falta desta, aplicamos a lei do
lugar do local da celebração do contrato.

Cabe no regulamento: (1) a existir é um contrato de compra e venda, (2) celebrado após 17 de dezembro de 2019,
(3) não está excluído pelo artigo 1. preenche se os requisitos e por isso sim aplicamos o ROMA I.

A solução para este caso está no ARTIGO 10, se um comportamento vale como declaração negocial.

A lei que vai dizer se aquele comportamento vale ou não como declaração, e a lei que se aplicava se o contrato
existe.

Supondo que o contrato existe, vamos determinar a lei aplicável, ou seja, a lei putativamente aplicável.

Se o contrato existisse seria um contrato de compra e venda, a lei escolhida pelas partes, as partes não escolheram
nenhuma lei, quando não há escolha vemos o ARTIGO 4 A). Sendo aplicável a lei da residência do vendedor, a lei que
seria aplicável ao contrato se ele existisse era a lei egípcia, por isso a lei egípcia é que nos dirá se é ou não um
contrato.

No entanto temos o ARTIGO 4/2 ROMA I, o contraente, pode invocar a lei da sua residência habitual se resultar das
circunstâncias se demonstrar que não era exigível ele saber que apontar vale como declaração negocial. Conseguirá?

Sim parece nos ser o caso para que foi feito o ARTIGO 10/2.

b) Problema do valor do direito estrangeiro – ARTIGO 23/1 CC. Temos de ver a solução da lei do país, e
promover a harmonia jurídica internacional.
c) É discutível se existe o contrato.

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